• Nenhum resultado encontrado

Novo olhar sobre o Parque da Luz: uma intervenção física e virtual

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Novo olhar sobre o Parque da Luz: uma intervenção física e virtual"

Copied!
57
0
0

Texto

(1)

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

Aluno: Arthur Stofella

Orientador: Profo. Carlos Eduardo Verzola Vaz

Trabalho de Conclusão de Curso de Arquitetura e Urbanismo

Novo olhar sobre o parque da luz: uma

intervenção física e virtual

(2)
(3)

A trajetória que percorri no universo da arquitetura e urbanismo teve início após o surgimento de questionamentos durante o curso de engenharia elétrica, parcialmente realizado também na Universidade Federal de Santa Catarina. Este não supria a curiosidade por outros temas discutidos mais claramente na arquitetura, em especial a produção do espaço construído, sua relação com o usuário e seu desenho. Mesmo assim a questão da utilização da tecnologia para o desenvolvimento de projetos sempre esteve presente como um foco de interesse. Este, que havia motivado a busca por um curso na área da engenharia, mesclava-se com outros temas cotidianamente relacionados à arquitetura, como por exemplo de que forma a tecnologia poderia afetar a percepção e o usufruto do espaço construído pelos usuários.

Durante a graduação tive a oportunidade de trabalhar a maquetaria do curso, permitindo-me entrar em contato com técnicas já tradicionais de desenvolvimento de maquetes e outros objetos, e também com tecnologias mais atuais como a de corte a laser para a realização de trabalhos. A partir disto comecei a questionar sobre a utilização de softwares para a elaboração não somente do produto final do projeto, mas como ferramenta de projeto em si. Em seguida tive o ensejo de participar do Laboratório de Prototipagem e Novas Tecnologias Orientadas ao 3D (PRONTO3D), também na própria universidade, onde tive contato com outros métodos, como a impressão 3D e o emprego de uma fresadora de comando numérico (CNC) para o desenvolvimento de protótipos.

Esta busca pela aplicação do conhecimento de outras áreas para seu uso no projeto do ambiente construído possibilitou também que participasse de uma pesquisa para o desenvolvimento de uma fachada interativa e, consequentemente, que viesse a ter o contato com linguagens de programação (Processing e C++ modificado) e o conceito de computação física (microprocessadores, Arduino).

Relacioná-las à arquitetura e ao urbanismo permitiu com que pudesse perceber a existência de uma “nova” área, dentro da própria arquitetura, que une o interesse pela pesquisa de como as tecnologias de outros campos podem intervir no ambiente construído, na relação entre as pessoas umas com as outras e entre elas e o espaço que produzimos e vivemos e assim permitir novas percepções e experiências: a arquitetura responsiva/interativa.

A evolução e adaptação da arquitetura ao longo do tempo tem uma forte relação com os recursos e tecnologias disponíveis em determinada época, bem como com as transformações sociais que ocorrem. Ligando-se intimamente junto aos progressos sociais, econômicos, científicos, técnicos, etnológicos, psicológicos, entre outros (NAVARRETE, 1998). Exemplo disso a Revolução Industrial foi onde se deu início ao desenvolvimento de técnicas e elementos que viriam a influenciar a produção arquitetônica, como a pré-fabricação de componentes construtivos, alterando a forma que os projetistas trabalhavam até então através de uma nova tecnologia.

Silva (2002, p. 3) nos diz que podemos conceituar a tecnologia de forma geral como “um sistema através do qual a sociedade satisfaz as necessidades e desejos de seus membros“. Seguindo esta linha de raciocínio, é possível imaginar que o surgimento de novas tecnologias que facilitam a captação,

“Interatividade na arquitetura é sobre projetar ferramentas que as próprias pessoas podem utilizar para construir (em seu sentido mais amplo) seus ambientes (...). É sobre desenvolver caminhos para fazer com que as pessoas fiquem mais engajadas com os espaços que habitam(...).”

Haque, U. _2006

PERCURSO

APRESENTAÇÃO DO TEMA

armazenamento e compartilhamento de informações tem gerado um certo impacto em todas as formas de pesquisa e, mais importante, influenciado a sociedade contemporânea. Pois “todos passam a estar envolvidos também com as mudanças sociais impostas por tais tecnologias” (DARODA, 2012, p.12).

Conforme Fox (2016) a partir do momento em que participamos de um mundo onde as linhas entre o físico e o digital vem se tornando cada vez mais indistinguíveis, é possível ter uma visão ainda em processo de amadurecimento de uma arquitetura que participa ativamente das nossas vidas. Esta nova vertente de uma arquitetura dinâmica pode ser denominada como arquitetura interativa ou responsiva, tendo a interdisciplinaridade como ponto importante para que se torne um sistema não-estático, utilizando técnicas e estudos de outras áreas de conhecimento, de modo a adquirir características que antes não poderiam estar presentes.

Este trabalho procura dar um passo em direção ao estudo da arquitetura dentro desta nova realidade tecnológica, valendo-se de conceitos de arquitetura interativa/responsiva na revitalização de um espaço público com grande potencial para a cidade de Florianópolis, o Parque da Luz. Também tem o objetivo de apresentar uma proposta para sua integração com a Ponte Hercílio Luz, devido a sua provável reabertura para o público em um futuro próximo. Buscando aproximar as duas zonas, do parque e da ponte, ao cotidiano dos cidadãos, melhorando assim sua relação com o entorno e, consequentemente, com a cidade.

O Parque da Luz possui uma localização privilegiada próxima ao centro de Florianópolis, entretanto tem se tornado um espaço cada vez menos adequado para que os moradores da cidade o frequentem, por não receber um tratamento adequado pelo poder público apesar dos esforços da Associação Amigos do Parque da Luz.

A ponte rente ao parque, por sua vez, por ter sido interditada para carros e pedestres por tanto tempo, tem feito com que menos pessoas se interessassem por seu significado e tenham feito com que se tornasse apenas uma “ponte velha“, apesar de sua importância histórica para o desenvolvimento da cidade, ficando longe do dia a dia daqueles que por ali transitam. Uma das justificativas para a sua utilização reside no fato de que a ponte Hercílio Luz, apesar de ter se tornado um símbolo da modernização da cidade de Florianópolis (COELHO, 1994), vê sua importância ser questionada com o passar dos anos, principalmente por ter sido interditada, impedindo-a de realizar uma de suas principais funções, a de travessia entre ilha e continente.

A situação em que se encontra a ponte configura em uma forma de afastamento dos cidadãos com seu entorno próximo e também da própria cidade. Isto pode ser observado da mesma forma através do distanciamento o qual as pessoas podem ter do espaço que estão utilizando ao manusearem tecnologias móveis. Estas, geralmente, não possuem uma conexão direta com o ambiente construído, fazendo com que o uso deste seja prejudicado de alguma forma.

Todavia, este mesmo tipo de tecnologia - da informação e comunicação, sensores e atuadores - pode servir de estímulo para que um espaço público seja utilizado de forma diferente e, aliada à arquitetura, pode permitir que o ambiente torne-se interativo ou responsivo de modo que proporcione novos tipos de sensações e assim fazer com que o lugar seja mais atraente para àqueles que passam próximo ao local. Dessa forma, valendo-se desta abordagem e levando em consideração a reabertura da Ponte Hercilio Luz para a travessia de transporte público e pedestres, seria possível pensar uma outra forma de se projetar para adequar o espaço do parque de maneira a responder às necessidades dessa realidade social mais dinâmica em que nos encontramos atualmente.

(4)

ÁREA DE INTERVENÇÃO

(5)

Florianópolis, a ilha de Santa Catarina, possui como característica inerente que interfere, fortalece e estrutura a sua história e seu desenvolvimento, bem como a relação de seus moradores e paisagem com o mar, sua insularidade.

A proximidade dos habitantes da ilha com os elementos marítimos ainda pode ser vista em localidades do denominado Centro Histórico da cidade. Espaços como o Mercado Público, utilizado para o comércio de frutos do mar, mas que outrora situava-se próximo ao porto onde atracavam embarcações que realizavam o transporte de produtos; o Largo da Alfândega, lugar onde antes o mar encontrava-se com a cidade; o que também ocorria onde hoje situa-se uma praça em memória ao trapiche Miramar, enaltecendo o encontro da cidade e da população com a água.

Contudo, muito disso se perdeu após a construção do Aterro da Baía Sul, que visava melhorar a conexão entre ilha-continente, que até então era realizada somente através da Ponte Hercílio Luz. Esta, devido à questões de segurança estrutural, precisou ser interditada pela primeira vez em 1982, tanto para veículos quanto para pedestres e pela segunda, que se mantém até os dias atuais, em 1991.

Anteriormente à construção deste primeiro elo a cidade se conectava com o continente somente por meio do principal porto situado próximo à Praça XV de Novembro, lugar onde se localizava o centro dinâmico do comércio popular da cidade (AGOSTINHO, 2008). O porto tornava-se, deste modo, o meio de se comunicar com o litoral catarinense e seu interior, de forma a permitir uma troca com os mercados consumidores de outras regiões. Contudo, sua localização na cidade fazia com que quando houvesse a ocorrência de condições climáticas adversas como o vento sul, as embarcações não tinham como aportar no local (MATTOS, 2002). O mar acabava por desempenhar papéis como fonte de alimento e defesa natural, condições muito mais relacionadas à sobrevivência e trabalho, diferentes das voltadas ao turismo de contemplação e paisagem valorizadas atualmente.

