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ANÁLISE DO CONCEITO DE INFÂNCIA: UM BREVE RESGATE HISTÓRICO. Palavras-chave: Conceito de Infância. Infância. Contemporaneidade

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ANÁLISE DO CONCEITO DE INFÂNCIA: UM BREVE RESGATE HISTÓRICO

Monique de Campos Ribeiro/UFGD1

Thaise da Silva/UFGD2 Educação infantil e letramentos

Pôster

Resumo: Esta pesquisa tem por alvo analisar o conceito divergente da infância primitiva e contemporânea, as mudanças que o contexto histórico e social da modernidade teve sobre a infância e como a criança era tida antes da “invenção” da infância. A metodologia utilizada nesta pesquisa foi análise textual. Com base na análise realizada conclui-se que durante séculos a infância passou por períodos de ausência ou que não tinha valorização até que ganha espaço na sociedade e ganha importância na vida dos adultos. Assim observamos o quanto à infância mudou, talvez não da forma que gostaríamos, mas sem dúvida os avanços são imensos, as instituições e as leis que priorizam a criança comprovam este avanço.

Palavras-chave: Conceito de Infância. Infância. Contemporaneidade

Conceitos da infância contemporânea e primitiva

A infância ocupa hoje um lugar importante em nossas relações, notamos um “mundo adulto” que se estrutura em volta de um “mundo infantil” (SARAT, 2009). Deste modo as famílias se organizam em torno das crianças e lhes dão muito valor, assim os pais acham impossível perder seus filhos sem uma enorme dor.

Sendo assim como se caracteriza a infância hoje? O dicionário Aurélio Século XXI descreve a palavra infância como o período de crescimento que vai do nascimento até o ingresso na puberdade, por volta dos doze anos de idade. Segundo a Convenção sobre os Direitos da Criança, aprovada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em novembro de 1989, "criança são todas as pessoas menores de doze anos de idade". Já para o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA,1990), criança é considerada a pessoa até os doze anos incompletos, enquanto entre os doze e dezoito anos, idade da maioridade civil, encontra-se a adolescência.

1Bolsista PIBIC e estudante do curso de Pedagogia-UFGD (moniqueamelia04@hotmail.com)

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Voltando nosso olhar para a área da Educação encontramos a seguinte definição de infância de acordo com o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI, 1998): que afirma “as crianças possuem uma natureza singular, que as caracterizam como seres que sentem e pensam o mundo de um jeito muito próprio”. Contudo nem sempre foi assim, o conceito de infância que conhecemos é bem recente, a preocupação com a infância surge somente a partir do século XIX. Como afirma Kramer:

[...] a ideia de infância surge no contexto histórico e social da modernidade, com a redução dos índices de mortalidade infantil graças ao avanço da ciência e a mudanças econômicas e sociais. Sabemos que a ideia de infância, da maneira como hoje a conhecemos, nasceu no interior das classes médias que se formavam no interior da burguesia (KRAMER, 2003 p. 87).

Se considerarmos o tempo histórico podemos considerar que o conceito de infância é uma construção atual. De acordo com Ariès na antiguidade a criança era vista como um adulto em miniatura, desta maneira as crianças viviam as mesmas experiências que os mais velhos. Adultos, jovens e crianças se misturavam em toda atividade social, ou seja, nos divertimentos, no exercício das profissões e tarefas diárias, no domínio das armas, nas festas, nos cultos e nos rituais. O cerimonial dessas celebrações não distinguia claramente as crianças dos jovens e estes dos adultos. Até porque esses grupos sociais estavam pouco claros em suas diferenciações.

Assim a infância na antiguidade era um tanto diferente da que conhecemos, a infância era vista com certa incerteza, pois não se sabia se a criança de fato sobreviveria a ela (ARIÈS 1981).

A contemporaneidade e o sentimento de infância

Na contemporaneidade surge o que Ariès (1981) chama de “sentimento de infância”. Como ele apontou não se trata apenas de gostar de crianças, mas ter a consciência de suas particularidades.

