MARLEI DE CHAVES ROCHA
ESTUDO COM PARATI VO SOBRE A AUTO- I M AGEM DE
M ULHERES COM DI AGN ÓSTI CO DE AN OREXI A E BULI MI A
N ERVOSA POR M EI O DO M ÉTODO DAS M AN CHAS DE TI N TA DE
RORSCHACH
Pont ifícia Universidade Cat ólica
São Paulo
MARLEI DE CHAVES ROCHA
ESTUDO COM PARATI VO SOBRE A AUTO- I M AGEM DE
M ULHERES COM DI AGN ÓSTI CO DE AN OREXI A E BULI MI A
N ERVOSA POR M EI O DO M ÉTODO DAS M AN CHAS DE TI N TA DE
RORSCHACH
Trabalho de conclusão de curso com o exigência
parcial para graduação no curso de Psicologia, sob
orient ação da Profª . Drª . Marina Pereira Gom es.
Pont ifícia Universidade Cat ólica
São Paulo
AGRADECI M ENTOS
Agradeço a Deus por t er m e proporcionado a realização deste sonho.
Aos m eus pais por t erem m e ensinado valores que carregarei com igo
et ernam ente.
À m inha am adíssim a m ãe por ser m inha am iga, conselheira e por est ar ao
m eu lado nos m om entos de dor e tam bém de felicidade.
Às m inhas am igas puquianas: Natália Ferrari, Paula Braga, Carol Vieira e
Andrea Morgant i am igas queridas que aj udaram a tornar esses cinco anos
m ais suaves e felizes.
Às m inhas am igas de t oda a vida: Neide, Nat alia Hirat a, Eliane, Sandra e
Sara pelo carinho, incent ivo, escut a e com preensão.
Aos am igos queridos Silas Melo e Selm a Soldi pelo apoio e confiança de
sem pre.
À Luciana de Ornelas Mont ini por m e aj udar a cam inhar ao encont ro de m im
m esm a.
À equipe de professores da PUC- SP pelo com prom et im ento, dedicação,
respeit o e incent ivo.
À m inha orientadora Prof.ª Dra. Marina Pereira Gom es pela paciência,
delicadeza, zelo e respeit o. Agradeço suas im port antes sugest ões, com
adm iração por sua possibilidade em acolher, com preender e auxiliar na
realização desse t rabalho.
Rorschach, se não fossem as suas aulas cert am ente não teria m e
apaixonado t ant o por ele.
À Laura e Bia, part icipant es dessa pesquisa, pela confiança dem onst rada,
pront idão com que aceitaram ao convite para part icipar do est udo, pela
coragem e sinceridade dos relat os. Agradeço a cont ribuição que
proporcionaram ao est udo dos t ranst ornos de alim ent ação. Sem a aj uda de
vocês a realização desse t rabalho não seria possível.
Marleide Chaves Rocha: Est udo com parat ivo sobre a aut o- im agem de
m ulheres com diagnóst ico de anorexia e bulim ia nervosa por m eio do
Mét odo das Manchas de Tinta de Rorschach, 2008.
Orient ador: Profª . Drª . Marina Pereira Gom es
Palavras- chave: t ranst ornos de alim entação; análise t em ática; psicanálise.
RESUM O
SUM ÁRI O
I nt rodução...0 1
1.1 Caracterização dos t ranst ornos alim ent ares...04
Anorexia Nervosa... 04
a. Hist órico... ...06
b. Et iologia...0 6
c. Epidem iologia... 10
d. Com plicações Clínicas... 11
Bulim ia Nervosa...12
a. Hist órico...14
b. Et iologia...15
c. Epidem iologia...16
d. Com plicações Clínicas...17
1.2. A Psicanálise e os t ranst ornos de alim entação...18
1.2.1. Aut o- im agem ...23
2 . Justificat iva ...2 7
3 . Obje tivo...2 8
4 . M étodo...2 8
4.1. O Mét odo de Rorschach...28
4.2. Part icipantes...3 3
4.3. Convocação das part icipantes e local da pesquisa...33
4.4. I nst rum ent os de avaliação...33
4.5. Procedim ent o de análise...34
“ Se quer m e seguir, narro- lhe,
não um a aventura, m as experiência,
a que m e induziram , alternadam ent e,
raciocínio e int uições”.
1
1 . I NTRODUÇÃO
A anorexia nervosa e a bulim ia nervosa est ão ent re os principais
t ranst ornos de alim entação. Acom etem m ulheres j ovens em 90% dos
casos, e apresent am curso crônico, variável podendo levar à m ort e,
principalm ente nos casos de anorexia nervosa, responsável pela m aior
m édia de m ortalidade ent re t ranst ornos psiquiát ricos, cerca de 0,59% ao
ano (Sopezki, 2007) .
Resum idam ente podem os caract erizar a anorexia nervosa com o a
recusa em m ant er norm al o peso corporal e a bulim ia nervosa com o a
ingestão de grande quant idade de alim ent os seguida de com port am ent o
purgat ivo ( indução de vôm it o, uso de laxant es et c.) , excesso de exercícios
físicos e períodos de jej uns. Nas duas m odalidades de t ranst orno exist e a
pert urbação da percepção da im agem corporal e consequentem ente o m edo
excessivo de ganho de peso. Part e dest e decorre do ideal de beleza
dissem inado pela sociedade ocident al cont em porânea, o de que para ser
bonit a a m ulher deve ser m agra.
Em novem bro de 2006, com a divulgação da m ort e de um a m odelo
de 21 anos de idade e de out ras três adolescent es em decorrência de
anorexia nervosa, a problem ática dos t ranst ornos de alim ent ação ganhou
grande dest aque nos m eios de com unicação, virando t em a de report agens,
debates, novelas e t eorias defendidas por especialist as e leigos no assunt o.
A discussão gerada em t orno dos t ranst ornos alim entares, m ais
especificam ent e em t orno da anorexia e da bulim ia nervosa, tem levantado
quest ões sobre a definição do único padrão de beleza – ser m agro – vigent e
na sociedade cont em porânea globalizada, sobre at é que pont o a
dissem inação desse ideal de beleza tem influenciado no cot idiano da
população, m ais especificam ente no cot idiano da m ulher “ com um ” .
2
out ro lado t odas as form as m idiát icas continuam a reproduzir o m odelo
responsável pela perpet uação da doença. É com um revist as abordarem o
t em a dos t ranst ornos de alim entação no que t ange à sua: caract erização;
risco de vida; influência da m oda; consum ism o exacerbado; depoim entos
de ex-anoréxicas dent re out ros e em cont rapartida, exibirem cam panhas
publicit árias com m odelos de aspecto t ão caquét ico quant o ao quadro
descrit o nas report agens com o um “ perigo a ser evit ado” .
Enquant o se ouve dizer e se tem acesso a casos de óbit os
decorrent es dos t ranst ornos de alim ent ação, cont inua a exibição de corpos
esquelét icos que carregam em si a sim bologia de sucesso, at rat ividade
sexual e autocont role, com o est ilo de vida único e ideal desse novo m undo
unificado; m undo que t ent a se configurar de m aneira hom ogênea, no que
diz respeit o ao t ipo físico ideal, m undo no qual o bem m ais im port ante é o
bem -est ar narcísico. Dessa form a, a busca incessante pelo est ilo de vida
“ saudável” , rom pe a barreira do norm al e chega ao cam po das neuroses.
