UNIVERSIDADE
FEDERAL DE SAN TA CATARINA
CENTRO
SOCIO-ECONOMICO
DEPARTAMENTO
DE
CIENCIAS
DA
ADMINISTRACÃO
RAZÃO
SUBSTANTIVA
E
RAZÃO
INSTRUMENTAL
NA
PRÁTICA
ORGANIZACIONAL
DO
CENTRO
CULTURAL
ZÉ
PERELLO:
UM
ESTUDO DE CASO
ANTÔNIO
AUGUSTO
KRUMENAUER
LORSCHEITER
DEPARTAMENTO
DE
CIENCIAS
DA
ADMINISTRAÇÃO
RAZÃO
SUBSTANTIVA E
RAZÃO
INSTRUMENTAL
NA
PRÁTICA
ORGANIZACIONAL
CENTRO CULTURAL
ZÉ
PERELLOz
UM
ESTUDO DE CAsO
‹ANTÔNIO
AUGUSTO
KRUMENAUER
LORSCHEITER
Disciplina i
Estágio -supervisionado Obrigatório
Orientado por
Prof
EloiseHelena
Livramento
Dellagnelo, Dra.Área
de atuaçãoAdministração de Recursos
Humanos
Este trabalho de conclusão de curso foi apresentado perante
Banca
Examinadora, que atribuiu a nota 10(DEZ)
ao alunoAntônio
Augusto
Krumenauer
Lorscheiter,matrícula 9610106-7,
na
disciplina de Estágio Supervisionado-
CAD
5236.Banca
Examinadora:§¿Q
.M
4/zz.
Profg Eloíse
Helena
Livramento Dellagnelo, Dra. PresidenteProf* Edinice
Mei
Silva, Dra. `Membro
Í `f\f\‹\Qu` l ,VQ
ã
N
Prof-5
Rosime
' e Fátima C.da
Silva, Dra.AGRADECIMENTOS
À
prof* EloíseHelena
Livramento Dellagnelo pela orientaçãona
,elaboraçãodeste trabalho acadêmico.
À
comunidade
acadêmicada
UFSC;
seus professores, alunos e servidores.Aos
sujeitos de pesquisado
Centro CulturalZé
Perello pela colaboração,facilidade de acesso às informações durante a elaboração deste trabalho e pelo
empenho
em
apresentar às criançasdo
Pântanodo
Sul omundo
da
arteecultura.
À
minha
família quecompreendeu
minha
etema
inquietude.A
todos aquelesque
deuma
forma
ou
outra contribuem para o sucesso dasorganizações sociais, visando o equilíbrio
da emancipação do
homem,
redução das desigualdades sociais e apromoção
da
solidariedadehumana.
Ao
povo
de Florianópolis por seu jeito hospitaleiro.adquira
um
sentimento,um
senso prático daquilo que vale apena
ser empreendido, daquiloque
é belo,do que
émoralmente
correto.A
não
serassim, ele se assemelhará,
com
seus conhecimentos profissionais,mais
aum
cão ensinadodo que
auma
criaturaharmoniosamente
desenvolvida.Deve
aprender a
compreender
as motivações doshomens,
suas quimeras e suas angústias para determinarcom
exatidão seu lugar exatoem
relação a seuspróximos
e à comunidade”.RESUMO
LORSCHEITER,
AntônioAugusto
Krtnnenauer.Razão
substantiva e razão instrumentalna
prática organizacionaldo Centro
CulturalZé
Perello:um
estudo de caso. Orientadora: EloíseHelena
Livramento Delagnello. 2002. 134f. Departamento de Ciênciasda
Administração. Trabalho de conclusão de curso. (Graduação
em
Administração).Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.
O
presente trabalho acadêmico, desenvolvido entremaio
e setembro de 2002, se constituiem
investigação empírica etem
como
tema
a racionalidadena
práticaorganizacional. Buscou-se
como
objetivo principal verificar a racionalidade (instrumentalou
substantiva) predominante
na
prática organizacionaldo
Centro CulturalZé
Perello(CCZP),
constituído
como
Organizaçãoda
Sociedade Civilsem
fins
lucrativos,no
distrito Pântanodo
Sul,
na
cidade de Florianópolis.VA organização foi estudada sob enfoque da racionalidadepredominante nos seguintes processos organizacionais : hierarquia e normas, valores
objetivos,
tomados
de decisão e controle, divisãodo
trabalho,comunicação
e relaçõesinterpessoais, ação social e relações ambientais, reflexão sobre a organização, conflitos,
satisfação individual,
dimensão
simbólica.A
abordagem
adotada foi qualitativacom
a utilizaçãodo
estudo de casocomo
método
de investigação.A
teoriada
delimitação dossistemas sociais de
Ramos
(1989) que se apresentacomo
altemativa para reformular a teoriaorganizacional assentada
na
sociedade centradano mercado
eno paradigma
da racionalidade instrumental foi adotadacomo
basedo
referencial teórico.A
metodologia demensuração da
racionalidade nos processos organizacionais utilizada para a coleta e análise dos dados foi a de Serva (l997a).Como
resultado, verificou-se a predominânciada
racionalidade substantivanos processos organizacionais analisados. Esta constatação era esperada, principalmente pelo fato
da
organização estudada ser enquadradacomo
categoriado
Terceiro Setor.Palavras chaves: processos organizacionais, racionalidade instrumental, racionalidade
LISTA
DE
QUADROS
... .. 1INTRODUÇAO
... .. 2TEMA-PROBLEMA
... .. 3RELEVÂNCIA
DO ESTUDO
... ._ 4. 4.1 4.2 5REFERENCIAL
TEÓRICO
... .. 5.1 522 5.3 5.4 A 5.5 5.6 5.7 5.8 5.9 6METODOLOGIA
... .. 6.1 6.2 6.3 6.47
CENTRO
CULTURAL
ZÉ
PERELLO'
... ..7.1
Objetivos Específicos ... ..
Ação substantiva x instrumental ... ..
Terminologia e identidade do setor .... ..
OBJETIVOS
... ..Objetivo Geral ... ..
---u
Transformação do conceito razão ... ..
Racionalidade e organização ... ..
Rumo
auma
nova ciência das organizações ... ..A
Teoria da Delimitação dos Sistemas Sociais ... ..Razão instrumental x razão substantiva ... ..
Organizações sociais:
um
espaço social alternativo ... ..Organizações sociais e a aproximação do mercado ... ..
Tipo de pesquisa ... ..
Universo e amostra ... ..
Coleta de dados ... ..
Tratamento, análise e interpretação dos dados ... ..