Todavia o mar exercia também uma função de obstáculo, tanto para uma conexão sem contratempos para os barcos, produtos e pessoas, quanto para uma modernização que se via cada vez mais necessária para o desenvolvimento econômico e social da ilha. No intuito de solucionar estas questões é que tem início em 1922 a construção da Ponte Hercílio Luz, sendo finalizada em 1926, consolidando-a como capital do Estado.

Sua conclusão causou interferências, não só como elemento da paisagem, mas também com o surgimento de novas centralidades e no desenho das ruas, o qual teve de revisto em função desta nova ligação ilha-continente.

A parte da cidade localizada ao sul da praça XV de Novembro, por exemplo, foi rapidamente divi-dida em várias pequenas ruas, com a construção, em grande número, de casas comerciais e mora-dias. Já as duas principais ruas comerciais da época, a Conselheiro Mafra e a João Pinto, passaram a ser secundárias diante da nova importância que adquiriu a Felipe Schmidt, que se tornou a via de acesso para quem ia à ponte ou vinha dela. Isso transformou a Felipe no principal endereço do comércio varejista, uma posição que manteve, desde então, até a recente era do shopping center. Décadas mais tarde, de tão movimentada, foi transformada em calçadão. A Avenida Rio Branco, aberta em 1900 sem nenhum plano de integração com o restante das ruas, foi logo interligada com a Felipe Schmidt e ganhou um papel ativo no escoamento do tráfego de travessia entre a Ilha e o continente. (MATTOS, 2002, P.66)

A mudança no traçado da cidade e na centralidade das áreas não foi exclusividade da área insular, o lado continental da cidade também sofre alteraçãos.

No lado continental (naquela época a capital era geograficamente restrita à ilha, e o bairro João Pessoa, hoje Estreito, ainda pertencia ao município de São José), ganharam importância aquelas ruas que conduziam os moradores de cada um dos bairros até a ponte, sem que esses bairros fossem, contudo, interligados entre si – isso só viria a ser feito muitos anos mais tarde, a partir da década de 1970. Assim, Estreito, Canto e Ponta do Leal (agora Balneário) organizaram suas paisa-gens, no primeiro terço do século XX, em torno das ruas principais que conduziam à recém-con-struída ponte pênsil. Também as praias de veraneio da época, como Coqueiros e Itaguaçu, foram se tornando bairros residenciais, na medida em que o transporte para o centro urbano da capital se tornava mais comum e mais fácil. (MATTOS, 2002, P.67)

Isto acabou por marcar um início do distanciamento da ilha em relação ao mar, a facilidade da travessia condicionada pela ponte fazia com que o porto tivesse sua importância reduzida conforme a cultura do automóvel se popularizava. Bem como para o crescimento urbano da cidade pela facilidade de travessia condicionada pela construção da ponte.

APRESENTAÇÃO

Fonte: Acervo Digital Relarq

Fonte: Acervo Digital Relarq

Fonte: Acervo Digital Relarq

Fonte: Acervo Digital Relarq

Fonte: Acervo Florianópolis Ontem e Hoje

Foto 4 - Mercado Público Municipal (1921) Foto 3 - Barcos atracados junto a praia do Mercado (1903)

Foto 1 - Mercado Público de Florianópolis e aterro Foto 2 - Mercado Público completo e baía sul (1935~70)

Foto 5 - Catraia de travessia ilha continente, quando ainda era usado barco para travessia logo depois foi construída a ponte Hercílio Luz

Foto 6 - Congestionamento na Ponte Hercílio Luz (1928)

(6)

A área escolhida para a implantação da intervenção engloba o espaço do Parque da Luz, localizado na cidade de Florianópolis. Que situa-se ao lado da Ponte Hercílio Luz.

Historicamente, a ponte foi o primeiro percurso de conexão entre a ilha e o continente que poderia ser realizada por outro meio de transporte que não uma embarcação.

Por razões de segurança a esta importante e bela obra encontra-se interditada desde 1991. Desde alguns anos o poder público veio procedendo a manutenções periódicas, tendo, decidido, ultimamente, pela contratação de empresa especializada objetivando a sua completa recuperação. Com a conclusão dos trabalhos previstas para o ano de 2018, deverá deixar de ser vista como apenas um marco e um símbolo para reintegrar-se ao convívio, desfrute e admiração dos florianopolitanos e visitantes.

O Parque da Luz, atualmente, é uma Área Verde de Lazer com aproximadamente 38 mil m², vizinha ao núcleo central da cidade, localizado na cabeceira da ponte e estando assim quase que diretamente conectado à ela. Trata-se também de um dos únicos espaços verdes no centro de Florianópolis, sendo assim um potencial pólo gerador de atividades e de atração de pessoas. Também um respiro envolto de cada vez mais prédios, demonstrando uma possibilidade do que pode ser feito ao se lutar contra a especulação imobiliária. Além do fato de estar conectado à importanes vias da cidade, como a Rua Felipe Schmidt e a Rua Conselheiro Mafra.

Porém mesmo situada em uma área privilegiada, sua conformação atual não evidencia de forma alguma estas potencialidades, sendo necessário repensar como o espaço poderá vir a se apresentar quando a Ponte Hercílio Luz vir a ser reaberta para a população.

LOCALIZAÇÃO

Esquema 1 - Localização da área de intervenção

(7)

Foram escolhidos para serem destacados pontos de Áreas Verde de Lazer tanto da ilha quanto do continente, bem como outras localidades que possuem influência no funcionamento da cidade e podem vir a influenciar no desenvolvimento da proposta. De modo que poderiam afetar as atividades realizadas no Parque da Luz e como local com uma dinâmica saudável.

As áreas foram divididas em:

O IFSC Campus Florianópolis - Continente, uma instituição de ensino que serve como pólo atrativo de pessoas. Próxima a cabeceira da Ponte Pedro Ivo Campos mas também com uma possível conexão com a Ponte Hercílio Luz que, assim que uma travessia fosse possível, poderia facilitar a chegada daqueles que utilizam a instituição. Assim como outras instituições de ensino presentes na ilha, como o Colégio Catarinense, Colégio Menino Jesus, Colégio Coração de Jesus, o Institudo Esstadual de Educação, entre outros abrigam parte da população jovem que poderia utilizar a área do parque se esta segura, também durante o período noturno.

O Parque de Coqueiros, uma área de lazer já consolidada na área continental de Florianópolis. Devido a sua grande atração de pessoas, principalmente no final de semana, seu entorno preenchido por comércios e residências permite uma utilização mais segura, sendo realizada durante a noite em alguns dias. Este parque urbano pode também vir a se ligar com o Parque da Luz através de uma integração com um possível transporte que permitisse a travessia através da Ponte Hercílio Luz.

A Praça XV, a Praça Getúlio Vargas e a Praça Fernando Machado se constituem nas principais áreas verdes do centro da cidade, além do Parque da Luz. Sendo utilizados prioritariamente como locais de descanso durante intervalos de aulas e do almoço para quem trabalha e estuda em suas proximidades.

A Praça XV apresentando uma alta carga histórica e paisagística para Florianópolis possui um vínculo com o Parque da Luz através da Rua Felipe Schmidt pouco explorada. Este elo também pode ser visto na questão de que o próprio tombamento da Ponte Hercílio Luz torna a área do Parque da Luz protegida legalmente.

Um conjunto de importância histórica para a cidade como o Mercado Público, o Largo da Alfândega e a Catedral Metropolitana, por tratarem-se de locais bastante fluxo durante o dia, podem colaborar com a movimentação de pessoas na área verde do parque já que possuem uma proximidade considerável do mesmo.

Outro espaço, também próximo ao parque, é o Forte Sant’anna. Este possui um elevado potencial paisagístico que acaba não sendo aproveitado, um motivo sendo a dificuldade de acesso ao lugar a partir da ponte.

PONTOS DE INTERESSE

Instituições de Saúde Instituições de Educação Pontos Nodais

Área Verde de Lazer

(8)

0 100 200 300

Na parte insular é possível ver a predominância de Área Mista Central (AMC), Área Residencial Mista (ARM) e Área Comunitária Institucional (ACI).

A primeira é de alta densidade e complexa, com destinação aos usos residencial, comercial e de serviços. Esta pode ser vista ao longo de toda a Av. Beira-mar e próximas a cabeceira da ponte, juntas à Área Verde de Lazer (AVL) do Parque da Luz.

As ACI na ilha são representadas pelo Terminal Rodoviário Rita Maria, o Terminal de Integração do Centro (TICEN), o Parque Náutico,

ZONEAMENTO

Área Verde de Lazer (AVL)

Área Mista Central (AMC)

Área Mista Residencial (AMR)

Área Turística de Lazer (ATL)

Área Comunitária Institucional (ACI)

Mapa Esquemático 2 - Zoneamento de acordo com o Plano Diretor de Florianópolis de 2014

a Estação de Tratamento de Águas. A uma menor distância da ponte erguem-se os prédios da Delegacia da Receita Federal e do Departamento de Praças e Arborização Pública.

