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(1)UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE COMUNICAÇÃO, EDUCAÇÃO E HUMANIDADES. CURSO DE CIÊNCIAS DA RELIGIÃO. WILSON FLÁVIO JECOV. IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS: MEMÓRIA E RELIGIÃO NO TEMPLO DE SALOMÃO. SÃO BERNARDO DO CAMPO 2.017.

(2) WILSON FLÁVIO JECOV. IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS: MEMÓRIA E RELIGIÃO NO TEMPLO DE SALOMÃO. Dissertação apresentada no curso de pós-graduação à Universidade Metodista de São Paulo, Escola de Comunicação, Educação e Humanidades para obtenção do grau de Mestre. Orientador: Prof. Dr. Dario Páulo Barrera Rivera. SÃO BERNARDO DO CAMPO 2.017.

(3) A dissertação de mestrado intitulada: “IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS: MEMÓRIA E RELIGIÃO NO TEMPLO DE SALOMÃO”, elaborada por WILSON FLÁVO JECOV, foi apresentada e aprovada em 06 de Abril de 2.017, perante banca examinadora composta por Prof. Dr. Dario Paulo Barrera Rivera (Presidente/UMESP), Prof. Dr. Nicanor Lopes (Titular/UMESP) e Prof. Dr. Haller Schwnemann (Titular/Centro Universitário Adventista de São Paulo.). __________________________________________. Profº. Dr. Dario Paulo Barrera Rivera Orientador e Presidente da Banca Examinadora. ________________________________________ Profº. Dr. Helmut Renders Coordenador do Programa de Pós-Graduação. Programa: Pós-Graduação em Ciências da Religião Área de Concentração: Religião, Sociedade e Cultura Linha de Pesquisa: Religião e Dinâmicas Sócio-Culturais.

(4) Dedico este trabalho à minha mãe, Dirce Alves Jecov e ao meu pai Vasílio Jecov (ZL). Aos meus três filhos: Alexei Paulo, Tiffany Ariel e Andrei Nathan. Aos meus colegas de magistério estadual na E.E. Stefan Zweig entre os anos de 2014-2017. Aos meus diversos colegas de mestrado na área de Ciências da Religião, independente do credo religioso dos mesmos, pela oportunidade da boa convivência na Universidade Metodista. Aos professores de pós-graduação da área das Ciências da Religião da UNIMESP, com os quais fui aluno, em especial ao meu professor orientador, Dr. Dario Paulo Barrera Rivera, pelo auxílio e orientação precisos..

(5) Agradecimentos: À Rosimara Riva Jecov, que acompanhou o processo de ingresso, curso e término do Mestrado. Ao Prof. Dario Paulo B. Rivera, pela competência, confiança, e dedicação. Ao Prof. Júnior pelo seu auxílio técnico competente na elaboração da dissertação. As Pastoras, Ana Paula e Shirley da Igreja Metodista de Rudge Ramos, São Bernardo do Campo, pelas orações individuais e comunitárias. Ao Último, o mais honrado de todos os mencionados anteriormente, HASHEM, O Eterno, Deus dos patriarcas, dos profetas, que durante todo este período, sustentou a minha vida, proveu as minhas necessidades de diversas maneiras conduzindo-me ora pelo deserto, ora pelo vale irrigado. Amém..

(6) Epígrafe: “Guarda-te, NÃO ESQUEÇAS de HASHEM, teu Deus,... Antes, te LEMBRARÁS do ETERNO teu Deus, porque Ele te dá força... (Deuteronômio, Moisés) “Quero trazer a MEMÓRIA o que me pode dar esperança.” (Lamentações, profeta Jeremias) “O ESQUECIMENTO é a origem do Exílio, e a MEMÓRIA é a fonte da Redenção “ (Baal Shem Tov – rabino chassidim europeu do século XVII).

(7) SUMÁRIO CAPÍTULOS Resumo ........................................................................................................ Abstract ...................................................................................................... Introdução .................................................................................................. Apresentação e Justificação ........................................................................ Objetivos Gerais e Específicos .................................................................. Capítulo 1 – A Memória Efêmera e o Pentecostalismo ............................. 1.0 – Introdução .......................................................................................... 1.1 – Memória ............................................................................................ 1.1.1 – Memória Religiosa ..................................................................... 1.2 – Memória Espacial ............................................................................. 1.3 – Tradição ............................................................................................. Capítulo II - A IURD e a ocupação do espaço em São Paulo ................... 2.0 – Introdução ......................................................................................... 2.1 – Definição da IURD ........................................................................... 2.1.1 – A História da IURD ....................................................................... 2.2 – A IURD em São Paulo ...................................................................... 2.3 – O Templo de Salomão ........................................................................ Capítulo III - “O Templo de Salomão: A Reconstrução da Memória Religiosa” .................................................................................................. 3.0 – Introdução ......................................................................................... 3.1 - O Existir e o circuito da Conquista e da Superação .......................... 3.2 – Arquitetura e Monumentalidade ....................................................... 3.3 – A cultura Judaica e o Pentecostalismo Contemporâneo ................... 3.4 – O templo de Salomão e as memórias ............................................... Considerações Finais ................................................................................. Anexos ....................................................................................................... Bibliografia ................................................................................................ Fontes .......................................................................................................... PÁGINA 08 09 10 10 10 16 16 16 18 23 47 60 60 61 66 76 90 114 114 117 129 136 143 161 167 172 176.

(8) Resumo: O Templo de Salomão – o espaço religioso maior, construído pela IURD (Igreja Universal do Reino de Deus) em nossa cidade entre 2.010 e 2.014, é o objeto de nossas análises a partir da relação entre a Memória e a Religião, abrigando simultaneamente, o Lugar da Memória e a Memória do Lugar. Ora como Lugar da Memória da Religião desta instituição pentecostal contemporânea, ora como a Memória dos Lugares Religiosos, os espaços relacionados à cultura religiosa monoteísta abrahâmica (judaicocristã), reproduzidos por ela no complexo do bairro do Brás: o tabernáculo do deserto, o Jardim das Oliveiras, o Memorial (Museu histórico cultural) e o templo de Salomão e o seu santuário. Excetuando o Tabernáculo do deserto, todos eles relacionados à cidade de Jerusalém que é conhecida como a cidade santa. Os nossos estudos combinaram duas metodologias: a pesquisa bibliográfica (teoria) relacionada com autores relacionados à Geografia, à Geografia da Religião, à Sociologia da Memória e da história da Igreja Universal, constituindo os dois conceitos importantes de nossas pesquisas: Memória da Religião e a Tradição Religiosa, pois ambos são produtos de nossa sociedade. E o nosso trabalho de campo (geográfico urbano), com visitas de caráter observatório a três espaços religiosos desta denominação : o Templo de Salomão (Brás), a catedral da Universal em São Caetano do Sul (centro) a Igreja comum localizada na periferia da Zona Leste (Vila Diva), e em outras denominações pertencentes ao pentecostalismo contemporâneo no Brás em torno do Templo de Salomão e em outros bairros da periferia na Zona Leste da cidade, percebendo o pluralismo pentecostal no campo religioso paulistano. Palavras chaves: São Paulo, Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), Templo de Salomão, Memória.. 8.