7.2
Os
processos organizacionais como categorias de análise da racionalidade preponderante na prática organizacional doCCZP
... .. 68 7.2.1 7.2.2 7.2.3 7.2.4 7.2.5 7.2.6 7.2.7 7.2.8 7.2.9 7.2.10 7.2.11 7.2.12 Hierarquia e normas .... 69 Valores e objetivos... 70 Tomada de decisão... 75 Controle ... 76 Divisão do trabalho ... .. 78Comunicação e relações interpessoais ... .. 79
Ação social e relações ambientais ... 81
Reflexão sobre a organização ... 83
Conflitos ... 84
Satisfação individual 86 Dimensão simbólica ... 87
Quadro resumo de análise ... .. 89
8
CONCLUSOES
E
RECOMENDAÇÕES
... ..919
REFERÊNc|As
B|BL|oGRÁ|=|cAs
... ..95APÊNDICE
-
ROTEIRO
DE
ENTREVISTA
... ..98QUADROO1
QUADROO2
QUADROQ3
QUADROO4
QUADRoo5
QUADRooõ
QUADRQO7
QUADRoos
QUADROO9
QUADRo1o
QUADRO11
QUADRO12
QUADRO13
O
MODELO
DOS
TRÊS
SETORES
'RACIONALIDADE
PREDOMINANTE
NO
PROCESSO
ORGANIZACIONAL
-
HIERARQUIA
E
NORMAS
RACIONALIDADE
PREDOMINAN
TE
NO
ORGANIZACIONAL
-
VALORES
E
OBJETIVOS
RACIONALIDADE
PREDOMINAN
TE
NO
ORGANIZACIONAL
-
TOMADA
DE
DECISÃO
RACIONALIDADE
PREDOMINANTE
NO
ORGANIZACIONAL
-
CONTROLE
RACIONALIDADE
PREDOMINAN
TE
NO
ORGANIZACIONAL
-
DIVISAO
DO
TRABALHO
RACIONALIDADE
PREDOMINAN
TE
NO
ORGANIZACIONAL-COMUNICACAO
E
INTERPESSOAIS
RACIONALIDADE
PREDOMINAN
TE
NO
ORGANIZACIONAL
-
AÇÃO
SOCIAL
E
AMBIENTAIS
RACIONALIDADE
PREDOMINANTE
NO
PROCESSO
PROCESSO
PROCESSO
PROCESSO
PRoCE§so
RELAÇOES
PRocE§so
RELAÇOES
PROCESSO
ORGANIZACIONAL
-
REFLEXÃO SOBRE
A
ORGANIZAÇÃO
RACIONALIDADE
PREDOMINANTE
ONO
ORGANIZACIONAL
-
CONFLITOS
RACIONALIDADE
PREDOMINAN
TE
NO
ORGANIZACIONAL
~
SATISFAÇÃO
INDIVIDUAL
RACIONALIDADE
PREDOMINAN
TE
,NO
ORGANIZACIONAL
-
DIMENSÃO
SIMBOLICA
QUADRO
RESUMO
DE
ANÁLISE
PROCESSO
PROCESSO
PROCESSO
1
1NTRonUÇÃo
O
presente relatório finaltem
como
finalidade apresentar o resultadosda
pesquisaempreendida
como
trabalhoacadêmico
de conclusão de curso exigidocomo
requisito paragraduação
no
curso de Administraçãoda
Universidade Federallde Santa Catarina(UFSC)
no
semestre 2002/2. _ V
O
tema
de pesquisa foi a racionalidadecomo
fundamento
das açõesque
compõem
a prática organizacional.
Como
objetivo principal, buscou-se oexame
e identificaçãoda
racionalidade (instrumentalou
substantiva) preponderantena
prática organizacionaldo
CentroCultural
Zé
Perello, Organizaçãoda
Sociedade Civil de Interesse Público esem
fins
lucrativos,
que
também
se auto-qualifica de OrganizaçãoNão
Governamental, constituída por iniciativa de algtmsmoradores do
Distrito Pântanodo
Sul,comtmidade
de pescadoresda
Ilha de Santa Catarina, cidade de Florianópolis.Como
a organização pertence ao setor das organizações sociais, o estudotambém
abordou este assunto paramelhor
caracterizar estanova forma
organizacionalque
surgeno
campo
de estudoda
Administração.Devido
auma
série de considerações do contexto atual,acredita-se
que
a tendência destas organizações para apresentar o predomínioda
racionalidade substantivacomo
diretriz de sua prática organizacionalpode
estar sofrendo redução, causadapela crescente aproximação, realizada
na forma
de parcerias,com
o mercado. Istoprovoca
a competição entre as organizaçõesna
captação de recursos escassos.A
investigação empírica deabordagem
qualitativa e delineada sob aforma de
estudo de caso foi desenvolvida demaio
a agosto de 2002.Na
fase exploratória foidesenvolvida a pesquisa bibliográfica
da
literaturaque
circunscreve otema
propostode
forma
a levantar
o
conhecimentoque configura
o atual estadoda
arte desta linha de pesquisa.A
sustentaçãodo
estudo deu-se pela teoriada
delimitação de sistemas sociais deRamos
(1989).O
quadro de análise e escala para mensurar a racionalidade, tanto instrumentalcomo
substantiva, presentena
realidade organizacional foitomado
por empréstimos de Serva(1997a). Tais contribuições, resultantes de seus estudos para doutoramento sobre
organizações substantivas,
foram
utilizadas para a operacionalização teórica e orientaçãoda
pesquisa de
campo.
