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A CULTURA NEGRA EXALTADA PELA ACADEMIA DO SAMBA (SALGUEIRO)

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Revista Transformar |13(2), ago./dez. 2019. E-ISSN:2175-8255 106

A CULTURA NEGRA EXALTADA PELA ACADEMIA DO SAMBA

(SALGUEIRO)

BLACK CULTURE EXALTED BY SAMBA ACADEMY (SALGUEIRO)

CULTURA NEGRA EXALTADA POR LA ACADEMIA SAMBA (SALGUEIRO)

Resumo: Este presente artigo tem por objetivo, refletir sobre a desvalorização da cultura negra e de personagens negros na vida acadêmica, no período histórico brasileiro em que se buscava supervalorizar o branqueamento da sociedade brasileira. Em contrapartida, as escolas de samba, que tem origem na cultura afro-brasileira, através de seus enredos, sambas e desfiles introduziu a valorização do negro, de sua cultura e de seus personagens históricos. No recorte para este artigo escolheu-se a escola de Samba Acadêmico do Salgueiro que na década de 1960 foi responsável por uma “revolução” estética nos desfiles cariocas com uma forte influência da cultura negra. Deste modo, a finalidade deste artigo é fazer a analogia entre desvalorização da academia formal em relação ao negro e sua cultura e a academia do samba (Salgueiro) que trouxe a valorização deste negro para sua comunidade (Morro do Salgueiro) e para seus desfiles. É um trabalho metodologicamente estruturado por uma pesquisa bibliográfica, por meio de fontes históricas que embasam este estudo. Palavras-chave: Cultura. Negro. Personagens Negros. Academia. Acadêmicos do Salgueiro.

Abstract: This article aims to reflect on the devaluation of black culture and black characters in academic life, in the historical period in which Brazil sought to overvalue the whitening of Brazilian society. In contrast, samba schools, which have their origins in Afro-Brazilian culture, through their plots, sambas and parades introduced the valorization of black people, their culture and their historical characters. In the cut for this article, we chose the Academic Samba School of Salgueiro, which in the 1960s was responsible for an aesthetic “revolution” in Rio's parades with a strong influence of black culture. Thus, the purpose of this paper is to make the analogy between the devaluation of the formal academy in relation to the black and its culture and the

Rui Junio Fonseca dos Santos

Mestre em Políticas Públicas, Ambiente e Desenvolvimento, Historiador e Assistente Social (Prefeitura Municipal de Itaperuna).

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Revista Transformar |13(2), ago./dez. 2019. E-ISSN:2175-8255 107 samba academy (Salgueiro) that brought the valorization of this black to its community (Morro do Salgueiro) and its parades. It is a work methodologically structured by a bibliographic research, through historical sources that support this study.

Keywords: Culture. Black. Black characters. Academy. Acadêmicos do Salgueiro.

INTRODUÇÃO

Pretende-se neste artigo buscar entender que enquanto a Academia, através da história oficial, por um período, viu o negro em uma perspectiva subalterna. A Academia do Samba (Salgueiro), encontrou nos desfiles com temática afro-brasileira uma forma de valorizar a cultura africana e os personagens negros não relatados pela história.

Tem-se como foco também compreender como estes enredos impactaram na escrita da imprensa e na sociedade da década de 1960, fazendo com que as pessoas conhecessem mais os personagens e as representações culturais negras apresentadas pelas escolas de samba.

Entende-se que a historiografia brasileira, em boa parte do século XX, contavam a história do negro, neste país, centrado na escravidão. Logo, negros que resistiram à escravização ou que criaram locais de resistência como os quilombos, assim como mulheres8 (negras ou não), foram negligenciadas, quase hegemonicamente, pelos historiadores deste período.

Salienta-se que o Salgueiro não foi a única escola de samba que contribuiu ou impactou a mídia exaltando os negros ao longo dos anos. Entretanto, deseja-se analisar a trajetória desta escola e de seus enredos negros como uma forma de entender o seu compromisso com esta temática.

Por fim, será realizada uma analogia entre a pouca valorização da cultura negra na história oficial e como a Acadêmicos do Salgueiro e seus desfiles contribuíram para que a cultura negra e personagens negros fossem mais conhecidos pelos brasileiros, por isso, o recorte temporal será a partir da década de 1960 até 1971pontuando e estudando os carnavais salgueirenses que trouxeram personagens históricos negros e a cultura afro-brasileira.

8 De acordo com Thompson (2001), há períodos históricos inteiros em que um sexo foi negligenciado

pelo historiador, pois as mulheres são raramente vistas como atores de primeira ordem na vida política, militar ou mesmo econômica.

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Revista Transformar |13(2), ago./dez. 2019. E-ISSN:2175-8255 108 1 - A DESVALORIZAÇÃO DA CULTURA NEGRA

Os negros escravizados vindos da África para o Brasil ao longo do tempo passaram a trocar entre si crenças, lendas e conhecimentos, contribuindo para a formação de uma cultura africana em terras brasileiras que eram diferentes das que existiam em seu território de origem (SOUZA; 2005).

