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A Copa do Mundo da FIFA 2014 veio ao Brasil : a gestão do estado de São Paulo como sede

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Academic year: 2021

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(1)

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

Faculdade de Educação Física

DIRCEU SANTOS SILVA

A COPA DO MUNDO DA FIFA 2014 VEIO AO BRASIL: A GESTÃO

DO ESTADO DE SÃO PAULO COMO SEDE

CAMPINAS

2016

(2)

DIRCEU SANTOS SILVA

A COPA DO MUNDO DA FIFA 2014 VEIO AO BRASIL: A GESTÃO DO ESTADO DE SÃO PAULO COMO SEDE

Tese apresentada à Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de Campinas como parte dos requisitos exigidos para a obtenção do título de Doutor em Educação Física, na Área de Educação Física e Sociedade

Orientadora: Profa. Dra. Silvia Cristina Franco Amaral

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À

VERSÃO FINAL DA TESE DEFENDIDA PELO

ALUNO DIRCEU SANTOS SILVA, E

ORIENTADA PELA PROFA. DRA. SILVIA CRISTINA FRANCO AMARAL

CAMPINAS

2016

(3)

Agência(s) de fomento e nº(s) de processo(s): CNPq, 140853/2013-8; CNPq,

202817/2014-8

Ficha catalográfica

Universidade Estadual de Campinas Biblioteca da Faculdade de Educação Física Dulce Inês Leocádio dos Santos Augusto - CRB 8/4991

Si38c

Silva, Dirceu Santos, 1986 –

A Copa do Mundo da FIFA 2014 veio ao Brasil : a gestão do estado de São Paulo como sede / Dirceu Santos Silva. – Campinas, SP : [s.n.], 2016.

Orientador: Silvia Cristina Franco Amaral.

Tese (doutorado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação Física.

1. Políticas Públicas. 2. Eventos Esportivos. Copa do Mundo (Futebol). 4. Esporte. I. Amaral, Silvia Cristina Franco. II.

Universidade Estadual de Campinas. Faculdade de Educação Física. III Título.

Informações para Biblioteca Digital

Título em outro idioma: 2014 FIFA World Cup como to Brazil : the management of the

state of São Paulo as host

Palavras-chave em inglês:

Public policy Sport events

World Cup (Football) Sports

Área de concentração: Educação Física e Sociedade Titulação: Doutor em Educação Física

Banca examinadora:

Fernando Mascarenhas Alves Geraldo Di Giovanni

Reinaldo Tadeu Boscolo Pacheco Carlos Nazareno Ferreira Borges

Data de defesa: 31-03-2016

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COMISSÃO EXAMINADORA

Profa. Dra. Silvia Cristina Franco Amaral Orientadora

Prof. Dr. Fernando Mascarenhas Alves

Prof. Dr. Geraldo Di Giovanni

Prof. Dr. Reinaldo Tadeu Boscolo Pacheco

Prof. Dr. Carlos Nazareno Ferreira Borges

As assinaturas dos membros da Comissão Examinadora estão na ata da defesa que consta no processo de vida acadêmica do aluno

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DEDICATÓRIA

Dedico esta tese a todo brasileiro que lutou por uma gestão democrática dos recursos públicos durante a preparação da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014.

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AGRADECIMENTOS

A toda minha família, em especial à melhor mãe do mundo (Deuzir). Ao meu pai Valdemir, pela compreensão e incentivo.

Ao meu irmão Thadeu, por me apoiar e ser um exemplo positivo para eu iniciar os estudos científicos. À minha irmã Mayra, pelo carinho, incentivo e ajuda na trascrição das entrevistas.

Ao meu avô Antônio, pelo carinho, abraços verdadeiros e afeto recíproco. Ao meu avô Alcebiades e às minhas avós Cecília e Domingas (In memorian).

À Universidade Estadual de Campinas, pela estrutura física, conhecimento e formação que recebi.

À minha orientadora Sílvia, por ter acreditado em mim, mesmo sem me conhecer. Aos professores presentes nesta fase, em especial: Geraldo Di Giovanni, Fernando Mascarenhas, Jocimar Daolio, Gastão Wagner, Carlos Nazareno e Evelina Dagnino.

À University of Southampton, em especial ao supervisor estrangeiro, Will Jennings, que contribuiu significativamente para a construção da tese. Thank you very much!

Aos que fizeram presente durante minha aventura na University of Southampton, em especial a Katerina, Stephanie, Gerardo, Duygu, Carlisson, Tas e Diana.

Aos meus colegas de Grupo de Pesquisa, em especial: Olivia (obrigado pela contribuição), Marília (obrigado pela revisão e boas sugestões), Bruno (obrigado pela formatação), Viviane (obrigado pela amizade, minha irmazinha), Gabriel (obrigado pelas conversas no primeiro ano), Flávio, Regiane, Gisela, Alexandre e Rafaela.

Aos meus amigos de Unicamp e Campinas: Juliana Saneto (amiga desde o mestrado, sempre ao meu lado), Mariana, Ana Beatriz, Leonardo, Diego, Dani, Maristela, Ana Carmen, Nara e Renata por também fazerem parte desta história.

Aos meus amigos que apoiaram a presente tese, em especial: Tamilis, Kleidiana, Marcel, Wagner, Doiara, Keni, Grece e Carol.

Aos companheiros de república, Matheus, Alison, Caio e Nestor, pela convivência e amizade ao longo do doutorado. À Dona Zezé por ser a melhor vizinha de todos os tempos.

(7)

Aos brasileiros que financiaram via impostos a bolsa de doutorado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Espero retribuir o investimento para toda a sociedade brasileira em cada ano de trabalho como docente!

Aos demais idealizadores, coordenadores e funcionários da Unicamp, em especial à atenciosa Simone. Por fim, a todos os meus amigos que, direta ou indiretamente, ajudaram-me na concretização desse trabalho, que não estão citados nesta folha e que fizeram parte desta história.

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RESUMO

O objetivo desta pesquisa foi analisar o planejamento e a gestão de risco da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014, com ênfase no estado de São Paulo. Foi utilizado o método descritivo-interpretativo e os procedimentos metodológicos foram desenvolvidos em três etapas: na primeira, ocorreu uma análise documental de relatórios, orçamentos/financiamentos, leis e outras fontes primárias da gestão; na segunda, ocorreu uma análise de jornais que realizaram a cobertura sobre a temática no estado de São Paulo; e, na terceira, foram realizadas entrevistas semiestruturadas com os gestores que atuaram diretamente no planejamento e na gestão de risco dos megaeventos esportivos no estado de São Paulo. Para a interpretação dos dados, a técnica utilizada foi a análise de conteúdo, que permitiu o agrupamento, a categorização e a inferição dos dados. Os resultados foram apresentados a partir da análise dos riscos econômicos, políticos e governamentais, infraestrutura, riscos ambientais e de saúde, segurança e proteção. Os riscos econômicos tanto em âmbito nacional quanto no estado de São Paulo não foram frequentes. A Copa do Mundo teve impacto positivo na economia e no PIB, no entanto, foi reportada inflação de custos em todas as ações políticas. Os riscos políticos e governamentais analisados indicaram frequente violação de direitos e remoção forçada de famílias das suas casas devido às construções e reformas da infraestrutura para o torneio. A Copa do Mundo da FIFA no Brasil configurou-se como a edição do torneio analisada com o maior número de protestos, especialmente no estado de São Paulo. As convicções de corrupção foram incidentes em âmbito nacional e, no estado de São Paulo, existe um inquérito de irregularidade nos contratos entre a construtora Odebrecht e o Sport Club Corinthians Paulista. Os riscos ambientais não tiveram destaque nos projetos da Copa e as mortes de operários no Brasil foram o risco de saúde mais incidente entre todas as edições do torneio desde 1994, com destaque para a Arena Corinthians com três mortes. Por fim, não foi reportado nenhum incidente grave de segurança tanto em âmbito nacional quanto no estado de São Paulo.

