Competência
A Competência das Famílias
A
das
Famílias
Guy Ausloos
Guy
Ausloos
Os conceitos apresentados neste livro
estão sendo utilizados de forma
recorrente nos atuais projetos sociais
no Brasil, e é publicado em um
momento extremamente oportuno
para os profissionais que estudam
e trabalham as questões em torno
da família.
Com narrativa apaixonante sobre
o tema, o autor analisa as trocas
que se estabelecem nas relações
familiares, e reflete sobre novas
abordagens terapêuticas às famílias
em situação de crise, no atendimento
clínico e comunitário.
Guy Ausloos é psiquiatra, psicanalista,
terapeuta de família, professor
catedrático da Universidade de
Montreal (Canadá) e membro
da European Family Therapy
Association (EFTA). Autor de mais
de uma centena de artigos, possui
grande experiência com adolescentes
em situação de marginalidade,
e é especialista no atendimento
às famílias desses jovens.
Neste belo livro, Guy Ausloos
nos lembra de que as famílias
podem nos ajudar a criar
e a beber na fonte criativa
e inovadora do caos.
Proporcionando ao leitor
a possibilidade de se mover
livremente pelos textos, trata
do tempo, da complexidade
e dos mistérios da competência
das famílias, abordando
magistralmente a arte
do encontro terapêutico.
Na paciência da espera pelo
tempo da mudança, encontramos
o respeito pela gestação das
experimentações que conduzem
às transformações no intervalo
das consultas das “breves
terapias longas”. O olhar amoroso
da conotação positiva do que
mais perturbou o terapeuta nas
sessões conduz a surpreendentes
caminhos de parceria que
revelam a humanidade de todos.
Daí nasce a constatação de que
os terapeutas precisam das
famílias para fazer o seu
trabalho: sem essa colaboração,
sem esse reconhecimento da
sabedoria e da competência das
famílias, não há movimento e nem
progresso possível.
Iluminar as competências mais
do que as falhas e fazer circular
a informação são passos
essenciais para ativar o processo
de mudança, abrindo caminhos
para que a própria família
encontre suas soluções. Isso
significa, sobretudo, reconhecer
que “não há famílias resistentes,
há terapeutas desajeitados”.
É preciso superar o medo que
nos faz fugir do caos buscando
desesperadamente a ordem
e o controle para que seja
possível fortalecer a coragem
de extrair a riqueza do caos e,
com isso, desabrochar como
seres humanos.
MARIA TEREZA MALDONADO
Terapeuta de família e escritora.
Membro da American Family
Therapy Academy
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Títulos da ABTH em nosso catálogo:
A competência das famílias Acolhimento familiar Cuidar de quem cuida
Série em defesa da convivência familiar e comunitária: 1 Trabalho social com família
2 Colocação familiar 3 Do abrigo à família 4 Violência intrafamiliar
5 Acolhimento familiar
homepage / e-mail da instituição:
www.terradoshomens.org.br terradoshomens@terradoshomens.org.br
Endereço:
Av. General Justo, 275 - gr. 518 Tel.: (21) 2524-1073 Centro - Rio de Janeiro - RJ
Copyright © 2011 Guy Auloss Título original em francês:
La compétence des familles temps, chaos, processus
Éditions éres, 2002 (1re édition 1995) Nenhuma parte deste livro pode ser utilizada ou reproduzida, em qualquer meio ou forma, seja digital, fotocópia, gravação etc., nem apropriada ou estocada
em banco de dados, sem a autorização do autor.
Capa
Demanda Editorial Tradução
Equipe da Terra dos Homens Revisão técnica
Cynthia Ladvocat
Editor
Glauco de Oliveira
Direitos exclusivos desta edição: Booklink Publicações Ltda. Caixa Postal 33014 22440 970 Rio RJ Fone 21 2265 0748 www.booklink.com.br booklink@booklink.com.br
A competência das famílias / Guy Ausloos – Rio de Janeiro : Booklink , 2011.
