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SER OU NÃO SER ESCRAVO (?): Os sentidos da liberdade e as alforrias em Alagoinhas, BA ( )

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SER OU NÃO SER ESCRAVO (?): Os sentidos da liberdade e as alforrias em Alagoinhas, BA (1872‐1883)

Aline Najara da Silva Gonçalves*

Laureano era um mulato, filho de Laurinda, uma escrava já falecida de Meneleu Telles Menezes e Dona Elisa Dulce Menezes Barum. Ele foi alforriado em 20 de agosto de 1872. Liberto, “como se ventre livre nascesse”, daquele dia em diante, Laureano gozaria da sua liberdade.1 Naquele 20 de agosto de 1872, Laureano era oficialmente liberto ― “como se de

ventre livre nascesse” ―, com a condição; a “sutil” condição de servir aos senhores até a morte de ambos. Laureano tornara-se, então, um ex-escravo; forro; liberto; como se fosse livre, mas, por força daquele documento, comprometia-se a acompanhar seus senhores por toda a vida deles, a não ser que um dos dois abrisse mão da condição depois de enviuvar, caso o dito escravo assim o merecesse.

Em 28 de janeiro de 1868, foi assinada a alforria de José, filho da escrava Ignes, já falecida. A carta foi lançada por Dona Joaquina Maria da Silva, sua “senhora e possuidora”, na Fazenda do Camamú de Feira. Este registro foi legitimado pela “libertadora”, cinco anos após a sua assinatura, em 20 de julho de 1873, no cartório da Vila de Santo Antônio de Alagoinhas.2

Martinho, um crioulo de doze anos, e Maria, crioula de 25 anos, “livres de embargo, hipoteca ou penhora”, foram alforriados por seu “senhor e possuidor” José Joaquim de Santa Anna, em 01 de dezembro de 1872, no distrito de Araçás. A carta de liberdade foi registrada uma semana depois, no Cartório da Vila de Santo Antônio de Alagoinhas.3

Alguns meses antes, foi a vez de Anacleto ― um “pardinho” de quatro anos, pouco mais ou menos, filho natural da escrava Felismina ―, ser alforriado por Francisco da Silva Netto, em 06 de maio de 1872, também no distrito de Araçás, com a condição de lhe servir e acompanhar enquanto vivesse. A carta fora registrada oito meses depois, em 02 de fevereiro de 1873.4

A alforria era um instrumento jurídico através do qual o senhor de um escravo, abria mão da sua posse sobre o cativo. Esta alforria podia ser registrada em cartório, testamentos, inventários post mortem ou os registros paroquiais de batismo, a chamada alforria de pia. A carta de liberdade era, então, um instrumento elaborado pelo “senhor e possuidor” e este é um dos fatores que nos leva a entender que este documento denota várias possibilidades

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interpretativas, uma vez que sua concessão ou conquista depende de uma rede de negociações entre senhores e escravos. Como afirmou Sidney Chalhoub em Visões da Liberdade,

numa sociedade escravista, a carta de alforria que um senhor concede a seu cativo deve ser também analisada como o resultado dos esforços bem sucedidos de um negro no sentido de arrancar a liberdade a seu senhor.5

Embora tenha analisado a alforria como uma concessão senhorial motivada por fatores como o reconhecimento do retorno econômico do valor investido na compra do escravo; a urgência no levantamento de capital; o reconhecimento dos bons serviços prestados, ou o artifício para afastar um escravo indócil ou doente, Katia Mattoso reconheceu que a dissimulação foi uma das artimanhas utilizadas pelos escravos para convencer o senhor a concedê-los a liberdade. “Somente quando se tornava homem livre, ou, ao menos, quando vislumbrava a possibilidade de se alforriar, o escravo fazia a passagem: de prisioneiro infeliz para o ser ambicioso, ardiloso e movido pela esperança obstinada”, afirmou.6

A liberdade foi um desejo latente de todo e qualquer escravo. A vida no cativeiro só seria suportada se ela pudesse ser conquistada, de modo que é imprescindível, no estudo sobre alforrias, problematizar o papel do escravo alforriado nesse processo.7 Como já foi mencionado

aqui, o fato de ser a carta um documento elaborado pelo senhor, talvez tenha implicado, numa compreensão da alforria como uma concessão, um sinal de benevolência, principalmente no que diz respeito às alforrias incondicionais e não pagas, como a de “José, filho de Ignes”, ou aquelas registradas em testamentos e inventários. O uso de termos no diminutivo, como “pardinho” para se referir a Anacleto, ou de expressões como “a libertadora”, para definir a senhora que “abdica” da posse do escravo, reforçam a necessidade de problematizar as cartas de alforria.