PALAVRAS-CHAVE: Políticas públicas; Megaeventos esportivos; Copa do Mundo (Futebol); Esporte.

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ABSTRACT

The aim of this study was to analyse the risk management in 2014 FIFA World Cup Brazil in São Paulo. The descriptive and interpretative method and the methodological procedures were developed in three stages: first all, a documental analyse of reports, budgets, law and other primary sources of management was used; second, an analysis in newspapers that carried out the coverage on the topics in the state of São Paulo was analised; and third a semi-structured interviews with managers who worked directly in the planning management of sports mega-events in the state of São Paulo were conducted. For the interpretation of data the technique content analysis was used, which allowed the grouping, categorizing and inference data. Results were presented based on the analysis of economic, political and government, infrastructure, environmental and health, safety and protection risks. The economic risks at the national level and in the state of São Paulo were not frequent. FIFA World Cup had a positive impact on the economy and GDP, however, cost inflation in all political actions were reported. Political and governmental risks analysed have indicated frequent violation of rights and forcible evictions of families due to buildings and infrastructure refurbishments to the tournament. FIFA World Cup in Brazil is configured as the edition of the tournament analysed with the largest number of protests, especially the frequent protest in São Paulo. The corruption convictions have been incidents at the national level and in the state of Paulo there is an inquiry investigating irregularities in the contracts between Odebrecht and the Sport Club Corinthians Paulista. The positive and negative environmental risks were not prominent in the FIFA World Cup projects and the deaths of workers in Brazil was the most frequent health risk among all editions of the tournament, especially the Arena Corinthians with three deaths. It has not reported any serious incident safety at national level and in the state of São Paulo.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 Remoção Forçada na Copa do Mundo da FIFA entre 1994 e 2014...44

Figura 2 Número de estádios da Copa do Mundo da FIFA de 1994 para 2022...54

Figura 3 Morte de operários na Copa do Mundo da FIFA entre 1994 e 2014...61

Figura 4 Organização do Futebol Mundial...70

Figura 5 Investimento global da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014...74

Figura 6 Parceiros e patrocinadores da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014...75

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Categorias de riscos em megaeventos esportivos...34

Tabela 2 Impactos econômicos e PIB da Copa do Mundo da FIFA de 1994 para 2014...37

Tabela 3 Inflação de custos da Copa do Mundo da FIFA, de 1994 para 2018...41

Tabela 4 Protestos na Copa do Mundo da FIFA de 1994 para 2014...47

Tabela 5 Corrupção nas edições da Copa do Mundo da FIFA de 1994 para 2014...51

Tabela 6 Estádios da Copa, clubes mandantes emédias de público...97

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AFC – Asian Football Confederation

ANCOP – Articulação Nacional de Comitês Populares da Copa BNDES – Banco Nacional do Desenvolvimento

BRICS – Brazil, Russia, India, China and South Africa BRT – Bus Rapid Transit

CAF – Confederation of African Football CBF – Confederação Brasileira de Futebol COB – Comitê Olímpico Brasileiro

COI – Comitê Olímpico Internacional COL – Comitê Organizador Local

CONCACAF – Confederation of North, Central American and Caribbean Association Football

CONMEBOL – Confederação Sul-Americana de Futebol CIDs – Certificados de Incentivo ao Desenvolvimento CNE – Conferência Nacional do Esporte

CTOs – Centro Oficial de Treinamentos FBI – Federal Bureau of Investigation

FIFA – Fedération Internationale de Football Association FHC – Fernando Henrique Cardoso

OFC – Oceania Football Confederation

PAC – Programa de Aceleramento e Crescimento PC do B – Partido Comunista do Brasil

PIB – Produto Interno Bruto PT – Partido dos Trabalhadores

PRB – Partido Republicano Brasileiro

PSDB – Partido da Social Democracia Brasileira SPE – Sociedade de Propósito Específico

TCLE – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido TGV – Train à grande Vitess

(13)
(14)

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 16

1.1 Objetivo ... 26

1.2 Metodologia ... 26

1.3 Organização da tese... 29

2 GESTÃO DE RISCO DA COPA DO MUNDO DA FIFA ENTRE 1994 E 2014 31 2.1 Copa do Mundo da FIFA ... 31

2.2 Gestão de Risco na Copa do Mundo da FIFA... 33

2.2.1 Riscos Econômicos ... 38

2.2.2 Riscos Políticos e Governamentais ... 45

2.2.3 Riscos de Infraestrutura... 55

2.2.4 Riscos Ambientais e de Saúde ... 62

2.2.5 Riscos de Segurança e Proteção ... 67

3 GESTÃO DA COPA DO MUNDO DA FIFA BRASIL 2014 ... 71

3.1 Características da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 ... 71

3.1.1 Instituições Envolvidas na Organização da Copa do Mundo do Brasil ... 71

3.1.2 Atores Políticos ... 84

3.1.3 Estados e Cidades-Sede... 94

3.2 Intersetorialidade e Interinstitucionalidade ... 106

3.3 Interesses Privados da Lei Geral da Copa ... 111

4 A COPA DO MUNDO DA FIFA VEIO A SÃO PAULO... 123

4.1 Copa do Mundo da FIFA no Estado de São Paulo... 123

4.1.1 Da reforma do Estádio do Morumbi a Construção da Arena Corinthians ... 131

4.1.2 Centros Oficiais de Treinamento e FIFA Fan Fest em São Paulo ... 137

4.2 Gestão de Risco da Copa do Mundo no Estado de São Paulo ... 140

(15)

4.2.2 Riscos Políticos e Governamentais no Estado de São Paulo ... 145

4.2.3 Riscos de Infraestrutura do Estado de São Paulo ... 151

4.2.4 Riscos Ambientais e de Saúde no Estado de São Paulo... 156

4.2.5 Riscos de Segurança e Proteção no Estado de São Paulo ... 158

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 162

REFERÊNCIAS ... 165

APÊNDICES ... 185

(16)

16

1 INTRODUÇÃO

A Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 faz parte de uma agenda política brasileira mais ampla para os megaeventos1 no País. Os megaeventos esportivos passaram a integrar a agenda política do Governo Federal do Brasil, no ano de 1995, na gestão do presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC/PSDB2). Naquela ocasião, solicitou-se a inscrição do Rio de Janeiro como cidade-sede para os Jogos Olímpicos3 de 2004 para o Comitê Olímpico Internacional (COI). A inscrição foi efetivada no ano de 1996, com apresentação oficial do projeto de candidatura. No entanto, a cidade foi eliminada na primeira fase e a cidade escolhida para sediar os Jogos Olímpicos de 2004 foi Atenas. Na candidatura aos Jogos Olímpicos de 2012, realizada no ano de 2003, mais uma vez Rio de Janeiro4 se inscreveu como postulante a sediar o megaevento esportivo. A cidade também foi eliminada na primeira fase, e Londres foi anunciada em 2004 como sede oficial dos Jogos Olímpicos de 2012. Em ambas tentativas o Rio de Janeiro não chegou a se materizalizar como candidata a sede oficial, a cidade foi apenas postulante aos Jogos Olímpicos (BENEDICTO, 2009).

Paralelamente às tentativas de sediar os Jogos Olímpicos, o Rio de Janeiro realizou em 2000, a candidatura aos Jogos Pan-Americanos de 2007 e, no ano de 2002, Rio de Janeiro foi anunciada como sede oficial do evento (COB, 2007). Em 2003, a agenda política dos megaeventos esportivos no Brasil ganhou mais evidência, após o anúncio da Confederação Sul-Americana de Futebol (CONMEBOL) e a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) de que o Brasil seria candidato à sede da Copa do Mundo da Fedération

Internationale de Football Association (FIFA) de 2014.

