• Nenhum resultado encontrado

Memoráveis actores

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Memoráveis actores"

Copied!
35
0
0

Texto

(1)

1

MEMORÁVEIS ACTORES

1

G u ilherm e Filip e (Act or/ In ve stiga d or Centro de Es tu do s d e T ea tr o da Fa cu lda d e d e L etra s da ULi sb o a )

U m c andid ato a ac t o r

Entr ei pa ra o T ea tro N a ciona l à u ma da ta rde de u ma qu a rta -feira . Per dã o, à s tr ês. N a su po sta hor a d e a lmo ço, a p ena s con s egu i digerir o qu e m e a cont e cer a ; se nsa çã o d e pâ nic o eu fóri co , ou seja , de a perto no est ôma go e ner vo so miu din ho . Fa lta va m qu a tro me s es pa ra termi na r o cu r so d e a ctor - en ce na dor . À qu a r ta , ha via a u la s de ma nhã a pena s. Sa ía do C on s erva tório , a o s Ca eta no s; no á trio, cru zo - me co m J orge Lis topa d , pr o fe s sor , dir ect or da Es cola Su per i or de T ea tro e C i ne ma . Sa u da çõe s troca da s, int err oga - me à qu ei ma -r ou pa , na qu ele s ota qu e, qu e a dora cu ltiva r : «O me nin o – era o v oca ti vo de Li sto pa d, di sti ng u ia géner o a pena s, nu ma t err a do nu nca t ea tr a l – o m eni no qu er fa z er t ea tro? » Fora meu pr o fe s sor , tr a ba lhá r a mo s na pr o du çã o e s cola r da s S o p inha s de Me l, da T eresa Rita , co m a Isa b el Me dina e o Z é N ogu eira R a mo s, era u m peda g og o qu e e sti mu la va a cr ia tivida de dos a lu no s ; sa bia co m o prov oca r em nó s o de sa c erto i nter i or ne c es sá rio à d es co berta d o ca mi nho pa ra a co mpr ee nsã o da p ers ona g em , à f ormu la çã o do pa p el, e, e m a pa re nte liber da d e, diri gia co m mã o de velu d o a se nsi bilida d e d os a l u nos p elo s mea n dr o s da cr ia çã o a r tísti ca . «O me nino qu er fa z er tea tro? » ( Fig .1 )

O meni no t in ha 3 1 a nos. P or qu e r a zã o me i ns cre vera no cu rso ? Ser a ctor nã o foi u m so nho de i n fâ ncia ; s er fa mo so mu ito me no s. A tel evi sã o na sc eu d ep ois d e mi m . L on ge de ser u m e le ctrod o mé sti co , era a ca ixinha qu e vin ha r iva liza r co m a r á dio. C o m o o c in ema fiz era co m o t ea tro, ma s co m u m p od er ma ior , ca pa z de no s ca ta pu lta r pa ra ou tros mu n do s, co m a for ça e ra pid ez da s na ve s int er ga lá ctica s . O te mp o era o u tro, s em co mpu ta dor es, n e m r ed es so cia is, o s meu s fo gu et es era m rela t os d e J ú lio Ver ne e ilu str a çõ es do T intim. A os 3 1 , eu era pro fe s sor de ingl ês n o

1

P ub li c a d o e m M a r i a J o ã o B ri lh a n t e ( o r g. ) , T e a tr o D . Ma ri a I I - S e t e o lh ar e s s o br e o

(2)

2

liceu , e sta va de sta ca d o no Mini st ér io da Edu ca çã o, e fa zia in ve stiga çã o peda g ógi ca so bre a a plica çã o da s té cni ca s da e xpr es sã o dra má tica a o en sin o da s lí ngu a s viva s . A e sc ola d e t ea tro fu nci ona va co mo pla ta for ma de a qu isi çã o d e c on he cim ent o s té cni co s pa ra a plica r na edu ca çã o . Era fel iz e a pa ixo na do pel a vi da . G os ta va de t ea tro, cla ro, a fa mília incu m bira - se d e m e forma r o go sto - ta mb é m a pr endi mú si c a -, e fiz tea tr o na e sc ola – pr á tica tã o ma is evi de nte e m lic eu cu jo pa trono é G il Vic en te -, e e m gru po s a ma d or e s, e m te mp os u ni ver si tá rios . « O meni no qu er fa z er t ea tr o? » N a qu ele t e mpo int er r oga tiv o , o d ed o d e G a rrett ta lve z me t en ha m ostra d o o m a n e , te c e l, fa r e s , por qu e eu dis s e: « si m» .

Listo pa d pint ou o enr ed o em pi nc ela da s la rga s – u m h u is - c los sa r tr ea na m ent e por tu gu ê s entr e u m ho me m e trê s mu lhere s : a esp o sa , a a ma nte e a ir mã inc estu o sa . En sa io à s tr ê s hora s d es s e dia . S e nsa çã o de ver tig e m - i n for ma çã o circu la nd o co n fu sa , i ma ge ns im pre ci sa s , e a pe na s u ma ideia rever ber a n do n o ou vid o: ca lma , va is l eva r a ca rta a G a rcia . N o tea tr o co m eça -s e p or ba ixo! m a g is te r d ix it . G erma na T â nger, G lória de Ma tos ( Fig .2 ) , Ru i Men de s (Fig .3 ) , N a tá lia de Ma to s, Eu rico Li sb oa , todo s el e s o r ep etia m, for ma nd o e m nó s a co ns ci ên cia a rtística , u m misto de t eor ia , e de hi stória s d e a ct ore s, qu otidia n o s d e gra ça s e d e tri ste za s qu e vã o a pa r na vi da d e qu em e xer ce e sta e stra nha pr o fis sã o, e ste m é tie r dizia -s e, e sta Art e d e co m ov er , pa rtilha nd o hi stória s de ge nte , conta d a s por ou tr a g ent e, qu e se r ep et em há sé cu los e por s écu lo s, en qu a nto hou ver g ent e ca pa z d e s e em oci ona r . A ntiga m en te, di zia m, a pren dia - s e leva n do a ca r ta a G a rcia , o m es m o qu e di z er , qu e se e ntra va e m ce na s e m a la r des, cu m pria - s e a ma r ca çã o , di zia - se a fa la , e sa ía -s e c om a discri çã o da entr a da . Só n o s ba sti dor es se r es pira va fu nd o . E m pa ssa n do de sa per ce bid os , er a bo m si na l , ou via - se u m pa ter na lme nt e di scr eto «f o ste be m» , e nã o se fa la va ma is n is so , a té à pr óxi ma ré cita . Poré m, se a sor t e nã o a bu n da s se, ou a lgu é m s e l e mbra s s e d e pre ga r u ma pa rtida – ba ptis mo d e prin cipia nt e , dizia m -, er a m elh or nã o cru za r co m o dir ect or de ce na . D e olh o s n o chã o , ou vir a r epri me nda , e s entir o s orriso tr oci sta do s co m pa r sa s, já ca leja d os n o a s su nto : a s me s ma s pa rtida s em n ova s vítima s. H oj e tu do i st o nã o pa s sa de m em ór ia a ne dóti ca . Va lha - no s i ss o.

(3)

3

N u nca s e ch ega a u m en sa io e m a tr a s o, a vi sa ra m -m e, s enã o va i - se pa r a a ta bela . Pa r a o bem e pa ra o ma l, a ta bela era o «e sca rra pa cha r» d o qu otidia no d o t ea tr o, era o p la c ar d da s n otícia s, do s hor á rios, do s elog io s e da s r epr i me nda s , s obr etu do d e sta s, e, ga ra nto , nã o er a bom s er a fixa do na ta bela . Por ta nto, ch egu ei a o T ea tro c om meia hora de a ntec ed ên cia . Fra nqu e ei a por ta pri nci pa l, a da bilh eteira , e ma nda ra m -me es pera r no á tr io. C on he cia - o en qu a nto frequ e nta dor , m a s a ssi m, de spi do d e g ent e , p erc ebia -o sol en e, se nti a -l he o pe s o do má rmor e institu ci ona l ; G a rr ett, E mília da s N ev es , T a borda , J . C . do s Sa nto s, os bu sto s ( Fig .4 ) r ev es tia m -s e da im por tâ n cia d o c on vida d o de p edra donju a ne s co. Uma s en hora l ev ou - me a o prim eiro a nda r . N o Sa l ã o N obr e, mo strou -m e u ma porta e nvi dr a ça da ; qu e a pa s sa s se e, à dir eit a , fica va a sa la de en sa io s. T r ês mu lh er e s e sp era va m já , se nta da s, la d o a l a do, a u ma me sa de tr a ba lh o. As pa r ca s ta m bé m era m trê s, di s se pa ra co mig o, s erá dita me da sort e? O lha r a m- me co m di fer ent e s int erroga ç õe s si len cio sa s. Lem br a B e ck ett, p en s ei . S or r i u ma boa ta rde , pa ra a s trê s a ctriz es da co mpa n hia : Ma ria Am élia Ma tta , G u ida Ma r ia , Lu z Fra nc o. C o nhe cia -a s, de sva nta g e m mi nha , era eu o de s co nh eci do . U ma revira v olta c a mu sia na , a dmita mo s. N o i nter i or do m eu e xist en cia lis m o int el ectu a l , a fra s e insi stia - é só pa r a leva r a ca r ta ! O tempo pa rec eu u ma eternida d e . D iderot, D i der ot, p orqu e in ve nta st e o silê nc io? ! List opa d ch egou , p or fi m, pr o vid en cia lm ent e . Fi zer a m- s e a s a pre s enta ç õe s na for ma e cont eú do, de s co ng elou - s e o a mbi en te, e r ec ebi , da s mã os do en ce na dor , u m e xe mpla r da p eça . N a ca pa lei o i m pre ss o, T ea tro N a cio na l d e D . Ma r ia II , e ma nu scrito , Pö e ou o Co r vo , Fia ma Pa is B ra ndã o (Fig .5 ) . Lem br ei - me do ou tr o:

Onc e upon a mid ni ght d rea ry, whil e I ponde red weak a nd wea ry, Ove r ma ny a quai nt a nd c uri ous vol ume of forgot te n l ore,

Senta d o a o fu nd o da m esa , pro cu r o -m e na dis tribu içã o. Ap en a s u m Ca r los, n en hu ma ou tr a per so na ge m ma s cu lina , a pe na s u m h o me m e trê s mu lher es… e o c orv o d o Pö e.

