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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO DIRETORIA DE PESQUISA PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO DIRETORIA DE PESQUISA

PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA

RELATÓRIO TÉCNICO - CIENTÍFICO Período: Agosto/2014 a Julho/2015

( ) PARCIAL (X) FINAL

IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO

Título do Projeto de Pesquisa (ao qual está vinculado o Plano de Trabalho ): Percursos da imagem contemporânea e seus desdobramentos.

Nome do Orientador: Orlando Franco Maneschy

Titulação do Orientador: Doutor

Faculdade: Faculdade de Artes Visuais

Unidade: Instituto de Ciências da Arte

Título do Plano de Trabalho: Imagens, Hibridizações e Polifonias na arte contemporânea paraense dos anos 2000.

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Nome do(a) Bolsista: Raquel Sanches

Tipo de Bolsa: (X) PIBIC/CNPq ( ) PIBIC/UFPA ( ) PIBIC/INTERIOR ( ) PIBIC/FAPESPA ( ) PARD

( ) PARD – renovação

( ) Bolsistas PIBIC do edital CNPq 001/2007

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RESUMO DO RELATÓRIO ANTERIOR

Nos meses anteriores, mergulhamos no universo da imagem a da performance no cenário paraense nos anos de 2000 a 2009. Iniciou-se um processo de identificação de artistas, catalogação de obras, leitura e fichamento de textos, reflexões dentro dos temas pesquisados e conexão de todas as informações absorvidas. Ainda no início da pesquisa houve um pequeno alinhamento e ajuste, em acordo com o orientador Prof. Dr. Orlando Maneschy (e que é permitido pela PROPESP), dos objetivos específicos, por meio de um aprofundamento maior na pesquisa dessa relação entre o fotógrafo, a performance e a imagem. Observamos que, para compreender a relação entre o performer e a imagem, percebemos que a figura do fotógrafo deveria ser compreendida também neste cenário, o que tornou mais complexo, profundo e rico nosso processo de pesquisa. Em todos os textos lidos e artistas pesquisados essas relações foram buscadas, tais reflexões exercidas e aqui discorridas. Suscitamos questionamentos, tais como: Por que o indivíduo, ao assumir o papel daquele que registra o mundo ao ser redor, possui uma atitude diferenciada ao tomar esse objeto em suas mãos? Possui o fotógrafo o poder, de decidir o que deve ser eternizado e o que deve permanecer apenas como memória? E mais, quando o artista, na posição de fotógrafo e ser fotografado, simultaneamente, produz uma imagem com uma multiplicidade de sentidos, o que se opera ali? Qual a relação entre fotógrafo - imagem - ser fotografado?

INTRODUÇÃO

Ao adentrar o campo de pesquisa da imagem, nos deparamos com um universo vasto em possibilidades, porém ainda escasso em materiais para pesquisa que abordem a produção local, se pensarmos que a produção científica publicada sobre as artes visuais do estado começaram a deter maior circulação na última década e que a pós-graduação em artes na Amazônia ainda não tem sequer dez anos. Este campo de pesquisa vai muito além da fotografia ou do vídeo por si só, mas se estende para relações entre o que é ver, sentir, projetar, refletir. Os limites são líquidos, fluidos, flexíveis, imprecisos, portanto as relações se tornam complexas. Abstratas e impalpáveis, tais relações possuem vínculos entre aqueles que as imaginam, produzem, aqueles que existem dentro delas, como sujeitos da imagem ou criadores dela.

Nesse universo de criar, imaginar, capturar e produzir, a performance é presente quase que completamente. O simples ato de se posicionar ou pensar em como uma cena pode ser retratada é em sua essência um ato performático. O que se inscrevem entre esses momentos? Principalmente, no Pará, onde tais relações se inserem em meio a Amazônia, numa cidade que começa a fervilhar e

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se questionar e inventar e reinventar, em que a linguagem fotográfica é historicamente uma das mais fortes no circuito das artes visuais e detentora de uma significativa história. Permeando esta vertente, busca-se explorar a relação do fotógrafo com a imagem, pois essa imagem, criada por ele, contém vários aspectos de sua própria subjetividade. E exploram-se questionamentos existentes ali, como por exemplo, Alexandre Sequeira, um dos artistas que observamos, que cita em seu texto

