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CARACTERIZAÇÃO GEOTÉCNICA DA FORMAÇÃO DE BENFICA GEOTECHNICAL CHARACTERIZATION OF FORMAÇÃO DE BENFICA

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CARACTERIZAÇÃO GEOTÉCNICA DA FORMAÇÃO DE BENFICA

GEOTECHNICAL CHARACTERIZATION OF FORMAÇÃO DE BENFICA

Vieira, Ana, LNEC, Lisboa, Portugal, avieira@lnec.pt

Bilé Serra, João, LNEC, Lisboa, Portugal, biles@lnec.pt

Jeremias, Filipe Telmo, LNEC, Lisboa, Portugal, ftelmo@lnec.pt

RESUMO

Nesta comunicação são apresentados elementos de caracterização geotécnica da Formação de

Benfica, parte de uma recolha sistematizada de informação mais recente proveniente de ensaios

de laboratório e de campo, patente na bibliografia especializada. Esta unidade geológica, carac-terística da região de Lisboa, surge intercalada entre o Manto Basáltico de Lisboa e os primeiros níveis marinhos do Miocénico Inferior, sendo atribuída ao Paleogénico. Sendo caracterizada por elevadas heterogeneidades vertical e lateral, o comportamento das diferentes unidades desta formação é sempre condicionado pelas características das litologias presentes.

ABSTRACT

This paper presents an update on geotechnical characterization of the Formação de Benfica unit, based on laboratory and field tests, as published in recent reports and thesis. This charac-teristic geological unit of Lisbon region is interspersed between Lisbon Basaltic Mantle and Lower Miocene marine period; it is attributed to the Paleogene period. It is characterized by both a high vertical and lateral heterogeneity, thus the behaviour of the different units is condi-tioned by the characteristics of prevalent lithology.

1. INTRODUÇÃO

Nesta comunicação são apresentados elementos de caracterização geotécnica da Formação de

Benfica, parte de uma compilação de informação recente baseada em ensaios de laboratório e de

campo, recolhida na literatura especializada. O maior volume dos dados agora apresentados foi obtido em dois trabalhos recentes. Um deles refere-se aos estudos geológicos e geotécnicos efectuados no âmbito do estudo do sublanço Buraca/Pontinha do IC17 – CRIL, realizados pela COBA entre 1989 e 2004. Em particular, destaca-se um documento mais recente com inclusão dos resultados de uma campanha de prospecção complementar e com a compilação de todos os dados obtidos (COBA 2006). O outro trabalho consiste numa tese de doutoramento referente ao estudo do comportamento diferido no tempo dos túneis em NATM do Prolongamento da Linha Amarela do Metropolitano de Lisboa (Vieira 2006). Globalmente, pode considerar-se que a informação até agora coligida, embora contemple uma significativa diversidade de ensaios, é escassa, devido ao reduzido número de ensaios de alguns tipos, face à heterogeneidade desta formação. É igualmente de realçar o facto de se verificar, em alguns trabalhos, uma tendência de predomínio de ensaios de solos finos (Guedes et al. 1998 e Vieira 2006).

2. ENQUADRAMENTO GEOLÓGICO

A Formação de Benfica é uma unidade geológica característica da área de Lisboa cujos aflora-mentos, na margem norte (Figura 1) se desenvolvem segundo três eixos principais (INETI 2006): a norte, parte ao longo do vale do rio de Loures, entre Alverca, Vialonga, São Julião do

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Tojal, Loures e Pinheiro de Loures; ao longo do vale da ribeira de Odivelas, segun-do a direcção NE-SW, entre Unhos, Póvoa de Santo Adrião, Odivelas, Carriche, Alfornelos, Ben-fica e Calhariz de BenBen-fica;

a sul, segundo uma

direcção WNW-ESSE,

entre Calhariz de Benfica, Carnide, Sete Rios e a Av. de Berna. Para além destes

afloramentos principais

ocorrem ainda pequenas manchas entre as zonas da

Praça do Marquês de

Pombal, S. Sebastião da Pedreira e a Rua Marquês da Fronteira.