Após a abolição, os negros não receberam nenhuma assistência no âmbito social ou na educação, tornando-se trabalhadores pobres instalados em cortiços ou casebres construídos em morros, como o da Providência, que não possuía infraestrutura. Deste modo, estas pessoas além de sofrerem o preconceito pelo fato de serem ex-escravizados, passaram a sofrer preconceitos por morarem nestes morros, que mais tarde seriam chamados de favelas.

Em contrapartida, de acordo com Souza (2005), a imigração europeia no Brasil aconteceu com o intuito de trazer trabalhadores para atuarem nas fazendas de café, no fim do século XIX, foi uma tentativa de branqueamento do Brasil. Este mesmo autor aponta que o objetivo era eliminar o lado africano do país para atingir o mesmo nível das nações mais ricas do mundo. Isso demonstrou uma desvalorização do negro, de sua cultura e de suas contribuições para a formação do Brasil, ou seja, ser negro ou descendente representava um atraso social.

A cultura afro-brasileira, que foi sendo construída ao longo dos anos com a troca entre escravos e com a apropriação dos costumes brasileiros, foi sendo mantida pela resistência deles. Os valores e as tradições africanas foram permanecendo passando de pai para filho, pelos cultos religiosos que reverenciavam espíritos e ancestrais africanos (CAÇÃO e REZENDE FILHO; 2011).

Todavia, os negros que haviam tido uma mobilidade social ou que haviam estudado para conquistarem respeito e lugares equivalentes dos brancos deixaram de lado suas tradições, costumes e características africanas (SOUZA; 2005). Com isso, para o negro ser valorizado era necessário deixar seus laços culturais africanos. Esta opressão cultural ganhou espaço na sociedade, pois a elite tinha uma visão eurocêntrica da cultura e do que é ser uma civilização evoluída. Portanto, o negro e sua cultura eram vistos como algo inferior e sem valor.

A História do Brasil, durante muitos anos, foi tratada nos programas de ensino como pequeno apêndice da História Universal. À medida que o país se europeíza, deixa de ser “bárbaro”, “atrasado” e começa a se organizar “à imagem da Europa”, ele começa a “entrar na História” e consequentemente passa a ser parte mais significativa dos programas de ensino (FONSECA; 1995, p. 45).

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Revista Transformar |13(2), ago./dez. 2019. E-ISSN:2175-8255 109 Entende-se como cultura como um todo complexo que necessita ser pensado a partir do conhecimento, das crenças, da arte, da moral, das leis, dos costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade (LARAIA; 2006).

Frente a este conceito trazido de cultura, percebe-se que ao longo dos anos as manifestações culturais de origem afro-brasileiras eram vistas em uma perspectiva subalterna, sem respeito as tradições, as crenças, as leis, a moral e aos costumes trazidos pelos africanos e que ao chegar ao Brasil ganha sua singularidade. A capoeira, o jongo, o samba, o candomblé entre outras representações culturais e religiosas foram menosprezadas ou até mesmo criminalizadas pelo Estado.

Desta maneira, personagens negros não eram “conhecidos” ou exaltados pela academia, pelos livros didáticos, pela sociedade ou até mesmo pelos próprios negros. Assim, gerações de jovens negros tenderam rejeitar o seu pertencimento ao passado escravo, sendo esta uma estratégia de fuga das marcas da subalternidade e da vergonhosa escravidão. (ALBUQUERQUE e FRAGA FILHO; 2006).

Todo este contexto contribuiu para a solidificação do racismo, entendido como uma ideologia, uma estrutura ou um processo que grupos étnicos ou raças específicas são vistos como seres inferiores. O racismo, portanto, opera sobre as relações sociais e culturais (ESSED; 1991).

Entende-se que a representação dos negros e da cultura negra, em livros didáticos, estavam sob uma imagem preconceituosa, focalizando na valorização da cultura europeia. Oliva (2012) aponta que grande parte do século XIX e XX, a escola reproduziu uma imagem homogênea baseada na ascendência europeia, branca, cristã, ocidental, masculina e elitista.

(...) a imagem do negro era carregada de estereótipos que se socializaram e se tornaram referência pessoal de uma raça estigmatizada por mitos e lendas de uma suposta inferioridade em relação ao branco. A escola, enquanto instituição social, atendeu aos ideais da elite dominante e negou a existência da cultura africana no processo de formação social e cultural do Brasil (LOPEDE e KOVALSKI; 2014).

Esta visão eurocêntrica fundamentou a história oficial do país, porém, esta foi uma forma de estabelecer uma historiografia útil aos propósitos específicos do Estado, de grupos políticos do poder ou da própria elite. Neste contexto, a história oficial seria uma narrativa histórica subordinada que legitima condições de classes sociais (ALBUQUERQUE e FRAGA FILHO; 2006).