Esta percepção da alforria como um presente do senhor ao escravo; como símbolo de sua afeição ou estima, está provavelmente, arraigada à antiga noção de paternalismo presente escravismo brasileiro e nos escritos da década de 1930, principalmente, nas linhas de Gilberto Freyre. Embora, Freyre tenha inaugurado uma historiografia sobre o negro no Brasil, o faz na perspectiva da casa-grande, levando a interpretações equivocadas sobre a escravidão à brasileira.

Embora esta visão paternalista tenha sido contestada pela Escola Paulista, na década de 1950, são os anos 1960-1970 que marcam o avanço da História Social do Brasil Colonial e da Escravidão, especialmente a partir da noção de experiência escrava. Em Blowin’ in the Wind:

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E. P. Thompson e a experiência negra no Brasil, Sílvia H. Lara provoca o leitor questionando

se é realmente possível uma relação entre Thompson e a historiografia do negro no Brasil.8 A questão provocadora de Sílvia H. Lara é respondida na medida em que se vê a necessidade de repensar a relação senhor versus escravo a partir da experiência daquele que viveu sob o jugo do cativeiro e é esta perspectiva que se destaca na década de 1980, que assinala um olhar diferenciado sobre o escravo, reforçando a necessidade de pensar em sua atuação e autonomia no processo de conquista da liberdade. Como destacou Maria Helena Machado, este foi o período em que se percebeu a necessidade de repensar “o papel histórico desempenhado pelos escravos como poderosos agentes no processo de formação da sociedade brasileira”. 9

A questão que aqui se coloca é que, nesta perspectiva, o escravo também dissimula e age no sentido de moldar a sua relação com o senhor. Nota-se, então, uma percepção das mudanças de paradigmas sobre a escravidão no Novo Mundo, e a resistência e a autonomia escravas ocupam o centro do debate, trazendo uma abordagem que privilegia e aponta para o protagonismo negro.

Neste contexto, alguns estudiosos tem sugerido que os grupos de escravos, na busca por forjar espaços de autonomia econômica, social e cultural, interagiam com o regime de trabalho a que estavam submetidos, respondendo às diferentes conjunturas ora com acomodação, ora com resistência. Dentre estes estudos, enquadram-se aqueles realizados por João José Reis, Eduardo Silva e Sidney Chalhoub, por exemplo. O escravo que negocia, apresentado por Reis e Silva, rompe com os pressupostos de um sistema absolutamente rígido e estático. Além de propor uma análise da escravidão “sob a perspectiva do escravo”, invalidam a ideia de um escravo vitimizado: “Os escravos não foram vítimas nem heróis o tempo todo”, afirmaram.10

Esta negociação resultava de barganhas entre senhores e escravos, “cheias de malícia de ambas as partes”11. Como lembrou Chalhoub, em Machado de Assis, historiador, quando propõs uma

“leitura a contrapelo da ideologia senhorial”:

[...] como essa ideologia é produto e ao mesmo tempo instituinte de um contexto de luta de classes, ela é apenas aquilo que permite a Estácio [leia-se: ao senhor] pensar e dizer que está concedendo quando, na verdade, estiver cedendo a pressões, ou ao menos reconhecendo a existência de antagonismos sociais.12 (Grifos do autor)

Ao analisar a relação entre alforrias e tamanho das posses no sudeste escravista do século XIX, Jônis Freire se reportou a estudos de Ricardo Salles (que pesquisou as alforrias em Vassouras (RJ), entre 1839 e 1880) e Lisandra Meyer (que analisou as alforrias em Campinas

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nos períodos de 1836-1845 e 1860-1871). Nestas pesquisas, além de utilizarem fontes outras além das cartas registradas em cartório ― testamentos, inventários post mortem, autos de prestação de contas testamentárias ―, os pesquisadores afirmaram que a procura pelos cartórios para o registro da liberdade só aumentou após 1850, com a proibição definitiva do tráfico negreiro transatlântico.13 Conforme ressaltou Ricardo Salles, houve uma ressignificação do instituto da alforria naquele contexto, tendo em vista que com a proibição do tráfico, as opções de aquisição de escravos ficaram restritas, de modo que conquistá-la, implicava, antes de tudo, num convencimento, ou seja, no resultado satisfatório em seu processo de negociação. Neste sentido, os autores apontam que seria a alforria muito mais o resultado de uma conquista escrava do que de uma concessão senhorial.