Numa gleba pública embaixo da cabeceira insular, junto ao mar, está situada uma ATL onde coexistem: o Forte de Sant´Anna, o Museu de Armas Major Lara Ribar e uma guarnição do Corpo de Bombeiros (busca e salvamento).

Na parte da Ilha, no entorno da testada da ponte, funcionam algumas empresas além

de alguns restaurantes que se constituem em pequenos polos que atraem turistas e moradores.

Tanto a região da ponte quanto o centro histórico da cidade estão marcadas como Área de Preservação Cultural, isto faz com que as alterações em seu entorno devam ser abordadas de forma diferente de áreas que não possuem esta classificação.

De modo geral, as tipologias de zoneamento encontradas próximas à região do Parque da Luz evidenciam a potencialidade que esta tem para

tornar-se um espaço verde de lazer qualificado e atrativao próximo às edificações das AMCs.

Além disso, o Terminal Rodoviário e o TICEN, focos de um grande deslocamento diário de pessoas, indicam a possibilidade de conexões a serem realizadas com a região do parque através do transporte coletivo.

As ATLs, são também espaços que podem conversar com a região do Parque da Luz devido ao seu potencial para atração de pessoas, mesmo que atualmente sejam subutilizadas.

(9)

N

proporções bastante grandes, como o Terminal Rodoviário Rita Maria, a antiga Fábrica da Hopecke e o Centro Empresarial Florianópolis. Ademais, o restante dos grãos configura-se majoritariamente de tamanho mediano e forma alongada e/ou quadrangular, evidenciando a enorme quantidade de edifícios residenciais na área.

Em menor proporção podem ser notados alguns pontos menores, todos representativos de casas, e que se concentram, principalmente, Como pode ser observado pelo mapa

acima, a região onde se localiza o Parque da Luz possui uma densidade bastante alta, caracterizada especialmente por quadras de grandes proporções. Isso se deve graças ao histórico do traçado urbano do local, que foi realizado especialmente a partir do loteamento de propriedades rurais e de grandes chácaras.

Quanto a granulometria da área é importante notar a presença de alguns grãos de

CHEIOS E VAZIOS

Mapa esquemático 3 - Mapa de cheios e vazios com a localização do Parque da Luz

na parte oeste entre o Parque da Luz e a Avenida Beira-mar

De modo geral, é possível afirmar que as barreiras topográficas e marítimas da ilha ajudaram em muito a manter seus atributos espaciais do início de sua ocupação, tendo a principal transformação ocorrido no espaço a alteração de sua densidade, verticalização e usos. (REIS, 2012).

(10)

N

PARQUE DA LUZ PR AÇA X V RUA FELIPE SCHMID T RUA CONSELHEIR O M AFR A

Nesta imagem visualiza-se um trajeto que o Centro da Cidade de Florianópolis ao continente através da Ponte Hercílio Luz.

O caminho em destaque mostra a ligação direta entre o Parque da Luz e a Praça XV de Novembro, rente à Catedral Metropolitana de Florianópolis. Este eixo acaba por conectar outras áreas verdes de lazer e edificações históricas, tendendo, assim a propiciar um agradável enriquecimento à experiência urbana da população.

TRAJETO CONTINENTE AO CENTRO

Legenda

AVL

Patrimônio Histórico

Calçadão

Eixos

Mapa Esquemático 4 - Percurso que pode ser realizado do continente até a praça XV e vice-versa, contornando o Parque da Luz

O percurso pode ser continuado através dos calçadões existentes próximos também à Praça XV e continuar por meio de outra importante via da cidade, a Rua Conselheiro Mafra, onde também se localizam conjuntos histórico de edificações

É possível notar assim, que o Parque da Luz encontra-se em uma região privilegiada, e que certamente poderá vir a ter seu uso significativamente ampliado, aproveitando-se da opotunidade da reabertura da ponte para

a população, principalmente para pedestres. Tornando-o, desta forma, em um pólo gerador de atividades para a cidade.

(11)

7 8 2 2 1 1 4 4 3 3 5 5 10 9 11 6

Legenda Nomes das Vias 1 Avenida Beiramar 2 Rua Filipe Schmidt

3 Rua Jorn. Assis Chateaubriand

Legenda Hierarquia das Vias Trânsito Rápido

Arterial Coletora 4 Rua Almirante Lamego

5 Alameda Adolfo Konder 6 Rua Hoepcke

7 Rua Francisco Tolentino

8 Rua Conselheiro Mafra 9 Avenida Rio Branco 10 Rua Duarte Schutel 11 Rua Des. Arno Hoeschl

6

N

VIAS DO ENTORNO DO PARQUE

Legenda Nomes das Vias 1 Avenida Beiramar 2 Rua Felipe Schmidt

3 Rua Jorn. Assis Chateaubriand

Legenda Hierarquia das Vias Trânsito Rápido

Arterial Coletora 4 Rua Almirante Lamego

5 Alameda Adolfo Konder 6 Rua Hoepcke

7 Rua Francisco Tolentino

8 Rua Conselheiro Mafra 9 Avenida Rio Branco 10 Rua Duarte Schutel 11 Rua Des. Arno Hoeschl

(12)

A Rua Felipe Schmidt é uma importante via de ligação entre o centro da cidade e o Parque da Luz. Em sua extensão existem construções das mais variadas alturas, principalmente em sua extensão até a rua Hoepcke, estando servida de edificações de uso misto, somente residencial e/ou de serviços, possuindo, por vezes, comércio em seu térreo.

No percurso desta via, desde a praça XV até o encontro com a rua Hoepcke é possível verificar diversas formas de interação entre os pedestres e o espaço da rua e dos imóveis existentes. Vendedores ambulantes, feirantes, estudantes, trabalhadores, crianças, idosos e famílias; a população que faz com que a cidade tenha seu fluxo, entrando e saindo dos prédios, dando vida ao lugar e criando uma sensação de segurança devido à sua presença. Este movimento é incentivado pela existência de um calçadão destinado ao uso quase exclusivo por pedestres (por ele transitam apenas veículos oficiais e transportes de valores).

Um percurso que pode ser realizado por quem caminha nesta rua parte da Praça XV até a Rua Hoepcke, sendo de pequena extensão se comparado ao restante do percurso até o Parque da Luz, mas nem por isso tem sua importância para a cidade reduzida.

No que acaba o calçadão, a estrada volta ao seu desenho tradicional, com calçadas laterais bastante reduzidas, com prioridade para os veículos em detrimento do homem. O movimento no local, tanto de carros, motos e outros meios de transporte é intenso, assim como de pessoas. Esta convivência que é pouco harmônica entre máquinas e homens acaba por reduzir a sensação de pertencimento do pedestre, e aumentar as de insegurança e estresse.

RUA FELIPE SCHMIDT

2

Corte esquemático 1 - Representação do corte da rua Felipe Schmidt

Mapa esquemático 6 - Parte 1 do percurso entre a praça XV e o Parque da Luz no eixo da Rua Felipe Schmidt Fonte: StreetMix (2016)

Calçadão da Felipe Schmidt Rua Felipe Schmidt

LEGENDA

Fonte: Google Earth (2017)

Fonte: Google Earth (2017) Fonte: Google Earth (2017)

Fonte: Google Earth (2017) Foto 7 - Calçadão da Felipe Schmidt com a Rua Deodoro

Foto 9 - Felipe Schmidt em direção ao Parque da Luz Foto 10 - Felipe Schmidt em direção ao Parque da Luz

Foto 8 - Calçadão da Felipe Schmidt com a Gerônimo Coelho

Foto 10

Foto 9

Foto 8

(13)

RUA FELIPE SCHMIDT

Conforme se aproxima do Parque da Luz, a dimensão da caixa da rua sofre um aumento, mas a questão mais importante está na quantidade de pedestres nas ruas. Esta diminui consideravelmente, reduzindo o fluxo de pessoas e, consequentemente, aumentando a sensação de insegurança na mesma proporção.

Outro fator que agrava este cenário de insegurança é a crescente diferença entre os níveis da rua Felipe Schmidt e a área do parque, criando uma espécie de limite que dificulta a aproximação e acesso dos pedestres e também para a visualização das atividades que podem estar ocorrendo em seu interior. Quanto às edificações, aquelas que possuíam o seu pavimento térreo ocupado por comércio são substituídas por prédios predominantemente residenciais de alto gabarito e padrão, evidenciando a presença de uma população de classe média, média-alta no entorno do parque, assim como oo tipo de urbanização que o local sofreu . Mas também revela o potencial que o local tem em relação à sua utilização, se presumindo uma presença, mesmo que em número menor, de pessoas entrando e saindo de suas casas.

Entretanto, é importante pensar no propósito do parque e do espaço de seu entorno não como uma extensão das moradias em sua volta, mas como um lugar a ser usufruido pela população citadina.

