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Uma percepção local do desenvolvimento sustentável: caso do município de Entre-Ijuís, RS

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Academic year: 2021

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UNIJUÍ – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

Departamento de Economia e Contabilidade Departamento de Estudos Agrários Departamento de Estudos da Administração

Departamento de Estudos Jurídicos

CURSO DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO

CRISTINA FIORIN CALEGARO

UMA PERCEPÇÃO LOCAL DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: caso do município de Entre-Ijuís, RS

Ijuí 2010

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CRISTINA FIORIN CALEGARO

UMA PERCEPÇÃO LOCAL DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: caso do município de Entre-Ijuís, RS

Dissertação de Mestrado para obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul

Linha de Pesquisa Desenvolvimento Local Sustentável

Profª. Drª Sandra Beatriz Vicenci Fernandes

Ijuí 2010

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C148p Calegaro, Cristina Fiorin.

Uma percepção local do desenvolvimento sustentável : o caso do município de Entre-Ijuís, RS / Angélica de Oliveira. – Ijuí, 2010. – 180 f. : il. ; 29 cm.

Dissertação (mestrado) – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Campus Ijuí). Desenvolvimento.

“Orientação: Sandra Beatriz Vicenci Fernandes”.

1. Desenvolvimento sustentável. 2. Desenvolvimento sustentável - Local. 3. Indicadores de desenvolvimento sustentável. I. Fernandes, Sandra Beatriz Vicenci. II. Título. III. Título: O caso do município de Entre-Ijuís, RS

CDU: 502.31 504.03

Catalogação na Publicação

Tania Maria Kalaitzis Lima CRB10 / 1561

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DEDICATÓRIA DEDICATÓRIA DEDICATÓRIA DEDICATÓRIA

À minha amada e querida mãe, Marli de Lourdes Fiorin Calegaro, pois se estou nessa fase da minha vida devo a ela, pelo seu estímulo, seu sonho e seu incansável incentivo e abnegação para que seus filhos estudassem além das escassas oportunidades que teve ao longo de sua curta vida escolar.

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AGRADECIMENTOSAGRADECIMENTOSAGRADECIMENTOSAGRADECIMENTOS

Agradeço em primeiro lugar a Deus por tudo. À minha mãe, pela incansável compreensão devido ao tempo que necessitei estar alheia a muitas situações familiares, bem como pela dedicação e colaboração ao meu trabalho e a minha vida.

A toda a minha família.

À minha querida, estimada e também incansável Professora Orientadora (e segunda mãe), Sandra Beatriz Vicenci Fernandes, pelas diversas vezes que foi mais que professora, pois sempre atendeu com carinho, dedicação e estímulos, em qualquer lugar, situação ou hora.

Aos professores avaliadores, pois suas leituras criticas e propositivas são imprescindíveis para o sucesso desse trabalho.

Ao meu colega de profissão e escola, Elton Gilberto Backes, pela incansável e maravilhosa leitura e disponibilidade para revisão ortográfica e gramatical.

A receptividade e interesse dos atores sociais e às instituições que representam no município de Entre-Ijuís, objeto desse estudo.

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RESUMO

O desenvolvimento sustentável, no século XXI, significa uma nova possibilidade para a humanidade. Ao mesmo tempo é um conceito complexo na sua definição, compreensão e, mais ainda, na sua concretização. Devido a todo esse entrelaçamento, o desenvolvimento sustentável revela-se como um campo ávido para estudos e investigações em diferentes aspectos e níveis. Uma dessas possibilidades, proposta neste trabalho, é a compreensão da visão sobre desenvolvimento local sustentável a partir de um município, seus atores sociais, suas instituições e políticas públicas locais. Então, no âmbito do município de Entre-Ijuís, no Estado do Rio Grande do Sul, há uma realidade de desenvolvimento local em curso, implementada pelos atores sociais e instituições locais, bem como pelas políticas públicas municipais, passível de ser apreendida e analisada pela ótica da sustentabilidade, a partir da leitura que os atores sociais têm dessa realidade e do estudo dos indicadores de desenvolvimento sustentável disponíveis no referido município. Desta forma, para viabilizar o referido estudo, a metodologia utilizada foi de pesquisa bibliográfica, documental e pesquisa de campo, sendo esta última composta com duas pesquisas: uma quantitativa, estruturada, e outra qualitativa, com entrevista semi-estruturada, gravada, abrangendo uma amostra dirigida da população para delinear a visão sobre desenvolvimento local sustentável. Os respectivos registros da pesquisa qualitativa foram feitos com gravações orais, sem a identificação pessoal do entrevistado. Sendo assim, os resultados oriundos desse estudo apontam para uma visão de desenvolvimento transitória entre o desenvolvimento como crescimento econômico e o desenvolvimento sustentável. Portanto, a sociedade local vive uma mescla entre paradigmas e práticas, pois ora comporta-se segundo a lógica do desenvolvimento como crescimento econômico, mas em outros momentos já apresenta possibilidades rumo ao desenvolvimento sustentável. Em outras palavras, os propósitos ou valores sociais, sejam individuais ou coletivos, institucionalizados na sociedade humana, em boa parte, continuam sendo os apregoados pelo desenvolvimento onde predomina o crescimento econômico e material com elevados custos socioambientais. Então, para compreender o atual momento da civilização humana, é imprescindível a realização de reflexões teóricas e estudos que englobem a realidade local para buscar a edificação de um conhecimento qualificado, coerente, crítico e responsável, interligado com as reais necessidades dos indivíduos e do planeta, o que é fundamental e indiscutivelmente necessário para o desenvolvimento sustentável.

Palavras-chave: Desenvolvimento local sustentável, indicadores de desenvolvimento sustentável.

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ABSTRACT

Sustainable development in the twenty-first century means a new possibility for humanity. At the same time, it is a complex concept in its definition, understanding, and, moreover, in its realization. Because of all this intermingling, sustainable development is revealed as an avid field for study and research in different aspects and levels. One of such possibilities, which is proposed in this work, is the understanding of the view of local sustainable development from a city, its social actors, institutions and local public policies. Then, within the municipality of Entre-Ijuís, State of Rio Grande do Sul, there is an undergoing reality of local development, implemented by social actors and local institutions, as well as by municipal public policies, which may be perceived and analyzed by the perspective of sustainability, from the reading that social actors have of this reality and of the study of sustainable development indicators available in that district. So, in order to facilitate this study, the methodology used was literature research, documental and field research, the latter comprising two studies: a quantitative, structured one, and another qualitative, with semi-structured interview, recorded, covering a sample of the population led to outline the vision for sustainable local development. The respective records of qualitative research were done with oral recordings, without the personal identification of the interviewed subjects. Thus, the results from this study point to a vision of development between the developing and economic growth and sustainable development. Therefore, local society is experiencing a mixture of paradigms and practices, because sometimes it behaves according to the logic of development as economic growth, but at other times it already presents opportunities towards sustainable development. In other words, the purposes or social values, whether individual or collective, institutionalized in society, largely remain the development touted by predominantly material and economic growth with high environmental costs. So, in order to understand the present situation of human civilization, it is essential to carry out theoretical reflections and studies that involve the local reality to pursue the building of a qualified, coherent, critical and responsible knowledge, connected with the real needs of individuals and the planet, what is fundamental and arguably necessary for sustainable development.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Pirâmide de Informação ………... 66

Figura 2 – Dimensões, Temas e Subtemas do Desenvolvimento Sustentável da CDS ... 73

Figura 3 – Dimensões e Indicadores de Desenvolvimento Sustentável do IBGE – 2008 ... 79

Figura 4 – Informações Estatísticas do Município de Entre-Ijuís, RS ... 89

Figura 5 – Temas do Perfil dos Municípios Brasileiros – Gestão Pública, 2001 ... 90

Figura 6 – Temas do Perfil dos Municípios Brasileiros – Gestão Pública, 2009 ... 91

