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UCIANAC
ARVALHOF
ONSECAA tradução de binômios nos contratos de
common law
à
luz da lingüística de corpus
v. 1
A tradução de binômios nos contratos de
common law
à
luz da lingüística de corpus
Dissertação apresentada à Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas - Departamento de Letras Modernas - Curso de Pós-Graduação em Estudos Lingüísticos e Literários em Inglês da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Mestre em Estudos Lingüísticos e Literários em Inglês
Área de concentração: Tradução
Orientadora: Profª. Drª. Stella Esther Ortweiler Tagnin
v. 1
FICHA CATALOGRÁFICA
Serviço de Biblioteca e Documentação da
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo
reprodução autorizada pelo autor
Carvalho Fonseca, Luciana.
A tradução de binômios nos contratos de common law à luz da lingüística de corpus / Luciana Carvalho Fonseca ; orientadora Stella Esther Ortweiler Tagnin. -- São Paulo, 2007.
2 v.
Dissertação (Mestrado - Programa de Pós-Graduação em Estudos Lingüísticos e Literários em Inglês. Área de concentração: Estudos da Tradução) - Departamento de Letras Modernas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.
1. Lingüística de corpus. 2. Tradução jurídica – Língua inglesa. 3. Linguagem jurídica. 4. Contratos (Tradução). 5. Common law. I. Título.
A tradução de binômios nos contratos de common law à luz da lingüística de corpus
Dissertação apresentada à Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas - Departamento de Letras Modernas - Curso de Pós-Graduação em Estudos Lingüísticos e Literários em Inglês da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Mestre em Estudos Lingüísticos e Literários em Inglês
Área de concentração: Tradução
Aprovada em:
Banca Examinadora
Prof. Dr. _____________________________________________________
Instituição: ________________________ Assinatura: _________________
Prof. Dr. _____________________________________________________
Instituição: ________________________ Assinatura: _________________
Prof. Dr. _____________________________________________________
Dedicatória
AGRADECIMENTOS
A meus pais, pelo amor e apoio incondicionais e, sobretudo, pelas
oportunidades.
A meu irmão, Duda, pela companhia de uma vida inteira.
À minha avó, Tide, que sempre me incentivou e vibrou com meus
estudos.
Ao Igor, por nunca duvidar do meu amor pela tradução.
À minha orientadora, Stella Tagnin, pelo exemplo, incentivo e
atenção.
A todos os meus colegas do Projeto COMET, pelas ótimas discussões
durante as reuniões do grupo de estudos, principalmente à Elisa por ter me
ajudado com o WordSmith Tools.
Aos membros do Departamento de Tradução da Associação Alumni.
Aos meus colegas do Departamento de Inglês da PUC/SP.
Aos alunos das turmas de Tradução Jurídica do Curso de
Especialização em Tradução da USP.
E, last but not least, a meus amigos queridos pela força de sempre e
pelo interesse em meu trabalho: Agenor Soares dos Santos, Andréa Soares,
Ângela Ergul, Carla Nejm, Débora Miranda, Elisa Teixeira, Jayme Costa
Pinto, João B. Teixeira, Karina Leitão, Laura Morais, Lourdes Gonçalves,
Luciana Ginezi, Maria Thereza X. Bastos, Marina Bevilácqua, Michael Plouff,
Agradecimentos Especiais
À CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nível Superior, pela bolsa de estudos, incentivo valioso
SUMÁRIO
Lista de quadros Lista de figuras Resumo
Abstract
INTRODUÇÃO... 001
CAPÍTULO 1-OS BINÔMIOS... 009
1.1 Definição... 010
1.2 A origem e a Proliferação dos Binômios no Inglês... 015
1.3 As Múltiplas Funções dos Binômios nos Textos Jurídicos... 023
1.4 As Classificações dos Binômios... 025
1.5 A Tradução dos Binômios ... 030
CAPÍTULO 2-FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA... 035
2.1 A Lingüística de Corpus ... 036
2.2 A Abordagem Baseada em Corpus (corpus-based) e a Abordagem Orientada Pelo Corpus (corpus-driven) ... 039
2.3 Corpora... 040
2.3.1 Tipologia ... 040
2.3.2 O corpus desta pesquisa ... 043
2.3.3 Representatividade ... 044
2.3.4 Autenticidade ... 046
2.3.5 Escolha dos textos... 047
2.4 A Lingüística de Corpus e a Convencionalidade... 048
2.5 A Lingüística de Corpus, a Tradução e a Intuição... 049
2.6 A Lingüística de Corpus e a Terminologia... 052
CAPÍTULO 3-MATERIAIS E MÉTODOS... 055
3.1 Objetivos e Questões de Pesquisa ... 056
3.2 Uma Pesquisa com Tradutores ... 058
3.3 O Corpus de Estudo ... 065
3.3.1 Construção do corpus... 066
3.3.1.1 Critérios iniciais ... 066
3.3.1.2 Coleta e critérios revisitados ... 068
3.3.1.3 Armazenamento dos textos ... 075
3.3.1.4 Composição do corpus ... 077
3.3.2 Etiquetagem (tagging)... 078
3.3.3 Etiquetador ... 083
3.3.4 Etiquetas ... 084
3.3.5 Etiquetas e expressões para busca... 087
3.3.6 Software... 091
3.4 Procedimentos de Análise... 091
3.4.1 Extração dos candidatos a binômio ... 092
3.4.2 Exame das linhas de concordância do binômio em inglês e obtenção dos padrões lingüísticos... 097
3.4.3. Atribuição de correspondente ... 099
3.4.3.1 Atribuição de correspondente por meio de tradução prima facie para o binômio – wear and tear... 100
3.4.3.2 Atribuição de correspondente por meio de tradução prima facie para o colocado – executed and delivered... 102
CAPÍTULO 4-ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS... 122
4.1 Binômios Formados por Artigo + and/or + artigo... 125
4.2 Binômios Formados Por determinante + and/or + determinante... 126
4.2.1 Quadros informativos... 128
4.2.1.1 any and all... 128
4.2.1.2 all and any... 130
4.2.1.3 all or any... 131
4.2.1.4 any or all... 133
4.2.1.5 same or any... 135
4.2.1.6 some or all... 137
4.2.1.7 each and all... 139
4.3 Binômios Formados Por preposição + and/or + preposição ... 140
4.3.1 Quadros informativos... 143
4.3.1.1 in and to... 143
4.3.1.2 in or to... 145
4.3.1.3 by and between... 146
4.3.1.4 by and among... 147
4.3.1.5 by or on... 148
4.3.1.6 by or for... 150
4.3.1.7 by or under... 151
4.3.1.8 by or through... 152
4.3.1.9 by or against... 153
4.3.1.10 from and against... 155
4.3.1.11 from and after... 157
4.3.1.12 berofe of after... 158
4.3.1.13 on or before... 160
4.3.1.14 to and from... 162
4.3.1.15 to and under... 163
4.3.1.16 at or prior... 164
4.3.1.17 with or into... 165
4.3.1.18 with or without... 167
4.3.1.19 of or in... 168
4.3.1.20 for or on... 171
4.4 Binômios Formados Por adjetivo + and/or + adjetivo... 172
4.4.1 Quadros informativos... 174
4.4.1.1 due and payable... 174
4.4.1.2 free and clear... 176
4.4.1.3 valid and binding... 178
4.4.1.4 invalid or unenforceable... 179
4.4.1.5 illegal or unenforceable... 181
4.4.1.6 null and void... 182
4.4.1.7 true and correct... 184
4.4.1.8 good and valuable... 185
4.4.1.9 necessary or desirable... 187
4.4.1.10 necessary or appropriate... 189
4.4.1.11 sole and exclusive... 190
4.4.1.12 sole and absolute... 192
4.4.1.13 registered or certified... 193
4.4.1.14 certified or registered... 194
4.4.1.15 direct or indirect... 195
4.4.1.16 amended and restated... 196
4.4.1.18 present or future... 199
4.4.1.19 single or partial... 201
4.4.1.20 public or private... 203
4.5 Binômios formados por substantivo + and/or + substantivo... 205
4.5.1 Quadros informativos... 209
4.5.1.1 terms and conditions... 209
4.5.1.2 terms and provisions... 210
4.5.1.3 costs and expenses... 211
4.5.1.4 cost and expense... 212