Fonte: Google Earth (2017)

Fonte: Google Earth (2017) Fonte: Google Earth (2017)

Fonte: Google Earth (2017) Foto 11 - Encontro da Felipe Schmidt com a Rua Hoepcke

Foto 13 - Região onde se inicía o talude entre a rua e o parque Foto 14 - Bifurcação entre a rua Felipe Schmidt (reto) e a rua Jorn. Assis Cateaubriand (esquerda) Foto 12 - Início da área do parque pela rua Felipe Schmidt

Foto 11 Foto 12 Foto 13

Foto 14

Rua Felipe Schmidt LEGENDA

Corte esquemático 2 - Representação do corte da rua Felipe Schmidt no entorno do Parque da Luz e a diferença de nível

PARQUE DA LUZ

(14)

As poucas edificações assentadas ao longo da Rua Jornalista Assis Chateaubriand tem baixo gabarito, com pouca representação na paisagem, visto que cercadas por muros e plantadas em nível inferior ao do parque.

Referida artéria está conectada à rua Felipe Schmidt, e de parte o contorno do área pública em estudo. Há que referir que de acordo com a situação atual da via em comento, ela acaba por separar o próprio parque de espaço que poderiam ser melhor aproveitados. Há pontos com vegetação tão densa que impede que a vista em direção ao mar perca a permeabilidade. E, dada sua configuração presente até o mirante da Ponto Hercílio Luz perde sua integração com todo o conjunto

Este, apesar de se tratar de uma atração turística situada no local juntamente com a própria ponte, não possui força o suficiente para gerar movimento o suficiente no decorrer da rua de modo a causar um aumento da sensação de insegurança na área.

RUA JORN. ASSIS CHATEAUBRIAND

PARQUE DA LUZ

3

Corte esquemático 3 - Representação do corte da rua Jorn. Assis Chateaubriand

Mapa esquemático 8 - Rua Jorn. Assis Chateaubriand e a direção do fluxo de veículos atualmente

Foto 15 - Vista oposta ao Parque da Luz na rua Jorn. Assis Chateaubriand, um espaço com potencial inutilizado

Foto 16 - Vista da rua Jorn. Assis Chateaubriand e a quantidade de vegetação presente Fonte: Google Earth (2017)

Fonte: Google Earth (2017)

LEGENDA

Direção do fluxo de veículos da via

Foto 16 Foto 15

(15)

A Rua Hoepcke teve erguidos em seu lado mais próximo ao Parque da Luz, duas edificações de alto gabarito impedindo qualquer conexão de seu espaço térreo com a área verde existente.

As duas obras mencionadas foram cravadas no interior do circuito protegido pelo tombamento da Ponte Hercílio Luz, e, dadas as suas grandiosas dimensões, interferem negativamente no espaço do parque, além de impedir, definitivamente a vista para a ponte de uma das principais avenidas da malha urbana da cidade, a Avenida Rio Branco.

Exemplo deste dano é verificável a partir da foto 18. A partir do olhar em direção à conexão da avenida com a Rua Hoepcke, as edificações tornam impossível a visualização da Ponte Hercílio Luz.

RUA HOEPCKE

6

PARQUE DA LUZ

LEGENDA

Direção do fluxo de veículos da via

Corte esquemático 4 - Representação do corte da rua Hoepcke

Mapa esquemático 9 - Rua Hoepcke, separada do parque por grandes edifícios

Foto 17 - Vista aérea do Parque da Luz a partir da Avenida Rio Branco

Foto 18 - Vista do solo a partir da Avenida Rio Branco em direção ao parque da luz Fonte: Google Earth (2017)

(16)

A Alameda Adolfo Konder não possui edifícios altos ao longo de sua extensão mais próxima ao parque. Conforme se aproxima da Rua Hoepcke, prédios de alto gabarito começam a surgir. Bloqueando uma possível conexão com o próprio Parque da Luz.

É onde se encontra uma de suas entradas secundárias. Percurso este comprometido parcialmente devido à diferença de nível entre a rua e o interior do parque.

Também é nesta rua que se encontra uma galeria de pedras, que será explorada melhor posteriormente neste trabalho, resquício da época em que o espaço seria utilizado para a passagem de um transporte sobre trilhos. O que nunca foi realizado.

ALAMEDA ADOLFO KONDER

5

PARQUE DA LUZ

Foto 19 - Vista das diferentes edificações existentes na alameda Adolfo Konder

Foto 20 - Vista de parte da galeria de pedras e da vegetação existente no local Corte esquemático 5 - Representação do corte da alameda Adolfo Konder no entorno do parque da luz

Mapa esquemático 10 - Alameda Adolfo Konder e fluxo de veículos

LEGENDA

Direção do fluxo de veículos da via

Foto 19

Foto 20

Fonte: Google Earth (2017)

(17)

RUA ALMIRANTE LAMEGO

4

A Rua Almirante Lamego contorna o parque em um nível mais abaixo, prestando-se prioritariamente ao tráfego de veículos, em parte dada a sua localização, em parte por se tratar de zona pouco segura e de nenhum atrativo para a população.

Porém ela apresenta certo potencial para a vista da ponte, possui uma conexão através de uma escadaria bastante próxima à Ponte Hercílio Luz que também pode servir como conexão ao Parque da Luz. A via liga-se com a Alameda Adolfo Konder, que segue em direção ao centro da cidade.

Corte esquemático 6 - Representação do corte da alameda Rua Almirante Lamego

Foto 23 Foto 22

Foto 21

LEGENDA

Direção do fluxo de veículos da via

Foto 21 - Vista a partir da rua Almirante Lamego em direção à Ponte Hercíllio Luz

Foto 22 - Escadaria que liga a rua Almirante Lamego e a rua Jorn. Assis Chateaubriand, uma conexão com o parque e ponte

Foto 23 - Vista o final da Rua Almirante Lamego, demonstrando a diferença de altura entre a via e a área do parque Fonte: Google Earth (2017)

Fonte: Google Earth (2017)

Fonte: Google Earth (2017) Mapa esquemático 11 - Rua Almirante Lamego e fluxo de veículos atual

(18)

Fonte: Google Earth (2017)

Fonte: Google Earth (2017)

N

Levando em consideração os estudos realizados pelo Centro Integrado de Meteorologia e Recursos Hídricos de Santa Catarina – CLIMERH, nos últimos 70 anos tem-se a predominância dos ventos Norte (36.92%); seguido pelos ventos de Sudeste (16.92%); Sul (15.77%); Nordeste (10.05%); Noroeste (2.85%) e Sudoeste (1.14%).

O entorno do Parque da Luz, principalmente na Rua Felipe Schmidt, possui prédios de alto gabarito que bloqueiam parte dos ventos vindos do norte e nordeste ao seu interior, isso ocorre também devido à alta densidade de vegetação existente no local. Portanto as atividades realizadas dentro do parque dificilmente seriam prejudicadas pelos ventos. Enquanto que as bordas do parque que estão voltadas para o mar não possuem proteção contra as rajadas de maior intensidade.

O vento sul é um aspecto importante a ser considerado devido ao desconforto que causa com a redução da temperatura, também não atinge o interior do parque com uma força que afete de forma danosa o que está sendo realizado. Contudo, o mirante da Hercílio Luz encontra-se totalmente exposto a este vento.

O Parque da Luz é povoado por densa vegetação que serve de abrigo contra o calor durante as estações mais quentes do ano, constituindo excelente espaço de estar para o descanso ao longo destes períodos. A não existência, entretanto, de planejamento no que tange à criação de ambientes que favoreçam o aparecimento de sombreamento aos usuários do parque representa o desperdício desta significativa e importante gleba como um real ponto de referência e de utilização assentado no centro da cidade.

Devido à localização do terreno do parque a projeção da sombra das edificações de alto gabarito em seu entorno ocorre somente durante o período da manhã, não prejudicando as atividades que podem vir a ser realizadas em seu interior. Portanto, ao meio-dia e no decorrer da tarde se faz necessário a utilização de espaços sombreados, conforme citados anteriormente.

O pôr-do-sol ocorre na mesma direção da Ponte Hercílio Luz, conferindo ao cenário da paisagem local um grande potencial

VENTOS E INSOLAÇÃO

(19)

HISTÓRICO DA PONTE HERCÍLIO LUZ

Em 4 de Julho do ano de 1991 a segunda, e definitiva, interdição da ponte a todo tipo de tráfego é realizada. realizada, primordialmente, por questões estruturais, cujos componentes apresentavam degradação a olhos vistos, pela ação do tempo, pouca ou nenhuma manutenção significativa, comprometendo a segurança dos usuários.. Nos meses seguintes é retirado o piso asfáltico, aliviando cerca de 400 toneladas de peso da ponte. Um ano após, em 4 de Agosto de 1992, Antônio Bulcão Vianna decreta o tombamento da Ponte Hercílio Luz como Patrimônio Histórico, Artístico e Arquitetônico do Munícipio de Florianópolis.

As obras da ponte Hercílio Luz, projetada pelo engenheiro estadounidense David Barnard Steinman, tiveram início no ano de 1922 e destinada a servir como uma estrada de ligação de Florianópolis ao Planalto Serrano. Possuia inicialmente o nome de Ponte Independência e originalmente havia sido pensada para abrigar a circulação de trens elétricos, que nunca vieram a ser implantados (SUGAI, 1994).