Est udos epidem iológicos apont am para a alt a incidência de
t ranst ornos de alim ent ação ent re as m ulheres – bulim ia nervosa: 28,8 em
100 m il; anorexia: 18,5 por 100 m il aproxim adam ente (Hay, 2002) – e
coloca os t ranst ornos de alim entação com o um problem a de saúde pública,
o que j ust ifica a invest igação da dinâm ica psicológica subj acent e a esses
t ranst ornos, para além da m era enunciação de sintom as dos m anuais
psiquiát ricos.
Por out ro lado, há um grande núm ero de m ulheres, expost as a
m esm a determ inação cult ural, ideal de m agreza, que não desenvolvem
t ranst ornos de alim ent ação. Est e seria m ais um m ot ivo para um a
invest igação m ais profunda para entender qual t ipo de personalidade é m ais
suj eit a a essa pressão, desenvolvendo os sint om as de anorexia e bulim ia
nervosa.
3
assim , cont ribuir de m aneira eficaz para os trat am ent os propostos além de
auxiliar na prevenção de suj eit os j ovens com t endências a esses
t ranst ornos.
No Brasil, é vast a a lit erat ura e pesquisas sobre os t ranst ornos de
alim entação, m as ainda são poucos os est udos realizados que buscam ,
at ravés de técnicas de invest igação da personalidade, est abelecer crit érios
de diagnóst ico para t ranst ornos de alim ent ação.
A abundante literat ura sobre a t em át ica dos t ranst ornos de
alim entação rest ringe-se, em sua m aioria, aos aspect os biológicos, sociais e
com port am entais. Focaliza a inibição dos sint om as com o form a de
“ correção” dos t ranstornos que afetam o com port am ent o alim entar do
indivíduo. Poucos são os est udos que buscam a com preensão do que esses
sint om as significam .
4
1 .1 .
CARACTERI ZAÇÃO DOS TRANSTORNOS ALI M ENTARES
“ Não sinto o espaço que encerro nem as linhas que proj eto; se m e olho a um espelho, erro; não me acho no que projeto”.
Mário de Sá Carneiro
ANOREXI A NERVOSA
A anorexia nervosa é caract erizada pela rest rição volunt ária à
ingestão de alim ent os, levando o indivíduo a perda ext rem a de peso,
acarret ando conseqüências severas à sua saúde física e psíquica. O
indivíduo acaba por ut ilizar recursos ext rem os t ais com o: longos períodos
de jej um , exercícios físicos em excesso, vôm itos volunt ários, laxant es,
diurét icos ou m oderadores de apet ite com o int uit o de forçar um a perda de
peso cada vez m aior.
Exist e t am bém a dist orção da im agem corporal e, no caso de
m ulheres a interrupção dos ciclos m enst ruais de no m ínim o t rês m eses
( am enorréia). É um t ranst orno que acom ete geralm ente m eninas
adolescent es após a puberdade. Em decorrência da inanição, o indivíduo
apresent a com plicações com o a desnut rição, que acarret a conseqüências
fisiológicas graves, podendo levá-lo à m ort e.
Cabe salientar que os m ecanism os sócio- cult urais vigentes, o cult o à
m agreza
,
contribuem para que a população, sobret udo j ovem e fem inina,
est ej a m ais vulnerável a esse t ipo de t ranst orno de alim entação.
5
pressão de valores present es na cultura, supervaloriza seu tam anho corporal, o que pode levá- la a práticas danosas à sua saúde ( Nunes et al., 2001,p.22)“ O t erm o anorexia, etim ologicam ente, deriva do grego "an",
deficiência ou ausência de, e "orexis", apet it e, t am bém significando aversão
à com ida, enj ôo do est ôm ago ou inapetência.” ( Sopezki, 2007, p.11).
Cont udo, o sent ido etim ológico do term o anorexia nervosa não é ut ilizado
at ualm ente, um a vez que, at é os est ágios m ais avançados da doença, os
pacientes não apresentam real perda de apet ite, m as sim um a recusa
alim entar deliberada, com int uit o de em agrecer ou por m edo de engordar
( Cordás & Claudino, 2002) .
O DSM – I V est abelece os seguintes crit érios para diagnóst icos de
anorexia nervosa:
Recusa em m anter o peso igual ou superior ao m ínim o norm al
adequado à idade e à alt ura ( perda de peso, levando a m anut enção
do peso corporal 15% abaixo do esperado) ;
Medo intenso de ganhar peso ou de se t ornar gordo, m esm o
est ando abaixo do peso esperado;
Pert urbação de vivenciar o peso corporal, t am anho ou form a,
sendo m arcant e a influência do peso e form a sobre a aut o-avaliação
ou recusa em reconhecer o risco do at ual peso corporal;
Nas m ulheres, a ocorrência de am enorréia, ist o é, a ausência de
pelo m enos t rês ciclos m enst ruais consecut ivos.
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a) Hist órico
É possível afirm ar que a anorexia nervosa com eçou a se t ornar
visível no início da I dade Moderna, após a ocorrência de séculos de pobreza
na Europa, durant e um período de prosperidade. Os m em bros das classes
m ais elevadas passaram a se vest ir e a m orar bem e, no caso da
alim entação, passaram a com er m elhor e em m aior quantidade. “A gordura
era sinal de prosperidade e, nas m ulheres, de beleza. Est a exuberância
suscit ou prot est os que, sobret udo ent re religiosas j ovens, t om aram a form a
de recusa do alim ent o.” ( Scliar, 2007) . Algum as religiosas que nesse
período apresentavam sint om as de anorexia nervosa foram Sant a Catarina
de Siena. ( 1347- 1380), Maria Madalena de Pazzi (1566- 1607) Sant a
Verônica Giuliana (1660- 1727) .
Foi Richard Mort on, que em 1694, fez a prim eira descrição m édica
do t ranst orno, ao expor o quadro de um a pacient e com em agrecim ento
aut o-induzido. Mas foi só após a apresentação do t rabalho de Sir William
Gull na English Medical Societ y, em 1868, que a anorexia nervosa adquiriu
st at us de ent idade clínica. Na ocasião, Gull apresent ou o caso de t rês
pacientes com idades ent re 14 e 18 anos que apresentavam sint om as
t ípicos da pat ologia ( Cordás, 1996, p.187) .
b) Et iologia
A anorexia nervosa e os dem ais t ranst ornos alim ent ares podem ser
descrit os com o produt os de um a com plexa inter-relação ent re aspect os
biológicos, psicológicos e sócio-culturais; est udos indicam a im possibilidade
de se apont ar um único aspect o com o o causador do t ranst orno.
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Dist inguem - se os fat ores dos transt ornos alim entares em
predisponentes, precipit antes e m antenedores. Morgan et al (2002)
descrevem t ais fat ores da seguinte m aneira:
Predisponent es: caract erizados com o aqueles que aum entam a
chance de aparecim ent o do t ranstorno alim entar, m as não o t ornam
inevitável;
Precipit antes: são aqueles que m arcam o aparecim ent o dos
sint om as dos t ranstornos alim entares;
Mant enedores: determ inam a perpet uação ou não do t ranst orno.