4.5.1.5 fees and expenses... 213
4.5.1.6 representations and warranties... 214
4.5.1.7 representation or warranty... 216
4.5.1.8 rights and remedies... 217
4.5.1.9 rights and obligations... 219
4.5.1.10 title and interest... 220
4.5.1.11 force and effect... 221
4.5.1.12 laws and regulations... 223
4.5.1.13 power and authority... 224
4.5.1.14 execution and delivery... 225
4.5.1.15 form and substance... 226
4.5.1.16 termination or expiration... 228
4.5.1.17 seller and purchaser... 229
4.5.1.18 person or entity... 230
4.5.1.19 products and services... 231
4.5.1.20 class or series... 232
4.6 Binômios Formados Por pronome + and/or + pronome ... 233
4.6.1 Quadros informativos... 235
4.6.1.1 his or her... 235
4.6.1.2 he or she... 237
4.6.1.3 you and us... 238
4.6.1.4 us and you... 240
4.6.1.5 we and you... 241
4.6.1.6 you nd we... 242
4.6.1.7 we or you... 243
4.6.1.8 you or we... 244
4.6.1.9 you nor we... 245
4.6.1.10 you and you... 246
4.6.1.11 Its or their ...248
4.7 Binômios Formados Por advérbio + and/or + advérbio ... 249
4.7.1 Quadros informativos... 251
4.7.1.1 directly or indirectly... 251
4.7.1.2 jointly and severally... 252
4.7.1.3 wholly or partially... 253
4.7.1.4 materially and adversely... 254
4.7.1.5 solely and exclusively... 255
4.7.1.6 duly and validly... 256
4.7.1.7 expressly and specifically... 257
4.7.1.8 irrevocably and unconditionally... 258
4.7.1.9 now or hereafter ... 259
4.7.1.10 hereunder or thereunder... 260
4.7.1.11 hereby and thereby... 261
4.7.1.12 hereby or thereby... 262
4.7.1.14 hereto or thereto... 264
4.7.1.15 thereof or otherwise... 265
4.8 Binômios Formados Por verbo + and/or + verbo... 266
4.8.1 Quadros informativos... 270
4.8.1.1 represents and warrants... 270
4.8.1.2 represent and warrant... 271
4.8.1.3 executed and delivered... 272
4.8.1.4 execute and deliver... 274
4.8.1.5 acknowledges and agrees... 275
4.8.1.6 acknowledge and agree... 276
4.8.1.7 covenants and agrees... 277
4.8.1.8 understood and agreed... 278
4.8.1.9 understands and agree... 279
4.8.1.10 understands and acknowledges... 280
4.8.1.11 withheld or delayed... 281
4.8.1.12 construed and enforced... 282
4.8.1.13 required or permitted... 283
4.8.1.14 made and entered... 284
4.8.1.15 indemnify and hold... 286
4.8.1.16 occurred and is... 287
4.8.1.17 is or was... 288
4.8.1.18 is or becomes... 289
4.8.1.19 be and remain... 290
4.8.1.20 is and shall... 291
CONCLUSÃO... 292
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS... 300
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Exemplos retirados de Tagnin (2005)... 012
Quadro 2 - Exemplos de binômios e multinômios em Bhatia ... 013
Quadro 3 - A origem dos componentes de alguns binômios ... 018
Quadro 4 - Alguns binômios presentes tanto na linguagem geral quanto na linguagem jurídica... 018
Quadro 5 - Binômios cujos componentes são todos originários do francês ... 019
Quadro 6 - Resumo das funções atribuídas aos binômios ... 025
Quadro 7 - Exemplos retirados do que Mellinkoff (1963:25) considera verborrágico e que podem ser considerados de duplicação inútil ... 026
Quadro 8 - Binômios úteis segundo Mellinkoff... 027
Quadro 9 - Resumo das classificações apresentadas... 029
Quadro 10 - Exemplos de binômios cujos componentes pertencem à mesma categoria gramatical extraídos do CorTec ... 029
Quadro 11 - Traduções de todos os componentes dos binômios por sinônimos... 031
Quadro 12 - Tradução do binômio pain and suffering para o português ... 032
Quadro 13 - Traduções dos binômios levando em conta o sentido e o preceito de traduzir linguagem jurídica por linguagem jurídica ... 033
Quadro 14 - Exemplo da presença de binômios na lei ... 034
Quadro 15 - Exemplo da presença de binômios em fórmulas solenes empregadas em direito ... 034
Quadro 16 - Exemplo da presença de binômios em cláusula contratual... 016
Quadro 17 - Síntese das informações sobre as turmas pesquisadas ... 059
Quadro 18 - Contrato apresentado aos alunos para tradução... 060
Quadro 19 - A tradução de binômios em um pacto antenupcial por oito alunos de tradução da Associação Alumni ... 061
Quadro 20 - Tradução de binômios em contrato pré-nupcial por 29 alunos da pós-graduação lato sensu em tradução da Universidade de São Paulo... 062
Quadro 22 - Natureza das traduções dos alunos do CETRAD da USP para of any kind or nature, rents and profits e full right and
authority... 063
Quadro 23 - Natureza das traduções dos alunos da Associação Alumni para by gift or will... 064
Quadro 24 - Natureza das traduções dos alunos do CETRAD da USP para by gift or will... 064
Quadro 25 - Critérios iniciais para compilação do corpus de estudo... 067
Quadro 26 - Número de textos, palavras, tipos de palavras e type/token ratio no corpus extraídos a partir do Wordsmith Tools... 070
Quadro 27 - Os 28 tipos contratuais que compõem o corpus e as respectivas abreviaturas usadas para nomear os arquivos... 076
Quadro 28 - Quadro comparativo do corpus antes e depois do balanceamento ... 077
Quadro 29 - Trechos não etiquetado e etiquetado ... 080
Quadro 30 - Etiquetas do CLAWS 7 ... 084
Quadro 31 - Agrupamento das etiquetas conforme a categoria gramatical do CLAWS 7 e respectivas expressões de busca ... 088
Quadro 32 - Ocorrências no Google para os possíveis padrões lingüísticos obtidos com a ferramenta Concord... 101
Quadro 33 - Síntese das informações extraídas para wear and tear e desgaste natural ... 102
Quadro 34 - Tadução prima facie dos colocados de executed and delivered... 105
Quadro 35 - Número de ocorrências de devidamente... 106
Quadro 36 - Candidato a correspondente para duly executed and delivered... 107
Quadro 37 - Aproximação de executed and delivered e assinam/firmam... 113
Quadro 38 - Ficha de organização do verbete... 114
Quadro 39 - Organização do verbete wear and tear... 116
Quadro 40 - Organização do verbete executed and delivered... 117
Quadro 41 - Organização do verbete wear and tear... 120
Quadro 42 - Organização do verbete executed and delivered... 121
Quadro 44 - Expressão de busca para as etiquetas atribuídas pelo
CLAWS a artigos ... 125
Quadro 45- Expressão de busca para as etiquetas atribuídas pelo CLAWS a determinantes ... 126
Quadro 46 - Binômios formados por determinante... 127
Quadro 47 - Expressão de busca para as etiquetas atribuídas pelo CLAWS a artigos ... 140
Quadro 48 - Candidatos a binômio. Em vermelho aqueles que não se confirmaram ... 140
Quadro 49 - Expressão de busca para as etiquetas atribuídas pelo CLAWS a adjetivos ... 172
Quadro 50 - Os primeiros 25 candidatos ... 173
Quadro 51 - Expressão de busca para as etiquetas atribuídas pelo CLAWS a artigos ... 205
Quadro 52 - Binômios e candidatos a binômio formados por substantivos ... 207
Quadro 53 - Binômios formados por substantivos ... 208
Quadro 54 - Expressões de busca e etiquetas dos pronomes ... 233
Quadro 55 - Binômios compostos por pronomes... 234
Quadro 56 - Expressão de busca e etiquetas para advérbios ... 249
Quadro 57 - Candidatos a binômios compostos por advérbios ... 250
Quadro 58 - Expressão de busca para as etiquetas atribuídas pelo CLAWS a verbos ... 266
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Página de resultados do Google para a busca agreement
whereas parties hereto therefore... 069
Figura 2 - Página de resultados do Google para a busca de contrato
partes portanto presente... 070
