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Celina Maria Rodrigues Pinto1

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Academic year: 2019

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(1)

MAIRIPORÃ

PERIFERIZAÇÃO E CONFLITOS AMBIENTAIS NA REGIÃO METROPOLITANA DE SÃO PAULO

Dissertação apresentada à Universidade Presbiteriana Mackenzie como requisito para obtenção do título de Mestre em Arquitetura e Urbanismo.

Orientador(a): Gilda Collet Bruna

(2)

Rodrigues Pinto – São Paulo, 2007. 256 f. : il. ; 30 cm.

Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2007.

Bibliografia: f. 231-243.

1. Meio ambiente. 2. Desenvolvimento urbano. 3. Mairiporã. I. Título.

(3)

MAIRIPORÃ

PERIFERIZAÇÃO E CONFLITOS AMBIENTAIS NA REGIÃO METROPOLITANA DE SÃO PAULO

Dissertação apresentada à Coordenação do Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie para obtenção do título de Mestre em Arquitetura e Urbanismo.

Aprovada em_____________:

BANCA EXAMINADORA

____________________________________ Profa. Dra. Gilda Collet Bruna

Universidade Presbiteriana Mackenzie

____________________________________ Profa. Dra. Angélica Aparecida Tanus Benatti Alvim

Universidade Presbiteriana Mackenzie

____________________________________ Prof. Dr. Carlos Hardt

(4)
(5)

A Deus, pela vida, pela mata e pela beleza de Mairiporã.

A meu pai, por ter me transmitido amor ao trabalho, ao estudo e coragem para recomeçar.

A Dinhá, que me ensinou que eu e a natureza somos um.

A José Roberto, esposo, amigo, companheiro, secretário, meeiro de todos os sonhos, inclusive este.

A meus filhos Juliana e Guilherme e neto Enzo, pela constante inspiração.

A Profª. Dra. Gilda Collet Bruna, mais que orientadora, uma nova maneira de ver o mundo.

Aos demais professores e funcionários do Instituto Presbiteriano Mackenzie, em especial à Profª. Drª Angélica Tanus Benatti Alvim, pela generosidade com que doa conhecimentos.

Aos funcionários da Prefeitura Municipal de Mairiporã (em especial a Roberta Pereira dos Santos Jacomines da Secretaria do Planejamento) e da Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano SA - Emplasa (em especial, a Ronaldo Luiz Pereira da Biblioteca e Priscilla May Delany Masson da Coordenadoria de Informação Geográfica, Diretoria Técnica) pela liberdade consentida, pela cooperação e paciência na colheita de dados.

(6)

A cidade de Mairiporã dispõe de um dos maiores patrimônios ambientais da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP). Todo o território municipal está incluído na Área de Preservação Ambiental do Sistema Cantareira (Lei Estadual nº 10.111 de 4 de dezembro de 1998, ainda não regulamentada), e 80,1% são ambientalmente protegidos pelo Estado (Leis Estaduais Nºs. 898 de 18 de dezembro de 1975 e 1.172 de 17 de novembro de 1976) o que a faz se relacionar com a melhoria da qualidade e da quantidade de água que abastece a região e com a manutenção de seus remanescentes florestais.

(7)

The town of Mairiporã counts on one of the larger environmental historic heritage of the metropolitan region of São Paulo.

The whole territory of the municipality is include as Environmental Preservation Area of the Cantareira Range Mountains (State Law nº 10,111 of December 4th , 1998, not yet regulated ) and 80.1% are environmental protected by the State (State Laws Nº 898 of December 18th , 1975 and 1,172 of November 17th , 1976) what is related to its better water quality and quantity that supply the region and with the forest remnants preservation.

(8)

Figura 1 – RMSP: Limite Político e Municípios 54

Figura 2 – RMSP: Áreas de Mananciais e Favelas 91

Figura 3 – RMSP: Expansão Urbana - Série Histórica 1882/2002 97

Figura 4 – RMSP: Sistema de Abastecimento de Água 102

Figura 5 – RMSP: Sistemas Principais de Esgotos 108

Figura 6 – RMSP: Índice de Abastecimento de Água 110

Figura 7 – RMSP: Índice de Coleta de Esgotos 113

Figura 8 – RMSP: Áreas de Mananciais 116

Figura 9 – Bacia Hidrográfica do Alto Tietê e RMSP 125

Figura 10 – Sub-Bacia Hidrográfica Juqueri-Cantareira 127

Figura 11 – Mairiporã: Processo de Ocupação do Território 134 Figura 12 – Mairiporã: Expansão Urbana - Série Histórica

1882/2002 139

Figura 13 – Mairiporã: Configuração do Território 143

Figura 14 – Mairiporã: Aptidão ao Assentamento Urbano 146

Figura 15 – Mairiporã: Periodização das Atividades Econômicas

1640/2000 154

Figura 16 – Mairiporã: Pedreira Cantareira 156

Figura 17 – Mairiporã: Centro – Vestígio de Indústria de Cerâmica 157

Figura 18 – Mairiporã: Uso e Ocupação do Solo 162

Figura 19 – Mairiporã: Área Central e Represa Eng°. Paulo de Paiva

Castro 164

Figura 20 – Mairiporã: Represa Eng°. Paulo de Paiva Castro 164 Figura 21 – Mairiporã: Represa Eng°. Paulo de Paiva Castro 165 Figura 22 – Mairiporã: Pontos Turísticos - Cachoeira, Bairro Caceia 166 Figura 23 – Mairiporã: Pontos Turísticos – Vista Mairiporã, a partir

do Morro do Olho D´Água 167

Figura 24 – Mairiporã: Distrito Industrial de Terra Preta 167 Figura 25 – Mairiporã: Distribuição da Ocupação no Território por

Região Segundo as Características Geográficas 171 Figura 26 – Mairiporã: Assentamento Urbano – Bairros e

Loteamentos 132

(9)

Figura 31 – Mairiporã: Serra da Cantareira – Loteamento de Alto

Padrão 177

Figura 32 – Mairiporã: Serra da Cantareira – Loteamento de Alto

Padrão 178

Figura 33 – Mairiporã: Represa – Loteamentos de Alto Padrão 179 Figura 34 – Mairiporã: Loteamento Clandestino Jardim Brilha 180 Figura 35 – Mairiporã: Loteamento Irregular Parque Náutico da

Cantareira 181

Figura 36 – Mairiporã: Distrito de Terra Preta - Jardim Residencial

I, II e III 182

Figura 37 – Mairiporã: Solo Urbano – Valor de Mercado 186

Figura 38 – Mairiporã: Solo Urbano – Valor Venal 191

Figura 39 – Mairiporã: Estrutura Viária 202

Figura 40 – Mairiporã: Sistema de Abastecimento de Água 209

Figura 41 – Mairiporã: Sistema Coletor de Esgoto 213

Figura 42 – Mairiporã: Subdivisões Espaciais de Acordo com o

(10)

Quadro 1 - Sistema de Abastecimento de Água na RMSP 101

Quadro 2 – Sistemas principais de esgoto da RMSP 107

(11)

Gráfico 1 - Evolução da Densificação da População Mundial 35 Gráfico 2 – População Residente do Brasil por situação de domicílio

- 1940/2000 55

Gráfico 3 Evolução da População Urbana, Brasil, RMSP

-1960/2000 (em porcentagem) 56

Gráfico 4 - Evolução da População Urbana, Região Sudeste, RMSP -

1960/2000 (em porcentagem) 56

Gráfico 5 - Evolução da População Urbana, ESP, RMSP -1960/2000

(em porcentagem) 57

Gráfico 6 - Evolução da População Urbana, MSP, RMSP –

1960/2000 (em porcentagem) 57

Gráfico 7 - Evolução do PIB e do PIB per capita - 1958/2004 (ano

1980 = 100) 62

Gráfico 8 - Índice do Produto Real do Brasil - 1970/1988 62 Gráfico 9 - Evolução do Salário Mínimo Real e do PIB per capita no

