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SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIO EM EDIFÍCIOS HOSPITALARES SOB O PONTO DE VISTA DA PROTEÇÃO DA VIDA HUMANA

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SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIO EM EDIFÍCIOS HOSPITALARES

SOB O PONTO DE VISTA DA PROTEÇÃO DA VIDA HUMANA

VALENTIM, Marcos Vargas (1); ONO, Rosaria (2)

(1) Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade São Paulo, (11) 3091-4915, valentimarq@gmail.com,

(2) Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade São Paulo, (11) 3091-4915, rosaria@usp.br

RESUMO

Este trabalho tem por objetivo apresentar uma discussão sobre as regulamentações municipal e estadual de São Paulo para adaptação de edifícios hospitalares existentes às condições mínimas de segurança contra incêndios e os desafios encontrados na elaboração desses projetos de adaptação. Considerando que o objetivo principal da segurança contra incêndio é a salvaguarda de vidas humanas, este trabalho apresenta esta questão com foco, principalmente, nas saídas de emergência e na compartimentação (medidas de proteção passiva vinculadas à proteção das pessoas), assim como nos planos de emergência específicos para este tipo de ocupação (devido às características específicas de grande parte de seus ocupantes, de mobilidade reduzida). Para tanto, é realizada uma análise crítica das exigências das regulamentações em questão, assim como de sua efetividade na implementação num projeto de adaptação de uma edificação hospitalar existente concebida na década de 1950 e que não havia sofrido uma intervenção completa no que se refere às condições mínimas de segurança contra incêndio.

Palavras chave: Segurança contra incêndios, edifícios hospitalares, saídas de emergência, compartimentação, plano de emergência.

ABSTRACT

This article aims at presenting a discussion about São Paulo´s Municipal and State Fire regulations for adaptation of existing health-care facilities to safety conditions. The challenges involving the fire protection design of an existing building are also presented. Considering that the main objective of fire safety is life safety, this article is focused mainly on fire exits, compartimentation and also on emergency plans for this specific building occupancy. In order to develop a critical analysis of those regulations, as well as to check the effectiveness of their fire safety requirements, a specific case study is presented, consisting of an existing building designed and built in the 1950, and never retrofitted.

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VALENTIM, M. V.; ONO, R. Página 2 - 16

1. INTRODUÇÃO

O principal objetivo dos sistemas de segurança contra incêndios em edificações é o de garantir a salvaguarda de vidas humanas. No caso de edifícios hospitalares, para se atingir esse objetivo, além de medidas de proteção contra incêndio compatíveis com o risco neste tipo de ocupação, deve haver um plano de emergência devidamente elaborado e implementado, pois se o incêndio não for controlado em sua fase inicial e houver a necessidade de remover os pacientes do local sinistrado, as consequências podem ser catastróficas. E não são raros os incêndios neste tipo de edificação.

Segundo Venezia (2013), no século XX há registro de três grandes incêndios em hospitais nos Estados Unidos com número significativo de vítimas fatais. O primeiro relatado ocorreu em Cleveland Clinic (Ohio), em 1929, levando a óbito 125 pessoas; outro ocorreu no St. Anthony Hospital (Illinois), em 1949, matando 74 pessoas e, um terceiro aconteceu no Mercy Hospital (Iowa), em 1950, registrando 41 mortes.

Segundo Hall (2013), entre 2007 e 2011, estima-se que incêndios em edifícios elevados resultaram na morte de 46 pessoas e o ferimento de 530. Dentre os que são mais acometidos por incêndios, estão os edifícios de apartamentos, os hotéis e os hospitais, que somados correspondem a 50% dos incêndios em edifícios elevados.

Na cidade de São Paulo, muitos dos edifícios hospitalares existentes foram construídos em uma época em que as exigências relacionadas a proteção contra incêndios eram praticamente inexistentes (há mais de 40 anos).

O edifício hospitalar é complexo, pois oferece uma quantidade imensa de serviços e, consequentemente, necessita de infraestrutura muitas vezes imperceptível aos olhos do usuário, mas que do ponto de vista da segurança contra incêndio, oferece grandes riscos e deve ser analisada com critério. Além da complexidade dessa infraestrutura despercebida, tais como caldeira, instalações fluido-mecânicas, sistema de climatização, instalações elétricas e lógica, e dos equipamentos médicos de diagnóstico e tratamento, há os centros cirúrgicos, as cozinhas industriais, as áreas de alimentação, almoxarifados, áreas administrativas e, por vezes, áreas de apoio didático-acadêmico como auditórios, bibliotecas e salas de aula.