(9) Abstract: The Temple of Solomon – the largest religious space built by the IURD (Universal Church of the Kingdom of God) in our city between 2010 and 2014, is the object of our analysis based on the relationship between Memory and Religion, of Memory and the Memory of Place. Now as the Place of the Memory of the Religion of this contemporary Pentecostal institution, now as the Memory of Religious Places, the spaces related to the Abrahamic monotheistic religious culture (Judeo-Christian), reproduced by her in the neighborhood of Brás: The Tabernacle of the Desert, the Garden of Olives, the Memorial (Historical Cultural Museum) and the Temple of Solomon and its Sanctuary. Except for the Tabernacle of the wilderness, all of them related to the city of Jerusalem which is known as the holy city. Our studies have combined two methodologies: bibliographic research (theory) related to authors related to Geography, Geography of Religion, Sociology of Memory and the history of the Universal Church, constituting the two important concepts of our research: Memory of Religion and Religious Tradition, as both are products of our society. And our field work (urban geography), with observatory visits to three religious spaces of this denomination: the Temple of Solomon (Brás), the Universal Cathedral in São Caetano do Sul (central) the common church located on the outskirts of East Zone (Vila Diva), and in other denominations belonging to contemporary Pentecostalism in Brás around the Temple of Solomon And in other suburban neighborhoods in the East Zone of the city, perceiving Pentecostal pluralism in the religious field of São Paulo. Keywords: São Paulo, Universal Church of the Kingdom of God (IURD), Temple of Solomon, Memory, Narrative of visitors.. 9.

(10) Introdução: O nosso trabalho de pesquisa pode ser denominado como um estudo dito cruzado, porque trata-se de uma pesquisa acadêmica feita sobre um grupo religioso brasileiro, pentecostal contemporâneo, por um não pentecostal, portanto por alguém que não partilha de uma identidade religiosa comum com este grupo – a Igreja Universal do Reino de Deus. Logo, isto significou desenvolver um processo de aproximação, de empatia, para elaborarmos uma discussão geográfica, sociológica sobre o Templo de Salomão, situado no complexo construído pela Igreja Universal no bairro do Brás. Escolhemos a Universal não somente por ser a construtora e/ou idealizadora deste complexo de edifícios, mas por ser uma instituição pentecostal contemporânea, que não tem meio século de fundação, se tornando em ícone/modelo de sucesso para os outros grupos religiosos contemporâneos dela. Uma denominação pentecostal que tem as suas origens geográficas urbanas na cidade do Rio de Janeiro, bem sucedida em seu processo de expansão e hegemonia dentro do campo religioso nacional e internacional participando de modo ativo do processo de globalização da religião no mundo, tornando-se num grupo religioso transnacional. Escolhemos o Templo de Salomão como objeto de nossas pesquisas, porque mesmo já tendo completado dois anos de sua inauguração, ele ainda favorece diversas leituras, visto que a sua inauguração foi amplamente divulgada em diversos órgãos da mídia nacional e internacional.. Sendo lido por nós como um fixo internacionalizado, receptor de diversos fluxos humanos – os grupos que o visitam oriundos de diversas localidades brasileiras e do mundo, principalmente dos países onde a Igreja Universal se encontra sediada em conformidade com os registros presentes nas diversas edições do principal órgão midiático da IURD, a Folha Universal (FU n° 1250, 20/03/2016, p. B-10, B-11; FU nº 1.253,10/04/2016, p. B-10, B-11; FU n°1.262, 12/06/2.016, p. B-10, B-11; FU n° 1.281, 23/10/2.016, p. 4, 5). Ele, o Templo de Salomão, como o nosso objetivo geral é contemplado como elemento que fixa o Lugar da Memória da Igreja Universal do Reino de Deus a partir da cidade de São Paulo para o Brasil e para o mundo globalizado através da visibilidade deste espaço religioso, a partir da leitura de Norá (NORÁ, 1.992).. 10.

(11) Simultaneamente favorece a construção da memória de um lugar original – Israel ou a Terra Santa, a partir de um processo de reconfiguração ou de reconstrução da memória religiosa com a reprodução estética, geográfica dos diversos lugares reconhecidos como sagrados ou santos pelo Cristianismo e pelo Judaísmo: o Jardim das Oliveiras dentro do denominado jardim bíblico, como espaço da memória crista, e o templo, o tabernáculo do deserto, e o Memorial, como espaços relacionados com a memória religiosa judaica (NORÁ, 1.996). Portanto, tanto o Templo, como o denominado Jardim Bíblico, nos favorece a análise, a leitura, deles e de seus subespaços, como reproduções de localidades de uma memória religiosa distante geograficamente. E o emprego de materiais importados do Oriente Médio na construção deste edifício específico: o Templo, isto implica em garantir a autenticidade, a legitimidade do mesmo como uma cópia fiel ao respectivo original. Pois o discurso do bispo Edir Macedo de Bezerra (fundador da Igreja Universal) sobre o projeto do Templo de Salomão alimenta a relação memória e religião como um espaço concebido e percebido como um pedaço de Israel, da Terra Santa na cidade de São Paulo (LEFEBVRE, 2.000). Se trata de espaços, de memórias previamente escolhidos para o diálogo, conforme a relação existente entre a IURD e Israel mediada pela cultura religiosa de longo prazo da Terra Santa para serem reformulados, ressignificados. Os nossos estudos sobre o templo implicam em reconhecer este como um espaço exótico e sagrado, a partir da interação dos diversos públicos com ele, tornando-o num espaço vivenciado seja para os bispos, levitas e pastores, seja para os guias do tour no Jardim Bíblico, ou para os grupos humanos que interagem com ele, na categoria de freqüentadores, de visitantes comuns, ou de visitantes ilustres: as diversas autoridades diplomáticas israelenses, as autoridades civis nacionais, e átomos relacionados à mídia nacional que em diversas oportunidades visitaram o complexo. Pois temos a nossa disposição os vários depoimentos destes agrupamentos citados à mídia impressa oficial da instituição religiosa. E como um geo-símbolo desta comunidade religiosa dentro da cidade, reforçando o processo de legitimação desta na sociedade e no campo religioso, a partir do diálogo da Igreja Universal do Reino de Deus com o Judaísmo, cultura religiosa monoteísta ancestral do cristianismo. Ele pode ser lido por nós como um projeto arquitetônico do episcopado iurdiano que articula a. 11.

(12) história e a memória institucional em nome de uma hegemonia, visibilidade a serem reconhecidas no campo religioso. Dos espaços citados, destacamos aqueles relacionados com a cultura religiosa judaica e cristã: o Templo e o seu subespaço interno, o santuário, o Tabernáculo do deserto e os seus subespaços conforme as informações contidas nos diversos textos da bíblia hebraica, o Jardim das Oliveiras, segundo os registros dos evangelhos. E o Memorial – museu histórico cultural, e os seus dois subespaços: a área da exposição de bens materiais (objetos miniaturizados tanto do tabernáculo, como dos antigos templos) relacionados à história do Judaísmo antigo, e a área da comunicação multimídia audiovisual – onde há uma tela de alta resolução na qual há a divulgação da narrativa sobre os antigos espaços religiosos do monoteísmo judaico (o tabernáculo e os dois templos construídos em Jerusalém). Estes lugares no complexo são espaços planejados, produzidos de forma não aurática, desterritorializados, destradicionalizados, que revelam a dimensão do processo de apropriação dos símbolos pertencentes à cultura laica e religiosa judaica pelos diversos grupos pentecostais contemporâneos nacionais e suas diversas conseqüências – a questão da aura, da remitologização, e do misticismo emblemático. Sendo assim, temos a Memória de um Lugar específico, a cidade de Jerusalém expressa pelos seguintes edifícios, o templo, o Jardim das Oliveiras e a cúpula do Memorial. Ele, o templo, permite a construção da relação entre a memória e a história da instituição religiosa através da ação do episcopado da Universal reescrevendo-as em busca da hegemonia dentro do campo religioso cristão, protestante, pentecostal em nosso país. Adotamos como marco teórico deste trabalho a relação entre a Memória e a Religião dentro dos grupos religiosos pentecostais contemporâneos, pois são produtores de uma memória efêmera, passageira, transitória em relação aos fatos relacionados à fundação destes grupos modernos. No caso da Universal, o templo de Salomão nos permite ler a preocupação do grupo em construir uma referencia de memória fundante para o mesmo. Uma memória inspirada num fato religioso do passado monoteísta, apropriando-se deste para recriar e dar ressignificação para tal evento de um passado longínquio em nossos dias, segundo o pensamento de Halbwachs. 12.