200 p. ; 20,5 cm.
ISBN: 978-85-7729-125-0
1. Psicologia. 2. Psicologia social. 3. Psicologia – teoria e prática. 4. Terapia familiar. I. Ausloos, Guy. II. Título.
A Competência
das Famílias
tempo caos processo
Sumário
Prefácio / Claudia Cabral ... 7
Introdução à edição brasileira / Cynthia Ladvocat ...
11
Agradecimentos ... 15
Introdução ... 17
I - Tempo 1. Saber esperar: o tempo do processo ... 23
2. O tempo para Jacqueline nos ensinar... ... 40
3. Viver o tempo ... 53
II - Caos 4. Caos familiar, ativação terapêutica ... 69
5. Caos e complexidade ... 113
6. Do caos suicida à competência das famílias ... 139
III - Processos 7. O processo de designação ... 153
8. Alguns processos patológicos ... 162
9. Processo parental, processo institucional: dos pais-clientes aos pais-colaboradores ... 176
7
Prefácio
Claudia Cabral1
Conheci Guy Ausloos no ano 2000, após um Congresso da As-sociação Brasileira de Terapia Familiar (ABRATEF) em Brasília. Nesta ocasião, ele veio ao Rio de Janeiro com sua esposa Marilyn e foram convidados a visitar a sede da Associação Brasileira Terra dos Homens. Foi quando se iniciou a aproximação de Guy com o nosso trabalho, com o Brasil e, deste momento em diante, minha admiração por ele só aumentou.
No ano seguinte, tive a oportunidade de encontrá-lo em Gene-bra, num encontro francófono promovido pelo Cefoc – Centro de Estudos e de Formação Continuada da Haute Ecole de Travail So-cial - IES (Instituto de Estudos Sociais). Em 2002, 2003 e 2004, Guy Ausloos voltou ao Brasil para realizar supervisão e capacitação com trabalhadores sociais. No final de 2005 tive o prazer de nova-mente recebê-lo em ocasião do II Colóquio Internacional sobre Fa-mílias Acolhedoras em Campinas momento em que iniciávamos o movimento nacional pró-Convivência Familiar e Comunitária atra-vés da criação de um Grupo de Trabalho nacional no tema. Todos ficaram igualmente impressionados com o conteúdo e a forma com que Guy repassa seus valores e teorias.
A relação construída com Guy ao longo destes anos permite-me dividir com você, leitor, a rica experiência de conviver com uma pessoa tão especial e exercitar a prática de sua teoria, ensinada, an-tes de tudo, através de sua forma de ser. Os conceitos básicos como
1 Psicóloga, terapeuta de família e diretora-executiva da Terra dos Homens.
8
“redefinição” e “conotação positiva” são facilmente identificados em seu comportamento cotidiano.
Acredito que sua maneira de perceber o mundo, aqui transcri-ta na teoria, é especialmente útil, nos dias de hoje, na área social no Brasil e no mundo. A partir desta abordagem, toda mudança de ati-tude por parte dos operadores sociais resulta na tentativa de desen-volver a competência do outro sem interferir diretamente em suas decisões. Para tal, é necessário aplicar o que Guy chama de lâcher prise termo difícil de ser traduzido que poderia ser definido como
uma espécie de “soltar as rédeas”, ou seja: “não pense em controlar
tudo; não assuma o que não é de sua responsabilidade; deixe que o outro se responsabilize por suas decisões; acredite nele; ajude-o a abrir seu próprio caminho, principalmente através de seu próprio comportamento enquanto operador social, agente de mudanças e de transformações”.
Sensível a tudo que se aproxima do social, Guy tem contribuído enormemente com esta área no Brasil, mais especificamente no Rio de Janeiro. De forma voluntária, promoveu a capacitação de fun-cionários da Prefeitura do Rio de Janeiro e de uma rede de ONGS, o que é um privilégio, visto sua renomada reputação no exterior.