No que se referem aos fat ores predisponentes os aut ores ressalt am a
exist ência de duas classes de fat ores de risco: um a classe para t ranst ornos
psiquiát ricos gerais e out ra específica para os t ranst ornos alim entares. A
classe dos t ranst ornos psiquiát ricos gerais inclui: a com orbidade com
out ras pat ologias psiquiát ricas, a hist ória de t ranst ornos psiquiátricos na
fam ília, abuso sexual ou físico e adversidades na infância. A classe
específica para os t ranst ornos alim ent ares inclui: os t raços de
personalidade, o risco para o desenvolvim ent o da obesidade e a realização
de um a dieta calórica rest rit iva.
No m esm o est udo os aut ores cat egorizam t rês grupos de fatores
predisponentes
dos
transt ornos
de
alim entação:
individual,
fam iliar/ heredit ário e sociocult ural.
8
Além disso, a tendência a obesidade pode ser associada aos
t ranst ornos alim entares, um a vez que aum enta as brincadeiras
relacionadas ao peso, especialm ente no período da adolescência, o que
aum ent a t am bém a pressão social para o em agrecim ent o.
Alterações em vias noradrenérgicas e da serot onina (5-HT) tam bém
podem exercer papel predisponente para o desenvolvim ent o de t ranst ornos
alim entares de m odo geral (Spoont,
apud
Morgan et al, 2002).
Fat ores fam iliares / heredit ários –
Est udos apresent am
result ados de que parentes em prim eiro grau de port adores de anorexia
nervosa apresent am um a chance onze vezes m aior de desenvolver o
t ranst orno do que parentes de indivíduos saudáveis.
Assim , vários est udos sugerem a exist ência de um a predisposição
genét ica para o desenvolvim ent o do t ranst orno. Est udos realizados com
gêm eos apont am que t axas de concordância para a doença são de 50-60%
ent re gêm eos hom ozigót icos e 5- 10% ent re gêm eos dizigót icos. ( Córdas,
1996) .
Com relação à est rut ura fam iliar, est udos apontam que as fam ílias
de indivíduos anoréxicos são m ais rígidas, int rusivas e tendem a evit ar
conflit os ( Morgan et al,
2002) . Logo, aspect os da est rut ura e da dinâm ica
fam iliar são ident ificados com o fat ores predisponentes do t ranst orno.
De acordo com Bruch ( 1974), a vivência inapropriada da relação
prim ária entre m ãe e filha é um fat or que influencia nesse t ranst orno, por
ser a relação prim ária a responsável por part e da est rut uração da
personalidade e m at riz sobre a qual os indivíduos se desenvolvem .
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m ulheres recorrem a variadas t écnicas para atingir o “ corpo perfeit o” sem
levar em consideração os lim ites do próprio corpo.
Vindo ao encontro destes valores, as dietas restritivas e cirurgias plásticas tr ansm item a ilusão de que o corpo é infinitam ent e m aleável. Um a vez que o ideal de m agreza proposto é um a im possibilidade biológica para a m aioria das mulheres, a insatisfação corporal t em se tornado cada vez m ais comum (Pinhas, 1999) .
Assim , a busca pelo corpo perfeit o, propagado pela m ídia,
obscurece a t ênue linha divisória ent re os cuidados para a m anutenção de
um corpo saudável e a inst alação de doenças narcísicas ( Andrade e Bosi,
2003) .
É necessário t am bém considerar a influência da globalização nesse
processo, um a vez que esse sist em a tem responsabilidade pelo m ovim ento
social, com port am ental e cult ural que vigora at ualm ente no m undo (
fast-food
cult ural) , que despersonaliza cult uras locais, gera a necessidade em
com preender e pertencer a um det erm inado local, à prim eira vist a
het erogêneo, m as que leva a t odos a agirem e serem da m esm a m aneira.
Quant o aos fat ores precipitant es, é possív el dest acar a diet a para
em agrecer com o o m ais freqüente na anorexia e nos t ranst ornos
alim entares em geral; m as para isso ela deve int eragir com out ros fat ores
de risco e não é possível apontá- la isoladam ente com o a desencadeadora
dos t ranst ornos. Além da dieta para em agrecer, event os est ressores com o
doenças, abuso sexual ou físico podem cont ribuir para o início dos
sint om as.
10
No caso da anorexia nervosa, a desnut rição causa alt erações
neuroendócrinas que acabam por cont ribuir para a m anutenção dos
sint om as do t ranst orno com o, por exem plo, o aum ento do cort isol e da
at ividade do horm ônio liberador da cort icot ropina ( CRH), alterações dos
níveis plasm át icos de lept ina et c. ( Morgan et al, 2002) .
Além disso, devem os considerar elem ent os cult urais e int erpessoais
que influenciam na perpetuação da anorexia e dem ais t ranst ornos, um a vez
que, conform e m encionado, m anter-se m agro é sinal de sucesso e
aut ocont role.
c) Epidem iologia
Os t ranst ornos alim ent ares, inclusive a anorexia nervosa, são m ais
freqüentes em m ulheres j ovens e adult as, ent re 18 e 30 anos, e afet am
3,2% dessa população. Quant o à prevalência, na anorexia nervosa é de
0,3% e nas síndrom es parciais ( quando o indivíduo tende ao
desenvolvim ent o da anorexia nervosa, m as falt a pelo m enos um crit ério
diagnóst ico para caract erizá-la) t em prevalência de ent re 0,37% e 1,3% da
população ( Cordás et al., 2007) .
No que se refere à incidência m édia anual de m ulheres com
anorexia nervosa na população a incidência é de aproxim adam ent e 18,5 por
cem m il, j á ent re os hom ens é de m enos de 2,25 por cem . Porém é possível
que a incidência sej a m aior, um a vez que apenas os casos m ais graves
chegam aos cent ros de referências e assim são cont abilizados ( Cordás,
1996) .
A evolução do quadro clínico é variável e pode ir de um único
episódio com recuperações de peso e psicológica com pleta, até episódios
inint errupt os que podem levar a m ort e.
11
doenças psiquiát ricas e seu prognóst ico parece não ter m elhorado durant e o
século XX. O suicídio e as com plicações decorrent es da desnut rição
aparecem com o as form as m ais com uns de m ort e ent re as m ulheres. Essas
m ulheres t êm 12 vezes m ais chances de m orrer do que m ulheres
consideradas norm ais ( Cordás et al, 2007) .
De acordo com os aut ores, est udos nessa área m ost ram que apenas
44% dos pacientes com anorexia, que recebem t rat am ento apropriado, têm
um a recuperação satisfat ória; 28% t êm um a recuperação m oderada e 24%
evoluem insat isfat oriam ente. Além disso, esses est udos m ost ram que dois
t erços dos pacient es, m esm o após o t rat am ento, têm preocupações
m órbidas relacionadas ao peso e aos alim ent os e até 40% desenvolvem
sintom as e com port am ent os bulím icos.
d) Com plicações clínicas
Muit as podem ser as com plicações clínicas decorrent es da anorexia,
ent re as quais Cordás ( 2007) destaca:
Desequilíbrios
elet rolít icos:
hipocalem ia,
hipom agnesem ia,
hipofosfat em ia;
Sist em a cardiovascular: hipot ensão, pulso irregular, bradicardia,
parada cardíaca;
Sist em a gast rint est inal: constipação, retardo no esvaziam ent o
gást rico, form ação de gases, vôm it os;
Sist em a endócrino: fadiga, hipercolest erom ia, hipoglicem ia,
irregularidades ou ausência de m enst ruação, alterações horm onais;
Deficiências
nut ricionais:
desnut rição
e
deficiências
de
m icronut rient es;
12
BULI M I A NERVOSA
A bulim ia nervosa é caract erizada com o um a sensação de com plet a
perda de cont role alim entar, em que o indivíduo ingere indiscrim inada e
com pulsivam ent e grandes quant idades de alim entos em um período de
t em po breve, o cham ado episódio bulím ico. Após a ingest ão, o indivíduo é
t om ado por um sent im ent o de culpa, vergonha e m edo de engordar, o que
acaba por levá-lo a induzir o vôm it o ( geralm ente isso ocorre diversas vezes
ao dia) . Além do vôm ito exist e o uso indiscrim inado de laxantes, diurét icos
ou inibidores de apetit e e a prát ica exagerada de exercícios físicos.