(13) Por ser um trabalho acadêmico cruzado, a nossa empatia com a instituição foi construída a partir de um trabalho de campo (geográfico, religioso, urbano) de caráter observatório em conformidade com as regras propostas pelo grupo religioso para aquele espaço visitado por nós dentro do complexo: o tour religioso no Jardim Bíblico, e assistir as reuniões da Igreja Universal do Reino de Deus no templo de Salomão, ocupando dentro dele, locais diferenciados no interior do santuário. Simultaneamente, fizemos a comparação ente os espaços religiosos da instituição, o templo, a catedral e igreja comum, visitando estas últimas – a Catedral da Igreja Universal em São Caetano do Sul, e a Igreja comum da Universal em Vila Diva, além de outros espaços religiosos concorrentes do templo de Salomão no bairro do Brás, e da IURD na periferia da cidade de São Paulo, portadoras da apropriação cultural religiosa de elementos simbólicos pertencentes ao Judaísmo. As fontes consultadas por nós foram diversos artigos publicados na Internet por vários autores sobre a Universal e a construção do templo, o acesso aos órgãos midiáticos pertencentes a instituição religiosa citada: o boletim Hora da Mudança publicado em São Paulo, e a Folha Universal (FU), publicado no Rio de Janeiro e posteriormente transferido para São Paulo, ao site da IURD – Universal. Org.br, e a partir deste o acesso a outras fontes eletrônicas da denominação tais como: site do Templo de Salomão, o blog do bispo Macedo etc. Dividimos estas nossas pesquisas em três capítulos: Capítulo I – “A MEMÓRIA EFÊMERA E O PENTECOSTALISMO” No capítulo um estaremos criticando o pentecostalismo contemporâneo, fruto do fenômeno do pluralismo em nossa sociedade, e a sua memória efêmera construída a partir do emocionalismo e não do racionalismo, portanto distante de qualquer tradição. Nele abordaremos as definições de Memória, da Memória Religiosa, da Memória Espacial, da Tradição, das linhagens de crença religiosa, e a construção da relação o espaço/lugar, a memória dentro da cultura religiosa da Igreja Universal do Reino de Deus, o posicionamento crítico da Igreja Universal em relação a tradição religiosa. E a relação efêmera entre o pentecostalismo e a memória a partir de sua definição etmológica. Para nós, as linhas de crença, o lugar, a memória, a religião e as tradições. 13.

(14) são portadoras de diversas relações com o ser humano, pois estas são criações que tem como seu artífice ou criador o Homem e as várias sociedades pelos séculos a fora. A partir da relação construída entre a memória e a religião pretendemos responder uma questão importante, a relação existente entre a memória religiosa e o pentecostalismo. CAPÍTULO II – “A IURD EM SÃO PAULO” Neste capítulo estaremos abrangendo: as origens da Universal na cidade do Rio de Janeiro e sua trajetória, entre o final dos anos setenta e começo dos anos oitenta, quando esta se instala na cidade de São Paulo. Nele abordaremos a relação da IURD com a geografia – espaço/lugar, a ocupação física destes no meio urbano, e com eles a constituição de espaços diferenciados: centro – catedrais, igrejas suntuosas instaladas em espaços privilegiados nas diversas capitais, e na grande São Paulo. E a periferia – composto por igrejas comuns em avenidas movimentadas nos bairros da periferia da cidade. Tomamos como ponto de partida a definição da Universal como um grupo religioso pentecostal brasileiro contemporâneo que tem toda a sua gênese e expansão no meio urbano nacional e que faz parte do pluralismo religioso no meio protestante pentecostal. As razoes para a IURD fixar-se na cidade de São Paulo e a estratégia geográfica adotada pela instituição. A aplicação da teoria da mancha religiosa desenvolvida por Magnani (1.996)/e por Silva (2.014) para explicar a formação do território da Igreja Universal do Reino de Deus no Brás, e a construção do templo de Salomão neste bairro. A relação do templo de Salomão e a cidade de São Paulo e as relações geográficas que existem a partir do seu processo de construção. E as experiências humanas com este espaço. Capítulo III – “O TEMPLO DE SALOMÃO: MEMÓRIA E RELIGIÃO” Para nós este capítulo trata da questão do templo de Salomão no Brás e o processo de reconstrução da memória dentro do campo religioso.. 14.

(15) Sendo um espaço concebido, percebido e vivenciado para a fixação de um projeto político hegemônico e de uma memória original e com ele as suas relações políticas. O Templo é um instrumento que a materializa a existência do grupo religioso (ser sujeito e exercitar o poder no mundo) e das teorias da IURD: o circuito da conquista e da superação. O templo sendo contemplado por nós como o lugar das diversas memórias – da Igreja Universal e dos diversos lugares sagrados do Oriente Médio, e da religião dentro do pentecostalismo iurdiano. A análise do templo pelas seguintes teorias – da apropriação dos símbolos judaicos pelos grupos pentecostais contemporâneos, da remitologização através da importação de materiais do Oriente Médio, e do misticismo emblemático, que revela o processo de esvaziamento do conteúdo simbólico dos denominados símbolos judaicos pelos grupos religiosos pentecostais – no caso a monumentalidade arquitetônica. Ele, o templo, e suas relações com as diversas memórias religiosas – Lugar da Memória da Igreja Universal, e a Memória dos Lugares sagrados reproduzidos dentro do complexo.Porque a Universal precisa de recriar uma memória? Neste nosso trabalho de pesquisa não abordaremos a relação existente entre a economia e a religião através da teologia da prosperidade, a especulação imobiliária promovida pela construção do complexo naquele bairro central, e o complexo como um espaço de lazer/turístico favorecendo ao chamado turismo religioso dentro dele, devido a instituição construir para si um discurso contraditório sobre esta questão.. 15.

(16) Capítulo I – “A Memória Efêmera e o Pentecostalismo” 1.0 – Introdução: Este capítulo tem como objetivo abordar a Memória e suas relações com o espaço e com a religião, em especial com os grupos religiosos pentecostais contemporâneos nacionais. Onde a ideia de lugar tem grande importância nesta relação articulada com a memória e com a religião, tomando como referencia a Igreja Universal do Reino de Deus e os seus espaços religiosos nos grandes centros urbanos. E todo um debate entre a força da tradição dentro da religião e as reações em contrário a esta, a partir da pluralidade religiosa em nossa sociedade.. 1.1 – Memória: Definimos a Memória como toda evocação, lembrança/recordação humana, voluntária, coletiva ou individual, a qual articula uma determinada interpretação de uma lembrança ou recordação. Estas evocações ou lembranças podem ser – crenças, experiências (sensações, sentimentos), falas/palavras, narrativas, saberes enciclopédicos, técnicas de trabalho etc, as quais foram acumuladas ao longo do tempo por um indivíduo ou por uma determinada comunidade. Podemos resumir a memória como a um ato de transmissão cultural, onde o papel do Homem ou da sociedade é de interpretá-la (lê-la). Bem como a capacidade humana em esquecer ou em lembrar determinados fatos relacionados à vida coletiva e/ou individual (HERVIEU-LEGER; WILLAIME, 2.009) Dentro da área das ciências humanas há diversos autores que se dedicaram aos estudos e pesquisas relacionados à memória, tais como, Hobsbawn, Le Goff, Candau, Halbwachs, Pollack. Ricoeur etc (CANDAU, 2014, p.213,214, 217). Em nossos estudos, abordaremos o tema memória, a partir das contribuições elaboradas por Halbwachs (1.877-1.945). Segundo M. Halbwachs, a memória é a condição necessária para haver a construção de identidades e da unidade de um agrupamento humano. Uma das formas de alienação do Homem ou de um grupo étnico, religioso ou social e/ou de uma instituição é tornar seres humanos, grupos e instituições, excluídos, expropriados do acesso às respectivas memórias na sociedade. Quando estes esquecem o seu próprio passado, há a perda da 16.