Em termos estratigráficos, a

Formação de Benfica

assenta em descontinuidade sobre o Complexo

Vulcâni-co de Lisboa do CretáciVulcâni-co

Superior e ocorre subjacente aos primeiros níveis marinhos do Miocénico Inferior (Argilas dos

Prazeres), sendo-lhe atribuída idade paleogénica (Éocenico a Oligocénico). Foi descrita

primei-ramente por Choffat (1950), que a subdividiu em cinco membros ou assentadas principais. A mineralogia da fracção argilosa é constituída predominantemente por esmectite e atapulgite (presente praticamente em toda a espessura da Formação de Benfica), verificando-se que existe uma associação preferencial daqueles minerais com o tipo litológico. Assim, a esmectite ocorre em percentagens mais elevadas nos níveis mais detríticos (areníticos), enquanto a atapulgite é o mineral predominante nos calcários, siltitos e argilitos. A presença de esmectite e atapulgite (minerais argilosos expansivos) confere-lhe um comportamento expansivo, característico, sobretudo, das litologias mais finas.

3. COMPOSIÇÃO DO SOLO

3.1. Índices físicos, granulometria e classificação

A variação do teor em água, w, de amostras da Formação de Benfica, com a profundidade é mostrada na Figura 2 para os estudos indicados, com os correspondentes limites de liquidez, wL e de plasticidade wP. Verifica-se que w não tem uma evolução clara em profundidade, sendo substancialmente inferior a wP. Os valores de wL são bastante elevados e frequentemente supe-riores a 60%. Resume-se no Quadro 1 os valores dos limites de consistência juntamente com indicações relativas à composição granulométrica e à Actividade. Globalmente, os solos apre-sentam elevada plasticidade e retracção volumétrica significativa.

Tal como havia sido constatado por Moitinho de Almeida (1991), os pontos correspondentes à relação wL-IP (Figura 3) distribuem-se acima ou próximo da linha A da carta de plasticidade, mostrando uma clara predominância dos solos de média a alta plasticidade. De uma forma geral, as granulometrias obtidas são muito extensas: argilas, argilas siltosas e arenosas, siltes Figura 1 – Distribuição espacial da Formação de Benfica na margem norte do Tejo

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argilosos e siltes arenosos, areias argilosas e areias arenosas, areias e areias com seixos. De acordo com sistema de classificação unificada (ASTM D 2487 – 95), é possível classificá-los da seguinte forma: a) solos grosseiros – GM, GC, SM, SC; b) solos finos – ML, MH, CL, CH.

0 5 10 15 20 25 0 20 40 60 80 100 w (% ) P ro f. ( m ) Coba 1993-94 Coba 1989 Coba 1995 coba 2006 Vieira 2006 Geocontrole 1999 0 10 20 30 40 50 60 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 wl (%) Ip ( % ) Coba 1989 Coba 1993-94 Coba 1995 coba 2006 Vieira 2006 Geocontrole 1999 Moitinho de Almeida 1991 MH ou OH ML ou OL CH ou OH CL ou OL CL-ML Figura 2 – Evolução de w, wL e wP em profundidade

Figura 3 – Posicionamento das amostras na carta de plasticidade

Quadro 1 – Resumo das propriedades índice

Moitinho de Almeida (1991)

Guedes et al.

(1998) Geocontrole (1998) COBA (2006) Vieira (2006)