(4)

4

Whil e I nod ded, nea rl y na ppi ng, sudde nl y t he re c a me a ta ppi ng, As of some one ge ntl y ra ppi ng, ra ppi ng at my c ha mbe r d oor.

O prota go nista ? O prota g oni sta , e m su bstitu i çã o d e u m a ct or do ele nc o d o pr ó prio T ea tro? Lá s e ia a ca r ta a G a rcia !

'T is so me vi sitor, ' I mu ttere d, `ta ppi ng a t my cha mb er do or - O nly thi s, a n d n othi ng mor e. '

Cr eio qu e Una mu n o t erá dito qu e o a ca s o nã o e xi ste ; a p ena s u m mo me nto b em or ga niza d o pela N a tu reza , de qu e o H om e m se d á conta . E dev e tira r pa r tido, cr eio eu , qu e a sor t e nã o ba te du a s ve ze s, n ã o é o qu e se diz? E qu e m s ou eu pa ra co ntr a diz er u m filó so fo!

'T is so me vi sitor entr ea ting entr a n ce a t my cha mb er d oor - Som e la te vi sitor entr ea ting entra n ce a t my cha mb er d oor; - T his it is , a nd not hin g m ore. '

1 98 4 . Confront o -m e c om u m de sa fi o, irre cu sá v el ; nin gu ém e m s eu bo m se ns o lh e volta ria a s c o sta s, e eu mu ito me no s. Pa s s a dos dia s, fir m ou - s e o co ntra to d e a ctor - e sta giá r io – co m eça -s e p or ba ix o!

An d th e silk en sa d u n certa in r u stl ing o f ea ch pu rple cu rta in T hrilled m e - fill ed me wit h fa nta sti c t errors n ev er felt be fore;

O s en sa io s fora m i nte ns o s e ver ti gino s os , e u ma noit e ou vira m -s e, fina l me nte, ba ter a s a sa s n egr a s do cor v o, na Sa la Experi m ent a l. Fia ma , de e scr ita di fíc il , exi st en ci a lista , exi gi a tr a ba lho int en s o do s a ctore s, u m fôl eg o d e ma tu r ida de p e ss oa l e i nter preta tiva , qu e eu nã o ti nha .

So tha t n o w, to still th e b ea ting o f my hea rt, I stoo d re pea ti ng `'T is s o me vis itor entr ea ti ng entra n ce a t my cha mb er do or …

A di ficu lda d e t or nou co ns ci ent e a i mp o ssi bilida d e de fa lha r, a li nã o ha via lu ga r pa ra esta giá r ios . D a equ ipa v eio a ca ma ra da ge m, o inc enti vo, o olha r cú mpli ce qu e pr evi ne o err o ; e a tr a diçã o ba fejou -m e, em ve z d e u m pa dr in ho, ti ve tr ê s ma dri nha s d e c ena .

Som e la te vi sitor entr ea ting entr a n ce a t my cha mb er d oor; - T his it is , a nd not hin g m ore …

(5)

5

Fia ma d eu lu ga r a Vi c ent e Sa n c he s . C onti nu ei e m A Bir r a d o Mo r to , nova s cu mpli cida d e s. O p ercu r s o do C o ns erva tóri o t erm inou e a tem por a da ta mb é m. C ha ma d o a o ga bin et e da dire c çã o, re ce b o pro po sta de n ov o c ontr a to, co mo a ct or a gor a , o diplo ma c on fir ma va - o. D e sci à Sa la G a r rett, su bi a o pa lco gr a n de, n o s Fíg a do s d e Tig re , a pa ródia a os mel odr a ma s do G o me s d e A mor i m ( Fig .6 ) e n o Mo r g ad o d e Fa fe , do Ca milo Ca st elo Br a n co. A a rte da co mé dia s ervi da na s tá bu a s, por con s elh os sá bi o s: I r e ne I si dr o, B a rr o so Lo pe s, Ferna n da Alv es, Ferna n da Bor sa tti, Va r ela Silva , Cu r a do R ibeir o , R u i de C a rva lho ... O s t em po s, a s pa u sa s, o s sil ên cio s, o ol ha r, a c on ce ntra çã o, o virtu o si sm o da inter pr eta çã o , el es go sta va m d e co nta r a s su a s hi stória s, tr a nsmi tir o test e mu nho de u ma Ar te , cu ja técni ca co mp orta ta mbé m o s e u grau de es po nta nei da de, u ma di sp oni bilida d e pa ra a co mu nica çã o dir ecta , pa r tilha ndo co m o pú bli co a sin cer i da de do olha r , da em oçã o .

Depoi s… T his it is, and not hing mor e, grasnou o cor vo ao meu ou vido. S o me tu r nin g poi nt in y ou r life! E a g ora ? Segu i r em frente . Ser pr o fe s sor d e ingl ê s? Q u oth the r a ven, ‘n ev erm ore’ . O qu ê, ser a ctor , a pena s? Um a ct or n o T ea tr o N a ciona l? Ser ou nã o s er… ma s q u e coi sa é ser a ct or d o t ea tro na ci ona l?

C o nte rt uliando à me s a de bo te quim

O a r oma do ca fé r es ce nd e. O s e m pre ga do s cir cu la m; tr a zem chá v ena s bra n ca s d e por c ela na , qu e col oca m so bre o ta mp o ma rmóre o da me sa , e en ch em de u m a r á bica , cu jos va por es entra m pela s na rina s e fa z em diva ga r . Ima g ino G a r r ett co ntertu lia nd o . «E m Portu ga l nu nca ch egou a ha v er t ea tr o; o qu e s e cha ma tea tro na ci ona l, nu n ca », di ss e. «Vi veu s e mpr e de em pré sti mo s.» Fa la va da obra dra má tica , cla ro, ma s qu a nto à re pr e s enta çã o.. . «O p ov o co mp ô s - s e a ex e mpl o d o r ei: tra du zia m e m portu gu ê s a s óp er a s d e Meta stá sio, metia m - lh e g ra cios os – cha ma va -s e a ist o a c o m od a r ao go s to po r tu gu ês - ; e meio re z a do, m eio ca nta r ola do, lá s e ia repr es enta n do. » O s co ntertu lia no s a qu ie s cera m, u m

(6)

6

ge sto qu e se r e p etia s e mpr e qu e o «di vin o» fa la va . G ome s d e A mori m , ha bitu a do, entr eti n ha - se a tir a r nota s nu m ca dern inh o. E o p ovo, dis s e a lgu ém... «O p ov o a nte s qu er ia a s Ó per a s do J u deu .» Co ita do , ou viu -s e do ou tr o la do da m esa , q u e ou tr a coi sa lh e r esta va , s e a s ob er a na a cha ra pe ca do a s mu lher es su bire m a o pa lc o ! «O u iss o, ou ba rba tola s a fa zere m de E fig énia .» H ou v e sor ri so s. « Pa r a nã o fa la r da i nva sã o lit erá ria fra nc e sa qu e v eio p or es te te mp o. » E o s t ea tro s, per gu nt o u a lgu ém. «H a via a í du a s a rr iba na s, co ntinu ou G a rr ett, u ma no Sa lit re , o u tra na ru a do s C ond e s, on de a lter na da e l enta m en te a goni za va u m v elh o de cré pito qu e a lgu ns ta fu i s de bot equ im a l cu nha va m d e t ea tro portu gu ê s ; e ia m lá de v ez e m qu a ndo ou vir o ter r ív el est ertor d o m oribu n do. O pov o nã o, es s e nã o ia lá . O tea tr o é u m gr a nd e mei o d e civili za çã o, ma s nã o pr o sp er a on de a nã o há . N ã o t êm pr o cu r a os s eu s pro du tos e nqu a nto o go sto nã o f or ma o s há bito s e co m el e s a ne ce s sida d e. » D i ss e - o, e t odo s volta r a m a con cor da r . «É mi st er cria r u m m erca d o fa ctí cio. C ria do o go sto pú blic o, o go sto pú blic o su ste nta o tea tro . » H o u ve qu e m per gu nta ss e o qu e fa z er entã o. «N e m t e mo s u m t ea tro ma ter ia l, ne m u m dr a ma , ne m u m a ctor », e fri sou qu e a ta re fa s eria « en ca mi nha nd o o s jove n s a u tor e s na ca r reir a dr a má tica , for ma n do a ctor e s – d e va ga r qu e is so é o ma i s di fíc il de tu d o – edi fica n do u ma ca sa digna da ca pita l de u ma na çã o cu lta . »

Er a essa a ideia ga r r ettia na de u m T ea tro N a ciona l . R edu zi -la à con stru çã o de u m e di fíci o seria ver a p ena s u ma a pa rên cia , e Pa ss o s Ma nu el incu mbir a -l he a cria çã o de u m con c eito pr ogra má ti co, d e u m pr oje cto d e «gra nd e e mp en ho na ci ona l», e c om o ta l o exp ô s à Ra inha , e m N ove mbr o de 1 8 3 6 . Er a m tr ê s e le me nto s n e c es sá rio s cria r : u ma E sc ola de D ecla ma çã o , em qu e o s m elh ore s a rtista s d os tea tro s de Li s b oa fos s em con vo ca do s pa r a instr u ír e m o s a lu no s d o C o ns erva tóri o, qu e ha veria m de con stitu ir a no va c o mpa nhia d e a ct or e s na ci ona is - «D e va ga r q u e is s o é o ma is di fí cil de tu do »; u m c o r pu s dra ma tú rgico de p eça s de c la ma da s e ca nta da s, qu e m ere ce s se m a a ten çã o do pú bli co e m elh ora ss e m a liter a tu ra e ar te na ciona is e, pa ra ta l, er a forço so qu e o s dra ma tu rgos nã o só fos s em pre mia do s, co mo vi ss e m a s su a s obra s a o a brig o do d ireito de

(7)

7

pr opr i eda d e; p or fim , u m edi fí cio t ea tr a l co ndig no, qu e nã o fos s e m «a s a r riba na s» lis bo ne ns e s , qu e se digla dia va m por u ma ti tu la rida de na cio na lista , qu e s e lh e s nã o coa du na va .