(17) identidade, e com ela, a capacidade de enfrentar simultaneamente, tanto o passado, como o futuro (HERVIEU-LÉGER; WILLAIME, 2.009). Toda memória vivencia duas leis na relação que esta constrói com os seres humanos: A – a da recriação contínua, B – do esquecimento parcial/total de uma determinada lembrança. No primeiro caso temos a recriação contínua da lembrança/memória, a partir de demandas, de significações atuais, provenientes de dados extraídos ou oriundos do presente, tornando estas legítimas, pertinentes a uma respectiva coletividade. (HERVIEU-LÈGER; WILLAIME, 2.009). No segundo caso há um processo de condenação ao desaparecimento de uma determinada lembrança, pois o esquecimento parcial e/ou total é a forma da coletividade humana exprimir que ela não tem serventia atual para esta, que se tornou ao longo do tempo, descartável, sem importante para a vida comunitária (HERVIEU-LÈGER; WILLAIME, 2.009). Isto significa que a memória é um produto finito, podendo ser apagada, extinta ou reativada. Nesta relação construída com o Homem, a memória tem as seguintes propriedades: 1 – Permitir ao ser humano vivenciar um determinado acontecimento, ao ponto do indivíduo sentir-se parte do mesmo, através dos diversos rituais sociais. Sendo que este caso será exposto por nós, ao tratarmos da memória da religião. 2 – Ela é o instrumento de mediação entre a Humanidade e o mundo, revelando o modo de vida que está enraizado no interior de um grupo humano. Este fato é comum ao estudarmos as comunidades indígenas e quilombolas em nosso país e o seu território. Pois os mecanismos, as técnicas de sobrevivência física, cultural e a religiosidade destes grupos são reafirmadas no seu território através de diversas lembranças conservadas nas práticas cotidianas. Ele, Halbwachs, é o autor de uma subdisciplina da sociologia, denominada de sociologia da Memória, cujas teorias foram escritas por ele a partir de 1.925, com o livro: “Os Quadros Sociais da Memória.” Valorizando desta forma o lado positivo da memória coletiva, que é a seleção de acontecimentos, dos fatos sociais, das 17.

(18) interpretações do passado a partir do presente, por parte de uma determinada comunidade, reforçando a adesão afetiva de um sujeito a um determinado grupo, através dos sentimentos de pertencimento, a coesão social de um grupo (étnico, religioso, social) ou instituição. Portanto, o papel da memória coletiva é da apreensão de crenças e dos valores contidos nos diversos eventos. Assim, as lembranças ou os testemunhos se convertem em mecanismos sócio-culturais de mobilização da memória (coletiva, individual), que tem o poder de debilitar, enfraquecer ou de completar, fortalecer um determinado evento ou fato dentro de uma determinada comunidade. Para Halbwachs (HERVIEU-LÈGER; WILLAIME, 2.009, p. 220, 221), “a memória coletiva é fruto de dois processos: a seletividade das diversas memórias individuais e a harmonização das experiências, das lembranças, das observações feitas por terceiros”. A partir da obra, Os Quadros Sociais da Memória, Halbwachs afirma a existência da pluralidade de gêneros de memória em nossa sociedade, tais como: a individual, a grupal – família, instituições educacionais, religiosas, sindicatos etc. Esta pluralidade de gêneros de memórias é um produto construído pela Humanidade em diversos momentos desta. Todas elas são dependentes da memória coletiva e podem ser convertidas em memória social, isto é, uma memória coletiva que vivenciou ao longo do tempo um processo de apagamento ou sendo colocada em segundo plano devido às experiências de remanejamento/transformação. Halbwachs em suas pesquisas trabalha com ela, com a memória não indiferente, aquela que agrega os valores estéticos, humanos, simbólicos e sociais em sua transmissão, pois neste modelo de memória os valores advindos do capitalismo e do mercado tem valor de menor importância. 1.1.1– Memória Religiosa:. Dentre os gêneros de memória coletiva, podemos citar a memória religiosa, que é objeto dos estudos de Halbwachs, como um importante mecanismo de inserção e do pertencimento individual dentro de uma sociedade. Ela ganha importância nas pesquisas deste, porque os diversos rituais religiosos são os mecanismos sociais de condução do ser humano a participar deles e sentir-se parte de um determinado acontecimento, vivenciando-o.. 18.

(19) Podemos tomar como exemplo, o seder de Pessach da comunidade judaica, a eucaristia na cultura religiosa cristã do catolicismo romano e a santa ceia dentro da cultura cristã protestante, incluindo neles, os grupos religiosos pentecostais. O que todas elas possuem em comum? São rituais caracterizados por refeições comunitárias que colocam os seus participantes em contato com a memória de um passado religioso, reencontrando-o por meio de um acontecimento/fato importante para estes (RIVERA, 2.010). Os judeus e os cristãos devem nestas refeições assumir o processo de interação com estes fatos do passado, sentirem-se parte do acontecimento ou do fato comemorado em cada grupo. Por exemplo, a Hagadá de Pessach defende a teoria de que todo o judeu independente da época na qual nasceu, e do espaço aonde ele vive, deve sentir-se membro da comunidade ancestral escrava no antigo Egito, participando do processo de libertação narrado no livro de Êxodo (fonte primária da memória religiosa), e na Hagadá (fonte secundária de memória religiosa). O mesmo ocorre com os cristãos católicos e protestantes, eles devem ver-se como discípulos de Jesus Cristo quando participam da ceia do Senhor, anunciando a morte e a ressurreição do mesmo através desta refeição comunitária, como afirma São Paulo em sua carta à Igreja localizada na cidade grega de Corinto. A letra do famoso cântico protestante/pentecostal: vem cear o mestre chama, vem cear..., reforça esta ideia com tal convite1. Através das leituras destes exemplos citados, podemos afirmar que a memória religiosa além de ser um fenômeno social compartilhado entre os membros de um determinado grupo humano, promotor de um sentimento comum - a comunhão de consciências. Ela como importante referencia social procura manter viva, isto é não esquecida ou extinta, a recordação do passado religioso dos grupos monoteístas mencionados. Tanto o Seder de Pessach e sua narrativa na Hagadá, como a ocorrência da Eucaristia no catolicismo e o seu correspondente, a Santa Ceia na versão protestante e pentecostal, são eventos do passado aos quais não experimentamos de forma direta, porque fazem parte da memória. 1. “Vem Cear”, Harpa Cristã n° 301.. 19.