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Revista Transformar |13(2), ago./dez. 2019. E-ISSN:2175-8255 110 Por isso, Negrão (1988) afirma que os personagens históricos negros eram tratados com postura de desprezo, sendo visto como alguém digno de piedade, havendo um enfoque da raça branca como superior e mais inteligente. Esta realidade fortaleceu e legitimou uma perspectiva de reiteração dos vínculos do Brasil com a civilização europeia, sendo uma proposta de tornar o país mais civilizado.

A partir da década de 1950, muitos pesquisadores trataram sobre o preconceito racial em livros didáticos e na academia em geral. Verificaram-se em leituras de livros escolares os personagens negros em situação de inferioridade, sem possibilidade de atuação na narrativa, sendo abandonada a complexidade e riqueza da cultura negra (PINTO; 1987).

Posteriormente, movimentos sociais voltados para a questão dos negros passaram a reivindicar mudanças em livros didáticos no que diz respeito a representação de personagens negros nestes livros. No âmbito social, o movimento afro-brasileiro pressionou o Estado e em 1988 o racismo tornou-se um crime inafiançável. Neste contexto de luta, foram criadas políticas públicas focadas no combate a este racismo e a desigualdade social. Este movimento negro até mesmo lutou por reconhecimento de data no calendário para exaltar o orgulho de ser negro.

(...) As organizações negras investiram em outra data: escolheram 20 de novembro – o dia de Zumbi, símbolo da resistência e da opressão racial – como o dia da Consciência Negra. Os historiadores, por seu lado, passaram a considerar que as leis abolicionistas não eram dignas de comemoração; tinham mudado muito pouco a vida dos escravizados e de seus descendentes (...) (ABREU; MATTOS; 2018, p. 33).

Cresceu-se o desejo de romper paradigmas de um passado preconceituoso que colocou o negro em uma perspectiva inferior e à margem da sociedade que consequentemente geraram marcas negativas em seu curso pessoal e coletivo. “Essa negação e distorção geram indivíduos com autoestima prejudicada, que reflete identidades, e que traz dificuldades para que seus direitos sejam respeitados” (ROSOLEM e GUERRA; 2013).

Esta realidade é resultante de um processo histórico de exclusão em que o colonizador manteve o negro em uma perspectiva de mercadoria, sendo visto como um produto que consequentemente não possuía direitos e até mesmo alma.

Preconceitos e discriminação resultam da falta de conhecimento e desvalorização da importante contribuição de diversas culturas que formaram a sociedade brasileira e são nocivos à formação da cidadania plena. Para extingui-los, é necessária a construção de uma nova consciência que somente existirá através do entendimento de

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que a diversidade precisa ser valorizada e respeitada ((ROSOLEM e GUERRA; 2013, p. 91).

A partir do momento que as pessoas têm a consciência real da história de seus antepassados e como eles foram importantes para a construção de seu país e da formação cultural têm-se um reconhecimento e uma valorização de sua própria raça e cultura. Logo, o não reconhecimento dos valores da cultura afro-brasileira reafirma o caráter de subordinação dos negros na sociedade, quase se tornando invisíveis.

Assim, suas representações culturais e sua religiosidade são vistos sob um prisma distorcido, não levando em conta a importante contribuição que deram para a formação do povo brasileiro. É relevante que na academia ou na educação informal seja estudado a cultura afro-brasileira para que se possa reconhecê-la como um pilar significativo para a formação da sociedade deste país.

Finalmente, em sentido de uma educação informal, as escolas de samba do Rio de Janeiro trouxeram contribuições válidas para que a cultura negra e seus personagens fossem conhecidos pela sociedade, trazendo críticas e reflexões que apontaram e quebraram paradigmas da supremacia eurocêntrica em nossa história, como será visto a seguir.

1.2 – OS RANCHOS E OS BLOCOS

O carnaval carioca se tornou um movimento artístico admirado e reconhecido em todo mundo como uma representação cultural brasileira, sendo uma festa9 popular relevante para esta sociedade. Ao longo dos anos, as escolas de samba cresceram ao ponto de se transformarem em uma indústria que gera emprego durante todo o ano e milhões de reais no período do carnaval para a capital fluminense.

As escolas de samba e o carnaval não favorecem somente o âmbito econômico, mas desperta paixões, amores e respeito, inclusive, aos mais antigos de suas agremiações, verdadeiros baluartes. Estas escolas têm contribuído para a memória brasileira com seus enredos e sambas inesquecíveis, levando o público a refletir sobre a história do país, sobre a sociedade, sobre a literatura, sobre as religiões, sobre culturas..

(...) é notório que o desfile transpassa as condições de uma festa popular ou uma indústria, e caracteriza-se também como vulgarizador

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Entre os poucos consensos que podemos encontrar na historiografia que colocou as festas no centro de suas atenções, talvez possa ser destacada a certeza de que as festas pertencem a História e ao nosso domínio de investigação (ABREU; MATTOS, 2018).