méd mín máx méd mín máx méd mín máx méd Mín máx méd mín máx wL( %) 56,5 32 137,5 41 20 72 60,3 22 86 60 26 155 63,4 48,7 79,1 wP (%) 29,1 14 70,1 22 10 49 30 16 39 26.5 12 75 30,2 21,8 36,1 IP (%) 27,4 9 77,5 19 3 46 30,3 5 51 33,3 7 80 33,4 23,4 51,9 wR (%) 21,3 10,9 59,4 5 2 29 - - - - IR (%) 38,9 13,4 62,9 26 1 61 - - - 44,3 15,3 73,1 - - - Areia (%) 40 14 85 21 0 78 43,4 7,9 71,1 - - - 35,5 13 62,3 Silte (%) 37 7,1 63,5 52 9 87 22,4 0 52,6 - - - 36,6 12,1 54 Argila (%) 24 2 55 27 3 76 26,2 0 64,8 35 18 62 23,8 12,3 30 Actividade 1,58 0,38 8,81 - - - 1,53 0,33 3,92 1,32 0,81 1,78 1,52 0,75 2,73 γ (KN/m3) 20,8 19,1 22,3 - - - 20,7 18,6 22,9 20,6 19 22,1 20,9 20,0 22,1 G 2,65 2,5 2,78 - - - 2,71 2,66 2,79 2,72 2,60 2,77 2,78 2,69 2,84 IC 1,48 0,90 2,42 - - - 1,69 1,16 4,40 1,37 0,75 2,92 1,35 1,15 1,60

O peso volúmico

γ

, médio nas amostras analisadas, apresenta pequena dispersão, variando entre 20,6 e 20,9 kN/m3. Reflectindo a diversidade mineralógica ponderal, a densidade das partículas sólidas, G, situou-se entre 2,5 e 2,84, sendo a gama de variação dos valores médios entre 2,64 e 2,78. Moitinho de Almeida (1991) evidenciou a existência de uma dependência clara do aumento peso volúmico das partículas com o teor de esmectites, cuja densidade de 2,74 é substancialmente superior à da atapulgite (2,30). Os valores médios do índice de consistência,

IC, podem considerar-se apresentar pequena dispersão, tendo variado entre 1,35 e 1,69. Os valores são típicos de solos rijos e sugerem variação reduzida com a profundidade até aos níveis estudados, situando-se os valores coligidos, na sua maioria, na gama 1,25 – 1,5. Apesar da sua grande dispersão, os valores médios da actividade alcançam valores muito próximos em todos os trabalhos analisados (1,58; 1,53; 1,32 e 1,52).

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0 5 10 15 20 25 0 1 2 3 4 5 6 7 K0 P ro f. ( m )

press. autoperfurador (LNEC 1994) press. autoperfurador (LNEC 1999) press. Ménard (Coba 93/94) press. Ménard - Média corr. empíricas (Vieira 2006)

3.2. Expansibilidade

A expansibilidade constitui uma das particularidades marcantes dos solos desta formação. Não existindo um procedimento único para o estudo desta propriedade, os parâmetros de caracteri-zação dos terrenos expansivos diferem segundo a situação em análise: impedimento da expan-são ou permisexpan-são para a sua ocorrência. Na prática, distinguem-se três parâmetros: a presexpan-são de expansão, a expansão livre e o índice de expansão.

Na campanha de 1993/94 promovida pela COBA, foram realizados 17 ensaios de determinação do potencial de expansão, segundo a especificação LNEC – E200. Nestes ensaios, realizados em amostras classificadas como SM, SC, CL, CH ou MH, a expansão variou entre 14 e 41%, com um valor médio de cerca de 18%. Um valor muito próximo – 20% – foi obtido por Guedes et al. (1998), com base em três ensaios realizados segundo a mesma especificação.

Roxo et al. (1995) realizaram 6 ensaios de expansão de acordo com a metodologia proposta por Jeremias (1993). Os valores de pressão de expansão obtidos apresentam-se muito dispersos, entre 20 e 930 kPa. Determinações da pressão de expansão de acordo com a norma ASTM D 4546 – 96 foram efectuadas por Vieira (2006) na modalidade de expansão livre e de expansão impedida. Num total de 8 ensaios realizados em amostras de classificação SC, MH ou CH, foi obtida uma pressão de expansão média de 190 kPa, numa gama entre 50 e 400 kPa.

4. ESTADO DE TENSÃO IN SITU

A avaliação do estado de tensão inicial é determinante para um adequado dimensionamento de obras que envolvam grandes volumes de escavação, como é o caso dos túneis. A complexidade do ambiente de deposição da Formação de Benfica torna a sua estimativa particularmente difícil.