Brasil - 1940/1998 67

Gráfico 10 - Evolução da População residente do Brasil, ESP, RMSP

e MSP - 1960/2000 (em porcentagem) 68

Gráfico 11 - Evolução da População Residente do Brasil, ESP, RMSP

e MSP -1960/2000 (em TGCA) 69

Gráfico 12 - Componentes do Crescimento Demográfico do MSP -

1970/2000 70

Gráfico 13 - Componentes do Crescimento Demográfico da RMSP -

1970/2000 70

Gráfico 14 - Componentes do Crescimento Demográfico do ESP -

1970/2000 71

Gráfico 15 - Componentes do Crescimento Demográfico da SRN -

1970/2000 71

Gráfico 16 - Componentes do Crescimento Demográfico do

Município de Mairiporã - 1970/2000 71

Gráfico 17 - Evolução da População Urbana e Rural do MSP -

1970/2000 (em porcentagem) 72

Gráfico 18 - Evolução da População Urbana e Rural da RMSP -

1970/2000 (em porcentagem) 72

Gráfico 19 - Evolução da População Urbana e Rural do ESP -

1970/2000 (em porcentagem) 73

(12)

desemprego (Aberto/Oculto) entre a RMSP e o MSP -

1985/2005 (em porcentagem) 76

Gráfico 23 – Comparação dos Ocupados na Indústria de

Transformação, Comércio e Serviços na RMSP e MSP -

1985/2005 (em porcentagem) 79

Gráfico 24 – Variação do Rendimento Médio dos Ocupados no Trabalho Principal na Indústria de Transformação na

RMSP e MSP – 1985/2005 (em reais correntes) 83

Gráfico 25 – Variação do Rendimento Médio dos Ocupados no Trabalho Principal no Setor de Serviços na RMSP e MSP

- 1985/2005 (em reais correntes) 83

Gráfico 26 – Variação do Rendimento Médio dos Ocupados no Trabalho Principal no Setor de Comércio na RMSP e

MSP - 1985/2005 (em reais correntes) 84

Gráfico 27 – Variação do Rendimento Médio dos Ocupados no Trabalho Principal na RMSP e MSP - 1985/2005 (em

reais correntes) 84

Gráfico 28 - Implantação de Loteamentos Clandestinos no MSP -

1970/2000 (em km²) 87

Gráfico 29- Relação (%) entre a População Favelada e a População

do MSP - 1973, 1980, 1987, 1991 e 2000 92

Gráfico 30 - Evolução da População Residente na RMSP, MSP, SRN

e em Mairiporã -1970/2000 (em TGCA) 149

Gráfico 31 - Área Loteada no Município de Mairiporã - 1966/1979 168 Gráfico 32 – Porcentagem de Lotes por Faixa de Tamanho no

Município de Mairiporã - 1953/1979 169

Gráfico 33 - Evolução da Receita Total e do IPTU no Município de

Mairiporã - 1991/1995 (em milhões de reis correntes) 190 Gráfico 34 - Evolução da Receita Total e do IPTU no Município de

(13)

Tabela 1 - Evolução do Valor de Transformação Industrial (VTI) no

ESP, RMSP e MSP - 1970/2000 (em US$ 1.000,00) 58

Tabela 2 - Evolução do número de estabelecimentos na Indústria

(NEI) no ESP, RMSP e MSP - 1970/2000 58

Tabela 3 - Evolução do Pessoal Ocupado na Indústria (PO), ESP,

RMSP e MSP 1970/2000 59

Tabela 4 - Distribuição dos Assalariados do Setor Privado com e sem Carteira de Trabalho Assinada pelo atual

Empregador e dos Autônomos, segundo Setor de

Atividade na MSP - 1985-2001 (em porcentagem) 80

Tabela 5 - Distribuição dos Autônomos, segundo Atributos, no MSP

– 1985/2001 (em porcentagem) 81

Tabela 6 - Distribuição dos Assalariados do Setor Privado sem Carteira de Trabalho Assinada pelo Atual Empregador, segundo Atributos, no MSP – 1985/2001 (em

porcentagem) 82

Tabela 7 – Indicadores Escolhidos em Loteamentos Irregulares,

por Faixa de Renda do Chefe 89

Tabela 8 – Indicadores Escolhidos para o Conjunto do Município e

para as Favelas no MSP - 2000 93

Tabela 9 - Indicadores Escolhidos das Favelas de São Paulo e dos Setores Subnormais de outros Municípios da RMSP -

2000 96

Tabela 10 - Crescimento Populacional e Desmatamento em 10

Distritos do MSP 99

Tabela 11 - Evolução da População Residente (TGCA) da

Sub-Região Norte - 1970/2000 (em porcentagem) 150

Tabela 12 - Componentes do Crescimento Demográfico da RMSP,

MSP, SRN e Mairiporã -1970/2000 151

Tabela 13 - População Urbana e Rural da RMSP, MSP, RSN e

Mairiporã - 1970/2000 152

Tabela 14 - População Urbana e Rural da RMSP, MSP, RSN,

Mairiporã - 1970/2000 (em TGCA) 152

Tabela 15 - População Urbana e Rural da SRN - 1970/2000 (em

TGCA) 153

Tabela 16 - Participação de Mairiporã na Atividade Econômica da RMSP e da SRN, por Número de Estabelecimentos total

(14)

Tabela 18 - Participação de Mairiporã na Atividade Econômica da RMSP e da SRN, por Número de Estabelecimento na

Indústria - 1993/2003 (em porcentagem) 159

Tabela 19 - Participação de Mairiporã na composição do PIB da

RMSP e da SRN - 1999/2004 (em porcentagem) 159

Tabela 20 - Participação de Mairiporã no VA da RMSP e da SRN –

1999/2004 (em porcentagem) 160

Tabela 21 - Evolução do PIB per Capita na RMSP, MSP, SRN e

Mairiporã-1999/2004 (em reais correntes) 161

Tabela 22 - TGCA do PIB per Capita na RMSP, MSP, SRN e

Mairiporã - 1999/2004 (em porcentagem) 161

Tabela 23 - Viagens com Origem em Mairiporã - 2002 193

Tabela 24 - Matriz de Viagens Diárias Internas da SRM - 2002 193 Tabela 25 – Taxa de Motorização e Índice de Mobilidade na

RMSP,MSP, Mairiporã - 1987 e 1997 (em porcentagem) 194 Tabela 26 - Produção de Viagens Diárias por Motivo no Destino na

RMSP, MSP, Mairiporã, São Paulo - 1987 e 1997 (em

porcentagem) 195

Tabela 27 - Produção de Viagens Diárias por Modo na RMSP, MSP, Mairiporã, São Paulo - 1987 e 1997 (em porcentagem) 197 Tabela 28 - Produção de Viagens Diárias por Tipo, Origem

Mairiporã na RMSP, MSP e Mairiporã - 1987 e 1997 (em

porcentagem) 197

Tabela 29 - Produção de Viagens Diárias por Tipo no Destino, Origem em Mairiporã para os Demais Municípios da

RMSP – 1987 e 1997 199

Tabela 30 - Atração de Viagens Diárias por Motivo no Destino -

(15)

ABC Santo André, São Bernardo, São Caetano

BH-AT Bacia Hidrográfica Alto Tietê

BID Banco Interamericano de Desenvolvimento

CBH-AT Comitê da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê

CDHU Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano

do Estado de São Paulo

Cebrap Centro Brasileiro de Análise e Planejamento

CEM Centro de Estudos da Metrópole

Cetesb Companhia de Tecnologia e Saneamento Ambiental

CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente

CR Centro de Reservação

CRH Conselho Estadual de Recursos Hídricos

CSBH-JC Conselho da Sub-Bacia Hidrográfica Juqueri-Cantareira

DAEE Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado

de São Paulo

DECONT Departamento de Controle da Qualidade Ambiental da Secretaria do Verde e Meio Ambiente da Prefeitura de São Paulo

DIEESE Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos

EMPLASA Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano S/A

ESP Estado de São Paulo

ETA Estação de Tratamento de Água

ETE Estação de Tratamento de Esgoto

Fehidro Fundo Estadual de Recursos Hídricos

FIPE Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas

GSP Grande São Paulo

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

LOM Lei Orgânica do Município

LPM(s) Leis de Proteção aos Mananciais

LP(s) Leis de Proteção Ambientais

MSP Município de São Paulo

NEI Nº de Empreendimentos na Indústria

ONG Organização Não Governamental

ONU Organização das Nações Unidas

(16)