O nom e do t ranst orno vem da união dos t erm os gregos
boul
( boi)
ou
bou
( grande quant idade) com
lem os
( fom e) , ou sej a, fom e intensa ou
suficient e para devorar um boi.
Assim com o na anorexia nervosa, a
cult ura da m agreza
cont ribui
para o desenvolvim ent o dessa m odalidade de transtorno alim entar.
Out ra caract eríst ica m arcant e na bulim ia nervosa é a percepção da
form a e do peso corporal bast ant e alterada. Apesar de não apresentar a
m esm a obsessão pelo em agrecim ent o, com o ocorre com os pacientes
anoréxicos port adores de bulim ia, apresent am m edo de ganhar peso e
desej o de perder alguns quilos. Cabe salient ar que indivíduos com esse t ipo
de t ranst orno apresent am geralm ente peso norm al ou sobrepeso m oderado.
Dist ingue- se t am bém dos quadros de anorexia nervosa, no que se
refere às alt erações no ciclo m enst rual, que podem ocorrer, m as
dificilm ente a com plet a suspensão dos ciclos m enst ruais ( am enorréia) com o
é com um nas anoréxicas.
13
dinâm ica do com port am ent o do pacient e bulím ico é a culpa, um a vez que
os episódios de com pulsão violam os parâm et ros est ipulados na dieta
rest rit iva o que acaba por desencadear o com port am ent o de
com pulsão/ purgação.
O DSM – I V est abelece os seguintes crit érios para diagnóst icos de
bulim ia nervosa:
Episódios recorrent es de com pulsão alim entar (episódios
bulím icos) : ingest ão de quantidade de com ida m aior do que a m aioria
das pessoas com eria, em curt o int ervalo de t em po ( por exem plo, em
duas horas) , sensação de perda de cont role sobre o que e quant o se
com e;
Com port am ent os com pensat órios inapropriados para prevenir
ganho de peso, com o vôm it o aut o-induzido, laxantes, diurét icos ou
out ras drogas, dieta rest rit iva ou jej um ou, ainda, exercícios físicos
excessivos;
Os episódios bulím icos e os com portam ent os com pensat órios
ocorrem , em m édia, duas vezes por sem ana, por pelo m enos t rês
m eses;
A aut o- avaliação é indevidam ent e influenciada pelo peso e form as
corporais.
Quando aos subt ipos da bulim ia, o DSM – I V classifica em :
purgat ivo: aut o- indução de vôm itos, uso indevido de laxantes e diuréticos;
não-purgat ivo: prát ica de exercícios excessivos ou j ej uns e sem prát icas
purgat ivas.
14
a) Hist órico
Na Ant iguidade o com port am ento de forçar o vôm it o era t ido com o
prát ica com um : diferentes povos faziam uso do vôm it o induzido para
prevenir ou curar doenças, poder aliviar-se de banquetes, ent re out ros
( Cordás, 2004) .
A bulim ia nervosa foi reconhecida com o transt orno alim entar
recent em ent e em bora, com o sint om a da anorexia nervosa, fosse conhecida
há séculos. Exist em relat os do com port am ent o bulím ico ent re pacientes
anoréxicas desde 1874.
Apenas por volt a de 1940 aparecem est udos específicos sobre esse
t ranst orno. Ent re os prim eiros est udos realizados, dest aca- se um t rabalho
apresent ado na França em 1963, quando Paul Abely proferiu palest ra sobre
15 casos de j ovens m ulheres com preocupação com a aparência física, que
apresent avam com port am ent o bulím ico ( Nunes et al, 1998, p.19) .
A part ir disso, m édicos com eçaram a cogit ar a possibilidade de ser
est a um a nova m odalidade de t ranst orno alim ent ar, um a vez que o padrão
alim entar apresent ado por esse t ipo de pacient e não se enquadrava em
nenhum a out ra categoria diagnóst ica.
15
Antes de se chegar a essa nom enclat ura, o t erm o bulim ia nervosa
foi cham ado de: hiperoanorexia, disorexia, bulim arexia, síndrom e do caos
diet ético dent re out ros.
Acreditou- se durant e m uit o t em po que a bulim ia nervosa fosse o
lado opost o da anorexia, porém a passagem do quadro anoréxico ao quadro
bulím ico é m ais recorrent e do que o opost o.
b) Et iologia
Assim com o ocorre nos casos de anorexia nervosa e dem ais
t ranst ornos alim ent ares, a bulim ia nervosa apresent a etiologia m ult ifat orial
( aspect os biológicos, psicológicos e sócio- cult urais) .
Com relação aos t raços de personalidade, segundo Morgan et al
( 2002), indivíduos bulím icos apresent am : com port am ento gregário, de risco
e im pulsividade, caract eríst icas essas consist ent es com o descont role e a
purgação. Os t raços de im pulsividade e inst abilidade afetiva constit uem
aspect os cent rais do t em peram ent o de pacient es bulím icos. A depressão
t am bém aparece com o fat or de risco para o quadro de bulim ia nervosa.
Pesquisas sugerem a puberdade precoce com o fat or de risco para o
desenvolvim ent o do t ranst orno. Segundo Morgan et al (2002) “ o aum ent o
im port ante da gordura corporal em m eninas adolescent es requer um a
reorganização da im agem corporal e pode reforçar a preocupação com o
peso” ( p.19).
Assim , a tendência à obesidade e as diet as surgem com o fat ores
cont ribuint es para o desenvolvim ent o da bulim ia nervosa, um a vez que o
sobrepeso pode t ornar o indivíduo m ais sensível à sua aparência e optar por
iniciar diet as.
16
predisponente para o desenvolvim ent o da bulim ia nervosa ( Spoont
apud
Morgan et al, 2002).
O t raum a sexual t am bém pode cont ribuir para o progresso de
quadros bulím icos, assim com o dem ais event os est ressores (doença,
violência física et c.).
Com relação aos fat ores fam iliares, est udos apont am que essa
m odalidade de t ranst orno alim entar t am bém é m ais freqüente em parentes
em prim eiro grau de indivíduos com t ranst ornos alim entares, ou sej a,
parentes em prim eiro grau de indivíduos com bulim ia nervosa apresent am
um a chance 44 vezes m aior de desenvolver o transtorno do que parentes
de indivíduos saudáveis ( St rober,
apud
Morgan et al, 2002) .