O pr oje cto tripa rtid o gi za do a ca b ou , toda via , por se i nicia r pela es cola de a ctor es e pela r eda c çã o do dr a ma , d e qu e s e i ncu m biu o pr ópri o G a r rett, já qu e o pro c es so d e c on stru çã o d o tea t ro, a lv o d e vi cis situ d es, se a tr a sou de z a n o s. A pri meir a pe dra da dra ma tu rgia a ca b ou por ser la nça da na noit e d e 1 5 de a go sto d e 1 8 3 8 , no T hea tro N a ciona l da ru a do s Con de s, qu a ndo su biu à cena U m Au to d e G il Vic e n te , o «dra ma -pr ogr a ma » d e G a r r ett , c on for m e d e mo nstr ou na «I ntro du çã o» q u e lh e fe z pa r a a ediçã o im pre s sa . Ma s s obr e a inter pr eta çã o , d is s e a pen a s qu e «o s a ctor e s fiz er a m g o sto d e coo p era r ne ste prim eiro i mpu l s o pa ra a liber ta çã o d o t ea tr o e o br a ra m ma r a vilha s» . Ain da a s sim , u ma fru ga lida de a pr ec ia tiva li so njeir a , pa r a qu e m nã o ha via de cora do os pa péi s; u m há bit o qu e se enra íza mu ito fa cil me nte e m a lgu ns a ctor es , ma s qu e, na qu ela a ltu r a , fa zia co m qu e s e ou vi s se o p ont o a ntes do intér pr ete . Uma se n sa çã o d e ta l mo do e stra nha , qu e le v ou a qu e cir cu l a s se u m dit o de «gra ci o so » : - Va i- s e à ru a do s C ond e s pa ra ou vir a hist ór ia du a s v ez e s, pa ga n do u m s ó bil het e.

N em u ma pa la vr a se qu er s obre E mílio D ou x, c om o o f ez M end e s Lea l, no pr e fá ci o d e O s d o is re ne ga do s : «J u lgo ca ber a qu i u m ju sto tribu to d e a gr a d e ci m ento a Mr . D ou x e a o s Arti sta s qu e ta nto r ea lc e der a m à mi nha po br e co mp o siçã o, e qu e tã o b e m tra ba lh a ra m e se es m er a ra m por a fa zer va ler . P os sa e st e te st emu n ho – ju nta ndo - s e a o ime ns o te st emu n ho d o pú bli co – fa z er -l he s v er qu e nã o s e ca n sa ra m por u m i ngr a to. »

O pobr e do D ou x, r i dicu la riza do p ela Re v is ta The a tra l , (Fig .7) qu e lhe c ha m ou «Re for ma dor d o T hea tr o Por tu gu ês », tro ca ra a co mpa n hia fra nc e sa de M on sieu r Pa u l, ond e vi era , pa ra se dei xa r fi ca r , qu içá inebr ia d o pel o s a re s li sb on en s es , vi slu m bra ndo p orv entu ra o lo ca l pr opí cio à su a a ctivida d e de for ma dor; e m terra de c eg os qu em te m olho. .. A a c çã o de l e re su lt ou , so br etu do, n u m a primora r da en ce na çã o, se gu nd o pa dr õe s fr a nc e se s qu e ele co nh ecia , ma is rigor o so s e ela bora do s,

(8)

8

ma s qu a nto à «c or recta pro nú ncia » qu e G a r rett exigia , e C a sti lho v erteu em tra ta do, nã o se p edi s se u m pu r ism o a qu em d e sc onh e cia a s n u a nc e s lingu ísti ca s.

«O dr a ma é a expr e ssã o lit erá ria ma is v erda de ira do e sta do da so cie da de: a s oci eda d e d e hoj e a inda s e nã o sa be o qu e é: o dr a ma a inda se nã o sa be o qu e é: a lit er a tu ra a ctua l é a pa la vra , é o v erbo. Ain da ba lbu cia nte, d e u ma so cie da de in de fi nida , e c ontu do já in flu i s obre ela , é, co mo di ss e, a su a expr e ssã o , ma s r e fl ect e a mo di fica r o s pe nsa m en to s qu e a produ zir a m ».

D ou x en sina va u m a d ecla ma çã o qu e s oa va a rra sta da , reprodu zi ndo a po mpo si da de a fra n ce sa da do s a lexa n drin os em pa relha d os , em to ns infla ma do s, a po str ofa d o s, fr a se s r eboa nt e s, d e a gra do m elodr a má tico, e ne m E pi fâ nio, n em Emí lia da s N ev e s , doi s do s s eu s co nsi der a dos bo n s a lu nos, er a m pri mor es d e a r ticu la çã o e be m di z er.

T a lvez p or i ss o, G a r ret t nã o t en ha p en sa do e ntre ga r à ce na Fr e i Lu iz d e So us a , pr ef eri nd o a pr es entá -lo e m co n fer ên cia , n o â m bito a ca dé mic o. E, con f e ssa G a rr ett, na su a Me m ór ia , só porqu e «a impr en sa fe z e co a o fa vor á v el ju íz o d o Co n serva tór i o; e o dr a ma t ev e a boa estr eia d e co me ça r a ser be nqu ist o», é qu e o a u tor permitiu qu e s e fi z es s e no va leitu r a «na so cie da de í nti ma de u ma fa mília », e, « na ex c ita çã o do mo me nto », se de ci diu qu e ha v eria de s er r e pre se nta do e m p equ eno tea tro pa r ticu la r , ca pa z de a co mo da r mu it o « do qu e há d e ma i s lu zido e br ilha nte na so cie da de ». G a r rett pro diga liza e ntã o s eu apla u so a o «inc o mpa r á vel m érito d o s a ctor e s» a ma d ore s, nu ma «n oit e d e sa tis fa çã o tã o pu r a » de u m t ea tro d e sa lã o, na Q u int a do Pi nh eiro, a 4 d e ju lho de 1 84 3 .

Se o pa lco fora u m pú lpito d e filó s ofo, co mo procla ma d o na ce ntú r ia a nter ior, el e er a a gor a tribu na de políti co. A o a ctor c a beria u m pa pel d e me nsa g eiro da boa no va liber a l , d ev en do a pri mor a r os s eu s dote s de or a dor, pa r a mel hor co nv en cim ent o d o pú bli co. I mpu n ha - se, por is so, a e str u tu ra çã o d e u ma Es cola de D e cla ma çã o , qu e prepa ra s se intér pr ete s pa ra a decla ma çã o tr á gi ca e c ó mica , pa ra a decla ma çã o

(9)

9

a plica da à cena lírica e à or a tór ia . D ecr eta ra m- s e trê s di sci plin a s a pena s: r ecta pro nú ncia , c on he ci me nto s a br a ng ent es de cron olo gia e hi stória u niver sa l e pá tria , e d ecla ma çã o pr o pria me nte dita . Pou ca c o nsi st ên cia a ca démi ca , dir - s e -á , ma s Z ola esta va a inda l on ge d e r ecla ma r o na tu r a lismo no t ea tr o , e o dr a ma r e su mia - s e a o ver bo ma teria l iza do pela ver o si milha n ça , p ela a dequ a çã o do enre do à pla u sibil ida de do con he ci me nto do es p ecta d or , nu ma re gra prá tica , qu e a tra diçã o per p etu ou , e u m vel ho a ct or m e con fi de nci ou : «M eu ra pa z, é p reci so t om , con vi cçã o e nu n ca dei xa r ca ir o s fina i s da s fra se s» .

A s a u la s tivera m a a flu ên cia pret en dida , a s de mú si ca s obr e tu do, ma s o e s pírito foi g er mi na nd o, na for ma çã o d e int érpret e s , a qu em co mp etia u ma pa r te na edu ca çã o do pú bli co, n o d e sp ertá -l o p a ra ou tra s for ma s d e ex pre ssã o c én ica , pa r a qu e p erd e ss e o go sto da s recita ç õe s de cla ma tór ia s, pa ra qu e pre fer i s se u m tea tr o d e na tu reza ma is su bje ctiva à s vi su a lida de s da s tr a móia s, d o s a pa ra tos cé ni co s e d a s fé e r ie s a fr a nce sa da s. «D e va ga r qu e iss o é o ma is di fí cil de tu do », e s ó o te mpo pod erá de m on str a r s e o ca mi nho é be m p er corrid o.

G a r rett pr et en deu «e sta b ele cer u m tip o de di cçã o pa ra a lí ngu a , ta nto ma is n ec e s sá rio qu a nto é c er to qu e d e terra pa ra terra as pa la vra s se a du lter a m e p ertu r ba m, a pont o de e m c erto s lu ga res d o rei no s e fa la r em dia le cto » - d e sa ba fou Fia lho d e Al mei da , a o rep órter d e O Mu n d o ( 3 0 .0 9 .1 90 6 ) -, «A s sim co m o é n ec es sá rio u ni fi ca r a ortogra fi a , a ssi m é ne ce s sá r io u ni fica r a dic çã o, e sta b ele ce nd o -lh e u m tip o […] É o qu e dá a o tea tro, e ntr e ou tr a s mi s sõ es qu e ele t e m d e cu m prir, for os de u ma es cola da lín gu a portu gu esa .» L on ge di ss o, c on fes s ou , no D . Ma ria a dic çã o p er c or r eu ca mi nh os si nu os o s, a o lo ng o d os te mp os , a o sa b or d e go sto s e mo da s, a o p ont o « de c on stitu ir u m dia lec to. A di cçã o d est e tea tr o ch eg ou a fa zer m oda entr e o s e stoira din ho s e ga gá s da ro da lisb oeta . A velu da r a m - se a s síla ba s, m olha ra m - se o s ll, pro nu ncia ra m -s e os r r à fr a nc e sa , fa zia - se bo qu inha a o s di ton go s, tu d o i sto co m u ma ga r r idice , u ma c o qu e te r ie , de lhe s ma n da r co m a s ca deira s à ca be ça . O s r itmo s da c on ver sa çã o n a tu r a is e m lin gu a gem p ortu gu e sa , certa s ca dê ncia s pe cu lia r es da elo cu çã o, tu do a li foi a ltera do a o sa b or do

(10)

10

a nda nte fr a n cê s, qu e os a ctor e s ou tr a zia m d o estra n geir o , ou d ele bu sca va m i mita r p or via d e t er c eir o s . [… ] Anti ga m ent e em D . Ma ria fa la va - se a fra n ce sa d o; a gora , co m o pr e do mí nio d e a rtista s a lfa cinha s, a fa la a lisbo etou - se ».