Figura 3 - Quadro usado para dar início ao balanceamento do corpus ... 072
Figura 4 - Em vermelho alguns dos tipos contratuais não encontrados
em número suficiente em português... 074
Figura 5 - Exemplos de tipos contratuais encontrados em número
suficiente em ambas as línguas... 075
Figura 6 - Resultado parcial produzido pela ferramenta Clusters para a
busca de ‘and’... 081
Figura 7 - Resultado parcial produzido pela ferramenta Cluster para a
busca de ‘or’ ... 082
Figura 8 - Janelas do WordSmith Tools mostrando os campos
preenchidos com a expressão de busca ... 092
Figura 9 - Linhas de concordância para a busca binômios formados por
substantivos por meio da expressão *_N* *CC *_N* ... 093
Figura 10 - Linhas de concordância para a busca *CC *_N* com
contexto imediato *_N* (uma palavra à esquerda) ... 094
Figura 11 - Visualização da expressão de busca *CC *_N* no contexto imediato de *_N* (1 palavra à esquerda) a partir da primeira
e da segunda palavras à esquerda ... 095
Figura 12 - Visualização da expressão de busca *CC *_N* no contexto imediato de *_N* (1 palavra à esquerda) a partir da primeira e
da segunda palavras à direita... 095
Figura 13 - Os primeiros 32 dos 690 agrupamentos obtidos a partir das
linhas de concordância da figura acima ... 096
Figura 14 - Linhas de concordância para wear and tear extraídas a partir
do corpus etiquetado ... 098
Figura 15 - Linhas de concordância para wear and tear extraídas a partir
do corpus não etiquetado ... 098
Figura 16 - Linhas de concordância para desgaste natural... 100
Figura 17 - Linhas de concordância para executed and delivered a partir
do corpus não etiquetado ... 103
Figura 18 - Linhas de concordância para executed and delivered a partir
Figura 19 - Linhas de concordância para devidamente ... 106
Figura 20 - Resultado das linhas de concordância de devidamente (+ contrato) no corpus de estudo ... 107
Figura 21 - Busca das linhas de concordância de devidamente assinad* ... 108
Figura 22 - Contexto expandido para executed and delivered... 108
Figura 23 - Resultados para executed and delivered... 109
Figura 24 - Resultados para in witness whereof... 110
Figura 25 - Linhas de concordância para caused this agreement to be... 110
Figura 26 - Linhas de concordância justas e contratadas... 111
Figura 27 - Linhas de concordância justas e *... 112
Figura 28 - Alguns agrupamentos dos candidatos a binômio formados por preposições ... 141
Figura 29 - Linhas de concordância para of or in... 170
Figura 30 - Linhas de concordância para a expressão *_N* *CC *_N*... 206
Figura 31 - Etiquetas conferidas a express or implied pelo CLAWS 7... 268
RESUMO
Carvalho, L. A tradução de binômios nos contratos de common law à luz da
Lingüística de Corpus [dissertação]. São Paulo: Faculdade de Filosofia Letras e
Ciências Humanas - FFLCH, Universidade de São Paulo; 2007. 403p.
O objetivo desta pesquisa é estudar os binômios que ocorrem em contratos
de common law à luz da Lingüística de Corpus, procurando dar subsídios que
auxiliem os tradutores de textos jurídicos a chegar a uma tradução natural, ou seja,
para que traduzam linguagem jurídica por linguagem jurídica.
Os binômios são formados por duas palavras pertencentes à mesma
categoria gramatical, ligadas pela conjunção and ou or. Alguns exemplos são: terms
and conditions, any and all, executed and delivered, due and payable, action or
proceeding, agreement or obligation.
Os binômios são uma marca do inglês jurídico e como tal têm sido objeto de
diversos estudos. O mesmo, porém, não ocorre com a linguagem jurídica em
português. Assim, ao lidar com a tradução de binômios, estudos mostram que os
tradutores brasileiros se apegam à opção mais literal.
A escolha de estudar os binômios nos contratos de common law se deve ao
fato de estarem os contratos entre os documentos mais difíceis de traduzir e de ler
e por terem uma altíssima concentração de binômios.
Por essas razões, para estudar os binômios na linguagem jurídica em inglês
e dar elementos para o tradutor chegar à tradução em português do Brasil,
compilamos um corpus comparável de agreements e contratos autênticos
perfazendo, aproximadamente, 1 milhão de palavras – 705 744 em inglês e 289 984
em português – composto por 5 amostras de 28 espécies de contratos e
agreements, totalizando 140 documentos em cada língua.
O corpus foi explorado de acordo com os princípios e ferramentas da
Lingüística de Corpus. Para etiquetar o corpus usamos o programa CLAWS 7 (the
Constituent Likelihood Automatic Word-tagging System) do UCREL (Universidade
de Lancaster) e para explorá-lo, o WordSmith Tools de Mike Scott.
ABSTRACT
Carvalho, L. Translating binomial expressions in common law agreements: a
corpus-based study [dissertation]. São Paulo: Faculdade de Filosofia Letras e
Ciências Humanas - FFLCH, Universidade de São Paulo; 2007. 403p.
This research aims at studying binomial expressions in common law
agreements in the light of Corpus Linguistics in an attempt to provide translators
with the necessary linguistic elements that will enable them to render a natural
translation, that is, to translate legal language into legal language.
Binomial expressions are formed by two words belonging to the same
grammatical category and joined by and or or. Some examples are: terms and
conditions, any and all, executed and delivered, due and payable, action or
proceeding, agreement or obligation.
Binomials are an integral part of English legal language and as such have
deserved a considerable amount of study. The same, however, does not occur in
Brazilian Portuguese legal language. Therefore, when dealing with binomial
expressions, studies show that Brazilian translators tend to translate all the
elements of a binomial literally.
The choice of text type is due to the fact that agreements and contratos are
among the most difficult documents to translate and seem to have an incredibly high
concentration of binomial expressions.
For said reasons, in order to study binomials in English legal language and
provide elements for translators to arrive at their own translation into Brazilian
Portuguese, we have compiled and explored a bilingual comparable corpus
consisting of authentic agreements and contratos, totalling, approximately, 1 million
words – 705,744 in English and 289,984 in Brazilian Portuguese – made up of 5
samples of 28 different kinds of contratos and agreements, a total of 140 documents
in each language.
Exploring such a corpus greatly depended on the principles and tools of
Corpus Linguistics. To tag the corpus we used UCREL’s CLAWS 7 (the Constituent
Likelihood Automatic Word-tagging System) and to explore the corpus we used
Mike Scott's WordSmith Tools.
Um binômio é formado por duas palavras da mesma categoria
gramatical ligadas pela conjunção and ou or. (e.g. any and all, by and
between, executed and delivered, made and entered, action or proceeding,
present or future etc.). Os binômios são uma característica da língua inglesa
(Mellinkoff, 1963:39), e, em relação à linguagem jurídica em inglês, são
considerados uma marca de discurso (Mellinkoff,1963 e Crystal & Davy,
1969), pois estão presentes em documentos jurídicos de várias naturezas,
entre eles, escrituras, petições, leis, decisões e, sobretudo, contratos, esses
últimos objeto deste estudo.