PMM Prefeitura do Município de Mairiporã

PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

PND Plano Nacional de Desenvolvimento

PO Pessoal Ocupado

RESOLO Departamento de Regularização do Parcelamento do Solo

RMSP Região Metropolitana de São Paulo

SABESP Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo

SEADE Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados

SEHAB Secretaria Municipal da Habitação

SEP Secretaria de Economia e Planejamento

SIGRH Sistema Integrado de Gerenciamento de Recursos Hídricos

SCBH-JC Sub-Comitê da Bacia Hidrográfica Juqueri-Cantareira

SM Salário Mínimo

SRN Sub-Região Norte

SPR São Paulo Railway

SVMA Secretaria do Verde e do Meio Ambiente

TGCA Taxa Geral de Crescimento Anual

UGRHI Unidade de Gerenciamento de Recursos Hídricos

UNCTAD United Nations Commission on Trade Agreements Development

UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

URV Unidade Referencial de Valor

VA Valor Adicionado

(17)

INTRODUÇÃO... 19

CAPÍTULO I... 23

PRESSUPOSTOS TEÓRICOS E CONCEITUAIS ... 23

1. ESPAÇO... 23

2. A CIDADE ... 27

2.1 A cidade e o meio ambiente ... 33

3. O ESTADO E A ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO URBANO... 43

3.1 Políticas públicas e meio ambiente... 45

4. CONSIDERAÇÕES SOBRE O CAPÍTULO I E REBATIMENTO DOS PRESSUPOSTOS TEÓRICOS... 49

CAPÍTULO II ... 52

MAIRIPORÃ EM SEU CONTEXTO SÓCIO - ESPACIAL... 52

1. A REGIÃO METROPOLITANA DE SÃO PAULO (RMSP) Primeira unidade de análise... 52

1.1 Industrialização, correntes migratórias e urbanização... 53

1.2 Ocupação do território: expansão da mancha urbana ... 61

1.2.1 O Macro Contexto Econômico... 61

1.2.2 Reflexos Sócio-Econômicos... 67

1.2.3 Reflexos físicos e ambientais ... 85

1.3 A questão hídrica ... 100

1.3.1 Ocupação das áreas de mananciais... 115

2. SUB-BACIA HIDROGRÁFICA JUQUERI-CANTAREIRA Segunda unidade de análise... 120

3. CONSIDERAÇÕES SOBRE O CAPÍTULO II... 130

CAPÍTULO III ... 132

O MUNICÍPIO DE MAIRIPORÃ Terceira unidade de análise ... 132

1. PROCESSO DE OCUPAÇÃO DO TERRIRÓRIO... 133

2. ESTRUTURA SÓCIO-ESPACIAL ... 144

2.1 Aspecto físico e ambiental ... 144

2.2 Aspectos socioeconômicos... 148

2.3 O solo urbano... 154

2.3.1 Principais atividades e uso do solo... 154

2.3.2 Principais divisões e áreas residenciais ... 170

2.4 O valor do solo urbano ... 182

2.4.1 O valor de mercado... 182

2.4.2 O valor venal ... 189

2.5 Infra-estrutura urbana... 192

2.5.1 Mobilidade ... 192

2.5.2 Sistema viário e transporte ... 201

2.5.3 Saneamento básico ... 207

2.5.3.1 Abastecimento de água... 208

(18)

2.6.1 A Lei Orgânica do Município (LOM)... 218

2.6.2 Considerações sobre o Plano Diretor do Município de Mairiporã (PDMM) para o período 2006/2015... 220

2.6.3 Perspectiva da nova Lei dos Mananciais e a cidade de Mairiporã ... 224

Síntese da estrutura urbana... 225

3. CONSIDERAÇÕES SOBRE O CAPÍTULO III... 226

CONCLUSÃO ... 228

BIBLIOGRAFIA ... 231

BIBLIOGRAFIA REFERENCIADA... 231

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ... 241

(19)

INTRODUÇÃO

Esta pesquisa surgiu a partir de algumas indagações a respeito da crise de abastecimento de água da RMSP entre os anos de 2001 e 2003, especialmente sobre a possibilidade de colapso do Sistema Cantareira que abastece de água a maior parte da região. Objetiva a discussão e a análise das principais variáveis envolvidas no processo, em especial as relacionadas com a recente urbanização do município de Mairiporã.

As questões principais são:

à Quais as particularidades, em termos ambientais da recente ocupação desse território?

à De que maneira esse processo se relaciona com os mananciais hídricos da região, portanto com seu abastecimento de água?

A estrutura, o conteúdo, os objetivos específicos, a metodologia empregada assim como a bibliografia básica é sucintamente apresentada, a seguir, por Capítulo, com o intuito de facilitar sua leitura e sua compreensão.

O Capítulo I apresenta o quadro teórico necessário para entendimento e andamento da pesquisa, bem como, os principais conceitos inerentes ao tema: espaço, cidade e sustentabilidade.

(20)

1985,), Harvey (1980, 2004, 2005) e Castells (1983, 2002). À análise dos dados se seguiu o cruzamento entre percepções distintas do mesmo conceito por parte de autores diversos ou fases conceituais distintas de cada autor.

O conceito de sustentabilidade baseou-se principalmente nos relatórios Limites do Crescimento (MEADOWS et al, 1973) e Nosso Futuro Comum (Comissão Mundial Sobre Ambiente e Desenvolvimento da Organização das Nações Unidas – ONU- em 1991).

O Capítulo II engloba a problemática, a nível regional, em duas unidades de análises. A primeira refere-se à industrialização, expansão da mancha urbana, mudança do perfil produtivo, ocupação das áreas de mananciais e conseqüentes rebatimentos no abastecimento de água. A segunda refere-se à gestão integrada das áreas de mananciais e Bacias Hidrográficas em curso no Estado e na RMSP. Instituída pela Lei Estadual n°. 9.866 de 28 de novembro de 1997 vincula a gestão das áreas de mananciais ao gerenciamento dos recursos hídricos, ainda não implantada, até o presente, na Sub-Bacia Hidrográfica Juqueri-Cantareira (SBH-JC), onde se localiza a cidade de Mairiporã.

Os objetivos específicos do Capítulo passam pelo entendimento de como o processo histórico de urbanização da RMSP e da ocupação de suas áreas de mananciais incidem na configuração espacial do município de Mairiporã através de sua atual fase urbanística e seu reflexo na preservação dos mananciais e conseqüentemente no abastecimento de água.

(21)

RMSP. Os principais apoios bibliográficos em termos teóricos vieram de Santos (1994), Marcondes, (1999) e Reis (2006).

O Capítulo III refere-se ao processo no âmbito intra-urbano. Está centrado na discussão da recente urbanização do Município de Mairiporã e seu rebatimento na questão hídrica da região metropolitana.

Neste capítulo a metodologia aplicada incluiu novamente coleta, tabulação, análise e síntese comparativa de dados no nível do macro-contexto (RMSP) e do micro-contexto, ou seja, a Sub-Região Norte 1 (SRN). Entrevistas selecionadas, pesquisas exploratórias, fotografias e confecção de mapas complementam a pesquisa. As principais fontes de dados são a Prefeitura Municipal de Mairiporã (PMM) e a Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano S/A (Emplasa). O apoio teórico específico é centrado em Villaça (2001), Taschner (1992), Taschner e Bógus (2001) e para a pesquisa histórica em Ramos (2006).

1 Formada pelos municípios de Francisco Morato, Caieiras, Franco da Rocha,

(22)
(23)
(24)

CAPÍTULO I

PRESSUPOSTOS

TEÓRICOS E

CONCEITUAIS

1. ESPAÇO

A compreensão dos processos de organização do espaço urbano e da participação dos agentes envolvidos em sua produção e consumo, passa necessariamente pelo entendimento conceitual de espaço2, bem como da linha evolutiva que este conceito tem apresentado, diante da constante evolução dos meios de produção e por conseguinte dos processos sociais e espaciais.

O espaço é um ente muito complexo. Por isso mesmo, muitos teóricos abordam a questão em etapas ascendentes de complexidade. Um desses teóricos empenhados em apresentar concepções distintas mais complementares de espaço, é o geógrafo brasileiro Milton Santos (1985, 1994).