Imagem, realidade e fabulação: a reinvenção da memória na Vila de Lapinha da Serra, quando

fala de questões voltadas a imagem e diz provoca questões acerca da fotografia-performance-realidade, suas fronteiras líquidas e indefinições:

“É para esta questão que dirijo minhas atenções: (...) que promove o encontro de duas particularidades do fazer fotográfico, aparentemente antagônicas: sua natureza indicial, nos acenando como uma garantia de verdade; e o ato de fotografar como gesto performativo, subvertendo essa segurança e se apresentando como um desafio a nosso compromisso com essa verdade.” (SEQUEIRA, 2012, p.143)

Por fim, esses questionamentos são pensados dentro do universo da arte contemporânea paraense e seus artistas, buscando compreender como se estabelece a relação do artista com as questões apresentadas, e como se relacionar com o mundo, uma vez que tais questões estão presentes no seu fazer e em sua relação com o lugar no qual está inserido.

JUSTIFICATIVA

O tema em questão, apesar de vasto, ainda foi pouco explorado, principalmente no cenário Paraense contemporâneo. As publicações já existentes que abordam o assunto e temas relacionados são resultados de pesquisas anteriores, como Seqüestros: imagem na arte contemporânea paraense, em 2007; JÁ! Emergências Contemporâneas; Amazônia, Lugar de Experiência, 2012, além de resultados na forma de artigos frutos de pesquisa e de subprojetos, dentre outros, são base para dar continuidade e aprofundamento na área, mas de fato, pouco ainda foi pesquisado acerca da relação do performer com a imagem e o ato fotográfico, o que nos faz observar a necessidade de mergulhar nestas questões.

Ainda dentro dos conhecimentos acerca deste campo da pesquisa, mostras fotográficas e artísticas, bem como projetos foram levantados como material de pesquisa como o Prêmio Diário

Contemporâneo de Fotografia e o Arte Pará, pois possuem textos em seus catálogos que são de

suma importância para debater e pensar a imagem. Por exemplo, em 2012, com, o título Mostra da

Imagem, o Prêmio Diário criou possibilidades para diálogos sobre relações da imagem. Voltando-se

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Walda Marques e Victor de La Rocque, dentre outros, assim como textos sobre tais performances, os quais geram diálogos e questionamentos.

Assim, este subprojeto mergulha na questão da imagem na arte paraense de forma mais pontual, apontando para relações complexas que percebemos nas obras de artistas que vem se destacando na produção local e atingindo outros territórios nacionais e internacionais, despertando interesses de curadores, pesquisadores e público.

Com o subprojeto proposto, cujo objetivo geral é aprofundar a pesquisa em torno da fotografia-imagem, observando as relações das diversas proposições artísticas e seus consequentes desdobramentos no âmbito do universo da imagem no campo da arte, resolvemos afinar, em acordo com o orientador Prof. Dr. Orlando Maneschy, nossos objetivos específicos, por meio de um aprofundamento maior na pesquisa dessa relação entre o fotógrafo, a performance e a imagem. Buscamos pesquisar o sujeito “artista-fotografo”, dentro desta nova proposta elaborada, que está sendo seguida atualmente. Com essa pequena alteração do subprojeto, busca-se um aprofundamento maior no conhecimento da performance e fotografia contemporânea paraense.

OBJETIVOS:

Objetivo geral do projeto é aprofundar a pesquisa em torno da imagem fotográfica, dando atenção as relações artísticas dentro de uma perspectiva performativa e as consequências de seus desdobramentos no universo da imagem no campo da arte, e dentro do universo belenense e amazônico, possibilitando construir e disponibilizar novas fontes de pesquisa dentro desse momento histórico e as vertentes estudadas.