Tal metodologia sefundamenta na
complementaridadeda abordagem
organizacional substantiva deRamos
(1989) ena
teoriada
ação comunicativa deHabermas
Buscou-se assim, por
meio
deste exercício acadêmico,uma
aplicação empírica, carênciaque
ainda cria obstáculos parao
desenvolvimento desta linhade
pesquisada
teoriaorganizacional
no
Brasil.O
que seobserva
são vários estudosque
criticamo
imperativoda
racionalidade instrumentalcomo
diretriz básica das açõeshumanas
na
maioria dos sistemassociais e a pregação
da
racionalidade substantivacomo
necessária parapromover
a auto- realização sob a perspectivada emancipação do
homem
no
ambiente de trabalho. Entretanto,a viabilidade
da
abordagem
substantiva das organizaçõesdepende
da validação dasrespectivas concepções teóricas
na
prática organizacional. Neste sentido, percebe-seque
as organizações sociaispodem
serum
campo
de estudosadequado
para a consolidaçãoda
proposta
da
abordagem
substantivada
organização.ff;
2
TEMA-PROBLEMA
O
estudo desenvolvido tevecomo
tema
o papelda
racionalidadecomo
fundamento
básico das açõesna
prática organizacional.O
objetivo principal deste estudo foidemonstrar, por
meio da abordagem
qualitativado
estudo de caso,fundamentada
nas teorias de delimitação de sistemasRamos(1989)
ena
teoriada
ação comunicativa de JurgenHabermas,
a razão preponderante (instrumentalou
substantiva) presentena
práticaorganizacional
do
Centro CulturalZé
Perello. .O
Centro CulturalZé
Perello(CCZP)
éuma
organizaçãonão-govemamentall
(ONG),
fundada sob aforma
de associação comunitária, voltada ao desenvolvimento cultural,à qualificação profissional, à defesa
do
meio
ambiente e àpromoção da
qualidade de vida nó, Pântanodo
Sul, Sulda
Ilha de Santa Catarina. 'O
contato prévio, durante a fase exploratória, revelouque
tal organização possuitraços que a
aproximam
das isonomias,uma
das categorias dos sistemas sociaisda
teoriada
delimitação de sistemas sociais, cuja tendência,
segundo
Ramos
(1989) é a predominânciada
racionalidade substantiva.Apesar do
encaminhamento
metodológico utilizado permitir capturar e mensurar a racionalidade instrumental caso esta se revelecom
intensidadepredominante, o ideal é
que
a escolha proporcionasse o contatocom uma
organização substantiva, e todas suas peculiaridades.A'
organizaçãoeconômica
formal e a razãoinstrumental subjacente encontram-se arraigadas
na
teoria organizacional desde ostempos
deTaylor, já tendo sido suficientemente apresentada, analisada e criticada nos cursos de Administração. ‹~
j
"
. _
O
problema
de pesquisatem
natureza teórico-empíricana
medida
em
que
levantao estado
da
arteda
literatura que aborda otema
para problematizá-lo e empíricona
investigação deuma
realidade organizacional pormeio
deum
instrumental metodológico.Formulado
oproblema
em
forma
de pergunta, oque
se propôs aqui é a respostapara o seguinte: -
`
z
Qual
a racionalidade (instrumentalou
substantiva) preponderantecomo
fundamento
das açõesna
prática organizacionaldo
Centro CulturalZé
Perello?V
i
1 Denominada assim em reportagem do jomal
AN
Capital, de Florianópolis, em 19/12/2000 capturada emhttp//:www.an.com.br/ancapital/2000/dez/19/lger.htm.
O
termo possui grande popularidade no Brasil, muito em parte pela massivadivulgação pelos meios de comunicação a partir da ECO 92. Apesar disto, prefere-se neste trabalho a expressão organizações sociais.
A
justificativa desta definição será apresentada num tópico a respeito da terminologia associada a estas organizações no referencial teórico.Apesar
deum
elaborado arcabouço teórico iniciado porRamos
(1989)que propõe
uma
nova
ciência das organizações, reformulação crítica dos pressupostos nos quais seassentam os avanços
da
teoria organizacionalmoderna,
cujo principal é a sociedade centradano
mercado, esta linha de pesquisa, aindaem
estágio embrionáriono
Brasil, carece de pesquisa decampo,
decomprovação
empíricada abordagem
substantiva e seus efeitos nos processos organizacionais. z-
A
escolhado
presentetema
se justificana
medida
em
que o
mesmo
possibilitauma
análise epistemológicado pensamento da
ciência das organizaçõescom
visão crítica dosseus
fundamentos
e pressupostos e contatocom
uma
nova
ciência das organizações proposta porRamos
(1989) e suas possíveis repercussõesna
análise e planejamento de sistemas sociaisorganizados.
A
relevânciado
presente estudo resideno
fato de que, aabordagem
substantiva das organizações, apesar de sígnificaruma
análise crítica de grande importância para ocampo
de conhecimento
da
Administração,uma
reformulação nas basesda
teoria organizacional,tendo dirnensões
que
justifiquem atémesmo
denominá-lacomo
ruptura de paradigma, ainda é muitopouco
demonstradana
prática organizacional. Isto fazcom
que
o planejamento eanálise de sistemas organizacionais ainda
não
tenham
sentido seus efeitosna
prática.Segundo
Serva (1997a), os estudosque
compõem
o estadoda
arte da racionalidadesubstantiva nas organizações
possuem
em
comum
o corrfinamento a urnaabordagem
conceitual. Para
o
autor,“Os
autores brasileiros criticam edenunciam
a razão instrumental,opondo
a ela a racionalidade substantiva.No
entanto,não
conseguem comprovar
empiricamente se esta última
pode
serempregada na
gestão de organizações produtivas” (p.18). ~ 't
Isto evidencia a carência de
uma
das características fundamentaisdo
conhecimento científico; a comprovação,
ou
seja, a verificação das teoriasna
prática, pormeio
deum
estudo empírico. Antes de tudo, as práticas organizacionaisdevem
serlegitimadas por
um
arcabouço teórico,como
em
qualquer áreado
conhecimento hrnnanoque
tenha escopo de ciência aplicada,
ou
seja, de intervençãona
realidade.Destaca-se ainda o estudo sobre as organizações sociais que
compõem
ochamado
Terceiro Setor,
um
novo
campo
de conhecimentoda
Administração aindaem
construção, carente de pesquisas cuja finalidade é oferecer suporte teórico para gestão deuma
nova forma
14
organizacional,
que
mostra certa dificuldadeem
adequar-se à importação de referenciais teóricos construídos para a Administração Pública e de Empresas.Algumas
características que jáconfiguram
estenovo
espaço socialfonnado
por estas organizações,que
neste estudo serãoem
suamais ampla
categorização designadas pororganizações sociais, tais
como
valores de autonomia, autogestão, cidadania,defesada
emancipação
de oprimidos, solidariedade, esforçodo
voluntariado, oportunidade deautorealização
encaminham
parauma
comparação
por semelhançascom
as isonomias,uma
das categorias de análisena
teoria da delimitação de sistemas sociais deRamos
(1989).Pode-
se certamente adotar este referencial teórico
como
uma
“ponte”,um
alicerce,um
elo para estenovo
campo
de conhecimentoda
Administração.Há
autoresz que ressaltam a importância deste setorem
relação à problemáticado
fim
do
emprego
causado por revoluções tecnológicas e organizacionaisque extinguem
rapidamente várias etapas
do
processo produtivo e seus respectivos postos de trabalho.Com
isto, as organizações sociais já
começam
a ser reconhecidascomo
uma
solução viável tantopara absorver a
massa desempregada
gerada pela lógica demercado
eficienteque
extinguepostos de trabalho,
como
provedora de serviços sociaisque não
contam
com
a tutela estatal.O
fortalecimento e crescimento deste setor
exigem
pesquisada
comunidade acadêmica
ereconhecimento social e político. A
V
Além
disto, otema
coloca ohomem
como
elemento mais importantena
compreensão da
criseda
atual teoria organizacional e desvela a tensão, angústia, frustração, que ainda hoje existemno
ambiente organizacional devido ao desinteresse das teorias etécnicas organizacionais
com
certas dimensões e valoreshumanos
substanciais para a plena manifestaçãodo
espíritohumano
nas organizações, sob a alegação “ingênua”de que
assim estas teorias e técnicas “funcionam”(RAMOS,
1989, p.01).A
teoria das organizações necessita fortalecer suadimensão
epistemológica, erguer seu edifíciodo
conhecimento a partirda
avaliação críticado
valor e validade de seus pressupostos.Caso
contrário, a ciência das organizações passa a ocuparum
patamar perifériconas ciências sociais, a
uma
condição de “credo” (Ibidem, 118).As
conferências intemacionais de criticalmanagement
parecem
se apresentarcomo
uma
evolução desta avaliação críticada comunidade
acadêmica desde os estudos deRamos
(1989).2
A
nova
ciência das organizações elaborada porRamos
(1989), adotadacomo
base teórica deste estudo,encaminha
a soluçãoda
criseda
teoria administrativa, a partirda
análise, . . 3 . ~ . . ,.
