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:"UIn
Certo Planeta
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L u i z a '
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E n tre v is ta c o m a p ro fe s s o ra L u íz a d e T e o d o ro V ie ira , d ia 11/11/93. P ro d u ç ã o : M a u ro C o s ta , R o b e rta M a n u e la B a rro s e A n a P a u la F a ria s A b e rtu ra : L u c ia n a R a b e lo E d iç ã o e T e x to F in a l: M a u ro C o s ta ,
R o b e rta M a n u e la P a rtic ip a ç ã o : A n a P a u la F a ria s , A n a M a ria X a v ie r , K a rin e R o d rig u e s , D ja n e N o g u e ira , M a u ric io
L im a , R o b e rta M a n u e la B a rro s , L u c ia n a R a b e lo , C h ris tin e M e ire le s , C a rla S o ra y a F lo rê n c io , L e o n a rd o P in to , L u z ia n ia X a v ie r, E le u d a d e C a rv a lh o , C ris tia n e P a re n te e
M a u ro C o s ta . F o to : J a rb a s O liv e ira
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:(j
niversal.
Éassim que podemos definir a
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professora Luíza de Teodoro Vieira. O
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jeito simples e tranqüilo de ser não revela
•
o espírito
de
luta que, durante
anos,
ajudou
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a construir uma esperança
para a Educação no
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Ceará. O caminho no magistério tem sido coroado
•
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de êxitos e respeito. Competência,
dedicação e
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paixão não lhe faltam. Aliás, desde ajuventude que
•
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ela tem trilhado a estrada árdua e espinhosa do
•
ensino com bastante
determinação.
E coragem.
:
Muita coragem para iluminar de sabedoria a vida.
•
Luíza de Teodoro, filha única de umjomalista
•
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e de uma professora, acredita que deve tudo o que
•
é a sua avó Rosinha. Não que não fosse querida
•
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pelos pais, mas dona Rosinha era a "fiel da
balan-• ça",
a pessoa que aliviava o campo de disputa entre
•
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os pais pelo bem-querer da filha. Assim, a menina
•
Luíza cresceu ouvindo histórias do sertão, canções
:
do Ceará, através das palavras mágicas da avó.
"É•
uma presença muito forte na minha vida" .
•
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Foi aluna aplicada e interessada.
Aluna-prodí-•
gio, como Luíza mesma faz questão dizer. Se para
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certas pessoas o estudo se constitui em simples
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obrigação,
para Luíza sempre foi uma gostosa
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'HIUFC
L u i z a d e T e o d o r o a c r e d i t a q u e e s c o l a é u m l o c a l o n d e a p r e n d e - s e a s e r e l a c i o n a r c o n s i g o m e s m o , c o m o m u n d o , c o m a r e a l i d a d e .
brincadeira. A rigidez do pai a obrigou a transferir
a infância para a escola. Os livros sempre foram
companheiros e a leitura para ela sempre teve uma
"conotação de afeto".
Na adolescência descobriu os grupos católicos
e a política. De alma profundamente
revolucioná-ria, embora nunca tenha aceitado se filiar a nenhum
partido de esquerda, porque não tinha nada a ver
com a maneira de encarar a vida, Luíza de Teodoro
fez parte da JEC (ramo secundarista da Ação
Cató-lica) e da
ru c
(Juventude Universitária
Católica).
Esses
grupos
católicos
de
evangelização
contribuiram,
segundo Luíza de Teodoro, para seu
amadurecimento
enquanto pessoa e profissional da
educação.
A religião, para ela, corresponde a uma
neces-sidade. A liturgia e o canto gregoriano fizeram de
Luíza uma pessoa mística. A força e a garra para
continuar na batalha do dia-a-dia vêm dessa sua
profunda fé em algo superior que rege o Cosmos.
Luíza de Teodoro sabe conciliar todos os aspectos
da vida com uma verdade única, verdade que a
ensinou a ser feliz.
A crença em uma verdade divina, no entanto,
não conseguiu evitar que Luiza de Teodoro fosse
alvo de inveja e mesquinharias,
sentimentos
que
provinham
até dos próprios colegas de profissão,
. que não concordavam com suas idéias pedagógicas.