Dentre os objetivos específicos visamos: ampliar a sistematização da pesquisa no cenário artístico contemporâneo compreendido pela Grande Belém, refinando-a a partir das análises dos objetos de estudo – publicações sobre fotografia contemporânea paraense nos anos 2000 -; Lançar mão de informações publicadas na imprensa e outros suportes; Observar as operações visuais e conceituais empreendidas na obra dos artistas; Direcionar uma análise crítica a partir de elementos publicados sobre as obras, por meio da análise de material e suas relações com a produção do período, bem como através do aprofundamento de análise de relação com outros materiais já catalogados; Refletir acerca das relações entre arte, história e política presentes em determinados projetos surgidos nos referido período e que vem se destacando na cena artística local e nacional.

Dentro do subprojeto, o objetivo específico redirecionado parte da observação de que grande parte das performances contemporâneas paraenses são voltadas para a fotografia. Diante da

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autorização para a pequena modificação no foco do subprojeto, voltamos o estudo para uma perspectiva do ato de fotografar enquanto ação performática, sendo portanto, o objetivo específico também levemente alterado para a compreensão de como age o artista-fotógrafo em seu momento performativo, e em que isto afeta sua fotografia e seu resultado final, ou seja, a imagem. Com essa pequena modificação houve uma adaptação também no nome do subprojeto para Imagens,

Hibridizações e Polifonias na arte contemporânea paraense dos anos 2000: Fotografia e Performance.

OBS: Não houveram modificações além do objetivo especifico, nem no subprojeto ou no projeto principal.

Novos Objetivos Específicos do Subprojeto >>>

Dentro deste subprojeto, pesquisar esse segmentos nos fez compreender como funciona essa relação do artista visual com a performance, e do fotógrafo com a performance, muitas vezes, sendo o artista e o fotógrafo o mesmo sujeito da imagem, havendo uma espécie de “tripla identidade”, enquanto perspectiva do sujeito em relação a imagem, e portanto, uma multiplicidade de relações a serem exploradas. Logo, é importante compreender como esse sujeito se relaciona com a imagem, o que a imagem é pra ele. Essa compreensão fomenta novos projetos e incita novas produções no campo da arte contemporânea, produção tanto escrita, quanto imagética, e conceitual.

MATERIAIS E MÉTODOS:

Inicialmente houve a apresentação do projeto Percursos Da Imagem Contemporânea E

Seus Desdobramentos, e do plano de trabalho Imagens, Hibridizações e Polifonias na arte contemporânea paraense dos anos 2000, para a partir do conhecimento do projeto e do plano de

trabalho iniciássemos o desenvolvimento da pesquisa, para em seguida, realizarmos levantamentos de leituras de base como: Outra Natureza; Amazônia, Lugar da experiência; Já! Emergências

Contemporâneas; Limites e Contaminações da Imagem no Espaço: Mapeamento da Produção Contemporânea Paraense dentre outros autores, pesquisadores tanto do campo da imagem, quanto

da performance, além de catálogos de projetos que compõem nosso acervo bibliográfico pesquisado. Também, diversos artigos científicos publicados em revistas e em anais de congressos, como dos Encontros da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas – ANPAP, foram estudados. Dentro de catálogos, foram analisados os do Projeto Arte Pará de 2008 a 2010, (em que meu orientador foi curador), e catálogos do Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia de 2010 a

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2013, nos quais foram feitos levantamentos de obras dos artistas: Luciana Magno, Victor de La Roque, Keyla Sobral, Berna Reale, Miguel Chikaoka, Armando Sobral, (dentre outros). Depois disto, foram estabelecidas relações com os textos das leituras levantadas, empreendidas leituras e fichamentos dos textos, tantos dos livros, quanto dos catálogos, para que pudéssemos aprofundar as relações entre as análises dos críticos com as imagens das obras, bem como para consulta posterior. Em seguida, foi empreendido um levantamento bibliográfico voltado especificamente para performance e fotografia, depois, feita uma triagem de quais leituras de fato seriam mais relevantes para a pesquisa em questão, e seus respectivos fichamentos.

Além disto, foi afinado o objetivo específico para pesquisa, levando-nos a constituir conexões com os trechos que despertaram interesse e buscando relações com as obras.

Neste momento o projeto segue em fase de desenvolvimento de elaboração de artigo científico, baseado nas leituras, além da catalogação das obras analisadas e da ordenação da bibliografia empregada.