No ano de 2003, é importante lembrar, deu-se a criação do Ministério do Esporte e a chegada de Luís Inácio Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores (PT) ao cargo de presidente. O Ministério foi criado a partir da Medida Provisória nº. 103, de 01 de

1 Os megaeventos são acontecimentos “de larga escala cultural (incluindo eventos comerciais e esportivos)

que têm característica dramática, apelo popular massivo e significância internacional” (ROCHE, 2000, p.1). A organização de um megaevento envolve tipicamente combinações variáveis de governos nacionais e organizações internacionais (ROCHE, 2000; 2003).

2 O PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira) dirigiu o Governo Federal do Brasil entre 1995 e 2003. 3 Os Jogos Olímpicos têm três edições oficiais: os Jogos Olímpico-Paraolímpicos de Verão, os Jogos

Olímpicos de Inverno e os Jogos Olímpicos da Juventude.

4 A cidade de São Paulo entrou na disputa para ser sede aspirante aos Jogos Olímpicos de 2012, mas em 2003

em assembleia do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), a cidade do Rio de Janeiro foi escolhida como representante do Brasil, com 23 votos a favor, enquanto que a cidade de São Paulo só recebeu 10 votos.

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janeiro de 2003. Inicialmente a sua estruturação ocorreu por meio de quatro secretarias: Secretaria Executiva; Secretaria Nacional de Esporte de Alto Rendimento; Secretaria Nacional de Esporte Educacional; e Secretaria Nacional de Desenvolvimento de Esporte e Lazer (BRASIL, 2003a).5

O objetivo inicial do Ministério do Esporte, em 2003, foi desenvolver ações políticas que contemplem as três dimensões do esporte. Para tal objetivo, foi criada proposta de construção do Sistema Nacional de Esporte e Lazer, que objetivava a democratização do esporte e do lazer para todos os cidadãos. Além disso, a nova proposta de governo era inserir a sociedade civil no processo participativo e para isso foi criada a Conferência Nacional do Esporte (CNE).

A CNE corresponde a um espaço de participação popular, aprovado no governo de Luís Inácio Lula (PT), propício ao debate, formulação e deliberação das políticas públicas6 de esporte e lazer no Brasil. A CNE tem uma dinâmica de realização, a cada dois anos, em três etapas: municipal, estadual e federal (CASTELAN, 2010).

A I Conferência Nacional do Esporte (I CNE) realizada em 2004 teve como objetivo “[...] democratizar a elaboração da Política Nacional de Esporte e Lazer e os Planos Nacionais subsequentes” (BRASIL, 2004). De acordo com Castelan (2010) os debates que ocorreram nesta conferência tiveram como meta a democratização do esporte e lazer, com ênfase na gestão participativa. A ideia central da I CNE foi construir um Sistema Nacional de Esporte e Lazer.

A II CNE, realizada em 2006, foi marcada pela avaliação da tentativa de implementação do Sistema Nacional de Esporte e Lazer. O documento final definiu que o Ministério do Esporte objetivava a consolidação da Política Nacional do Esporte, bem como o acesso do esporte a toda população (BRASIL, 2006a). O marco central foi a criação

5 Com o intuito de atender a nova agenda política, o Governo Federal do Brasil a partir do Decreto nº. 7.529,

de julho de 2011, reestruturou os cargos de comissão e as funções gratificadas do Ministério do Esporte. Duas secretarias foram mantidas: a Secretaria Executiva e a Secretaria Nacional de Esporte de Alto Rendimento. Duas outras secretarias foram extintas: a Secretaria Nacional de Esporte Educacional e a Secretaria Nacional de Desenvolvimento de Esporte e Lazer, o que deu origem a Secretaria Nacional de Esporte, Educação, Lazer e Inclusão Social. A novidade do Decreto foi a criação da Secretaria Nacional de Futebol e Defesa dos Direitos do Torcedor em decorrência das novas demandas da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 e do futebol brasileiro (BRASIL, 2011a).

6 Políticas públicas são decisões e ações formuladas, implementadas e avaliadas pelos governos dos Estados

(18)

da Lei de Incentivo ao Esporte.7 Contudo, os debates nas CNEs não se desdobraram em ações políticas consistentes do Ministério do Esporte (CASTELAN, 2010).

Até a II CNE, a discussão da agenda política dos megaeventos esportivos no Ministério do Esporte foi mínima e só ganhou destaque em 2007, após o anúncio oficial do Brasil como sede da Copa do Mundo da FIFA 2014. No ano de 2007, o Brasil sediou os Jogos Pan-Americanos Rio 2007. Em 07 de setembro de 2007, Rio de Janeiro também realizou sua candidatura, pela terceira vez, a ser sede dos Jogos Olímpicos e Jogos Paraolímpicos de Verão de 2016.8 Ao contrário do que ocorreu na candidatura da Copa do Mundo, quando as confedereções votam e escolhem o continente e federação responsável, no caso dos Jogos Olímpicos, o Rio de Janeiro enfrentou uma concorrência ampla, com destaque para as cidades de Madrid, Chicago e Tóquio, que conseguiram a candidatura oficial. No entanto, dessa vez a cidade do Rio de Janeiro foi anunciada, em 02 de outubro de 2009,9 como sede oficial dos Jogos Olímpicos de 2016, em Copenhague, na Dinamarca (OLYMPIC GAMES, 2009).

Apesar de a Copa do Mundo da FIFA ser um evento de grande impacto, o anúncio do Brasil como sede oficial dos Jogos Olímpicos envolveu mais entusiasmo que a candidatura da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 devido à concorrência de diferentes países. No caso do evento da FIFA a Copa foi tratada com indiferença, uma vez que o Brasil não enfrentou grande concorrência entre os países membros da CONMEBOL. Além disso, a Copa do Mundo da FIFA declara-se mais comercial, enquanto os Jogos Olímpicos buscam associar os megaeventos esportivos com a transformação urbana da cidade (DAMO, 2012).

7 A Lei de Incentivo ao Esporte tem como objetivo estimular a prática esportiva, o que permite os benefícios

fiscais para pessoas jurídicas ou físicas. A lei beneficia os clubes, federações e associações de pessoas jurídicas. A instituição para captar os recursos por meio dessa legislação tem que atender aos seguintes requisitos: fins não econômicos, natureza esportiva e um ano de funcionamento (BRASIL, 2006b).

8 O anúncio da cidade do Rio de Janeiro como sede dos Jogos Olímpicos de 2016 não aconteceu por acaso.

Esse projeto começou nos anos de 1990, durante a primeira gestão do ex-prefeito Cesar Maia (PMDB) (1993-1996). O objetivo principal do projeto foi inserir a cidade em uma competição urbana globalizada. A agenda urbana foi adaptada para as tendências internacionais e a gestão da cidade foi planejada como uma “empresa”, em busca da atração de eventos e de turistas. Esse padrão de cidade desejado tem a intenção de impor universalmente o modelo como um ideal a ser seguido. O Planejamento Estratégico da cidade do Rio de Janeiro articulou ainda três analogias: a cidade como empresa; a cidade como mercadoria; e a cidade como pátria (VAINER, 2004).

9 No ano de 2009, a cidade do Rio de Janeiro foi eleita “a cidade mais feliz do mundo” segundo a revista

Forbes. Esta escolha esteve relacionada ao bom humor, a qualidade de vida e ao carnaval (GREENBURG, 2009).

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Os dois megaeventos esportivos fazem parte de uma mesma agenda política do Governo Federal do Brasil de sediar grandes eventos esportivos internacionais. O governo PT compreendeu a agenda política dos megaeventos esportivos inseridos dentro da proposta de governo neodesenvolvimentista, do Estado investidor, Estado finaciador e Estado social. Ambos eventos estão conectados e os governos e organizadores fizeram promessas de melhoria na infraestrutura esportiva, mobilidade urbana, transporte, saúde e educação nas cidades-sede (BIENENSTEIN; SÁNCHEZ; MASCARENHAS, 2012).