Na época da ditadura,
ela chegou a responder a
vários interrogatórios.
Sorte ou proteção divina,
Luíza nunca sofreu maltratos fisicos ou teve a vida
profissional e pessoal maculada. "Eu tenho uma fé
muito infantil mesmo, dessa de segurar na mão de
Deus".
"Um Certo Planeta Azul"
é uma dádiva da
dedicação de Luíza de Teodoro
à
Educação. Com a
intenção de proporcionar
ao estudante pobre uma
forma de integrá-Io ao mundo, tal cartilha veio para
modificar o quadro-negro
da educação no Estado.
Não foi utilizado devidamente, mas isso não parece
abalar Luíza. Ela acredita que as histórias nunca
irão morrer,
porque sempre
haverá narradores,
•
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L u i z a d e T e o d o r oE ntrevista
•
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--;::,.
•
E n t r e v i s t a - - N ó s g o s t a r i a m o s d e casa. Ela era professora pnrnana, porque eu era muito miudinha, muito'.
, , .•
s a b e r m a i s u m p o u c o d o s e u t r a b a - quando eu nasci e fui criança, e de- magrinha, muito pequenininha, e elesihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
•
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•
l h o . q u e c o n h e c e m o s a p e n a s c o m o pois passou a ser funcionária da se- não sabiam em que classe me botar., .'::~'.' -»
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p r o f e s s o r a . P a r a c o m e ç a r , g o s t a r i a - cretaria de Educação. Éessa a dupla Porque era pra ser Alfabetização, mas" '" , '\ 7 . ; ~ \
•
• I .~':c.' ..I1j~
m o s d e s a b e r t a m b é m c o m o f o i a v i d a que acompanhou minha infância e eu já era alfabetizada e não tinha nem
...
~ ~•
'; '~ ~ " ': ~ : . i · ~••. t"_,,,~ .•
d a m e n i n a L u i z a T e o d o r o , a s u a i n - mais a minha avó, que acho que foi a seis anos de idade, já tinha sido uma•
f â n c i a , op e r i o d o j u n t o c o m s u a f a m i - presença mais forte, afetivamente concessão.Atualmente, Luíza faz
•
parte do projeto Uni-
•
l i a . falando. Não que meus pais nãofos-versidade sem Frontei-
•
Luíza -- Eu sou filha única de um sem afetuosos -- eram até demais, E n t r e v i s t a - - A s e n h o r a s e c o n s i d e-•
casal onde meu pai era uma pessoa porque esse negócio de filha única, r o u u m a b o a a l u n a ?ras, onde leciona "His-
•
tória da Cultura Oci-
•
que tinha uma história muito interes- você fica afogada de bem-querer. Mas Luíza -- Ah, minha filha, eu fuides-dental"
•
sante. Ele tinha sido um emigrante do também ao mesmo tempo você é um sas alunas-prodígio, de primeirolu-•
Ceará e passou a juventude toda nas campo de luta, porque pai e mãe gar de ponta a ponta. Eu era pra ser um•
•
matas da Amazônia. E lá ele conse- disputam a preferência. E minha avó monstro! ( r i s o s ) .•
guiu -- não sei como, não tive tempo era assim o fiel da balança. Era a•
•
de entrevistá-Io _o,mas, o fato é que, pessoa estável, era quem me contava•
quando voltou da Amazônia, depois história. Minha avó é a minhahistó-•
de ter passado anos e anos num serin- ria, né? Tudo que eu sei do Ceará e do"Minha vida escolar eu
•
•
gal, fundou umjornal aqui em Forta- sertão ... Eu acho que o começo de eume lembro muito é de
•
leza, chamado O I m p a r c i a l . Foi um gostar de História com H mai úsculo é•
jornal pequeno, onde ele era o dire- a minha avó. Ela que ficava em casa,brincar. Mais do que
•
•
tor, ele era o repórter, ele era o ven- minha mãe trabalhava, meu paitam-estudar ... Estudar para
•
dedor, ele era o impressor. Nesse bém, e ela fazendo renda e contando•
tempo era aquela impressão de tipos as histórias do Ceará. Cantando as•
mim era brincadeira.