O presente livro, que vem sendo utilizado de forma recorren-te nos atuais projetos sociais, é lançado no Brasil em um momento extremamente oportuno. Há cinco anos, o governo brasileiro atra-vés da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, com o apoio do UNICEF e do Instituto C&A, vem investindo na implementação do Plano Nacional de Direito a Convivência Familiar e Comunitá-ria, propondo uma rede de ação em território nacional no traba-lho social com família. Este debate vem acontecendo também em nível internacional promovido pelo Comitê de Direitos da Crian-ça da ONU, com o objetivo de implementar as diretrizes interna-cionais para o trabalho com crianças afastadas dos cuidados paren-tais inscritas do documento aprovado em Assembleia das Nações Unidas, em dezembro de 2009, sobre Cuidados Alternativos. Nes-ta perspectiva, a prevenção remonNes-ta novamente ao trabalho com e para as famílias. Nota-se que a temática “família” é hoje
frequente-9
mente debatida em todo território nacional e em foros internacio-nais de grande escala.
Acredito que estamos de fato no caminho para a solução dos inúmeros problemas que assolam a área da infância e juventude sem proteção. A Assistência Social no Brasil, ao longo de sua histó-ria, desacreditou na capacidade de reorganização dos núcleos fami-liares mais desfavorecidos e investiu na necessidade do governo ou das ONGs para que assumissem diretamente a educação dos que viriam a ser os “filhos do governo”. Atualmente toda uma políti-ca de matricialidade na família norteia as propostas de ação da As-sistência.
Hoje a Terra dos Homens tem o grande prazer de lançar a edi-ção brasileira deste livro. Sem dúvida, um documento norteador de práticas alternativas, com foco na desconstrução do princípio assis-tencial, tão marcado na prática do enfrentamento às violações con-tra crianças e adolescentes. Nestas páginas o leitor poderá entender melhor o significado do termo ‘empowerment’, hoje traduzido no Brasil como ‘empoderamento’, mencionado em vários documen-tos, mas de compreensão muitas vezes ainda indefinida.
11
Introdução à edição brasileira
Cynthia Ladvocat1
Em agosto do ano 2000, após o IV Congresso Brasileiro de Te-rapia Familiar, em Salvador, Bahia, Guy Ausloos esteve na sede da Associação Brasileira Terra dos Homens, onde ministrou supervi-são de casos. Sua abordagem focada na competência das famílias surtiu profundas mudanças no trabalho dos técnicos no atendimen-to de famílias no contexatendimen-to social. Desde então Guy Ausloos vem participando de eventos promovidos pela Terra dos Homens. Nes-se ano de 2011, a Booklink Publicações e a Terra dos Homens lan-çam a primeira edição brasileira deste livro. Guy Ausloos me con-cedeu uma entrevista com as seguintes questões, as quais foram publicadas no Jornal da Associação Brasileira de Psicanálise, ano VII,
2003.
Sobre seu percurso biográfico
Guy Ausloos é psiquiatra, psicanalista e terapeuta de família.
É professor catedrático da Universidade de Montreal – Canadá; e membro da European Family Therapy Association (EFTA). Guy Ausloos tem grande experiência com adolescentes e jovens no cam-po da marginalidade e da psiquiatria e é especialista no atendimen-to às famílias desses jovens.