Além disso, segundo Machry (2010), após a segunda metade do XX, houve um aumento significativo na complexidade funcional das instituições de saúde, tendo-se em vista a necessidade de equipamentos médicos e de sistema de infraestrutura mais refinados. Este processo levou às reformas de hospitais existentes para atender às novas necessidades.

O hospital é um organismo dinâmico, sempre em mutação: paredes e divisórias são seguidamente removidas, deslocadas e acrescidas; alterações espaciais se sucedem em decorrência de exigências

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administrativas e técnicas; novos equipamentos demandam suportes, apoios, suprimentos e instalações (água, energia elétrica e outros). (Brasil, 1995, p.11).

Segundo Venezia (2013) “A segurança contra incêndio deve também acompanhar as modificações ocorridas no decorrer da vida útil de um hospital, sempre proporcionando o nível de segurança projetado de acordo com a previsão de risco de incêndio esperado”

Atualmente, “um edifício destinado à saúde, dependendo do seu grau de complexidade, possui uma série de unidades e departamentos que são interdependentes entre si e (...) possuem funções especializadas, portanto necessitam de instalações diferenciadas. E para que as funções e o atendimento do estabelecimento possuam qualidade e exerçam suas atividades da melhor maneira, ele deve estar atualizado, ou seja, deve acompanhar os processos técnicos, médicos e administrativos” (MACHRY, 2010 apud MARINELLI, 2003:100) Sendo assim, e diante do exposto, deve-se dar atenção especial aos edifícios hospitalares, visto sua particularidade no que diz respeito à condição das pessoas, muitas vezes debilitadas, e sua condição de edifício complexo.

2. OBJETIVO

Este trabalho tem por objetivo apresentar os desafios encontrados na elaboração dos projetos para adaptação de edifícios hospitalares existentes às normas de segurança contra incêndios e fazer uma análise crítica acerca das regulamentações municipal, estadual e normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) que abordam este tema, com foco nas saídas de emergência, nos planos de emergência e na compartimentação.

3. MÉTODOS

A pesquisa foi realizada em duas etapas distintas, ou seja: a) Análise crítica das regulamentações de segurança contra incêndio na Cidade de São Paulo e das normas brasileiras da ABNT, com foco nas saídas de emergência, planos de emergência e compartimentação de edifícios hospitalares; b) Estudo de caso de um edifício hospitalar antigo que está em fase de projeto para ser adaptado às normas e regulamentações de segurança contra incêndios.

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4. ANÁLISE DAS REGULAMENTAÇÕES E NORMAS

Todo hospital a ser construído, reformado ou regularizado na cidade de São Paulo, no que tange à segurança contra incêndios, deve atender as regulamentações estaduais e municipais vigentes.

Atualmente, encontra-se em vigor para a cidade de São Paulo, o Decreto Estadual Nº 56.819/2011 (São Paulo, 2011) e suas respectivas Instruções Técnicas (ITs), além do Código de Obras e Edificações do Município de São Paulo – COE (São Paulo, 1992a, 1992b). Além das regulamentações citadas, analisou-se também a norma brasileira ABNT NBR 9077, de saídas de emergência, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT, 2001) sob o ponto de vista das exigências para edifícios hospitalares. Vale ressaltar que a ABNT não possui nenhuma norma específica para edifícios hospitalares. Para que seja possível uma análise mais objetiva, as exigências foram realizadas considerando o caso concreto de um edifício hospitalar antigo existente a ser adaptado às normas de segurança contra incêndios.

4.1 Regulamentações

Na ocasião em que o projeto do edifício hospitalar estudo de caso para adaptação às normas de segurança contra incêndios foi analisado (ano de 2010), estava em vigência o Decreto Estadual Nº 46.076/2001, que exigia para as edificações construídas anteriormente a 1983 apenas os sistemas constantes na Tabela 1 (Tabela 4 da referida regulamentação).

Tabela 1: Exigência mínimas para edificações existentes.