critica
do paradigma
da- sociedade centradano
mercado
para entao propor a substituiçao porum
paradigma
multicêntiico para os sistemas sociais.O
estudo coloca, destemodo,
oacadêmico
no
centro deum
processo de tentativa de ruptura de paradigma.Quanto
à relevância para a fonnaçãoacadêmica do
autor, o delineamento destetrabalho corrobora o
pensamento
deDemo(l987,
p. 51): '“Não
pode
[treinamento universitário] sersomente
uma
atividade teórica, de sala de aulas.
A
prática é igualmenteimportante, principalmente
na forma
de estágio curricular, atravésdo
qual a dedicação prática passa a fazer partedo
processo de formação
do
estudante”.3
.. realizações científicas universalmente reconhecidas que, durante algum tempo, fomecem problemas e soluções modelares para uma
4
OBJETIVOS
4.1
Objetivo
Geral
>
Identificar a racionalidade (substantivaou
instrumental) predominantecomo
fundamento
das açõesna
prática organizacionaldo
Centro CulturalZé
Perello(CCZP).
O 4.2Objetivos
Específicos
>
>
>
>
Caracterizar o setor das _organizações sociais por
meio
deum
breve históricoda evoluçãono
Brasil e a apresentaçãoda
terminologia associadana
literatura brasileira.Caracterizar a organização pela análise dos seguintes processos
organizacionais: hierarquia e normas, valores e objetivos,
tomada
de decisão, controle, divisãodo
trabalho,comunicação
e relaçõesinterpessoais, ação social, relações ambientais, reflexão sobre a
organização, conflitos, satisfação individual,
dimensão
simbólica.Identificar os indicadores característicos de racionalidade (instrumental
ou
substantiva) predominante
em
cadaum
dos processosmencionados acima
Identificar a intensidade
da
racionalidade predominante (instrumentalou
substantiva) presente nas práticas administrativas de acordo
com
a escalaO
quadro referencial teórico aqui exposto, eque
se destina a delimitar, a produzirum
recorteda
realidade e construir o objeto de investigaçãodo
presente estudo,tem
como
base de sustentação a teoria de delimitação dos sistemas sociais, omodelo
multicêntricoeo
paradigma paraeconômico
deRamos
(1989). Este é o arcabouço teórico quefundamenta
suaproposta de
uma
nova
ciência das organizações. Foi apresentadocomo
solução para a criseda
teoria das organizaçõesfimdamentada
no
pressupostoda
sociedade centradano mercado
eno
paradigma da
racionalidade instrumental'Quanto
ao instrumental metodológicocumpre
aqui destacar que os estudos deServa (1997 a), pesquisador
que
empreende
investigações empíricas sobre a razão substantivae instrumental presentes
na
prática administrativa, serãoamplamente
referenciados. Espera-secom
isto viabilizar a operacionalizaçãodo
quadro teórico.5.1
Transformação do
conceito
razão
Se acometido de
mn
conflito existencial e desejoso afinal de identificar-secomo
ser único
no
reino animal, dotado de razão, portanto racional, ohomem
médio
fosse buscar taltermo
num
dicionário,mn
dos significados que lhe seriam apresentados seria este4:Verbete: razão
[Do
lat. ratione.] S. f.1. Faculdade
que
tem
o serhumano
de avaliar, julgar, ponderar idéias universais; raciocínio, juízo.Do
presente conceito pode-se especular a respeitoda
finalidade e importância detal atributo para
tomar
ohomem
tão único, tão complexo. Deste conceito, extrai-se a capacidade de autonomia, debom
senso, de diferenciar, separar, discerniro
bom
do
ruim, o4 Aurélio Buarque
'
18
certo
do
errado.É
enfim,
uma
força diretriz,uma
energiaque
pennite aohomem
transcender os condicionamentosdo
meio, as imposições e ilusõesem
busca de liberdade.De
imediato esta defmiçãonão
parece seradequada
aostempos
atuais, afinalnão
possui ela termoscomo
cálculo, ganhos,meios
e fins,nada
que nos permita aplicar a Lei de Gersóns _ VA
deturpaçãodo
significadoda
razãopode
ser justificada porque deladepende
asustentação institucional
do
sistema industrialavançado da
sociedademodema.
Destemodo,
“... a sociedade
modema
tem
demonstradouma
alta capacidade de absorver, distorcendo-os,palavras e conceitos cujo significado original se chocaria
com
o processo de auto-sustentação desta sociedade.Uma
vez que a palavra razão dificilmente poderia ser posta de lado, por forçade seu caráter central
da
vidahumana,
a sociedademodema
tomou-a
compatívelcom
a sua estrutura normativa”(RAMOS,
1989, p.03).A
razão,no
sentido clássico proposto pelos gregos, apresenta-secomo
amais
humana
das características,mn
atributo inato, diretriz,fundamento
básico de toda açãohumana.
Diferentemente de agora, para os gregos,não
havia a dicotomiado
termo, e a razão enquanto capacidade de julgamento e de força normativada
vida htunana era indissociável dos valores éticos.A i
“A
origem da
ação (sua causa eficiente,não
final) é a escolha, e aorigem da
escolha é o desejo e o raciocínio dirigido aalgum
fim.
Eis porquê denão
poder a escolhaexistir
sem
a razão e o intelecto,nem
sem
uma
disposição moral, pois as boas e asmás
açõesnão
podem
existirsem
uma
combinação
de intelecto e caráter”.(ARISTÓTELES,
2002, p.129)
O
filósofo tinha profunda preocupaçãoem
estabelecer oscaminhos que
conduzem
as açõeshumanas
àpromoção do bem. “Se
existe então, para as coisas que fazemos,algum
fim
que
desejamos por simesmo
e tudo omais
é desejado por causa dele; e senem
toda coisaescolhemos visando à outra (...) evidentemente tal
fim
deve ser obem, ou
melhor,o
sumo
bem”
(ARISTÓTELES,
2002, p. 17)..