Figura 7 – Número de Gestores Públicos Municipais em 35 entrevistados no município de Entre-Ijuís, RS – 2009/10 ... 94

Figura 8 – Figura 8: Gênero dos Atores Sociais em 35 entrevistados no município de Entre-Ijuís, RS – 2009/10 ... 95

Figura 9 – Escolaridade dos Atores Sociais em 35 entrevistados no município de Entre-Ijuís, RS – 2009/10 ... 95

Figura 10 – Faixa Etária dos Atores Sociais em 35 entrevistados no município de Entre-Ijuís, RS – 2009/10 ... 93

Figura 11 – Indicadores da Dimensão Ambiental (a) Disponíveis, (b) Utilizados, (c) Relevantes em 35 entrevistados no município de Entre-Ijuís, RS – 2009/10 ... 97

Figura 12 – Indicadores da Dimensão Ambiental d) Desconhecidos, e) Sem Resposta em 35 entrevistados no município de Entre-Ijuís, RS – 2009/10 ... 102

Figura 13 – Indicadores da Dimensão Social a) Disponíveis, b) Utilizados e c) Relevantes em 35 entrevistados no município de Entre-Ijuís, RS – 2009/10 ... 103

Figura 14 – Indicadores da Dimensão Social d) Desconhecidos e e) Sem Resposta 35 entrevistados no município de Entre-Ijuís, RS – 2009/10 ... 104

Figura 15 – Indicadores da Dimensão Econômica a) Disponíveis, b) Utilizados, c) Relevantes em 35 entrevistados no município de Entre-Ijuís, RS – 2009/10 ... 105

Figura 16 – Indicadores da Dimensão Econômica d) Desconhecidos, e) Sem Resposta em 35 entrevistados no município de Entre-Ijuís, RS – 2009/10 ... 106 Figura 17 – Indicadores da Dimensão Institucional a) Disponíveis, b) Utilizados,

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c) Relevantes em 35 entrevistados no município de Entre-Ijuís, RS –

2009/10 ... 107 Figura 18 – Indicadores da Dimensão Institucional d) Desconhecidos, e) Sem Resposta

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 12 1 CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS ... 15 2 UMA CONSTRUÇÃO HISTÓRICA: DO CRESCIMENTO ECONÔMICO AO

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ... 22 2.1 DO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO AO DESENVOLVIMENTO COMO

LIBERDADE

2.1.1 O crescimento econômico como fundamento do desenvolvimento ... 23 2.1.2 Do Desenvolvimento Economicista à Inclusão de outras Dimensões ao

Desenvolvimento ... 28 2.1.3 Há como Entender a Sustentabilidade no Desenvolvimento? ... 43 2.1.4 A Valorização do Território como Determinante para o Desenvolvimento

Sustentável ... 50 3 O USO DE INDICADORES NO ESTUDO DO DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL ... 61 3.1 A COMPREENSÃO DO DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL

ATRAVÉS DE INDICADORES

3.1.1 Concepções Gerais ... 62 3.1.2 Indicadores: algumas Terminologias e Classificações Inerentes ao seu Estudo .... 65 3.1.3 O Uso de Indicadores como Ferramenta rumo ao Desenvolvimento Sustentável ... 71 3.1.4 Indicadores de Desenvolvimento Sustentável para o Brasil propostos pelo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ... 74 3.1.4.1 A Estrutura do Documento do IBGE: Indicadores de Desenvolvimento

Sustentável – 2008 ... 77 4 O USO DAS DIMENSÕES E DOS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO IBGE EM ESTUDO LOCAL ... 83 4.1 O MUNICÍPIO DE ENTRE-IJUÍS ... 83 4.2 Algumas informações atuais do município de Entre-Ijuís ... 88 4.3 As Quatro Dimensões e os Indicadores de Desenvolvimento Sustentável do IBGE: análise dos dados do município de Entre-Ijuís ... 91

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4.3.1 A percepção sobre desenvolvimento local sustentável no município de

Entre-Ijuís: exposição e compreensão dos dados da pesquisa de campo ... 91

4.3.1.1 Interpretações acerca da Pesquisa Quantitativa e da primeira questão qualitativa ... 92

4.3.1.2 Interpretações da segunda questão qualitativa ... 108

4.3.1.3 Interpretações da terceira questão qualitativa ... 113

4.3.1.4 Reflexões preliminares ... 119

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 123

BIBLIOGRAFIA ... 126

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INTRODUÇÃO

A atual percepção da sociedade humana sobre a realidade local ou global, historicamente construída, é tão multifacetada quanto as inúmeras nações e seus respectivos povos. Da mesma forma, a formação e aceitação de ideias e práticas também acontece em momentos distintos, em lugares diferentes, com vivências e tempos diferenciados. Assim sendo, as questões socioambientais passaram a receber maior atenção, no século XX, justamente pelo fato da sociedade humana vivenciar uma multiplicidade de problemas ambientais interligados com conflitos sociais que ainda eram desconsiderados ou pouco relevantes em outros tempos.

Neste sentido, o desenvolvimento sustentável, no século XXI, significa uma nova possibilidade para a humanidade, pois traduz desejos notadamente coletivos. Ao mesmo tempo é um conceito complexo na sua definição, compreensão e, mais ainda, na concretização de seus ideais basilares, os quais estão tornando-se cada vez mais vitais para a humanidade, pois pautam, fundamentalmente, sobre a paz, a democracia, a liberdade e a igualdade entre as nações, entre as formas de vida e acerca das condições de toda forma de vida; em outras palavras, sobre o planeta Terra.

Então, devido a toda essa complexidade, o desenvolvimento sustentável revela-se como um campo extremamente profícuo para estudos e investigações em diferentes aspectos e níveis. Uma dessas possibilidades, proposta neste trabalho, é a compreensão da visão sobre desenvolvimento local sustentável, representada especificamente, por um município, seus atores sociais e suas instituições locais.

Para tanto, num primeiro capítulo são dispostas as considerações metodológicas que nortearam as etapas para sua construção, iniciando pela definição da temática, sua possível hipótese, justificando-a, de maneira breve, com alguns referenciais teóricos. Em seguida

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expõe-se a metodologia empregada para as pesquisas teórica e prática, sendo que esta última constou de pesquisa de campo quantitativa e qualitativa.

Portanto, para referenciar teoricamente a proposta metodológica, o segundo capítulo apresenta uma revisão bibliográfica direcionada ao entendimento do desenvolvimento, desde o início do século XX, quando este era tido como crescimento econômico, perpassando por algumas revisões conceituais até o início do século XXI, quando o desenvolvimento já incorpora o termo sustentável.

Ao longo desse capítulo são apresentados alguns eventos, instituições e autores que participaram da construção histórica e do redirecionamento do desenvolvimento, principalmente, o que se almeja para desenvolvimento sustentável, se for considerado que a sociedade humana habita um lócus comum a outras espécies, porém ela está sendo a única espécie responsável pelo comprometimento das capacidades de funcionamento e manutenção da dinâmica da vida planetária.

O terceiro capítulo apresenta uma revisão sobre compreensões inerentes ao estudo do desenvolvimento sustentável por meio de indicadores, ao mesmo tempo em que apresenta um breve histórico sobre indicadores e indicadores de desenvolvimento sustentável, abordando algumas instituições, internacionais e nacionais, responsáveis pela origem dessas ferramentas para auxiliar países e outras instituições governamentais na busca de interpretações, evoluções e inflexões sobre desenvolvimento sustentável.

Como constituinte do quarto capítulo, está uma breve, porém necessária, revisão histórica do município estudado - Entre-Ijuís, localizado no Estado do Rio Grande do Sul. Sequencialmente, estão disponibilizados os resultados da pesquisa de campo realizada no referido local, por meio da qual foi apreendida uma percepção local, isto é, o delineamento local sobre desenvolvimento sustentável, seus possíveis indicadores, as respectivas instituições locais e suas ações indicadas pelos atores sociais participantes da pesquisa.