A partir do anúncio de que o Brasil sediaria os dois maiores megaeventos esportivos foram iniciados debates nas esferas federal, estadual, municipal, distrital, setor privado e sociedade civil acerca dos elementos catalisadores de oportunidades que poderiam influenciar os desempenhos econômicos, políticos, culturais e sociais. A agenda política dos megaeventos esportivos foi responsável por fomentar discussões em diversos setores da sociedade. Além disso, o debate acadêmico e científico, no Brasil, variou entre discursos com entusiasmo e discursos com prudência e cautela.

Nos discursos com mais entusiasmo os megaeventos esportivos no Brasil foram considerados benéficos para construção dos legados e impactos10 para as cidades que foram sedes (TAVARES, 2005; FILGUEIRA, 2008; REIS; TELLES; DaCOSTA, 2013).

Preuss (2008), ao propor os estudos dos impactos, transcende a discussão acerca dos legados e apresenta uma proposta de estudos que avalie aspectos positivos e negativos, no que se refere ao impacto físico/ambiental, social/cultural, psicológico, e político/administrativo. O conceito de legado tem uma conotação positiva, enquanto que o conceito de impacto é mais amplo e enfatiza aspectos negativos e positivos acerca dos megaeventos esportivos. No que se refere às principais experiências dos megaeventos esportivos realizados no mundo, o modelo que tem a conotação mais positiva em termos de legados sociais, ocorreu nos Jogos Olímpicos de Barcelona 1992. Este megaevento marcou as diversas mudanças e transformações da cidade.

Nos discursos com certa prudência e cautela, as críticas aos megaeventos esportivos no Brasil foram direcionadas à aproximação das ações políticas com as estratégias do projeto neoliberal, enfatizando-se a acumulação de capital. Para esses

10 O uso do termo legado está associado aos benefícios alcançados por cada cidade ou país sede. Apesar de

existirem legados negativos o termo tem uma conotação positiva. Assim, para a presente pesquisa, foi utilizado o termo impacto, o que envolverá aspectos positivos e negativos na análise da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 no estado de São Paulo.

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autores, os megaeventos configuram-se como um evento empresarial e efêmero, inserido na economia política global (CAPEL, 2007; DAMO, 2012; MASCARENHAS, BORGES, 2009; MASCARENHAS, 2012; COAKLEY; ROCHA, 2013).

No caso da presente tese, a Copa do Mundo, não foi compreendida como panaceia para todos os problemas sociais e nem como raiz de todo o mal, mas sim como um evento de gestão complexa, dinâmica, multifacetada e com diversos riscos a serem investigados. No entanto, dentre as duas correntes identificadas a partir da literatura nacional a tese tende a um discurso com mais prudência e cautela.

Dessa forma, a análise da consolidação da agenda política dos megaeventos esportivos, no Brasil, foi realizada a partir de uma visão mais cautelosa. Seguindo a análise, o Ministério do Esporte desistiu da realização de uma nova CNE em 2008, quando realizar-se-ia conforme fora previsto. Somente em 2010, o Ministério do Esporte convocou e realizou a III Conferência Nacional do Esporte (III CNE), já com ênfase na agenda política dos megaeventos esportivos. Durante o evento, foi discutido o Plano Decenal de Esporte, que consiste em “10 pontos em 10 anos para projetar o Brasil entre os 10 mais”, cujo documento foi intitulado “Por um time chamado Brasil!” (BRASIL, 2010a). A partir daquele momento, ficou evidente que o interesse do Governo Federal do Brasil foi priorizar o esporte de alto rendimento, como meta para colocar o Brasil entre “os 10 mais” bem colocados no ranking de medalhas. A proposta dos megaeventos esportivos no Brasil se opõe às discussões realizadas na I CNE em 2004 e II CNE em 2006, quando o objetivo central foi a criação de um Sistema Nacional de Esporte e Lazer (BRASIL, 2004, 2006).

A III CNE contou com a participação de mais de três mil municípios, de todos os estados brasileiros, com a meta de colocar o país entre as dez maiores potências do esporte no mundo (BRASIL, 2010a). O número oficial de participantes na etapa nacional foi cerca de 1,5 mil pessoas. Vale ressaltar que nas duas Conferências anteriores a palavra megaevento esportivo não foi citada em documentos, mas na III CNE foi o debate central em Brasília (CASTELAN, 2010).

O avanço da agenda política dos megaeventos esportivos e a mudança de objetivo das CNEs são indícios significativos de que o Governo Federal do Brasil tem enfatizado o desenvolvimento das políticas públicas de esporte de alto rendimento, em detrimento das políticas públicas de esporte educacional e esporte de participação.

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De acordo com Heidemann (2009), as políticas públicas englobam tudo que diz respeito à vida coletiva e das pessoas em sociedade e suas instituições. No caso do Governo Federal do Brasil, foi notória a decisão de atender à agenda internacional dos grandes eventos esportivos, o que atende determinada parcela da sociedade que concorda com tal tipo de financiamento.

A partir dos dados apresentados, pode-se afirmar que o Ministério do Esporte não tem seguido o seu objetivo inicial de democratização do acesso ao esporte e ao lazer. A meta do Governo Federal do Brasil de colocar o país entre os 10 mais não representa garantias de ganhos em termos de infraestrutura esportiva, ou acesso do direito ao lazer e ao esporte, o que pode maquiar o desenvolvimento esportivo brasileiro com o número de medalhas. Além disso, pode ser compreendido como uma estratégia ideológica do Estado que não contribui para o desenvolvimento das políticas públicas de esporte e lazer no Brasil e nem para o benefício do cidadão.

Além da crítica relacionada à III CNE, existe uma crítica incidente no que diz respeito à entrega do Ministério do Esporte ao Partido Comunista do Brasil (PC do B). A confiabilidade do PT pode estar relacionada à base dada pelo PC do B, que apoiou a candidatura de Luis Inácio Lula da Silva desde a sua primeira tentativa de chegada à presidência, no ano de 1989.

A entrega do Ministério do Esporte ao PC do B, de acordo com Castellan (2010) foi uma troca de favores políticos, já que o partido não tinha uma discussão acumulada sobre a temática esportiva. A Secretaria Nacional de Desenvolvimento de Esporte e Lazer foi ocupada por quadros do PT no primeiro mandato do presidente Luís Inácio Lula da Silva e contou com a presença de pesquisadores na gestão e intelectuais da Educação Física e do Lazer. O PT tinha uma setorial nacional de esporte e lazer fundada em 1998 e, desde 1992, já discutia o tema por meio dos cadernos “O Modo Petista de Governar”. No entanto, a ocupação do PT só ocorreu até o início de 2006, de forma isolada, apenas na Secretaria Nacional de Esporte Lazer e desde então o Ministério do Esporte foi ocupado por partidos da base de apoio do PT.

O PC do B foi questionado sobre o crescimento das doações eleitorais entre 2006 e 2010 e a relação com os patrocinadores da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 e dos Jogos Olímpicos Rio 2016. Os patrocínios saltaram de R$ 194,4 mil em 2006 para R$ 940 mil em 2010. Os principais patrocinadores dos megaeventos esportivos no Brasil e do

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PC do B nas eleições de 2010 foram a Coca-cola, McDonald’s e o Bradesco (MATTOS, 2011).

A confirmação da entrega do Ministério do Esporte ao PC do B pode ser evidenciada na lista de todos os ministros do esporte até o ano de 2014: Agnelo Queiroz (2003-2006), Orlando Silva (2006-2011) e José Aldo Rebelo (2011-2014), todos estavam vinculados ao PC do B. A partir de 2015, a presidenta Dilma Rousseff anunciou como novo ministro de estado do esporte o pastor da Igreja Universal, George Hilton, do Partido Republicano Brasileiro (PRB) e após doze anos, o Ministério do Esporte passou a não ter mais a gestão do PC do B (OURIQUES, 2009). Por fim, pode-se afirmar que após três gestões, mais do que treze anos de existência do Ministério do Esporte, os avanços não foram significativos no que se refere à garantia do esporte como direito individual e do lazer como direito social. A troca de ministros e de partido político está relacionada à governabilidade, em detrimento da materialização do esporte como direito individual e do lazer como direito social, uma vez que o partido político vigente não apresenta nenhuma discussão política sobre o esporte no Brasil.