Santos apresenta o espaço como uma concepção dialética entre coisas e processos, tendo a tecnologia como condicionante: “a soma de paisagem (objetos geográficos naturais e artificiais),

2 Não se trata aqui de um estudo epistemológico, e por isto, o critério de escolha dos

conceitos apresentados foi adequação e conveniência inerente ao tema. Para uma melhor apreciação ver: COSTA, Wanderley Messias da. “O espaço como categoria de análise”.

Revista do Departamento de Geografia. São Paulo: FFLCH – Universidade de São Paulo, 1983, nº 2, p. 45-53; OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino de. “Espaço e Tempo: compreensão materialista e dialética”. In: SANTOS, Milton (org.). Novos rumos da geografia brasileira.

(25)

mais a sociedade (processos sociais), que dá vida a esses objetos” (SANTOS, 1985, p.2). “Um sistema formado pelas coisas

e a vida que as anima”. Ou ainda: espaço é “natureza e sociedade

mediatizada pelo trabalho” (SANTOS, 1994 p. 25).

O espaço é formado de fixos e fluxos. Têm-se elementos fixos, fluxos que se originam e que chegam a esses elementos fixos. Esse conjunto de fixos naturais e sociais, ora chamado de técnica, ora de sistema de engenharias, são os elementos formadores do espaço. Estes elementos vêm evoluindo à medida que a circulação ganha ritmo frenético pressionada pela necessidade de ampliação da mais valia3 e à medida que altera o tempo de circulação da mercadoria, altera também o tempo de consumo, e o tempo de realização da mais valia, e por conseguinte altera também a noção do espaço (SANTOS, 1994, p. 77-79).

Numa segunda apreensão, Santos não define, explica o espaço pelas relações que orientam sua organização, levando em conta ingredientes sociais, naturais e a questão da periodização, através dos conceitos de forma (o aspecto visível do objeto), função (papel que o mesmo desempenha), estrutura (maneira pela qual os objetos se inter-relacionam) e processo (ação, ou estrutura em movimento, ou transformação):

Forma, função, estrutura e processo são quatro termos disjuntivos associados, a empregar segundo um contexto do mundo de todo dia. Tomados individualmente apresentam apenas realidades limitadas do mundo. Considerados em conjunto, porém, e relacionados entre si, eles constroem uma base teórica e metodológica a partir da qual poderemos discutir os fenômenos espaciais em totalidade. Forma, estrutura e função podem ser

3 A mais valia é aquela parte do valor total da produção que é posta de lado, depois que o

(26)

individualmente enunciadas como o foco da organização espacial.

Em outras palavras, forma, função, processo e estrutura devem ser estudadas concomitantemente e vistos na maneira como interagem para criar e moldar o espaço através do tempo (SANTOS, 1985, p. 52).

Dessa forma, espaço é entendido como um sistema de elementos variáveis com o tempo.

Já numa terceira acepção, esta definição é novamente ampliada: são enfatizadas as idéias de totalidade e mais veementemente, temporalidade ou evolução. Os elementos espaciais antes, elementos simples, agora são complexos, sendo eles também sistemas, estruturas.

O espaço é um sistema complexo, um sistema de estruturas, submetido em sua evolução, à evolução de suas próprias estruturas. [...] estruturas demográficas, econômicas, financeiras [...] (SANTOS, 1985, p. 16).

A estrutura espacial é algo assim: uma combinação localizada de uma estrutura demográfica específica, de uma estrutura de produção específica, de uma estrutura de renda específica, de uma estrutura de consumo específica, de uma estrutura de classes específica, de um arranjo específico de técnicas produtivas e organizativas utilizadas por aquelas estruturas e que definem as relações entre os recursos presentes (SANTOS, 1985, p. 17).

David Harvey (1980, 2004, 2005) é outro teórico envolvido com a questão conceitual do espaço, porém sua abordagem inicial é de certa forma bem diversa.

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“O que é isso que as diferentes práticas humanas criam fazendo uso de distintas conceituações de espaço?”. E conclui:

A relação de propriedade, por exemplo, cria espaços absolutos [...] .O movimento das pessoas, bens, serviços, informações têm lugar num espaço relativo, porque é preciso dinheiro, tempo energia etc., para ultrapassar o atrito da distância. Parcelas de terras também proporcionam dividendos porque elas relacionam-se com outras parcelas; as forças potenciais demográficas, de mercado e varejo, são bastante reais dentro de um sistema urbano e sob a forma de renda do espaço relacional, surgem como importante aspecto da prática social urbana (HARVEY, 1980, p. 5).

Ou seja, a partir da prática humana do uso do espaço, Harvey conclui que espaço é o que se faz dele. Como a acumulação do capital, ocorre num contexto geográfico, “gera” espaços. Como é um processo muito dinâmico, origina formas espaciais que tendem sempre a “se expandir” e/ou se “transformar”, já que a produção, a distribuição e o consumo são elementos de uma mesma totalidade, ou um único ente. Dessa forma, justifica a compressão espaço-tempo, como uma característica dos meios de produção capitalista, que em anos recentes tem se tornado componente essencial do conceito de espaço (HARVEY, 2005, p. 43-51):

(28)

Mais recentemente, Manuel Castells, a partir do axioma fundamental da teoria social de espaço4, conclui que as novas práticas sociais da sociedade atual, identificada como sociedade informacional ou sociedade em rede5, são as bases para o surgimento de novas formas e processos espaciais e conclui: “do ponto de vista da teoria social, espaço é o “suporte material de práticas sociais de tempo compartilhado”. Portanto, ao contrário do conceito espacial por muito tempo assimilado no qual “espaço resulta em contigüidade física”, identificados por Castells como “espaços de lugares”, os espaços informacionais, ou os espaços dominantes da sociedade em rede, ou os espaços dominantes nas práticas sociais da vida atual, econômica, política e simbólica, surgidas com a sociedade informacional, são o conjunto de elementos que sustenta esses fluxos, identificados e tratados por “espaços de fluxos” (CASTELLS, 2002, p. 436).

Castells descreve o espaço de fluxos, pela combinação de três camadas de suporte material: a primeira camada é constituída por um circuito de impulsos eletrônicos, a segunda por seus nós (centros de importantes estratégias) e centros de comunicação. E a terceira refere-se à organização espacial das elites gerenciais dominantes (e não de classes) que exercem as funções direcionais em torno do qual esse espaço é articulado (CASTELLS, 2002, p. 501-504).

2. A CIDADE

Seja espaço6, uma instância da sociedade (SANTOS, 1985, p.1), um reflexo da sociedade (CORRÊA, 2005, p.8), ou expressão da

4

(...) tempo e espaço não podem ser entendidos independentemente da ação social”

(HARVEY, 1990, p.204).

5 O assunto será tratado a seguir como referência em “A Cidade”.

6 Harvey (1980, p. 21-23) usa o termo “espaço social”, “integrando as imaginações

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sociedade (CASTELLS, 2002, p. 435), a cidade é um ente concreto, isto é, físico, “forma e resultado de um processo” (ARGAN, 1998, p.75), que pode ser entendida como um “produto social” resultado de “ações acumuladas através do tempo”,

engendradas por agentes que produzem e consomem o espaço

(CORRÊA, 2005, p.11). Para suporte teórico metodológico deste trabalho é imperativo entender as leis estruturais e conjunturais que comandam sua existência, suas transformações, partindo da premissa de que toda forma social pode ser compreendida a partir da articulação histórica de vários modos de produção7 coexistindo ao mesmo tempo (CASTELLS, 1983, p.159), embora todo o sistema seja comandado por um modo de produção dominante específico de cada época ou momento histórico (SANTOS, 1985, p.14).

Há concordância da necessidade de excedente8 agrícola para a emergência das formas da cidade em Santos (1994, p. 53), Harvey (1980, p.185; p.203) e Castells (1983, p.19).

A história indica que os primeiros aglomerados sedentários com forte densidade populacional surgem na Mesopotâmia por volta de 3.550ac., no Egito por Volta de 3.000ac, na China e na Índia entre 3.000 e 2.500ac., em um momento em que as técnicas e as condições sociais e naturais do trabalho permitem aos agricultores produzir mais do que necessitam para subsistir, o que equivale dizer, que parte da sociedade poderia se ocupar com algo diferente do trabalho agrícola. Nasce então, um novo sistema social, (e não um novo modo de produção), ainda

7Entende-se como modo de produção: “a matriz particular de combinação entre as

instâncias (sistemas de práticas) fundamentais da estrutura social: econômica, político-institucional e ideológica essencialmente.” (CASTELLS, 1983 p.159).