A opção de examinar os binômios em instrumentos contratuais
justifica-se pela alta freqüência dessas unidades nos contratos e por estarem
esses documentos entre os textos mais difíceis de traduzir e de ler (Mayoral
Asensio, 2003:96).
Apesar da alta freqüência dos binômios, da dificuldade que os
tradutores enfrentam ao traduzir os contratos e do volume de tradução que
os contratos representam no mercado, os binômios não recebem tratamento
adequado nas obras terminográficas bilíngües (Carvalho, 2006). Com
exceção de Mayoral Asensio (2003), não encontramos trabalhos que tratem
dos binômios especificamente do ponto de vista da tradução, apesar de
serem objeto de estudo tanto na esfera da língua comum quanto na de
especialidade, alguns à luz da Lingüística de Corpus. Entre os autores que
trataram do tema na língua comum podemos destacar Malkiel (1959), Tagnin
(1989 e 2005) e Benor & Levy (2006) – o primeiro realizou um estudo sobre
a irreversibilidade de certos binômios, a segunda, um estudo sobre a
INTRODUÇÃO -3
em 2005, e os últimos, um estudo baseado em corpus que levantou 692
binômios. Na linguagem jurídica em inglês, entre os autores que escreveram
sobre os binômios estão Mellinkoff (1963), Gustafsson (1974, 1975a, 1975b
e 1984), Bhatia (1994 e 1997), Garner (2001a, 2001b e 2002), Kwok (2000)
e Rossini (2005). Apenas os dois últimos são estudos baseados em corpora
jurídicos. Kwok (2000) realizou estudo descritivo da legislação de Hong Kong
e Rossini (2005), estudo de um corpus de contratos bancários em inglês.
A exemplo dos dois últimos, este estudo é baseado em corpus jurídico.
O corpus foi compilado para estudar os binômios que ocorrem na linguagem
jurídica usada nos contratos em inglês, ou seja, nos contratos de common law.
A common law não se confunde com o Direito Inglês – limitado à
Inglaterra e ao País de Gales (David, 1998:281). A conquista normanda da
Inglaterra em 1066 foi responsável pela centralização do poder e pelo
surgimento da common law, que é hoje o sistema adotado pela maioria dos
países de língua inglesa (David, 1998:279), tendo como principal expoente
os Estados Unidos da América. Assim, ao nos referirmos aos “contratos de
common law” estamos nos referindo aos contratos em língua inglesa que,
nesta pesquisa, provêm de fontes anglo-americanas.
O sistema jurídico brasileiro, por outro lado, pertence à família de
direito romano-germânico que se formou na Europa continental, ligado ao
direito da antiga Roma (David, 1998:25-27), um direito marcado pela técnica
jurídica da codificação. Esse direito espalhou-se por uma grande parte da
África, os países do Oriente Próximo, o Japão e a Indonésia e por todos os
países da América Latina (David, 1998:25), entre os quais o Brasil.
Foi da doutrina do sistema jurídico brasileiro que retiramos a definição
de contrato adotada nesta pesquisa: um contrato “é o acordo entre a
manifestação de duas ou mais vontades, na conformidade da ordem jurídica,
destinado a estabelecer uma regulamentação de interesses entre as partes,
com o escopo de adquirir, modificar ou extinguir relações jurídicas de
natureza patrimonial” (Diniz, 1999:9).
Já, de acordo com a common law, “um contrato pode ser definido
ou mais pessoas, contendo pelo menos uma promessa, e reconhecido e
passível de execução pela lei1” (Blum, 2004:2).
Das definições acima observamos que o objetivo essencial de uma
relação contratual, de acordo com o sistema da common law, é a troca
(exchange). Isso é justificado por ser o comércio de bens e serviços e
direitos fundamental para a economia e a sociedade, sendo a principal
função do contrato (contract) facilitar e regular essas trocas (exchanges)
(Blum, 2004:4). O conceito de exchange é da própria essência da relação
contratual em que cada uma das partes dá alguma coisa para receber algo
em troca (Blum, 2004:4). A common law exige que alguma coisa de valor
seja dada por ambas as partes, pois promessas gratuitas não são passíveis
de execução nos termos da lei (Koffman & Macdonald, 1998:7).
Por causa da obrigatoriedade do elemento troca (exchange), a
definição de contract é mais restrita que a de contrato do nosso sistema que,
por sua vez, não exige que haja, necessariamente, um quid pro quo para
que um relação jurídica seja qualificada como contratual. Em outras
palavras, de acordo com o sistema jurídico brasileiro, ao contrário do
previsto pela common law, a onerosidade de ambos os lados não é um
elemento essencial para caracterizar um contrato. Assim, caem na categoria
de contratos os atos gratuitos como, por exemplo, os contratos de doação.
A common law, ao revés, não conhece a categoria dos contratos
gratuitos que, por sua vez, se enquadram em uma categoria de negócios
jurídicos em que o acordo de vontades entre as partes está presente, mas o
elemento troca (exchange), não. Esses negócios jurídicos são denominados
agreements. Um agreement é “um entendimento mútuo entre duas ou mais
pessoas sobre seus direitos e deveres referentes a obrigações passadas ou
futuras2” (Black’s 2004:74). O termo agreement, portanto, abrange tanto o
que chamamos contratos gratuitos quanto os onerosos. Dessa forma, um
contract é considerado uma espécie de agreement (Koffman & Macdonald,
1 “
A contract may be defined as an exchange relationship created by oral or written
agreement between two or more persons, containing at least one promise, and recognized in law as enforceable.”
2 “
INTRODUÇÃO -5
1998:7) em que o elemento troca (exchange) deve, necessariamente, estar
presente.
Com isso podemos afirmar que a definição de agreement se aproxima
mais da definição de contrato do sistema jurídico brasileiro, o que implica
que, ao adotar a definição de contrato usada no Brasil, abrangemos um
maior número de documentos a serem estudados.
Para estudar os binômios nos contratos com a orientação da
Lingüística de Corpus, construímos um corpus de contratos e de
agreements, identificamos os binômios em inglês e seus padrões lingüísticos
e oferecemos, quando possível, uma tradução para o português ou uma
aproximação de contextos que permita ao tradutor chegar à sua própria
tradução.
Assim, compilamos um corpus comparável, isto é, composto por
contratos autênticos – não suas traduções – em inglês e em português que
conta com 705 744 e 289 984 palavras, respectivamente. Esse corpus foi
compilado e analisado à luz da Lingüística de Corpus, que inaugurou uma
nova era na pesquisa lingüística, pois passou a estudar “o uso da língua
baseado em exemplos da vida real” (McEnery & Andrew, 1997:1).
A presente pesquisa, portanto, baseia-se, essencialmente, nos
pressupostos teóricos e metodológicos da Lingüística de Corpus (Biber et
al., 1996; Stubbs, 1993; Tognini-Bonelli, 2001; Berber Sardinha, 2004, entre
outros), que se fundamenta na análise de dados empíricos extraídos por
ferramentas computacionais a partir de um corpus construído
criteriosamente para fins de pesquisa lingüística.
A Lingüística de Corpus desempenha um papel fundamental neste
estudo por três razões principais. A primeira, por dar subsídios para a
compilação criteriosa de um corpus representativo da linguagem contratual.
A segunda, por possibilitar, com relativa facilidade, a extração dos
candidatos a binômios com o auxílio de um etiquetador automático (neste
caso o CLAWS 7 – the Constituent Likelihood Automatic Word-tagging
System) e da ferramenta Cluster do WordSmith Tools (Scott, 1996). A
nos auxiliam na determinação dos padrões lingüísticos que ocorrem com os
binômios e da tradução em português para os binômios em inglês.
Os padrões lingüísticos são alvo principal da pesquisa em corpora,
pois é uma preocupação da Lingüística de Corpus aquilo que “costuma
ocorrer e o que ocorre com freqüência” revelando, assim, as convenções de
uma determinada comunidade lingüística (Stubbs, 1993:130). J.R. Firth criou
o termo colocação (collocation) que serve para designar palavras que
usualmente “andam juntas” (Tagnin, 2005:37) e formam padrões lingüísticos.