•
móveis, aqueles tipinhos de chumbo. canções antigas, as coisas doSer-•
Quando eu dei conta de mim, ele não tão ... Nunca deixou de ser sertaneja!Sempre foi"
•
•
era mais jornalista, mas ainda tinha Viveu até 95 anos, e desses a maior•
os tipos, ainda tinha a velha mania de parte foi passada na cidade, mas ela•
ter sido tipógrafo do jornal. Meu pai era profundamente rural, na maneira E n t r e v i s t a - - E c o m o f o i s e u p e r i o d o•
•
foi assim o típico autodidata, um ho- de falar, nas memórias, na filosofia d e a l f a b e t i z a ç ã o . A s e n h o r a p o d e r i a•
mem extremamente inteligente, ex- de vida, é uma presença muito forte d e t a l h a r l e m b r a n ç a s , p r o f e s s o r e s . . .•
tremarnente bem-informado e extre- na minha vida, a Rosinha ...Luíza --
Engraçado. Uma das minha•
•
mamente politizado. Pelas histórias primeiras professoras parece queain-•
que ele e minha mãe me contavam, E n t r e v i s t a - - C o m o e r a ol i a m e d e l a ? da vive. Éincrível isso. Dona NildaLuíza de Teodoro des-
•
ele foi tão politizado que os poderes Luíza -- Rosa. Maria Rosa de Sena. Sidou. Sempre estudei em escola p ú-•
taca-se por sua serie-
•
da época empastelaram duas vezes o Rosinha. blica, sempre. Todo o curso primáriodade, competência
•
jornal dele, quer dizer, quebraram e depois a universidade também. Eprofissional e lucidez
•
de idéias no campo
•
tudo naquelas querelas dos governos E n t r e v i s t a - - E l a e r a s u a a v ó m a t e r - saí do Grupo Escolar José de Alencareducacional.
•
cearenses. E também porque ele fi- n a ? para a Escola Normal. E lá eu fiz o•
cou dos lados dos liberais na Revolu- Luíza -- Ela funcionava como minha resto do meu curso. E, sabe, eu fui•
•
ção
de 30. Depois ele ficou profunda- avó. Na verdade, ela era irmã mais muito criança mesmo. Minha vida•
mente antigetulista, mas em 30 ele velha do meu pai. Os pais do meu pai escolar era muito de bnncar. Mais do•
teve que somar com Getúlio por cau- tinham tido dois casamentos, mas ela que de estudar. Inclusive estudar pra•
•
sa das convicções dele. meu pai cha- era tão mais velha que quase funcio- mim era brincadeira. Minha vidaes-•
mava Teodoro Vieira. OI m p a r c i a l t á nou como mãe dele, sabe? Então, eu colar eu me lembro muito é debrin-•
todo microfilmado aí no Arqui voPú-
me habituei a essa história de avó. Se caro Sempre foi. Eu não me lembro de•
•
blico. Minha mãe era uma pessoa de for atrás assim da genealogia não era, ficar em casa fazendo dever -- devia•
mas, de fato, o que uma avó significa fazer, que eu tirava dez em tudo. Mas•
para uma criança ela era. não me lembro dessa coisa de escola••
como trabalho. Era um lugaragradá-•
' 'O começo de eu
E n t r e v i s t a - - A m e n i n a L u í z a T e o d o r o vel porque lá em casa meu pai era••
gostar de História com
i n i c i o u s e u s e s t u d o s c o m o ? meio rígido. Então eu não brincava•
Luiza -- Estudos assim organiza- com vizinhos. E escola era o lugar de•
H maiúsculo é a minha
damente falando eu iniciei no Grupo brincar. Eu me lembro muito mais do•
•
avó ... Contando as
Escolar José de Alencar, que era uma recreio ( r i s o s ) do que de sala de aula.•
escola que funcionava vizinho ao No Primário, né?Depois eu fiz exame•
histórias do Ceará.