No âmbito do projecto da CRIL (LNEC 1994) e da expansão da Linha Amarela (LNEC 1999), foram efectuadas determinações da tensão horizontal em repouso

σ

ho com o pressiómetro autoperfurador. Os valores obtidos evidenciam a existência de tensões horizontais elevadas e uma significativa dispersão no coeficiente de impulso em repouso, K0.

Na campanha de 1993/94 foram realizados 46 ensaios com o pressiómetro de Ménard (COBA 2006). Apesar de todas as limitações inerentes à obtenção do valor da tensão horizontal neste tipo de ensaio, foi efectuada a sua determinação através do método iterativo de Marsland e Randolph (1977), particularmente indicado para argilas rijas. A compilação efectuada inclui também valores de K0 estimados a partir de

correlações empíricas com o grau de

sobreconsolidação OCR (Vieira 2006). Para este fim, foram utilizadas as expressões propostas por Brooker e Ireland (1965) e Schmidt (1966). Figura 4 – Evolução de K0 em profundidade

Na Figura 4 sumariam-se todos os resultados referidos. Verifica-se uma grande dispersão nos valores de K0 estimados a partir dos pressiómetros de Ménard. Contudo, em termos médios estes

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valores são perfeitamente consistentes com os obtidos no pressiómetro autoperfurador. Os valores obtidos a partir das correlações aproximam-se dos valores directos com algum envieza-mento no sentido dos limites inferiores da nuvem de pontos. Como seria de esperar, verifica-se uma tendência para a diminuição de K0 com a profundidade.

5. COMPRESSIBILIDADE UNIDIMENSIONAL E ISOTRÓPICA

Os 12 ensaios realizados em 1993/94, 1995 e 2006 (COBA 2006) envolveram amostras com classificação SC, CL, CH ou ML. Foram neles obtidos valores da tensão de σ' entre 120 e 400 p kPa e um valor de 900 kPa, correspondendo a valores de OCR entre 0,62 e 2,5 e de 7,31, no último caso. Nos mesmos ensaios, os índices de recompressibilidade Cr e de compressibilidade

Cc variaram, respectivamente, entre 0,002 e 0,025 e 0,033 e 0,220. Serão de colocar algumas reservas aos primeiros valores de σ' , uma vez que são reduzidos e pouco consistentes com as p restantes propriedades geotécnicas desta formação. De facto, em virtude do elevado nível de tensões a que os terrenos desta formação já se encontraram submetidos ao longo da sua história geológica, a determinação da tensão de pré-consolidação σ' e de parâmetros de consolidação p na zona de compressão virgem torna-se quase inviável com o recurso a edómetros correntes. Somente com edómetros de alta-pressão, que alcancem níveis de tensão vertical suficientemente elevados, é possível ultrapassar σ' e obter, com representatividade, o ramo virgem da curva de p compressão. Os valores obtidos para σ' por Vieira (2006) (amostras com classificação SC, p CH, MH), no edómetro de alta-pressão do LNEC, situaram-se entre 900 e 1400 kPa (OCR entre 3,32 e 8,57), Cr variou entre 0,0116 e 0,024 e Cc entre 0,126 e 0,209. O coeficiente de consoli-dação cv variou entre 0,71 e 3,76 m

2

/ano (COBA 2006) e 1,68 e 6,04 m2/ano (Vieira 2006).

6. RESISTÊNCIA E DEFORMABILIDADE AO CORTE

6.1. Rigidez para pequenas deformações e variação da rigidez com a deformação

A informação coligida sobre os valores da rigidez para muito pequenas e pequenas deformações foi obtida em ensaios in situ - ensaios sísmicos, ensaios com os pressiómetros autoperfurador e de Ménard – e ensaios laboratoriais – ensaios sónicos, ensaios triaxiais convencionais (com ou sem medição interna de extensão), ensaios triaxiais de fluência e ensaios de corte torsional. Na Figura 5 representa-se a evolução de E em profundidade, deduzida a partir dos valores da velocidade das ondas de corte obtidas em ensaios geofísicos. Para profundidades superiores a cerca de 10 m, ultrapassados os níveis de aterro e os níveis mais descomprimidos, os valores de