Nossa pesquisa trata de um tipo especial de colocação: os binômios
(Tagnin, 2005: 50). Portanto, baseia-se no pressuposto de que o “léxico seja
padronizado, isto é, de que haja uma regularidade nos tipos de associação a
que se submetem as palavras de uma língua” (Berber Sardinha, 2004:39).
A Lingüística de Corpus, em nosso trabalho, faz uma interface com a
Terminologia – uma das áreas em que vem tendo presença cada vez
marcante (McEnery & Andrew, 1997:1), principalmente em relação ao uso de
corpora eletrônicos. Entretanto, o uso de corpora na Terminologia tem sido,
em grande parte, feito por corpora formados por textos originais e suas
respectivas traduções (corpora paralelos) e pouco se tem pesquisado sobre
a extração de termos a partir de corpora compostos por textos autênticos
(corpora comparáveis) (Boehm, 2005). Nesse aspecto, veremos que nosso
estudo difere dessa tendência, pois trabalhamos com linguagem autêntica
em ambas as línguas na busca de aproximações entre as linguagens
jurídicas em questão, deixando a decisão final nas mãos do tradutor.
Nesta pesquisa, visamos que o produto final, os quadros informativos
com as possíveis traduções das expressões estudadas, tenha as
características de uma obra terminográfica abrangente, ou seja, que tenha
“escopo e qualidade suficientes para viabilizar o percurso completo de
verificação e validação” (Aubert 2001:42). Os ensinamentos da Terminologia
possibilitaram-nos organizar os dados extraídos do corpus em quadros
baseados nas fichas terminológicas adotadas em obras terminográficas
bilíngües (Krieger et al., 1998 e Krieger et al., 2004), buscando refletir as
INTRODUÇÃO -7
É importante definir a acepção que damos à palavra tradução nesta
pesquisa quando nos referimos às traduções dos binômios. A tradução
oferecida é uma aproximação dos contextos em que o binômio em inglês
ocorre com o contexto correspondente em português, pois em se tratando de
línguas bem como de sistemas jurídicos diferentes, há termos e expressões
que ocorrerão em uma língua/sistema, mas não no outro.
Assim, privilegiamos o tradutor agente, ou seja, aquele que, com base
nas informações oferecidas, é capaz de tomar suas próprias decisões com o
auxílio de sua intuição, – e aqui incluímos também seu conhecimento –,
elemento complementar dos estudos em corpora, (McEnery & Andrew,
1997:25) e capaz de “desempenhar um papel ativo na comunicação jurídica”
(Sarcevic, 2000:3). Por meio das traduções oferecidas, esperamos que o
tradutor possa ter elementos para fazer suas escolhas e tomar suas
decisões respeitando as características do discurso jurídico de modo a
traduzir “linguagem jurídica por linguagem jurídica” (De Groot, 1998:23).
Ante o exposto, com o fim de estudar os binômios nos contratos de
common law, buscamos responder as seguintes perguntas:
(a) Como os tradutores brasileiros traduzem os binômios em inglês?
(b) Quais os binômios usados em instrumentos contratuais em inglês?
(c) Quais seus correspondentes em português?
Para este fim, observamos como os binômios são traduzidos por
tradutores brasileiros, compilamos um corpus jurídico bilíngüe de
instrumentos contratuais, exploramos o corpus com ferramentas
computacionais e fornecemos correspondentes em português para os
binômios selecionados.
Assim, dividimos esta dissertação em cinco partes.
O Capítulo 1, Os binômios, traz as definições encontradas na
literatura, as classificações dadas a essas unidades, suas funções e sua
origem histórica na língua inglesa.
O Capítulo 2, Fundamentação Teórica, apresenta uma definição de
Lingüística de Corpus e aborda a tipologia dos diferentes tipos de corpora,
ainda, ressaltar a importância e utilidade da Lingüística de Corpus para
nossa pesquisa ao estabelecer uma relação com a convencionalidade, a
tradução e a terminologia.
O Capítulo 3, Materiais e métodos, apresenta a metodologia adotada
nesta pesquisa. Inicialmente, reapresentamos os objetivos e as questões de
pesquisa. Procuramos demonstrar como os tradutores aprendizes traduzem
os binômios, mostramos os critérios segundo os quais o corpus foi projetado
e concluído, bem como as ferramentas utilizadas, e descrevemos os
procedimentos para a análise dos dados.
O Capítulo 4, Análise e discussão dos dados, apresenta o produto
final da pesquisa, ou seja, os quadros informativos com os binômios, seus
padrões lingüísticos e seus contextos aproximados em inglês e português.
Na Conclusão, teceremos as últimas considerações estabelecendo as
relações entre os objetivos iniciais e o resultado alcançado e apresentamos
C
APÍTULO
1
O Capítulo 1 deste trabalho apresenta as definições de binômio
encontradas na literatura e a definição adotada nesta pesquisa. Em seguida,
traçamos um breve histórico da origem e da proliferação dos binômios na
língua inglesa, abordamos as funções atribuídas a essas unidades e as
classificações existentes. Ao final do capítulo, falamos sobre a questão da
tradução dessas unidades que muitas vezes representam um desafio ou
uma armadilha para o tradutor.
1.1 Definição
Os binômios são chamados, em inglês, de binomials (Bhatia, 1993),
doublets (Mayoral Asensio, 2003; Crystal & David, 1969; Crystal, 2004 e
Gibbons, 2005), de worthless doubling e usefull doubling (Mellinkoff, 1963),
de needless synonyms (Child, 1992) e de conjoined words and phrases e
repetitive word pairs (Tiersma, 2000).
Diversos autores abordaram alguns aspectos dos binômios tanto na
língua geral, entre eles, Malkiel (1959), Tagnin (1989 e 2005), Benor & Levy
(2006), entre outros, quanto no discurso técnico, como, por exemplo,
Mayoral Asensio (2003), Mellinkoff (1963), Bhatia (1993, 1994 e 1997)
Tiersma (2000) e Rossini (2005).
No âmbito da linguagem geral, Malkiel (1959:113), em um estudo
sobre binômios irreversíveis, define essas unidades como:
[...] uma seqüência de duas palavras pertencentes à mesma classe, colocadas em um mesmo nível de hierarquia sintática e sempre ligadas por algum tipo de conectivo lexical3.
OS BINÔMIOS -11
O primeiro exemplo usado por Malkiel (1959:113) é snow and cold
que é, de acordo com o próprio autor, uma seqüência de dois substantivos
ligados por um conectivo que pode ser esquematizada por: N. and N.
Usando esse binômio como exemplo, Malkiel afirma que de acordo
com a sua definição “não há nada de imutável ou formulaico sobre esse tipo
de binômio”e que “os falantes estão livres para mudar a ordem dos
elementos” e até mesmo “trocar um elemento por outro elemento
semanticamente ligado ao que restou”4 (Malkiel, 1959:113).
A situação é outra, todavia, em se tratando dos binômios que ele
chama de irreversíveis (Malkiel, 1959:13), foco de seu estudo. O exemplo
dado pelo autor, nesse caso, é o de odds and ends, cuja ordem dos
elementos se solidificou tanto que uma inversão seria praticamente
ininteligível para um ouvinte pego de surpresa (Malkiel, 1959:113) o que nos
permite inferir que, no caso dos binômios irreversíveis, a combinabilidade é
um aspecto de alta relevância.
Assim, para Malkiel (1959), são binômios quaisquer seqüências de
palavras que atendam à sua definição, isto é, serem da mesma categoria
gramatical e ligadas por conectivo lexical que pode ser tanto uma conjunção
quanto uma preposição, não sendo imperativo que seus elementos tenham
uma determinada ordem5, por exemplo. A existência de uma ordem fixa,
porém, implica a existência de uma categoria de binômios: os irreversíveis.