Theatro. Aquela casa onde hoje é de admissão e já no Ginasial -- nessa•
Cantando as canções
construído o anexo do Theatro, quedepois foi Faculdade de Medicina. época fazia-se cinco anos de primário,fazia-se um exame de admissão eantigas. "
Ela começou como grupo escolar. Mas tinha quatro anos de Ginasial. Aíre-quando eu fui para o grupo escolar, eu almente é o tempo das grandes
amiza-tinha cinco anos e meio e já sabia ler. des, que muitas delas perduram até
Apesar de seu jeito sé- Porque sempre meu pai leu muito. E hoje. Aí eu me lembro de professores,
rio, Luiza demonstrou outro tipo de inteligência, uma inteli- minha mãe também. E, sobretudo, de como eu gostava de estudar Latim,
durante a entrevista gência mais prática. Era a pessoa que meu pai leu muito pra gente ouvir. com o professor Muniz Sobreira,
Por-um senso de humor botava os pés no chão. Meu pai, de- Então, leitura, pra mim, sempre teve tuguês, com o professor Valdivino. E
fino, inteligente e sa- pois que deixou de ter o jornal, nunca essa conotação de afeto, de diversão. como eu detestava aula de
Matemáti-gaz. mais teve uma ocupação fixa. Vivia E eu não sei dizer desde quando eu sei ca, isso é uma marca da minha
gera-pegando bicos, né? E minha mãe é ler, e desde quando eu leio. Quando
ção, né?
E uma perda lamentável, eugos-taria de ter aprendido. Mas uma vez
eu acho que a lembrança maior da
escola é essa coisa de amizade, sabe?
E uma coisa curiosa, que eu tava
pensando um dia desses: eu vivi todo meu Ginásio com colegas -- era ex-clusi vamente feminino -- muito mais velhas e sempre houve assim ... Éra-mos duas pessoas bem novas: eu e a
, 'Uma das minhas
grandes paixões
artísti-cas é esse ritual da
Igreja ... Não é apenas
a coisa formal ... mas
o sentido profundo
disso. "
Maria Lúcia ... Hoje se chama Maria Lúcia Rocha, esposa do diretor do Colégio Christus. Nós somos da mes-ma idade, quer dizer, um mês de diferença, e nós éramos as crianças
da classe. E nossas colegas, que
namoravam, que conversavam aque-les assuntos assim, elas se calavam quando a gente chegava. Era a coisa mais engraçada, né? E davam bone-cas a gente, de presente. Nós
tenni-namos o Ginásio crianças mesmo.
Sempre foi uma coisa muito sem
esses traumas de adolescência, que
descobriu isso, descobriu aquilo. Eu acho que a minha ida tem sido muito suave, as fases têm passado muito
suavemente. Depois eu fiz o Curso
Normal -- e aí eu acho que a escolha de ser professora era quase que ine-vitável. Nessa época não havia
mui-tas carreiras pra mulheres. E a
mi-nha mãe, ela timi-nha deixado de ter sala de aula, mas ela curtia muito
essa história de ser professora. E
desde que eu me entendo, uma das
minhas brincadeiras era coisa de ser
professora de bonecas, brincar de
escola. E também acho que o que
estava ao alcance da mamãe, como tipo de emprego pra conseguir, já que ela secretária de Educação, era
conseguir uma cadeira num grupo
escolar. Então, continuei na escola
pública, aí já professora.
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E n t r e v i s t a - - A s e n h o r a n ã o a c h a q u e
°
c o n t a t o c o m p e s s o a s m a i sv e l l i a s i n f l u e n c i o u d e a l g u m a
forma
a s u a m a t u r i d a d e ?
Luíza -- Eu acredito que sim. Porque eu tive muito contacto com meus pais. Meu pai era um intelectual, minha mãe não era uma intelectual, mas era uma pessoa que gostava
muito de ler também. Minha avó era
analfabeta - eu até tentei, depois,
ensiná-Ia a ler mas não consegui mais. Acredito que isso tenha tido influên-cia. Mas eu também tive uma coisa que eu acho muito importante na mi-nha vida que a partir dos 15 anos eu
passei a pertencer a grupos, a um
grupo estudantil que existia, ainda
existe, não sei, uma organização
cha-mada Ação Católica. É uma
insti-tuição da Igreja feita pra
evangelização da sociedade. Então,
aos 15 anos eu entrei na JEC ( J u v e n
-t u d e E s t u d a n t i l C a t ó l i c a ) . Pra mim foi uma coisa muito boa, porque mi-nha família era católica. Meu pai se
dizia livre-pensador mas ia à missa
todos os domingos. E sobretudo ele me fez uma coisa que considero mara-vilhosa: ele me levava a todas as cerimônias que então havia na Igreja Católica, que eram as cerimônias do rito antigo, da liturgia que ainda tinha
vindo da Idade Média, da liturgia
gregoriana. Até hoje uma das minhas grandes paixões artísticas é esse ritu-al da Igreja, que é riquíssimo, porque não é apenas a coisa formal -- que é
muito bela, o canto grego ria no_o,mas
também o sentido profundo disso.