Após o levantamento e catalogação de 25 artistas e obras assim como a organização de livros, artigos e catálogos para fichamentos. Foi executada ao longo do período da pesquisa a leitura critica e aprofundada desse material, sempre estabelecendo conexões com as obras estudadas e com a poética pessoal de cada artista. Foram assistidos algumas performances orientadas para vídeos para maior reflexão do tema. Tais levantamentos feitos geram resultados posteriores onde é discorrido com maior aprofundamento em detalhes.

Artistas e Obras pesquisadas:

Alexandre Sequeira “Imagem, realidade e fabulação: a reinvenção da memória na Vila de Lapinha da Serra”

Relato de Experiência e fotografias

Armando Queiroz “Midas” Vídeo

Armando Queiroz “Aparelho para escutar sentimentos e segredos”

Fotografia e objeto

Berna Reale “Quando todos calam” Performance orientada para fotografia

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submerso”

Dirceu Maués “Feito poeira ao vento” Video Lúcia Gomes IMPEACHMENT “ e ”Nem

que L

Performance orientada para Fotografia

Luciana Magno Sem título Performance orientada para Fotografia

Luciana Magno Sem título Performance orientada para Video

Luiz Braga “Banhista”, “Ponta d'Areia”, Fotografias

Miguel Chikaoka Hagakure Objeto/Fotografia

Octavio Cardoso Sem título Fotografia

Patrick Pardini Série “Arborescencia” Fotografias Oriana Duarte “A Coisa em si – Sopa de

pedras”

Vídeo

Roberta Carvalho Série “Symbiosis” Fotografia

Sinival Garcia Série “Automatic Man” Performance orientada para Fotografia

Sofia Borges Sem Título Fotografia

Val Sampaio “Jogo ou Para que servem os amigos?”

Instalação

Victor de La Rocque “Gallus Sapiens parte 2” e “Gallus Sapiens parte 3”

Performance

Walda Marques “Lembranças de Dolores” Instalação e Performance

Além dos artistas e obras, foram levantados e lidos 27 textos, dentre artigos, livros e catálogos, vários nos quais os artistas estão inseridos.

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RESULTADOS:

Nesse universo visual de criar, imaginar, capturar e produzir imagens, a performance é presente quase que completamente, de uma forma, ou de outra. O simples ato de se posicionar ou pensar em como uma cena pode ser retratada é em sua essência um ato performático. O que se insere entre esses momentos? Principalmente, no Pará, onde tais relações se inserem em meio a Amazônia, numa cidade que começa a fervilhar e se questionar e inventar e reinventar maneiras de se relacionar a partir da imagem.

A pesquisadora Natalia Brizuela, em seu livro Depois da fotografia: Uma Literatura Fora

de Si, ao falar da relação entre literatura e fotografia, irá apontar algo que nos faz olhar para nossa

região: “a ficção não emerge da imaginação, mas dá realidade; e a fotografia não é documento, mas ficção.” (BRIZUELA, 2014, p.27). Isto nos faz pensar no contexto da arte produzida na região Norte envolvendo imagem e performance, na condição de performatividade e de como a construção de ficções é algo que podemos perceber, em especial em obras de artistas como Berna Reale, Victor de La Rocque e Luciana Magno, que vem desenvolvendo projetos artísticos nos quais realizam performances direcionadas para a imagem.

A pesquisadora Sofia Boito, em O ato fotográfico como ação performática irá dizer:

O artista da performance assume, portanto, seu próprio corpo e mundo como um processo de interação e transformação constantes – não como organismos finalizados, definidos e imutáveis, mas como uma realidade em permanente construção e atualização. (BOITO, 2013, p.45)

Isto podemos observar na obra dos três artistas, como quando Berna Reale vai ao mercado do Ver-o-Peso, em uma ação performativa orientada para a fotografia, grande prêmio no Arte Pará 2009, e que revela uma grande força não apenas pelo ato da performance, mas por, enquanto imagem, ativar relações com um vasto repertório iconográfico da história da arte, como apontam os curadores Marisa Mokarzel e Orlando Maneschy em texto do catálogo:

Quando todos calam, obra de Berna Reale, formada por três imagens fotográficas. Trata-se de uma foto-performance em que o ato e as imagens fundem-se em processos aparentemente independentes. De fato, o ato, a relação vivida no lugar não se repete no espaço expositivo. A imagem transportada para o papel adquire uma força poética de difícil tradução. (...) Reale ativa em sua performance, orientada para a fotografia, questões significativas para a arte, dentro de uma

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perspectiva da representação, da elaboração da paisagem; prostando-se nua sobre a mesa, com vísceras figurando sobre seu ventre, nos remete à inúmeras pinturas, como as de estudos de anatomia, recorrentes ao longo da História da Arte, tal qual em Lição de Anatomia do Dr. Van der Meer, (1617), do pintor holandês Michiel Jansz van Mierevelt. Referência, talvez, inconsciente, motivada por uma imersão na arte e pelo seu olhar político sobre o papel do artista na própria história (...)(MANESCHY & MOKARZEL, 2009, p. 24)

Figura 1- Berna Reale, Quando todos calam, performance para fotografia, 2008.

Não apenas a artista está a relacionar com a história da arte em sua performance, mas a estrita relação com o tempo, ao elencar um tríptico fotográfico para, na suspenção do tempo fotográfico, capturar seu momento de entrega performática, de seu corpo aos urubus que sobrevoam o Ver-o-Peso, como os curadores ainda complementam:

Ao escolher três imagens fotográficas retiradas de uma mesma ação, Reale instiga o observador a algo que está além do tempo fixado na fotografia, aponta para um continuum cinematográfico ora em suspensão, o que reforça ainda mais o conteúdo dramático presente na obra, pois há o tempo fragmentado, mas ainda seqüencial, estático, mas repleto de movimento, conclamando\nos ao eterno retorno do tempo da imagem por meio de seu tríptico embebido de significados e referências - as nuvens, ao fundo, sinalizam a tempestade que se aproxima e a instabilidade sobre o que virá a acontecer com o vôo rasante dos urubus sobre o corpo inerte da artista, congelada nas três fotografias, que nos parecem indicar um desfecho aterrador iminente -, em imagens de um mundo tão conhecido e que se apresenta enigmático, no qual Reale, por meio de seu duplo, se entrega, numa atitude visceral, diante da cidade enquanto imagem. (MANESCHY & MOKARZEL, 2009, p. 24)

Já Victor de La Rocque, em sue projeto Gallus Sapiens, também premido no Arte Pará 2008, acervo da Coleção Amazoniana de Arte da UFPA e apresentado em diversas ações em vários lugares do mundo tem a imagem como documento de sua ação. A ação ocorre em seu tempo, presencialmente, e as fotografias, os registros são o que permanecem, em alguns casos juntos com vídeo, e fazem circular o trabalho. Esses documentos são incorporados pelo artista também como parte do trabalho, com fez com o que doou a Coleção Amazoniana de Arte da UFPA, em que juntou um conjunto de fotografias, vídeos e documentos impressos. Aqui, Daniele Quiroga, Gisela Reis

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Biancalana, Nara Cristina Santos falam sobre a importância da realização da documentação de trabalhos desta natureza e como estes registros afetam nossa percepção da obra:

Um fator importante a considerar na relação com os registros de imagens da ação performativa é o fato do espaço de apresentação da performance interferir na leitura desta e assim desencadear percepções particulares. A composição performativa em seu espaço-tempo próprio e único é distinta ou até mesmo anulada na sua imagem. O tempo próprio da performance, elemento estético imprescindível da ação, é desintegrado. (QUIROGA, BIANCALANA & SANTOS. P.5)

Figura 2 e 3 – Victor de La Rocque, Gallus Sapiens parte 2 – Performance, 2008. Foto © Octavio Cardoso

E novamente em:

Estas imagens mostram não apenas capacidade de proporcionar outras leituras ao trabalho, mas levam a crer que o que inicialmente se limitava a documentação agora ativa novas percepções e novas sensibilidades, podendo estabelecer uma experiência diferenciada com a performance.