É
este atributo e não a sociabilidade que distingue ohomem
do
restantedo
reino animal, que otoma
um
zoon
politikonó, dotado deautonomia
críticano
julgar e agir, depropensão à discussão política
como
meio
de estruturaçãoda
vidahumana
associada.Por
5
Construção cultural brasileira, originária de propaganda de cigarros da década de 80 onde o brasileiro esperto é definido como aquele que
“gosta de levar vantagem em tudo”.
6 Para Aristóteles é pelo exercício da razão balizada pelo imperativo ético que 0 homem supera seu condicionamento de mero ator social e
se transforma num animal politico. .
proporcionar o julgamento ético-valorativo
do que
é certo e errado,do
bom
edo
mal
setoma
categoria de análise fundamental
na
ordenaçãoda
vidahumana
associada.Entretanto, o conceito de razão sofreu profunda alteração a partir
da
influência das idéiasdo
filósofoThomas
Hobbes.A
razão deixa de ser concebidacomo
algo inato, algo recônditona
psiquehumana
conforme
concebia Platão para setomar
mn
atributoengenhoso
de cálculo utilitário de conseqüências a ser aplicado visando a autopreservação
do
homem.
Este atributo seria aperfeiçoado pelo uso no- esforço de
dominar
a natureza, transformar seusrecursosem
utilidades. tendo seucomponente
ético sido despojado.A
razão transforma-sena
coordenação dos meios,
num
processo de cálculo de conseqüências.Sua
ênfase estána
adequação dosmeios
ao alcance dos fins,não
tendo qualquer propósito de julgar o valor dosfins.
-9
a razão
não
nasce conoscocomo
a sensação e amemória,
nem
é adquirida apenas pela experiência,como
a prudência,mas
obtidacom
esforço, primeiro poruma
adequada
imposição denomes,
eem
segundo por intermédio deum
método
bom
eordenado de passar dos elementos,
que
sãonomes,
a asserçõesfeitas por
conexão
deum
deles, e daí para os silogismos,que
sãoas conexões de
uma
asserçãocom
outra, até chegar ao conhecimento de todas as conseqüências denomes
referentes aoassunto
em
questão.”(HOBBES,
2002, p.43)A
repercussão desta' transmutação de sentido se faz hoje presenteem
grandes proporçõesem
nosso estilo de vida e sociedade.“Quando
(sic)mais
emasculado setoma
oconceito
da
razão,mais
facilmente se presta à manipulação ideológica e a' propagação dasmais
clamorosas mentiras”(HORKHEIMER,
2000, p. 32).Reduzida
a este conceito a razãonão
possuimais
condições de apontar aohomem
o que ébom
ou ruim
em
termos éticos e morais.O
homem
resigna-se a se orientar pelas exigências e estímulosextemos
de sua realidade social, disfunção queRamos
(1989, p.30)denomina
de “transavaliaçãodo
social” egeram no
psiquismohumano
achamada
síndromecomportamentalista.
O
serhumano
passaanão
exercitar seu julgamento crítico e busca simplesmente sua autopreservação, comporta-sena fonna que
a sociedade o condiciona,segue suas regras.
Assim,
da
natureza dezoonn
polítikon defendida por Aristóteles,ou
seja, animalpolítico, de propensão ao debate de idéias e defesa de convicções, herança
do
universoda
20
associada por
meio da
expressão política, ohomem
adotauma
postura comportamental, de ser reativo. Isto fazcom
que “. .. aordem
da
vida lhe concedidacomo
algo extrínseco.O
mundo,
de
onde
provém
essaordem
éuma
arena,em
que
ele se esforça para elevar aomáximo
seusganhos”
(RAMOS,
1989, p.37). _Consolidou-se desta
forma
um
conceito de razãoque
seafirmou
como
paradigma
e passou a configurar a sociedade
modema
por300
anos e o qual contoucom
a astúciaidosmecanismos
cognitivos engendrados por esta para ser intemalizadocomo
verdadeiro e únicopor si
mesmo,
mas, sobretudo para manter aordem
institucional da sociedade industrial contemporânea,mecanismos
que constituem paraRamos
(1989, p. 86) a política cognitiva aplicada nas organizações deforma
a construir a realidade social dos seusmembros
pormeio
de
uma
linguagem distorcida e de conceitos inapropriados,mas
adequados àformação
devalores necessários a sua
manutenção
eordem
de funcionamento.Sua
perpetuaçãodepende
de
homens
que
secomportem
de acordocom
o mercado, que seproponham
a reproduzir sua dinâmica por todos espaços sociais.A
razão, seu reino e seu sentido,que sempre
instigou os filósofos e grandes pensadores de toda nossa civilização, foram, de talforma
alijados, reduzidosem
suas significações, peladimensão
de cálculo de conseqüências,que
não traz muitareflexão
aohomem
médio
modemo
instado a lhe daruma
definição.“O
homem
médio
de hoje, ao considerar-seum
animal dotadode razão, considera que
um
comportamento
racional é ocomportamento que
lhe traga coisas úteis, vantagens ehomem
racional aquele que é capaz de julgar o que é útil para ele”
(HORKHEIMER,
2000, p. 13). .Esta
forma
de racionalidade sópode
ser avaliadaem
seu processo de acordocom
os lucros
ou
vantagens resultantes de seudesempenho.
Esta redução das açõeshumanas
ao que traga ao seu sujeito vantagens, utilidades, fazcom
que a as açõeshmnanas
restrinjam-seao tipo de ação que
Weber
(1977, p.46) qualifica de açãoeconomicamente
orientada.O
que
éútil passa a ser
bom,
a ter valor intrínseco.O
que funciona, o que proporciona utilidade éobjeto de procura, de ação
economicamente
orientada. Assim, as utilidades são“aquelas probabilidades (reais
ou
supostas) concretas esingulares, de aplicação atual
ou
futura, estimadascomo
tais porum
ou
vários sujeitos econômicos, que se convertemem
objeto ^de procura ,porque as pessoas orientam precisamente sua
E
pelo usoda
razão vistacomo
um
cálculo utilitárioque
ohomem
passa a regularsua relação de
dominação
com
a natureza etambém
com
outroshomens.
` -A
transmutaçãodo
significadoda
razão presentena
razão ditamodema,
tem
seusefeitos
bem
evidentes; se porum
lado permitiuo domínio da
natureza pormeio
deum
desenvolvimento tecnológico impressionantecom
prosperidadeeconômica
sem
precedentes,por outro foi responsável pela degradação ambiental,
aumento
das desigualdades sociais,deformação da
psiquehumana
e desfiguração das relações interpessoais.Sem
reconhecerna
razão
uma
dimensão
substantiva, as considerações éticas são solapadas e as açõeshumanas
são avaliadas de acordo
com
a utilidadeque
promovem
ao sujeito.O
que. ocorreem
síntese é a mercantilizaçãodo
mundo
da
vida: todos espaçossociais, de convivência, são dominados, engastados pela lógica
do mercado
oque
compromete
a qualidade das relações pessoaisque
ele determinaem
seu processo.Assim,
as relações primárias, de amizade, afetividade, solidariedade e julgamento valores morais eéticos
não
acham
condições suficientes para se manifestarem.As
relaçõeshumanas
sãorestritas a relações de trocas, orientadas pela racionalidade instrumental e pela
maximização
de utilidades que sua hábil aplicação proporciona.