A realização e interpretação da pesquisa obteve algumas importantes constatações sobre a realidade do município à cerca do desenvolvimento local sustentável, mas outras reflexões, além das propostas pelo trabalho, acabaram sendo observadas durante o processo e a análise dos dados da pesquisa local.

Sendo assim, para compreender o atual momento da civilização humana, é imprescindível a realização de reflexões teóricas e estudos práticos que englobem a realidade

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local, pois, por meio do conhecimento e da análise da vida no lugar, das escolhas individuais ou das ações coletivas apontadas pelas instituições, sem desconsiderar a constante influência global no local, é que se podem edificar ações qualificadas, coerentes, interligadas com as reais necessidades dos indivíduos, alcançando concretamente o lugar com interferências que sejam ou venham a funcionar como colaborações para o desenvolvimento local sustentável.

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1 CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS

No século XXI um dos maiores desafios dos seres humanos é a compreensão das relações com seus congêneres, bem como com seu entorno. Para tanto, a realização de estudos que busquem a investigação, análise e compreensão da trajetória da humanidade, englobando aspectos culturais, sociais, políticos, econômicos, ambientais e institucionais são relevantes neste princípio de século XXI, pois assim a sociedade humana pode ter uma alternativa de compreender sua atuação no Planeta, a fim de reordenar algumas concepções e práticas ambiental e socialmente degradantes, que historicamente estão sendo praticadas e contribuindo com a disseminação de uma cultura de exploração do ambiente e do ser humano (pelo ser humano), objetivando acúmulos econômicos, materiais, sociais, desconsiderando a manutenção das condições para a continuidade da vida (com dignidade) no e do planeta.

A partir disso, um estudo da realidade local que aborde as práticas dos administradores municipais, a visão dos atores sociais sobre desenvolvimento sustentável, pode ser uma das alternativas para delinear o necessário e indispensável entendimento das ações humanas que determinam distintas conseqüências.

Neste sentido, o uso de indicadores de desenvolvimento sustentável pode ser uma importante ferramenta na realização de um diagnóstico local, na análise e compreensão do ambiente local (municipal), o que pode possibilitar à administração pública municipal uma atuação mais qualificada e responsável na direção de um desenvolvimento local sustentável.

Deste modo, a problemática, inicialmente delineada, considerou como possibilidade para o referido trabalho o tema do uso de indicadores de sustentabilidade no desenvolvimento local sustentável. Sendo assim, um estudo local embasado em indicadores de desenvolvimento sustentável pode ser uma ferramenta para apreender a visão de desenvolvimento local sustentável da administração pública municipal e de atores sociais locais focando a compreensão do desenvolvimento local?

Portanto, no âmbito do município estudado, há uma realidade de desenvolvimento local em curso, implementada pelos atores sociais e pelas políticas públicas municipais, passível de ser apreendida e analisada pela ótica da sustentabilidade, a partir da leitura que os atores sociais têm dessa realidade e do estudo dos indicadores de desenvolvimento sustentável disponíveis no referido município.

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Então, a partir dessa hipótese, a identificação e uso de indicadores de desenvolvimento sustentável de relevância para o âmbito municipal pode auxiliar a compreensão dessa realidade, numa tentativa de colaborar com a administração pública local para um diagnóstico que impulsione planejamentos direcionados ao desenvolvimento local com sustentabilidade.

Contudo, para alcançar essa intenção, é fundamental a consideração de alguns patamares específicos, dentre os quais podem ser destacados os seguintes: i) A verificação do que é desenvolvimento local sustentável para os atores sociais, identificando a percepção de sustentabilidade existente na sociedade, comparando-a com pressupostos teóricos da sustentabilidade, considerando as diferentes dimensões: econômica social, ambiental, institucional e econômica. ii) A identificação e sistematização dos indicadores de sustentabilidade disponíveis no município. iii) A identificação das instituições locais e as políticas públicas existentes relacionadas ao desenvolvimento local sustentável e quais são as ações destas no nível local. Por fim, iiii) Analisar e interpretar os dados encontrados nas etapas precedentes, com base em referenciais teóricos, sugerindo recomendações para viabilizar ou incrementar o desenvolvimento local sustentável.

Em sendo assim, a evolução da sociedade humana acontece mediante diferentes vivências, experiências, descobertas, resoluções, sejam estas individuais ou coletivas, as quais servem para embasar, direcionar ou reconstruir as relações dos humanos entre si, bem como com todo o ambiente. Na atualidade, os desafios enfrentados pela humanidade são complexos e interligados com a imbricada relação social/econômica/ambiental/institucional na qual se encontra a coletividade do século XXI.

Então, na busca de uma compreensão do atual momento da civilização humana é imprescindível realizar uma reflexão teórica fundamentada que sirva de embasamento na compreensão das situações locais existentes, pois, conhecendo-as, analisando-as, sem desconsiderar a constante interferência global no local, é que se pode edificar um conhecimento qualificado, individual e/ou coletivo, possibilitando assim a construção de condições que interfiram no desenvolvimento, isto é, na qualidade de vida, minimizando as conseqüências negativas nos aspectos socioambientais, os quais historicamente têm sido relegados a planejamentos secundários.

Para reiterar que a ação local deve vislumbrar o global Sachs (2002, p. 21-2) destaca a importância de “informações detalhadas sobre coisas concretas e locais”, pois “[…] todos temos preocupações universais sem perder a perspectiva local. […]”, porém é fundamental e indiscutivelmente necessária a realização de estudos sobre “temas locais como principais

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objetivos”, para alcançar concretamente o lugar com interferências que sejam ou venham a funcionar como colaborações para o desenvolvimento local sustentável.

Porém, essa nova tomada de atitudes também deve ser alicerçada com o desenvolvimento de um novo conhecimento: a leitura da realidade ao alcance de nossas vidas, ou seja, o local, o lugar, a cidade onde moramos, pois é neste ambiente que verdadeiramente acontece a vida humana. Então, neste sentido Andion (2003, p. 1004) lembra que o “local é sim o lócus privilegiado em que ocorre de fato o desenvolvimento. O espaço local contém as possibilidades futuras de construção de uma nova realidade, a partir da percepção dos atores e do uso dos próprios recursos existentes no local (desenvolvimento endógeno)”.

Também vale destacar Siena (2002), pois este cita que as necessidades humanas são diferentes para indivíduos e para culturas e o “modelo” proposto de desenvolvimento sustentável não tem como objetivo administrar o ecossistema, mas sim as atividades humanas que afetam e até inviabilizam os diversos processos ambientais.

Sendo assim, considerando a importância de operacionalizar o conceito de sustentabilidade, Bellen (2006) destaca que essa conceituação deve colaborar na verificação da presença ou ausência de sustentabilidade, além de identificar as potenciais ameaças à sustentabilidade.

Então, a escolha pelo desenvolvimento com sustentabilidade é uma decisão individual e, ao mesmo tempo, coletiva, além de ser, indiscutivelmente, basilar à continuidade da vida no planeta. Por isso, a realização de um estudo de indicadores de sustentabilidade local pode “fornecer informações sobre onde se encontra a sociedade em relação à sustentabilidade de um sistema” (Bellen, p, 28, 2006), podendo ser este uma alternativa para auxiliar na viabilização ou qualificação do desenvolvimento local com sustentabilidade, principalmente para uma gestão pública municipal, apesar de não existir consenso sobre como medir a sustentabilidade segundo Bellen (2006).

Para Bellen (2006) “a grande maioria dos sistemas de indicadores existentes e utilizados foi desenvolvida por razões específicas: são ambientais, econômicos, de saúde ou sociais e não podem ser indicadores de sustentabilidade em si. […] Os problemas complexos do desenvolvimento sustentável requerem sistemas interligados, indicadores interelacionados ou a agregação de diferentes indicadores”.

Além disso, Malheiros, Philipp Jr. e Coutinho, (2008, p. 16), também evidenciam que “ao se pensar em indicadores de sustentabilidade, torna-se essencial que eles partam não só de

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informações existentes. É preciso que eles sejam construídos a partir de problemas e situações reais”, concretas, locais, pois isso potencializa o uso de indicadores como uma ferramenta para um diagnóstico local, integrando diversas dimensões do desenvolvimento.