(

QUIROGA, BIANCALANA & SANTOS, 2011, P.8)

Seria esse registro interferência que transforma como nos relacionamos com a obra do artista?

Gallus Sapiens possui uma força imensa de provocar inquietação no espectador, como descreve

Orlando Maneschy em seu texto relativo a Coleção Amazoniana de Arte da UFPA:

Nessa busca, encontra-se uma das potências do trabalho no momento em que o artista olha para a vida e quer identificar até onde nossa animalidade chega. A metáfora do “Gallus Sapiens” afeta por nos retirar dos papéis de conforto e nos colocar frente a frente com o estranho, com aquilo que não conseguimos dar conta. O artista, tal qual uma entidade de um culto ancestral, se coloca diante de símbolos de poder da cidade e os observa. O cansaço, a sofreguidão parecem dar lugar a um estado alterado de consciência nesse misturar de corpo vivo e corpo que morre em pontos estratégicos da cidade(...)”(MANESCHY, 2008, P.23)

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Figura 4 – Victor de La Rocque, Gallus Sapiens parte 3 – Performance, 2010 Foto © Luciana Magno

Ao captarmos tal ação, dissociada de seu contexto, através de uma imagem, a nossa relação com aquela performance e se torna indireta e a imagem passa a ser nossa mediadora, pois nela se faz presente a percepção do fotógrafo, agindo como um “mensageiro” que leva a mensagem proferida até nós com suas próprias palavras, sejam elas fiéis ou não. Novamente Boito gera reflexões ao redor de tal questionamento:

Esse realismo supostamente inegável da fotografia entra em crise se entendemos a fotografia não com relação a seu passado, mas antes com relação a seu presente. Se entendemos que a fotografia muda, que é outra em cada instância em que é olhada, então não há uma realidade a que esta remeta. Cada fotografia se torna uma evidencia material de algo inegável e passa a ser o lugar de uma relação dialética entre passado e presente. ( BOITO, 2013, P.42)

É inegável que tal registro tem poder de transmitir a ação com igual, menor ou até maior intensidade, tudo depende de intenção daquele que o realizou. Quando assistimos ao vídeo da performance A Coisa em Si, de Oriana Duarte, é possível compreender a ação em si, porém é difícil conseguir abarcar toda a sua complexidade apenas pelo video - já é constituído todo um território pela artista, com sua instalação denominada Barco na qual a performance ocorre dentro da Feira do Ver-o-Peso -, pois pelas limitações da época, o registro é simples, porém o conteúdo da performance é forte. Orlando Maneschy, em seu artigo Outros Lugares: Experiências Artísticas,

Deslocamentos E Afetos para o 24º Encontro da ANPAP, fala aqui sobre essa forte relação da artista

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Oriana Duarte prepara e toma uma sopa de pedras, empregando minérios que traz consigo, do local onde passou anteriormente e a performance se deu, para juntar a outros do novo lugar em que o trabalho irá ocorrer, estabelecendo articulações que se sucedem e que ativam transformações a cada novo local, ora na fricção entre essas materialidades heterogêneas, ora na elaboração de cartografias particulares, que - no movimento e no contato, em que instaura uma “coisa-lugar” possível, com sua instalação Barco, onde performatiza ingerindo sua sopa -; institui um ponto irradiador para a ação, sendo com este barco que atravessa diversas paisagens nas quais a performance ocorre. (MANESCHY, 2014, p. 3)

Figura. 5 – Oriana Duarte, A Coisa em Si - Sopa de Pedras – Belém, 1998 - Frame Vídeo

A força de tal trabalho não se torna tão evidente sem a compreensão mais profunda não palpável apenas pelo registro do video, mas soma-se aos documentos, fotografias, objetos, bordados que a artista junta no Gabinete de Souvenirs da Coisa em Si, constituindo um campo de potência para que o espectador apreenda a obra em sua complexidade. Midas, videoperformance de Armando Queiroz nos apresenta também uma ação de grande força e que causa incômodo, inquietação direta com seu registro frontal em que ingere pequenos besouros vivos. A relação com Serra Pelada, a luta pelo ouro se faz presente e compreendida, ao perceber-mos o artista com todo seu corpo dourado e sua boca aberta com os besouros se movimentando, devorando-o e sendo devorados por ele. É difícil descrever a sensação tão rápida quanto ela é sentida. O impacto do vídeo, da imagem em si, é instantâneo, muito mais veloz do que a compreensão racional e a descrição detalhada do sentimento causado pelo que se vê. Natalia Brizuela, em seu livro