Na
evoluçãoda
sociedade ocidentalcomparado
as tradições dos gruposhumanos
primitivos,Weber
(1977, p.494) assim descrevia a infiuenciado
surgimentodo
mercado na
vida
humana
associada “o mercado,em
plena contraposição a todas as outras formas de comunidades,que sempre
supõem
confratemização pessoal e quasesempre
parentesco desangue, e,
em
suas raízes, estranho a toda “confraternização”7.5.2
Racionalidade
eorganização
_
Na
teoria das organizações a racionalidade é caracteristica fundamentaldo
modelo
burocrático de organização formulado porMax
Weber.
Os
estudosdo
sociólogoalemão
previam
surgimento da organização formal,também
chamada
burocracia,como
protótipoda
7 El mercado, en plena contraposición a todas las formas
otras comunidades, que siempre suponen confratemización personal y casi siempre
22
organização necessária para atender a
complexidade
associada aosmodos
deprodução
decorrentesda
crescente industrializaçãoda
modema
sociedade ocidental.Weber
considerava a burocraciacomo
forma
por excelênciada
ação racional.Ao
tratarda
racionalidadehumana,
a distingueem
dois tipos:A
racionalidadeformal
ou
instrumental (Zweckrationalítät) que é “determinada poruma
expectativa de resultados,ou fins
calculados” frutodo
desenvolvimento das idéias deHobbes; e '
A
racionalidade substantiva,ou
de
valor (Wertrationaliíät), determinada“'1'ndependentemente de suas expectativas de sucesso”
ou
seja, configurar a açãohmnana
interessada a “consecução de
um
resultado ulterior aela”(WEBER,
1968, p.24apud
RAMOS,
1989, p. 05),mais próxima do
significado que a razão tinha para os filósofos gregosda
antiguidade.
Destas duas, previu o triunfo completo
da
racionalidade formalou
instrumentaldevido à adequação ao
modelo
burocrático de organizaçãoque
surgia, cujo funcionamento exigiria a lógicado
cálculo de conseqüências. Visava-se entãocontomar
o estágio de escassezde recursos dos primórdios
do
processo de industrialização.A
implantação desta racionalidadecomo
ftmdamento
das açõeshumanas
nasorganizações
tem
profundas repercussões.Devido
aotamanho
crescente destas organizações,o planejamento cuidadoso e formalmente representado deveria oferecer alto grau de ordenação de suas operações.
Assume
assim urna estrutura de previsibilidade mecanicista.A
dinâmica de sua estruturas
em
muito se assemelha ao ftmcionamento de Lunamáquina
com
ênfasena
distribuição de autoridade através de hierarquia linear, definição de papéis emecanismos
de controle. Estasforam
as principais soluções encontradas para suprimir aimprevisibilidade gerada
no
ambiente organizacionalcom
a presença deum
enorme
ninnero de pessoascom
valores e interesses individuais diversos.Com
a onipresença das organizações burocráticas e seu papel normativona
vidadas pessoas, algrms autores retrataram as
ameaças que
estas traziam para individualidadedo
homem
e o destinoda
humanidade.As
mais
conhecidas são 1984 deGeorge
Orwell eAdmirável
Mundo
Novo
deAldous
Huxley.Apesar
das diferenças quanto ao contextomaterial destas duas visões; a de Orwell de escassez e miséria e a de
Huxley
de prosperidade,8 “A
estrutura de uma organização pode ser definida como 0 resultado de um processo através do qual a autoridade é distribuída, as atividades desde os niveis mais baixos até a Alta Administração são especificadas e um sistema de comunicação e delineado permitindo que
as pessoas' realizem e exerçam a autoridade que lhes compete para atingimento dos objetivos organizacionais” (VASCONCELLOS et
o ponto
em comum
residenum
“mundo
estritamente controlado, de liberdade reduzida anada
ou
quase nada...”.(BAUMANN,
2001, p.64).Os
destinos destas sociedades seriamplanejados por
uma
elite de administradores e projetistasque
se incumbiriam condicionar ocomportamento
de grandesmassas
de administrados passivos, treinados a obedecer ordenscom
a disciplina de marionetes. ~.
O
que
legitima este uso de sereshumanos
é a própria concepção de racionalidade exigida parao
bom
desempenho da
burocracia.A
organização burocrática,também
conhecida por formal, é tantomais
racionalna
medida
em
que
haja adequação demeios
a fins,ou
seja,que
a utilização dos recursos organizacionais, ai incluídos os sereshumanos,
sejammaximizados
para o alcance dos objetivos organizacionais. Neste sentido o grau de eficiência deuma
organização expressaria a racionalidadeda
mesma.
Na
definição deSimon
(1979,p.l4), isto se apresenta de maneira clara: “no sentido
mais
amplo, ser eficiente significa simplesmentetomar
ocaminho mais
curto e osmeios mais econômicos
para alcançardeterminados objetivos”. i
Ainda que
omodelo
burocrático de organização tenha sofrido flexibilizaçãoem
sua evolução, estudos empíricos recentes
confirmam
que estemodelo
de organização e sua lógica de funcionamento .baseadana
racionalidade fonnalou
instrumental ainda estão fortemente presentes nas organizaçõesOportuno
ressaltar que o Estado é, ainda, por natureza,a acepção
máxima
de burocracia. Talvez por ser suaforma mais
pura, inflexível, pois suasnormas
são as leis, suaimagem
está associada,no
sentido popular, apenas às suas disfunções.De
acordocom
Chiavenato (1997,p. 428) a racionalidadeda
organizaçãonão
depende da
racionalidade individual de seusmembros,
pois “desconsidera suasmetas
easpirações”.
No
processo de divisãodo
trabalho, caracterizado pela especialização porfunções, o indivíduo que
desempenha
as funções aliena-se devido à falta de autonomia,despersonalização e a limitação de suas ações
no
funcionamento globalda
organização.Para
Simon
(1979, p.8), “... as técnicas aplicadas coordenação de esforços para queuma
organização atinja Lun objetivo constituem os processos administrativos. Estes processos administrativos são processos decisórios, pois implicana
seleção racional dentremuitos cursos de ação disponíveis”.