As s e s s õ es r eg ular e s do Te atr o de D . M ar ia I I

O so nh o de G a r rett c on clu iu -s e, por fi m, a 1 3 de Abril d e 1 8 4 6, c om o e sp ec tá cu lo ina u gu ra l da s r epr e se nta çõ e s re gu la res n o T ea tro d e D . Ma r ia II . Er a a pedr a de fe ch o da a bó ba da do na ci ona li sm o româ nti co qu e s e pr opu s er a , e qu e o co n sel heir o J oa qu im La rc her, en qu a nto gov erna d or civil de Li sb oa , a ju da r a com o s eu impu ls o. «O tea tro esta va vist osa me nte a d orna d o e ilu mi na do co m u ma pr o fu sã o d e ca n de eiro s d e a zeite e o seu ma gní fi co lu str e d e vela s» - e scr ev eu N orbert o L ope s -, « A sa la er a u m deslu m br a m ent o.» T a nto ma is qu e s e a pro veita va o a cont eci m ento pa ra fe st eja r o a niv er sá r io de D . Ma ria II (Fig .8 ) . A fi na flor da so cie da de o cu pa va a s tr ê s or de ns d e ca ma rot es, ost enta n do ele gâ ncia n o tr a ja r e na s jóia s. N o t ea tro so cia l con tra ce na va m os vu lto s ma is notá v ei s da é po ca , c om o s m entor e s d o proj ect o, os a rqu itect os da obr a , o s pa r e s do r ein o, o s de pu ta do s, o s mini str os, o s a lto s fu n cioná rio s, o cor p o dipl o má tico, o s cr íti co s e a lgu ns a u tore s qu e ti nha m sido pr eter i do s no co ncu r so pa r a a es col ha da p eça d e e streia . A s a nima da s con ver sa s cir cu la ndo pe la sa la c e ssa r a m de im edia to à e ntra da da Ra inha e s eu Rea l es po so , r e ce bid os , d e a c ordo co m o pr oto col o, p ela a u diçã o do H ino r ea l, e xe cu ta d o por u ma or qu estra de 2 4 pro fe s sor es d e mú sica . A exp e cta tiva era gra nde , qu a ndo su biu o telã o d e R a m boi s e C ina tti e s e deu lu ga r à r epr e se nta çã o de Álv a r o G on ça lve s , o Ma g r iç o e os D o z e de I n g la te rr a , dr a ma histór i co or igi na l de J a cinto H eli odor o d e Fa ria Agu ia r de L ou r eir o, a pr o va do e m mér it o a bs olu to p elo jú ri do C o n ser v a tório.

Poré m, ne s sa n oite, o te mp or a l a ba teu - se dilu via n o, pr eju dica ndo a a u diçã o do e sp ectá cu lo, e f or ça nd o o s a c tore s a tra va r u ma l u ta titâ nica co m o ba r u lho da chu va ca ind o na cha pa d e zin co qu e s ervia d e co bertu ra a o tea tr o. N ã o ob sta nt e, A Re s ta u ra çã o da C a r ta (15 .04 .18 46 : 3 20 ) , ór gã o go ver na m enta l, noti ciou qu e a co mpa n hia se ha via es m era do « no a r ra njo do ce ná r io, v e stu á rio e a d er e ço s, qu e tu do e sta va rico , brilha nte e

(11)

11

pr o fu sa m ent e vi st os o... R ein ou o ma ior so s se go em to da e st a reu niã o, divi sa nd o- s e no s s em bla nte s d e t od os o s e sp ecta d ore s si na is da ma i s vi va sa tis fa çã o por v ere m co nclu íd o u m su mptu o so tea tro na ci on a l, e nel e esta b el eci da u ma co mpa n hia c om po sta do s prin cipa i s a ct ore s, qu e ta nta s pr ova s d o seu ta l ento dr a má ti co e có mi co tê m da do na su a ca rreira a r tística .» E ma i s nã o di s se, p orqu e da cr íti ca se en ca rregou Ant óni o de Ser pa , qu e zu r ziu na pe ça , pro cla ma nd o -a se m gra n de s d e feit o s, b ele za s, pa ixõ es, p en sa m ent o s, ca r a cter es, a c çã o, a p ena s u m dra ma me díocr e e m toda a ext en sã o da pa la vr a . Até m es m o no 4 º a cto, em qu e se rea liza o tor nei o na cort e i ngl esa , qu e ha via de sp erta do int ere s se no s e s pe cta dor es pela mo nta g em e s m era da do a ctor Epi fâ nio , s eu ensa ia d or, o crítico tea tr a l a cu sou o a u tor de con str u ir «ra toeira s pa ra a rma r ao e feit o», fa z end o p er d er o int er e ss e da a cçã o pr in cipa l, e qu e ma is a propria da s ser ia m nu ma da n ça do M on si eu r Ma rtin, ou de u ma fa rsa má gica d o tea tr o do Sa litre. M en de s L ea l, na s ec çã o «T hea tro s», d a Re v is ta U n ive r sa l Lis bo ne ns e , optou por u ma a precia çã o de t om ma is politi ca me nte corr e cto . El ogia n do o p en dor hi stori cista do dra ma , e a su a r epr e s enta çã o e m oca siã o tã o sol en e, nã o l he re co nh ec e , por ém, va lor a r tístico enqu a nto es pe ct á cu lo, já qu e «a a cçã o prin cipa l do M a g r iç o [...] está toda via r edu zida a u m epis ódi o, qu e pre en ch e tod o u m a cto (o 4 º) ma s qu e e xi stin do ou dei xa nd o d e exi stir na da a cre sc enta ne m dimi nu i a nen hu m d o s ou tro s a cto s a qu e é i nt ei r a me nte e stra nho . O ra , os a m ore s do Ma gr i ço co m B ea triz, qu e sã o, ou f or a m d es tina do s a ser, o dra ma , nã o pr ee nc he m, pel o mo do por qu e sã o co ndu zid o s, a s e xig ên ci a s da a rte. […] A execução não foi tão completa mente boa como seria de desejar.» E, de ste mo do, r ema ta a cr ítica a o tr a ba lho do s a rtista s, la c o nica m ent e, se m e sp eci fi ca çõ e s, e stilo c omu m na qu el e te mp o , e m qu e nin gu é m pr ete ndia pr e su mir d e críti co tea tra l. Por qu e s e o qu is es s e, d iria qu e o es pe ctá cu lo, a p e sa r de b em e nsa ia do , s o fre r a pa t ea da vi sa nd o o a ctor T a sso, qu e, ma i s u ma v ez, nã o sa bia o pa p el de cor.

Eis a e str eia o ficia l d o n ov o tea tro d e Li sboa e da co mp a nhia r esi de nte, qu e ta n to s b oa to s moti va ra qu a ndo foi c on stitu ída . N a H is tó r ia d o Tea tr o Na c io na l D . Ma r ia I I , Ma tos S equ eira sint etiza o pro ble ma :

(12)

12

Diz ia -se que o Gove rno c onvoca ra os e mpre sá ri os Ca eta no J osé da Sil va (d o C onde s) e E míl i o Doux (d o Salit re ), pa ra c om ele s e sc olhe r os a rti sta s, a pe sa r d a s i nd i sposi çõe s que ha via e ntre os d oi s; dizi a -se que el e s se ti nha m c ongraç ad o pel o i nte re sse c omum e que ha via m re sol vid o t oma r um del e s, ou os d oi s, a se u c a rgo, a e mpre sa d o teat ro novo. C onsta va ta mbé m que se ia a ume nta r o subsí di o, e c orria com vi sos de ve rdad e, que pa rt e da c ompa nhia d o C ond e s nã o e st i ve ra d e a c ord o e rej eit a ra os c ont ra t os ofe rec id os. O Echo do s Theatr os c he ga ra a diz e r que os ac t ore s d o C onde s e sta va m e m pl e na re vol ta, c a pit a nead os por Sa rgeda s, L i sboa, Ta sso e E pi fâ ni o. E , c om frase s d ura s, c onsi gna va que el e s já se ti nha m e squecid o d o te mpo e m que a nd a va m d e se be nt os ga bõ e s, c om a s a l gi bei ra s c heia s d e bi l hete s, pe la s rua s d a c idade , a pa ssa r be ne fíc i os. Só d e poi s da re ge ne raç ã o t eat ra l promovid a pel o pre boste (Doux), c uj o i nfl uxo re pudia m, de ita ra m ca sa ca à Pa sc aró e c ha pé u à P olk a. Ne m se que r re pa ra m na “capoeira” d o Condes. O que querem é a antiga cantilena declamatória, di tada pe l o pont o, pala vra a pala vra. Re si st a m, que te rã o d e e mi gra r pa ra a proví nc ia ou pa ra o pa í s d os J aca ré s e d os C roc odil os. Nã o há ni ngué m i ndi spe nsá vel . Se fal ha r o Sr. E pifâ ni o ni ngué m se a rv ora rá e m Je re mia s. Doux há -d e a rra nja r outros a rti sta s. Ist o diz o E cho do s

Theat ro s, e a cre sce nt a: “ a ú ni ca a rti st a que é i ndi spe nsá ve l no C onde s,

é a Sr. ª E mília . De re st o pode pa ssa r se m el e ”.

E m c ont ra posi çã o a Lís ia Dramá tica , out ra ga zet a te at ra l que nã o e ra i ni mi ga d o C ond e s, ne m d o Doux, de fe nd e os a rti st a s da Soci edade , que a fi rma nã o se te re m re voltad o. No se u ple ní ssi mo di re it o nã o a cei ta ra m a s c ondi çõe s que l he s fora m propost a s. E e scla re ce a at oarda c orre nte de que o E pi fâ ni o, o Ta sso e o R osa fora m d i scí pul os d o Doux. Nunca o fora m. E nqua nt o Doux os di ri gi u nã o fi ze ra m senã o pa péi s i nsi gni fi ca nt e s. Só d e poi s é que c ome ça ra m a se r re pa rad os e e l ogiad os. E míl ia d a s Ne ve s, o R osa e o Sa rged a s sã o a rti sta s d e i nt uiç ã o, a fi rma a Lí sia Dra máti ca (Se quei ra 1955: 112 -113 ).