Durante o ano de 1988 a travessia volta a ser permitida, porém apenas para pedestres, bicicletas, motos e veículos de tração animal. De acordo com o DEINFRA, neste período, a ponte absorvia cerca de 43% do tráfego ilha-continente. Assim tornou-se uma necessidade a construção de duas novas pontes para que o trânsito, intenso para a ponte Hercílio Luz, pudesse ser redirecionado.

No dia 8 de Outubro do ano de 1924 é realizada uma inauguração simbólica devido às condições de saúde do então Governador de Santa Catarina, Hercílio Luz.que veio a falecer no dia 20 de outubro do ano citado, e sempre lembrado como a autoridade responsável pela construção do monumento. Em 1926, quando foi plenamente aberta ao tráfego, dando por finda a dependência das balsas para a travessia Ilha-Continente Tornava-se possível à população, então, exercer o direito de ir e vir, independente do vento sul, ocorrência que comprometia e, por vezes, impossibilitava, por vezes, a navegação no local.No mesmo ano, a ponte tem o nome alterado para Ponte Hercílio Luz como homenagem póstuma ao governador.

De acordo com Hayashi e Barth (2015), “A construção da ponte pênsil modificou o sistema de transporte da ilha, limitando as atividades do porto para barcos de pesca local e pequenos barcos de cargas. A cidade, no entanto, mantinha suas características de porto, com o mercado público, bares e restaurantes junto ao cais.”

A urbanização, o desenvolvimento e o crescimento da cidade acabam por trazer sinais de saturação à ponte a partir de 1960. É em 1982 que ela sofre sua primeira interdição ao trâsito em virtude da detecção de problemas na antiga estrutura.

Foto 25 - Vista do Morro da Cruz (1920) Foto 26 - Início das obras da ponte Hercílio Luz (1922)

Foto 27 - Pilar junto ao continente (1922) Foto 28 - Construção dos suportes metálicos

Fonte: Acervo Digital Floripendio Fonte: Acervo Digital Floripendio

Foto 29 - Avanço sobre o canal (1923)

Foto 31 - Vista das duas torres (ano desconhecido)

Foto 30 - Primeira torre junto ao continente (1923)

Foto 32 - Vista das duas torres (ano desconhecido)

Foto 33 - Vista das duas torres (ano desconhecido) Foto 34 - Colocação do piso de madeira (1924)

Fonte: Acervo Digital Floripendio Fonte: Acervo Digital Floripendio

Fonte: Acervo Digital Floripendio

Fonte: Acervo Digital Floripendio

Fonte: Acervo Digital Floripendio

Fonte: Acervo Digital Floripendio

Fonte: Acervo Digital Floripendio

(20)

HISTÓRICO DA PONTE HERCÍLIO LUZ

No ano de 1997, em 13 de Maio, Paulo Afonso, Governador de Santa Catarina, realiza a homologação do tombamento da Ponte Hercílio Luz como patrimônio histórico estadual. No mesmo ano, o Ministério da Cultura reconhece a ponte como Patrimônio Histórico, Artístico e Arquitetônico Nacional tornando assim, uma obrigação do Estado, recupera-la, restaura-la e preserva-la. Também é assinado um decreto no qual o Governo do Estado de Santa Catarina declara de utilidade pública para fins de aquisição por doação ou apropriação, amigável ou judicial, os imóveis compreendidos na área circunvizinha ao “monumento”. A região compreendida para efeito de tombamento é a que se forma a partir de duas linhas paralelas, distanciadas 100 metros das pontas mais salientes em cada lado da superestrutura, interceptadas por outras duas linhas, distanciadas também 100 metros paralelamente de cada uma das cabeceiras.

É somente em 2005 que um primeiro Projeto de Reabilitação da Ponte Hercílio Luz é apresentado, prevendo a ocorrência da obra em duas etapas, a primeira, sob um valor de R$21 milhões, sendo a da recuperação das rampas de acesso insular e continental, a segunda que o vão central da ponte seja recuperado. Um ano depois, em 2006, a obra tem início com um contrato que tinha seu encerramento previsto para agosto de 2008. Para esta segunda etapa, no ano de 2007, é publicado um Edital de Concorrência Internacional em um valor estimado de R$170 milhões.

Porém, atrasos e dificuldades a realização da obra e, consequentemente, fazem com que esta sofra diversos adiamentos para o prazo de entrega, configurando um não-cumprimento dos compromissos e prazos preestabelecidos. O Governo do Estado decide, apenas em 2014, devido à estas razões, anunciar a rescisão unilateral do contrato.

Durante o ano de 2015, a empresa responsável pela construção da ponte em 1926 faz um acordo com o governo para realizar a etapa final da obra. No mês de Abril do mesmo ano esta tem início com prazo de entrega de 180 dias. Porém, em Outubro a empresa desiste oficialmente de realizar o serviço.

Em Março de 2016, Raimundo Colombo, então governador de Santa Catarina, firma um contrato para um novo prazo para a finalização da obra com outra empresa, fixando em 30 meses o prazo para a reparação de todas as patologias. Firmando o ajuste, em agosto são instaladas as gruas necessárias ao trabalho, incluindo para que a troca das peças seja realizada. No mês de Janeiro do ano seguinte, 2017, é realizada a transferência de carga. O término das obras e devolução da ponte ao público está previsto para outubro do corrente ano.

Foto 35 - Primeira torre junto ao continente (1923)

Foto 39 - Utilização da ponte por veículos (1962) Foto 39 - Passarela para pedestres (Década de 1980)

Foto 37 - Fase da Ponte Hercílio Luz (ano desconhecido)

Foto 36 - Primeira torre junto ao continente (1923)

Foto 41 - Foto da Ponte Hercílio Luz (2016)

Foto 38 - Imagem a partir da Ilha do Carvão (1926) Fonte: Acervo Digital Floripendio

Fonte: Acervo Digital Floripendio Fonte: Acervo Digital Floripendio

Fonte: Acervo próprio Fonte: Acervo Digital Floripendio

(21)

O local hoje conhecida como Parque da Luz foi um dia chamada de Colina da Vista Alegre ou o Morro do Barro Vermelho, sendo este “um dos pontos de interesse mais distantes a oeste da praça principal, hoje Praça XV de Novembro” (BARROS, 2010, p. 93). Este terreno, em 1840, foi destinado às Irmandades e Ordens religiosas existentes na ilha, transformando-se, em 1841, no primeiro cemitério municipal da cidade. Que, de acordo com Barros (2010) teve em sua construção influência dos médicos da cidade, que criticavam a pratica do enterro de cadáveres nas paredes dos templos como responsáveis causadores de epidemias como a cólera.

A transferência deste cemitério, mudança que já era cogitada desde o ano de 1887, vem acontecer apenas em 1925. Um ano antes da inauguração da Ponte Hercílio Luz, em 1926. Após a abertura desta ligação entre ilha-continente, a área onde hoje está localizada o Parque da Luz, tornou-se a porta de entrada por terra para a cidade de Florianópolis, e que anteriormente recebia atividades indesejadas como o cemitério já citado, prostituição e despejo de lixo.

Esta, agora, via seu entorno receber investimentos para a realização de obras das vias de acesso, em ambos os lados das conexões. O que trazia um aumento do tráfego tanto de pessoas quanto de veículos em direção à ponte. Esta nova configuração fez com que a região adquirisse um novo grau de importância para a cidade. Entretanto, a antiga área do cemitério, não possuiu um planejamento nem recebeu melhorias, tornando-se assim um espaço residual.

Durante o ano de 1982, quando se realiza a interdição da Ponte Hercílio Luz, o fluxo que já havia sido estabelecido com a possibilidade de realizar o trajeto até o continente através deste percurso. A população que utilizava esta área se vê com a necessidade de encontrar outros caminhos para a realização de sua rota diária e o espaço acaba por sofrer um processo de desertificação, voltando a ser um local pouco utilizado, exceto por aqueles que moravam em seu entorno, recebendo entulhos de obras que aconteciam na cidade e tornando-se um verdadeiro lixão à céu aberto.

Esta situação de abandono perdurou por alguns anos, até 1985, quando se reconhece a existência de uma área pública localizada na cabeceira insular da Ponte Hercílio Luz com um grande potencial para que tornar-se um parque para a cidade (SILVA, 2008). É durante a década de 80 que a organização não governamental e sem fins lucrativos Vidarte é criada por Lúcio Dias da Silva Filho, Etienne Luiz Silva e um conjunto de artistas educadores e voluntários da capital. Esta, proponente e da ideia do tombamento da ponte, tornou-se responsável por conduzir esta luta para tornar este objetivo real de formas legais.