(20) religiosa destes grupos, mas existe todo um esforço destas comunidades para memorizar estes eventos, imergindo nesta experiência vivida. Segundo Hervieu-Lèger (HERVIEU-LÈGER; WILLAIME, 2.009, p. 229). “no caso da memória religiosa há um processo de apreensão das crenças, de ações subjetivas de determinados personagens, de rituais e de determinados valores.” Desta forma, a Memória religiosa aborda o conceito de lembrança como, um mecanismo de apendizado de fatos ou de movimentos já ocorridos, portanto, relacionados ao passado. A memória religiosa possui as seguintes características: ela tem como objetivo cultivar a lembrança existente sobre a deidade/divindade ou o sagrado dentro de uma determinada coletividade e/ou sociedade, a partir da relação entre o Homem, o seu mundo com o transcendente, com o mundo espiritual. Tomando a comunidade judaica como exemplo, o cultivo da lembrança, da memória é contemplado como um mandamento divino a ser observado por este grupo humano, sendo citado no texto bíblico cerca de novecentas vezes. Ela pode ser evocada a partir de meios materiais, tais como, as biografias de fundadores de diversos grupos religiosos, as crenças, as cerimônias, os dogmas, espaços religiosos produzidos para fins devocionais, os rituais, etc. Os quais estão relacionados a fé de uma determinada etnia ou grupo social. Toda memória religiosa é uma memória pluralista, e portadora da aspiração de ser uma memória coletiva, dominante e hegemônica, conforme os interesses vigentes. Logo, a sua continuidade, como a sua imposição existe por causa dos diversos conflitos, da concorrência entre elas, por serem simultaneamente, específicas e diferenciadas, ao criarem espaços para a inclusão e pertencimento de grupos ou indivíduos. Este confronto ou a luta entre memórias revela a pretensão delas em se converter numa memória coletiva com aspiração conquistadora, dominante, hegemônica e os interesses dos grupos sociais vigentes. Estes conflitos sociais geram dois grandes grupos de memórias religiosas: a memória autorizada, legitimada, oficial, verdadeira, e a memória desautorizada, ilegítima, marginal, condenada aos subterrâneos da cultura religiosa dominante (HERVIEU-LÈGER; WILLAIME, 2.009). Podemos citar como exemplo disto, as várias heresias que ocorreram dentro da história do cristianismo: o 20.

(21) montanhismo (Século II EC), o arianismo (Século V EC) e o nestorianismo (Século V EC). Segundo Hervieu-Lèger (2.009, p. 229), a memória desautorizada, vencida, dentro de uma determinada cultura religiosa pode ser apropriada, invocada e/ou reativada, a partir de novas aspirações de grupos em determinadas situações sócio-culturais, construindo em contra partida um modelo novo de religião, tendo como fundamento desta uma tradição imemorial – as antigas crenças marginalizadas pela memória religiosa oficial, associada a novos dados culturais. A dinâmica das relações sociais, a evolução dos saberes e das técnicas , as relações que a sociedade mantém com seu meio ambiente, os interesses das camadas dominantes em seu seio transformam as crenças antigas, e fazem emergir ideias religiosos novas. O estudo das antigas religiões revela desse modo a existência de diferentes extratos de crenças, que correspondem a cultos distantes no tempo e de orientações opostas. Enquanto a sociedade não pode se desembaraçar dessas crenças, ela deve se compor com elas, integrando-as em uma síntese religiosa continuamente re-elaborada (HERVIEU-LÈGER; WILLAIME, 2.009, p. 229).. Podemos citar como exemplo contemporâneo deste caso, a construção do Templo de Salomão, no Brás, pela IURD, entre os anos de 2.010 e 2.014. O Templo reafirma a ideia de um endereço fixo para a divindade manifestar-se e residir, como ocorria na antiguidade entre os judeus e entre os povos pagãos. Trata-se de uma ideia que os diversos grupos do cristianismo não esposam e condenam. Reforçam esta condenação seja pela ocorrência do fato histórico religioso: a destruição do antigo ‘templo judeu na cidade de Jerusalém pelas legiões do império romano em 70 AD, registrada por Flávio Josefo. Seja pelo pensamento dos diversos bispos cristãos no início da Medievalidade, sobre os judeus e sobre o Judaísmo, dentre eles, Agostinho de Hipona (Santo Agostinho), através de sua obra: Tractatus Adversus Iudaeos. Este pensamento religioso procura tornar marginalizada, ultrapassada e vencida a memória religiosa do Judaísmo em relação ao Cristianismo. Este modelo de crítica cristã condenatória da memória religiosa judaica na atualidade nos é descrita por Beling em seu artigo tomando como referencia de sua crítica, a postura controvertida da Igreja Universal do Reino de Deus no campo religioso cristão, e no subcampo protestante/pentecostal, abordando questão referente a nomenclatura do edifício religioso – Igreja ou Templo: 21.

(22) A designação correta ou adequada: templo ou igreja? Qual a importância dessa distinção? Há várias contribuições teológicas ao se discorrer sobre tal assunto. (...) o cristianismo não possui mais templos. A partir de Jesus e do seu ato conhecido como a purificação do templo e poderíamos acrescentar a profecia sobre a destruição do mesmo (Mc 11:15-19, e 13:1, 2) inaugurou-se uma nova relação espacial entre as/os que seguiam e seguem a mensagem de Cristo. (..) Diremos simplesmente que deveríamos abolir o termo ‘templo’ em favor do termo ‘igreja’, [...] porque a Igreja primitiva rejeitou o vocábulo ‘templo’: são os judeus ou os pagãos que têm templos, ao passo que os cristãos não têm, ou pelo menos não têm templos ‘feitos por mãos de homens’. Com efeito, um templo contraria a ideia de que Jesus Cristo é o único ‘catholicum Dei templum’, como dizia Tertuliano. Querer um templo na terra equivale a tentar ‘trazer do alto o Cristo’ (Rm 10:6), a falsear a situação escatológica da Igreja e, consequentemente, tentar aprisionar o Senhor” (BELING, 2.014, p. 6,7).. Todo este debate anteriormente citado por nós com Beling revela que a memória religiosa é na prática uma memória de combate nas palavras de Halbwachs, pois temos a ação de instituições religiosas defendendo a sua memória ou verdade oficial de diversas formas de contestação, negando qualquer direito a reinterpretação subjetiva destas, fazendo o que ele chama de ligação/oposição negativa. E no caso da relação religiosa entre o cristianismo e o judaísmo, há uma relação de descontinuidade entre eles (HERVIEU-LÈGER; WILLAIME, 2.009). Portanto o que vemos hoje nas diversas religiões contemporâneas é um processo de reativação, da retomada, de uma revivescência de ideias consideradas condenadas, marginalizadas ou obsoletas do passado por grupos religiosos oficiais. A este processo que mencionamos, Halbwachs denomina de crenças antigas ou de fragmentos/resíduos que vem do passado, os quais são repaginadas no presente, a partir de determinados interesses dentro do campo religioso cristão no Brasil (HERVIEULÈGER; WILLAIME, 2.009). Sendo que estes grupos religiosos contemporâneos a partir destas ideias marginais procuram construir uma reinterpretação subjetiva da verdade oficial. E os espaços religiosos que abrigam os diversos santuários, são formas de materializar a evocação de uma determinada lembrança/memória religiosa, do mesmo modo que faz os dogmas. No caso da Igreja Universal, o problema não está no emprego do substantivo templo em si, mas nas palavras que qualificam este edifício com a evocação de uma memória religiosa, pois há igrejas protestantes que designam os seus espaços religiosos como templos. Exemplo: a Igreja Presbiteriana do Brasil situada na Mooca utiliza a expressão 22.