É
neste processoque
a organização “retira de seus, porconseguinte, da faculdade de decidir independentemente e a substitui por
um
processo decisório próprio”. 'Quanto
às diferenças que muitas vezes existem entre os objetivos da organizaçãoe as aspirações e interesses dos indivíduos,
Simon
(1979, p.42) as qualificacomo
“um
dessesQuando
analisado dentrodo
contexto organizacional ena
perspectivada
racionalidade instrumental, ohomem
possuiuma
racionalidade limitada, jáque
possuiuma
capacidade cognitiva limitada,
não
consegue ter acesso a todas informações aserem
analisadas,
tem
capacidade limitada para analisa-las e projetar todas as conseqüênciasdo
curso de ações e ainda sofre influência de crenças e valoresem
seus julgamentos. Destemodo,
a racionalidade estána
organização, de maneira aindamais
intensa nas organizações computadorizadas(SIMON,
1979, p.64).5.3
Rumo
a
uma
nova
ciência
das organizações
Numa
crítica àmoderna
teoria das organizações,com
focona
análise. dos seus pressupostos:paradigma da
racionalidade instrumental eda
sociedade centradono
inercado,Ramos
(1989) constataque
a teoria das organizaçõespouco
evolui devido à construçãode
conhecimentos
sem
submetê-los à avaliação de suas bases epistemológicas.A
teoria das organizações ainda viveum
momento
de crise, demal
estar,de
desconforto intelectual,
na medida
em
que não
atende a certos dilemas, expectativasda
sociedade
modema,
dentre os quais aemancipação do
homem
é o central.Apesar
de inuitos receituários, best sellers de grandes executivos, osfamosos
“gurus”da
Administração lbtarem as prateleiras e oferecerem a panacéia para todos os gerentescom
asmais
esdrlflxulasanalogias, estas
não
tem mais do
que o efeito demorfina
para o problema.O
ambientede
trabalho é ainda hojeum
lugar de,sombras que
obscurece certas dimensõeshumanas.
“Contrariamente à idealização
que
aparececom
freqüênciano
mundo
dosnegócios, a organização aparece freqüentemente
como
um
lugar propício ao sofrimento, àviolência fisica e psicológica, ao tédio e
mesmo
ao desesperonão
apenas nos escaiõesinferiores,
mas também
nos m'veis intermediário e superior”(CHANLAT,
1996, p.25).A
causa desta estagnação científica estáno
pressupostoda
sociedade centradano
mercado
e de suas implicações: omodelo da
organizaçãoeconômica
formal ede
suaracionalidade instrumental
como
fundamento
das suas ações.“A
disciplina organizacionalcontemporânea não
desenvolveu a capacidade analítica necessária à crítica de -seus alicerces teóricos e,em
vez disso,em
grande partetoma
capacidades exteriores. Por esta razão condenou-se a simesma
apermanecer
pré-analítica e para
sempre
na
periferiada
ciência social”(RAMOS,
1989, p.1l8).A
teoria organizacional vigente continua a legitimaruma
prática organizacional orientada pela racionalidade instrumental. Esta legitimação amparava-sena
escassez crítica derecursos nos primórdios
do
processo de industrializaçãoda
civilizaçãohumana,
oque
tomava
inexorável o esforço
do
trabalhosem
limites, a fragmentaçãodo
processo produtivoem
tarefas de baixa complexidade e alienantes, das pressões psíquicas,da
frustração e tédiono
ambiente organizacional9 e o adiamento
da
autorealizaçãodo
empregado.Apesar
de já teralcançado grandes realizações
como
oacúmulo
de capital e desenvolvimento tecnológico,esta legitimação já não se sustenta, pois a fase crítica de escassez de recursos encontra-se superada.
Nesta perspectiva,
Ramos
(1984) propõeuma
avaliaçãoda
evoluçãoda
teoria dasorganizações adotando
modelos
dehomem
como
referência:homem
operacional,homem
reativo e o
homem
parentético.O
homem
operacional é omodelo
dehomem
adotadona
AdministraçãoCientífica,
ou
erado
taylorismo, e seu enfoque estána
eficiência,no
best way,na
análise científicado
trabalhocom
seus estudos detempos
emovimentos
ena
racionalizaçãoda
execução das tarefas. Esta visão
não
está confinadaem
um
passado históricoremoto da
evolução
do pensamento
organizacional. Qualquer olhar atentonum
estabelecimento fastfood, ainda que
na
Califórnialo, estadomais
ricodo
paísmais
ricodo
mundo,
comprova
sua utilização de seus métodos. Assim, nas linhas demontagens
de hambúrgueres, o funcionário é devidamente alertado por sinais luminosos e sonoros de que sua etapa esta retardando o processo produtivo.A
sua inserção neste processo produtivo sedá
claramentecomo
recurso organizacional e portando sujeito ao imperativoda
maximização
da racionalidadeinstrumental.
O
fato de o funcionário ter seu salário estipulado por hora trabalhadatoma
istoainda
mais
intenso.Nesta obsessão por eficiência, otimização dos recursos, parece óbvia a aplicação desta lógica
também
aos recursoshumanos.
“A
validadedo
homem
operacionaltem
sido9 Tão bem
retratado no filme Tempos Modemos de Charles Chaplin, onde “o mundo é uma comédia para os que pensam, e uma tragédia para os que sentem”. Horace Walpole.
1° O
autor do presente trabalho trabalhou clandestinamente em uma locadora de carros, num fast food e numa pizzaria durante sua
pennanência de 9 meses na cidade de San Diego-CA, mar. - dez./2001. Desta forma, encontra muitas de suas experiências analisadas no
pensamento de Alberto Guerreiro Ramos, que lá realizou pesquisas das quais resultou o livro A nova Ciência das Organizações. O sociólogo
baiano admite que “ é evidente que minhas elaborações conceituais são largamente afetadas por incidentes típicos da vida norte-americana”
26
aceita
sem
questionamento. Eletem
sido consideradoum
recurso organizacional a sermaximizado
em
termos de produto físicomensurável”(RAMOS,l984,
p.O5);Ainda que
a Escola Humanista,onde
se destaca onome
de EltonMayo
e asexperiências de
Hawthome,
tenha representadoum
esforçona
tentativa de enfocarmais
olado
humano
presenteno
ambiente de trabalho, os grupos informais e seus efeitosna
produtividade, suas realizações
nunca
de fato violaram oparadigma da
racionalidadeinstrumental.
“O
modelo
dehomem
desenvolvido pelos humanistaspode
serchamado
de“homem
reativo',com
tudo o que termo implica.. Para os humanistas assimcomo
para seusantecessores, o sistema industrial e a
empresa funcionam
como
variáveis independentes.O
objetivo principalda
administração é estimularcomportamentos
que reforcem suaracionalidade
específica.”.(RAMOS,
1984, p.06).Contrapondo-se a estes
modelos
dehomem
derivadosda
racionalidade instrumental adotadacomo
pressuposto frmdamentalno
planejamento e análise de sistemas organizacionais, surge ohomem
parentético.“O
homem
parentético éum
reflexo dasnovas
circunstâncias sociais, que hoje estão
mais
visíveis nas sociedades industriais avançadas,como
osEUA,
mas
que
irão eventualmente prevalecerem
todo omundo;
e é aomesmo
tempo
uma
reação a estas circunstâncias”.(RAMOS, 1984, p.03)Toma-se
nesta situaçãomais
difícil motivá-lo,impor
padrões convencionais desucesso e despojar o
homem
parentético de sua racionalidade substantivaem
benefícioda
racionalidade instrumental.As
tentativasda
organizaçãoem
integrá-lo mediante ajustamento esbarramna
característica básicado
homem
parentético que é a de possuirum
componente
crítico normativo de suas ações e
não
simplesmente se comportar, de se ajustar a estímulosemitidos pela estrutura organizacional. .