Logo no ano seguinte, em 1986, é que se dá início ao movimento para que a construção do Parque da Luz e o tombamento da Ponte Hercílio Luz. Já que, ao transformar as cabeceiras em áreas protegidas como patrimônio histórico, paisagístico e cultural, a área no entorno da ponte também estaria entrando em condição de proteção permanente, permitindo que a área do parque fosse amparada de forma legal. Neste mesmo ano, os participantes do movimento começam a ocupar o espaço abandonado, e a substituir o lixo que havia na área, por árvores, tornando necessária uma manipulação da terra com o objetivo de recuperar o solo poluído e degradado.

DO

HISTÓRICO DO PARQUE DA LUZ

Foto 42 - Vista a partir do cemitério municipal

Foto 43 - Vista aérea da região onde se encontra o Parque da Luz

Foto 45 - Grupo de apoiadores do projeto do Parque da Luz Foto 46 - Imagem de notícia sobre a área do parque (1992)

Foto 44 - Imagem de uso indevido da região do parque (década de 1980)

Fonte: AAPLUZ

Fonte: AAPLUZ

Fonte: AAPLUZ Fonte: AAPLUZ

Fonte: Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina (IHGSC)

Mesmo com estas ações, contudo, é somente depois de 10 anos de resistência por parte dos participantes do movimento que acontece o tombamento oficial da Ponte Hercílio Luz como patrimônio histórico e artístico de Santa Catarina e do Brasil, 15 anos após esta ter sido fechada definitivamente para o tráfego, em 1997. É neste mesmo ano que um dos principais promotores deste movimento, Etienne, vem a falecer e então a VIDARTE torna-se a Associação dos Amigos do Parque da Luz (AAPLUZ), que é ainda hoje a organização que mais contribui para a criação e manutenção do parque.

(22)

DO

HISTÓRICO DO PARQUE DA LUZ

Este espaço público, antes esquecido e agora considerado uma Área Verde de Lazer (AVL), tem vinculado à sua história dois principais fatores, o primeiro como marco de resistência à urbanização desenfreada de Florianópolis, tornando-se uma das poucas áreas verdes no centro da cidade, um refúgio de vegetação em meio aos prédios que busca o envolvimento e a inclusão do local no cotidiano da população. E o segundo que sua construção em muito se deve a um conjunto de pequenas ações de diversos indivíduos até chegar em um grande resultado. Esta participação coletiva foi uma das maiores razões para que o movimento atingisse um de seus objetivos. A intenção e as ações de cada participante ativo, mesmo que fossem o plantio de uma árvore, a realização de um evento, a retirada de entulhos, acabavam contando, e muito, no panorama geral das metas da organização. Estes fazeres pequenos, e não necessariamente grandes participações, permitiram a construção de uma identidade coletiva que buscava reivindicar, denunciar e construir um espaço de lazer no centro da urbe.

Contudo, apesar do surgimento do parque ter se dado pelo esforço conjunto de diversos indivíduos como algo feito pela população para si mesma, a falta de participação, e até descaso, do poder público traz diversos problemas para a manutenção, construção e implantação de melhorias da infraestrutura, cultivo e cuidados com a flora, equipamentos dentre outras ações. Outro ponto que é importante ressaltar é que, por mais que houvesse uma ordem para realizar a transformação de um espaço praticamente abandonado em uma AVL, o estado atual do parque nos permite observar uma falta de planejamento para com a implantação e posicionamento da vegetação, bem como a ausência de infraestrutura que faça jus ao local. Tudo isto sendo compreensível devido ao contexto em que o movimento teve início, porém conforme a cidade e as interações sociais evoluem, o parque continua parado no tempo, fazendo com que a sensação de insegurança no local aumente e, consequentemente, menos pessoas passem a frequentar o lugar.

No ano de 1999 o movimento consegue que o parque seja reconhecido legalmente através da lei complementar 051/99, e a partir de então, em 2001 a AAPLUZ promove o plantio de árvores – como Goiabeira, Pitangueira, Cinamomo, Guarapuvu, Sinanduva, entre outras - e o ajardinamento do local. Além disso, desde que o local se tornou um parque de forma legal, ele passou a receber elementos que promovessem a sua utilização pelos frquentadores, playgrounds, traves para futebol, obras de arte, bancos e lixeiras. Estas ocorrências demonstram mais uma vez que quem trabalha pelas melhorias do espaço do parque na verdade são as pessoas e não o poder público.

O processo de desenvolvimento e transformação da área próxima à cabeceira insular da Ponte Hercílio Luz como parque passou por várias adversidades tendo em vista sua localização privilegiada, rente ao principal cartão postal da cidade e adjacente ao cento da cidade de Florianópolis, local de diversas zonas de comércio e serviço. Devido aos interesses econômico-financeiros privados, em detrimento do bem estar público o emprego de ações judiciais foram necessárias para a manutenção do local de acordo com os princípios de seus idealizadores.

Foto 49 -Mau uso do local por cidadãos (1993) Foto 50 - Invasões irregulares na área do parque

Foto 47 - Evento em apoio à construção do parque (1998) Foto 48 - Vista aérea do Parque da Luz (década de 90)

Foto 51 - Exemplo de invasão ocorrendo no parque (1997)

Foto 53 - Crescimento das árvores e realização de plantio

Foto 52 - Início do plantio de árvores frutíferas no parque

Foto 54 - Vista aérea do parque a partir da Felipe Schmidt Fonte: AAPLUZ

Fonte: AAPLUZ Fonte: AAPLUZ

Fonte: AAPLUZ

Fonte: AAPLUZ Fonte: AAPLUZ

(23)

ARQUITETURA INTERATIVA

(24)

A revolução industrial teve um importante papel na profunda transformação em que principalmente o mundo ocidental passaria durante o século XIX. A grande migração de pessoas do campo para a cidade em busca de trabalho teve como consequência condições laborais e de habitação totalmente insalubres. Entretanto é neste período que surgem invenções revolucionárias como a lâmpada elétrica, telefone, automóvel e o elevador. Estas tiveram um grande impacto no desenvolvimento de projetos arquitetônicos, fazendo com que os projetistas desenvolvessem uma nova abordagem para a criação de habitações e espaços de trabalho. Segundo Giedion (2004) o surgimento do movimento moderno na arquitetura é impulsionado pela revolução industrial e pelo desenvolvimento tecnológico dos processos construtivos. É na utilização das vantagens destas novas tecnologias que os arquitetos conseguem encontrar conforto na cultura da era das máquinas.

A maneira como entendemos a arquitetura, seus conceitos, as formas e a maneira de projetar, sempre esteve atrelada ao contexto socioeconômico, cultural e tecnológico de uma época. Deste modo, é possível fazer um paralelo entre a maneira que o design industrial e a fabricação, com seus conceitos de padronização e produção em série influenciaram a arquitetura modernista, focando em processos de racionalização da forma, enquanto a arquitetura contemporânea vem sendo influenciada pelo design e fabricação digitais que tem como ponto central projetos e designs flexíveis, complexos e não padronizados (BIER, KNIGHT, 2010).

É visível uma participação cada vez maior de processos digitais no cotidiano da população das cidades. Com a redução de custos deste tipo de tecnologia, a sua utilização passou a ser um costume diário para um número de pessoas que sobe gradativamente com o passar do tempo. Este uso progressivo das tecnologias de comunicação e informação (TIC), segundo DARODA (2012, p. 12), “impulsiona permanentemente as transformações sociais e isto acontece porque todos passam a estar envolvidos com as mudanças impostas por tais tecnologias”. Uma das principais mudanças seria a possibilidade do compartilhamento de informação de forma instantânea. Esta capacidade de comunicação em uma velocidade antes inimaginável, é um dos motivos pelos quais os espaços urbanos são usufruídos e experienciados de modo diferente às épocas anteriores. Ao se compartilhar as informações com outros usuários destas tecnologias, é possível criar um evento para a reunião de pessoas em um local antes pouco utilizado, o que pode visar a melhoria do espaço através de mutirões de limpeza, realização de eventos, feiras, exposições, entre outros, trazendo uma nova vida aos lugares.

O espaço público passa a precisar ser pensado em conjunto com esta nova realidade da sociedade contemporânea. É neste contexto que os conceitos da arquitetura interativa/responsiva podem ser utilizados como uma outra forma de se tratar a experiência do usuário no espaço urbano. O qual, devido à velocidade que as TIC impuseram ao cotidiano, e nas diversas formas que as pessoas utilizam o espaço público não pode ser mais pensado como um espaço estático, mas sim em constante transformação, conforme a própria sociedade (DARODA, 2012).

A crescente facilidade de conexão entre o espaço virtual e o físico, através da utilização da internet cada vez maior pelas pessoas em seu cotidiano, faz com que seja possível o encontro de culturas, idiomas e a criação de territorialidades virtuais diariamente, a toda hora. Esta sociedade gradativamente mais conectada, podendo ser vista com um individualismo maior ao se fechar em aparelhos como de telefonia móvel com conexão com a rede mundial de computadores, pode agora ser entendida com uma coletividade maior, já que este novo aspecto da contemporaneidade cria lugares físicos e virtuais de convívio na cidade. Onde se pode habitar e usufruir de espaços reais, como casas, espaços públicos, espaços privados, etc, e ao mesmo tempo, espaços virtuais, como territórios informacionais. Estes últimos podendo ser utilizados e habitados por moradores da cidade em questão ou de qualquer parte do mundo, simultaneamente, estando de acordo com o que diz DARODA (2012) “As novas tecnologias de comunicação e informação modificam os interesses dos usuários ao mesmo tempo em que transformam a relação homem/cidade”.