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científico importante para (re) conhecimento de pesquisas, expandindo-as além das fronteiras acadêmicas e tornando-as acessíveis a diversos tipos de pessoas e sociedades (ALVES; 2011, p. 10).

Os desfiles das escolas de samba são vistos hoje com certo glamour, tendo o foco das principais televisões, inclusive, sendo notícia nos principais meios de comunicação de todo o mundo, porém, estes desfiles nem sempre foram bem-quistos. Sendo assim, é relevante compreender os surgimentos das escolas de samba para este estudo que não foi criado somente para a diversão, mas também, teve um caráter de resistência cultural.

Antes da existência dos primeiros blocos de carnaval, os Ranchos tiveram grande importância para o surgimento dos desfiles carnavalescos. No fim do século XIX, estes Ranchos despontaram como uma atração para o carnaval carioca atraindo as classes mais abastardas.

Os desfiles dos ranchos eram estruturados da seguinte forma: mestre sala e porta estandarte, divisão em alas, enredos, música, esplendores (CABRAL, 2004). Durante os desfiles do Rancho, no fim do século XIX, os negros e mulatos não eram permitidos percorrerem as ruas centrais, a justificativa desta proibição estava na alegação das autoridades de que estes grupos semeavam a desordem e a violência. Segundo Alves (2011), eles eram obrigados a se refugiarem em quintais, em vielas e becos durante o carnaval.

No início do século XX, surgiram primeiros blocos que basicamente mantiveram a mesma estrutura de desfile dos ranchos, porém, não havia luxo. Um dos mais importantes blocos veio de Oswaldo Cruz, chamada de “Vai como Pode”, tendo como líder Paulo da Portela.

Os blocos possuíam um caráter popular, em um contexto, em que os negros e mulatos não eram mais proibidos de fazerem parte dos desfiles. Uma das principais características dos blocos estavam em suas raízes suburbanas que promoviam o sentimento de união e pertencimento ao seu território (CABRAL, 2004). Enquanto o Rancho era um tipo de agremiação carnavalesca, que possuía enredo e personagens específicos.

Em consequência, essa eliminação provisória, ao mesmo tempo ideal e efetiva, das relações hierárquicas entre os indivíduos, criava na praça pública um tipo particular de comunicação, inconcebível em situações normais. Elaboravam-se formas especiais de vocabulários e do gesto da praça pública, francas e sem restrições, que aboliam toda a distância entre os indivíduos em comunicação, liberados das normas correntes da etiqueta e da decência (BAKHTIN; 2008, p. 9).

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Revista Transformar |13(2), ago./dez. 2019. E-ISSN:2175-8255 113 Enfim, compreende-se que no período do carnaval havia uma maior interação entre classes sociais distintas, impensáveis fora deste momento festivo. Havia uma liberação momentânea das normas da etiqueta e da “decência”, por exemplo, entre os mais ricos que passavam a dialogar com pessoas consideradas por eles como subalternas, como os negros.

1.3 O SURGIMENTO DAS ESCOLAS DE SAMBA DO RIO DE JANEIRO

A partir da década de 1920 começaram a surgir as primeiras escolas de samba do Rio de Janeiro. Estas escolas são uma reunião de características dos ranchos com o samba que ocorria na Praça Onze. Os sambistas desta praça eram considerados vagabundos e baderneiros, assim como o samba, por este motivo os sambistas eram duramente perseguidos pela polícia da época.

Essa captura de elementos dos ranchos se deve ao fato dos sambistas serem perseguidos pela polícia da época e para acabarem com essa perseguição aos seus festejos adotaram a estratégia dos ranchos, que eram vistos com agrado pela sociedade (ALVES; 2011, p. 16).

A primeira escola foi o “Bloco Deixa Falar”, atualmente conhecida como Estácio de Sá. Posteriormente, veio a “Vai Como Pode (Portela) ” e a Estação Primeira de Mangueira, que ainda possui o mesmo nome. No bairro do Estácio existia uma Escola Normal localizada à Rua Joaquim Palhares. Próximo a esta escola se reuniam sambistas do bloco “Deixa Falar”. Eles se consideravam mestres do samba, visto que as pessoas que ensinavam as crianças a lerem e a escreverem eram chamadas de professores, os sambistas que ensinam a arte do samba aos mais novos também se autodominaram de professores do samba (ARAÚJO; 2013).

Por este motivo, os sambistas do bloco “Deixa Falar” passaram a se autodenominar de Escola de Samba Deixa Falar, porém, eles nunca desfilaram como escola de samba, pois em 1932, quando ocorreu os primeiros desfiles, seus membros preferiram desfilar como Rancho devido aos prestígios que eles possuíam diante da sociedade e da imprensa. (CABRAL; 2004).