A Regulamentação Estadual atualmente vigente, de 2011, conta com uma Instrução Técnica (IT) que trata especificamente da questão de adaptação de edifícios existentes, a saber: IT Nº 43 – Adaptação às normas de segurança contra incêndios – edificações existentes. Este documento amplia o leque de exigências, se comparado à Regulamentação vigente à epoca em que o projeto foi aprovado (2010), conforme pode ser observado na Tabela 2.

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Ainda com relação à IT Nº 43, esta permite que algumas medidas de segurança sejam abrandadas em relação às novas edificações do mesmo tipo de ocupação (ainda a serem construídas), mas deixa claro no item 6.4 que medidas não contempladas nesta IT devem atender às ITs do regulamento vigente.

6.4 As medidas de segurança contra incêndio podem ser adaptadas conforme estabelecido nesta Instrução Técnica e, quando não contempladas, devem atender às respectivas ITs do Regulamento de Segurança contra Incêndio vigente.

Quanto ao COE, em seu Anexo 17 – Adaptação das edificações às condições mínimas de

segurança, estabelece, na seção 17.L.1, as condições mínimas necessárias para que uma

edificação possa ser considerada adaptada.

Na Tabela 2 são apresentadas as exigências mínimas relativas à segurança contra incêndios para que um edifício com as características deste estudo de caso possa ser considerada adaptada, segundo as três regulamentações até aqui relatadas. Abaixo desta Tabela, são apresentados comentários específicos dos autores sobre as exigências listadas.

Tabela 2: Análise comparativa entre as exigências contidas no COE, D.E. Nº 46.076/2001 e D.E. Nº 56.819/2011 no que tange a adaptação de edifícios hospitalares construídos anteriormente às regulamentações citadas.

Medidas de segurança contra

incêndios COE D.E.46.076/01 D.E. 56.819/11

Segurança Estrutural contra

incêndio - - X Compartimentação vertical X1 - X6 Compartimentação horizontal X2 - X6 Controle de materiais de acabamento e revestimento X 3 - X Saídas de emergência X X5 X7 Plano de emergência X4 - X Brigada de incêndio X - X Iluminação de emergência X X X Detecção de incêndio X - X8 Alarme de incêndio X X X Sinalização de emergência X X X Extintores X X X Hidrantes X X X9

1- Item 17.J.1 do D.M. Nº 32.329/92 – Exige apenas que exista 1,20 m de distância verga peitoril ou aba. 2- Item 17.J.2 do D.M. Nº 32.329/92 – Para andares com área superior a 1.000 m², deverá haver

setorização com área menor que 500 m² delimitado por elementos RF-60 (paredes e pisos) e RF-30 (portas).

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VALENTIM, M. V.; ONO, R. Página 6 - 16 3- Item 12.5 da lei Nº 11.228/92.

4- Embora o COE não faça nenhuma menção ao Plano de Emergência, quando da emissão da Intimação para Execução das Obras e Serviços (IEOS), em função da existência da ABNT NBR 15.219/2005 –

Plano de emergência contra Incêndios – Requisitos, a PMSP passou a exigir o cumprimento dessa. 5- O Parágrafo único do artigo 30 do Decreto determina que: “Para o dimensionamento das saídas de

emergência e do sistema de hidrantes das edificações e áreas de risco, anteriores a 20 de março de 1983, devem ser observadas as adaptações a serem estabelecidas nas respectivas Instruções Técnicas.”

A IT 11/2004 em seu artigo 5.16 determina: a) alínea b, que edificações com altura superior a 12 m que possuam escadas do tipo não enclausuradas (NE) seja adaptadas de modo que se tornem enclausuradas com PCF P-90 e alvenaria resistente ao fogo conforme IT 08; b) Alínea c, que os subsolos sejam isolados do pavimento térreo, para evitar a passagem de fumaça, gases ou calor; c) Alínea d, permite um acréscimo de 50% para as distâncias a serem percorridas até um lugar seguro.

6- A IT Nº 43 determina algumas regras para adaptação de edificações existentes.

7- A IT Nº 43 permite que escadas existentes, quando não estiverem em conformidade com a IT Nº 11

vigente, possam ser adaptadas. Admite, ainda, que a distância máxima a ser percorrida possa ser aumentada se sistemas ativos (sprinklers, detectores de fumaça, controle de fumaça) forem instalados.

8- A IT Nº 43 permite que edificações existentes, sem aumento de área ou altura, ou sem mudança de

ocupação, adotem a regulamentação vigente à época.