Ap e sa r de tu d o, a 1 9 de F ev er e iro d e 1 8 4 6 , a compa n hia já e sta va es col hida , de a cord o co m o pa re cer do ca da str o d o Co n serva tório, da s inf or ma çõ es da s e m pr e sa s e do s dra ma tu rgos d e ma ior i n flu ê ncia , e o s seu s n om e s co nstitu ía m u ma c om prida li sta da da à C omi s sã o c on stitu ída por Ca st ilho , R e be lo da Silva e Me nd es L ea l. D ividia - se el a em trê s cla s se s – a s prim eira s pa r te s, o s co mpri má rios e a qu el es qu e de veria m ser pr e f er ido s em fu tu ros co ntra tos -, nu m tota l d e 3 6 nom es, distr i bu ído s da s egu int e f orma : o nz e, na pr im eira , 1 3 , na segu nda , e 1 2 , na ter c eir a cla s se. Vi nte e u m a ct ore s pr o v in ha m do t ea tro da ru a dos Cond e s, e oit o d o t ea tro d o Sa litre. Fru to da e sc ola dra má tica d o

(13)

13

Con ser va tório, provi nha m sei s no me s . E , p or fim, trê s a ctore s, per te n ce nte s à ter ce ir a cla ss e, pro vin ha m d e p equ en o s tea t ros ou de co mpa n hia s a mbu la nte s d e pr o vín cia : J ú lio B a pti sta Fi da nz a , Romã o Ant óni o Ma r tin s e Andr é Au gu sto Xa vier d e Ma c ed o . Su p osta m e nte cor r e s pon der ia m a o qu e d e mel hor e xi stia p or t erra s lu sit a na s, p elo me no s er a o id ea l su bja c ent e à pro po sta ga r r ettia na .

A cla ss e da s pri meira s pa r tes , ou do s pri meir os pa péi s , era en ca be ça da por Epi fâ ni o A ni cet o G on ça lve s , pri m eiro c entr o a bsolu to, qu e for a só cio , d ire ctor e en sa ia dor d o C o nd e s, ex erc en do a pro fi s sã o ha via 1 4 a nos. N ã o se nd o o ma i s vel ho , era o ma is cred en c ia do , pela po siçã o qu e a s su mira a nterior m ent e, ju nta m ent e c om Sa rge da s, prim eiro -có mic o a b solu to, ta mb é m ele s óci o e dir e ctor do Con de s, e 9 a nos de pr o fis sã o. Se gu ia -s e J oa qu im J o s é T a sso, ( Fig .9 ) ga lã de p ont a de c ena , J oã o A na stá ci o Ro sa , ga lã c entr a l, T eod or ic o B a pti sta da C r u z, ce ntro, Vitor i no Cir ía c o da Sil va , pa i - no bre ou ce ntro , Ma nu el B a pti s ta Lisboa , ce ntr o -c ó mic o, e I ná ci o Ca eta no d o s R ei s, ba ix o - có mi co. À exc ep çã o de ste, pr ov eni ent e do T ea tr o do Sa litr e, tod o s tin ha m p erten cid o à co mpa n hia do Con de s, ta l co m o a s trê s ú nica s a ctri ze s d es ta cla ss e: Emília da s N ev es , pr i meira - da ma a bs olu ta , C a rlota Ta la ssi da Silva , pr im eir a -da ma , e D el fina Ro sa do E spírit o Sa nto (Fig .1 0 ) , velha -c ó mica ( ou m eio ca rá cter ). D e ste gr u p o, o a ct or R ei s era o ma i s vel h o, co m 5 9 a nos, e 4 1 de ca r reir a , se gu ido por Lis boa , co m 5 5 a nos , e 2 7 de ca rreira ; Epifâ nio c onta va já 3 2 a nos, ma s t odo s o s ou tro s e nc ontra va m - se na ca sa do s vint e, e ntr e o s 4 e o s 9 a nos de pr o fi ssã o. A pe na s Epi fâ ni o , Sa rgeda s ( Fig .11 ) e E mília da s N e ve s fora m e scritu ra do s co mo a bs olu tos, d ent r o do s eu na ipe, ou s eja , nã o s ó ca pa cita d os pa ra interpreta r qu a lqu er tipo de pr ota go ni sta e m dr a ma ou em c om édia , ma s, s obr etu do, co m e sta tu to de « ca b eça d e ca r ta z», de a tr a c çã o de pú blic o , ser vind o d e tru nfo s c erto s no jo go e mpr esa r ia l .

O s na ip es, ou gén er o s d e pa p éi s no t ea tro, s o fre m e volu çã o na tu ra l, a o long o da hist ór ia do tea tro pr o fis si ona l, c on soa nt e a s n ec e s sida d e s de es cr ita dr a má tica e d e cr ia ç ã o d e p ers ona g en s no de s enrola r d o s e nre do s. G r os so m od o, tra ta - s e de tip olo gia s, ou pr ot ótip os a ntig o s de t a xino mia s,

(14)

14

de m od elo s fu n cio na is c ont em porâ n eo s, e m qu e s e ve rifica u m r ela cio na me nto em pír ic o e ntr e o ní vel etá rio da per so na ge m e u ma psi col ogia co mp orta me nta l e mbr i oná r ia . Em m ea do s de oito ce nto s, a s d r am a tis pe r so nn ae enqu a dra va m- se sim ple s me nte em: ga lã s , centr os , pa is -n obre s, e ca ra cterí sti co s, pa ra o s ho m en s, c om equ iva lên cia no fe mi nin o e m da ma s -ga lã s, da ma s- c entr a is, mã e s -n obr e s, e ca ra cterí stica s. A s so ci eda d es dr a má tica s (ou co mpa n hia s) a pre se nta m, e ntã o, u m elen co pr inci pa l - a ctor es so cietá r io s – e u m a di ci ona l - o s e scritu r a dos -, de a cor do co m o s na ipe s, pa ra , a ssi m, c on se gu irem le va r à cen a a s peça s qu e c o mp õe m o seu r ep er tóri o. Ao s ga l ã s, e à su a e qu iva lên cia n o fe mi nin o, ca bia m o s pa p éis de a pa ix ona d o s, no dra ma (ga lã de po nta de ce na ) ou na com édia , cor re s pon de nd o a pa péi s d e jo ve n s, e, por is s o, dev er ia m p os su ir b on s dot e s fí si co s e boa a pr es enta çã o. A cla ss ifi ca çã o em pr i m eir o, se gu ndo ou terceir o, c orre sp ond ia à su a importâ n cia dentr o do enr ed o da p e ça , na ev entu a lida d e de e xi stir ma is d o qu e u m a per so na ge m. O me s mo s e pa s sa va co m os ou tro s na ip es. O s ce ntra is cor r e s pon dia m a o s pa p éis d e h om en s e mu lh ere s ma is ve lho s, qu e exig ia m igu a lme nt e boa a pr e s enta çã o , ma s ma ior den si da de inter pr eta tiva ; ta l co mo os pa is -n obr e s e a s mã e s -n obr es, qu e t a l com o o no me in di ca , ca bia m a o s a ctore s d e ma ior ida de na co mp a nhia . Por ca r a cterísti c os de si gna va m - s e o s pa péi s tí pic os , vu lga rme nte r epr e s enta tiv os de cla s se s p opu la res , s en do o ma is gr ote s co de sig na do por ba ixo -c ó mic o ( Fig . 1 2 ) . N est e ca so, nã o s e veri fica va u ma correla çã o entre a i da de d o a ct or e da p er s ona g e m qu e in terpr eta va , d a do qu e o r ecu r s o à co mp o siçã o fí si ca obr iga va a u ma ca ra cteri za ç ã o e xteri or por m en oriza da . Por ú ltim o, ha via a inda o na ip e da s u tilida d e s, ou s eja , a r tista s de qu a lida de r egu la r , ca pa ze s de fa z er div ers os ti po s de pa péi s de se gu nd o pla n o e de fa zer su b stitu içõ es d e el en co de ú ltima hora . H oje em dia , c ha ma r -l he s -ía m os o s p oliva le nte s.

Por qu e st õe s or ça me nta is, qu a nto a hon orá rios , a cla ss e da s pr im eir a s pa r te s a pr es enta na tu ra lment e me no s a ctor es d o qu e a d o s co mpri má rios . N a pr imeir a co m pa nhia do T ea tro d e D . Ma ria II, esta cla s se a pr e se nta u ma di stribu içã o ma is e qu ita tiva entr e ho me ns e

(15)

15

mu lher es, 6 e 8 , re sp ecti va m ent e, e n ela s e e nc ontra m ma i s ele me nto s pr ov eni ent e s do T ea tro do Sa litr e. C o mo ca ra cterísti co s, estã o J oã o do s Sa nto s Ma ta , o Ma ta Ca stelha no s, d e 5 5 a nos, e B á rba ra Câ ndida , de 5 6 , em bor a o a ctor ma i s vel h o fo s se Ant ónio J o s é Ferreira , d e 6 2 ano s, co m o ba ixo -c ó mic o. Exc eptu a nd o Migu el Arca nj o de G u s mã o, 2 º cen tro, de 3 5 a nos, e J o sé Ca eta n o Va n -N e z, ga lã c ómi co, d e 3 4 , o re sta nte el en co situ a va -s e ta mb ém na fa i xa etá ria do s vi nte a no s: Ant óni o Ma ri a de A ssi s, 2 º a mor o so ou ga lã ce ntr a l, J o sé C a eta n o Via na , 2 º ga lã , J o se fi na do s Sa nto s, 2 ª da ma a m oro sa – ing énu a , For tu na ta Le vy, 2 ª da ma c entra l, J os efa S oller , 2 ª da ma ( Fig .1 3 ) , Ma ria J osé d os Sa nto s, 2 ª da ma ce ntra l -có mica , J oa na Ca r lota de A ndr a d e e Silva , 2 ª da ma c ómi ca , e Ma ria da A ssu n çã o Ra di cci, da ma c óm ica e ca nta nt e.

A no va co mpa n hia dr a má tica , ma iorita r ia me nt e co mp o sta por j ove n s a r tista s, r esu lta va cla ra men te d e u ma fu sã o de a ctor e s do s el en co s do s doi s pr in cipa is t ea tros da ca pita l, co m pre do mi nâ nci a pa ra o da ru a do s Cond e s, e e m qu e s e in scr evia m os pri m eir o s re su lta dos d o cu rso d e a rte dr a má tica : For tu na ta Le vy, a lu na pr emia da , e J oa na C a rlota d e An dra de e Silva , a mba s c o m 2 4 a nos, e p er te nc ent e s à cla ss e d o s c om pr imá rios; e J os é G er a ld o Moni z, a l u no pr e mia do, 2 5 a nos, ba ix o - có mi co, Va sc o Ma r ia Ca br a l, 22 a nos, Ant ónio J oa qu im P ereira , a lu no pre mia do, 2 5 a nos, c entr o, e Ma r ia Velu tti, a lu na elo gia da , 2 4 a nos , 2 ª da m a -s éria , na cla s se do s qu e d evia m s er pr e fer i do s e m fu tu ros co ntra tos.