(23) templo presbiteriano. Portanto, o termo presbiteriano qualifica qual memória religiosa é evocada pelo edifício – a reforma protestante/calvinismo. Os únicos espaços dentro do complexo construído que fazem apologia à uma possível memória cristã, é o poço de Jacó, cuja reprodução material tem como referencia bíblica ao encontro entre Jesus e a mulher samaritana citada pelo evangelho de João (Jo. 4:4-9), sendo que este local não faz parte do roteiro turístico de visitação dentro do denominado Jardim Bíblico e a reprodução do Jardim das Oliveiras, que se situa em Jerusalém. Este subespaço evoca a lembrança dos últimos momentos da vida do fundador do cristianismo em conformidade com o relato dos quatro evangelhos (Luc. 22: 39). 1.2 – Memória espacial: Tanto a memória como a religião articulam relações com os diversos espaços geográficos, especialmente com o lugar, construindo o que chamamos de Memória espacial. Mas para entender o papel da memória espacial, é preciso definir a expressão geográfica lugar. A – Lugar: A geografia nos permite fazer leituras amplas e diferenciadas de suas categorias ou conceitos chaves, e dentre eles podemos citar a expressão lugar, que em muitos textos é apresentado como sinônimo de espaço, porém não o são. Logo, a expressão lugar é portadora de diversas abordagens, interpretações, sentidos e significados. Ela, a geografia estuda tanto os Homens, como os lugares, sendo que ambos estarão presentes em diversos textos religiosos e sagrados da Humanidade. Definimos a palavra lugar como: uma referência geográfica locacional, pois todo lugar é uma posição no espaço. Exemplo, o complexo construído pela Igreja Universal é uma referência locacional: um lugar que se encontra num determinado espaço urbano, a cidade de São Paulo e num subespaço desta, o bairro do Brás. O termo lugar não se reduz a uma referencia geográfica na produção espacial, pelos seguintes motivos a seguir: primeiro, o lugar ganhou importância estratégica, articulando uma série de conexões e trajetórias com o fenômeno da globalização, sendo reconhecido desta forma como um espaço determinado ou específico. Este caso fica bem explícito com as diversas caravanas internacionais em visita ao complexo 23.

(24) construído no Brás pela Igreja Universal do Reino de Deus, em especial, ao templo de Salomão, conforme as diversas matérias publicadas sobre estas visitações pela Folha Universal: “É possível sentir a atmosfera de Jerusalém aqui: Diplomatas de Israel visitam o templo de Salomão, e comentam a impressão que tiveram do local”. (FU, 1.240, 10/01/2016, p. B-10, B-11). “Caravanas de Peruanos e Suiços visitam o templo de Salomão: estrangeiros pisaram em terras brasileiras exclusivamente para conhecer o santuário” (FU, 1.250, 20/03/2016, p. B-10, B-11). Segundo os geógrafos de diversas escolas, o lugar é contemplado como um espaço diferenciado e singular. A singularidade de um lugar se expressa por meio das diversas ações (as formas de agir) e experiências humanas presentes no nosso cotidiano, tais como: as angústias, os delírios, os entendimentos, as projeções, os sentimentos, bem como s identidades, os significados, os símbolos e valores propostos etc. Pois o significado das experiências varia de acordo com o lugar, as épocas, a função social e do grupo de indivíduos. Para Tuan (1.983, p. 151, 152, 156, 198), “ o lugar é um pequeno mundo, um centro gerador de significados subjetivos para cada pessoa e/ou sociedade. Ele afirma que os lugares são núcleos de valor, os quais podem ser apreendidos pela Humanidade.” Pois todo ser humano ao conhecer melhor o espaço que o rodeia, denomina este de lugar graças as suas experiências. Este processo de ordem subjetiva em converter um espaço num lugar pode ocorrer pelo sistema de apropriação de duas formas: pela via afetiva e a partir da experiência de vida com evento relacionando o local com a vida humana. Nestes dois casos temos um espaço vivido sendo convertido em lugar. O aspecto da diferenciação de um lugar é fruto da experiência humana, da cultura (conjunto de ações, crenças, práticas e valores), dando a este uma determinada função. Logo, a diferenciação espacial produz sensações, tais como: alegria, curiosidade,. 24.

(25) depressão, espanto etc. Mas a ideia do lugar não se restringe ao aspecto dos estudos na geografia humana, ele também pertence ao universo da religião2. I – Aspecto da Singularidade: Os aspectos da singularidade e da diferenciação fazem parte deste universo, pois todo espaço religioso e/ou sagrado é simultaneamente um espaço geográfico. Exemplos: Quando uma pessoa ao afirmar que a catedral da IURD situada no bairro do Brás, é a minha igreja ou o nosso templo, estaremos observando um processo de apropriação subjetiva a partir da afetividade, como instrumento da relação entre o sujeito e o objeto/lugar – espaço religioso, a catedral. Ou quando alguém na mídia escrita e/ou televisiva relaciona de forma subjetiva a relação sujeito e o objeto/lugar – espaço religioso, a partir de uma experiência de vida pessoal, como por exemplo, ter sido abençoado. Exemplo o relato da cura da síndrome de Guilain-Barré3. II – Aspecto da Diferenciação: Este aspecto da diferenciação também é construído pela subjetividade, as experiências humanas em conjunto com a cultura e função do espaço concebido (espaço religioso). Ao assistirmos na mídia televisiva a programação da IURD através do canal 21 da NET, os diversos apresentadores (incluindo o próprio fundador da Universal, o bispo Macedo) afirmam que os lugares religiosos da IURD, são espaços terapêuticos, pronto-socorro espiritual etc (TAVOLARO, 2.007). O qual é percebido pelas diversas experiências humanas que relacionam tais espaços com a cultura, com as orientações dadas em consultoria por especialistas religiosos daquela corrente/data, que refletem a associação das crenças e práticas com a vivência do ser humano naquele lugar. O mesmo ocorre na mídia escrita, a Folha Universal4. Além dos exemplos citados, a partir das nossas pesquisas há outros meios de relacionar o lugar como algo pertinente a religião, as diversas narrativas orais, pois segundo elas, 2. A geografia da Religião é a disciplina da geografia que estuda as diversas relações existentes entre a geografia e a religião. Nesta disciplina, o espaço ou o lugar religioso ou sagrado, são os objetos de estudos deste ramo de conhecimentos (ROSENDAL, 1.996, p.13) 3 Depoimento de Priscila C. de Souza e do esposo, Elisvan V. de Souza, que freqüentou as correntes de cura na Igreja Universal, em Cura: “Sem os movimentos do corpo,” in: Folha Universal, 20/11/2016, p. 10,11. 4 Depoimento de Bianca P. Galindo Sant’Ana e de Rodrigo Sant’Ana, que participaram da Terapia do Amor, na IURD, em Capa: “Os cinco destruidores do amor”, in: Folha Universal, 20/11/2016, p. 18. *Grifo e negrito nossos. 25.