Portanto, ao ponderar que muitos estudos ainda consideram apenas a mensuração dos indicadores de sustentabilidade ou estudam determinados indicadores isoladamente, define-se isto como o grande desafio e, ao mesmo tempo, a justificativa de maior relevância para o presente projeto, ou seja, a investigação e interpretação de indicadores de sustentabilidade que supere a simples obtenção de dados, considerando a visão dos atores sociais locais sobre desenvolvimento local sustentável, o que também justifica a utilização de dois tipos de pesquisas no estudo de campo: a quantitativa e a qualitativa.

Através dessa tentativa de interligação poderá ser estabelecida uma conexão entre os diferentes indicadores locais que poderão ser identificados pela pesquisa, sendo essa a problemática que se pretende superar neste trabalho, pois Bellen (2006, p. 45) destaca que o estudo de indicadores possui “um potencial representativo dentro do contexto do desenvolvimento sustentável”, além de servir de ferramenta para “colocar em evidência as demandas de informações pelos usuários” (SILVA, 2008, p. 104), sendo o princípio fundamental para qualquer pesquisador que pretenda estudar e viabilizar conhecimentos de um determinado lugar, utilizando indicadores (quantitativos e/ou qualitativos). Deste modo, justamente essa potencialidade que deve ser conhecida, explorada e aproveitada de forma mais eficiente por uma gestão pública e a respectiva sociedade local.

Desta forma, para viabilizar o referido estudo é necessário uma organização metodológica a qual constou, num primeiro momento, de pesquisa bibliográfica e documental, inclusive consulta em meio eletrônico de dados oficiais referentes ao município de Entre-Ijuís, localizado na Região das Missões do Estado do Rio Grande do Sul.

Na sequência foram realizadas duas pesquisas: uma quantitativa, estruturada, e outra qualitativa com entrevista semi-estruturada (MINAYO, 1994), abrangendo uma amostra dirigida da população, ou seja, dos atores sociais locais como as lideranças não-governamentais e os atuais gestores públicos para delinear a visão destes sobre desenvolvimento local sustentável.

Os atores sociais locais entrevistados foram os atuais administradores públicos municipais (gestão 2009-2012) e demais representantes da sociedade local, totalizando 35 pessoas entrevistadas, as quais estão distribuídas em três grupos: administração pública

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municipal (Administradores Municipais) educadores municipais e estaduais (Educadores) e demais atores (Demais Atores), tendo neste último grupo representantes de instituições locais públicas e privadas sem ligação com a administração pública municipal.

Os entrevistados representantes da Administração Pública Municipal são o atual prefeito e vice-prefeito, os Secretários Municipais de 6 Secretarias, distribuídas em Secretaria de Administração, da Fazenda, da Educação, da Agricultura, de Obras e de Assistência Social, abrangendo todas as Secretarias Municipais atualmente existentes, perfazendo um total de 8 representantes da Administração Pública Municipal ligados ao Poder Executivo. Foram também entrevistados 6 vereadores de um total de 9, representantes estes do poder Legislativo. Esses dois grupos são considerados como ‘Administradores Municipais’, totalizando 14 entrevistados.

Outro setor de atores sociais está composto pelos Educadores Municipais e Estaduais classificados como ‘Educadores’, através do atual representante legal da direção escolar, completando 6 representantes nesse grupo.

Os Demais Atores sociais (Demais Atores) do município são representantes dos seguintes setores: Comércio (3), Religioso (1), Instituição Financeira e Cooperativa de Crédito (2), Segurança Civil e Militar (2), Sindicatos Trabalhadores Rurais (1), Entretenimento (1), Associação de Bairro e Clube de Mães (5) totalizando 15 entrevistados neste grupo, sendo classificados como ‘Demais Atores’.

A pesquisa qualitativa foi norteada a partir das seguintes questões: 1. O que é desenvolvimento local sustentável? 2. Existem formas de identificação e avaliação de indicadores de sustentabilidade no município? Quais são as formas de identificação e avaliação dos indicadores de sustentabilidade disponíveis e utilizados no município? 3. Quais são as instituições locais existentes relacionadas ao desenvolvimento local sustentável e quais são as ações destas em nível local?

Os respectivos registros da pesquisa qualitativa foram feitos com gravações orais, sem a identificação pessoal do entrevistado, apenas com códigos numéricos em ordem crescente, a fim de preservar as opiniões pessoais e o anonimato de cada entrevistado. As entrevistas qualitativas foram realizadas anteriormente as quantitativas, porém, ambas na mesma oportunidade, com a intenção de evitar acesso a qualquer tipo de informação que pudesse exercer alguma influência na opinião do entrevistado. O material das entrevistas está guardado em arquivo pessoal do entrevistador evitando acesso de terceiros às mesmas.

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A pesquisa quantitativa, estruturada, (MINAYO, 1994) foi realizada por meio de uma lista de Indicadores de Desenvolvimento Sustentável embasada nos Indicadores de Desenvolvimento Sustentável do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IDS/IBGE, 2008) onde o entrevistado classificou, conforme sua opinião, escolhendo entre três opções – tricotomia (LAKATOS, 1985): ‘Sim’, ‘Não’ ou ‘Não conhece a informação ou os termos do item’, marcando com um X a sua escolha, avaliando, conforme sua opinião, se a informação citada em cada indicador do IBGE-2008 está disponível, é utilizada e é relevante para o município de Entre-Ijuís (ANEXO A).

A tabulação dos dados quantitativos está organizada no capítulo 4, com um tipo de figura contendo três gráficos: a) Disponíveis, b) Utilizados, c) Relevantes - para cada dimensão (Ambiental, Social, Econômica e Institucional), além de outro tipo de figura com dois gráficos: d) Desconhecidos, e) Sem Resposta – para as mesmas quatro dimensões.

Concomitante a exposição das falas representativas dos entrevistados sobre as perguntas da pesquisa qualitativa há uma interpretação da visão dos atores sociais locais sobre desenvolvimento local sustentável, os indicadores que estes citam e as instituições e ações apontadas por estes como sendo as existentes no município que estão ligadas com o desenvolvimento local sustentável.

Também houve um levantamento dos indicadores de desenvolvimento local sustentável disponíveis e utilizados, em órgãos públicos ou não, através de documentos, órgãos oficiais municipais e endereços eletrônicos de instituições governamentais de pesquisa nacional ou estadual.

A partir das etapas precedentes adveio, fundamentalmente, duas constatações: i) a compreensão local para desenvolvimento sustentável; ii) as ações e políticas da administração municipal para o desenvolvimento local sustentável.

Então, após o uso de indicadores de desenvolvimento sustentável para um estudo, investigação, análise e compreensão de uma dada realidade, através de entrevistas realizadas em âmbito municipal, ou seja, local, chega-se a uma possibilidade concreta de apreender a realidade vigente, isto é, a percepção e a prática da sociedade local e da administração municipal referente ao desenvolvimento sustentável.

Portanto, esse processo viabilizou algumas percepções de caráter conclusivo e, principalmente, propositivo sobre a compreensão da administração pública municipal e da sociedade local com relação ao desenvolvimento local sustentável, pois foi possível apreender

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e documentar a visão local sobre desenvolvimento sustentável, comprovando a relevância de estudos locais para alcançar as necessárias compreensões e mudanças socioambientais indispensáveis no atual período histórico da sociedade humana, mas, principalmente, necessárias e fundamentais para qualificar e viabilizar o desenvolvimento local sustentável, com indivíduos conscientes da sua responsabilidade socioambiental, e para, além disso, que estas alcancem o patamar da concretude das idéias e dos ideais basilares de um desenvolvimento sustentável vitais à humanidade e à ecosfera Terra.