Ainda sobre a segunda metade do século XIX, Lisandra Meyer reforça que este aumento de registros cartoriais das manumissões se dá, principalmente, em relação às chamadas alforrias condicionais não pagas, como as de Laureano e Anacleto, que embora libertos ― “como se de ventre livre fossem” ― permaneceriam cativos. O termo cativo é aqui usado no sentido empregado por Luiz Felipe de Alencastro, em O trato dos Viventes. Alencastro diferencia o “cativo” do “escravo”, a partir de uma compreensão de que “ser cativo” implica numa situação transitória, enquanto “ser escravo” representaria um estado jurídico permanente do indivíduo que é adquirido para uso do seu senhor.14 Assim, ao ser liberto com uma alforria condicional, o escravo legalmente sai do cativeiro, entretanto, o cativeiro o acompanha, mesmo que por um período determinado, que nem sempre é breve. Como sinalizou Chalhoub,

a concentração do poder de alforriar exclusivamente nas mãos dos senhores fazia parte de uma ampla estratégia de produção de dependentes, de transformação de escravos em negros libertos, ainda fiéis e submissos a seus antigos proprietários.15

Ao tratar de Reescravização, Direitos e Justiça no Brasil do Século XIX, Keyla Grinberg aponta também para os aprisionamentos a que as cartas de alforria condicionais condenavam os “libertos imperfeitos”. A respeito das manumissões de Martha e Sabino, escravos de João Vaz da Silva, informou que

Os dois permaneceram cativos até a velhice de João, quando, por medo da morte, ou pelos bons serviços prestados à família, ele libertou Sabino e

passou carta de alforria a Martha. Ela, no entanto, só seria liberada depois

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A observação feita pela autora propõe uma diferença semântica entre “libertar” e “passar a carta de alforria”. De fato, como se vê aqui, a alforria não implicava em liberdade.

A análise das alforrias condicionais não pagas, bem como a liberdade tardia (considerando a expectativa de vida de um escravo), são ponto de partida para questionar os sentidos da liberdade em Alagoinhas e as possíveis estratégias de manutenção do cativeiro, mesmo após a emancipação.17 Vale ressaltar, como sinalizou Mattoso, que a manumissão era acima de tudo um ato comercial e raramente envolto em um véu de generosidade. A carta condicional não paga, embora considerada gratuita, era, “na verdade e muito bem paga, sempre revogável e tornava o escravo a ser libertado ainda mais dependente, pois o menor desacordo ou mau humor era motivo para derrubar o edifício duramente construído da futura liberdade.”18

É importante ressaltar, à luz de Perdigão Malheiro, que apenas os “libertos imperfeitos”, como eram chamados aqueles que cumpriam condição, “poderiam ter suas alforrias revogadas por ingratidão, já que por não estarem ainda em pleno gozo dos seus direitos civis, não poderiam ser considerados cidadãos”.19 As condições expressas nas manumissões, dessa forma,

aprisionam o liberto a uma situação da qual tudo que ele almeja é se desgarrar. Eric Foner mencionou um comentário feito pelo Tesoureiro da Fundação Americana dos Fazendeiros de Algodão dos Estados Unidos, Robert V. Richardson, em dezembro de 1865, bastante oportuno nesta discussão. Segundo Richardson, “os escravos emancipados não têm nada, porque nada além da liberdade foi dado a eles”. Apesar de se referir aos escravos norte-americanos, esta declaração se aplica, certamente, à realidade brasileira, em especial, aos casos aqui apresentados, principalmente no tocante à relação entre alforria, liberdade e cidadania.