8 Planyi et al. (1957, p.321 apud HARVEY, 1980, p.185) coloca que um excedente é

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dependente do sistema de produção rural9. Dessa forma, sem participar do sistema produtivo, emerge a cidade como um espaço político-administrativo, fato evidenciado quando na queda do Império Romano do Ocidente e entrada da Idade Média tal forma sócio-espacial chega a quase total paralisação, já que tal função passou a ser exercida pelos senhores feudais. A partir de então, a cidade somente renasce como fortaleza10 e se fortalece pouco a pouco através de incipiente mercado gerado através das rotas abertas pelas cruzadas, nas quais distribuíam os produtos que ultrapassavam os limites da subsistência, até chegar à autonomia suficiente para investir em manufaturas (CASTELLS, 1983, p.19-21).

Nos séculos XVI e XVII, há o desenvolvimento das cidades comerciais espanholas e portuguesas, intermediárias entre as coroas e o comércio sul americano, porém, permanecendo sempre o mesmo modo produtivo rural (CASTELLS, 1983, p. 23).

O capitalismo da primeira revolução industrial11, inserido no desenvolvimento do tipo de produção capitalista12, molda a cidade industrial tendo a “indústria” como elemento dominante na

9 Marx considera este momento como a primeira luta de classe, na forma de antagonismo

entre cidade e campo (HARVEY, 1980, p. 263).

10Max Weber define as características para as cidades ocidentais: “uma fortificação; um

mercado; uma corte própria e leis parcialmente autônomas; uma forma específica de associação, autonomia parcial e auto-cefalia” (apud HARVEY, 1980, p.263).

11 A 1ª Revolução Industrial foi desencadeada na Inglaterra por volta de 1780 e se

constitui pela capacidade de multiplicação rápida da produção de mercadorias e de serviços, inicialmente com invenções técnicas modestas: a lançadeira, o tear, e a fiadeira automática. A invenção da máquina a vapor de James Watt veio apenas em 1784 (ROBSBAWM, 1981, p. 46).

12 Para Harvey (2005, p. 129) “modo de produção capitalista é aquele em que a

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organização da paisagem13 urbana. Nesta fase, as cidades atraem indústrias, devido particularmente a mão de obra e mercado, e por sua vez, as indústrias desenvolvem novas possibilidades de emprego e suscitam serviços e, num sistema de realimentação, promovem urbanização (CASTELLS, 1983, p. 23).

A teoria marxista ensina como relacionar teoricamente acumulação de capital e a transformação das estruturas espaciais que origina a cidade capitalista: “a acumulação do capital ocorre

num contexto geográfico, criando tipos específicos de estruturas

geográficas”, sendo intrínseco ao sistema, ou modo de produção

capitalista, dinamismo e expansibilidade, o que faz com que esteja sempre, permanentemente, reformando o mundo e o ambiente, pois a organização espacial e a expansão geográfica são produtos necessários para o processo de acumulação do capital que tem a circulação como elemento essencial (HARVEY, 2005, p. 47-55).

O crescimento no capitalismo é um processo de contradições internas que freqüentemente irrompe sobre a forma de crises14 (MARX, 1967, vol.2 p. 495,15 apud HARVEY, 2005, p. 44), geradas por tensões inerentes à acumulação do capital. Estas crises se apresentam porque tal processo pressupõe: a existência de uma reserva excedente de mão de obra16; a existência no

13

A paisagem é o conjunto de coisas que se dão diretamente aos nossos sentidos. A configuração territorial é o conjunto integral, de todas as coisas que formam a natureza, em seu aspecto superficial e visível” (SANTOS, 1994, P. 77).

14Marx fixa uma teoria geral dos mecanismos de crise: excesso de acumulação associado

à rigidez dos blocos do capital imobilizado e das suas soluções características: desvalorização, expansão do crédito e reorganização espacial (apud HARVEY, 2005, p.37). Em geral essas crises periódicas devem ter o efeito de expandir a capacidade produtiva e de renovar as condições de acumulação adicional (HARVEY, 2005, p. 44-47).

15Marx, K. (1967), Capital, 3 volumes, New York.

16 Isto equivale a um exército de reserva industrial para alimentar a expansão da

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mercado de meios de produção; e mercado crescente para absorver as mercadorias (HARVEY, 2005, p. 44-45).

A cidade capitalista é derivada da dinâmica de acumulação de capital, das necessidades mutáveis de sua reprodução e dos conflitos de classe que dela emergem. Por isto, está em constante processo de reorganização espacial - via incorporação de novas áreas, densificação do uso do solo, deterioração de certas áreas, renovação urbana, relocação diferenciada da infra-estrutura e mudança coercitiva ou não do conteúdo social e econômico de determinadas áreas (CORRÊA, 2005, p.11) e detém em sua configuração espacial as mesmas tensões implícitas dessa dinâmica, através de urbanização desenfreada (em forma de grandes aglomerações), centralização (em forma de um núcleo central), descentralização (em forma de núcleos secundários), coesão (em forma de especialização), fragmentação dos espaços, segregação residencial, articulação (através do consumo e mercado) e outros (CORRÊA, 2005, p.37).

Desses processos e formas espaciais originadas, é a segregação residencial, pela implicação com o tema, um dos mais relevantes. Para Castells (1983, p. 210), é:

a organização do espaço em zonas de forte homogeneidade social interna e com interesses e disparidades entre elas, sendo estas disparidades compreendidas não só em termos de diferença como também de hierarquia.

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extrapolam o âmbito deste estudo. O conceito aqui focado, refere-se à segregação por classes sociais, que:

[...]subjuga, domina, e explica todas as outras, além de apresentar um potencial incomparavelmente mais rico de explicação e de articulação com os processos econômicos, políticos e ideológicos, encontrada em menor ou maior grau em todos os grandes centros metropolitanos habitados por sociedades de classe (VILLAÇA, 2001, p. 95).

Em tempos mais recentes o espaço urbano vem sofrendo

profundas transformações pelas implicações que as

modernizações trouxeram, sobretudo as inovações na tecnologia da informação, para as considerações analíticas do espaço e para a configuração espacial da cidade. Este período, iniciado com o fim da 2ª Guerra Mundial, ou “período tecnológico” se caracteriza por grandes corporações internacionais, servidas por meio de comunicação extremamente difundidas e rápidas. A tecnologia constitui uma força autônoma e todas as outras variáveis do sistema são de uma forma ou de outra a ela subordinadas em termo de operação, evolução e possibilidade de difusão (SANTOS, 1985, p. 27-28).

Harvey analisa esse processo através da teoria da acumulação de Marx: “a revolução nos meios da indústria e da agricultura torna necessária a revolução nos meios de comunicação e dos transportes”. “O imperativo da acumulação implica no imperativo da superação das barreiras espaciais” (MARX, 1967, vol. 1, p.384, apud HARVEY, 2005, p. 50).

(34)

identificado como pós industrialismo da sociedade contemporânea, ou 3ª Revolução Industrial. Esta nova estrutura social, a sociedade informacional, resulta em novas práticas sociais que se traduzem em novas vivências do espaço e do tempo.

A nova economia global e a sociedade informacional emergente têm uma forma espacial que se desenvolve em vários contextos geográficos e sociais, as “megacidades”, que são aglomerados com mais de dez milhões de pessoas. Mas o tamanho não é sua qualidade definidora. Essas cidades são os nós da economia global que concentram as funções superiores direcionais produtivas e administrativas de todo o planeta, o controle da mídia, a verdadeira política do poder, a capacidade simbólica de criar e de difundir mensagens, articulam a economia global, ligam as redes informacionais, portanto, concentram o poder mundial (CASTELLS, 2002, p. 492-493).

2.1 A cidade e o meio ambiente

Não há exatidão sobre a época do surgimento de uma “consciência ambiental”. Pode-se argumentar que a ética aristotélica do “meio termo” ou “justo meio” de certa forma já traduz, em relação ao homem, os princípios de “justeza” (não desperdiço), presente no conceito de sustentabilidade (ARISTÓTELES, 1973, p. 302-338).