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2 UMA CONSTRUÇÃO HISTÓRICA: DO CRESCIMENTO ECONÔMICO AO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Devemos aprender a administrar a biosfera e os recursos terrestres num contexto de incerteza, de transformação permanente, de risco e de complexidade.

Ignacy Sachs, 2002

Os seres humanos que coabitam na Terra ou que ainda nascerão, fundamentalmente durante o século XXI, enquanto seres vivos mais evoluídos que outros animais por possuírem linguagem oral melhor elaborada, além de serem responsáveis pelo advento da escrita, entre outras características, impreterivelmente, necessitam ou necessitarão optar por um desses dois caminhos: continuar sendo um inquilino do planeta que usa recursos naturais e gera consequências socioambientais, permanecendo indiferente aos resultados de suas escolhas ou buscar o indispensável e necessário conhecimento e criticidade para lapidar a inigualável capacidade que o Homo sapiens possui de influenciar e transformar o seu entorno.

Deste modo, qual desenvolvimento prioriza-se como sociedade humana que vive e depende de uma biosfera em comum com diversos tipos de vida? A decisão de escolher um desses dois caminhos pode acontecer por influência do conhecimento, da prática, da vontade e da consciência de cada ser humano, de cada instituição pública ou privada, de cada instituição social, econômica, educacional, cultural, política, de cada esfera governamental, do regime político e das respectivas leis que regem uma nação, principalmente se for considerado que os seres humanos elegem determinadas resoluções embasados em formações, em experiências individuais e coletivas, seja em âmbito pessoal ou profissional, nas distintas atividades familiares ou sociais por eles vivenciadas.

Neste sentido, Veiga (2006, p. 30) demonstra que o ser humano e sua capacidade criativa norteiam-se por dois pilares: “a busca da eficácia na ação” e “a busca de propósito para a própria vida.” O autor denomina a primeira constatação como racionalidade instrumental ou formal e a segunda como racionalidade substantiva, ou dos fins (grifos do autor). Com essa análise fica evidente que a opção que a sociedade humana do século XXI necessita realizar é a revisão dos meios para redirecionar os fins, ou seja, assimilar e praticar as mudanças fundamentais nas práticas e nos valores humanos visualizando um desenvolvimento de fato sustentável.

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Assim sendo, é fundamental e necessária a realização de uma revisão de algumas etapas do desenvolvimento, suas evoluções conceituais, principalmente a partir do início do século XX, referenciando algumas concepções citadas por estudiosos e atualmente divulgadas na sociedade em geral.

2.1 DO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO AO DESENVOLVIMENTO COMO LIBERDADE

2.1.1 O crescimento econômico como fundamento do desenvolvimento

Historicamente, a discussão sobre desenvolvimento embasado pelo crescimento econômico vem acontecendo, mais precisamente, a partir do século XX, pois esse tipo de desenvolvimento ingressou na agenda internacional devido à necessidade de reconstrução dos países que enfrentaram a Segunda Guerra Mundial, tendo como foco o crescimento econômico baseado numa compreensão de percolação, pois “depois que a economia fosse colocada em movimento, o resto se seguiria naturalmente e os efeitos positivos do crescimento atingiriam gradualmente a base da pirâmide social” (SACHS, 2007, p. 291), determinando, predominantemente nesse pós-guerra, um desenvolvimento através de um “processo de redução da complexidade do tecido social e dos ecossistemas: transforma todo mundo em assalariado ou em miserável, e a “natureza em monoculturas” (ACSELRAD, s.d., p. 9).

Para Souza (2000), nesta primeira metade do século XX, além dos problemas causados pelas guerras, a maioria da população humana apenas preocupava-se em consumir bens e serviços, hábito implementado pelo modelo de produção fordista e, posteriormente, pela grande depressão econômica dos Estados Unidos (década de 30), que também gerou efeitos globais, demonstrando, com isso, a poderosa capacidade de problemas nacionais produzirem consequências internacionais.

Nesse período ou fase seminal1do desenvolvimento, as preocupações limitavam-se apenas à conservação dos recursos ou com a estética, onde as questões sociais e ambientais não tinham um campo fértil para sua discussão e disseminação. De maneira geral, as ciências estavam preocupadas com o desenvolvimento científico e tecnológico ou com a economia e

1 Souza (2000) define 4 fases distintas do desenvolvimento: fase seminal, fase de massificação, fase de

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com políticas públicas que auxiliassem na superação das crises econômicas da época. Não havia um interesse formalizado e institucionalizado, através de diagnósticos e planejamentos multidimensionais para médio e longo prazos, seja para questões ligadas ao desenvolvimento num sentido mais amplo, tão pouco, às questões ambientais (SOUZA, 2000).

De forma clara, a percepção e a vontade humana de concretizar o desenvolvimento, no contexto histórico explicitado acima, é uma visão puramente de crescimento econômico, ou seja, predomina a racionalidade econômica onde os lucros e as consequências destes é que determinam o que é desenvolvimento para o ser humano. É imprescindível destacar que este tipo de desenvolvimento é alcançado somente pela parte da população que tem acesso ao poderio econômico, portanto, são estes os que usufruirão deste modelo de desenvolvimento.

Em contrapartida, a parte da população que não alcança os objetivos econômicos desse tipo de desenvolvimento, tão pouco suas consequências materiais, também convive com diversos outros problemas como falta de acesso à educação e à saúde de qualidade, falta de moradia adequada, falta de saneamento básico. Então, é evidente que para o desenvolvimento existir na sociedade humana, não basta a dimensão econômica estar satisfeita, são essenciais outras dimensões que extrapolam a intervenção individual, sendo necessária a atuação do Estado para satisfazê-las.

Até a década de 70, do século XX, o desenvolvimento era visto como sinônimo de crescimento econômico, pela sociedade em geral, juntamente com o progresso material, o que levaria a melhoria na qualidade de vida e dos padrões sociais. Porém, no ano de 1972, em Estocolmo, capital da Suécia, foi realizada a Conferência da ONU sobre Meio Ambiente Humano, que hoje é considerada como um divisor dos rumos da humanidade e do Planeta, pois neste evento elaborou-se a Declaração sobre o Meio Ambiente Humano que destaca a necessidade de critérios e de princípios comuns que ofereçam aos povos do mundo inspiração e guia para preservar e melhorar o meio ambiente humano (SOUZA, 2000), através de 26 princípios norteadores para nações e sociedades.

Tal evento internacional corrobora com a denotação dada por Souza (2000) para esse período, pois, até então, as análises e conclusões sobre a problemática ambiental não passavam daquelas que atingiam a qualidade e o bem-estar da vida humana. Sendo, por isso, considerada pelo referido autor como uma fase de massificação, por ampliar a percepção da realidade referente às questões sociais e ambientais, aumentando a reflexão sobre políticas ambientais como instrumento de ação contra a degradação ambiental, com ênfase para a diminuição das poluições. Porém, tais políticas ainda eram vistas como obstáculos às

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atividades econômicas, o que gerou certa resistência à aceitação da agenda ambiental associada ao desenvolvimento e às agendas políticas nacionais e internacionais para sua institucionalização.

Apesar dessa resistência, segundo Souza (2000, p. 56), foi a partir da década de 70 que o mundo passou a “compreender a relação do meio ambiente com o desenvolvimento”, relacionando a problemática ambiental como um elemento limitador do crescimento econômico, demonstrando que esse modelo, até então difundido e aceito na maioria das nações ocidentais, não é duradouro, sustentável, como se acreditava, pois as conseqüências passam a ultrapassar as esferas locais, atingindo também as internacionais, comprometendo outras dimensões além do bem estar do ambiente humano como, inclusive, o próprio crescimento econômico.

Além disso, Nobre e Amazonas (2002) destacam para esta mesma época a importância de Paul Ehrlich, com The population bomb (1968) e o célebre The limits to growth, de Meadows et al., publicado em 1972. Estes trabalhos mostraram a relevância das questões ambientais, do crescimento e da industrialização, redirecionando a visão do desenvolvimento com ênfase puramente economicista, ampliando e incluindo outras dimensões como a social e ambiental.