.
“Assim, a atitude parentética é definida
como
ja capacidade psicológicado
indivíduo de separar-se de suas circunstâncias intemas e extemas.
Os
homens
parentéticosprosperam
quando
termina o períododa
ingenuidade socia1”(RAMOS,
1984, p.03)A
presençado
homem
parentético nas organizaçõesdo
iníciodo
desenvolvimentoda
industrialização edo
modo
de produção capitalista eramais
restrita. Entretanto, ascarências antes básicas de sobrevivência que justificavam o imperativo
da maximização
derecursos agora estão
no
nível de autorealização, ohomem
parentético tem, então, a aspiraçãoà emancipação
no
ambiente de trabalho.A
justificativada
convergência dos interesses pessoais .do frmcionário edo
empregador
apresentado por Herbert Simon,pensamento
este retirado da obra .que abordafrente ao
homem
parentético: “é atravésda
utilização deempregados
para fabricar e vendersapatos
que
o empresário alcança seu lucro; por aceitar a direçãodo
empresáriona
fabricaçãodos sapatos é
que
oempregado ganha
seu salário; e é pelacompra
do
sapato produzidoque
o clienteobtém da
organização sua satisfação”.(SIMON, 1979,18).Simon
parece corresponder ao perfil de escritoresmencionado
porRamos
(1989, p.03)que
promovem
a “transavaliaçãoda
razão-
levando à conversãodo
concretono
abstrato,
do
bom
no
funcional, emesmo
do
éticono não
ético...” e se esforçamintelectualmente para “legitimar a sociedade
modema
exclusivamenteem
bases utilitárias”.O
focona
tensão existente entre ohomem
parentético ecomportamento
organizacional possibilita o entendimentodo
impasse,da
crisedo modelo
organizacionalatual e aponta para
uma
nova
abordagem
organizacionalque
considere a razão substantivacomo
força normativado homemparentético.
Assim
Ramos
(1989),em
seu clássicoA
nova
ciência das organizações, propõe a teoriada
delimitação dos sistemas para o prosperarda
razão substantiva.O
que se exige hojecomo
prioridadena
formulaçãodo conhecimento
organizacionalque
repercute diretamentena
arquitetura dos espaços e sistemas sociais éque
este traga
na
sua complexidade -considerações éticas, sociais e valores
humanos
emancipatórios. Atualmente,retomando
a citação deSimon(l979)
parece reduzir-se aprescrever
como
produzirmais
emais
sapatos e formular estratégias de venda..
A
preparaçãodo
caminho
de reformulaçãoda
modema
teoria organizacionalinicia
com
o debatedo
sentidoda
razãomodema,
jáque
“a razão éo
conceito básico de qualquer ciênciada
sociedade e das organizações. Ela prescrevecomo
os sereshumanos
deveriam ordenar sua vida pessoal esocial”.(RAMOS,
1989, p.23)A
partirda
análise crítica destefundamento
o autor visa contraporo
modelo
dominante
da
teoria organizacional,chamado
racional-funcionalista, quetem
como
premissa a sociedade centradano mercado
e a razão instrumentalcomo
fundamento da
açãoorganizacional. Para isto elabora a teoria
da
delimitação dos sistemas sociais e aabordagem
substantivada
organização,ou
seja, tendo a razão substantivacomo
seu conceito básico.O
escopo de aplicação desta teoria é amplo,não
se restringindo apenas àadministração,
mas
também
a ser estudada e aplicadacomo
agenda
de pesquisana
economia,ciência social e ciência política, pois todas
possuem
os sistemas sociaiscomo
objetode
investigação.
Segundo
o autor, a teoria organizacionalmodema
já nãopode
legitimar a razãoinstrumental
como
conceito básico da açãohumana
nas organizações enem
aceitar a premissacomo
única possível, devido à primaziada
eficiência emaximização
dos recursos, são adestruição ambiental, a alienação
do
homem
no
trabalho, a exaustão acelerada de recursosnaturais e a desfiguração
da
vidahumana
associada cuja tendência é ser unidimensionada.Seu
principalargumento
éque
a premissada
sociedade centradano mercado não
éadequada
para a análise de todos os sistemas sociais,mas
apenas para os sistemas sociaisenquadrados
na
categoria de análise que o autor classificacomo
economia.Como
ohomem
possui outras necessidades
além
das deordem
econômica,ou
seja, de produção econsumo
de
bens e serviços, outras categorias de análise seriam necessárias para os sistemas sociais
destinados a satisfazê-las.
A
istochamou
teoriada
delimitação de sistemascom
paradigma
multicêntrico. -
'
A
influênciado
mercado
em
todos espaços sociais fazcom
que estadesfigure
a vidahumana
associada, pois “omercado
em
plena contraposição a todas as outrascomunidades,
que sempre
supõem
confraternização pessoal e, quasesempre
parentescode
sangue, é,
em
suas raízes, estranho a toda °confraternização”°(WEBER, 1968, p.494).É
propondo
o resgatedo
sentido clássicoda
razãoem
contraposição a razãoinstrumental, funcional dirigida por fins,
que
enfoca o cálculo de conseqüências,que
Ramos
(1989) propõe a
abordagem
de organizaçõesque
tenham
a razão substantivacomo
orientadorada
ação organizacional.Não
pretende renegar a racionalidade instrumental,mas
sim
estabelecer enclaves distintos,
com
preponderância diferente entre as duas racionalidades,para
que
hajaum
resgate das dimensõeshumanas
antes sufocadas pela racionalidadeinstrumental.
5.4
A
Teoria
da
Delimitação dos Sistemas
Sociais
A
delimitação dos sistemas sociais, proposta porRamos
(1989), partedo
pressuposto que o ser
humano
é mutidimensional por natureza, dotado deuma
força ativaque
lhe permite ordenar a vida
em
sua psique. Essa força é a razão, descoberta pelos gregoscomo
elemento essencialda
alma
humana
e determinanteda
vidahumana
associada.A
propostado
autor, apresentadaem
sua obra aA
nova
ciência das organizaçõeséromper
com
oparadigma
da
sociedade centradano
mercado
e sua racionalidade instrumentalimanente adotado