As políticas públicas de esporte e lazer no Brasil, de acordo com Castellani Filho (2009) tiveram os seguintes encaminhamentos: avanço dos setores conservadores no interior do próprio governo; terceirização das ações políticas; e a “síndrome de Estocolmo”, que é definida como um estado psicológico desenvolvido por pessoas vítimas de sequestro, que se identificam com o sequestrador. No caso do Ministério do Esporte, a síndrome está relacionada a não implementação dos processos democráticos que foram discutidos pelo PT na década de 1980. Dessa forma, existem indícios suficientes que a entrada do PT, em 2003, reforçou a continuação da prioridade do esporte de alto rendimento, em detrimento da materialização do esporte como direito individual e do lazer como direito social.

As discussões sobre os megaeventos esportivos transcenderam a esfera federal, e avançaram em direção aos estados e municípios. Nas esferas estaduais merecem destaque Rio de Janeiro e São Paulo, o último estado citado, o lócus desta pesquisa. Os dois estados concentram grande parte dos recursos públicos, além de terem sido responsáveis pela abertura e final da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014.

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No contexto organizacional, segundo o governo do estado de São Paulo11, as secretarias envolvidas na gestão da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 são: Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Regional; Secretaria de Esporte, Lazer e Juventude; Secretaria de Turismo; Secretaria dos Transportes Metropolitanos; Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia; Secretaria do Meio Ambiente; Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência; Secretaria de Segurança Pública e Casa Civil, articuladas com as secretarias do município de São Paulo, além da colaboração institucional da São Paulo Turismo S.A – SPTuris12 e Federação Paulista de Futebol (FPF) (SÃO PAULO, 2012a).

Após uma pesquisa documental no website do Ministério do Esporte e nos

websites de todas as secretarias do estado de São Paulo para entender como estava se dando

a gestão da Copa do Mundo da FIFA, foi selecionada a Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Regional para análise, já que esta criou em seu interior uma subsecretaria denominada de Secretaria Executiva do Comitê Paulista da Copa. Essa subsecretaria foi responsável pela gestão da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 no estado de São Paulo. Seu objetivo foi de articular o Governo Federal do Brasil, o Governo Municipal, o Comitê Organizador Local (COL), a FIFA e o Sport Club Corinthians Paulista.

Além das instituições em âmbito estadual, foram selecionados para a pesquisa o Comitê Integrado de Gestão Governamental Especial para a Copa do Mundo de Futebol de 2014, responsável por articular as secretarias municipais nas ações da Copa do Mundo da FIFA. Dessa forma, foram utilizadas essas instituições como recorte da pesquisa.

Depois da escolha das instituições a serem pesquisadas, a difícil tarefa foi selecionar os aspectos da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 a serem estudados, já que se trata de um objeto de pesquisa interdisciplinar que envolve os aspectos econômicos, políticos, jurídicos, culturais, sociais, simbólicos, dentre outros. Dessa forma, foi selecionada a gestão de risco para análise da Copa do Mundo, uma vez que esse tipo de metodologia envolve uma investigação sobre os aspectos econômicos, políticos, sociais,

11 Em uma primeira análise, o estado de São Paulo apresentou as seguintes funções a partir dos megaeventos

esportivos: financiador, aliança ao capital nacional via Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES); investidor, associado ao Programa de Aceleramento e Crescimento (PAC); e fomentador social, associado à redução da pobreza e o desenvolvimento de políticas sociais.

12 São Paulo Turismo S/A é a empresa de turismo e eventos da cidade de São Paulo. Possui capital aberto e

tem como sócia majoritária a Prefeitura de São Paulo. Entre suas atividades estão a administração do Parque do Anhembi e do Autódromo de Interlagos e a estruturação de mecanismos que reafirmem o município como polo de turismo de negócios, entretenimento e lazer (SPTURIS, 2014).

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ambientais, de infraestrutura e de segurança. A análise da gestão de risco permitiu um diagnóstico dos riscos aceitáveis em diferentes países e cidades-sede (JENNINGS, 2012) como suporte para discutir a edição da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014, com ênfase no estado de São Paulo.

A análise a partir da gestão de riscos permite identificar as incertezas para um governo que venha a ser sede de um megaevento esportivo. No entanto, análise dos riscos também serve para a instituição internacional organizadora e para a população local avaliar os principais perigos relacionados à realização de um grande evento esportivo internacional como os Jogos Olímpicos e a Copa do Mundo da FIFA. Ambos os eventos citados têm aumentado seu nível de complexidade e multiplicado as incertezas (JENNINGS, 2012).

A análise da gestão de risco foi escolhida por se tratar de um aspecto pouco explorado nas edições da Copa do Mundo da FIFA e não existem artigos científicos, dissertações ou teses defendidas sobre a temática em língua portuguesa, conforme levantamento da produção científica (APÊNDICE D) sobre os megaeventos esportivos, que foi realizado até o ano de 2013, período final de construção do projeto de pesquisa. No entanto, em nível internacional, a análise da gestão de risco é frequente nos Jogos Olímpicos, conforme pesquisas de Toohey e Taylor (2008), Jennings e Lodge (2011) e Jennings (2012). A partir desta identificação, justifica-se a aplicação da análise da gestão de risco na Copa do Mundo da FIFA, uma vez que se trata de um evento similar aos Jogos Olímpicos, já que envolve governos e instituições internacionais. No entanto, inexistem pequisas relacionadas à gestão da Copa do Mundo da FIFA, o que torna a tese original. A Copa do Mundo da FIFA, assim como os Jogos Olímpicos, corresponde a megaeventos esportivos globais, datados, multifacetados, defensáveis e ao mesmo tempo contestáveis.

Além da gestão de risco, foi selecionada para análise a teoria da intersetorialidade, já que o planejamento da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014, no estado de São Paulo, indicou um caráter intersetorial no planejamento, ao propor o envolvimento de diferentes setores na execução das ações políticas relacionadas ao torneio. Uma ação intersetorial implica uma articulação de saberes e experiências no planejamento, execução e avaliação das ações políticas (JUNQUEIRA, INOJOSA, 1997; JUNQUEIRA, INOJOSA, KOMATSU, 1997).

No caso da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014, merece destaque a articulação entre as diferentes esferas do governo (federal, estadual, municipal e distrital)

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ou descentralização, com ênfase nas articulações entre secretarias de um mesmo governo e articulações com a sociedade civil, na construção dos equipamentos esportivos (arenas e estádios de futebol), além da melhoria da infraestrutura urbana. O envolvimento de diferentes esferas de governos federal, estadual e municipal pode aumentar o nível de complexidade do planejamento, execução e avaliação das ações políticas, bem como dos riscos associados à gestão.

Para além da intersetorialidade, foi utilizada a abordagem neoinstitucionalista histórica para análise da gestão da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 no estado de São Paulo, com ênfase nas instituições e nos seus atores políticos. Vale ressaltar que nesta abordagem as instituições são consideradas centrais e tem capacidade de interferir na cultura política, na estratégia dos atores e na produção da própria agenda política. As instituições são procedimentos, protocolos, normas e convenções inerentes à estrutura organizacional da economia política (HALL; TAYLOR, 2003).

A vertente neoinstitucionalista histórica surgiu a partir das análises de grupos e permite a análise dos interesses e poderes dos grupos socioeconômicos e dos conflitos entre os atores sociais e governamentais. Além disso, a análise da tese envolveu a interferência da FIFA na cultura política e na agenda política brasileira (HALL; TAYLOR, 2003).

O neoinstitucionalismo enfatiza a instutição para a explicação dos acontecimentos políticos, e “parte do pressuposto de que as possibilidades da escolha estratégica são deminadas de forma decisiva pelas estruturas políticos-institucionais”. Além disso, os atores políticos são centrais na modificação das estruturas de acordo com suas estratégias e interesses (FREY, 2000).