Podem os supor que de algum a m aneira exist e um a disposição para
a transm issão da doença dent ro da fam ília. No que refere à organização
fam iliar, os bulím icos descrevem suas fam ílias com o pert urbadas e
desorganizadas, além de apresent arem carência de cuidados e de afet o;
cont udo, de acordo com Morgan et al ( 2002, p.20) não é possível afirm ar se
t ais aspect os aparecem antes do est abelecim ent o do transtorno.
Problem as de relacionam ent o afet ivo com as figuras parent ais
t am bém aparecem com o caract eríst ica m arcant e nos pacient es bulím icos.
A urbanização surge com o um fator sócio- cult ural que influencia o
desenvolvim ent o de t ranst ornos alim ent ares em geral, um a vez que, além
de provocar m udanças no hábito alim entar, com o advento dos
fast foods
e
o sedentarism o
,
aum enta a exposição das pessoas ao ideal de m agreza
dissem inado pela cult ura do consum o.
c) Epidem iologia
17
4,2% . Os sint om as t endem a iniciar ent re 16 e 19 anos, geralm ente o
paciente busca auxílio m édico cinco anos após o início dos sint om as.
Quant o à incidência, na bulim ia nervosa os núm eros são bast ante
elevados, sendo 28,8 em 100 m il m ulheres e 0,8 em 100 m il hom ens por
ano (Cordás, 2007, p.13) . O aut or afirm a ainda que, t ant o para os quadros
de bulim ia nervosa quanto para os dem ais t ranst ornos de alim entação, os
est udos epidem iológicos são lim it ados, m uit o provavelm ente devido à
recusa das pessoas em procurar auxílio ou a procura por t rat am ent o apenas
nos casos ext rem os e a negação dos sint om as. I sso contribuiria para a
prevalência subest im ada dos transt ornos alim entares
O curso e a evolução dos quadros de bulim ia nervosa são descrit os
por Cordás (2007) com o m ais favoráveis em com paração aos quadros
anoréxicos. “ De form a geral, ent re os pacient es que receberam t rat am ent o,
50% apresent am bons result ados e os m ant êm , enquant o 30% m antêm
síndrom es parciais” ( p.13) .
d) Com plicações clínicas
Com o ocorre nos quadros de anorexia nervosa, m uitas são as
com plicações clínicas decorrent es da bulim ia nervosa, as principais delas
seguem abaixo, conform e Cordás (2007) :
Desequilíbrios elet rolíticos: hipocalem ia, hipom agnesem ia;
Sist em a cardiovascular: arrit m ias, palpitações;
Sist em a gastroint est inal: const ipação, retardo no esvaziam ent o
gást rico,
saciedade
rápida,
esofagite,
flatulência,
refluxo
gast roesofágico, sangram ent os gast roint est inais;
18
Deficiências nutricionais: variáveis;
Sist em a ósseo: cáries, erosões dent árias.
De acordo com o m esm o aut or, as variações dos sinais clínicos se
dão conform e cada indivíduo e seu com prom etim ent o, seja no quadro de
anorexia ou bulim ia nervosa.
1 .2 . A PSI CANÁLI SE E OS TRANSTORNOS DE ALI M ENTAÇÃO
Em 1893, no t ext o
Um caso de cura por hipnose
, Freud apresent a o
caso de um a m ulher que desenvolve os sint om as de anorexia após o
nascim ent o de seu prim eiro filho, o que faz com que a am am entação da
criança sej a int errom pida. Na ocasião Freud ut iliza de sessões de hipnose
para t rat ar a pacient e, que faz os sint om as cessarem e a m ãe volta a
am am ent ar seu bebê. A m ulher apresenta novam ent e quadro anoréxico nas
gest ações de seu segundo e terceiro filho.
Freud caract eriza esse caso com o histeria e aponta para a presença
do com ponent e m elancólico no quadro da pacient e.
É possível pensar que, nesse caso, a vivência do part o e a
possibilidade de am am ent ação do bebê sej am apontadas com o agentes
desencadeadores dos sintom as. Com o nascim ent o do bebê o corpo
fem inino assum e um a nova função: a de alim ent ar out ro ser. Assim , a
função de alim entar im plica diret am ente o corpo e a fem inilidade e t alvez
essa especificidade do corpo fem inino, possa influenciar na predom inância
dos casos de t ranst ornos alim entares ent re a população fem inina, um a vez
as t ransform ações sofridas durant e a puberdade rem et am a m ulher à
possibilidade de engravidar e am am entar, identificando-a assim com o
corpo m at erno (Fernandes, 2006) .
19
A neurose alim entar par alela à m elancolia é a anorexia. A anorexia das j ovens, que é um problem a bem conhecido, apar ece, após um a observação rigorosa, com o um a form a de m elancolia nos sujeitos com a sexualidade ainda inacabada. A paciente assegura não com er simplesm ent e porque ela não tem fome. Perda de apetite e, no domínio sexu al, perda da libido. ( p.93)Dois anos após apresent ar esse caso, Freud publica o caso de
Em m y Von N., um a j ovem com quadro de anorexia, fobia de ingerir água e
queixas de dores no est ôm ago. Nas sessões de hipnose a j ovem evoca
lem branças precoces que est ariam associadas aos seus sint om as, com o por
exem plo, relação conflit uosa com a m ãe, que a obrigava a se alim entar
m esm o sem vont ade para fazê- lo e o m edo de cont am inação de doenças
at ravés da ingest ão de alim ent os. Ao discut ir est e caso, Freud atent a para
as m odificações de hum or e para a as fobias de Em m y, sendo essas
relacionadas aos event os t raum át icos em sua infância (Freud, 1895) .
Além da hipnose, Freud prescreve com o trat am ent o: banhos
quentes, m assagens et c., m as não obt ém sucesso ao prescrever a j ovem o
aum ent o da ingest ão de água e alim ent os. Sobre esse aspect o salient a
Fernandes ( 2006) :
A cer teza de um saber sobre o funcionam ento de seus corpos, particularm ente no que diz respeito às funções que envolvem o processo de alim entação, par ece não aceitar interferência, nem discussão. Se, por um lado, essa cert eza pode parecer exasper ante par a quem vai se ocupar desses casos, por outro, mostra o sistem a fechado no qual essas jovens se encontram e a inutilidade de enfrentá- los diretam ente. ( p. 102)
20
De acordo com Fernandes (2006) ao pensarm os a quest ão da
bulim ia segundo m odelo das neuroses at uais, at ravés da ingest ão
acent uada e com pulsiva de grandes quantidades de com ida e o uso de
m ecanism os com pensat órios, a im pulsão do at o bulím ico seria um a
t ent ativa de evacuar as t ensões geradas pelas pulsões sexuais.
Em 1926, ao escrever o t ext o
I nibição, sint om a e angúst ia
, Freud
direciona para a t eoria da libido as questões relacionadas à função
alim entar, caract erizando a inapet ência alim ent ar com o conseqüência de
um a ret irada da libido e o vôm it o com o m ecanism o de defesa hist érica
cont ra a alim ent ação (Fernandes, 2006) .
Em linhas gerais é possível dizer que, para Freud, a anorexia é
com preendida at ravés do m odelo de hist eria, dest acando o papel da
oralidade na organização da sexualidade e a relação do quadro anoréxico
com a m elancolia. São lim it adas suas referências à bulim ia nervosa, porém
podem os nos basear nos seus est udos sobre neurose e sobre os
m ecanism os de descarga da excit ação pulsional para o ent endim ento dessa
m odalidade de transtorno alim entar.