A liberdade expressa nas cartas de alforria condicionais registradas em cartório, permitem questionar os sentidos dessa liberdade, de modo que, pode-se afirmar que

uma definição de liberdade como simples posse de si era extremamente truncada, pois lançava os negros no mercado de trabalho empobrecidos, analfabetos e em desvantagem em inúmeros outros aspectos.20

Vê-se, dessa forma, que deixar a condição de escravidão, não implicava em liberdade, principalmente após 1850. Naquele contexto, as cartas condicionais representaram, em larga medida, estratégias de manutenção da ordem pelos senhores, que poderiam controlar e dominar, por força daquele documento, escravos e libertos, inclusive reforçando o temor pela possibilidade de reescravização por ingratidão; possibilidade esta que só seria eliminada pela Lei 2.040 de 28 de setembro de 1871, a Lei do Ventre Livre, em seu artigo 4º, parágrafo 9º.

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Como ironizou Kátia Mattoso, “[...] no sistema patriarcal brasileiro, o “pai” não se permitia negligências que poderiam colocar em xeque sua autoridade”.21

É importante ressaltar que este mesmo artigo da Lei, o parágrafo 4º limitava o tempo de prestação dos serviços vinculados às liberdades condicionais a sete anos. Essa limitação parece não ter sido respeitada por alguns senhores “libertadores” em Alagoinhas. No caso de Anacleto, por exemplo, o “pardinho” de quatro anos “mais ou menos” deveria servir e acompanhar o seu senhor enquanto ele vivesse. Romana Francisca do Nascimento e Anna Maria do Nascimento, ambas analfabetas, registraram as cartas de liberdade de suas crias, ambos de nome José, em 1874. Romana Francisca estabeleceu a condição de o pequeno escravo servi-la e acompanhá-la por toda a vida. Anna Maria alforriou a sua cria incondicionalmente, “como se de ventre livre tivesse nascido”. Ora, além de alegarem o fato de serem senhoras e possuidoras dos respectivos escravos, ao afirmarem que os libertavam “como se de ventre livre nascessem”, reforçaram a compreensão de que não aceitavam a condição de liberdade expressa na Lei do Ventre e garantidas àqueles supostos escravos.22

Por outro lado, a alforria da “cria” de nome Timóteo, por seu “senhor e possuidor” Feliciano Frimo de Lima, mostra resultados da Lei do Ventre na Vila de Santo Antônio de Alagoinhas. Filho da escrava Anna Rosa, Timóteo nasceu em 22 de agosto de 1872. A sua carta de alforria foi passada no mesmo ano do seu nascimento, quando o seu senhor, declarou “remi-lo do estado de cativeiro” e afirmou: “concedo-lhe desde já plena liberdade, cedendo todo direito e parte que tenho nele, permitido pela Lei de vinte e sete (sic) de setembro de 1871, art.1,2,3, ficando a dita cria desta data em diante, gozando de ampla liberdade.”23

A carta de liberdade de Timoteo foi registrada no cartório de Alagoinhas no ano seguinte e o filho da escrava teve seu direito expresso pela Lei 2.040 garantido, todavia, cabem algumas observações no teor do documento. O fato de Feliciano Frimo de Lima afirmar que estava remindo o pequeno escravo do cativeiro e concedendo-lhe a liberdade daquela data em diante, leva a crer que, na perspectiva do senhor, Timóteo não teria nascido livre e era, ainda, uma propriedade sua, cabendo-lhe, enquanto “senhor e possuidor”, abdicar do seu direito em favor da libertação do dito escravo.

Além das fontes aqui já citadas para o estudo de alforrias, os jornais também têm destaque neste sentido. No Periódico A Verdade, de 11 de fevereiro de 1877, a Sociedade Abolicionista Sete de Setembro, lotada na capital da província, noticiava um espetáculo teatral a ser realizado “em favor da alforria de uma escrava”, cujo nome não fora mencionado.24

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Embora não tenha sido bem recebido na cidade àquela época ― dado o fim ao qual se destinava ―, a realização de um espetáculo pela liberdade de uma escrava revela a atuação de um movimento abolicionista em Alagoinhas e, em especial, da Sociedade Libertadora Sete de Setembro, que entre 7 de setembro de 1869 (ano em que fora fundada) e 28 de fevereiro de 1874, “distribuiu 267 cartas de liberdade, sendo 89 conferidas gratuitamente em seu nome, e 178 adquiridas mediante pagamento”. É importante destacar que, além de auxiliar na obtenção das alforrias, a Sociedade Sete de Setembro se ocupou também de advogar, perante os tribunais, em favor das ações de liberdade movidas por escravos na província. 25