Isso sempre respondeu a uma neces-sidade minha. Eu sou realmente uma pessoa muito mística.
E n t r e v i s t a - - F o i a í n e s s e s r i t o s d a I g r e j a q u e c o m e ç o u s u a p a i x ã o p e l a
m ú s i c a ?
Luíza -- Eu não sei. A mamãe cantava muito. Meu pai também, embora
fos-se profundamente desafinado. Mas a
mamãe era afinada, tocava violão. A Rosinha cantava muito as coisas do
sertão. Cantigas antigas, conto,
fandango, boi. Eu cresci com música. Claro que nós não tínhamos recursos, nós éramos classe média ... É engra-çado isso! Nós éramos uns pobres engraçados. A gente não tinha dinhei-ro. Mas quando tinha dinheiro, com-prava o que tinha de melhor, entende? Então, não era assim essa cabeça de
pobre. Eventualmente a gente não
tinha dinheiro, mas, quando tinha
dinheiro então tinha uma cabeça as-sim de classe média, de procurar o melhor. Nós íamos a teatro ... Desde que eu me entendo que eu vou a cinema. Um dos bicos do meu pai foi
censor de cinema. Naquela época
existia isso. Ele era encarregado de
evitar que meninos entrassem nos
filmes que eram impróprios até dez anos e tal. Agora eu entrava sempre, né? Eu me criei dentro de cinema. Me criei em teatro. No tempo da Guerra,
na Europa, muitas companhias
tea-trais vieram ao Brasil, se refugiar, e
davam espetáculos não apenas no
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Theatro José de Alencar, como tam-
•
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,.
bém um cinema que existia no Cen-
•
Itro da cidade, chamado Majestic,
•
" "~.J{,\ {,~ c ",que era um cinema-teatro. Tinha um
•
•
, .-::
'. '.~ ~ .,\;':'.;
.,; .:~ \.~
7 ',' ~ .,,\1
palco muito bom. E eu me lembro de
•
~ ,~ '= '~ ':::, .•, I • . ~ ~ / ~companhias de óperas que deranl
•
. .'.~ · · .':I/:ti· ,W r•
espetáculos em Fortaleza. E tudo
•
De personalidadedis-isso, toda essa vida cultural, meu pai
•
creta e reservada Luízaparticipava, minha mãe participava
•
acha desnecessáriofa-•
lar de sua vidapriva-•
•
da. Prefere falar de seu•
trabalho., 'Eu nunca me senti
•
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solitária ... Era uma
•
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coisa boa ... Sair da
•
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convivência do coleti-
•
•
vo para convivência
•
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comigo ... através da
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leitura.' ,
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e me levavam, né? Depois, na ado-
•
•
lescência, havia os programas de
•
auditório. PRE-9, que era a rádio. Aí
•
meu pai já não gostava, mas eu e
•
•
minha mãe íamos sempre. Grandes
•
artistas, Orlando Silva, Ângela Ma-
•
ria, esse pessoal todo da época ... A
•
•
gente tava lá, nos auditórios das
•
rádios. Então, a música veio comigo
•
a vida toda.