Nascido em Bruxelas em 1940, Guy Ausloos conclui seu cur-so de graduação em filocur-sofia em 1959 e o doutorado em medicina
1 Psicóloga, psicanalista, terapeuta de família, membro do Conselho da
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em 1968. Adquire a especialização em psiquiatria na Suíça em 1972. Como todos os psiquiatras da época, ele inicia a formação psicana-lítica, faz análise pessoal e didática por seis anos. Torna-se chefe clí-nico em psiquiatria infantil e coordena a unidade de psiquiatria le-gal de jovens delinquentes, em Lausanne. É nomeado professor da Universidade de Lausanne e da Universidade de Genebra. Emigra para o Canadá em 1986 e como professor catedrático de psiquiatria da Universidade de McGill, passa a trabalhar no departamento de Psiquiatria de Rouyn-Noranda. Em 1990 é nomeado professor
ca-tedrático de clínica da Universidade de Montreal, onde também tra-balha como responsável pelo hospital dia do Hospital Douglas, na clínica de jovens adultos do Hospital Louis H. Lafontaine, no cen-tro de acolhimento Quatre Vents e nos refúgios para jovens sem abrigo de Montreal, funções que ainda ocupa atualmente.
É autor de mais de uma centena de artigos e coautor do livro
Marginalidade, sistema e família que está na sua 4a edição e do livro A
competência das famílias. É membro-fundador da revista Thérapie Fa-miliale e da coleção Relations. Guy Ausloos passou a se dedicar à
área de terapia familiar em 1971. Passou a atender as famílias dos pacientes psiquiátricos e foi supervisionado em Lausanne por Luc Kaufmann, psiquiatra suíço que havia chegado dos Estados Uni-dos. Iniciou sua prática de terapia familiar e participou de seminá-rios com Mara Selvini, Giuliana Prata e Salvador Minuchin. Organi-zou os primeiros congressos de terapia familiar na França. Depois de um Congresso em Londres, criou um grupo de pesquisa sobre o trabalho com famílias em Genebra. Em 1980, fundou a Associação Genovesa de Terapia Familiar.
Sobre o trabalho com famílias de pacientes psiquiátricos
Nas instituições psiquiátricas do Quebec, Guy Ausloos está atento na dinâmica da família com crianças e adolescentes em con-flito. Em 1993 apresentou o trabalho “Caos e Complexidade” em um Congresso no Canadá, onde ele propôs um passo decisivo na psicoterapia moderna. Ele defende a ideia de que em uma
psicote-13
rapia o importante é não deixar de lado a família, nem o enquadra-mento social, nem certamente as próprias respostas institucionais, pois qualquer perspectiva terapêutica baseada nesta dialética tem muito mais hipóteses de progresso. Os interventores sistêmicos de-vem poder falar da doença mental junto dos familiares, que ficam desamparados e necessitam de orientação e de informação. Guy Ausloos acredita que é do caos que emerge, de forma imprevisível, uma autossolução que permitirá ao sistema familiar se auto-orga-nizar. A questão na clínica estende-se de forma pertinente sobre as dificuldades do crescimento do grupo familiar e progride na desco-berta do sentido presente nelas.
Sobre o processo terapêutico com a família
O terapeuta, o técnico, o trabalhador social, ou seja, todos os in-terventores sistêmicos devem buscar informações pertinentes vin-das da própria família, para que elas possam ter recursos que pos-sibilitem a transformação. O interventor deve ativar esse processo para modificar a realidade da família, dar uma nova forma. Fazer terapia não é resolver problemas ou corrigir erros, mas mergulhar no mistério da família competente, mais do que procurar receitas para tratar a família disfuncional. Isto implica passar de uma tera-pia onde o interventor observa uma teratera-pia, para uma teratera-pia onde o interventor se observa de forma a refletir essa percepção sobre a família. O objetivo da intervenção sistêmica é ajudar a família na sua competência para encontrar uma solução para seus problemas. Guy Ausloos chama a atenção sobre a capacidade do interventor em transmitir à família a ideia da importância da colaboração dos membros para o sucesso da terapia. Considerar a família competen-te é acreditar que a família pode resolver suas questões, mas que não está conseguindo porque está paralisada. O interventor ativa esse processo, manejando sua técnica de maneira que a família possa sair desse estágio de paralisação e recuperar seu equilíbrio. Um compor-tamento sintomático e os conflitos intrafamiliares oferecem aos in-terventores uma visão sobre o funcionamento do indivíduo e do