Nesta mesma edição do periódico foi publicada a carta de alforria de João, um cabra, solteiro, com 27 anos de idade (pouco mais ou menos), matriculado no termo de Santo Amaro, e escravo de Maria Olindina do Nascimento Benevides. Aparece também ali, a publicação de um Edital do Juizado de Orfãos e Ausentes, que anunciava o recebimento de cartas propostas de arrematação dos escravos, citando seus nomes, preços, origem étnica e filiação. Dentre os escravos ali leiloados, um chama a atenção e desperta certo interesse de avançar em seu rastro. Segundo aquele jornal, nos dias 13, 16 e 20 do mês de fevereiro de 1877, esteve ali, prestes a ser arrematado na Praça da Câmara, um escravo de nome “José, preto, filho de Ignês, com 15 anos, avaliado em 700 mil contos de réis”. Considerando ter José nascido em 1862 e o José, anteriormente citado e também filho de uma escrava de nome Ignês, ter sido alforriado em 1868, seria este um vestígio de reescravização? Embora essa hipótese não possa ser confirmada ainda, é possível. A localização do registro batismal de José, filho de Ignês e escravo de Dona Joaquina Maria da Silva, certamente elucidará esta questão.

A reescravização de libertos não era uma prática incomum, especialmente após 1850. Sidney Chalhoub, em A Força da escravidão, afirmou que na segunda metade do século XIX, as histórias de pessoas livres presas por suspeição de que fossem escravas eram frequentes. Indivíduos que se declaravam livres acabavam leiloados como escravos, muitas vezes devido a alforrias condicionais frágeis, que eram revogadas. Nas palavras de Chalhoub,

a liberdade era uma experiência arriscada para os negros no Brasil do século XIX, pois tinham a sua vida pautada pela escravidão, pela necessidade de lidar amiúde com o perigo de cair nela, ou voltar para ela.26

A liberdade era um sonho difícil de ser realizado na sociedade brasileira do século XIX e a Vila de Santo Antônio de Alagoinhas não fugia dessa regra. Os limites entre ser escravo/coisa/mercadoria e ser liberto/pessoa/cidadão, eram definidos por uma linha tênue e

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frágil. A manumissão não garantia o “ser livre” e a escravidão mantinha suas amarras além do cativeiro, revelando, principalmente no que tange às alforrias condicionais, facetas das querelas entre senhores e escravos para a realização dos seus objetivos: por um lado, o escravo que dissimula e negocia para conquistar o ideal de ter sua humanidade reconhecida e, por outro, o senhor que barganha, aprisionando o liberto como garantia de não ser desassistido.

FONTES E REFERÊNCIAS Fontes

A VERDADE, Alagoinhas, 11 de fevereiro de 1877. N 15. Série 1ª. p.2.

CARTA DE ALFORRIA DE LAUREANO. 1º Tabelionato de Notas de Alagoinhas, Livro

de Notas do tabelionato de 04 de abril de 1872 até 13 de novembro de 1874, verso da folha 21.

CARTA DE LIBERDADE DE JOSÉ. 1º Tabelionato de Notas de Alagoinhas, Livro de Notas

do tabelionato de 04 de abril de 1872 até 13 de novembro de 1874, verso da fl.40.

CARTA DE LIBERDADE DE MARTINHO. 1º Tabelionato de Notas de Alagoinhas, Livro

de Notas do tabelionato de 04 de abril de 1872 até 13 de novembro de 1874, fl. 2.

CARTA DE LIBERDADE DE MARIA. 1º Tabelionato de Notas de Alagoinhas, Livro de

Notas do tabelionato de 04 de abril de 1872 até 13 de novembro de 1874, fl. 2-3.

CARTA DE ALFORRIA DE ANACLETO. 1º Tabelionato de Notas de Alagoinhas, Livro

de Notas do tabelionato de 04 de abril de 1872 até 13 de novembro de 1874, verso da fl.9.

CARTA DE ALFORRIA DE JOSÉ. 1º Tabelionato de Notas de Alagoinhas, Livro de Notas

do tabelionato de 04 de abril de 1872 até 13 de novembro de 1874, fl.93.

CARTA DE LIBERDADE DE JOSÉ. 1º Tabelionato de Notas de Alagoinhas, Livro de Notas

do tabelionato de 04 de abril de 1872 até 13 de novembro de 1874, verso da fl.93.