Ainda na língua geral, Tagnin (2005:50), em obra sobre
convencionalidade, apresenta a seguinte definição de binômio:
Um binômio é geralmente formado por duas palavras pertencentes à mesma categoria gramatical e ligadas por uma conjunção ou preposição: profit and loss/lucros e perdas, bit by bit/pouco a pouco. Pode também, por vezes, ser precedido de preposição: from head to toe/da cabeça aos pés.
A autora caracteriza, ainda, os binômios de acordo com três aspectos:
Podemos caracterizar os binômios de acordo com dois aspectos sintáticos e um semântico. O primeiro aspecto sintático refere-se à combinabilidade, ou seja, é necessário que a combinação de seus elementos tenha sido convencionada, que esses elementos usualmente “andem juntos”.
[...]
Quando a ordem é o fator que foi convencionado, a expressão torna-se irreversível.
[...]
No nível semântico, os binômios podem se caracterizar por serem idiomáticos ou não-idiomáticos.
O primeiro aspecto, a combinabilidade, implica os elementos
“andarem juntos”, o que pode ser inicialmente indicado por uma certa
freqüência em um dado corpus. O segundo, a ordem, determina o grau de
fixidez de um binômio, aspecto amplamente estudado na literatura (Malkiel
(1959), Benor & Levy (2006), entre outros). Por fim, o aspecto da
idiomaticidade indica se um binômio é ou não transparente, ou seja, se a
soma dos seus elementos leva, ou não, à compreensão do todo.
Abaixo alguns exemplos extraídos de Tagnin (2005) para ilustrar os
aspectos que caracterizam os binômios segundo a autora:
Quadro 1- Exemplos retirados de Tagnin (2005)
Binômio Combinabilidade Ordem Idiomaticidade
profit and loss presente reversível não
come and go presente irreversível não
bag and baggage presente irreversível sim
day and night presente reversível não
Em relação às definições apresentadas, poderíamos dizer que Malkiel
(1959) não ressalta o aspecto da combinabilidade expressado em Tagnin
(2005), ou seja, segundo Malkiel, para que uma seqüência de palavras seja
considerada um binômio, basta os dois elementos serem da mesma
categoria gramatical e ligados por um conectivo lexical, que assim como em
Tagnin (2005) pode ser conjunção ou preposição (Malkiel, 1959:129), não
importando se os elementos “andam juntos”.
A definição de Malkiel (1959) foi adotada por Benor & Levy (2006) em
OS BINÔMIOS -13
lexical à conjunção and para estudar os fatores que determinam a ordem
dos elementos que compõem os binômios.
Uma outra definição em estudo baseado em corpus é a de Rossini
(2005:35). Segundo a autora:
Os binômios são grupos formados por três itens onde dois deles são palavras da mesma classe gramatical e o terceiro uma partícula que pode ser or ou and.
Por fim, as últimas definições apresentadas são a de Bhatia (1993) e
de Tiersma (2000) que não fornecem um conceito apenas para binômio,
estendendo-o também para os multinômios ou polinômios – chamados, em
inglês, de multinomials (Bhatia, 1993), conjoined phrases (Tiersma, 2000) ou
triplets (Mayoral Asensio, 2003, Crystal, 2004).
De acordo com Bhatia (1993:108) os binômios/multinômios são:
[...] uma seqüência de duas ou mais palavras ou frases pertencentes à mesma categoria gramatical com alguma relação semântica e unidas por um elemento sintático tal como and ou or6.
Abaixo alguns exemplos dados pelo autor (1993):
Quadro 2 - Exemplos de binômios e multinômios em Bhatia
Exemplos de binômios e multinômios em Bhatia
signed, sealed and delivered
unless and until
for and on behalf of
sole and exclusive use
E, para Tiersma (2000: 15):
[...] uma combinação de palavras/sintagmas é formada por dois elementos paralelos ligados por uma conjunção como and ou or.7
6
A sequence of two or more words and phrases belonging to the same grammatical category having some semantic relationship and joined by some syntactic device as and or or.
Antes de apresentar nossa definição, devemos ressaltar que, para fins
desse estudo, em grande parte, descritivo da linguagem dos contratos, nós
nos valeremos das ferramentas da Lingüística de Corpus para identificar os
binômios. Portanto, faz-se mister apresentar uma definição que seja
compatível com nossa metodologia. Pois, não atenderia às necessidades de
nosso estudo adotar, sem nenhum recorte, uma das definições acima, já que
alguns de seus aspectos não seriam passíveis de identificação por
programas de computador – como é o caso, por exemplo, da relação
semântica entre as palavras prevista por Bhatia (1993), da idiomaticidade
em Tagnin (1989 e 2005) e da presença de sintagmas em Tiersma (2000).
Assim, levando em conta o programa a ser utilizado – WordSmith
Tools – e o tipo de corpus – etiquetado – , os aspectos que acreditamos
serem passíveis de identificação seriam:
(a) o conectivo – que para nós será as conjunções and e or;
(b) a mesma classe gramatical entre os elementos – assim,
consideramos binômios aqueles representados pelas seguintes
estruturas:
- determinante and/or determinante
- artigo and/or artigo
- pronome and/or pronome
- preposição and/or preposição
- adjetivo and/or adjetivo
- advérbio and/or advérbio
- verbo and/or verbo
(c) a freqüência – exteriorizada por uma ocorrência mínima dos
binômios no corpus. Para nosso estudo, será imprescindível que
o binômio ocorra mais de uma vez no corpus em, pelo menos,
dois documentos diferentes.
Nesse sentido, para fins desse estudo, será considerado binômio uma
seqüência de duas palavras pertencentes à mesma categoria gramatical,
ligadas pelas conjunções and ou or, caracterizadas por uma freqüência
OS BINÔMIOS -15
1.2 A origem e a Proliferação dos Binômios no Inglês
Entre os autores que se ocupam da origem e da proliferação dos
binômios estão Mellinkoff (1963), Nevalainen (1999), Tiersma (2000) e
Barleben (2003). Na obra de Mellinkoff (1963), os binômios mereceram
considerável atenção e recebem tratamento direto em alguns itens de
capítulos8, bem como tratamento indireto em diversos outros itens. O mesmo
pode ser dito sobre Tiersma (2000). Apesar de ambos os estudos não
apresentarem um levantamento quantitativo de dados, no caso de Mellinkoff
(1963) tal fato é plenamente justificável9, as obras são marcadas por um
caráter qualitativo observável nas inúmeras referências e notas que os
autores, principalmente Mellinkoff, fazem para ilustrar a descrição da
linguagem jurídica. Nevalainen (1999) e Barleben (2003) realizaram estudos
sobre o Early Modern English, período ao qual a origem dos binômios é
atribuída e, portanto, se ocupam de todas as características do período,
pouco sendo dito sobre o nosso tema de interesse.
Em virtude da ausência de outras fontes que tratem do tema, o
presente item 1.2 fundamentar-se-á nas quatro obras acima citadas, em
especial em Mellinkoff (1963), dada a especificidade e densidade da obra.
Para melhor entendermos a origem e a proliferação dos binômios
faz-se mister delinear a evolução da própria língua inglesa e das línguas usadas
no Direito inglês.
A evolução do inglês é, normalmente, dividida em três períodos: o do
Old English (até a conquista normanda em 1066), o do Middle English (1066
a 1500) e o do Modern English (1500 a 1800). Tendo em vista o objetivo
desta dissertação, falaremos brevemente sobre os períodos em que os
binômios surgiram e se proliferaram. O Anexo A contém uma linha do tempo,
elaborada de acordo com as referências consultadas neste capítulo,com os
principais acontecimentos históricos que tiveram reflexo nas línguas usadas
na Inglaterra nesses períodos.
8
Chapter IIII – Manneirisms of the Language of the Law – 19. Wordy; Chapter XII – More Precise; Chapter XIV – Shorter, entre outros.