No nosso entender, o termo Escola de Samba envolve um sentido mais sério, isto é, a necessidade dos elementos das baixas camadas

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demonstrarem uma noção de organização e seriedade à sociedade como um todo. Assim, valendo-se de uma palavra que possibilitava, teoricamente, a chance de ascensão social, os sambistas buscavam um meio de obter o mesmo prestígio e respeito de que gozavam o Corso, as Grandes Sociedades e os Ranchos, no final da década de 1920 e início dos anos 30 do século passado. Uma prova de que os sambistas buscavam tal ascensão está no fato de terem copiado toda sua estrutura de desfiles dos Ranchos, isto é, as alas, o termo pastora, as alegorias, o abre-alas, o mestre-sala e a porta-estandarte, que passou a ser denominada porta-bandeira, etc. (OLIVEIRA; 2012, p. 73).

As escolas de samba para manterem certo prestígio frente a sociedade ficaram basicamente com a mesma estrutura de desfile que os ranchos possuíam. Isto foi importante, pois estas escolas vieram de bairros pobres, como favelas e subúrbios, passando a desfilar no centro da cidade. Manter a estrutura foi uma estratégia de conseguir o respeito e a atração das classes abastardas e da imprensa.

Segundo Fernandes (2001), a padronização do nome Grêmio Recreativo Escola de Samba foi instaurada em 1935, devido a obrigatoriedade das escolas de samba terem que tirar um alvará na Delegacia de Costumes e Diversões para poderem desfilar.

Finalmente, os desfiles destas agremiações foram muito relevantes para que a cultura afro-brasileira fosse mais conhecida pela sociedade. Isto foi possível, visto que seus enredos eram pesquisados e fundamentados com rigor, critério e responsabilidade, porém, sem o formalismo encontrado na academia (ALVES; 2011).

2 - O SURGIMENTO DE UMA ACADEMIA (SALGUEIRO)

Antes de se tornar o Morro do Salgueiro, na região da Tijuca, as terras eram ocupadas por lavouras de café e uma fábrica de chita, posteriormente, transformou-se o estabelecimento de migrantes nordestinos e escravos alforriados, que não tinham para onde ir. No início do século XX, chegou nesta região o português Domingos Alves Salgueiro, que era comerciante e dono de uma fábrica de conservas na Tijuca, virando uma referência na localidade, além de ser dono de 30 barracos no morro, por conseguinte, muitos passaram a chamar este morro do “Senhor Salgueiro” (COSTA; 1984).

Os nordestinos e os negros alforriados trouxeram sua representação cultural e costumes que foram incorporados ao cotidiano do morro do “Senhor Salgueiro”, como

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Revista Transformar |13(2), ago./dez. 2019. E-ISSN:2175-8255 115 o Carimbó, a Folia de Reis, Caxambu e Jongo10. Estas manifestações culturais foram se tornando tradicionais neste morro, ao ponto de chamarem as pessoas que residiam nesta localidade de salgueirenses (COSTA; 2003).

A criação da Escola de Samba do Salgueiro surgiu como um “clamor” dos “favelados” dos morros ao redor do bairro da Tijuca, como uma maneira de mostrar a potencialidade, a criatividade e o valor que os membros destas comunidades possuíam. O Grêmio Recreativo Escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro foi fundado em 5 de março de 1953 da união de três outras escolas de samba: Unidos do Salgueiro, Depois Eu Digo e a Azul e Branco (COSTA; 1984).

Com a popularização das escolas de samba, que simbolizavam uma forte manifestação cultural dos morros e dos subúrbios, as três escolas de samba da região da Tijuca (Unidos do Salgueiro, Depois Eu Digo e a Azul e Branco) se uniram e criaram uma única escola de samba que os representassem, o Salgueiro, portanto, a força da comunidade impulsionou seus membros a criarem uma escola forte que fosse capaz de disputar títulos com a Estação Primeira de Mangueira, Portela e Império Serrano, surgindo assim a Academia do Samba (Salgueiro).

Não se pode negar que a fragmentação do Salgueiro em diversos blocos tinha o lado positivo de demonstrar a potencialidade do local no que diz respeito a elementos positivos do samba, como também proporcionar aos moradores e não-moradores diversas opções para brincar ou torcer. Mas é forçoso reconhecer que, ao mesmo tempo, ficava patente que o morro necessitava de uma escola de samba, formação característica, que, àquela altura, - estamos falando dos anos 1932/33 – vinha se insinuando como a força aglutinadora do carnaval dos morros e dos subúrbios, a despeito do grande sucesso dos ranchos. (COSTA; 1984, p. 39).

O nome Academia do Samba para o Salgueiro é anterior ao nascimento da própria escola, devido ao orgulho que os moradores tinham da qualidade dos sambas compostos por seus compositores. Estes sambas possuíam a mesma qualidade do que aquilo que era produzido em um ambiente acadêmico, portanto, consideravam o Salgueiro como uma academia (PEREIRA; 2013).