(26) existem determinados espaços considerados como propriedades de deidades específicas. Ou o registro da ocorrência de uma hierofania – manifestação sobrenatural, criando uma aura de sacralidade sobre um determinado local. E por último, a presença das informações anteriormente mencionadas através de textos tanto os religiosos, como sagrados, os quais foram escritos por uma comunidade de fiéis. Neste último caso, podemos citar os textos sagrados, provenientes do monoteísmo judaico-cristão, que é uma cultura religiosa que preza ou valoriza a escrita em três textos: (...) Quando os céus se fecharem e não houver chuva, por terem pecado contra ti, e orarem neste lugar* e confessarem o teu nome, e se converterem dos seus pecados, quando tu os afligires,... Agora pois, ó meu Deus, estejam os teus olhos abertos e os teus ouvidos atentos à oração deste lugar*. (Rei Salomão, II Crôn.6: 26, 40).. Ou ainda: “Agora estarão abertos os meus olhos e atentos aos meus ouvidos à oração deste lugar*.” (II Crôn. 7:15)5 Porque assim diz o Alto e o Sublime que habita na eternidade, cujo nome é santo: Num alto e santo lugar* habito, como também com o contrito e com o abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos, e para vivificar o coração dos contritos.” (Isa. 57: 15)6. Logo, temos o registro de diversas procedências/épocas que associam os grupos humanos com as práticas devocionais a uma divindade, com o espaço/lugar, onde tais práticas espirituais devem ocorrer conforme a religiosidade de uma determinada cultura. B – Memória Espacial: Definimos a Memória Espacial como a impressão ou percepção histórica e mítica que um agrupamento humano produziu em determinado momento a partir do espaço organizado e vivido – lugar, onde este último é visto como uma contribuição cultural e social do Homem que exerce a função de produtor/reprodutor de espaços e lugares. E a grande conseqüência de tal impressão ou percepção é a construção subjetiva de uma identidade subjetiva. A memória espacial tem duas grandes características: a primeira, a subjetividade, isto é, o conjunto de possíveis condições que favorecem a existência do Homem a partir de uma explicação, que pode ser: um acontecimento ou fato social,. 5. Este texto encontra-se gravado na parede externa do Templo de Salomão em São Paulo, reforçando a ideia de que este é local é um lugar sagrado. 6 Este texto encontra-se gravado na parede externa do Templo de Salomão em São Paulo reforçando a ideia de que este é local é um lugar sagrado. *Grifo e negrito nossos. 26.

(27) coletivo ou individual. Exemplo: porque o templo de Salomão situa-se no bairro do Brás? Por que neste bairro instalou-se a primeira igreja da instituição, depois esta se tornou na catedral do grupo religioso na cidade de São Paulo, este espaço religioso recebeu historicamente o nome de catedral matriz do Brás dentro da cultura iurdiana. Logo, uma explicação ancorada num acontecimento ou fato social anterior, pertinente aos anos oitenta do século passado. A segunda, a denominada lembrança espacial constrói relações com espaços ou lugares vividos e memorizados por uma determinada coletividade através das experiências, do tempo, bem como dos nomes, posições de atuação, regras etc. Exemplo: os diversos registros escritos na Folha Universal sobre a visita de grupos estrangeiros provenientes da África, das Américas, da Ásia e da Europa, para conhecer o templo de Salomão. Ou a presença de autoridades locais ou de Israel ao complexo e especificamente ao Templo, revelando a experiência física, material e espiritual deste grupo de pessoas que vivenciaram naquele lugar, desde Julho de 2.014. Todos os registros midiáticos escritos destes mais de dois anos estão acompanhados de respectivas imagens, como a forma de evocar a lembrança/memória, tanto para a IURD, como para os visitantes. No caso desta segunda hipótese, a memória espacial determina com precisão, o espaço ou o lugar como o ponto de referencia de um acontecimento ou de uma experiência familiar, mencionando o tempo, os nomes e posições de atuação no meio social (HERVIEU-LEGER; WILLAIME, 2.009). Podemos citar neste caso como exemplos, o primeiro, o segundo, e o terceiro capítulos do evangelho escrito por Lucas, onde nos primeiros versículos dos capítulos acima, ele apresenta um inventário de nomes e de indivíduos em determinadas posições sociais de destaque, onde estes personagens favorecem a precisão espacial e temporal para introduzir o acontecimento: o nascimento de Jesus. E o credo cristão ou niceano, criado pelos cristãos a partir do século IV da EC, menciona nomes relacionados com a biografia de Jesus de Nazareth, pertinente ao século IEC: Maria e Pôncio Pilatos. O primeiro nome encontra-se relacionado ao nascimento de Jesus, o segundo nome está relacionado à dominação política do Império Romano na província da Judéia, o governador responsável pela morte por crucificação de Jesus. Tais dados citados tanto 27.

(28) no evangelho de Lucas, como no Credo Apostólico são importantes para se estabelecer uma memória e uma futura tradição religiosa cristã, tornando relevante o aspecto da precisão. A memória espacial permite ao individuo/sujeito entrar em contato com determinados espaços ou lugares, a possibilidade de ser transportado a momentos e lugares afetivos (emocionais) pertencentes à memória comunitária do grupo ao qual esta pessoa pertence. Um exemplo da existência da Memória Espacial fica evidente no depoimento do bispo Domingos Siqueira, da Igreja Universal do Reino de Deus, sobre o complexo que a instituição a qual ele pertence, construiu e inaugurou em dois mil e catorze no bairro do Brás, no site Universal.org: Quem visita o local é impactado pelo que vê e também pelo que ouve. A pessoa é transportada no tempo, como se saísse do Brasil e viajasse em pensamento para Jerusalém, e também por ali caminhasse. O Templo realmente faz isso, ele nos transporta para a Cidade Santa (Bispo Domingos Siqueira – Universal. Org.).. A entrevista concedida pelo bispo Domingos Siqueira ao site Universal.Org. em vinte e cinco de setembro de dois mil e catorze, evidencia o lugar como um importante espaço simbólico e investido de sentidos, com uma grande carga afetiva, emocional. Mas a relação entre a geografia e a memória não fica restrita a lembrança/memória espacial de uma etnia ou de um grupo religioso ou social e suas subjetividades, ela construiu uma relação dialética – o lugar da memória e a memória do lugar a partir dos estudos e pesquisas por parte de Pierre Norá. Estes estudos surgem graças ao interesse em pesquisar aos grupos humanos marginalizados ou sem voz na história, dar a estas comunidades o direito à memória. Ou seja, o lugar da memória é a forma de como uma sociedade lê o seu passado, porque o lugar da memória não é a própria memória, mas uma representação dela. Definimos o Lugar da Memória como o espaço no qual a memória encontra para si refúgio dentro de um momento particular. Pois ela tem o poder de enraizar-se no concreto, que pode ser um espaço/lugar geográfico, uma imagem etc. Eles são construídos ou existem porque as lembranças, as memórias vivenciam ameaças externas e internas, porque a memória pode ser apagada, extinta na sociedade moderna etc. Segundo Norá, a existência dos lugares da memória tem entre as suas causas, o processo de aceleração histórica via globalização e com este, a percepção de rupturas com o 28.

(29) passado, considerando-o como algo desaparecido, morto. O papel ou a função de um lugar da Memória é a de bloquear os esquecimentos, imortalizar, materializar o imaterial, parar o tempo. Um espaço recebe este nome quando ele é investido por uma aura simbólica da imaginação. O lugar da Memória é possível de ser compreendido e entendido com duas formas de explicação. A primeira associada à espacialidade, objetos se convertem em espaços, estojos para abrigo de determinados conteúdos ou informações, as quais podem ser costumes ancestrais, tradições etc. Estes estojos podem ser: um caderno, uma correspondência, uma partitura musical, um periódico, uma pintura etc. Exemplo, a Folha Universal, periódico oficial da IURD, ao noticiar sobre os vinte e um anos da Rede Aleluia, e da programação radiofônica desta emissora de rádio pertencente a Igreja Universal do Reino de Deus (Folha Universal,. 06/03/2016, p. B1, B2),. converte-se num lugar desta memória no abrigo, envólucro ou estojo. . A segunda encontra-se associada à ideia da Memória Espacial na qual o espaço geográfico sustenta os significados da memória. Neste caso, o lugar da memória pode ser identificado com um cemitério, uma praça ou um parque, um centro artístico cultural, um arquivo histórico ou museu etc – logradouros públicos. Um santuário ou um templo de uma determinada confissão de fé religiosa, a sede do sindicato de trabalhadores urbanos de uma importante categoria profissional – logradouros privados. Todos eles são marcos sociais construídos por coletividades específicas. Estes espaços ou lugares pertencentes à memória recebem o nome técnico de geossimbolos, porque são os olhos de certas etnias ou de determinados grupos culturais, políticos, religiosos, sociais, cuja dimensão simbólica fortalece a identidade dos mesmos. Dentro desta linha de interpretação, podemos contemplar o templo de Salomão, como um geossimbolo religioso da comunidade religiosa iurdiana dentro da cidade de São Paulo. Todo lugar da memória reflete: uma localidade onde não há mais memória pois o tempo perpetuou determinadas alterações ou mudanças, sobrando desta memória apenas restos, os quais são celebrados de diversos modos dentre eles, a história e a tradição, portanto, ele eterniza lugares distantes e passados de tal memória.. 29.