9- A IT Nº 43 permite a adoção de parâmetros da regulamentação vigente à época de construção. Para

edificios construídos anteriormente a março de 1983, determina os parâmetros mínimos.

Analisando a Tabela 2, pode-se observar que dentre as três regulamentações analisadas, a menos restritiva é justamente o D.E. Nº 46.076/2001, legislação que foi utilizada por ocasião da aprovação do projeto objeto deste trabalho.

Contudo, e considerando que concomitantemente à aprovação do projeto junto ao Corpo de Bombeiros, havia um outro projeto para adaptação da edificação as normas de segurança em trâmite na Prefeitura Municipal, prevaleceu o atendimento à regulamentação municipal, que é mais restritiva.

4.1.1 Saídas de emegergência

A saída segura de pessoas numa situação de incêndio é ainda uma questão que não está totalmente equacionada nem dominada, visto que as mortes ainda persistem. Determinar a velocidade e o tempo de deslocamento das pessoas em situações normais pode ser uma tarefa fácil; contudo, em situações de incêndio, tal determinação torna-se extremamente complexa devido aos vários fatores que podem interferir nesse processo.

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Os meios de circulação são projetados e construídos para proporcionar o escoamento das pessoas tanto em situações normais quanto em situações de emergência. Portanto, a fim de atender ao seu propósito, os mesmos devem proporcionar conforto (largura mínima, degraus uniformes, desobstruções) e segurança (corrimãos adequados, escadas protegidas, controle de materiais de acabamento, sinalização de emergência, iluminação) aos seus usuários.

Com relação às rotas de fuga, Berto (1991) afirma que:

A confiabilidade deste elemento deve ser, necessariamente, mais elevada que dos outros elementos do sistema, pois na hipótese do incêndio ocorrer, pondo em risco a incolumidade dos usuários do edifício, significando que outros elementos do sistema falharam, a evacuação segura do edifício não poderá falhar. Trata-se desta forma, do elemento mais importante e mais diretamente associado à segurança da vida humana, em caso de incêndio.

A segurança contra incêndios em edifícios passa fundamentalmente pela segurança das pessoas, o que significa criar condições, ou seja, provisão de rotas de fugas seguras, para que as pessoas possam abandonar o edifício de forma incólume.

Ao tratar da segurança dos ocupantes em um edifício, é importante entender e considerar os fatores que podem influenciar a resposta e o comportamento das pessoas frente a uma ameaça. A presciência do comportamento humano e a previsão da resposta comportamental é uma das mais complexas áreas da engenharia de proteção contra incêndios, se comparada a outras áreas desta ciência, visto que o entendimento do comportamento humano nestas circunstâncias ainda é limitado (VALENTIN, 2008). O tempo total de abandono é composto por várias parcelas de tempo e que a velocidade de caminhamento é somente uma delas. Faz-se necessário entender cada uma destas parcelas de tempo, pois Faz-se a somatória de tempos que precedem o caminhamento for muito alta, quando o ocupante decidir efetivamente iniciar o movimento, o limite tolerável pode ser mínimo, ou seja, os gases quentes e tóxicos podem já ter invadido as rotas de fuga ou o incêndio pode já ter se alastrado.

Com relação à distância máxima a ser percorrida até se atingir um local com relativa segurança, a Tabela 3 apresenta uma análise entre as três regulamentações e da Norma Brasileira que trata das saídas de emergências em edifícios (ABNT-NBR 9077, 2001).

Tabela 3: Análise comparativa entre as distâncias máximas a serem percorridas considerando-se a existência de detecção automática de fumaça (em metros)

NBR 9077 COE D.E.46.076/01 D.E. 56.819/11

Andares 40 251 55 45

Pisos de descarga - 45 - 60

1- O COE não permite aumento da distância de caminhamento com a instalação de sistema de detecção de

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Conforme demonstrado, pode-se perceber que existe uma grande variação entre as distâncias máximas a serem percorridas até atingir um local seguro. Segundo Ono (2010) “há algumas situações de ocupação do ambiente construído que, por sua natureza, necessitam de maior atenção, em relação ao projeto de saídas de emergência. Dentre estes estão os locais de grande reunião de público, como salas de espetáculo, estádios e outros de usos específicos, como hospitais”. Sendo assim, e diante da disparidade entre as distâncias de caminhamento, a pergunta que se faz é a seguinte: qual é a distância que melhor equaciona a dicotomia entre salvaguardar a vida das pessoas e a quantidade de saídas?