VS, situam-se, na grande maioria entre 500 e 1000 m/s, correspondendo-lhe valores de E entre 1400 MPa e 5500 MPa. Nesta figura, foram também incluídas medições da rigidez para peque-nas deformações obtidas em ensaios de corte triaxial com medições locais de deformação (LVDTs submersíveis) e em ensaios de corte torsional (Vieira 2006). A boa concordância entre estes resultados e os obtidos nos ensaios geofísicos, sugere que a qualidade de amostragem e de procedimentos de ensaio – de que se destaca a saturação sob pressão de confinamento de 200 kPa (pressão média de expansão previamente determinada) – terá sido, pelo menos em parte, adequada.

Na Figura 6 compara-se a evolução de E, com a profundidade obtida em ensaios sónicos (reali-zados em grés argiloso), com a obtida com pressiómetros autoperfuradores (para vários ciclos de carga) e de Ménard (realizados em argilas, grés argiloso, margas argilosas, grés calcário e calcários) e em ensaios triaxiais convencionais (COBA 2006 – amostras com classificação SM, SC, CH ou CH) (Vieira 2006 – amostras com classificação SC, CH, e MH, para 0,001%, 0,01%

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e 0,1% de deformação axial) e de fluência (amostras com classificação CH e MH). Como espe-rado, a gama de valores de E é substancialmente inferior à mostrada na figura anterior, conse-quência do nível de deformação mais elevado associado a estes meios de ensaio. A correlação entre os valores de E e a profundidade, obtida nos ensaios de fluência de Vieira (2006), aproxi-ma razoavelmente os valores de E obtidos nos ensaios triaxiais, para 0,001% de deforaproxi-mação axial e parte dos obtidos para 0,01%, assim como os resultantes das medições efectuadas com o pressiómetro autoperfurador e parte das efectuadas com o pressiómetro de Ménard. Os restantes valores de E apresentados são, com excepção dos obtidos nos ensaios com ultrasons (COBA 2006), significativamente inferiores.

Na Figura 7 representa-se a evolução de valores de E em profundidade, obtidos para diferentes valores de deformação em ensaios triaxiais convencionais, com e sem medições locais de defor-mação, para duas séries de amostras (argilas siltoso-arenosas – CH e MH e grés argiloso – CH e SC) (Vieira 2006). Tal como esperado, verifica-se uma forte não-linearidade da rigidez com o aumento da deformação e a superioridade dos valores de rigidez obtidos com medições locais. A evolução da rigidez com a deformação, para as argilas, foi comparada com a obtida por Marques (1998) em ensaios triaxiais de compressão nas Argilas dos Prazeres. Os valores de E foram calculados a partir de um valor médio de cu através da relação Eu/cu de Jardine et al. (1986) calibrada por Marques (1998), onde foi utilizado um sistema de electroníveis para a medição local de deformação (Figura 8).

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 0 2000 4000 6000 8000 10000 E (MPa) P ro f. ( m ) Geofísicos (Coba 2006) Geofísicos (Vieira 2006) Triaxial LVDT (Vieira 2006) Torsinal LVDT (Vieira 2006) 0 10 20 30 40 50 60 1 1000 1000000 E (MPa) P ro f. ( m ) pressiómetro autoperfurador pressiómetro de Ménard (Coba 2006) triaxiais 0,1% (Vieira 2006) triaxiais 0,01% (Vieira 2006) ensaios de fluência triaxiais (Coba 2006) ultrasons (Coba 2006)

pressiómetro de Ménard (geocontrole 1999) regress. ensaios de fluência

Figura 5 – Evolução de E em profundidade (ensaios de cross-hole, triaxiais com LVDTs e torsionais)

Figura 6 – Evolução de E em profundidade

6.2. Comportamento tensão-deformação, trajectórias de tensão, resistência ao corte não-drenado e parâmetros de resistência

O comportamento tensão-deformação obtido em ensaios triaxiais convencionais para duas litologias distintas (argilas e grés argiloso) é ilustrado na Figura 9 e na Figura 10. Nelas, mos-tram-se as correspondentes trajectórias de tensão. Nas mesmas argilas foram realizados ensaios