Depois

da fotografia: Uma Literatura Fora de Si,

descreve:

As imagens visuais permitem uma velocidade que a palavra escrita não tem: são, literalmente, instantâneas. É interessante que a capacidade de reproduzir com maior velocidade o que se queria representar deixa de fora de jogo o mimetismo

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supostamente natural do meio fotográfico – ainda que claramente jogue com essa semelhança da imagem.( BRIZUELA, 2014. P.20)

Figura 6 – Armando Queiroz, Midas – Vídeo/Performance - 9'59'', 2009.

E, ainda, assim como Midas, a obra de Lúcia Gomes IMPEACHMENT carrega consigo um impacto muito forte. Ao se reportar ao fato de uma adolescente ser trancafiada dias em uma cela com homens, com os quais trocava favores sexuais por comida no interior do Pará, Gomes realiza uma obra potente, cheia de indignação. A expressão, posição e interpretação presentes na fotografia são inexoravelmente palpáveis, garantindo que o espectador sinta-se comprometido com a cena. Maneschy, no inicio de seu artigo Lúcia Gomes – A Vida É O Trabalho fala sobre o trabalho da artista:

A obra da artista visual paraense Lúcia Gomes está inscrita em um campo de proposições em que performances e ações públicas estabelecem um espaço relacional em que o espectador transforma-se em participante ao entrar em contato com os procedimentos da artista. (MANESCHY, 2007, p.1)

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Em casos em que a compreensão do registro se dá de forma mais longa, em sua performance sem título orientada para vídeo, Luciana Magno mergulha lentamente nas águas da Amazônia, prendendo a atenção do espectador até que ela esteja submersa. É no tempo lento, dilatado da imagem que vamos mergulhando no trabalho. Com uma poética profunda e delicada, como relatada por Orlando Maneschy no livro Amazônia, lugar da experiência, da Coleção

Amazoniana de Arte:

Em incertos lugares, em femininas aguas que penso ora mergulharm quase me aproximo do rio Lete e entro no subterrâneo Hades: antes, no entanto, um inesperado descaminho desfaz a rota do esquecimento enquanto meu corpo flutua sobre um regato que desconheço(...). (MOKARZEL, 2012, p.41)

Figura 8 – Luciana Magno, Sem título- Frame do vídeo – 0’30”, 2012.

Ainda, ao falar de trabalhos que desenham-se ao longo de processos, em que se faz necessária um aprofundamento para a compreensão de um conjunto de ações e/ou experiências, Alexandre Sequeira, apresenta em seu relato Imagem, realidade e fabulação: a reinvenção da

memória na Vila de Lapinha da Serra, uma experiência complexa, que se perfaz por meio de

fotografias, textos e principalmente seu próprio relato oral. Apesar de a imagem carregar consigo grande peso, sem a fala do artista muito se torna incompleto. Em seu texto, publicado no catálogo do Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia de 2012, ele fala sobre questões voltadas para o a veracidade do registro fotográfico:

Quem de nós ousaria contestar o valor documental de uma fotografia? Que a fotografia, enquanto mecanismo de apreensão de dados concretos, traz, em sua própria constituição, o fiel registro de uma impressão luminosa, ou, nas palavras de Barthes, “do referente que adere”?(...). Mas qual de nós jamais se frustrou ao estabelecer comparações entre algum referente e seu registro fotográfico? Qual de nós não viu na imagem capturada apenas uma pálida impressão do momento elemento ou do momento vivido, e se sentiu estimulado a reconfigurá-la, com

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tantas outras camadas quantas pudesse resgatar de seu inventário particular? (SEQUEIRA, 2012, p.142)

Figura 9 – Alexandre Sequeira, Imagem, realidade e fabulação: a reinvenção da memória na Vila de Lapinha da Serra – Relato de experiência e fotografias- 2012 (imagem que compõe parte do trabalho)

Para compreensão ampla de tal experiência, todos os registros são necessários, e por que não ver a própria fala do artista como um ato performático? Sua postura, seu tom, a forma da qual ele relata, tudo é uma escolha, e sua interpretação de como tudo ocorreu carrega consigo uma essência puramente performática, a qual a associada ao todo, traz significação e compreensão mais profunda do que é apresentado, além disto, o próprio relato suscita ao ouvinte novas imagens.