4.1.2 Plano de emergência

Dentre os objetivos de um plano de emergência está a proteção da vida das pessoas e redução das consequências sociais e econômicas de um sinistro; assim, dentre os vários quesitos de um plano de emergência, há aquele que diz respeito à evacuação dos ocupantes da edificação para um local seguro, fora da edificação.

Em edifícios hospitalares de múltiplos pavimentos, nem sempre é possível remover os pacientes para andares inferiores até atingir um local seguro fora da edificação, visto que parte deles estão acamados ou tem dificuldades de locomoção. Sendo assim, uma estratégia a ser adotada para estes casos é a de remover os pacientes da área sinistrada ou em risco para uma área livre dos perigos do incêndio, ainda que no interior do próprio edifício. Tal ação se dá por meio do que se denomina “realocação”, ou seja, a remoção da população para uma área protegida dos efeitos do incêndio. Esta área é, genericamente, denominada “área de refúgio”. No caso específico de edifícios hospitalares, o que se recomenda é a implementação de áreas de refúgio que permitam a realocação dos pacientes num movimento horizontal, num primeiro momento, sem a necessidade do uso de escadas ou elevadores. E para que essa remoção possa ser realizada de forma expedita, todos os funcionários devem ser treinados para saber lidar com tal situação, orientando e auxiliando os pacientes nesta ação.

Contudo, em pesquisa realizada em um hospital público de ensino, de Goiânia/Go, com profissionais de enfermagem, no ano de 2011, Rodrigues et al (2014) constataram que 80,7% não sabiam nem onde estavam localizados os extintores para o combate de um princípio de incêndio e 69,7 % não sabiam utilizá-los. Além disso, a maioria dos entrevistados não conhecia a rota de fuga (57,8%). Estas seriam premissas básicas que todo profissional que atua na área da saúde deveria conhecer, visto que se o incêndio não for controlado em sua fase inicial, pode atingir proporções que fujam do controle, sendo necessária a ação de remoção dos pacientes para tentar garantir a sua segurança.

4.1.3 Compartimentação

O principal objetivo de se compartimentar, ou seja, conter o fogo em áreas restritas, é certificar-se que, sob condições de incêndio, o edifício e sua estrutura não sofrerão colapso e o

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incêndio ficará contido dentro dos limites definidos para este propósito durante o tempo estimado (MALHOTRA, 1986). A compartimentação também pode ser definida como uma parte de um edifício delimitada por paredes e pisos resistentes ao fogo, cujo objetivo é o de conter o incêndio em seu ambiente de origem.

A norma NBR 14.432 que aborda as exigências de resistência ao fogo de elementos construtivos de edificações (NBR 14.532, 2001), estabelece os requisitos mínimos de estanqueidade e isolamento, cujo objetivo é o de evitar o colapso estrutural e permitir a saída dos ocupantes antes que o ambiente atinja condição crítica e, ainda, evitar a propagação dos produtos da combustão para os compartimentos adjacentes.

Para que uma vedação possa ser considerada resistente ao fogo, deve satisfazer três condições, ou seja: isolamento térmico, para evitar a passagem de calo; estanqueidade, para conter a passagem da fumaça e do fogo e; estabilidade, cujo objetivo é manter-se íntegra, suportando a carga para qual foi dimensionada.

De acordo com Negrisolo (2011), a divisão e a dimensão dos compartimentos determinam os tamanhos máximos prováveis de um incêndio e as regulamentações determinam as áreas máximas a serem compartimentadas por ocupação e altura e as aberturas das vedações devem possuir características de resistência ao fogo.

Em edifícios hospitalares, nas áreas de internação, a compartimentação é conseguida facilmente, visto que cada apartamento se torna uma célula. No entanto, em áreas tais como as unidades de terapia intensiva e pronto socorro, devido a logística de atendimento, tal subdivisão se torna mais difícil.

Devido à grande quantidade de instalações contidas em um edifício hospitalar, todo cuidado dever ser tomado para evitar que a barreira provida pela compartimentação seja rompida e coloque em risco a vida das pessoas. Portanto, deve haver conscientização de toda equipe de manutenção e gerenciamento do edifício que qualquer abertura que venha a ser realizada nos pisos e paredes das áreas compartimentadas deve ser vedada com meios de proteção que garantam sua estanqueidade.