Dent re os t eóricos que seguiram a Freud tam bém se ocuparam da
t em át ica dos t ranst ornos de alim entação, dest acam os: Winnicot t ( 1978,
1994) , Lacan (1999) e Dolt o ( 1984) .
Lacan, em sua t eorização acerca da im port ância da função paterna
cont ribuiu significat ivam ent e para a elucidação do t em a. Para o autor, é
função paterna int ervir na relação dual m ãe e bebê, nom eando a falt a,
legalizando a diferença e funcionando com o suporte da função sim bólica
( Fernandes, 2006) .
21
Sua t eorização acerca do est ádio do espelho com o um a experiência
inaugural e prim ordial no processo de form ação da identidade no suj eit o,
nos conduz a um a reflexão sobre as origens dos t ranst ornos de
alim entação, do que est aria subj acent e aos sint om as apresent ados por
suj eit os acom et idos por esses t ranst ornos.
Winnicot t ( 1994) apont a para a relação inicial est abelecida ent re a
m ãe e o bebê com o fundam ental para o adequado desenvolvim ent o
psíquico da criança. De acordo com o autor no m om ent o inicial da relação
m ãe e bebê, a m ãe encontra-se num est ado de consciência alt erado,
preocupação m aterna prim ária, que possibilit a a ela um a t ot al ident ificação
com o seu bebê, um envolvim ent o t ot al com os cuidados que dedica a ele. É
at ravés do
holding
(segurar) oferecido pela m ãe que o bebê terá condições
de int egrar experiências, de sent ir- se real e cont inuar o seu processo de
m at uração.
No m om ent o inicial, período da dependência absolut a, a m ãe
funciona com o ego auxiliar do bebê, e “ o apoio do ego m at erno facilita a
organização do ego do bebê”
(Winnicot t , 1994, p.09) . Gradualm ente o bebê
vai saindo da posição de onipotência (de que não exist e nada além dele
próprio) por disponibilizar de m ecanism os que lhe perm item conviver com a
desilusão e frust ração.
Winnicot t ( 1994) introduz o t em a da am am entação com o um fat or
que integra o am bient e facilitador que cont ribui para o desenvolvim ent o
saudável do indivíduo, com o um a form a de com unicação ent re a m ãe e seu
bebê, m as com preende o t em a com o algo m ais am plo do que o cont at o da
boca do bebê com o seio da m ãe.
22
O opost o disso, ou sej a, falhas ocorridas no est abelecim ento da
sit uação de alim entação, pode fazer com que o bebê vivencie essa sit uação
com t em or.
At ent a ainda para a o fat o de o bebê colocar os acont ecim ent os da
fant asia no seu interior e identificá- los com o coisas que ocorrem dent ro de
seu corpo. Nesse sent ido o aut or afirm a:
Nenhum caso de cólica infantil, de vômito ou de diarréia, de anorexia ou constipação, pode ser com pletam ente explicado sem r efer ência às fant asias conscientes e inconscientes da criança acer ca do interior do corpo. ( Winnicott , 1978, p. 113)
Dolt o (1984) t am bém at enta para a influência das figuras parent ais
no desencadeam ent o dos t ranst ornos de alim entação, m ais especificam ente
nos quadros de anorexia nervosa.
Para a aut ora a vivência desses t ranst ornos deve ser considerada
num m om ento anterior ao Édipo. Considera que o Édipo apenas rem onta à
vivência da m enina ao m om ent o da cast ração prim ária, quando ela passa a
t er ciência de sua pert inência sexual e ident ifica- se com a sua m ãe, nesse
m om ent o tam bém , segundo a autora, é que surge o pai com o
represent ante fálico de valor em t orno do qual t oda a sexuação da m enina
se organiza.
Sobre a anorexia, a autora define:
23
Est a fala est aria relacionada, de acordo com Dolt o, ao conflit o de
am or e desej o da m enina frent e ao pai e ao conflit o de fem inilidade rival
com a m ãe.
Podem os concluir que, para a psicanálise, os t ranst ornos de
alim entação não se referem apenas à relação est abelecida ent re o suj eit o e
o alim ent o em si, m as às represent ações sim bólicas que o alim ent o tem
para o suj eit o que acabam por influenciar no funcionam ento de seu
psiquism o. Sendo assim , não bast a a com preensão da relação ent re a
m ulher, suj eit o ao qual est e est udo elegeu, e o alim ento, m as a
com preensão da relação que a m ulher est abelece com o out ro e com o seu
próprio corpo e os seus desdobram entos nos casos de t ranst ornos de
alim entação.
1 .2 .1 AUTO- I M AGEM
De acordo com Fisher (1990) o neurologist a Henry Head foi o
prim eiro a adot ar o t em a ‘esquem a corporal’ e afirm ar que “ cada indivíduo
constrói um m odelo ou figura de si m esm o que const it ui um padrão cont ra
os j ulgam ent os da postura e dos m ovim entos corporais” ( p.05) .
Os est udos de Paul Schilder foram os que m ais cont ribuíram nessa
área. Para Schilder ( 1999) a im agem corporal é um fenôm eno
m ultifacet ado, caract erizado com o a represent ação do corpo form ada na
m ente.
O esquem a corporal é a im agem tridim ensional que todos têm si mesmo. Podemos cham á- la de im agem corporal. Esse ter m o indica que não est amos trat ando de um a m er a sensação ou imaginação. Existe um a apercepção do corpo. I ndica t am bém que, em bora nos tenha chegado atr avés dos sentidos, não se trat a de um a m er a percepção. ( Shilder, 1999, p.07)
24
Torna- se necessário t am bém considerar a personalidade que
experim ent a a percepção. Não é apenas o processo fisiológico que est á
envolvido nessa percepção, m as t am bém a personalidade e as em oções
exercem um papel im port ante na const it uição da im agem corporal ( Shont z,
1990) .
Quest ões relacionadas ao est ado de saúde t am bém influenciam na
constit uição da aut o- im agem corporal, não som ent e pelo aspect o fisiológico,
m as t am bém psíquico. Shilder at ent a ainda para o fato das pert urbações da
im agem corporal est arem relacionadas aos m ovim ent os de econom ia
libidinal.
Além disso, a im agem -corporal extrapola os lim ites do corpo,
influências sócio- cult urais t am bém cont ribuem para a const rução dessa
im agem . No processo de est rut uração da im agem corporal as experiências e
sensações obt idas por ações e reações dos out ros em nossas relações
sociais são part e int egrant e do processo e da const rução da im agem
corporal (Silva et al., 2004) . Sim ult aneam ente o indivíduo const rói sua
im agem e t am bém a im agem daqueles que o cercam . De acordo com
Schilder ( 1999) “ há um int ercâm bio cont ínuo ent re nossa própria im agem
corporal e a im agem corporal dos out ros. O que encont ram os em nós pode
ser vist o nos out ros” ( p.251)
Nesse sent ido, cabe atent ar para o fat o de que os ícones fem ininos
exibidos na m ídia têm se t ornado cada vez m ais m agros no decorrer dos
anos. Esse fat or influencia negativam ente o com port am ent o dos indivíduos,
m ais precisam ent e m ulheres j ovens propensas aos t ranst ornos de
alim entação, que se sent em pressionadas em dem asia para serem m agras e
acabam por aderir a m étodos não saudáveis para controle ou perda de
peso, conform e m encionado na caract erização dos quadros de anorexia e
bulim ia nervosa.