Emília d as N e v e s e So us a – uma v e de ta nac io nal no te atr o de o it oc e nt os

N u nca permitiu qu e lh e e s cr e ve s se m a biogra fia . N ã o perc e bera m por qu ê, ma s c onti nu a a nã o ser ca s o ú nic o a inda h oje (Fi g .14 ) . Em Portu ga l, entr e o s a ctore s nã o e xi ste o há b ito de per petu a r na s g era çõ e s se gu inte s o r ela to da s su a s ex peri ên cia s. Pou c os sã o os d isp ost o s a pa r tilha r me mória s, seja m a u tobio grá fi ca s ou pel o pu n ho de t erc eiro s, o qu e nã o d eixa de s er u ma situ a çã o e stra n ha . Q u a lqu er a cto r , qu a ndo co me ça a su a ca rr eira , a mbic iona o c on he cim ent o d o pú bli co, é u ma

(16)

16

ma is -va lia pa ra melh ore s co ntr a to s, ma s , a pa rtir do mom ent o em qu e a tinge o e sta tu to d e r e co nh e ci m ent o, a r repia ca min h o e evit a fa la r do a ssu nto , qu a se s e es co nd e n do. O u tr o pa r a do xo do co m edia nt e?

Sobr e Emília da s N e ve s, pa r a a lém da s tenta tiva s bio grá fi ca s, e d e opini õe s i sola da s, con he c em os u ma bio gr a fia qu e s e pre te nd e con clu si va - Lin d a Em ília , de Brito Ca ma ch o, n o sé cu lo XX -, e a obra Em ília d as Ne v es : D oc u me n to s p ar a a s ua Biog ra ph ia (18 75 ), de D . Lu ís da C â ma ra Lem e, s eu co mpa n heir o, qu e a pu bli cou , a inda em vida da a ctriz, a cob er to d o ps eu dó nim o « u m do s s eu s a d mira d ore s». C o m o a noni ma to ps eu do no má sti co e sta r ia evita nd o pr obl ema s c onju ga is ? P o ss ivel me nte . T oda via , a pesa r de t o ma r a defe sa da a ma da – sem pre o fe z -, C â ma ra Lem e pr oc ed e a u ma com pila çã o d ocu m en ta l imp orta nt e pa ra a co mpr ee nsã o da per s ona lida d e d e E mília da s N ev es, cu jo t em pera m ent o difí cil a fe z esta r se mpr e col oca da na s a ntíp oda s e mo cio na is d os a fe cto s pú blico s. A ma da ou odia da , ja ma is i ndi feren te, E mília foi indi scu tiv el me nte a ra inha da c ena p ortu gu esa do seu t em po, nu ma a titu de de c on sc iê ncia pr o fis si ona l, qu a nto a os seu s m érito s a rt ístic o s e o qu e el e s r epr es enta va m pa r a o s e mpr esá rio s qu e a pret en dia m co ntra ta r. N ã o ten do gr a nd e i nstru çã o – tinha dis s o p er feita co ns ci ên cia , cre mo s - , Emília sou b e ro d ea r - se d e qu em p odia fa z er a de fe sa da su a c ondi çã o fe mi nina , nu m te m po d e su ba lter niza çã o fa c e a o ho me m. Lu to u sem pre, co m a s a r ma s qu e tin ha à mã o, pelo pu nho de C â ma ra Lem e, qu e lh e es cr e via o s do cu me nto s pro ba tório s, t orna d os pú bli co s em d e fesa do s eu bo m n om e. Q u a ndo o s pr obl ema s se a gu di za va m e a o pini ã o pú blica co me ça va a s er i nflu e nc ia da pela opi niã o pu bli ca da , E mília da s N e ve s sa ía à ca r ga c om a e xp osi çã o do pr o bl ema , co m a exi biçã o , se c a so fo s s e, do s co ntr a to s a ssi na do s, d o s do cu m ento s qu e fu nda me nta s s em a su a r a zã o. Foi u ma mu lher polít ica , nu ma a c ep çã o re strita , ma s, se fo s se h oje, dir ía mo s qu e ser ia de fen sora da tã o a pregoa da tra ns pa rên cia do s neg óc io s pú blic os. F oi u ma a ctr iz a ma nt e d a su a pr o fis sã o e do seu pú blico , u ma e ntre ga e sta tu ída já no a rt.º 1 º, d o seu pri m eiro c ontra to de tra ba lho, em 1 8 38 , no T ea tro da ru a do s C o nd e s, dirigi do p or E mílio D ou x:

(17)

17

E u E míl ia me obri go a dedi ca r me us tal e nt os e xcl usi va me nte e se m re se rva de ne nhum d ele s a o se rviç o d o Te at ro P ort uguez de Li sboa e out ros, re pre se nt a nd o t od os os pa péi s que me fore m di st ri buídos. (apud Ca mac ho [s.d. ]: 27 )

Pa ra Br ito Ca ma cho, Emília entr ou ta r de pa ra o tea tro, a os 1 8 a nos , em co mpa ra çã o c om a lgu ma s da s a r tista s fra nc e sa s da qu e le te mp o: Ma de moi se lle G e orge s d ebu tou a o s 5 a n os , D eja zet, a o s s eis, Pl e sy Ar n ou d, a o s 3 , r ecita n do ver s os d e É squ ilo, e a o s 6 , re c ita ndo La Fonta in e, a pr ópr ia Ma de mo is elle Va nh ov e, e s po sa do a ct or T a lma , so cietá ria d o Th é â tre Fr a n ç a is , a os 1 5 a no s. Prodí gio s ga u les es! Por é m, o pr o dígi o lu sita no, or iu nd o d e fa mília s pobr e s, nã o po s su ía gra nde instr u çã o e ta m pou c o pa s sa r a por qu a lqu er es cola de t ea tro . A na tu reza dota r a -a de u m g énio dr a má tico , ma s a a prendi za g em t ea tra l teve d e a fa z er n o pa lc o, co mo a ma ior pa r te do s s eu s c ole ga s; u ma for ma çã o e m ex er cí cio, co mo s e di z hoj e.

Q u a ndo s e a pr e se nta no Au to d e G il Vic e n te , de G a rrett, o peri ódic o Ata la ia Na c io na l do s The a tr o s (1 6 .0 8 .1 838 : 57 ) defi ne -a :

[E xcel e nte s] qual idade s fí sica s, o som e nca ntad or da sua voz, a s a ce nt uada s i nfle xõ e s, a i ntel i gê nc ia e c once pçã o que most ra nos a sse gura m que é e xt ra ord i ná ri o o se u progre sso e muit o supe ri or a o que pod ia e spe ra r -se e m re sultad o d e qua se ci nc o me se s de li çã o. Est a j ove m, se nel a nã o e xpira r a me sma a pli caç ã o e gost o, s e rá um d os orna me nt os d a c e na port ugue sa, no que nos d á se guro ga ra nte a pe rfeiç ã o c om que de se mpe nhou um pa pel d e ta ma nha i mport â nci a (da i nfa nta D. Beat riz ) e i st o na pri mei ra vez que a pa rece u e m c e na !

Er a , poi s, lin da e es belta a b ela E mília ; os seu s g e st os e mo vim ent o s e m ce na er a m a ex pre s sã o d o s s en tim ent o s e da s i deia s, da s em oç õe s e co mo çõ e s qu e t inha de ext eriori za r, s egu n do a su a inter pr eta çã o. M od esta , n o qu otidia n o, a té pa rec er d es c u ida da no ve stu á r io, E mília da s N e ve s go sta va de s e a pre se nta r n o pa l c o tra ja ndo be m, de a cor do c om o pa p el qu e r epre s enta va . T inha c on sci ên cia d e qu e a indu m entá r ia fa zia r ea l ça r a su a pe s soa . A su a vo z era mu sic a l, rica d e infl ex õe s, a mol da nd o - s e à e xpr es sã o do s ma is di ferent e s esta d os de a lma ; ven cia a s di ficu lda d e s int er pr eta tiva s gra ça s à su a genia lida de, à su a

(18)

18

ca pa cida d e de a di vin ha r o qu e nã o podia e nte nd er. N u nca a ss istia a os três pr i m eiro s en sa io s, e nã o co ns entia , e m re pre se nta r u ma peça qu e nã o tive s se sido d istr i bu ída com vint e dia s d e a ntec ed ê ncia . A prov ei ta va es se tem po pa r a qu e D . Lu iz da C osta Le m e lh e ex pli ca s se os pa p éi s, ga nha nd o c on sci ên cia do qu e dizia e fa zia . D e ss e m od o s u pria com noç õe s d e c onju nto , o qu e lh e fa lta va em t éc nica d e tea tro, c on he cim ent o de lit era tu ra dra má tica , d e psi col ogia d o a ct or, d e estu d o fisi o nó mic o. E ele, s eu a d mir a dor entr e os a d mira dor e s , d elicia va - se, c erta m ent e, co m es s e la bor :

E mí lia t oca va o subli me d a nat uralid ade; d e poi s a quela fi si onomi a mó vel e si mpá tica , de poi s a quela voz ha rmoni osa, d e poi s t ud o quant o De us c onc ede a os se us e sc ol hid os pa ra os t orna r fa sci nad ore s! E de poi s?. .. ne m e u sei – o gé ni o. (LE M E 1875: 17 ).

Emília da s N e ve s i nt egr ou o el en co d e es treia d o T ea tro de D . Ma ria I I , inter pr eta nd o u m p equ e no pa pel e m O Ma g r iç o . Porém, o report ório qu e f or a co nst itu in do a té a qu el e m o me nto, foi l eva d o à ce n a do no vo tea tr o: pr i nci pi ou p elo dra ma d e M en de s L ea l, A Ma d r e S ilva , a 13 de J u nho de 1 8 4 6 , em s eu be ne fí cio ; se gu iu -s e O Alfa g e m e d e S anta r é m , em 5 de J u lho, e A D a m a de S . Tr op ez , em Ag o sto. A prop ós ito de Ad e la id e , Lop es d e M en do nça ( Fig .1 5 ) , no F olh etim tea tra l da Re v o luç ão d e S e tem b ro ( 11 .09 .184 6 : 2 ) escr ev e:

A e xpre ssã o d a sua fi si onomia e sc a pa à a nál i se. E t od os c ompre e nde ra m a sole nid ade da quela d or, a profund a ve rdad e d a que le sofri me nt o; a pl ate ia i nt e i ra bat e u pal ma s e bate u a s de e nt usi a smo e ad mi ra çã o.