4.1.3.1 Áreas de Refúgio

Áreas de refúgio consistem, basicamente, em áreas protegidas por compartimentação com a finalidade de abrigar pessoas com segurança no interior da edificação por um determinado tempo numa situação de incêndio. O objetivo dessa medida de proteção é permitir que pessoas não precisem, necessariamente, se deslocar por grandes distâncias, tanto na horizontal (corredores) como na vertical (escadas), para atingir um local seguro dos efeitos do incêndio, ainda dentro da edificação sinistrada.

A IT n° 11/2011 exige a instalação de áreas de refúgio para edifícios hospitalares classificados como H-3, com área mínima correspondente a 30% da área do pavimento, não

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se fazendo necessário a provisão de elevadores de emergência. Seria necessária a compreensão de como instalar tais áreas de forma que fossem efetivas numa situação de emergência. No entanto, não há clareza dos princípios básicos que deveriam orientar o seu projeto.

Embora a IT Nº 11 e o COE exijam áreas de refúgio, nenhuma delas faz menção à necessidade de garantir a existência de infraestrutura de suporte à vida que deve haver nestas áreas nos casos de edificações hospitalares, tais como oxigênio e gases medicinais, equipamentos médicos para manutenção da vida, energia alternativa (por geradores), elevador de emergência etc. Portanto, fica claro que atender as regulamentações e as normas não é condição suficiente para minimizar perdas de vidas humanas em caso de incêndio.

4.2 Estudo de caso

4.2.1 Descrição do edifício e da situação existente

O edifício em questão foi implantado em um terreno acidentado na cidade de São Paulo, possui área construída de aproximadamente 25.000 m², dez pavimentos e saídas para duas ruas. Uma das saídas para o exterior se dá no pavimento térreo (cota 4,95 m) e a outra, no pavimento térreo inferior (cota -0,30 m).

A altura mais desfavorável entre o piso de descarga (pavimento térreo) e o último pavimento ocupado (8º pavimento) é de 32,60 m. Existe, ainda, um mezanino no 8º pavimento com área de 77,00 m², mas por possuir pequena população não foi considerado na altura total.

Os grandes números que caracterizam a atividade hospitalar são apresentados na Tabela 4.

Tabela 4: O hospital estudo de caso em números

Ambulatórios 27 consultórios e 9 salas para confecção de aparelhos gessados, curativos etc

Pronto socorro 29.000 pacientes ao ano com afecções ortopédicas Leitos 158 leitos incluindo a UTI

Salas de cirurgia 13 salas cirúrgicas

Cirurgias 530 cirurgias por mês

Corpo clínico Aproximadamente 160 médicos

A área do pavimento-tipo (3º ao 7º pavimento) é de 1.665 m² e possui duas alas, ou seja, Ala A e Ala B. Do pavimento térreo inferior ao 2º pavimento, além das Alas A e B, existe uma terceira denominada Ala C com área de 595 m². E contiguo as Alas B e C existe um outro

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edifício denominado Pronto Socorro, interligado ao edifício principal, que se inicia no pavimento térreo inferior e vai até o 2º pavimento.

A escada central, onde se localiza também a maior parte dos elevadores, é o elo de ligação entre todas as alas. Além da escada central que possui largura de 1,80 m, existem mais duas escadas localizadas nas extremidades das Alas A e B com largura aproximada de 0,80 m e mais uma, também com 0,80 m, contigua à escada principal. Todas as escadas do edifício são abertas (não protegidas) conforme pode ser observado nas Figuras 1, 2 e 3.

Figura 1: Planta de um andar tipo – situação atual

Figura 2: Escadas de uma das extremidades Figura 3: Escada central

PRONTO SOCORRO ALA C

ALA B

ALA A ESCADA EXISTENTE NÃO ENCAUSURADA, ATENDE DO 8º AO 5º PAVIMENTO

ESCADA EXISTENTE NÃO ENCAUSURADA, ATENDE DO TÉRREO INFERIOR AO 6º PAVIMENTO

ESCADA EXISTENTE NÃO ENCAUSURADA, ATENDE DO 6º AO 2º PAVIMENTO

ESCADA EXISTENTE NÃO ENCAUSURADA, ATENDE DO 6º AO 1º PAVIMENTO

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Com relação aos meios de proteção ativa, o edifício é provido de sistema de hidrantes, alarme de incêndio acionado por botoeiras manuais, detecção de incêndio e iluminação de emergência em parte do edifício.