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com a natureza do homem, como o “conhece-te a ti mesmo” socrático. Mesmo assim, o pensamento rousseauano influencia todo período romântico17

Há um elemento que explica a completa ausência do problema ambiental antes da revolução industrial no século XVIII: a aceleração da expansão demográfica no planeta. A população mundial leva alguns milênios antes de encontrar nos dois últimos séculos um processo de crescimento contínuo e ascendente, conforme demonstrado no Gráfico 1. Entre o neolítico até o início de nossa era, a população do planeta apenas dobra. É preciso quinze séculos para que dobrasse novamente, chegando a quarenta e cinco milhões em 1750. Um século depois, em 1850, a população dobra novamente. Alcançando 2 bilhões e quatrocentos milhões em 1950. Quinze anos depois, em 1965, éramos três bilhões e meio de indivíduos (SANTOS, 1994, p.38-39), chegando a seis bilhões e meio no ano 2000).

As mudanças produzidas no território, pela revolução industrial, molda o que o que se chama de cidade industrial, sendo a primeira dessas mudanças o aumento de população no sítio.

17 Inicialmente apenas uma atitude, um estado de espírito. O romantismo foi um

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GRÁFICO 1 - EVOLUÇÃO DA DENSIFICAÇÃO DA POPULAÇÃO MUNDIAL 0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000 3 5 0 0 A C 3 0 0 0 A C 2 5 0 0 A C 2 0 0 0 A C 1 5 0 0 A C 1 0 0 A C 5 0 0 A C 0 5 0 0 1 0 0 0 D C 1 5 0 0 D C 2 0 0 0 D C (em milhões)

Fonte: Dados: Santos (1994, p. 38-39). Org.: Celina M. R. Pinto (2006).

A primeira reação contra a situação sanitária das cidades industriais populosas inglesas é efetuada pela Lei de 31 de Agosto de 1848: tratam-se da centralização dos serviços de gestão e controle das condições sanitárias, do abastecimento de água, esgotos, drenagens, limpeza urbana, pavimentação, e outros. Como primeira conseqüência desta lei, em 1849, uma lei semelhante é também sancionada na França (BENÉVOLO, 1981, p. 98-107).

Nesta época, e diante desses fatos, mentes esclarecidas indagam, como o fez John Stuart Mill (1857 apud Meadows et al., 1973, p.127):

“Para onde a sociedade está se dirigindo com seu progresso industrial?”

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Após a Segunda Revolução Industrial18 a cidade sofre mudanças qualitativas com relação à dimensão e quantitativas com relação a sua disseminação por todo o planeta. A cidade sendo um pólo atrator por oferecer serviços e comércio, atrai migrantes que se ocupam em atividades terciárias e secundárias esvaziando o campo que, ao mesmo tempo, tem de aumentar a produção19. Enquanto isso, na maioria das vezes, as condições ambientais ultrajantes agravam a saúde física e mental das populações.

É fato que, “a proliferação das grandes cidades foi surpreendente

nos países pobres” (SANTOS, 1994, p. 42), sob os auspícios da

industrialização chamada fordista ou de massa20, pois, as grandes cidades latino-americanas anteriores à segunda revolução industrial (a que começa em torno de 1870) para Santos (1979, p. 223), não poderiam ser consideradas metrópoles. A cidade capitalista, com a especulação da terra urbana, está gerando um grande número de processos danosos entre si, de conseqüências entrelaçadas, como aumento da desigualdade e da exclusão social, colapso da democracia e rápida deterioração do ambiente natural. Em dado instante, pode-se atingir uma situação limite, a partir da qual o processo destrutivo da espécie humana pode tornar-se irreversível. Para Richard Rogers (2001, p. 5):

[...] é uma ironia que as cidades, o habitat da humanidade, caracterizem-se como o maior agente

18 A segunda Revolução Industrial foi desencadeada nos Estados Unidos da América e está

ligada ao uso da Energia elétrica em substituição a energia a vapor da Primeira Revolução Industrial na Inglaterra, ao desenvolvimento da indústria para as atividades domésticas, a um novo método de administrar o trabalho “o taylorismo” que consiste na busca de métodos ótimos de Frederik W. Taylor e na concepção teórica chamada “fordismo” que consiste no conceito de produto “único” de peças intercambiáveis de precisão (<http:ufu.br/dee/evonir/46104.htm>. Acesso em 18 Jan. 2006).

19“No século XIX, para alimentar um urbano era necessário cerca de sessenta pessoas

trabalhando no campo. Hoje, em certos países, há um habitante rural para cada dez urbanos (SANTOS, 1994, p. 42).

20Das 26 maiores cidades mundiais com mais de 5 milhões de habitantes em 1980, 16

estão nos países subdesenvolvidos” (SANTOS, 1994, p. 42). Atualmente, das 15 cidades mais populosas do globo, com exceção de Tóquio, Los Angeles e Osaka , onze estão em países subdesenvolvidos (Disponível em:

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destruidor do ecossistema e a maior ameaça para a sobrevivência da humanidade e do planeta.

Em 1968, 30 personalidades de 10 países reuniram-se em Roma, Itália, para analisar diversos problemas que afligem a humanidade:

à pobreza em meio à abundância;

à deterioração do meio ambiente;

à perda de confiança nas instituições;

à expansão urbana descontrolada;

à insegurança de emprego;

à alienação da juventude;

à rejeição de valores tradicionais;

à inflação e transtorno econômicos e monetários.

Este grupo se chamou “Clube de Roma” e suas disposições foram dispostas em um relatório que se chama Limites do Crescimento – um relatório para o Projeto do Clube de Roma sobre o Dilema da Humanidade; verdadeiramente um marco no despertar dos grandes problemas ambientais.

Suas recomendações, atualíssimas até nossos dias, são:

à novos métodos de coleta de resíduos para diminuir a

poluição e tornar o material rejeitado disponível para reciclagem;

à técnicas mais eficientes de reciclagem para reduzir as

taxas de esgotamento dos recursos naturais;

à melhores planejamentos de produtos para aumentar sua

durabilidade e facilitar os reparos de modo que a taxa de depreciação do capital seja reduzida ao mínimo;

à utilização de energia solar incidente, a fonte de energia

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à métodos de controles naturais de pragas baseados em

uns conhecimentos mais completos das inter-relações ecológicas;

à progressos médicos capazes de diminuir a taxa de

mortalidade;

à progresso nos anticoncepcionais capazes de facilitar a

uniformização da taxa de natalidade com a decrescente de mortalidade (MEADOWS, 1973, p. 174).

Em 1972, a Organização das Nações Unidas (ONU) organizou em Estocolmo, na Suécia, a 1ª. Conferência Sobre o Meio Ambiente Humano, quando ficou acordado o Encontro Internacional de Educação Ambiental, em Belgrado Iugoslávia, em 1975 e a primeira grande conferência, a Habitat I, em Vancouver, em 1976. Nesta data e ocasião é criada a agência HABITAT para tratamento de situações críticas de habitações ocasionadas por desastres naturais, guerras civis, conflitos urbanos, cuja ação inicial foi focada em promover um teto, uma morada para pessoas refugiadas e desabrigadas; mas já nesta época foi introduzida a temática de desenvolvimento no conceito mais amplo de meio ambiente.

Em 1977 realizou-se a Conferência Inter-Governamental em Tbilis, Giórgia e em 1983 foi criada a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente, cuja primeira presidenta foi a Srª Gro Harlem Brundtland, líder do Partido Trabalhista Norueguês e Ministra do Meio Ambiente entre 1974/1979.

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Se o relatório “Os Limites do Crescimento” (MEADOWS, 1973) foi um “chamamento” para os problemas ambientais, “Nosso Futuro Comum” (COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO, 1991), nas palavras do próprio relatório foi “uma agenda” no sentido de estabelecer recomendações a serem seguidas pelos líderes mundiais.