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de fluência, onde se alternaram acréscimos da tensão distorcional q, com patamares de q cons-tante. 0 1500 3000 4500 0,0001 0,0010 0,0100 0,1000 1,0000 10,0000 εεεεa (%) E ( M P a ) medições locais (argilas) medições externas argilas) medições externas (grés argiloso)

Figura 7 – Evolução da rigidez com a defor-mação 0 500 1000 1500 0,0001 0,001 0,01 0,1 1 10 εεεεa (%) E ( M P a ) medições locais (Formação de Benfica ) medições locais (Argilas dos Prazeres )

Figura 8 – Evolução da rigidez com a deforma-ção (comparadeforma-ção com o Miocénico)

Os resultados apresentados evidenciam um comportamento sobreconsolidado e fortemente sobreconsolidado e uma diferença significativa de resistência para os dois tipos de solo ensaia-dos. Os níveis de resistência obtidos nos ensaios de fluência são semelhantes aos obtidos nos ensaios convencionais para o mesmo tipo de terreno (Vieira 2006).

No Quadro 2 mostra-se o resumo dos valores da resistência não drenada cu coligidos, obtidos em ensaios triaxiais, ensaios de corte directo, com o pressiometro autoperfurador ou através de correlações com a pressão limite em ensaios com o pressiómetro de Ménard.

0 500 1000 1500 2000 0 2 4 6 8 εεεεa (%) (%) (%) (%) q ( k P a ) argilas grés argiloso 0 500 1000 1500 2000 0 500 1000 1500 2000 p ' (kPa) q ( k P a ) grés argiloso argila

Figura 9 – Comportamento tensão-deformação (argilas CH/MH e grés argiloso SC)

Figura 10 – Trajectórias de tensão solos argilas CH/MH e grés argiloso SC)

Quadro 2 – Valores de cu coligidos

Tipo de ensaio Terreno cu cu/σσσσvc

Triaxial convencional (Geocontrole 1999) argilas silto-arenosas 190 – 739 0,94 – 2,08

Pressiómetro autoperfurador (LNEC 1999) - 980 – 2000 3,8 – 10,2

Pressiómetro de Ménard (COBA 2006) argilas, grés argiloso, margas

argilosas, grés calcário 110 – 600 -

Triaxial convencional (COBA 2006) SM, SC, CH, MH 142 – 3054 0,64 – 6,45

Corte directo (COBA 2006) SC, CH, MH 160 – 460 -

argila CH, MH 145 – 457 0,54 – 0,75 Triaxial convencional (Vieira 2006)

grés argiloso SC, CH 685 – 744 1,18 – 1,83

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7. NOTAS FINAIS

Neste trabalho foram dadas a público informações acerca das características geotécnicas da

Formação de Benfica, resultantes de uma compilação de dados experimentais previamente

publicados. A sua análise permitiu mais uma vez constatar ser a heterogeneidade uma das características marcantes desta formação, tendo-se revelado na caracterização, na resistência e na rigidez. Não obstante, obtiveram-se valores médios de consistência e de actividade próximos em todos os estudos. Verificou-se que os valores de rigidez para muito pequenas deformações obtidos no campo comparam favoravelmente com os obtidos em amostras de elevada qualidade, utilizando medições locais de deformação, nas quais se tomaram especiais precauções nas fases precedentes ao corte. Perspectiva-se a prossecução da recolha de informação geotécnica de modo a complementar a até agora coligida, da qual somente parte foi apresentada neste trabalho, tendo em vista a sua posterior divulgação e utilização públicas. Pretende-se que nesta informa-ção venham a constar todos os elementos relativos à caracterizainforma-ção geotécnica desta formainforma-ção que venham a ser obtidoso, quer em trabalhos de prospecção quer no âmbito de investigação.

AGRADECIMENTOS

Os autores desejam expressar os seus agradecimentos à empresa COBA, S.A., pela disponibili-zação dos resultados de ensaios conduzidos em terrenos da Formação de Benfica.

REFERÊNCIAS

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