Por fim, a bandeira oficial do Grêmio Recreativo Escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro foi criada por Nelson de Andrade em 1953. O símbolo da Escola de Samba é um escudo compostos por instrumentos musicais: pandeiro, surdo de barrica, ganzá e um tamborim quadrado.

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Em diversos morros cariocas, sabemos da chegada de migrantes do Vale do Paraíba, nas primeiras décadas do século XX. Com seus jongos, calangos e folias, ajudaram a fundar as principais escolas de samba da cidade (ABREU; MATTOS, 2018).

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Revista Transformar |13(2), ago./dez. 2019. E-ISSN:2175-8255 116 2.1 A ACADÊMICOS DO SALGUEIRO E A CULTURA NEGRA

As escolas de samba do Rio de Janeiro, que são grêmios recreativos culturais, trouxeram para a avenida desde da década de 1940 enredos que retrataram o cotidiano dos escravos. Sendo assim, Império Serrano e Vila Isabel falaram das obras de Castro Alves na década de 1940, Salgueiro em 1954 fez uma Homenagem a Bahia e sua religiosidade, Mocidade Independente de Padre Miguel falou sobre a Apoteose do Samba em 1958, e no mesmo ano Unidos da Tijuca mostrou o Leilão de Escravos. Em1962, a Estação Primeira de Mangueira, com o enredo baseado na obra de Gilberto Freyre (Casa Grande & Senzala) traz uma perspectiva positiva do negro na história, legitimando a sua inserção na sociedade. Em 1964, esta mesma escola de samba mostra um enredo que afirma a importância da cultura afro-brasileira e do negro como um dos mais importantes pilares da história do país (FARIA; 2016).

Com isso, entende-se que muitas escolas de samba construíram uma relação com a história dos negros ao contar em seus enredos e ao cantar em seus sambas fatos históricos ligados a cultura negra e suas expressões na musicalidade, nos costumes, nas danças e nas festas populares do Brasil. “(...) a narrativa sobre o negro estava presente em várias agremiações – e não apenas no Salgueiro (...) (FARIA; 2018, p.192).

Ainda Farias (2016) ressalta que durante o século XX, muitos carnavais das escolas de samba retrataram a escravidão em um olhar crítico, buscando denunciar este período histórico para que nunca mais se repetisse. Em 1960, antes mesmo da Estação Primeira de Mangueira, a Acadêmicos do Salgueiro, não somente retratou o período da escravidão, mas exaltou personagem negros importantes da história do Brasil, que muitas vezes eram vistos com um caráter subalternizado pelos livros didáticos e pela academia de forma geral. “(...) o Salgueiro se enxergava como agente cultural que valorizava a importância do negro na sociedade brasileira” (GARCIA; 2016).

Em 1960, o samba de enredo Zumbi dos Palmares canta o quilombo e seu herói negro. Os escravos são aqui revoltosos que fogem da opressão e do jugo dos portugueses. Buscam no quilombo a paz e a liberdade. Resistem anos aos opressores e, ante à iminente derrota, Zumbi, no seu orgulho, atira-se do alto da Serra dos Gigantes. Zumbi prefere a morte à derrota, que significaria o retorno à submissão (JORNAL DO BRASIL; 13 de fevereiro de 1999).

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Revista Transformar |13(2), ago./dez. 2019. E-ISSN:2175-8255 117 Assim, em 1960, o Salgueiro provocou os espectadores e a imprensa ao falar em seu enredo sobre Zumbi dos Palmares, em um olhar de valorização deste personagem histórico. Prevaleceu neste desfile uma visão guerreira e destemida deste líder. “ (...) um redirecionamento do negro na sociedade brasileira, não mais como subserviente e humilhado, mas como altivo guerreiro, dono do seu destino” (FARIA; 2016, p. 89). Abaixo segue a letra do samba sobre este personagem:

No tempo em que o Brasil ainda era/ um simples país colonial/, Pernambuco foi palco da história/ que apresentamos neste carnaval/Com a invasão dos holandeses/ Os escravos fugiram da opressão/ E do julgo dos portugueses/ Esses revoltosos/ Ansiosos pela liberdade/ Nos arraiais dos Palmares/ Buscavam a tranqüilidade. Ô-ô-ô-ô-ô-ô/ Surgiu nessa história um protetor/ Zumbi, o divino imperador/ Resistiu com seus guerreiros em sua tróia/ muitos anos, ao furor dos opressores, ao qual os negros refugiados/ Rendiam respeito e louvor./ Quarenta e oito anos depois de luta e glória,/ terminou o conflito dos Palmares,/ e lá no alto da serra, contemplando a sua terra,/ viu em chamas a sua tróia, e num lance impressionante. Zumbi no seu orgulho se precipitou/ Lá do alto da Serra do Gigante. Meu maracatu. É da coroa imperial./ É de Pernambuco, ele é da casa real. (Noel Rosa de Oliveira, Anescar e Walter Moreira; 1960).