Pela primeira vez houve o reconhecimento, pelos organismos internacionais, que a “pobreza” é função da divisão de trabalho, da divisão de função entre países do sistema econômico mundial. Pela primeira vez propôs-se uma posição globalizante para a forma de tratar o problema ambiental que por sua complexidade inclui as relações econômicas, demográficas e sociais, que então teriam de ser tratadas de forma multilateral por países ricos e pobres. Pela primeira vez houve o reconhecimento, por partes desses mesmos organismos, que o modelo de desenvolvimento seguido, até então, pelas nações industrializadas e exportadas aos demais países, inevitavelmente levará à exaustão das riquezas do planeta e à pobreza, ou seja, o capitalismo, tal qual vem se praticando, vem transformando o capital natural do planeta em automóveis, ferrovias, cidades, pontes com tal rapidez, que não está sendo possível uma reposição.

Foi então proposto um novo tipo de desenvolvimento “que atenda as necessidades do presente sem comprometer a capacidade de

as gerações futuras de atenderem também as suas” (COMISSÃO

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Porém, foi a partir da Conferência da ONU sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento no Rio de Janeiro, Brasil, em 1992 (ECO-92), que os temas “sustentabilidade e desenvolvimento sustentável” passam a fazer parte do cotidiano dos gestores de qualquer empreendimento, quer seja ele público, quer seja privado.

Dentre os cinco documentos do encontro Rio/92 - Declaração do Rio, Declaração de Princípios sobre o Uso das Florestas, Convênio sobre Diversidade Biológica, Convenção sobre Mudanças Climáticas e Agenda 21 – é a Agenda 21 que traduz em ação (planejamento) o conceito de desenvolvimento sustentável.

A Agenda 21 é um acordo da comunidade internacional, embora não ratificado por todos os membros da Agência, para uma mudança de padrão do desenvolvimento do século XXI. Expressa o desejo, a intenção de equilíbrio ambiental, justiça social e participação de todos os envolvidos no processo. A Agenda 21 deixa de ser, portanto, uma “agenda ambiental” e passa a ser uma agenda de desenvolvimento tendo o meio ambiente como consideração. Rompe com o planejamento enfocado somente no aspecto econômico. Considera a geração de emprego e renda, a diminuição das disparidades regionais e inter-pessoais, as mudanças de padrões de produção e consumo, a construção de cidades sustentáveis e a adoção de novos modelos e instrumentos de gestão. Leva em conta a interdependência das dimensões ambiental, econômica, social e institucional.

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Para Maria do Carmo de Lima Bezerra, coordenadora de um trabalho para o Consórcio Sodontécnica (1999), que resultou nas disposições da Agenda 21 Brasileira, este conceito vem sendo atualizado, surgindo incorporações, de tal forma, que atualmente desenvolvimento sustentável passa a ser:

Aquele que concilia, método de proteção ambiental, equidade social e eficiência econômica, promovendo a inclusão econômica e social, por meio de políticas de emprego e renda (BEZERRA, 1999, p. 49).

Tanto o Relatório Brundtland quanto a Agenda 21 propõem uma nova relação entre produção, meio ambiente e desenvolvimento econômico inspirado na sustentabilidade dos sistemas biológicos, onde caberia ao desenvolvimento econômico apropriar-se dos fluxos tidos como excedentes da natureza sem, no entanto, comprometer o “capital natural” (HAWKEN, LOVINS, LOVINS, 1999, p. 301).

No final do século XX e início do século XXI, a globalização e o surgimento de novas tecnologias de comunicação irradia e amplia fortemente os problemas sociais e econômicos já existentes. As cidades como palco de tais problemas têm sido objeto de estudo e atuação de diversos especialistas de diferentes áreas.

Nasce então, o conceito de Planejamento Urbano Sustentável, em contraposição ao planejamento urbano empregado no passado, de acordo com os conceitos dos CIAM(s)21 , congressos de arquitetura da era moderna, na busca das cidades e comunidades sustentáveis. Para Richard Rogers, (2001, p. 27-53), Planejamento Urbano Sustentável é holístico e abrangente; voltado para uma cidade mais compacta e de uso misto, onde a prioridade seja o habitante e não o automóvel; que considere todos os fatores que constituem as necessidades econômicas,

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físicas e sociais da comunidade e suas relações com o contexto, redes de cidades ou região.

De acordo com a Agenda 21 Brasileira, o desenvolvimento das cidades só poderá ser considerado sustentável se estiver voltado para eliminar a pobreza e reduzir as desigualdades sociais. Um dos conceitos mais recentemente incorporado ao de planejamento urbano sustentável é o de gestão urbana sustentável. “Pense na

sociedade como um banquinho de três pés, formado pelo setor de

mercado, pelo setor governamental e pelo setor civil” (JEREMY

RIFKIN apud ROGERS, 2001, p. 150).

Incluir a população no processo gestor da cidade torna-se então um fator preponderante no conceito de sustentabilidade.

Carolina Plascak Jorge (2006, p. 7) cita Meyer, Grostein e Biderman (2004), sobre a relação das variáveis da sustentabilidade ambiental urbana:

a forma de ocupar o território, a disponibilidade de insumos para o seu funcionamento, sobretudo a disponibilidade de água e o destino e tratamento de esgotos e lixo; o grau de mobilidade da população no espaço urbano, presente na qualidade do transporte público de massa, na oferta e no atendimento às necessidades da população por moradia, equipamentos sociais e serviços; e na funcionalidade e qualidade dos espaços públicos.

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seu destino e tenha orgulho de sua cidade. Esta é uma cidade sustentável.

3. O ESTADO E A ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO URBANO

A organização do Estado está ligada à forma do homem tomar posse do espaço natural e impor sua lógica e regras. O Estado e os modos de produção são de forma geral e abrangente a imposição do poder do homem sobre a natureza. O Estado

[...] entendido como ordenamento político de uma comunidade, nasce da dissolução da comunidade primitiva fundada sobre os laços de parentesco e da formação de comunidades mais amplas derivadas da união de vários grupos familiares por razões de sobrevivência (o sustento) e externas (a defesa) (BOBBIO, 1987, p.73 22 apud HEIDRICH, 2006, p.26).

Para este estudo, importa as relações do Estado capitalista burguês e o papel por ele desempenhado na formação do espaço da cidade capitalista.

A ascensão do capitalismo foi acompanhada, em alguns aspectos até mesmo precedida, pelas transformações das instituições e funções estatais de tal forma que pudesse satisfazer suas necessidades específicas: “a história do capitalismo é impensável,

sem a organização de uma estrutura regulatória para controlar,

dirigir e limitar a competição” (HARVEY, 2005, p.37), já que uma

vez criadas as relações de produção e acumulação, “havia a

necessidade de manter os organismos de classe sob controle

[...]” (ENGELS, 1941, p.157 apud HARVEY, 2005, p.80).

22Ver BOBBIO, Norberto. “Estado, governo, sociedade: uma teoria geral da política”. Rio

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Assim, é por intermédio do Estado, que usa como elemento controlador, que a classe dirigente exerce o poder em seu próprio interesse ao mesmo tempo em que universaliza conceitos fazendo crer que o exerce para o bem de todos (MARX e ENGELS, 1970, p.65 apud HARVEY, 2005, p.81).

O Estado atua na formação do espaço urbano de diversos aspectos: como marco jurídico, regula a atuação dos demais agentes que produzem e consomem o espaço urbano. Em tal papel, é comum o uso de uma linguagem ambígua permitindo transgressões, privilegiando a cada instante a classe dominante. Atua também como um grande industrial consumindo espaço urbano para o exercício do poder (aparato administrativo e fiscal) e políticas públicas, quando seleciona para si, as melhores áreas urbanas; atua ainda como agente regulador do uso do solo; como produtor imobiliário, muitas vezes cria condições para segregação residencial, através da alocação espacialmente diferenciada de equipamentos de consumo coletivo e de criação de espaços já diferenciados. Porém sua ação é ainda mais eficaz ao implantar infra-estrutura urbana como: sistema viário, calçamento, água, esgoto, iluminação, parques, coleta de lixo; ainda controla o mercado de terras (CORRÊA, 2005, p.12).

A globalização, com a desregulação dos mercados, ao permitir que fluxos monetários se desloquem independente das barreiras estatais, para alguns teóricos propiciou o enfraquecimento do Estado, para outros, o seu encolhimento se dá apenas nas relações entre capitais e não na relação capital trabalho onde permanece muito ativo (HARVEY, 2005, p.29).