25
dicot ôm ico (pensa em ext rem os com relação à sua aparência, ou é m uito
severo na crít ica da aparência) ; com paração inj ust a de sua im agem com
padrões ext rem os; atenção cent rada em um aspect o de sua aparência e
erro cognit ivo (crê que os dem ais percebem o m esm o que ele em relação à
sua im agem ) .
Dolt o ( 1984) fala da im agem inconscient e do corpo, im agem que,
segundo a aut ora, vai sendo m oldada desde as prim eiras relações
est abelecidas ent re o bebê e as figuras parent ais. Assim com o Lacan, Dolt o
define o est ágio do espelho com o experiência prim ordial.
Para a aut ora é som ent e após a experiência do espelho que a
criança com eça a apropriar- se de seu corpo.
Dolt o ( 1984) propõe a dist inção de t rês m odalidades const it ut ivas
da im agem corporal: im agem de base, im agem funcional e im agem
erógena, essas t rês m odalidades são cont inuam ente associadas ent re si
form ando a im agem dinâm ica, definida pela aut ora com o o “ desej o de ser”,
desej o est e que por estar “ abalado pela falt a, est á sem pre abert o para o
desconhecido, corresponde a um a intensidade da expect at iva de at ingir o
objet o” ( p. 45) .
A quest ão da dist orção da im agem corporal é um dos fat ores
apontados por Brunch ( 1974) para o desenvolvim ent o da anorexia. A aut ora
aponta esta com o a caract erística m ais im port ante dessa m odalidade de
t ranst orno alim entar e salienta que a ausência de um a ação para a correção
da dist orção t orna o prognóst ico desfavorável. Considera t am bém o fat o de
as necessidades corporais nos quadros de transt orno de alim entação serem
m al percebidas, m al reconhecidas e m al integradas pelo indivíduo.
26
Ao considerar a relação exist ente entre narcisism o e im agem
corporal o aut or pont ua que qualquer libido só pode aparecer em conexão
com um objet o; um a vez que est am os no m undo, e obj etos fazem part e
dele, a libido não pode exist ir isoladam ente. O fluxo libidinal de energia t em
influência direta na construção da im agem do corpo.
Nesse sentido é necessário considerar a influência em ocional que
pode alt erar o valor relat ivo à clareza das diferent es part es da im agem
corporal, segundo tendências libidinais e essas alt erações podem se dar na
part e ext erna ou interna do corpo.
Considerar a vida pregressa do suj eit o é de fundam ent al
im port ância, pois de acordo com Schilder (1999) , “ a vida pregressa do
paciente quase sem pre determ inará o quant o a est rutura libidinal da
im agem corporal pode influenciar a função e a est rut ura reais do corpo” (p.
190).
Da m esm a m aneira, o interesse que as pessoas dem onst ram pelos
corpos daqueles que as rodeiam influencia no suj eit o o int eresse pelo seu
próprio corpo. Torna- se necessário dest acar a quest ão da identificação e
um a reflexão sobre a influência que t odas as form as m idiáticas exercem
sobre a população, m ais especificam ente sobre a população fem inina
j ovem , com a dissem inação de um único padrão de beleza possível – ser
m agra.
Podem os pensar nas roupas e acessórios com o um a ext ensão da
im agem corporal com influência diret a na const rução dessa im agem . Shilder
( 1999) at enta t am bém para as t ent ativas de m odificação da im agem
corporal e apont a a tat uagem , m aquiagem e pent eado com o recursos para
essa t ent at iva de m odificação.
27
at it udes em relação a nós t êm grande im port ância” ( p. 192) . Segundo o
aut or, no cam po da percepção, a const rução da im agem corporal depende
do m undo em seu est ado inanim ado e, no cam po libidinal, a const rução da
im agem corporal depende de nossas at it udes em relação ao objet o de
am or. Assim , oscilações ou pert urbações da im agem corporal sugerem
relação com m ovim entos de econom ia libidinal.
2 . JUSTI FI CATI V A
As est at íst icas t êm dem onst rado que a alt a incidência ent re as
m ulheres (bulim ia nervosa: 28,8 em 100 m il; anorexia: 18,5 por 100 m il
aproxim adam ent e), coloca os t ranst ornos de alim ent ação com o um
problem a de saúde pública, o que j ust ifica a invest igação da dinâm ica
psicológica subj acent e a esses transt ornos, para além da m era enunciação
da sintom atologia.
É consenso que os t ranst ornos de alim ent ação são com plexos e
apresent am inúm eras im plicações psicológicas. Logo, invest igar e
com preender os aspect os relacionados à aut o-im agem das m ulheres
acom et idas por esses t ranst ornos, fornecerá subsídios im port ant es que
poderão cont ribuir para a prom oção de saúde dessas m ulheres.
As t écnicas de investigação da personalidade t ornam - se um a
ferram enta im port ant e nesse processo, um a vez que perm it em um a
com preensão subj acent e a sint om atologia dos t ranst ornos podendo assim ,
cont ribuir de m aneira eficaz para os trat am ent os propost os, além de
auxiliar na prevenção de suj eitos j ovens com t endências a t ranst ornos de
alim entação, m ais especificam ent e anorexia e bulim ia nervosa.
28
virt ude de seus índices de fidedignidade, confiabilidade e validade”
( Nascim ent o, 2001, p.86) .
3 . OBJETI VO
Est e t rabalho t em com o objet ivo, at ravés do est udo de casos,
invest igar e com parar a aut o- im agem de m ulheres com diagnóst ico de
anorexia nervosa e bulim ia nervosa subj acent e à sint om at ologia descrit a
nos m anuais de psiquiat ria.
No Brasil são escassos os est udos realizados que buscam , at ravés
da utilização de técnicas de invest igação da personalidade, m ais
especificam ent e at ravés da análise tem ática do Mét odo de Rorschach, um a
m aior com preensão dos aspect os relacionados à aut o-im agem de m ulheres
com diagnóst ico de anorexia e bulim ia nervosa. Esse est udo pretende
t am bém contribuir para a am pliação da discussão sobre o uso desse recurso
na com preensão da dinâm ica de personalidade de m ulheres diagnost icadas
com essas m odalidades de t ranst orno de alim entação.
4 . M ÉTODO
4 .1 . O M ÉTODO DE RORSCHACH
Originariam ente int it ulado
Psychodiagnost ik
,
o m ét odo desenvolvido
por Herm ann Rorschach foi publicado pela prim eira vez em 1921; desde
ent ão, tem gerado inúm eras pesquisas para validá- lo. At ualm ent e o Método
das Manchas de Tint a de Rorschach é um dos inst rum entos m ais ut ilizados
para a avaliação da personalidade de acordo com levantam ent o feit o pela
revist a
Rorscharchiana
, da Sociedade I nt ernacional de Rorschach (Pasian,
2002) , conhecido e ut ilizado por profissionais do m undo t odo.
29
t em po, reconhecer que são apenas m anchas de t inta. A codificação das
respost as considera vários aspect os específicos da percepção visual ( área
da m ancha envolvida na respost a; at ribut os físicos do est ím ulo com o form a,
cor, som breado) e o cont eúdo das respost as ( o quê o suj eit o ident ifica).