O Relatório do Clube de Roma, como ficou conhecido o estudo de Meadows e colaboradores, foi inovador para a época, pois fez uso de cinco diferentes variáveis, segundo Nobre e Amazonas (2002, p. 29): “industrialização (crescente), população (em rápido crescimento), má nutrição (em expansão), recursos naturais não-renováveis (em extinção) e meio ambiente (em deterioração)”2.

Além desse diferencial nas variáveis, antes desse documento os estudos baseavam-se principalmente em dois pontos: primeiro, o crescimento demográfico e a escassez de recursos, servindo para a percepção dos limites do crescimento econômico. Segundo, considerando a natureza como sendo destinada a fornecer recursos à vida do ser humano, além de analisar os problemas ambientais através das relações sócio-econômicas da acumulação capitalista (RODRIGUES, s.d.).

2 Vale citar duas importantes objeções desses autores ao The limits to growth, de Meadows et al., publicado em 1972. A primeira destaca que o modelo é “altamente agregado”, pois não faz diferenciação por regiões, países, cidades e campo, nem entre Norte e Sul do globo. Em segundo lugar, o modelo pressupunha que nenhuma alteração significativa aconteceria no desenvolvimento social, político, técnico ou econômico. Sendo que o debate em torno do livro se concentrou no “crescimento zero” como salvação aos problemas. NOBRE, Marcos; AMAZONAS, Mauricio de Carvalho, 2002, p. 30.

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Com essas novas percepções, Souza (2000) denomina esse período do desenvolvimento como a fase de globalização I, justamente porque, nesse período, as consequências ambientais começaram a limitar o crescimento econômico, em distintos locais, introduzindo a percepção de que é melhor prevenir do que remediar, incluindo, portanto, a problemática ambiental nas discussões e planejamentos sobre desenvolvimento em distintos países.

De forma mais direta, Leis (2002) interconecta as práticas do modelo de desenvolvimento economicista com a complexidade dos problemas gerados a partir dessa racionalidade ao citar que

Uma abordagem realista da governabilidade ecológica global demanda a emergência de uma visão consensual do passado e do futuro para poder realizar os complexos

trade-offs necessários entre a produção econômica, o consumo, o crescimento populacional e a qualidade ambiental, e assim tornar viável a transição do modelo de desenvolvimento atual para um outro que seja sustentável (2002, p. 16-7).

Neste sentido, Leis (2002, p. 17), completa dizendo que “os valores, práticas e instituições em vigor já não produzem “ordem” (entendida como o conjunto de fatores que garantem a convivência humana e a evolução humana), senão desordem”.

Complementando essa noção de desenvolvimento, para Furtado (2000), há dois sentidos para o conceito de desenvolvimento. O primeiro, de maneira resumida, está relacionado com a evolução de produção, acumulação e progresso das técnicas, aumentando a produtividade, o qual está conectado com a visão economicista da primeira metade do século XX. Já a segunda acepção desse autor para desenvolvimento diz respeito ao grau de satisfação das necessidades humanas, onde considera as necessidades básicas como alimentação, vestimenta e moradia. Esse segundo significado demonstra o quanto o desenvolvimento possui distintas percepções, possibilidades, tanto quanto, há distintos países, com seus respectivos povos e formações histórico-culturais.

Portanto, um dos maiores desafios num estudo sobre desenvolvimento no século XXI, é justamente conseguir ver além desse horizonte cartesiano, economicista, materialista, que a humanidade herdou dos séculos XIX e XX. Para tanto, é fundamental captar, assimilar e praticar o valioso e indispensável significado do chamado saber ambiental, pois o ambiente natural, o ambiente social, o ambiente cultural-histórico, o ambiente tecnológico-científico, todos estes são geradores de muitos conflitos, de muitas consequências, debates, acordos, desacordos, nacionais e internacionais (LEFF, 2001), cabendo ao próprio ser humano, buscar

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e ampliar os conhecimentos necessários para a compreensão desse novo saber, dessa outra cultura, a qual anseia-se que seja mais justa e sustentável.

Leff (2001) continua e usa uma interessante comparação entre o ambiente e uma figura geométrica com a finalidade de ilustrar os diversos entrelaçamentos que são necessários para acontecer este novo desenvolvimento, isto é, para esse autor o ambiente

É o prisma que recebe o raio concentrado de luz projetado por este mundo homogeneizado da ciência, do progresso e da globalização, para refratar um feixe de luzes divergentes, de cores e matizes diversos, onde se entrelaçam tempos ontológicos, tempos históricos, tempos do pensamento e tempos subjetivos. […] é um olhar para a emergência e construção deste conceito de ambiente que ressignifica as concepções do progresso, do desenvolvimento e do crescimento sem limite, para configurar uma nova racionalidade social que se reflete no campo da produção e do conhecimento, da política e das práticas educativas. […] O saber ambiental sacode o jugo de sujeição e desconhecimento ao qual foi submetido pelos paradigmas do conhecimento. (LEFF, 2001, p. 10-2)

Enfim, atualmente, o processo de crescimento econômico historicamente utilizado pelos países desenvolvidos não é mais tido como um modelo a ser reproduzido e implementado nos países em desenvolvimento ou subdesenvolvidos para alcançar desenvolvimento semelhante àqueles países. Essa nova compreensão do desenvolvimento já está culturalmente institucionalizada em distintos países e sociedades, no início do século XXI, mas a antiga prática desenvolvimentista, economicista, ainda resiste, pois prevalecem os hábitos consumistas, a busca pela eficácia na produção e a obtenção de lucro e acúmulo de riquezas, usando o ambiente natural, desperdiçando os recursos naturais e as fontes de energia.

Deste modo, Leff (2001) cita e ao mesmo tempo considera a racionalidade ambiental como sendo

uma resposta social à racionalidade que teve seu momento histórico de construção, de legitimação e de tecnologização. A racionalidade ambiental surge de outros princípios, mas dentro da racionalidade capitalista que plasma a realidade econômica, política e tecnológica dominante. O processo que vai de seu surgimento até a consolidação de suas propostas é um processo de transição para a sustentabilidade, caracterizado pelas oposições de perspectivas e interesses envolvidos em ambas as racionalidades, mas também por suas estratégias de dominação, suas táticas de negociação e seus espaços de complementariedade. (LEFF, 2001, p. 142-3)

Além disso, Leff (2001, p. 143) também atenta que “a constituição de uma racionalidade ambiental e a transição para um futuro sustentável exigem mudanças que

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transcendem o confronto entre as duas lógicas (econômica-ecológica) opostas”. Logo, no século XXI, essa consideração é sabidamente um dos pilares constitutivos do desenvolvimento sustentável, pois, não é a defesa do completo abandono da práxis economicista que se persegue, mas, porém, a reorientação dos meios para atingir objetivos que possibilitem à sociedade uma outra alternativa enquanto habitante de um ekos que já demonstra importantes limites ecológicos. Assim,

a racionalidade ambiental não é a extensão da lógica de mercado à capitalização da natureza, mas a resultante de um conjunto de significações, normas, valores, interesses e ações socioculturais; é a expressão do conflito entre o uso da lei (de mercado) por uma classe, a busca do bem comum com a intervenção do Estado e a participação da sociedade civil num processo de reapropriação da natureza, orientando seus valores e potenciais para um desenvolvimento sustentável e democrático (LEFF, 2001, p. 143).

Portanto, justamente o questionamento sobre a visão economicista, considerando seu modus operandi e sua finalidade – os quais têm gerado um conjunto de externalidades em escala planetária – que determina, que delibera a emergência e a urgência da necessidade de repensar o desenvolvimento enfatizando outras dimensões que vão além da econômica, como a social, a cultural, a política, a espacial e, principalmente, a ambiental, pois, até então, estes outros elementos estão sendo pouco ou nada acatados nas resoluções, planejamentos e políticas, seja em instituições públicas ou privadas, seja em âmbito nacional ou mundial.