Assim o conceito de infância e a percepção sobre a criança surgiram como preocupação das classes mais abastadas (ARIÈS 1981). Mas apesar de enxergarem as crianças e as mimar, elas continuavam sem voz. Como a definição da palavra infância indica, esta palavra oriunda do latim infantia, significa ‘incapacidade de falar’. Considerava-se que a criança, antes dos sete anos de idade, não tinha condições de falar, de expressar seus pensamentos e seus sentimentos.

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Desde a sua gênese, a palavra infância carregava consigo o estigma da incapacidade, da incompletude perante os mais experientes, regulando-lhes uma condição subalterna diante dos membros adultos. Era um ser anônimo, sem um espaço determinado na sociedade (CORDEIRO; COELHO, 2007).

A sociedade da época passava por mudanças no mundo do trabalho e nas relações de produção da vida material. As mulheres agora eram absorvidas pelas indústrias e ainda precisavam cuidar de seus filhos e é neste contexto que as instituições de atendimento à infância surgem.

A sociedade burguesa passa a ver a criança como o homem do amanhã, ou seja, a infância representava o futuro. Apesar de paparicarem as crianças acreditava-se que tinham de treina-las e domesticá-las, para que pudessem alcançar seus objetivos. Desta maneira as crianças passavam a ser percebidas como possibilidades de um novo tempo. Como afirma Santos:

A infância passa a ser considerada como possível de ser moldada dentro dos padrões sociais. Para isso, deve-se usar técnicas pedagógicas rígidas e disciplinares que impinjam nas crianças as condutas, as regras e os princípios morais burgueses para a manutenção da ordem (SANTOS, 2007, p.231). Os estudos atuais sobre a infância ao conceituar a criança diz que esta não se resume a ser alguém que não é, ou que se tornará. Reconhece-se o que é especifico da infância e acredita-se na criança com voz, na criança acredita-sendo o indivíduo que pensa e fala.

A gênese desta forma de pensar está em Friedrich Froebel (1902) quando este cria o “Kindergarten”, ou jardim-de-infância, que tinha por base atividades de caráter pedagógico e educativo. Entretanto esta educação de “ponta” era destinada a elite, as crianças pobres eram atendidas em entidades filantrópicas, assistencialistas e religiosas, que se baseavam em conceitos de subserviência e dominação.

Notamos assim que a criança não era vista como sujeito social e histórico, como entendemos hoje. As crianças são pessoas detentoras de direitos como deixar claro o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) de 1990. Segundo seu 3º artigo:

A criança e ao adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta lei, assegurando-se lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral,

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espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade (BRASIL, Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990).

Assim podemos entender que a criança e ao adolescente, são pessoas em desenvolvimento, não são tábulas rasas, mas seres em crescimento, vivos e interativos, que penetram no meio em que vivem e o reestruturam (BRONFENBENNER, 2002). Compreendemos que a infância é mais que um período biológico pelo qual todas as pessoas passam. É uma construção histórica, social e cultural determinada pela organização da sociedade e do momento histórico (SARAT, 2009). Segundo Postman (1994, p.100) “Na espécie humana, passado o período de total dependência, ou seja, após a criança adquirir a linguagem e habilidades motoras básicas, a infância passa a ser um construto social e não uma determinação biológica”.

Nessa perspectiva, podemos afirmar que a infância, é mais do que um período definido biologicamente, surge como categoria social ao longo das transformações que a sociedade vai sofrendo e se apresenta como referência histórica, cultural e social. A infância, mais que estágio, é categoria da história. Existe uma história humana porque o homem tem infância. As crianças brincam, isso é o que as caracterizam. Como atesta Kishimoto:

Ser criança é ter identidade e autonomia, é poder expressar suas emoções, suas necessidade, é formar sua personalidade, é socializar-se em contato com a multiplicidade de atores sociais, é expressar a compreensão do mundo pelas linguagens gestuais, artísticas além da oral e escrita. Ser criança é ter direito à educação, ao brincar, aos amigos, ao conhecimento, mas é principalmente, à liberdade de escolha (KISHIMOTO, 1993, p.06)

Assim sabemos que as crianças produzem cultura e são produzidas na cultura que estão inseridas. É por meio de sua cultura que as crianças atribuem significado as suas experiências.

Deste modo precisamos ter em mente que as crianças têm valores, hábitos, costumes porque estão inseridos em uma determinada cultura. Assim precisamos respeitar essas singularidades.