Vint e a n os d epoi s, qu a ndo a pe ça foi r ep osta , Pe dro Vid oeir a , na Ch r on ica do s T h ea tro s ( 23 .03 .18 67 : 2 -3 ) procla ma qu e o t em po nã o con s egu iu de stru ir « o ta le nto p er egri no d e E mília da s N e v es . [...] O pa lco é pa r a ela a terr a qu e lhe c on ce de nov o ca lor e n ova s força s. P od e -se na r u a enco ntra r Emília de s pren dida d e a ta vios, só bria no ge st o, mo de sta n o p orte; ma s a li na c ena , o nd e ela é ra in ha , a fi gu ra ilu mina se -lhe e m pr e se nça do pú blic o, a ca be ça ergu e -s e -lh e sobra n ceira , os ol ho s irr a dia m lu z, e os lá bi o s s olta m -lh e rá pida a pa la vra qu e se in fla ma p elo

(19)

19

fo go da in spira çã o. N a ce na de sa pa rec e a mu lher: er gu e - s e a a ctriz. A Ad ela id e d e h oje foi tã o fe st eja da d e br a vo s co mo a Ad ela id e d e 1 8 46 .»

Em p ou co ma is de u ma d éca da , E mília da s N e v es ga nh ou o e st a tu to de a ctr i z d e T ea tr o N a ciona l, ou s eja , c on stitu iu -s e co mo u m « pa drã o entre a a r te e a s a ctri ze s », co n for me pr ocla mou o folh eti nista J o sé Correia d’Harcourt, no portuense Nacional (15.01.1851 : 1-3), coloca ndo-a «ndo-a cimndo-a de to dndo-a ndo-a cr íticndo-a » , tornndo-a nd o -ndo-a «su bli me ». A divndo-a con gre gndo-a entã o u ma c or te d e a d mira dor e s. Po eta s co m po em -l he v ers o s. C a milo nã o es ca pou a o s or tilé gio , ta l co mo G u ilher me B ra ga , M end e s Lea l, ou Edu a r do Vi da l , ma s f oi Fa u stin o Xa vier d e N o va is , qu e m a tod os ex ce deu no í mp eto, qu a ndo, e m n oite de estr ei a , de dic ou o so net o a cr ósti co «à ini mitá v el int ér pr ete da A dria nna L ec ou vreu r, no R ea l T hea tr o de S. J oã o da Cida de do Port o» :

E míli a ! E xce l sa E mí lia ! Act ri z subli me ! M ul he r pel os a rca nj os i nspi ra da !

I l udi st e a mi nha al ma, que e xa sp’ rad a L ut a e m vã o c om a d or que ta nt o a opri me ! I ngrat a se nsaç ã o que nã o se e xpri me, Ali me ntei a o ve r -te de sc orad a !

Dobrou mi nha a fliç ã o ve nd o -te a nsiad a ! Ah! Qua se a c redit ei no horre nd o c ri me ! Soube st e-nos pi nt a r, um p eit o a ma nt e, No fogo da s pai xõe s d’ a mor arde nd o, E sta la nd o de ciú me, a goniza nte ! Vai de fl ore s a c ´roa e nt ret ece nd o; E sse nome que te ns, já tã o bril ha nte , Sobre a s a sa s d a fa ma i rá c orre nd o.

O s po e ma s -d edi ca tór ia a Emília da s N ev e s a bu nda m, r el eva m test e mu nho s pa r ticu la r es, cir cu la m i mpre s so s voa nd o p elo t ea t ro, ora de fá cil id enti fi ca çã o, or a mer a s sigla s, cria nd o u ma litera tu ra pa neg írica popu la r d e te ste mu nh o tea tra l. O s po ema s a pr es enta m forma e c ont eú do a pr opr ia do s a o es tro, ou , na su a fa lta , a o d es ejo d e e vid ên ci a , de ca da pena . P oré m, i nd ep end ent e da for ma – o so net o e xc ed e e m co m pet ên cia -, todo s ele s s erv em co m o mis si va s em oci ona i s, p oe ma s d e a mor a rtístic o, a os d eu s es da c ena . D edi ca do s a E mília da s N ev e s, o s po ema s - e ta nto s a cr ósti co s - sã o e nca b eça d o s por e pítet o s, ex pre s sõ e s de p e rsp ecti va s

(20)

20

diver sa s , de sd e a s ma i s g en érica s - «à in sig ne a ctriz », «à pri m eira a ctriz de P or tu ga l» , a o «ma ior or na me nto da cena p ortu gu esa » - , à s ma is es pe cí fica s, se gu ndo gra du a ç õ es de a pr e ço i nd iv idu a l . Em mu itos s ent e -se qu e a inspir a çã o a u tor a l a dvém da cont e mpla çã o a rtísti ca e m pa lco - «à ins pira da a ctr iz », «à prim eira a ctriz c ont em porâ n ea » -, ma s, e m ou tr os, ou v e - se a vo z d o s enti m ent o no stá lgi co, de «u m a deu s à min ha esti má v el a miga e b en feit ora Emília da s N ev e s». H o m en s e mu lhere s r end e m- s e -lh e e m d e mon stra ç õe s d e a pre ço . Entr e o s in spir a dos pela inter pr eta çã o c éni ca está u m po ema « À in sig ne a ctri z Emília da s N ev e s, no 4 º a cto da J o an a a Do ida », por H . A., e m 1 5 de Ma rço d e 1 8 60 , na de sp edi da da a ctr iz no T ea t ro B a qu et.

Nã o di spa s, a rt i sta e xí mia / E ssa s ve ste s de rai nha: / E sse t raj a r te c onvi nha , /Nã o é si mul ac ro, nã o/ Ve nd o a t ua maj e stade , / N ela só a c ho a ve rdad e / E nã o da c e na a il usã o. // E ssa c’ roa , que re fl ec te / T ale nt o, gló ria e e spe ra nç a, / E m cada rai o que l a nç a / Pre nde um pei t o port uguê s, / E sse c e pt ro te m va ssal os, / E se que re s e nc ont ra -l os, / Sã o t od os. .. t od os que vê s. // Ne m a qui há pod e ri o/ C ompa rad o a o t e u talento.../ Esse sim que, n’ um momento, / Rende a ti mil corações:/ Ou move nd o -os à te rnura, / Ou e nc he nd o -os d’ a ma rgura, / Na l uta d e mil paixões.// Quem assim conseguir pod e/ D’ um povo inteiro a home na ge m, / T e m pod e r, t e m va ssa l a ge m, / Te m sua c’ roa re al. / Te m fi el, si nce ro preit o, / No a mor que na sc e d o peit o/ Dos fil hos d e P ort uga l. // P or i sso, a rti sta , nã o di spa s/ E ssa s ve st e s de rai nha, Esse t raja r t e c onvi nha, / Nã o é si mul ac ro, nã o. / Ve nd o a t ua maj e st ade , / N’ ela só acho a verdad e/ E não d a cena a ilusão.

T oda via , a vida a rtística de E mília da s N ev e s nã o s e a pre se nta fá cil, ne m fa cilita da . A s qu e stiú n cu la s per ma ne nte s co m o C o mi s s á rio Régio pa r a os tea tr os , e a direc çã o d e D . Ma r ia , impe de m si st e ma tica me nte a su a entr a da , qu er co mo es cr itu ra da , qu a nto ma is c om o s oc ietá ria . A polé mi ca qu e s e in sta la por to da a pa r te, e d e qu e a i mpr en sa peri ódi ca r evela o s p or m en or e s, e m vi sõ e s pa r ticu la riza da s, le va Emília da s N ev e s, po ssi vel m ent e p ela eter na pe na de C â ma ra Le me, a da r à e s ta mpa u m opú s cu lo e scla re ce dor , A Ac tr iz Em ília da s Ne ve s e S ou s a ao Pú b lico : Re s po s ta à co r re s po nd ên c ia do Se n h or C o m iss á r io Rég io do Te a tro de D . Ma r ia I I :

À i nj ustiç a nã o se j unt e o e scá rni o . Pa ra que sã o a rgúc ia s onde o mot i vo é e vide nt e ? Que re m -me ba nid a ? De há muit o que e u o sabi a;

(21)

21

hoj e sa be m-no t od os. Os fac t os fala m mai s al t o que a s pala vra s. [. .. ] Ist o d e via se r um ne góc i o sé ri o. Ma s se e u provo te r a me u fa vor a ra zã o da s c oi sa s e a ve rdad e d a s l ei s, o que há , d e poi s d e t ud o i st o, c ont ra mi m? Há a FORÇ A. A forç a ! Ma s e u supunha e sta r no sécul o XIX, num paí s l i vre, e d e bai xo d o i mpé ri o de uma l ei, supe ri or à vont ade e a o a rbít ri o. E u a mbi ci ono a gló ria da razã o e da lei . A d a forç a nã o a que ro. Ced o -a , de bom grad o, a que m ne ste ca mpo de se je fi ca r vi t ori oso. C la mo pa ra a raz ã o, e pa ra a l ei. Apel o, na j ust iça d a mi nha c a usa, pa ra a opi niã o pú bli ca il ust rad a e i mpa rcia l. Li sboa , 30 de Mai o de 1859. E míli a d a s Ne ve s (Ne ve s 1859: 38 ).

D e tem per a me nto vi nca d o, Emíl ia ma rca a su a posiçã o, a té fa ce à s ved eta s int erna ci ona is qu e no s vi sita m , di ss o tira nd o pa rtido . O pú blic o dis fr u ta va co m e ste s c on fro nto s, so br etu d o, qu a ndo p odia c o mpa ra r a s inter pr eta çõ e s da s me s ma s p ers ona g en s. P ortu ga l, a pesa r da peri feria , con he cia b e m a s v er s õe s portu gu e sa s do s ê xito s fra nc e se s. E m 1 8 6 0 , na cida d e d o Port o, pr opi ciou -s e u m co n fr ont o d e diva s.