A discussão sobre o neoinstitucionalismo envolveu o debate sobre a fragmentação institucional, à medida que foi verificada as inter-relações das instituições envolvidas na organização da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 no estado de São Paulo, bem como as suas rupturas, incoerências, inconsistências, descoordenação e ineficiência (MARTINS, 2013).

A partir do delineamento apresentado na introdução, foi possível estruturar duas questões interdependentes que guiaram a pesquisa: como foi planejada e realizada a gestão de risco na Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 no estado de São Paulo? Como foram conduzidas as articulações intersetoriais e institucionais nesta gestão?

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Estas questões podem ser justificadas a partir do momento que os megaeventos esportivos estão em evidência nas políticas públicas de esporte e lazer no Brasil, e na área acadêmico-científica nacional e internacional. A Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 envolveu uma considerável transferência de recursos do setor público em direção ao setor privado. Na Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014, por exemplo, os investimentos não podem ser reduzidos aos estádios ou infraestrutura urbana, e existe uma preocupação com o pós-torneiro, que envolve a manutenção e o uso adequado do equipamento, para não serem abandonados futuramente. Além disso, a tese ao trazer dados da gestão de risco econômico, político, social, ambiental e de infraestrutura em diferentes edições da Copa do Mundo da FIFA se configura como original. A discussão de diferentes edições do torneio vai contribuir para o desenvolvimento da produção científica no campo da Educação Física e das políticas públicas no campo do esporte. Além disso, a pesquisa ganha em relevância ao instigar novas pesquisas, ao apresentar dados das edições futuras da Copa do Mundo da FIFA da Rússia, em 2018, e do Catar, em 2022.13

1.1 Objetivo

O objetivo do estudo foi de investigar e analisar a gestão de risco da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 no estado de São Paulo, sobretudo no que tange as ações intersetoriais e interinstitucionais.

1.2 Metodologia

Na presente pesquisa o método utilizado foi o descritivo-interpretativo, com abordagem fundamentalmente qualitativa, com o intuito de compreender o planejamento e a gestão de risco da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 no estado de São Paulo. A escolha da pesquisa qualitativa pode ser justificada por privilegiar a dimensão processual

13 Associa-se a essa justificativa a minha experiência com pesquisas anteriores na graduação na Universidade

Estadual de Santa Cruz e mestrado na Universidade Federal do Espírito Santo com a temática das políticas públicas de esporte e lazer, que me permitiu perceber os problemas e indagações no campo dos megaeventos esportivos, atual agenda das políticas públicas de esporte no Brasil. Soma-se a essa experiência o doutorado sanduíche, realizado na University of Southampton, na Inglaterra, entre fevereiro de 2015 e janeiro de 2016, quando foi realizado um levantamento sobre a gestão de risco na Copa do Mundo da FIFA entre os anos de 1994 e 2014.

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do conhecimento, no entanto, foram utilizados dados quantitativos como forma de contribuir para a compreensão do fenômeno estudado (MINAYO, 1994).

O recorte temporal da pesquisa compreendeu os anos de 2007 a 2015. O período pode ser justificado pela consolidação da agenda política da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014. Em 2007, foi realizado o anúncio oficial do Brasil como sede oficial e o ano de 2015 marcou o pós-torneio. Assim, o recorte temporal selecionado permitiu o processo de avaliação e análise dos resultados alcançados.

Os instrumentos metodológicos para coleta seguiram uma triangulação de dados empíricos no campo das políticas públicas em três etapas.

Na primeira etapa foi realizada uma análise documental do governo do estado e do município de São Paulo sobre o tema, na tentativa de compreender a instituição e a ação dos agentes sociais: Secretaria Executiva do Comitê Paulista da Copa, coordenadoria geral da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 no estado de São Paulo, responsável pelo documento “Cidade Base: o potencial do Estado de São Paulo para sediar os Centros de Treinamento das Seleções para a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014”; e Comitê Integrado de Gestão Governamental Especial para a Copa do Mundo de Futebol de 2014, responsável pelas ações em âmbito municipal. Foram coletados e analisados os relatórios, plano plurianual, orçamentos, arquivos, programas, projetos, leis, vídeos,14 e outras fontes de dados que embasaram o planejamento e a gestão de risco da Copa do Mundo.

Na segunda etapa, constituiu o corpus15 de fontes secundárias da investigação as publicações relacionadas à temática da Copa do Mundo da FIFA nos principais jornais do estado de São Paulo (Folha de S.Paulo e o O Estado de S. Paulo “Estadão”). A análise da mídia impressa nas políticas públicas se configura como uma importante fonte de pesquisa, uma vez que permite a discussão e cobertura de diferentes temáticas. No entanto, por um lado, as políticas editoriais dos jornais podem ter interesses específicos e omitirem acontecimentos, além da possibilidade da escolha de agentes privilegiados para escreverem determinada coluna. Por outro lado, os jornais, são importantes fontes de dados para a compreensão da gestão, a partir do momento que faz um acompanhamento sobre as ações

14 A priori já foi coletado o vídeo produzido pela Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Regional,

intitulado “São Paulo na Copa do Mundo FIFA de 2014”. Disponível em:

<http://www.planejamento.sp.gov.br> Acesso em: 20 mar. 2012.

15 “O corpus é o conjunto dos documentos tidos em conta para serem submetidos aos procedimentos

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políticas em todos os estados que participaram como sede. Por fim, os jornais democratizaram as informações para outros setores da sociedade.

Na última etapa foram realizadas entrevistas semiestruturadas (RICHARDSON et al., 1999) com dois atores políticos envolvidos com a gestão da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 em São Paulo. O primeiro gestor entrevistado foi membro da Secretaria Executiva do Comitê Paulista da Copa (gestão estadual), e foi representado na tese como Gestor 1. O segundo gestor entrevistado foi membro do Comitê Integrado de Gestão Governamental Especial para a Copa do Mundo de Futebol de 2014 (gestão municipal), e foi representado na tese como Gestor 2, como forma de manter o anonimato do sujeito entrevistado, conforme exigência do Comitê de Ética e Pesquisa da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, aprovado em 18 de dezembro de 2012 na Plataforma Brasil, CAAE 05543412.0.0000.5404, parecer nº 182.444. O critério de escolha das duas instituições como área de seleção dos sujeitos da pesquisa se deu por sua atuação mais ativa no desenvolvimento da gestão da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 no estado de São Paulo.

Os procedimentos de pesquisa adotados seguiram a seguinte ordem: 1. Contato inicial e entrega das cartas de apresentação da pesquisa (APÊNDICE A); 2. Confecção do roteiro da entrevista (APÊNDICE B); 3. Confecção do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (APÊNDICE C); 4. Levantamento da produção científica sobre os megaeventos esportivos (APÊNDICE D); 5. Carta de aprovação do Comitê de Ética (ANEXO A); 6. Coleta de dados documentais; 7. Entrevista semiestruturada com os gestores; e 8. Organização, tabulação, análise e discussão dos dados.

Para interpretação dos dados, a técnica utilizada foi a análise de conteúdo (BARDIN, 2009, p. 44), que corresponde a “[...] um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens indicadores”. A análise de conteúdo foi escolhida por se tratar de uma técnica multiforme, que permite a realização de uma análise qualitativa e inferência de conhecimentos relativos às condições de emissão/recepção destas mensagens.

A análise de conteúdo é múltipla e multiplicada, e varia de uso de “cálculo de frequências que fornece dados cifrados, até à extração de estruturas traduzíveis em modelos”. A análise de conteúdo apresenta diferentes abordagens: quantitativa, quando a frequência que surge certas características do conteúdo é tomada em consideração;

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qualitativa, quando a presença ou a ausência de uma dada caractéristca de conteúdo é o mais importante; ou qualitativa e quantitativa, quando a análise envolve os dois tipos de abordagens (BARDIN, 2009).