Até a conquista normanda, período conhecido como o do Old English,
o território que conhecemos hoje por Grã-Bretanha era dividido em tribos
que falavam línguas anglo-saxônicas e celtas. Além disso, a ilha era
constantemente invadida ao norte por povos germânicos. Eram várias as
línguas usadas no Direito que era próprio de cada tribo e, predominantemente,
oral. Não havia uma classe de juristas, mas desenvolveu-se um vocabulário
jurídico usado até até hoje, por exemplo, bequeath, goods, land, manslaughter,
muder, right, steal, theft, witness, entre outros (Tiersma, 2000:10).
O segundo período, o do Middle English, encerra o período da
influência germânica e é marcado pela influência do latim, iniciada com a
chegada dos missionários à Inglaterra (Tiersma, 2000:16), e do francês
(Mellinkoff, 1963:83), com a conquista normanda.
Assim, a partir de 1066, enquanto o francês era a língua da corte, o
latim é que predominava no Direito (Tiersma, 2000:20), pois era a língua do
clero, dos instruídos, ou seja, dos juízes da coroa e dos redatores de
documentos oficiais, leis, cartas e ordens (Mellinkoff, 1963:65-71). A
influência do latim foi tão intensa no inglês que, por dois séculos, foi usada
como língua do direito escrito. Mesmo, mais tarde, durante o ápice da
influência do francês na linguagem jurídica, o latim era língua usada nos
documentos de maior importância (Mellinkoff, 1963:81).
Mellinkoff afirma que é possível deduzir, mas talvez nunca realmente
provar, que após a conquista normanda três línguas eram usadas: o latim, o
francês e o inglês (1963:69). O francês e o latim refletiam o status do homem
instruído, da nobreza (Mellinkoff, 1963:70), dos profissionais do direito que,
conseqüentemente, deixaram sua marca nessa língua de especialidade. Tiersma
(2000: 33) chega a destacar que durante muito tempo o direito inglês foi
trilíngüe, o inglês, o francês e o latim eram usados de acordo com a situação.
Com tantas influências lingüísticas, desde as línguas germânicas,
passando pelo latim e pelo francês, a linguagem jurídica cresceu
desordenadamente e até hoje sofre com as conseqüências desse fenômeno
(Mellinkoff, 1963:144). Uma dessas conseqüências, segundo Mellinkoff, é o
OS BINÔMIOS -17
emprego abundante de binômios, que não se confinaram à Inglaterra, mas
cruzaram o oceano em livros de minutas de peças e contratos (1963:213) e,
até hoje, são uma marca de vários instrumentos jurídicos.
Como mencionamos no primeiro parágrafo desse item, a origem dos
binômios é atribuída ao período do chamado Early Modern English que,
segundo Nevalainen (1999:363), foi marcado pela produção dos binômios
que representavam nova terminologia na área jurídica e eram normalmente
formados pela combinação de um termo já existente na língua inglesa com
seu sinônimo em outra língua. Termos como bargain and sale e breaking
and entering são alguns exemplos que combinam um termo oriundo do
francês com outro do Old English (Barleben, 2003). Entretanto, as
combinações de palavras de origem diferente na formação dos binômios não
se limitaram a palavras de origem inglesa com as de origem francesa, mas
havia, ainda, combinações do inglês com o latim, o celta e o escandinavo
(Mellinkoff 1963:39).
Segundo Mellinkoff, não apenas no período do Early Modern English,
mas também durante o período anterior, o do Old English, já havia uma
tradição de associar sinônimos originados de línguas diferentes e tal fato
floresceu no período do Middle English (1963:120). Segundo Mellinkoff
(1963:120):
Esse antigo vício de misturar línguas e o culto aos sinônimos que ocorreu durante o período do Old English somou-se ao do período do Middle English produzindo uma duplicação de palavras de uma forma nunca antes vista. Com depósitos de palavras celtas, nórdicas, latinas e, agora, francesas, o armazém de bens lexicais estava destinado a transbordar. E transbordou, espalhando sinônimos bilíngües por toda parte, e estabelecendo um hábito transportado ao presente. O que antes pode ter sido considerado uma tradução necessária, logo passou a ser um estilo consagrado10.
Quadro 3 - A origem dos componentes de alguns binômios (Mellinkoff, 1963:120)
Binômio Línguas de origem
Wracke and ruine Old English: Old French
poynaunt and sharpe Old French: Old English
lord and sire Old French: Old English
safe and sound French: Middle English
O estilo ao qual Mellinkoff se refere na citação acima é o estilo da língua
inglesa como um todo. Isto é, os binômios passaram a fazer parte do inglês,
não só da linguagem jurídica, mas também da literatura e da linguagem geral
(1963:120). Uma palavra funcionava como glosa à outra para dar inteligibilidade
a pessoas de várias origens lingüísticas e, ainda, para reunir a linguagem
jurídica do Early English com a do Norman French (Gibbons, 2005:43).
O constante recurso à sinonímia passou a ser um elemento
decorativo característico da linguagem jurídica e do inglês11 como um todo
(Mellinkoff, 1963:121-2), resultante do choque entre línguas distintas sem
que tenha sido, necessariamente, de um processo consciente (1963: 39).
Quadro 4 - Alguns binômios presentes tanto na linguagem geral quanto na linguagem jurídica (Mellinkoff, 1963:121-2)
Binômios presentes tanto na linguagem jurídica quanto na língua geral
Binômios presentes apenas na linguagem jurídica
by and with
each and all
each and every
from and after
have and hold
heed and care
hold and keep
let or hindrance
act and deed
breaking and entering
deem and consider
fit and proper
give, devise, and bequeath
right, title and interest
shun and avoid
will and testament
OS BINÔMIOS -19
O hábito de multiplicar palavras foi tão forte que extrapolou as
combinações de palavras oriundas de línguas diferentes. Nesse sentido,
Mellinkoff dá exemplos de binômios em que ambos os elementos
semânticos têm origem na mesma língua: might and main, em Old English, e
part and parcel, em francês (Mellinkoff, 1963:121).
Quadro 5 - Binômios cujos componentes são todos originários do francês (Mellinkoff, 1963:122)
Binômios sinonímicos oriundos do francês
aid and abet
aid and comfort
authorize and empower
cease and desist
fraud and deceit
hue and cry
null and void
pains and penalties
rest, residue, and quitclaim
Além de passarem a integrar o estilo da língua inglesa, alguns outros
fatores, segundo Mellinkoff, teriam contribuído para a proliferação dos
binômios. Um fator mais antigo, que data do período do Old English, seria a
tradição oral do direito inglês. Segundo Mellinkoff, os binômios teriam
desempenhado nessa tradição um papel importante, pois, por possuírem
ritmo e valerem-se de aliterações, parecem auxiliar na memorização
(1963:43) fator muito útil para as sociedades predominantemente ágrafas
existentes no período do Old English (Tiersma, 2000:14). Segundo
A veia do ritmo corre pela linguagem jurídica, às vezes em palavras faladas tradicionais, às vezes transportado para o que está apenas escrito. A distância é curta entre os mais antigos juramentos anglo-saxônicos e ao redundante, porém poético the truth, the whole truth, and nothing but the truth, palavras que datam do Old English, usadas em um juramento prestado até hoje. O poder da aliteração também ajudou a preservar no direito tautologias como to have and to hold, mind and memory, new and novel, aid and abet, part and parcel, safe and sound, rest, residue and remainder, ao passo que outros ritmos ajudam a preservar a multiplicações como remise, release and forever quitclaim; give, devise and bequeath; e o mais próximo ready willing, and able. Nem todas essas combinações são do Old English [...], mas a tradição do ritmo na common law inaugura-se no início do período do Old English12 (1963:43).
Assim, devido à oralidade da linguagem jurídica, um recurso que
acabou contribuindo para que os binômios se fixassem na língua inglesa foi
a presença da aliteração, que, segundo Malkiel, funcionaria como um
amálgama entre os componentes dos binômios (1959:123). A aliteração está
presente em wracke and ruine, safe and sound (Mellinkoff, 1963:120), por
exemplo.