Emília da s N ev es r epr es enta va n o T ea tro B a qu et, no m es mo mo me nto e m qu e Ad ela ide Ri st or i ( Fig .1 6 ) a ctu a va no T ea tro de S. J oã o. A ra inha d e ce na portu gu e sa pa rtilha va o gr a nd e pa lc o da cida de In vi cta co m a ra inha da c ena ita lia na . O pú blico a nsia va p or v er a s trá gica s fre nte a fr ent e, a in da qu e fo s se u m c on fro nto d esi gu a l, a tend en do à qu a lida de da s c om pa nhia s; a ita lia na er a forte e a portu gu e sa , fra ca . A em pre sa d o Ba qu et d e cidiu l eva r à ce na Ân g e lo ou o Tir a no d e Pá d u a , de Vítor H u go, qu e Ri stor i r e pr e s enta ra a lgu ns dia s a nt e s, s e m gra nd e su ce s so. Era u ma t e merida d e repr e se ntá -la e m portu gu ês . Emília da s N eve s t em eu o co n fr ont o; vá ria s ca r ta s a nó ni ma s lh e p edia m qu e s e nã o su jeita s s e a o e scru tíni o, ma s a e mpr e sa inv oc ou a des pe s a feita na mo nta ge m pa r a nã o a c eita r o p edi do de su s pe n sã o da p eça e m e n sa ios. Su biu à cena a 1 0 de F ev ere ir o. A cu riosi da de era g era l, e Ad ela id e Ristor i, qu e nu nca vira repre s enta r a a ctriz portu gu esa , foi a ssi stir à estr eia portu gu e sa da o bra . O p er iódi co Br a z Tiz a na (11 .02 .18 60 ) r ecu s ou fa zer c om pa ra çõe s, a inda q u e en co ntra s se « gra nd e ou sa dia d e r epr e s enta r u m per so na ge m qu e a gra nde a ctriz R i stori a ca ba d e fa z er há qu a tr o dia s.» Ma s a r epre se nta çã o for a u m su c e ss o, e o pú blic o, inclu ind o Ri st ori e o a ct or Ma yer oni, a pla u dira em d elírio con sta nt e,

(22)

22

co m c ha ma da s em t odo s os a ct os . N o fi na l, o s a rtista s ita lia nos de slo ca r a m- s e a o ca ma r im de E mília da s N e ve s, em ho me na ge m. O D iá r io d e Lisb oa (1 5 .0 2 .1 86 0 : 1 47 ) , ma is deta lha d o na su a aprecia çã o, so cor r end o -s e do Am ig o d o Po v o , enfa tiza a a ná lise da re ce pçã o:

Ri st ori c ont e mpla va E míli a da s Ne ve s c om o ma i or i nt e re sse , e foi se mpre a pri mei ra a rompe r os a pla usos. E míli a da s Ne ve s, que a pri ncí pi o e nt ra ra te me rosa na c e na, c onse rvou -se se mpre e m t oda a a lt ura d o se u porte nt oso ta le nt o, e foi ma gní fic a no se gund o e quart o a ct os, onde os a pla usos, promovi d os se mpre por Ri st ori, fora m e nt usiá sti c os e de li ra nte s. Poré m qua nd o o e nt usia smo subi u de pont o, foi no mome nt o e m que E míl ia d a s Ne ve s, a te nt a nd o nos a pla uso s fre nétic os de R i st ori, l he ati rou um beij o, c urva nd o -se c om t od a a mod é sti a, e m si nal de submi ssã o e re spe it o, e re be nt a nd o -l he d os ol hos c opi osa s lá gri ma s.

Emília via re co nh eci do o s eu ta lento , por a lgu é m qu e m e sm o nã o ent en de ndo o por tu gu ê s, a lca nça va o s m ea ndr os da int erpr e ta çã o qu e pr ov êm da a lma , da inter ior ida d e, e qu e s e nã o ex pre s sa m p ela s pa la vra s . Foi u m r ec onh e cim ent o in te r p a re s .

A s du a s d iv a s continu a ra m re pr e se nta nd o n o P orto, qu e reju bil ou co m a situ a çã o ú ni ca de p od er c om pa rtilha r a mb os o s ta le nto s, fa z en do «co m si ngu la r ga lha r dia , a s h onr a s d evi da s à s du a s su blim e s a rtista s» ( D iá r io d e Lis b oa , 1 7 .0 2 .1 86 0 : 155 ) . R istori re pre se ntou a s s u a s cor oa s de gl ória , e, na n oite em qu e Ma c b e th su biu à cena , «d eu - se u m de s se s fa cto s, qu e fa ze m sa lta r d os ol ho s lá gr ima s d e v erda deir o pra ze r. Q u a ndo, no fi na l da c ena do ba nqu et e, Ma da me R i stori fo i c ha ma da à ce na c om Ma yer o ni, a pa re ceu no pa lc o a pr im eir a a ctriz p ortu gu esa , Emília da s N eve s, e a pr e se ntou à ra inha da c ena eu rop eia u ma rica coroa de lou ro. Ristor i c om ovi da a bra çou a a ctriz, qu e, c om ta nta u su ra , lhe p a ga va o s a pla u sos qu e dela re ce ber a na noit e a nter i or! Era u m belo qu a dro! O entu sia sm o do pú blic o t oc ou a s r a ia s do d elírio, c ha ma nd o tr ê s ve ze s a o pa lco a s du a s gr a nd e s a r tista s, qu e a pa recia m d e mã o s da da s, e visi vel m ent e c om ovi da s!» ( Po r to e Ca r ta , 1 3 .0 2 .1 86 0 : 2 ).

A no s sa e xí mia a ctriz, intu in do u ma t éc nica de m a r k e ting pe ss oa l, nã o se li mitou a r eprodu zir o ge sto da su a emin ent e col ega fra nc esa .

(23)

23

Q u a l felin o t ea tra l, ma r c ou o territór i o e mo str ou à i lu stre c o lega qu em er a qu e m ne ste re ca nto eu ro peu . N ã o s eria int erna ci ona l me nte con he ci da , ma s era lo ca lm ent e re co nh eci da , s em so mbra d e dú vi da . D es se delíri o no s dá c onta a i mpr en sa l oca l, na d e sp edi da do P orto, a 1 5 de Ma rço d e 1 86 0 . «D o pr incí pio a o fi m d o e s pe ctá cu lo, foi u ma co n tinu a da e delir a nt e o va çã o», r e fer e o Po r to e C a r ta ( 16 .03 .18 60 : 3 ) , «cen tena re s d e r a mos de flor es , nu m ero so s e lin do s b o u qu e ts , com la ço s d e fit a , doze ou qu a tor ze li nda s cor oa s de fl ore s a rtifi cia is, e entr e e sta s trê s ou qu a tro de mu ita r iqu eza , p om bo s, u m a lu viã o de po e sia s i mpr e ssa s, [...] n a da fa ltou pa r a tor na r a noite de o nte m u ma da s ma is me morá v eis , no s fa sto s d o tea tr o do Porto ». N o fi na l do es pe ctá cu lo, a «Ri stori portu gu esa » fo i cor oa da por N o gu eira de Lima , qu e, d e u m do s ca ma rote s d e bo ca de ce na , lhe c olo cou na ca b e ça «u ma coroa de lou ro, co m cha ga s de oiro, tend o e m ca da fol ha o no me du ma da s p eça s» qu e r epre s enta r a no Port o. Br a z Ma r tins r ecit ou ta mbé m em su a honra , a s si m c om o d o is a rtista s por tu en s es. «N os ca ma rote s e pla teia a gita ra m - s e os le nç o s n o mei o de viva s, e a cla ma çõ e s entu siá stica s. D e poi s da re pre se nta çã o foi a Sr.ª Emília da s N ev es a c om pa nha da a ca sa pel a ba nda de mú sica e gra nd e nú mero do s s eu s a d mir a dor e s qu e a vit or ia va m.»

Porqu ê, e ntã o a resi st ên cia de E mília da s N ev e s e m a u toriza r u ma biogr a fia ? Se gu ndo Câ ma r a Le m e, G a rr ett t erá ma n ife sta do int ere s se e m fa z ê-l o, ma s a mod é stia da a ctr iz nã o o co n se ntiu . Por mort e da qu el e, Reb ello da Sil va for mu lou igu a l pe did o, e o bte ve igu a l in su c es s o. D e z a nos d ep oi s, Ca stilh o e nc etou a biogra fia - « es cr evi da it a lia na Ristori; es cr e ver ei da Rist ori p ortu gu esa ; por é m co m o? » -, co m a lgu ma a r tima nha . O r etra to da a ctri z, pu bli ca do na Re v is ta C o n te m po râ ne a , fora «fu r ta do, e d ep oi s de fu r ta do, d e fe ndi do c ontra a s su a s e nérgi ca s r eivin dica çõ es. » A ra zã o, qu e l he a dvi nh a , e xpre s sa -a o folh eti nista J ú lio Césa r Ma cha d o, qu e e m vã o i nv oca r a a su a a mi za de p e s soa l, co m infr u tí fer o su c e ss o. Ca stil ho cita nd o -o, cita Emília da s N e ve s: «N ã o co mpr ee nd e a ca s o – qu e u ma po bre cr ia tu ra qu e a glória ilu min ou u m insta nt e, e qu e a inv ej a , a intr iga , a má vonta d e, o ód io ta lve z, con s egu ira m a fa sta r da ce na , per se gu ida e gu err ea da , dei xe à s u a a lma o

Referências

Documentos relacionados

The unclassified sequences were manually assigned to subfamilies using a combi- nation of phylogenetic trees for the rabifier results of major taxa and the refer- ences,

Do impacto dessa interação Leff ressalta para a racionalidade ambiental, que por sua vez busca aquilo que pode ser considerado como equilíbrio harmônico entre o desenvolvimento

Por outro lado, o facto de a participação no processo formativo por parte dos outros docentes das unidades orgânicas ser voluntária, não havendo para isso um

Contudo, por via dos compromissos político-partidários incautamente assumidos por alguns dos representantes mais emblemáticos da TL – onde Gutiérrez também não foi excepção -,

Escolheu-se o Ensino Básico para desenvolver o estudo por três razões essenciais: (i) o facto de a experiência profissional do autor do estudo estar ligada a este grau de ensino

Thus, using a three-dimensional (3D) spherical model developed on COMSOL Multiphysics, verified with experimental data, the hydro-cooling and air-cooling in the post-harvest of the

Dessa maneira, contextualizando e desenvolvendo o conceito de religião protestante luterana, poderemos compreender melhor como a hierarquia luterana e o

O câncer afeta todas as faixas etárias, entre elas as crianças, as quais necessitam de cuidados especiais, pois apresentam limitações em sua capacidade de compreender o que