(30) Exemplo: O atual templo de Salomão construído pela Igreja Universal em São Paulo, procura eternizar de certa forma, este local distante na memória religiosa judaica. Ele se enquadra neste processo de uma lembrança concreta: o antigo templo judeu existente em Jerusalém destruído pelos romanos e cujo espaço em Jerusalém se encontra atualmente ocupado pela esplanada das mesquitas. Deste edifício antigo há restos, o muro externo do templo, o Kotel – o Muro das Lamentações no qual os judeus fazem a sua devoção religiosa, por causa disto, os judeus residentes em Jerusalém adotam o hábito em orar para esta localização por considerarem-no sagrado. (Vide anexos/imagem 1) Mas o lugar da memória é um eterno diálogo de memórias, entre o passado e o presente a partir das questões construídas pelo último, convertendo estes mesmos espaços citados em locais de rememoração, construindo os elos entre os espaços ou lugares e os eventos ou fatos pertencentes ao passado, favorecendo desta forma as releituras do espaço, dos fatos e dos sentidos. Exemplos: A Folha Universal através de duas edições fez menção de dois fatos importantes para a comunidade iurdiana – o aniversário de trinta e nove anos da IURD, (Folha Universal, 31/07/2.016, capa, p.2, 4-7), e o segundo aniversário da construção e inauguração do Templo de Salomão e do complexo de edifícios ao redor do mesmo (Folha Universal, Agosto/2.016, p. 4, 5). Além dos periódicos citados, estes aniversários celebrados de forma alegre se convertem em lugares da memória da instituição, ao abrigarem: informações sobre a fundação da IURD, e a inauguração do Templo. Portanto, memórias sociais, artificiais, que estimulam os sentimentos para a construção de um pertencimento. Em conformidade com este raciocínio, o lugar de uma memória específica é um depósito de conhecimentos, de experiências que favorece o processo de apreensão e da discussão dos sentidos inventados e produzidos, legitimando uma ordem cultural, um poder simbólico na sociedade local ou junto a um determinado grupo comunitário. A leitura do passado através do presente, não fica restrita ao lugar da memória urbana, mas pode ser feita pela memória do lugar.. Chamamos de Memória do Lugar, o. reencontro social da memória da com um determinado espaço. Logo, ela encarna as aspirações e as experiências e sentimentos humanos, de uma realidade que forneceu 30.

(31) significados a partir de um passado enraizado de um lugar, articulado pela cultura. Podemos ler a memória do lugar de duas formas: A primeira, afirmando que a memória de um lugar é uma operação de exumação de memórias esfaceladas, perdidas, pertencentes a um determinado passado, exemplo: os espaços denominados de traumáticos numa sociedade e os sobreviventes desta catástrofe ocorrida nos espaços mencionados, os quais converteram tais sobreviventes em homens-memória, nos portadores de tais memórias dentro da sociedade maior. Exemplo, os judeus sobreviventes do Shoá, que também são vítimas do Holocausto, e a manutenção dos campos de concentração e de extermínio, dentro do contexto europeu. A segunda, um espaço modificado, transformado, cujo passado não tem mais uma existência concreta. Dela, há apenas as indicações, os resíduos, os vestígios, tornando assim a memória do lugar numa representação construída e reinterpretada do passado. Podemos citar como exemplo o Lanífício Paulista, cujo edifício foi demolido para dar lugar ao templo de Salomão da IURD, ele foi um dos prédios que representou a industrialização têxtil na cidade e no bairro a partir dos anos vinte do século passado. As indicações ou resíduos, vestígios dele só existirão na memória oral dos funcionários que trabalharam naquele prédio, nas fotografias de época existentes, quando a empresa funcionava naquele endereço no Brás, nos registros desta empresa junto aos sindicatos patronal e dos operários têxteis, nas fotos feitas antes de 2.010, ano da demolição do edifício, e por último, na tese defendida por Ângela Rodrigues sobre o patrimônio fabri e industrial na cidade de São Paulo, sendo citado por ela o Lanifício Paulista (RODRIGUES, 2.011). Este caso específico nos revela que a instituição religiosa é autora de um processo de esquecimento constante do passado urbano, tornando-o transitório, sem nenhuma preocupação com o passado dos lugares que ocupa e/ou transforma (MODES, 2.007). Desta forma o passado contido no Lanifício Paulista dentro da história da industrialização paulistana no bairro do Brás, se torna descontinuada, porque uma nova história começa a ser escrita naquele antigo endereço ou espaço. O mesmo fenômeno ocorre com as pessoas que venderam seus imóveis a IURD, seja na construção da área que abriga o Complexo, seja nos apartamentos dentro do Condomínio Edifício Vidago. (Vide Anexos/Imagem 2).. 31.

(32) Uma das formas de se fazer a memória de um lugar na geografia é a reconstituição sutil de lugares em terras distantes que existem na memória de alguns especialistas – os grupos humanos que vivenciaram a experiência da circulação compulsória ou voluntária. Podemos tomar como exemplo, os estudos e as pesquisas feitas por Halbwachs sobre a questão dos lugares santos da cristandade ocidental no Oriente Médio durante o período medieval, através de sua obra, “A Topografia dos evangelhos na Terra Santa” (1.941). Ela caracteriza-se pela valorização da relação entre a memória e os lugares santos da cristandade situados no Oriente Médio, levando desta forma a constituição do livro – “A Topografia dos evangelhos na Terra Santa,” revelando a articulação cultural entre a geografia e a religião.. Todo acontecimento ou fato tem a sua localização numa determinada referência espacial e temporal, porque reconstitui o ambiente no qual a lembrança se apresenta, criando o que denominados de espaços/lugares sagrados ou santos. Nesta crítica sociológica, Halbwachs defende que o espaço ou o lugar tem um peso material maior, mais decisivo ou importante em relação a construção ou fixação da memória coletiva, como para os grupos humanos. Halbwachs toma como princípio desta explicação, a existência da memória coletiva religiosa cristã a partir das experiências e dos fatos registrados, dos locais evocados em lembranças religiosas de diversos peregrinos ou dos viajantes europeus do período medieval, cuja fonte escrita mais antiga pertence ao ano de 333 E.C, conhecido como o relato do peregrino de Bordeaux. O mesmo cita este processo de reconstituição de uma memória espacial por causa dos eventos ou fatos – as guerras religiosas entre cruzados e muçulmanos, que permitem uma reinterpretação deste passado cristão, a partir de possíveis indicações ou dos vestígios daqueles espaços considerados então sagrados pelos cristãos, ou reinventados pela tradição como substitutos dos originais que perderam a sua exata localização no tempo e as necessidades do presente (HERVIEU-LEGER; WILLAIME, 2.009). As pesquisas nos revelam a relação entre: a memória cultural (que é uma corrente de memória) através das lembranças e dos sentidos construídos a partir do passado de um grupo concreto, e os espaços ou lugares onde ocorrem os diversos eventos presentes na memória cultural. Deste modo, há a reconstrução do passado nos diversos grupos humanos classificados por Halbwachs, como grupos concretos (HERVIEU-LEGER; WILLAIME, 2.009).. 32.

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