Este vínculo entre as pessoas e o ambiente construído, ao ser pensado com a utilização deste tipo de tecnologia no cotidiano cria a possibilidade de se projetar espaços arquitetônicos híbridos entre o físico e o digital, surgindo assim novas maneiras de interatividade entre humanos, computadores e o ambiente construído.

Conforme STEIN, FISHER e OTTO 2010) os conceitos iniciais desta arquitetura interativa se dão porsinônimos como ambientes responsivos, ambientes inteligentes e de arquitetura inteligente. Entretanto, há uma diferença entre um sistema responsivo e um interativo. O primeiro é definido como um sistema que precisa de um estímulo externo para poder responder de acordo com a natureza, intensidade ou outras características deste impulso. Enquanto o segundo difere-se de um sistema responsivo por existir um diálogo de aprendizado entre usuário e sistema, podendo este ser criado também a partir de diversas interações anteriores. (FOX e KEMP, 2012)

Os primeiros exemplos teóricos a respeito de uma arquitetura interativa/responsiva começaram a ser pensados a partir da década de 1950, mas é só na década de 1960 que publicações teóricas sobre os primeiros conceitos começam a surgir, principalmente como resultado do desenvolvimento em paralelo de outras áreas do conhecimento como a cibernética, inteligência artificial e tecnologias da informação. Em geral, como resposta à articulação inflexível e rígida do espaço e sua configuração pela arquitetura.

Gordon Pask, um dos primeiros proponentes da utilização deste tipo de tecnologia na arquitetura fundamentou a ideia de arquitetura interativa com o conceito de “Teoria da Conversação”, a qual promovia a criação de ambientes que interpretassem as necessidades das pessoas, permitindo a elas altera-los de forma maleável sem um objetivo específico. Esta teoria também, segundo HAQUE (2006, p. 70) “nos dá uma moldura clara para projetar interações nas quais sistemas (humanos, máquinas ou ambientes) podem se engajar na troca construtiva de informações sem depender de uma comunicação perfeita um com o outro”, portanto sendo cada vez mais aplicável atualmente conforme se tenta criar uma relação entre as pessoas e espaços construídos em cidades contemporâneas, onde o uso de TICs é crescente.

Cedric Price e Nicholas Negroponte sofreram bastante influência das ideias de Pask. Price foi o primeiro a adotar conceitos da cibernética e utilizá-los para articular um dos experimentos mais conhecidos para com a arquitetura interativa, o Fun Palace (1964). Este projeto, em colaboração com Joan Littlewood, uma diretora de teatro, Price projetou um conceito para um ambiente reconfigurável que poderia ser manipulado fisicamente pelos usuários do espaço para se acomodar às suas necessidades conforme elas fossem se alterando. Apesar deste projeto nunca ter sido realizado totalmente, ele se mantém como um dos projetos mais influentes quando se considera como as edificações e seus usuários poderiam se tornar parte de um sistema arquitetônico colaborativo.

Por sua vez, Negroponte abordou a arquitetura interativa por uma perspectiva de processo de design, ao invés da própria construção. Foi sua intenção criar uma máquina arquitetônica que ajudaria a projetar edificações como uma parceira ativa que fosse capaz de aprender através da atividade, de forma que poderia se tornar um colaborador altamente personalizável.

Porém, durante a década de 1970 ocorre uma desilusão com o que se havia imaginado de potencial para esta tecnologia, o que faz com que os estudos e o desenvolvimento de projetos relacionados à arquitetura interativa fossem reduzidos. É durante as décadas de 1980 e 1990, com um grande aumento do desenvolvimento da ciência da computação, que surgem linhas de pesquisa como “Ambientes Inteligentes” para analisar espaços de estudo com tecnologias de computação e comunicação incorporados a eles (WOODS, 2011). Mas é principalmente através da redução de custo de componentes eletrônicos, das novas mídias como a internet e aos materiais inteligentes que tem se visto uma volta das ideias de arquitetura interativa. Este barateamento da tecnologia permitiu que alguns pesquisadores, como Kas Oosterhuis, que se opunha a utilizar uma abordagem especulativa em relação à Ar quitetura Interativa, tornasse seus experimentos bastante práticos. Contudo, em sua maioria, as abordagens quanto a este tema são tratadas de forma experimental e com escala e escopo bastante limitados (JASKIEWICZ, 2013).

(25)

A utilização deste tipo de tecnologia na arquitetura abre um leque ainda maior de possibilidades para com a experiência e interação entre o usuário e o ambiente construído. Trazendo dinamicidade a um espaço anteriormente estático, promovendo uma melhor articulação da arquitetura dentro de uma sociedade em constante transformação responsável por vivenciar a cidade contemporânea, que segundo é:

“Densa e mutante por definição, expressa a necessidade de ter espaços capazes de serem pratica-dos e experienciapratica-dos ao mesmo tempo que sejam capazes de traduzir o comportamento e desejo dos seus usuários, reconhecendo a necessidade de inserção de novos conceitos de uma realidade

por vezes virtual” DARODA (2012, p. 22)

É através de projetos como Dune que, de acordo com BULLIVANT (2007, em 4D Social, p. 10) a personalização e customização do contexto espacial público físico, não somente da arquitetura, é realizado pelos usuários. As relações sociais promovidas pelos objetos convidam ao visitante a utilizá-los de forma espontânea, construindo significados sociais, arquitetônicos e urbanísticos alternativos.

Entretanto, segundo CARNEIRO (2014), ao passo que estas tecnologias se incorporam no cotidiano da população, como forma do usuário experienciar o espaço e em sua dinâmica social é importante que os responsáveis pela produção do ambiente construído, arquitetos e urbanistas, se adaptem a esta realidade de modo a criar e moldar estes tipos de sistema. Que já se refletem na arquitetura em alguns tipos de ferramentas para a geração de espaços como sistemas digitais de gerenciamento urbano. Mas que correm o risco de empresas que desenvolvem este tipo de tecnologia se tornarem as verdadeiras responsáveis por decisões que podem ter influência na conformação das cidades e na vida de sua população.

Medidor de Fluxo de Ar Mede o fluxo de ar em um determinado espaço

Sensor Elemento Descrição Anemômetro Barômetro Higrômetro Detector de Gás

Mede a velocidade do vento

Mede e monitora a pressão atmosférica Mede a umidade do ambiente

Detecta a presença de diferentes tipos de gás Mede a temperatura atmosférica

Mede a umidade do solo

Mede a vibração da superfície sem manter contato Mede o nível freático do solo

Mede movimentos do solo Mede a intensidade da luz

Mede a posição de uma fonte de luz em uma superfície sensível Mede a luz infravermelha irradiada de objetos

Mede a irradiação solar em superfícies planas Mede a radiação infravermelha atmosférica Detecta outros tipos de radiação solar Mede o grau de fluxo de um fluido Detecta atividade sonar submersa

Mede a variação de nível do mar relativa a valores predeterminados Detecta outros tipos de radiação solar

Mede a quantidade de precipitação líquida Detecta a presença de chuva

Converte ondas acústicas em impulsos elétricos Mede o crescimento de plantas

Mede a inclinação do terreno Sensor de Domínio de Frequência

Vibrômetro Laser Doppler Piezômetro Sismômetro Fotômetro Sensor óptico de Posição

Infravermelho Passivo Piranômetro Termômetro de Quartzo Sensores de Ambiente Pirgeômetro Ultravioleta Sensor de Fluxo Hidrofone Marégrafo Hidrômetro Pluviômetro Sensor de Chuva Microfone de Fibra Ótica

Ar Terreno Solar Água Clima Som Auxanômetro Natureza Inclinômetro Topografia

Capacitivo de Deslocamento Grava posição, proximidade, movimento e aceleração de qualquer alvo condutivo

Sensor

Informação Descrição

Detector de Movimento Receptor de Deslocamento

Sensor de Ocupação

Quantifica o movimento através do uso de sensores eletrônicos Detecta o deslocamento de um dado objeto

Detecta alteração na posição de um objeto Detecta a velocidade de um objeto

Mede a velocidade e a duração do movimento

Mede a velocidade de objetos através do efeito Doppler Mede a distância de um objeto com o uso de laser Detecta a presença de objetos próximos

Grava a posição através de codificação escalar

Detecta a distãoncia, ausência ou presença de um objeto via transmissor infravermelho Detecta o fluxo de calor e o transforma em sinal elétrico

Mede pressão, aceleração, estresse ou força e converte em carga elétrica Converte toque, força ou pressão em sinais elétricos

Converte imagens ópticas em sinais elétricos Converte ondas acústicasem sinais elétricos

Receptor de Velocidade Velocímetro de Superfície à Laser

Radar Doppler Telêmetro à Laser Sensor de Proximidade Codificador Linear Sensor Fotoelétrico Sensores Participantes

Sensor de Fluxo de Calor Sensor Pizoelétrico

Sensor Tátil Sensor de Pixel Ativo

Movimento Velocidade Distância Calor Toque Visual

Microfone de Fibra Ótica

Som

É apenas em 1989 que o primeiro projeto em grande escala a possuir um invólucro adaptativo foi finalizado. O Instituto do Mundo Árabe de Jean Nouvel em Paris. Este tem uma fachada construída utilizando cerca de 30 mil diafragmas metálicos, controlados mecanicamente através de células fotossensíveis, fazendo assim uma releitura em vidro e aço dos tradicionais muxarabis.