É preciso considerar a infância como uma condição da criança. O conjunto de experiências vividas por elas em diferentes lugares históricos, geográficos e sociais é muito mais do que uma representação feita por adultos sobre essa fase da vida. É preciso conhecer as representações de infância e considerar as crianças concretas, localizá-las nas relações sociais, etc., reconhecê-las como produtoras de história (KUHLMANN JR, 1998, p.31).

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Segundo Kramer (2003) devemos praticar uma ação pedagógica livre que leve em conta a singularidade das ações infantis e reconheça o que é especifico da infância, o seu poder de imaginação, a fantasia, a criança e a brincadeira.

Uma concepção de criança que reconhece o que é específico da infância – seu poder de imaginação, fantasia, criação – e entende as crianças como cidadãs, pessoas que produzem cultura e são nela produzidas, que possuem um olhar crítico que vira pelo avesso a ordem das coisas, subvertendo essa ordem. Esse modo de ver as crianças pode ensinar não só a entendê-las, mas também a ver o mundo a partir do ponto de vista da infância, pode nos ajudar a aprender com elas (KRAMER, 2003. p. 91).

É preciso lembrar que, todo espaço produzido pelo homem interfere no processo educativo de quem o consome (LIMA, 1989). Então devemos primar na educação infantil pelo direito às brincadeiras e sua produção cultural. Devemos garantir que as crianças sejam atendidas nas suas necessidades, por ter acesso as instituições de educação, ter direito de brincar, criar e aprender.

Assim estaremos agindo de acordo com a Constituição de 1988 que reconhece a educação infantil como direito das crianças de 0 a 6 anos de idade; o Estatuto da Criança do Adolescente (Lei n.8.609, de 1990), que afirma os direitos das crianças e as protege; a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 1996, que reconhece a educação infantil como primeira etapa da educação básica.

Considerações finais

Durante alguns séculos a infância passou períodos em que estava ausente ou não tinha nenhuma valorização até aquele em que se torna parte da história, da sociedade e vai adquirindo espaço e importância na vida dos indivíduos adultos. Deste modo podemos ver o quanto à infância mudou, talvez não da forma como a que gostaríamos, mas sem sombra de dúvida os avanços são imensos, as instituições e as leis que priorizam a criança comprovam este avanço.

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Referências

ARIÈS, P. História social da criança e da família 2.ed. Rio de Janeiro: Zahar.1981.

BRASIL. Estatuto da Criança e do adolescente. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990.

______. Referencial curricular nacional para educação infantil. Brasília, DF: MEC, 1998.

BRONFENBENNER, Urie. A ecologia do desenvolvimento humano: experimentos naturais e planejados. Porto Alegre: Artes Médicas. 2002.

CORDEIRO, Sandro da Silva; COELHO, Maria das Graças Pinto. Descortinando o conceito de infância na história: do passado à contemporaneidade. Disponível em:

http://www.botucatu.com.br/portal/anexo/SandroSilvaCordeiro.pdf. Acesso em: 12 de Maio. 2016.

FERREIRA, A. B. H. Aurélio século XXI: o dicionário da Língua Portuguesa. 3. ed. rev. e ampl. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.

FROEBEL, F.Education by development: the second part of the pedagogics of the kindergarten. Translated by Josephine Jarvis. New York and London: D. Appleton, 1902.

KISHIMOTO, Tizuko Morchida. O jogo, a criança e a educação. Petrópolis: Vozes, 1993.

KRAMER, Sonia. Infância, cultura contemporânea e educação contra a barbárie. In: Bazílio, Luiz Cavalieri; Kramer, Sonia. Infância, educação e direitos humanos. São Paulo: Cortez, 2003. p. 83- 106.

KUHLMANN, JR Moysés. Infância e educação infantil: uma abordagem histórica. Porto Alegre: Mediação, 1998.

POSTMAN, N. O Desaparecimento da infância. Rio de janeiro: Graphia, 1994.

SANTOS, João Diógenes Ferreira dos. As diferentes concepções de infância e adolescência na trajetória histórica do Brasil. Revista Histedbr online, Campinas, Dez.2007.

SARAT, Magda. Fundamentos filosóficos da educação infantil. 2.ed. Maringá. Eduem, 2009.

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