A escolha da abordagem varia de acordo com a temática a ser analisada e na presente pesquisa foram utilizados dados prioriatariamente qualitativos. No entanto, no capítulo de discussão da gestão de risco nas diferentes edições da Copa do Mundo da FIFA os dados quantitativos foram fundamentais para guiar a análise de conteúdo.

A análise de conteúdo, de acordo com Bardin (2009) tem como objetivo a superação de um olhar imediato, espontâneo, um método de análise que vai além da transformação de um documento primário em um documento secundário. A sistematização da presente pesquisa teve como base a análise temática, que permite a divisão dos temas principais em subtemas ou categorias. Os dados da análise de conteúdo temáticos da gestão de risco envolveram os seguintes subtemas: econômicos; políticos e governamentais; infraestrutura; ambientais e de saúde; segurança.

A codificação ou recorte de trechos de textos utilizados na análise aconteceu de acordo com os conteúdos mais significativos, com base na hermenêutica controlada: a inferência. A análise de conteúdo se configura como um dos métodos que ofereceram condições objetivas de utilização, pois permite relacionar os textos com suas respectivas condições de produção, conforme será apresentado nos resultados da pesquisa (BARDIN, 2009).

As fases da análise de conteúdo foram organizadas em três polos cronológicos: a pré-análise, que tem como objetivo tornar operacionais e sistematizar as ideias iniciais, ler e escolher a documentação; a exploração do material, que corresponde à fase de aprofundamento na leitura e análise; e o tratamento dos resultados e a inferência (BARDIN, 2009).

1.3 Organização da tese

A tese foi organizada em cinco capítulos. O primeiro capítulo foi a “Introdução” e apresentou o contexto de materialização da agenda política dos megaeventos esportivos no Brasil e como a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 foi incluída como importante política no cenário nacional. Neste capítulo introdutório, também

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foi realizada a caracterização da gestão da Copa do Mundo Brasil 2014 no estado de São Paulo e as principais instituições envolvidas. Além disso, foram detalhados os aspectos metodológicos, as fontes de dados utilizadas, o tipo de análise utilizada no decorrer da pesquisa e a estruturação da tese.

No segundo capítulo, foi realizada uma análise da “gestão de risco das edições da Copa do Mundo da FIFA entre 1994 e 2014” como forma de construir um cenário favorável e comparativo para discutir o caso específico do Brasil. O capítulo apresenta uma discussão sobre os aspectos econômicos, políticos, sociais, ambientais e de infraestrutura de diferentes edições da Copa do Mundo da FIFA. Por fim, o capítulo encerra com dados e perspectivas para as edições da Copa do Mundo da FIFA Rússia 2018 e Copa do Mundo da FIFA Catar 2022.

No terceiro capítulo, foi discutida a “gestão da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014”, com ênfase no panorama mais geral deste megaevento esportivo. Este capítulo foi importante para analisar a gestão do torneio em âmbito nacional, bem como discutir as principais instituições e atores políticos envolvidos, a partir da análise neoinstitucionalista. Para além dos atores e instituições, foram analisadas as legislações relacionadas ao megaevento esportivo, com ênfase na Lei Geral da Copa (LGC), principal marco legal do torneio. Por fim, o capítulo mostra um panorama geral da gestão da Copa do Mundo da FIFA no Brasil e faz uma discussão no cenário pós-megaevento esportivo.

No quarto capítulo foi realizada uma análise do planejamento e discussão sobre a gestão de risco da “Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 veio a São Paulo”. Este capítulo apresenta a discussão sobre o planejamento das secretarias estaduais e municipais, bem como as instituições envolvidas, as articulações intersetorias, a descentralização da gestão e o envolvimento da sociedade civil no processo de desenvolvimento do megaevento esportivo. Além disso, foi desenvolvida uma discussão sobre a gestão de risco deste megaevento no Estado de São Paulo, o que abrangeu aspectos econômicos, políticos, sociais, administrativos, ambientais e de segurança.

Por fim, o capítulo 5 se refere às “considerações finais”. Nesta seção foi apresentada a síntese sobre a gestão de risco da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014, com ênfase no estado de São Paulo. As considerações finais permitiram apontar os principais resultados alcançados e as principais limitações da tese, além de indicar possíveis questões de pesquisas para serem investigadas no futuro.

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2 GESTÃO DE RISCO DA COPA DO MUNDO DA FIFA ENTRE

1994 E 2014

Este capítulo teve como objetivo analisar a gestão de risco da Copa do Mundo da FIFA entre as edições de 1994 e 2014. As análises dessas edições do torneio criam um cenário favorável para a discussão do objeto de estudo da tese. O capítulo apresenta dados comparativos que permite discutir a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014, sobretudo suas ações no estado de São Paulo. Além disso, os resultados servem como suporte para discussão das edições futuras do torneio como a Copa do Mundo da FIFA Rússia 2018 e a Copa do Mundo da FIFA Catar 2022.

2.1 Copa do Mundo da FIFA

A Copa do Mundo é uma competição internacional da FIFA que acontece a cada quatro anos em diferentes países. A primeira edição da Copa do Mundo foi planejada na França, em 1928, pelo ex-presidente da FIFA Jules Rimet. O primeiro país a ser sede foi o Uruguai em 1930, já que uma crise econômica atingia os países da Europa naquele período, Uruguai foi o último campeão olímpico no futebol em 1928 e o país comemorava 100 anos de sua independência em 1930. O formato do evento era totalmente distinto do que acontece atualmente, não existia eliminatória, e contou com a participação de apenas 13 seleções convidadas. No total, foram jogadas 18 partidas e o sorteio só foi realizado quando todas as seleções chegaram ao país. Após a competição em 1930 a Copa do Mundo passou por um processo de profissionalização e passou a ser disputada em duas fases: a primeira fase eliminatória; e a segunda fase competição (FIFA, 2014a).

Quando a Copa do Mundo da FIFA foi iniciada existiam diversos riscos de gestão. Os principais riscos daquele período estavam relacionados: a dificuldade no transporte das seleções nacionais até o torneio; e presença de guerra mundial no período de realização das eliminárias e do torneio. No contexto de guerra, pode-se destacar a suspenção da Copa do Mundo da FIFA de 1942 e de 1946 devido a Segunda Guerra Mundial.

Desde a edição de 1930, a FIFA tem realizado um rodízio na realização da Copa do Mundo entre a América Latina e a Europa. O rodízio foi definitivamente

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finalizado após a Copa do Mundo da FIFA Estados Unidos 1994, quando a FIFA objetivou difundir o torneio em diferentes lugares do mundo. Destacam-se a Copa do Mundo da FIFA Japão e Coréia do Sul 2002 na Ásia e a Copa do Mundo da FIFA África do Sul 2010 como processo do fim do rodízio entre a América Latina e a Europa. A expansão do torneio para diversos continentes consolida o futebol espetáculo inserido dentro de um processo de globalização e mercantilização da Copa do Mundo da FIFA (FIFA, 2014a).

Outra alteração importante no megaevento esportivo foi iniciada na edição da Copa do Mundo da FIFA França 1998, quando o torneio passou a ser disputado entre 32 seleções. A edição da Copa do Mundo da FIFA Estados Unidos 1994 foi a última edição organizada com a participação de 24 seleções. A edição da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 se manteve no formato de 32 seleções e a FIFA já indicou que continuará no mesmo formato nas edições da Copa do Mundo da FIFA Rússia 2018 e da Copa do Mundo da FIFA Catar 2022 (FIFA, 2014b).

A Copa do Mundo da FIFA corresponde a um evento sediado em uma área geográfica determinada, por um ou dois países, em diferentes cidades-sede. O país e a cidades-sede precisam garantir uma infraestrutura esportiva adequada aos padrões da FIFA, bem como uma infraestrutura urbana adequada em função da realização do megaevento esportivo. A infraestrutura esportiva corresponde às arenas ou estádios de futebol, enquanto que a infraestrutura urbana envolve a construção, reforma e ampliação de transporte público, aeroportos, portos e tecnologia.