O sistema utilizado neste tipo de edificação pode ser simplificado em dois componentes, que de acordo com CARNEIRO (2014, p. 82) “Se a arquitetura “não interativa” é entendida como algo fixo e imutável, a arquitetura interativa diferencia-se por ter como característica essencial o processamento de informações captadas por sensores, que controlam elementos dinâmicos específicos (ou atuadores)”. Permitindo justificar definir melhor o conceito e a utilização deste tipo de tecnologia pela arquitetura.

Os primeiros são aqueles dispositivos que são sensíveis à certas formas de energia do ambiente e às informações dos usuários deste meio relacionando-os com uma grandeza física que pode ser mensurada como: temperatura, pressão, aceleração, posição, velocidade, etc.

A informação pode então ser enviada ao segundo componente, que, por sua vez, são os mecanismos pelo qual um agente – qualquer coisa que pode perceber seu ambiente através de sensores – atua sobre um ambiente. Linus (2012) elabora uma tabela com os sensores disponíveis separados entre os que detectam informações do meio:

Elaborada a partir da tabela criada por Linus (2012)

Elaborada a partir da tabela criada por Linus (2012)

Tabela 1 - Vista aérea do parque a partir da Felipe Schmidt

(26)

a. Dune

Studio Roosegaarde

Trata-se de um espaço público interativo composto de uma quantidade de fibras que se iluminam de acordo com os sons e a movimentação dos visitantes, demonstrando uma resposta ao comportamento do quem o está frequentando

A instalação acaba por trabalhar o próprio espaço já existente, podendo delineá-lo de forma a demonstrar para aqueles que o estão utilizando seu desenho e convidando-os a se apropriarem deste espaço. Além disso pode aprimorar as interações sociais com os pedestres e destes com o próprio ambiente, já que desta forma estarão modificando o ambiente eles mesmos. Entretanto esta instalação só possui o efeito desejado durante o período em que não há incidência de luz solar ou em ambientes fechados com iluminação controlada.

Outros projetos que se utilizam de conceitos da arquitetura interativa são:

Fonte: Studio Roosegaarde (2011) Fonte: West 8

Fonte: MY Studio

Foto 55 - Projeto Dune 4.2 reagindo às pessoas Foto 56 - Dune 4.2 às margens do rio Maas, Rotterdam

Fonte: Studio Roosegaarde (2011) Fonte: West 8

Fonte: MY Studio

b. Enteractive

Electroland

Um projeto que defende a interatividade de modo livre, sem que um comportamento seja determinado antes que a ação aconteça, semelhante às eventualidades e impnderabilidades do cotidiano, alheia a previsibilidades e a roteiros pré estabelecidos. Utiliza sensores de pressão e presença em conjunto com quadrados iluminados com LED, que transformam energia elétrica em luz (TORMANN, 2008), uma tela na fachada da edificação reflete a interação entre as pessoas e o piso sensível.

Porém não se trata de arquitetura interativa propriamente dita já que o que acontece é apenas uma resposta de um sistema, não um diálogo entre agentes. Trabalha com a ideia de que o usuário, usando a fachada como mídia pode transformar temporariamente, até certo ponto, a escala urbana.

Fonte: Electroland (2006) Fonte: Electroland (2006)

Foto 57 - Fachada respondendo ao estímulo do piso Foto 58 - Interação das pessoas com o piso

c.

SCHOUWBURGPLEIN (Theater Square)

West8

d.

Light Drift

MY Studio

Uma praça seca localizada em Roterdã, criada para abrigar eventos temporários assim como usos diversos, funcionando como um palco no meio das edificações onde os usuários participam ativamente como atores no espaço público, interagindo com o que ali ocorre.

O equipamento consiste em estruturas de iluminação que lembram grandes guindastes de ferro permitem que a posição do foco de luz seja alterado pelos próprios usuários da praça. Proporcionando a interatividade anteriormente citada e funcionalidade ao local, principalmente durante o período noturno, enquanto durante o dia estes elementos exercem uma função de escultura monumental da cidade.

Instalação temporária realizada em Schuylkill, Pensilvânia. Convidava aos transeuntes do espaço público a alterá-lo utilizando globos de luz, que, ao sentar-se neles, os usuários modificavam a intensidade de sua iluminação e também a coloração. Isto através da utilização de uma tecnologia de radiofrequência.

A consequência estava na geração de estreito diálogo entre o ambiente, a tecnologia e o ser humano..

Foto 59 - Foto diurna dos elementos interativos da praça

Foto 61- Usuários do espaço utilizando a instalação Foto 62- Imagem noturna da mudança no espaço que os elementos luminosos causam Foto 60 - Foto noturna do funcionamento dos elementos interativos

(27)

e. Hotel WZ Jardins

Estúdio Guto Requena

Trata-se de parte de um retrofit do Hotel WZ Jardins, em São Paulo. Utiliza-se de placas metálicas que possuem um sistema de iluminação LED que mudam sua coloração em tempo real a partir de informações sonoras e da qualidade do ar, captadas por sensores instalados nas fachadas. Proporcionando uma interação entre o edifício e a cidade.

Existe também uma outra forma de interação entre a edificação e a população que se dá através do uso de um aplicativo para celular, onde o usuário pode alterar o movimento e as cores reproduzidas na fachada da edificação através do toque e da própria voz.

Fonte: Aedas

Fonte: Ayla Hibri Fonte: Ayla Hibri

Figura 66 - Funcionamento do aplicativo através do toque Figura 67 - Funcionamento do aplicativo através da voz

f. MuscleBody

Grupo de Pesquisa HyperBody - TU Delft

Inicialmente com um protótipo de nome Muscle NSA, desenvolvido para a Exibição de Arquitetura Não-Padrão (Non-Standard Architecture Exhibition, em tradução livre) realizada no Centre Pompidou em 2003, teve seu envoltório construído utilizando tecidos elásticos presos a tubos de borracha flexíveis que, através de atuadores pneumáticos, se retrai ou expande, movimentando os nós onde os tubos se encontram alterando a forma e aparência do volume (KIEVID, OOSTERHUIS, 2003).

Ao mesmo tempo em que se manifestam as mudanças espaciais, se materializam interferências visualizáveis como a quantidade de luz que deixa passar ou que podem ser apenas sentidas, como a intensidade de som que pode ser percebido dependendo da forma que o protótipo se encontra. Este é a primeira tentativa do grupo Hyperbody em criar uma construção emotiva (KIEVID, OOSTERHUIS, 2003). Segundo OOSTERHUIS (2003) este tipo de concepção deve ser programável e funciona como um amplificador de experiências e emoções.

Diversos sensores são colocados no entorno da instalação para que o público participe de sua “construção” tornando este local um espaço sensorial interativo e, consequentemente, fazendo com que a presença e o toque das pessoas altere sua forma. Os cálculos realizados pelos processadores após o recebimento destas informações são ininterruptos, criando um processo contínuo, produzindo complexidade e imprevisibilidade em tempo real (KIEVID, OOSTERHUIS, 2003).

Fonte: Hyperbody (2003)

Fonte: Hyperbody (2005) Fonte: Hyperbody (2005)

Foto 68 - Protótipo Muscle NSA

Foto 69 - Exterior Projeto Muscle Body Foto 70- InteriorProjeto Muscle Body

Fonte: Ayla Hibri Fonte: Ayla Hibri

Foto 63 - Fachada do Hotel - Período Diurno Foto 64 e 65- Fachada do Hotel - Período Noturno

Referências

Documentos relacionados

Outro ponto importante referente à inserção dos jovens no mercado de trabalho é a possibilidade de conciliar estudo e trabalho. Os dados demonstram as

Atualmente o predomínio dessas linguagens verbais e não verbais, ancorados nos gêneros, faz necessário introduzir o gênero capa de revista nas aulas de Língua Portuguesa, pois,

No final, os EUA viram a maioria das questões que tinham de ser resolvidas no sentido da criação de um tribunal que lhe fosse aceitável serem estabelecidas em sentido oposto, pelo

Para analisar as Componentes de Gestão foram utilizadas questões referentes à forma como o visitante considera as condições da ilha no momento da realização do

O petróleo existe na Terra há milhões de anos e, sob diferentes formas físicas, tem sido utilizado em diferentes aplicações desde que o homem existe. Pela sua importância, este

O relatório encontra-se dividido em 4 secções: a introdução, onde são explicitados os objetivos gerais; o corpo de trabalho, que consiste numa descrição sumária das

Figure 8 shows the X-ray diffraction pattern of a well-passivated metallic powder and a partially oxidized uranium metallic powder.. Figure 7 - X-ray diffraction pattern of