Quanto à proteção passiva, além das escadas já mencionadas, os shafts possuem compartimentação vertical, mas com avarias (Figura 4) e não existe compartimentação horizontal, conforme pode ser observado na Figura 5. Os materiais de acabamento e revestimento predominantes são os seguintes: piso tipo granilite, parede de alvenaria e forro de gesso/fibra mineral, existindo ainda extintores manuais. As áreas de descarga encontram-se no pavimento térreo e térreo inferior.

Figura 4: Compartimentação de shaft vertical avariada Figura 5: Ausência de compartimentação horizontal no entre forro

4.2.2 Proposta para adequação do edifício à Segurança contra incêndio

O conceito da adaptação partiu da premissa de que realizar a remoção de pacientes na vertical (por escadas e elevadores) é tarefa difícil. Sendo assim, optou-se por criar áreas de refúgio no próprio pavimento, para deslocar os pacientes horizontalmente em caso de incêndio no andar. Em função das regulamentações que limitam as distâncias de caminhamento até um local seguro e do pressuposto que sempre deve-se ter duas saídas, cada uma das três Alas contariam com duas escadas protegidas e elevadores de emergência. Desta forma, as pessoas sempre teriam uma segunda alternativa de escape. Para o edifício do Pronto Socorro também propôs-se uma nova escada externa.

Optou-se pela demolição das escadas diminutas localizadas originalmente nas extremidades das Alas, visto que nenhuma estava em conformidade com as regulamentações/normas vigentes. As três novas escadas propostas atenderão a todos os pavimentos das respectivas Alas além da escada central existente que também passará a atender todos os pisos e da nova escada do edifício do Pronto Socorro. Todas as escadas novas foram projetadas de modo a

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interferir o mínimo possível no dia-a-dia do hospital, sendo assim, foram concebidas de modo a ficarem do lado externo da edificação (torres adicionais).

Figura 4: Planta de um andar tipo com as soluções de adaptação das saídas de emergência e compartimentação.

O grande desafio foi o de tornar a escada central existente protegida. Dentre as possibilidades permitidas pelo COE, regulamentação mais restritiva e adotada neste caso, no que diz respeito aos tipos de escada, a solução menos traumática foi a sua pressurização. No entanto, fez-se necessário encontrar um local amplo no pavimento térreo inferior para instalar os equipamentos do sistema de insuflação, além da área para a instalação do duto vertical para insuflação do ar.

Propôs-se a substituição de todo sistema de alarme de incêndio por botoeiras, assim como novas instalações para o sistema de detecção de fumaça, de iluminação de emergência e de sinalização de emergência.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste trabalho foi possível constatar que existem lacunas nas regulamentações e normas no que diz respeito a provisão de proteção adequada para edifícios hospitalares, principalmente quanto às áreas de refúgio, local que deveria ser provido de toda infraestrutura para manter as ESCADA NOVA

PRESSURIZADACOM ELEVADOR DE EMERGÊNCIA

ESCADA NOVA COM VENTILAÇÃO E COMELEVADOR DE EMERGÊNCIA ESCADA EXISTENTE A SER PRESSURIZADA ESCADA NOVA PAREDE DE COMPARTIMENTAÇÃO PAREDE DE COMPARTIMENTAÇÃO ESCADA NOVA. ATENDE AMBULATÓRIO ALA A ALA B ALA C PRONTO SOCORRO RUA RUA RUA

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pessoas e principalmente os pacientes com dificuldade de locomoção em segurança durante um sinistro. Outra questão importante observada diz respeito à importância da implementação de um plano de emergência e do treinamento periódico dos funcionários do hospital para as ações em situação de emergência.

Ressalta-se que as instalações físicas não constituem o único fator condicionante para que um processo de abandono seja bem-sucedido. É extremamente importante que exista uma estratégia de abandono e um gerenciamento do sistema com o objetivo de garantir que, quando solicitado, todo o conjunto funcione.

O estudo de caso apontou que se os profissionais responsáveis pela elaboração dos projetos de adaptação de edificações existentes restringirem-se a atender somente as exigências contidas nas regulamentações vigentes, podem estar aquém das condições mínimas de segurança contra incêndio, principalmente para situações complexas, como a de edificações hospitalares.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Referências

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