CARTA DE LIBERDADE DE TIMOTEO. 1º Tabelionato de Notas de Alagoinhas, Livro de

Notas do tabelionato de 04 de abril de 1872 até 13 de novembro de 1874, verso da fl.41. Relatório Apresentado ao Illm. e Exm. Sr. Dez. João José D’almeida Couto, 1º presidente da Província, pelo 4º vice-presidente, Dr. Francisco José da Rocha, ao passar-lhe a administração da província, em 17 de outubro de 1971. Bahia. Thypographia do Correio da Bahia, 1871. In:

RELATÓRIO DOS TRABALHOS DO CONSELHO INTERINO DE GOVERNO - 1823 A 1889. Disponível no site http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=130605. Acesso em 15 de maio de 2016.

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Referências

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CHALHOUB, Sidney. VISÕES DA LIBERDADE: uma história das últimas décadas da escravidão na corte. São Paulo: Cia das Letras, 1990.

__________________. MACHADO DE ASSIS, HISTORIADOR. São Paulo: Companhia das Letras. 2003.p, 18. Versão consultada disponível no site http://lelivros.me/book/download-machado-de-assis-historiador-sidney-chalhoub-em-epub-mobi-e-pdf/.

__________________. A FORÇA DA ESCRAVIDÃO: ilegalidade e costume no Brasil oitocentista. São Paulo: Cia das letras, 2012.

FONER, Eric. NADA ALÉM DA LIBERDADE: a emancipação e seu legado. Tradução de Paulo Rouanet. Rio de Janeiro: Paz e Terra; Brasília: CNPq, 1998.

FREIRE, Jônis. Alforrias e tamanho das posses: possibilidades de liberdade em pequenas, médias e grandes propriedades do sudeste escravista (século XIX). In: VARIA HISTORIA, Belo Horizonte, vol. 27, nº 45: p.211-232, jan/jun 2011.

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* Mestra em Estudo de Linguagens (UNEB), possui licenciatura em História (UNEB) e especialização em História

da Cultura Afro-brasileira (FAVIC). Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Alagoinhas (GEPEA),

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atualmente leciona a disciplina História da Cultura Afro-brasileira e Indígena na Faculdade Regional da Bahia (FARAL-UNIRB). Email: alinasigo@gmail.com

1 Carta de Alforria de Laureano, 1º Tabelionato de Notas de Alagoinhas, Livro de Notas do tabelionato de 04 de

abril de 1872 até 13 de novembro de 1874, verso da folha 21.

2 Carta de Liberdade de José. 1º Tabelionato de Notas de Alagoinhas, Livro de Notas do tabelionato de 04 de abril

de 1872 até 13 de novembro de 1874, verso da fl.40.

3 Carta de Liberdade de Martinho. 1º Tabelionato de Notas de Alagoinhas, Livro de Notas do tabelionato de 04 de

abril de 1872 até 13 de novembro de 1874, fl. 2.; Carta de Liberdade de Maria. 1º Tabelionato de Notas de Alagoinhas, Livro de Notas do tabelionato de 04 de abril de 1872 até 13 de novembro de 1874, fl. 2-3.

4 Carta de Alforria de Anacleto. 1º Tabelionato de Notas de Alagoinhas, Livro de Notas do tabelionato de 04 de

abril de 1872 até 13 de novembro de 1874, verso da fl.9.

5 CHALHOUB, Sidney. VISÕES DA LIBERDADE: uma história das últimas décadas da escravidão na corte.

São Paulo: Cia das Letras, 1990. p, 23.

6 MATTOSO, Kátia. SER ESCRAVO NO BRASIL: séculos XVI-XIX. Tradução de Sônia Furhmann. Petrópolis,

RJ: Vozes, 2016.p, 191.

7 Cf. FONER, Eric. NADA ALÉM DA LIBERDADE: a emancipação e seu legado. Tradução de Paulo Rouanet.

Rio de Janeiro: Paz e Terra; Brasília: CNPq, 1998; MATTOSO, Kátia. Ser escravo..., 2016.

8 LARA, Silvia Hunold. “BLOWIN’ IN THE WIND”: Thompson e a experiência negra no Brasil. Projeto

História. São Paulo: PUC, n. 12, outubro de 1995, p. 43-56. Disponível no site < http://revistas.pucsp.br/index.php/revph/article/download/11300/8283.> Acesso em 18 de agosto de 2916.