(46)

concludentes. No Brasil a Constituição Federal de l.988 garantiu ao Município muitos poderes sobre o espaço urbano, através dos instrumentos de regulação do uso do solo: direito da desapropriação e precedência na compra de terra; limitação da superfície da terra que cada um pode se apropriar; impostos fundiários e imobiliários que podem variar segundo a dimensão do imóvel; uso da terra e localização; taxação de terrenos livres ou construção não utilizada; mobilização de reservas fundiárias públicas afetando o preço da terra e orientando o espaço, entre outros.

3.1 Políticas públicas e meio ambiente

O compromisso do Brasil com o meio ambiente esteve voltado inicialmente mais para normatização com vista à exploração que para a proteção ambiental. Faz parte desse grupo de políticas o Código de Águas estabelecido pelo Decreto n° 24.643/1934, o Código Florestal estabelecido pelo Decreto n° 23.793/1934, o Código de Pesca promulgado pelo Decreto-Lei n° 794/1938 e o Código de Minas pelo Decreto Lei 1.985/1940.

Na década de 70, o país vive um momento econômico cujo desenvolvimento está atrelado ao financiamento externo onde não há “terreno para prosperar teses ambientalistas” (VICTOR, 1973, p. 38 apud MARCONDES, 1999, p. 120). Então, o compromisso do Brasil com o meio ambiente, se inicia timidamente após 1972 com a Conferência das Nações Unidas, sobre o ambiente humano, em Estocolmo, Suécia.

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urbanização em vigor propiciava ao meio ambiente natural. Porém, tal situação logo abrange o poder central, pois em 1975 o Decreto-Lei n° 1.413, “dispõe sobre o controle da poluição do

meio ambiente provocado pela indústria” e estabelece a obrigação

destas indústrias promoverem as medidas necessárias para prevenir ou corrigir os inconvenientes ou prejuízos da poluição e contaminação do meio ambiente (BRUNA et al, 2004).

De qualquer forma, a Conferência sobre o Meio Ambiente de Estocolmo funciona como alerta para o problema ambiental e em termos nacionais para o aparecimento de uma consciência do potencial do país na área de recursos livres, como as grandes florestas e o volume de água potável. Ao mesmo tempo, permite que se criem dispositivos jurídico-administrativos com a finalidade de sua preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental.

Um desses dispositivos foi a Lei Federal 6.766/1979, que regulamenta o parcelamento do solo urbano. Pelo artigo 1° determina que “Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão estabelecer normas complementares ao parcelamento do solo para adequar os previstos nesta Lei às peculiaridades regionais”.

A importância desta Lei é que ela normatiza o parcelamento do solo urbano levando em consideração as condições naturais e ambientais do terreno (artigo 3° III a V) e ao mesmo tempo criminaliza a abertura de loteamentos clandestinos e irregulares.

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Em 1981, a Lei Federal 6938 “dispõe sobre a Política Nacional do

Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e

aplicação”. Dando continuidade à investidura constitucional de

legislar sobre o assunto, a Lei Federal 7.347/85 “disciplina a ação

civil pública de responsabilidade por danos causados ao meio

ambiente e outros”. Em 1986, a Resolução CONAMA23 01 “dispõe

sobre a necessidade de estudo de impacto ambiental e relatório para os grandes empreendimentos que causam impactos ao maio

ambiente”.

Todo o capítulo 182 da Constituição Federal de 1988, discute o meio ambiente, porém muito pouco foi aplicado na época por falta de legislação complementar.

A Lei dos Crimes Ambientais (Lei Federal 9605/98) define as atividades nocivas ao meio ambiente e os mecanismos administrativos para coibi-los e puni-los; a partir de então, os fiscais das Secretarias Municipais de Meio Ambiente, desde que a lei tenha uma versão municipal, passam a ter poder de polícia, de fiscalização e multa.

A Lei Federal 9795/98 institui a Política Nacional de Educação Ambiental para todo o processo educativo formal e não formal, como orienta os artigos 205 e 225 da Constituição Federal de 1988.

Dentro deste ensejo dos poderes públicos em

normatizar/regularizar o setor, a Lei Federal 9985/2000, institui o Sistema Nacional de Unidade e Conservação (artigo 225 da Constituição Federal de 1988), contando hoje o país com 855 unidades entre áreas de Proteção Ambiental, Florestas Nacionais, Florestas Estaduais, Reservas Extrativistas, Reserva de Fauna, Reserva de Desenvolvimento Sustentável, Reserva Biológica,

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Reserva Ecológica, Parque Estadual, Refúgio da Vida Silvestre e outros.

O Estatuto da Cidade corrobora o esforço normativo visto anteriormente. Regulamenta os capítulos 181 e 182 da Constituição Federal de 1988. É uma lei inovadora na medida em incorpora pontos da Agenda 21, e vai um pouco além. Foi debatida por mais de 10 anos por representantes do empresariado, dos poderes públicos e das universidades e de certa forma representa um consenso em torno dos problemas sociais das metrópoles brasileiras.

Incorpora, ainda, à vida política-administrativa nacional, vários pontos da Agenda 21 Global, antes mesmo da aprovação da similar nacional. Coloca a busca da sustentabilidade das cidades brasileiras, “no sentido de direito à terra urbana, à moradia, ao

saneamento ambiental, à infra-estrutura urbana, ao transporte,

ao serviço público para a presente e futuras gerações” como

primeiro objetivo da política urbana nacional e instrumentaliza os poderes públicos municipais para tal objetivo, pois são eles “os principais responsáveis pela política urbana do país” (Capítulo 182, da Constituição Federal de 1988).

Diante da questão hídrica e das conseqüências territoriais resultantes do tipo de industrialização adotado, faz-se necessária a interferência do Estado a fim priorizar a proteção dos mananciais regionais. É parte dessa política um conjunto de leis e decretos dos quais os mais importantes são: Lei Estadual n° 898/75, “disciplina o uso do solo para a proteção aos mananciais,

cursos e reservatórios de água e demais recursos hídricos de

interesse da Região Metropolitana de São Paulo”. Lei Estadual nº

1.172/76 “delimita as áreas de proteção aos mananciais, cursos e

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dá providências correlatas” e a Lei Estadual 9.866/97 de Proteção das Bacias Hidrográficas dos Mananciais de Interesse Regional do Estado de São Paulo.

Há inúmeros trabalhos referentes à inoperância e inadequação das leis de mananciais diante da massa de habitantes empobrecidos da metrópole que ocuparam e ocupam estas áreas. Diante desta dificuldade a Lei Estadual 9.866/97 foi aprovada com diretrizes de incorporar a proteção dos mananciais ao novo sistema de gestão dos recursos hídricos, de acordo com a divisão de bacias definidas na Lei Estadual 7633/91, (tratada no Capítulo II, item 2) “que estabelece normas de orientação à Política

Estadual de Recursos Hídricos, bem como ao Sistema Integrado

de Gerenciamento de Recursos Hídricos” A gestão dessas áreas

passa a ser efetivada de forma integrada por um órgão colegiado consultivo e deliberativo correspondente à Agência da Bacia e órgãos da administração pública responsável pela gestão ambiental.

4. CONSIDERAÇÕES SOBRE O CAPÍTULO I E REBATIMENTO DOS PRESSUPOSTOS TEÓRICOS

O objetivo do Capítulo I foi centrado na acepção dos principais conceitos teóricos que servirão de base para o entendimento dos processos de organização do espaço da RMSP e do Município de Mairiporã discutidos nos Capítulos II e III.

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Há evidente correlação entre as leis estruturais e conjunturais gerais próprias do modo de produção capitalista e seus reflexos espaciais, vistos no Capítulo I, e o que acontece no sítio da RMSP. Por exemplo, a existência da mão de obra excedente, própria do sistema, manteve altos índices de desemprego e conseqüentes baixos índices de rendimento do pessoal ocupado do setor produtivo refletindo na ocupação do território, em forma de favelas, loteamentos irregulares e clandestinos. As leis estruturais ligadas ao valor da terra e à apropriação do lucro do solo urbano por uma classe dominante se refletem no processo de segregação espacial.

Há ainda correlação, do capítulo visto com os seguintes, no surgimento da questão ambiental com o nascimento das preocupações ecológicas e conseqüente ação normativa estatal e seus entrelaçamentos com o abastecimento de água da região metropolitana.

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Referências

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