2.1.2 Do Desenvolvimento Economicista à Inclusão de outras Dimensões ao Desenvolvimento

De maneira geral, no final do século XX, até onde predominantemente vigorou o desenvolvimento como crescimento econômico, processo este transferido dos países industrializados para os não-industrializados, a qualidade de vida humana teve uma melhora considerável, se for observado que

A população cresceu de 1,7 a 6 bilhões de pessoas e a expectativa de vida, nos países industrializados, subiu de 45 anos para 75 anos. O progresso foi ainda mais espetacular nos países pobres: de 25 anos, em 1900, para 63 anos em 1985. Para as mulheres, o risco de morte no parto passou a ser 40 vezes menor, a partir de 1940. Ao início do século, 9 entre 10 pessoas viviam no campo; estamos nos aproximando do momento em que a população rural e a urbana serão equivalentes. (Sachs, 2001, p. 156)

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Esses são alguns indicadores que podem demonstrar as consideráveis mudanças que aconteceram na sociedade humana neste último século. Porém, apesar de estar associados às mudanças positivas na vida dos seres humanos, vale ressaltar que esse modelo de desenvolvimento econômico também produziu outras consequências, de cunho social, ambiental e até econômico.

Do mesmo modo, por exemplo, “na França, entre 1896 e 1998, a produtividade da mão-de-obra aumentou em 16 vezes, permitindo a decuplicação do PNB com uma força de trabalho apenas 20% maior e a redução quase pela metade das horas trabalhadas por pessoa” (ALTERNATIVES ECONOMIQUES, HORS-SÉRE, n. 42, 1999 apud SACHS, 2001, p. 156).

Neste sentido, Veiga (2006), explica que tais defensores dessa linha desenvolvimentista têm uma visão quantitativa, pois são utilizadas, predominantemente, tentativas de demonstrar uma correspondência entre desenvolvimento e riqueza, usando apenas o PNB per capita e outros fatores econômicos para avaliar o desenvolvimento.

Furtado, de certa forma, antevendo as consequências desse tipo de desenvolvimento, bem como as dificuldades das nações não-industrializadas em adotá-lo, chama atenção, já em 1974, quando denomina esse desenvolvimento como um mito, uma ilusão, uma utopia. Ele esclarece que

os mitos operam como faróis que iluminam o campo de percepção do cientista social, permitindo-lhe ter uma visão clara de certos problemas e nada ver de outros, ao mesmo tempo que lhe proporciona conforto intelectual, pois as discriminações valorativas que realiza surgem ao seu espírito como um reflexo da realidade objetiva (FURTADO, 1974, p. 15-6).

Noutro ponto, Furtado (1974), destaca que a crença de que a reprodução do modelo econômico, tecnológico, industrial, oferecida pelos países industrializados, de uma nação desenvolvida para qualquer outra que almeje esse patamar econômico, não passa de uma ilusão, pois as bases de formação social, histórica, cultural dos países entre si, são completamente distintas, demonstrando, com isso, as potenciais dificuldades nessa “reprodução de modelo de desenvolvimento”.

Além disso, as conseqüências socioambientais que este modelo gerou, e ainda gera, são consideravelmente importantes, para não serem citadas e consideradas, pois

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as grandes metrópoles modernas com seu ar irrespirável, crescente criminalidade, deterioração dos serviços públicos, fuga da juventude na anti-cultura, surgiram como um pesadelo no sonho do progresso linear em que se embalavam os teóricos do crescimento. Menos atenção ainda se havia dado ao impacto no meio físico de um sistema de decisões cujos objetivos últimos são satisfazer interesses privados (FURTADO, 1974, p. 16-7).

Portanto, os indicadores econômicos, de riqueza, de produtividade, de longevidade que norteiam o desenvolvimento econômico não são suficientemente consistentes, confiáveis, pois há inúmeros processos qualitativos como os históricos, culturais, políticos, sociais, ambientais que interferem no desenvolvimento, desde o âmbito local, nacional até o internacional, direcionando a compreensão do que é desenvolvimento para uma nova e ampla definição.

Entretanto, durante o século XX, ao mesmo tempo em que muitos países buscavam implantar em seu território as práticas das nações industrial e economicamente desenvolvidas, aconteceram determinados e importantes eventos de caráter mundial que foram preponderantes para uma clarificação de que esse modelo de desenvolvimento poderia originar, além do desenvolvimento econômico, conseqüências não tão positivas nos campos sociocultural e ambiental.

Segundo Nobre e Amazonas (2002, p. 35), o UNEP (United Nations Environment Program) Programa Ambiental da ONU de 1975, dá a seguinte formulação para “ecodesenvolvimento”3: é o “desenvolvimento em níveis local e regional […] consistentes com os potenciais da área envolvida, dando-se atenção ao uso adequado e racional dos recursos naturais e à aplicação de estilos tecnológicos”.

Complementando, Layrargues (1997, p. 3) explicita que o ecodesenvolvimento é uma abordagem ao desenvolvimento que enfoca período de tempo mais longo, como décadas ou séculos, “onde deve haver uma solidariedade diacrônica com as gerações futuras sem que, no entanto, comprometa a solidariedade sincrônica com a geração presente” […], o que se alinha à conceituação de desenvolvimento sustentável do Relatório Bruntdland4.

Montibeller Filho (1993, p. 133) esclarece que a solidariedade sincrônica existe “na medida em que desloca a lógica da produção para a ótica das necessidades da maioria da população; e uma solidariedade diacrônica, expressa na economia de recursos naturais e na perspectiva ecológica garantindo às gerações futuras as possibilidades de desenvolvimento”.

3

Conceito formulado primeiramente por Maurice Strong, primeiro diretor-executivo do UNEP e, que, posteriormente, viria a integrar a chamada Comissão Brundtland, conforme Nobre e Amazonas, 2002.

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Portanto, o ecodesenvolvimento propõe uma organização local, aprendizagem e difusão das inovações, da cultura e dos valores próprios do território, bem como de políticas de desenvolvimento, considerando as condições econômicas, naturais, sociais, culturais do local ou território em questão, fortalecendo as possibilidades de alcançar os objetivos devido à coesão entre os atores locais envolvidos, porém, sempre deve ser considerado que a interferência nacional e global é inevitável neste momento histórico intensamente globalizado e com meios de comunicação fortemente disseminados nos distintos lugares do planeta.

Outro ponto interessante a ser considerado é como tornar o conceito de ecodesenvolvimento operacional, pois, na prática, muitas são as dúvidas que ainda pertencem a este campo teórico. Para tanto, Layrargues (1997, p. 3) enfatiza

a necessidade do amplo conhecimento das culturas e dos ecossistemas, sobretudo em como as pessoas se relacionam com o ambiente e como elas enfrentam seus dilemas cotidianos; bem como o envolvimento dos cidadãos no planejamento das estratégias, pois eles são os maiores conhecedores da realidade local.

Porém, nos anos 70, o conceito de ecodesenvolvimento não teve uma considerável aceitação, justamente porque defendia a descentralização das resoluções da administração pública, além de não ter conseguido sensibilizar suficientemente pesquisadores, administradores e a sociedade em geral.

Contudo, existem ainda algumas diferenças a serem ponderadas entre os dois conceitos. Sendo assim, Maimon apud Montibeller Filho, destaca diferenças básicas entre Ecodesenvolvimento e Desenvolvimento Sustentável:

o primeiro volta-se ao atendimento das necessidades básicas da população, através de tecnologias apropriadas a cada ambiente, partindo do mais simples ao mais complexo; o segundo, Desenvolvimento Sustentável, apresenta a ênfase em uma política ambiental, a responsabilidade com gerações futuras e a responsabilidade comum com os problemas globais (1993, p.137).