Ainda em relação à oralidade, Garner (2002:193) atribui a
consolidação do uso dos binômios à própria tradição oral, pois o uso de
quase-sinônimos daria mais tempo para que o ouvinte assimilasse o
discurso do falante.
Um outro fator apontado por Mellinkoff como responsável pela
proliferação dos binômios no direito inglês foi o fato de os advogados e
escriturários, principalmente durante o século XVII, serem remunerados de
acordo com o número de páginas que produziam. Dessa forma, procuravam
empregar o maior número de palavras que pudessem (1963:190) a fim de
aumentar a extensão dos documentos (1963:144). Logicamente, essa
multiplicação de palavras elevava o custo de serviços jurídicos (1963:132). A
OS BINÔMIOS -21
quantidade de palavras desnecessárias nos documentos jurídicos ainda hoje
é um fato bem conhecido do advogado do século XX (Mellinkoff, 1963:190)
e, como observaremos no decorrer deste estudo, do advogado do século
XXI também.
Apesar de ser resultado de diversos fatores, a proliferação dos
binômios teria sido um processo demorado e duradouro que teria trazido
conseqüências para a língua inglesa, entre elas, a prolixidade da linguagem
jurídica. É o que observamos na citação abaixo:
Quer seja a repetição uma tradução intencional com o objetivo de acomodar duas culturas, quer seja decorrente de erro, é um dos resultados do choque entre línguas. A língua inglesa sobreviveu a diversos choques, e a linguagem jurídica foi uma de suas prolixas vítimas. Essa preferência do inglês em se combinar com sinônimos de línguas estrangeiras remonta do celta ao escandinavo [...], ao latim [...], e ao francês [...]. Não se trata de uma explicação completa para a tautologia jurídica, mas é um padrão que começa cedo e fica até tarde13 (Mellinkoff, 1963:39).
Até hoje ao consultarmos leis ou outros documentos jurídicos
percebemos que a tendência de combinar palavras permanece (Tiersma,
2000:63).
Podemos, ainda, afirmar que essa tendência à repetição que marca
os padrões lexicais revela também padrões culturais14 (Scott, 1996). O
sistema da common law não foi marcado pelas grandes rupturas que
caracterizam o sistema romano-germânico como, por exemplo, a publicação
de códigos que revolucionaram o direito como o Corpus Júris Civilis e o
Code Napoléon. Portanto, as influências externas de outras línguas foram
aspiradas pelo inglês, em vez de rejeitadas15. A common law é conhecida
pela continuidade histórica de seu direito considerado produto de uma
13 Yet whether repetition is deliberate translation to accommodate two cultures or arises through error, it is one of the results of a collision of languages. The English language has survived several such collisions, and the language of the law has been one of the wordy victims. This penchant of English of coupling with foreign synonyms may be traced from Celtic to Scandinavian […], Latin […], and French […]. It is by no means a complete explanation of law tautology, but the pattern begins early and stays late. (Mellinkoff, 1963:39).
14 Lexical patterns betray cultural patterns. (Scott, 1996). 15
evolução permanente sem perturbações de revoluções, tendo nisso motivo
de muito orgulho16 (David, 1998:283).
Por fim, o que mais chama nossa atenção é que apesar de tantas
influências lingüísticas – antes mesmo da conquista normanda de 1066,
vimos que o inglês sofria influências não só das línguas anglo-saxônicas,
mas também do celta, do latim e do nórdico (Mellinkoff, 1963:45) –, o inglês
conseguiu se manter e evoluir. Entretanto, essas influências, ainda que
tenham tornado o inglês jurídico mais complicado e verborrágico, também o
teriam tornado lexical e semanticamente mais rico.
A persistência do inglês – face às repetidas incursões do francês e do latim – significou que o advogado inglês e o estadunidense têm tido um maior estoque de material lexical com o qual trabalhar. Isso tem dado à linguagem do direito: matização, flexibilidade, sutileza nas variações de sentido, e também prolixidez, ambigüidade e complexidade em geral17. (Mellinkoff, 1963:59)
16 “O jurista inglês – que subestima a continuidade dos direitos continentais, convencido de que a codificação provocou uma ruptura com a tradição destes direitos – gosta de valorizar a continuidade histórica do seu direito; este surge-lhe como sendo produto de uma longa evolução que não foi perturbada por nenhuma revolução; orgulha-se desta circunstância, da qual deduz, não sem razão, a prova da grande sabedoria da common law, das suas faculdades de adaptação, do seu permanente valor, e de qualidades correspondentes nos juristas e no povo inglês” (David, 1998: 283).
17
OS BINÔMIOS -23
1.3 As Múltiplas Funções dos Binômios nos Textos Jurídicos
Aos binômios seriam atribuídas diversas funções ao logo da história
do direito. Entre elas estariam, segundo Mellinkoff (1963) a de aumentar a
extensão dos textos jurídicos, a de afastá-los do domínio de leigos e a de
conferir clareza e ênfase aos textos jurídicos, não que o referido autor
concordasse com todas elas. A literatura especializada menciona, ainda,
outras funções dessas unidades.
Para Bhatia, os binômios seriam usados abundantemente em textos
legislativos para expressar dois elementos essenciais dos documentos
jurídicos: precisão e inclusão (1993:108). Segundo Barleben (2003) essa
necessidade de precisão contribuiria para a adoção de outras palavras que
não pertenciam originalmente ao inglês e que, em muitos casos, deram
origem aos binômios. Mellinkoff (1963:388), entretanto, rejeita a afirmação
de que os textos jurídicos são dotados de precisão:
A linguagem jurídica, em geral, nunca foi precisa, e nem é possível nem desejável que se torne completamente precisa. [...] O defeito do dogma da precisão é reivindicar demais. A linguagem jurídica raramente é precisa18.
O autor acredita que quanto maior o número de palavras, maior a
possibilidade de erro.
Por que modified and changed? O maior mal da redundância não é a extensão – que em si já é ruim [...] – mas o aumento da possibilidade de erro. Uma regra básica de interpretação requer que, sempre que possível, a cada palavra usada seja atribuído um significado19 (Mellinkoff, 1963:389)
A regra básica de exegese a que Mellinkoff se refere na citação acima
também é válida no direito brasileiro, como nos ensina Maximiliano (1980:110):
Presume-se que a Lei não contenha palavras supérfluas; devem ser entendidas como escritas adrede para influir no sentido da frase respectiva.
18 The language of the law has never been generally precise, and it is neither possible nor desirable that it become completely so. […] The defect in the dogma of precision is that it claims too much. Law language is but rarely precise.
19 Why
Já, Gustafsson identificou os binômios como um recurso lingüístico
usado para dar peso ao final dos períodos (1984:133 apud Kwok 2000:23).
Essa característica é evidenciada por um levantamento feito por Kwok
(2000:25) em um corpus de leis em inglês e sua tradução para o chinês, em
que em 67% dos casos os binômios ocupavam um local periférico nos
períodos. Essa posição, segundo Kwok, afeta negativamente a tradução e a
interpretação de textos jurídicos.
Esta significativa natureza periférica dos binômios é uma das causas da descontinuidade sintática nos textos jurídicos que, aliada à grande carga de informação resultante do emprego dos binômios, pode causar problemas de compreensão e de tradução20 (Kwok, 2000:25).
Gustafsson, assim como Mellinkoff (1963:120), aponta que essas
unidades são uma marca do estilo da linguagem jurídica (1984:134 apud
Kwok 2000:23). E por marca do estilo entendem-se as escolhas recorrentes
em um mesmo tipo de texto (Olsson, 2006:23) que podem estar ligadas ao
indivíduo ou ao gênero em questão (Olsson, 2006:35).
Nesse sentido, a pesquisa realizada por Gustafsson afirma que os
binômios em inglês ocorrem cinco vezes mais na linguagem jurídica que em
outros tipos de prosa (1984:134 apud Kwok 2000:8).
Assim, podemos resumir as funções atribuídas aos binômios da
seguinte forma:
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