Tais resultados aqui expostos são um pouco do que vimos pesquisando acerca da produção destes artistas e que estamos organizando em artigo a ser encaminhado a evento científico. O desenvolvimento já foi concluído, porém, pela limitação do tamanho do relatório, não pôde ser completamente aqui inserido.

Conclusão

Após o período despendido na pesquisa aqui relatada, ficou claro o potencial do tema explorado, bem como a vastidão do que há a ser refletido. O conteúdo aqui relatado ainda é muito pouco perto da imensidão do universo da arte paraense, porém, não deixa de ser relevante para a compreensão do todo o recorte apresentado aqui. A performance e a fotografia no Pará caminham fortemente unidas, até possível dizer que inseparáveis, seja a fotografia por seu caráter indexical, ou seja, de remeter a um acontecimento ou fato, logo, um recorte do tempo, sendo este muitas vezes essencialmente performático. Ou ainda, pela performance frequentemente incitar o publico a registrá-la de alguma forma, ainda que, por vezes, este carregue a imagem somente em sua memória, está imagem também remete a um momento do tempo, dissociado do todo, um recorte do

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real (seja ele qual for). No caso específico da performance no Pará, grande parte desta é orientada

para a fotografia e/ou para o video, como vimos aqui, o que reforça nossa percepção acerca da particularidade existente aqui.

Os sujeitos inseridos em todo esse meio e suas relações presentes com a imagem e com a interpretação foram o foco de tal pesquisa. A força e conteúdo de tais imagens no cenário da arte paraense foram, e ainda serão esmiuçadas, questionadas e objeto de novas reflexões. Nosso cenário ainda possui muito conteúdo a ser abordado e compreendido.

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MOKARZEL, Marisa. Terras Amazonianas. Terras Brasilis. In: MANESCHY, Orlando (org). Amazônia, Lugar da Experiência – processos artísticos na região Norte dentro da Coleção Amazoniana de Arte da UFPA. Belém: UFPA, 2013.

SEQUEIRA, Alexandre. Imagem, realidade e fabulação: a reinvenção da memória na Vila de Lapinha da Serra. In: Catálogo Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia: memórias da imagem/ Mariano Klautau Filho... [et al] – Belém: Diário do Pará, 2012

VANHAESEBROUCK, Karel. Teatro, Estudos Performáticos E Fotografia: Uma História De Contaminação Permanente. Revista Performatus. Nº 4. Mai 2013.

DIFICULDADES: A dificuldade encontrada foi a de ser uma discussão que conta ainda com pouca publicação específica sobre o tema na Região, mas a despeito disto, cremos ter conseguido levantar material e produzir reflexão a contento.

PARECER DO ORIENTADOR:

A discente vem desenvolvendo estudos dirigidos, pesquisas em acervos, levantamento de imagens e ordenamento de informações, resgatando um momento significativo da imagem na arte

contemporânea paraense e realizando reflexões. Dedicada, a discente vem não apenas analisando obras, mas coletando artigos e estabelecendo um arquivo virtual sobre o tema, o que contribui para a pesquisa maior, assim, acreditamos no potencial da discente e continuaremos trabalhando com a mesma em novo sub-projeto.

Este é o parecer.

Prof. Dr. Orlando Maneschy

INFORMAÇÕES ADICIONAIS: Em caso de aluno concluinte, informar o destino do mesmo após a graduação. Informar também em caso de alunos que seguem para pós-graduação, o nome do curso e da instituição.

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_____________________________________ ASSINATURA DO ORIENTADOR

_______________________________________ ASSINATURA DO ALUNO

Referências

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