Tais conceituações contribuíram para que na década de 80 iniciasse um tempo de percepção da necessária “Revolução Ambiental” (Nicholson)5 – sendo esta uma revolução através de transformações sociais, culturais, econômicas, políticas e ambientais – no pensamento mundial com relação ao desenvolvimento (economicista) que até então foi tido

5 O termo “Revolução Ambiental” e o respectivo autor do mesmo estão assim citados e destacados em Sachs, 2002, p. 48.

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como o melhor caminho para um país e sua sociedade. Souza considera esse momento como a fase da globalização II, pois

a degradação dos principais recursos ambientais, vistos até então sob a ótica do efeito que teriam sobre o desenvolvimento econômico, passam a ser vistos sob a ótica dos efeitos sobre o equilíbrio dos ecossistemas e sobre a sustentabilidade da própria vida no planeta. (SOUZA, 2000, p. 67).

Assim sendo, devido a diversos eventos e estudos internacionais6 que vêm acontecendo desde a década de 70, os líderes políticos, os estudiosos sociais, econômicos e, principalmente, os cientistas ambientais (que já estavam destacando-se), apreendem e passam a disseminar uma nova visão do que pode ser o desenvolvimento para uma nação e o seu povo, percebendo que os problemas ambientais considerados locais também eram globais, pois afetavam diretamente o desenvolvimento de todas as formas de vida, ou seja, de todo e qualquer ambiente do planeta.

Neste ponto, é interessante destacar que em 1983, a constituição da Comissão Mundial de Meio Ambiente e Desenvolvimento criada pelo UNEP/ONU7, que passa a ser chamada de Comissão Brundtland, pois foi chefiada pela então primeira-ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland. Tal Comissão elaborou o Relatório Our Common Future (Nosso Futuro Comum) também conhecido como Relatório Brundtland, publicado em 1987, onde se consolida um primeiro conceito de desenvolvimento sustentável que alcança ampla difusão mundial, “como sendo aquele que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras satisfazerem suas próprias necessidades”. (SOUZA, 2000, p. 72)

Em tal estudo acontece uma importante ligação entre os problemas sociais, econômicos e ecológicos da sociedade global, além de destacar a responsabilidade das presentes gerações com o futuro, mostrando a mudança de visão que ora iniciava, isto é, de que desenvolvimento e questões ambientais não são temas contraditórios, formando assim uma nova percepção de como o desenvolvimento sustentável pode tornar-se realidade, ou seja, institucionalizando o conceito de desenvolvimento sustentável dentro das nações, nas

6 Primeira Conferência das Nações Unidas, sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente, Estocolmo, em 1972; Clube de Roma (1971-1976) com: Limites do Crescimento, A Humanidade na Encruzilhada e Reformando a Ordem Global: um relatório para o Clube de Roma; O Relatório Global 2000 para o Presidente (1980). SOUZA, Renato Santos de, 2000, p. 58-64. Outro autor destaca o Encontro de Founex (1971), a Conferência de Estocolmo, os quais inspiraram a Declaração de Cocoyoc (1974) e o influente relatório What Now (1975) sobre desenvolvimento endógeno, auto-suficiente e orientado para as necessidades (em lugar de direcionado pelo mercado), em harmonia com a natureza e aberto às mudanças institucionais. SACHS, Ignacy, 2002, p. 48 e 53. 7

UNEP: Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente – ONU; PNUMA: Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente – BRASIL.

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distintas instituições e na sociedade humana. (SOUZA, 2000; NOBRE e AMAZONAS, 2002; CAMARGO, 2003).

Para Nobre e Amazonas (2002) esse conceito possui força justamente na sua imprecisão, o que facilitou sua aceitação pelas diferentes abordagens de desenvolvimento em nível mundial. Ainda tentando conceituar desenvolvimento sustentável, Nobre (2002) pondera o termo desenvolvimento como um substantivo, principalmente se este for considerado como um processo, um desenvolver-se (individual, coletivo, local, regional, internacional, institucional). E, sendo substantivo, possui um adjetivo que traz qualificação, modo de ser ou estado, no caso, sustentável.

A IUCN (International Union for Conservation of Nature and Natural Resources) incorporou o termo sustentabilidade nas discussões internacionais. Esta consideração foi levada até a UNEP de 1982 em Nairobi, na qual se obteve uma nova concertação entre os países participantes, com a proposta de criação de uma Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (World Commission on Environment and Development – WCED) a já citada Comissão Brundtland, segundo Nobre e Amazonas (2002).

No entanto, para o Secretário da Comissão, Jim MacNeill, o principal problema a ser enfrentado era a dívida externa da África e da América Latina, pois essa situação era um grave limitador para que tais regiões pudessem preocupar-se com questões de ordem social, econômica e ecológica (NOBRE e AMAZONAS, 2002), sendo esta problemática – juntamente com a injusta distribuição de alimentos, com o precário sistema de saúde pública e a catastrófica educação pública (que são os pilares fundamentais para a vida humana) – uma barreira ainda encontrada em muitos países no momento de iniciar ou de priorizar estudos, discussões e incentivos para a realização de diagnósticos, planejamentos e/ou políticas públicas que visem o desenvolvimento sustentável.

Portanto, o conceito de desenvolvimento sustentável da Comissão Brundtland foi delineado, principalmente, por cunho político e institucional, mais do que um relatório ambiental, pois houve, em certo momento, uma estratégia de institucionalização da problemática ambiental e, noutro, uma aliança com os países em desenvolvimento. Sobre o primeiro ponto, a presidenta da Comissão, Gro Harlem Brundtland, afirma que

A ideia de sustentabilidade e as questões interligadas do meio ambiente e do desenvolvimento elevaram-se agora ao topo da agenda política internacional. Nossas preocupações comuns quanto ao futuro podem criar impulso para uma transformação. […] Nosso relatório tem por objetivo aumentar o nível de

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conscientização dos governos, agências de auxílio e outras que se ocupam com o desenvolvimento, quanto à necessidade de integrar considerações ambientais no planejamento e nas tomadas de decisão econômicas em todos os níveis. (NOBRE e AMAZONAS, 2002, p. 40)

Portanto, o desenvolvimento sustentável passou a ser assimilado de maneira diferenciada e, de um modo geral, alcançou uma considerável divulgação por estudiosos, políticos, tecnocratas e a população em geral.

Contudo, cabe relembrar que os Relatórios do Clube de Roma, no então ano de sua publicação, 1972, já apontavam para o fato de que os países em desenvolvimento não poderiam seguir a mesma trajetória dos desenvolvidos, tratando-se de uma clara contradição, pois, esta visão ainda persistia nos anos 80, denotando a lenta evolução da compreensão do que seria desenvolvimento para além do crescimento econômico ou ainda mais vagaroso se considerar o desenvolvimento na sua forma sustentável, pois se sabe que este último engloba distintas dimensões – que vão muito além do desenvolvimento econômico, historicamente ambicionado.

Neste sentido, o primeiro Relatório sobre o Desenvolvimento Humano, publicado em 1990, elaborado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento foi um diferencial na visão do que é desenvolvimento, pois segundo Veiga nesse período

O crescimento da economia passara a ser entendido por muitos analistas como elemento de um processo maior, já que seus resultados não se traduzem automaticamente em benefícios. Percebera-se a importância de se refletir sobre a natureza do desenvolvimento que se almejava. Ficara patente, enfim, que as políticas de desenvolvimento deveriam ser estruturadas por valores que não seriam apenas os da dinâmica econômica (VEIGA, 2006, p. 32).

Então, este Programa da ONU e seu respectivo documento serviram como formadores de uma fundamentação para ampliar a visão sobre o que deve ser considerado como relevante para o desenvolvimento de uma nação e de sua sociedade, proporcionando um redirecionamento nas discussões mundiais, a partir deste período, sobre desenvolvimento, as relações humanas para com o ambiente planetário e suas consequências.

Assim sendo, com esse importante arcabouço mundialmente divulgado, acontece a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento de 1992, a Rio-92, a qual ocupa lugar de destaque na história recente dos eventos mundiais, por ter sido determinante na institucionalização da problemática ambiental na agenda política

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