Esta foi uma mudança fundamental para os carnavais das escolas de samba, sendo uma verdadeira revolução, uma vez que houve mudanças na estética de fantasias e alegorias inspirados na África e não mais nas cortes europeias. No desfile sobre Zumbi, a Acadêmicos do Salgueiro inova ao realizar representações de capoeiristas e figurinos no estilo africano. Isso trouxe um impacto e uma repercussão positiva na mídia da época.

As representações das nações africanas, com uma variedade de cores e traços, pareciam propor uma nova plasticidade nos desfiles. O público e os camponeses das agremiações estavam acostumados com fantasias inspiradas nas cortes europeias, sobretudo francesa. Os negros eram representados como escravos, capoeiristas, baianas de feira ou escravo de libré (FARIA; 2018, 203).

Diante deste contexto inovador, o presidente do Salgueiro na época, Nelson Andrade, retratou a escola não como superior as demais, mas como diferente, surgindo a famosa frase que simboliza esta escola: “nem melhor, nem pior, apenas uma escola diferente”. Esta diferença possibilitou que a escola se tornasse uma referência da valorização da cultura negra, sendo uma escola engajada com a posição do negro na sociedade.

Outros exemplos de enredos no mote narrativo da luta e resistência incorporavam também a apresentação de personagens negros, que eram pouco comentados ou desconhecidos do grande público e que poderiam simbolizar casos de superação social e busca de conquista de espaços, mesmo com as adversidades de situação financeira e da

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sua cor. Em 1963 e 1964, o Salgueiro trouxe em sequência dois enredos que estavam dentro desse diapasão narrativo, apresentando

Chica da Silva, em 1963, e Chico Rei, em 1964. Estas histórias foram

ampliadas e amplificadas pela imprensa (FARIA; 2018, p. 204). Essas práticas culturais, discutindo a questão racial, a valorização da ascendência africana e as reivindicações feministas – ressaltando mulheres marcantes e, até aquele, momento pouco conhecidas na nossa cultura foram registradas pelos estudiosos do carnaval (..) (FARIA; 2013, p. 42).

De acordo com Fabato (2018), o Salgueiro foi inovador, revolucionando o carnaval carioca, inclusive, no âmbito de enredos africanos (mesmo outras escolas de samba já terem trazido esta temática). Esta escola renovou com enredos biográficos de personagens negros como “Zumbi dos Palmares” em 1960, “Aleijadinho” em 1961, “Chica da Silva” em 1963 e “Chico Rei” em 1964. Salienta-se que em seu primeiro desfile como escola de samba, em 1954, ela fez o enredo “Romaria à Bahia” e em 1957 “Navio Negreiro”.

Em todas as décadas posteriores, a Acadêmicos do Salgueiro trouxe enredos de cunho afro. Em 1971 falou sobre “Festa para um Rei Negro”, em 1976 “Valongo”, em 1977 “Do Iorubá a luz, a aurora dos deuses”. Na década de 1980, a escola de samba trouxe dois enredos negros, sendo que em 1980 abordou o tema “O bailar do vento. Relampejou, mas não choveu, Ney Agon e Jorge Nascimento” e em 1989 trouxe o “Templo negro em tempo de consciência negra”.

Na década de 1990, esta escola de samba limitou-se a apenas um enredo africano: “O negro que virou ouro nas terras do Salgueiro”. Porém, a partir dos anos 2000, a escola de samba se reencontrou com suas temáticas africanas trazendo em 2007 Candaces, em 2014 “Gaia”, a vida em nossas mãos”, em 2016 “Ópera dos Malandros”, em 2018 “Senhoras do ventre do mundo”, em 2019 “Xangô” e em 2020 “O Rei Negro do Picadeiro”.

Com isso, estudar os enredos com a temática afro-brasileira da Acadêmicos do Salgueiro é relevante, pois se quer compreender a identificação desta escola de samba com enredos negros, a partir da década de 1960 como recorte temporal. O Salgueiro se tornou uma escola militante no que diz respeito à cultura negra e a sua valorização ao mostrar personagens populares que eram considerados subalternos, algumas vezes “desconhecidos” pela academia e pouco valorizado pela historiografia brasileira.

Sendo assim, a escola tijucana (Salgueiro) encontrou em suas raízes negras, uma forma de resistência contra a desvalorização do negro na sociedade, visto vez

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Revista Transformar |13(2), ago./dez. 2019. E-ISSN:2175-8255 119 que muitos de seus membros eram/são negros e moravam/moram em comunidades com vulnerabilidade e risco social.

Finalmente, ainda, prevalece a luta contra a “escravidão” contemporânea que os negros deste país vivem, seguindo resistente ao desprezo da cultura afro-brasileira. A Academia (Salgueiro) fortalece suas raízes e cada década exalta os negros e sua história, pedindo muitas vezes o respeito e a dignidade a esta raça, sendo relevante o estudo acerca da contribuição que esta escola deu para a valorização do negro.