Para Piot rowski ( 1957) , “Um a sínt ese da análise form al dos percept os e da
análise do cont eúdo é um pré-requisit o para conclusões válidas” (p. 08) .
Um a vez que as respost as dadas pelo suj eit o ao que seriam as
m anchas de t int as reflet em o m odo com o possivelm ente vê e responde a
out ras sit uações que se apresent am de form a pouco est rut urada, e com o o
inst rum ent o não considera apenas a percepção, m as t am bém a associação
que o suj eit o faz frente ao est ím ulo das m anchas de t inta, pode revelar
com o o suj eit o pensa e sent e a sua experiência de vida, sendo possível
dessa form a, ident ificar aspect os de sua personalidade.
O Mét odo pode cont ribuir com o diagnóst ico diferencial de diversas
sit uações que cont em plem padrões específicos de funcionam ent o da
personalidade, além de ser um inst rum ent o facilit ador no diagnóst ico de
condições que sej am determ inadas por caract eríst icas dist int as da
personalidade; pode ser ainda um recurso im port ant e no prognóst ico de
com port am ent os. Nesse sent ido, quant o m ais um a at it ude for determ inada
por t raços da personalidade ou sofrer influência do m eio ext erno, m aior
será a probabilidade de que as variáveis do Mét odo ofereçam um a previsão
dessas at it udes ( Weiner, 2000).
Por trat ar- se de um m étodo de estudo da personalidade baseado na an álise de respost as a est ímulos não estruturados, ser ve de base par a a observação de fenôm enos psíquicos complexos relacionados com os processos de percepção, associação, proj eção e também da comunicação e expr essão verbal. Daí provém a riqueza das análises feitas sobre o m at erial colet ado, a profundidade e o alcance das observações e conclusões obtidas... ( Am ar al, 2004, p.74)
30
aspect os com o: at enção, percepção, t om ada de decisão e análise lógica.
Esses aspect os caract erizam o Rorschach com o um a t arefa de est rut uração
cognit iva e conferiu ao Mét odo um carát er obj et ivo sob vários aspect os,
segundo Weiner ( 2000) . Segundo o m esm o aut or, o Mét odo invest iga o
funcionam ent o da est rut ura e da dinâm ica da personalidade:
...estrutura da per sonalidade r efer e- se à natureza do indivíduo, conforme definida por seus pensam entos e sentim entos atuais, que constituem est ados de personalidade, e as suas disposições m ais per m anentes de conduzir- se de det erminada m aneira... A dinâmica da personalidade refere- se à natureza da pessoa, conform e definida pelas necessidades, atitudes, conflitos e preocupações subj acentes que influenciam o m odo com o pensa, sent e e age de det erm inadas m aneiras em momentos específicos e em circunstâncias particulares...” (Weiner, 2000, p.18)
A prevalência de inform ações sobre a est rut ura ou dinâm ica da
personalidade no prot ocolo de Rorschach dependerá de com o o suj eit o se
valerá dos recursos de sua personalidade para responder às necessidades
do m eio ext erno (am bient e) e interno ( seu m undo interior) .
Piot rowski ( 1957) e Weiner (2000) dest acam a im port ância dos
aspect os proj et ivos do cont eúdo das respost as que, subm et idos à
int erpretação t em ática, cont ribuem para um a com preensão m ais
abrangente da personalidade dos exam inandos. Am bos, porém alert am para
os riscos que essa est rat égia envolve. Weiner alert a para a fragilidade das
int erpretações que relacionam associações incert as, rem ot as, vagas ou t ão
abrangentes que possam ser aplicadas a qualquer pessoa. Ao recom endar
prudência no levant am ento de inferências, o aut or insist e em que se dê
m aior crédit o aos significados m ais claros, m enos am bíguos e que t enham
fundam ent ação m ais im ediata e em basam ent o lógico sólido.
31
A partir dest a per spectiva psicanalítica, a produção das respost as do Rorschach envolve os processos de associação, atribuição e simbolização. Esses processos levam o suj eit o a atribuir, a seus perceptos, car act erísticas que extr apolam as qualidades reais do estím ulo... Da m esm a form a, descrições do estím ulo podem envolver associações decorrentes do que é per cebido. ( p.17)De acordo com essa perspect iva, as m anchas são consideradas
com o um est ím ulo à fant asia, que fornece dados relevantes do m undo
int erno do suj eito. Por se trat ar de um inst rum ent o pouco est rut urado, o
Mét odo das Manchas de Tint as favorece ao suj eit o proj etar seu m undo
int erno, suas at it udes, preocupações int ernas e seus sent im ent os pessoais.
Na prova de Rorschach a proj eção pode ser observada principalm ent e
nas respost as de m ovim ent o e nas respost as de form a dist orcida que,
quando são m uit o significat ivas podem est ar at reladas aos im pulsos,
necessidades e estado em ocional do suj eit o. As superelaborações
( com ent ários e at ribut os adicionais à ident ificação do percepto) t am bém
cost um am ter aspect os proj etivos. O nível de projeção é variável de suj eit o
para suj eit o, pois depende da riqueza na área da fant asia e da t endência de
o indivíduo revelar seus cont eúdos com m aior facilidade (Weiner, 2000) .
Diant e ao expost o, j ust ifica- se a escolha do Mét odo das Manchas de
Tinta de Rorschach com o inst rum ent o de avaliação dest e est udo, um a vez
que, no que se refere à descrição da personalidade, ele oferece subsídios
consist ent es e validados para descrever aspectos da est rut ura e da
dinâm ica de personalidade.
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Nest e est udo serão analisadas as respost as com elem entos
proj et ivos, com base nos critérios propost os por Piot rowski ( 1957) e Weiner
( 2000) – qualidade form al dist orcida, m ovim ent o e superelaborações – com
ênfase nas pranchas V, I e X.
Por apresent arem est ím ulos que favorecem as represent ações de si
m esm o, a análise tem át ica das pranchas V, I e X torna- se necessária para a
com preensão da questão da aut o-im agem , foco desse est udo.
De acordo com Chabert ( 2004) a prancha V pode ser considerada a
prancha da ident idade e da represent ação de si m esm o. Para a aut ora, os
est ím ulos dessa prancha rem et em à problem át ica de ident idade do
exam inando, no sent ido psíquico da noção de
self
, “
m ostrando a estr eita interdependên cia que solda a r epr esent ação de si e a relação com objetos ext ernos” ( p.62) .Weiner ( 2000) por sua vez, apont a que os cont ornos relat ivam ente
definidos da prancha e suas duas respost as populares ( m orcego e
borbolet a) podem fazer dessa um a prancha relat ivam ente fácil para m uitas
pessoas, funcionando com o um m om ent o de alívio frent e aos est ím ulos
present es nas pranchas ant eriores.
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4 .2 . PARTI CI PAN TES
Duas m ulheres, com diagnóst ico de anorexia e bulim ia nervosa
respect ivam ente, conform e quadro a seguir:
N OME I DADE ESTADO CI V I L
FORMAÇÃO PROFI SSÃO DI AGN ÓST I CO
Ca so 0 1
Laura 31 Casada Superior
( Econom ia)
Gerente Financeiro
Anorexia Nervosa
Ca so 0 2
Bia 37 Solteira Superior
( Adm . Em presas)
Estilista Bulim ia Nervosa