No formato atual, a Copa do Mundo inclui atividades culturais, mercantis, financeiras e industriais. De acordo com Damo (2012) a Copa do Mundo da FIFA promove:

[...] grande impacto local, sendo este concreto e imaginário, imediato e prolongado, estimulante e deletério, defensável e contestável e assim por diante. A disposição de sediá-la implica constrangimentos, convencimentos, barganhas, pressões, interesses confessos e escusos, enfim, trata-se de algo que extrapola os pontos de vista maniqueístas (DAMO, 2012, p.47).

A Copa do Mundo da FIFA, com o avanço da tecnologia e do processo de globalização passou a apresentar um caráter mercantil e de gestão de risco, ao envolver instituições esportivas nacionais e internacionais, diferentes esferas do governo municipal, estadual e federal, parceiros e patrocinadores nacional e internacional, rede de televisão

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nacional e internacional, além de instituições da sociedade civil, já que existe o uso de investimento e de financiamento público. A Copa do Mundo da FIFA apresenta um potencial de conciliação de agendas políticas e cooperação entre diferentes atores políticos, o que afeta diversos aspectos da vida da população que sedia o torneio, como a habitação, o trabalho, o transporte, a legislação e os impostos.

A Copa do Mundo da FIFA tem buscado grandes centros urbanos como Estados Unidos em 1994, França 1998, Japão e Coreia do Sul em 2002, Alemanha 2006, e recentemente tem buscado países em desenvolvimento como a África do Sul em 2010, Brasil em 2014 e Rússia em 2018. A Copa do Mundo da FIFA tem sido associada a potencialização de benefícios para as cidades-sede em um modelo empreendedor. De acordo com Harvey (1989) os empreendedores urbanos têm associado a realização de grandes eventos esportivos internacionais como uma ferramenta para a melhoria e renovação das cidades-sede.

A associação entre a realização de uma Copa do Mundo da FIFA e as melhorias nas cidades-sede apresenta elevado risco de gestão, à medida que requer negociação e consenso dos organizadores, governos e população local.

2.2 Gestão de Risco na Copa do Mundo da FIFA

O Fórum de Economia Mundial (World Economic Forum) por meio do relatório de Riscos Globais para 2014 (Global Risks 2014) selecionou 31 riscos mais incidentes para serem efetivamente administrado dentro do planejamento das políticas públicas e pelo setor privado ao redor do mundo. O Fórum foi organizado por diversas universidades e pesquisadores ao redor do mundo e em 2014 chegou à sua nona edição (RISCOS GLOBAIS, 2014).

Os riscos mais incidentes no Fórum de Economia Mundial no ano de 2014 foram: econômicos (crises fiscais, falha de mecanismo financeiro ou institucional, crise líquida, desemprego e subemprego, choque petrolífero, falta de infraestruturas críticas e declínio da importância do dólar norte-americano); geopolítica (falha de governança global, o colapso do estado, a corrupção, o crime organizado, o tráfico ilícito, ataque terrorista, armas de destruição em massa, os conflitos interestaduais e nacionalização econômica de recursos); ambientais (eventos climáticos extremos, catástrofes naturais, catástrofes

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ambientais provocadas pelo homem, a perda de biodiversidade e colapso do ecossistema, crises de água e as mudanças climáticas); riscos sociais (crises alimentares, pandemia, as doenças crônicas, a disparidade de renda, bactérias resistentes aos antibióticos, má gestão da urbanização e instabilidade política e social); e tecnológicos (infraestrutura de informação crítica, colapsos tecnológicos, os ciber-ataques, fraude de dados/roubo) (RISCOS GLOBAIS, 2014).

Os riscos indicados no relatório Global Risks 2014 tem contribuido sinificativamente no levantamento de riscos de gestão que os governos de diversos países do mundo precisam lidar a cada ano. A gestão de risco também tem sido uma das preocupações dos megaeventos esportivos como os Jogos Olímpicos e a Copa do Mundo da FIFA. De acordo com Jennings (2012), os Jogos Olímpicos envolvem diferentes tipos de riscos, os quais afetam a tomada de decisão das instituições internacionais organizadoras, governos-sede e sociedade civil. Os principais riscos são: a) financeiros e econômicos; b) políticos e governamentais; c) de infraestrutura; d) de saúde e meio ambiente; e) de segurança e proteção; f) do esporte e sua administração; e h) de operações e organização.

Os riscos financeiros e econômicos associados com a governança dos Jogos Olímpicos estão entre os mais visíveis, com diversas estimativas de impactos e avaliações de impactos após a realização do megaevento esportivo (JENNINGS, 2012).

Os riscos políticos e governamentais estão relacionados à organização dos Jogos Olímpicos e suas consequências para as cidades-sede, e esta categoria tende a ser menos quantificável que os riscos financeiros e econômicos. O apoio político e governamental tem sido um dos critérios definidos para a candidatura das cidades-sede, de acordo com o Comitê Olímpico Internacional (COI). Além disso, os incidentes diplomáticos e os conflitos geopolíticos têm sido um dos principais limites para a realização dos Jogos Olímpicos, com destaque para a Guerra Fria (JENNINGS, 2012).

Os riscos de infraestrutura são fundamentais para a realização dos Jogos Olímpicos. A infraestrutura corresponde às instalações, sistemas, lugares e redes necessárias para a prestação de serviços nos setores de comunicação, saúde, transporte, alimentação, energia, água e governo (JENNINGS, 2012).

Os riscos de saúde e meio ambiente são perigos representativos para a organização dos Jogos Olímpicos bem como para dar origem aos riscos sociais. Os riscos

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ambientais são imprevistos, tais como as condições climáticas extremas e os impactos ao meio ambiente (JENNINGS, 2012).

Após as incertezas financeiras e econômicas, os riscos de segurança e proteção são a principal preocupação dos organizadores, meios de comunicação de massa e do público de forma geral. Pode-se destacar a ameaça de ataques terroristas, crimes locais, segurança dos espectadores, dentre outros (JENNINGS, 2012).

Existem ainda riscos do esporte e sua administração, tal como a preocupação relacionada ao processo de competição bem como aos problemas associados ao doping, o que pode gerar escândalos quando ocorre o teste positivo (JENNINGS, 2012).

A última categoria corresponde aos riscos operacionais e organizacionais, associados com o COI e o governo local, de entregar no prazo todos os locais de competição, cumprir o orçamento e garantir o padrão dos serviços de acordo com as expectativas dos atletas e dos organizadores. Os principais riscos operacionais e organizacionais são a cerimônia de abertura e as falhas na transmissão das competições (JENNINGS, 2012).

Os riscos de gestão podem ser ameaças endógenas (internas) e exógenas (externas). Os riscos endógenos são: a diminuição da receita de direitos de transmissão e patrocínio; a gestão de ticket de entrada e das mutidões; a gestão de projetos e prazos; a segurança em canteiros de obras; o apoio do público da cidade-sede; o terrorismo; a dopagem; a governança; os ciber-ataques nos websites oficiais; políticas olímpicas. Enquanto que os riscos exógenos são: os desastres naturais; a poluição; os acidentes de transporte; a desordem pública; a continuidade de água e fontes de alimentação; o terrorismo internacional; as condições econômicas globais; as doenças infecciosas; o conflito militar; as flutuações nas taxas de câmbio e os preços de commodities (JENNINGS, 2012).

Dessa forma, pode-se afirmar que os megaeventos esportivos apresentam planejamento complexo, e pode trazer um volume desproporcional de inceretezas e riscos. Além disso, cada vez mais tem aumentado a pressão para realizar as medidas dos perigos da gestão, uma vez que existe uma discussão sobre o cálculo do custo e benefício social, econômico, político, ambiental e de segurança. A gestão dos riscos associados aos megaeventos esportivos inclui: 1. Perigos e identificação do tratamento, que envolve o mapeamento de todos os riscos de gestão; 2. Avaliação de risco, que diz respeito à

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