9 MACHADO, M. H. P.T. Em torno da autonomia escrava: Uma nova direção para a História Social da Escravidão. REVISTA BRASILEIRA DE HISTÓRIA. São Paulo, v.8, n. 16, p. 143-160, março-agosto, 1988. Disponível

no site < http://www.anpuh.org/arquivo/download?ID_ARQUIVO=3678> Acesso em 26 de fevereiro de 2016.

10 SILVA, Eduardo; REIS, João José. NEGOCIAÇÃO E CONFLITO: A resistência negra no Brasil escravista.

São Paulo: Companhia das Letras, 1989. p. 7.

11 Ibidem, 1989.

12 CHALHOUB, Sidney. MACHADO DE ASSIS, HISTORIADOR. São Paulo: Companhia das Letras. 2003.p,

18. Versão consultada disponível no site http://lelivros.me/book/download-machado-de-assis-historiador-sidney-chalhoub-em-epub-mobi-e-pdf/.

13 CF. FREIRE, Jônis. Alforrias e tamanho das posses: possibilidades de liberdade em pequenas, médias e grandes

propriedades do sudeste escravista (século XIX). In: VARIA HISTORIA, Belo Horizonte, vol. 27, nº 45: p.211-232, jan/jun 2011; SALLES, Ricardo. E O VALE ERA O ESCRAVO: Vassouras, século XIX. Senhores e escravos no coração do Império. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008; FERRAZ, Lizandra Meyer.

TESTAMENTOS, ALFORRIAS E LIBERDADE: Campinas, século XIX. São Paulo: Universidade Estadual

de Campinas, 2006, p.87.

14 ALENCASTRO, Luiz Felipe de. O TRATO DOS VIVENTES: formação do Brasil no Atlântico Sul. São Paulo,

Cia das Letras, 2000. p, 86-89.

15 Chalhoub, VISÕES DA LIBERDADE..., p. 100.

16 GRINBERG, Keyla. Reescravização, Direitos e Justiça no Brasil do Século XIX, p. 101. In: LARA, Silvia H.

& MENDONÇA, Joseli Maria Nunes (org). DIREITOS E JUSTIÇAS NO BRASIL: ensaios de história social. Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 2006. p. 101-128.

17 “[...]vivia-se pouco no Brasil de outrora e menos ainda quando se trabalhava como escravo.” (MATTOSO,

Kátia. op.cit, p. 209.

18 MATTOSO, SER ESCRAVO..., p. 208.

19 Keyla Grinberg faz uma análise a respeito dos libertos imperfeitos à luz de Perdigão Malheiro. Cf. GRINBERG,

Reescravização..., p. 117. Ver também MALHEIRO, Agostinho Marques Perdigão. A ESCRAVIDÃO NO

BRASIL: Ensaio Histórico-Jurídico-Social. Direito sobre os escravos e libertos. V.1. Rio de Janeiro: Typ.

Nacional, 1866. Disponível no site <http://www2.senado.leg.br/bdsf/item/id/174437>. Acesso em 06 de maio de 2016, p. 104-108.

20 FONER, op.cit, p. 23-24. 21 MATTOSO, op.cit, p. 193.

22 Carta de Alforria de José. 1º Tabelionato de Notas de Alagoinhas, Livro de Notas do tabelionato de 04 de abril

de 1872 até 13 de novembro de 1874, fl.93; Carta de Liberdade de José. 1º Tabelionato de Notas de Alagoinhas, Livro de Notas do tabelionato de 04 de abril de 1872 até 13 de novembro de 1874, verso da fl.93.

23 Carta de Liberdade de Timoteo. 1º Tabelionato de Notas de Alagoinhas, Livro de Notas do tabelionato de 04 de

abril de 1872 até 13 de novembro de 1874, verso da fl.41.

(11)

25 Cf. Relatório apresentado ao Illm. e Exm. Sr. Dez. João José D’Almeida Couto, 1º presidente da Província, pelo

4º vice-presidente, Dr. Francisco José da Rocha, ao passar-lhe a administração da província, em 17 de outubro de 1971. Bahia. Thypographia do Correio da Bahia, 1871. In: Relatório dos Trabalhos do Conselho Interino de Governo - 1823 a 1889. Disponível no site http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=130605. Acesso em 15 de maio de 2016.

26 CHALHOUB, Sidney. A FORÇA DA ESCRAVIDÃO: ilegalidade e costume no Brasil oitocentista. São

Referências

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