2.2 A CONSOLIDAÇÃO DA ACADÊMICOS DO SALGUEIRO ENTRE AS GRANDES DO CARNAVAL

Até o fim da década de 1950, as grandes escolas de samba que levavam títulos eram: Mangueira, Portela e Império Serrano, alternando entre si os campeonatos ( FABATO, 2018). Desde do seu primeiro desfile em 1954, o Salgueiro ficava atrás destas agremiações.

Entretanto, em 1959 com o enredo “Viagem pitoresca e histórica ao Brasil” de Dirceu Nery e Marie Louise Nery (casados), o Salgueiro conseguiu seu primeiro vice-campeonato, ficando atrás da já consagrada Portela. Este vice título atraiu os olhares do artista plástico Fernando Pamplona que trouxe para trabalhar consigo o figurinista Arlindo Rodrigues e o desenhista Nilton Sá. O casal Nery permaneceu na vermelha e branca da Tijuca para realizarem o desfile do ano de 1960 (FERREIRA; 2004).

Estes cinco talentos apostaram em um enredo voltado para a história do negro no Brasil, em uma perspectiva de resistência, que foi Quilombo dos Palmares, resultando no primeiro campeonato da Academia do Samba. O enredo em si chamou a atenção da imprensa da época, assim como a ousadia dos criados deste enredo.

O enredo de forte caráter africano (dividido em cinco partes: o cativeiro, a luta, os quilombos, o séquito de Zumbi e a nação livre), as fantasias leves, com formas ligadas à cultura negra e respeitando as cores vermelho e branco da escola, as alegorias originais e as inovadoras coreografias apresentadas pelas alas se tornariam os modelos que influenciaram os desfiles de todas as escolas de samba a partir de então (FERREIRA; 2004, p. 357).

Ainda segundo Ferreira (2004), a Acadêmicos do Salgueiro inovou na forma de se fazer samba enredo, pois rompeu com a tradição descritivas que era muito cultuada pelos amantes do gênero. A Academia colocou letras curtas com melodias simples e fortes refrãos com apelo popular, como no enredo Festa para um rei negro, em 1971, que diz:

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Nos anais da nossa história/Vamos encontrar/Personagem de outrora Que iremos recordar./Sua vida, sua glória,/Seu passado imortal/Que beleza/A nobreza do tempo colonial./Ô-lê-lê, ô-lá-lá,/Pega no ganzê,/Pega no ganzá./ Hoje tema festa na aldeia,/Quem quiser pode chegar,/Tem reisado a noite inteira/E fogueira pra queimar./Nosso rei veio de longe/Pra poder nos visitar,/Que beleza/A nobreza que visita o gongá./ Ô-lê-lê, ô-lá-lá,/Pega no ganzê,/Pega no ganzá./Senhora dona-de-casa,/Traz seu filho pra cantar. Para o rei que vem de longe/Pra poder nos visitar./Essa noite ninguém chora/ E ninguém pode chorar/Que beleza/A nobreza que visita o gongá/ Ô-lê-lê, ô-lá-lá,/Pega no ganzê,/Pega no ganzá.

O refrão Ô-lê-lê, ô-lá-lá,/Pega no ganzê,/Pega no ganzá, conquistou a avenida, sendo um refrão marcante e popular rompendo com composições mais complexas e descritivas. “O fato é que a revolução patrocinada por essa escola mudou o rumo da maior festa popular brasileira inventando novas tradições e apontando novos caminhos para o Carnaval” (FERREIRA; 2004, p. 358).

A partir da competência e ousadia dos carnavalescos da Academia do Samba (Salgueiro) e de uma comunidade que aderia aos seus enredos e desfiles, o Salgueiro a partir da década de 1960 deixou de ser coadjuvante do Carnaval Carioca, tornando-se protagonista juntamente com Portela, Mangueira (madrinha do Salgueiro) e Império Serrano. “Essa primazia fez com que cada uma dessas quatro escolas atingissem repercussão nacional, contando com torcedores fanáticos que exaltavam as características de suas agremiações” (FERREIRA; 2004, p.361).

Por fim, as quatro escolas de samba do Rio de Janeiro tinham suas características específicas e marcantes:

- Mangueira (verde e rosa): era conhecida por ser a mais tradicional das escolas, berço do verdadeiro samba;

- Portela (azul e branco): era a mais popular, tendo como seu símbolo maior a águia. Era conhecida pelos seus desfiles luxuosos, alcançando a maior quantidade de títulos.

- Império Serrano (verde e branco): conhecida por seus enredos politizados, como os Heróis da Liberdade.

- Salgueiro (vermelho e branco): conhecida por representar o ideal negro, valorizando sua cultura e heróis.

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