•
•
Quando ensinava nocolégio Christus,
ain-•
da na época daditadu-E n t r e v i s t a - -A s e n h o r a c o n v i v e u n a
•
s u a c a s a e n a s u a i n f â n c i a c o m ,•
ra, deixava seus
alu-•
nos a sós na sala ded i g a m o s a s s i m , d u a s f O I 7 1 / ( / s C I I I I I I -
•
aula durante as provas. r a i s m i l i t o i m p o r t a n t e s . U m a f o r m a•
•
m a i s e r u d i t a , a t r a v é s d o s e u p a i , q u e
•
e r a 1 1 ml i v r e - p e n s a d o r , u m j o m a l i s -
•
I a . e a t r a v é s d a R o s i n h a , q u e t r a z i a
•
•
l i m a o u t r a c u l t u r a , l i m a o u t r a h i s t à -
•
r i a . . .
•
Luíza -- Que a gente chamaria hoje
•
•
a cultura popular.
•
•
E n t r e v i s t a - - E x a t o . C o m o é q u e a
•
•
s e n h o r a f o i c a s a n d o n a s u a c a b e ç a ,•
n a s u a i n t e l i g ê n c i a , n o s e u m o d o d e
•
•
v i d a , e s s a s d u a s v i s õ e s d e m u n d o ,
•
e s s a s d u a s c u l t u r a s , e s s a d u a s a r -
•
t e s ?
•
•
Luíza -- Menina, eu não sei, não.
•
Como eu disse pra você, tem muita
•
coisa intuitiva na minha vida. Eu
•
•
não me lembro de nunca ter dentro
•
de mim criado conflito entre essas ...
•
•
•
E n t r e v i s t a - - N e m n u n c a d e u u m a
•
prevalência a u m a d e s s a s c o i s a s e m
•
•
d e t r i m e n t o d e o u t r a ?
•
Apesar de ter sidocon-Luíza -- Não. Porque o que a gente
•
siderada a comunistachamaria o popular era o meu amor
•
oficial da cidade, Luíza•
nunca chegou a sermaior. Na verdade eu gostava mais
•
presa, mas respondeu
da minha avó do que mesmo dos
•
meus pais. Mas as coisas que eram
•
a muitosinterrogatóri-•
os.proporcionadas através de meu pai,
•
essa coisa de leitura, também era
•
•
27
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•
•
A p a ix ã o p e la m ú s ic a fe z d e " U m C e r to P la -n e ta A z u l" u m liv r o c u jo s c a p ítu lo s p o -d e m , s e g u n d o L u íz a , " a té s e r c a n ta d o s " .
N u m d e b a te c o m o filó lo g o A n tô n io H o u a is s , L u íz a d e fe n -d e u a r e g io n a liz a ç ã o d a s c a r tilh a s e s c o la -r e s . F o i a p la u d id a d e p é .
N a s d u a s h o r a s d e e n -tr e v is ta , L u íz a fa lo u d e s u a in fâ n c ia , d a s g r a n -d e s a m íz a d e s , d o s p r o je to s d e e d u c a ç ã o , d e v id a e a m o r .
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L l I U I ;
profundamente apaixonante. E eu
também toda vida gostei de ler. Na
minha casa eu ficava muito só e
gostava disso. De inventar
brincadei-ras, de inventar histórias com
mi-nhas bonecas e de ler. Não sei se porque eu sempre tive essa coisa da escola, que era um grupo. Eu nunca me senti solitária. Pelo contrário. Pra mim era uma coisa boa mudar, sair da convivência do coletivo pra
convi-vência comigo, através da
brinca-deira, através da leitura.
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E n t r e v i s t a - - Q u a n d o f o i q u e aL u i z a
T e o d o r o c o m e ç o u a e n s i n a r ?
Luíza -- Quando terminei a Escola
Normal eu ainda não tinha feito 1 8
anos. Então, como eunão podia ser
nomeada professora eu trabalhei
numa escola de ... Nesse tempo a
cidade era bem menor e a minha
casa, que hoje é Centro, ela ficava
perto da periferia. Minha mãe
alu-gou uma sala e eu dei aulas pra crianças de bairro. Eu não me lembro muito bem disso, não. Só me lembro que gostava muito, que as crianças levavam muita flor pra sala de aula,
que a gente fazia brincadeiras e tal.
Quando eu completei 1 8 anos, fui
nomeada professora-substituta.
Co-mecei a ensinar numa escola que
ficava perto da minha casa, funcio-nou numa coisa que até hoje e x i s t e :
Associação dos Merceeiros. Lá eu
passei algum tempo, uns dois anos, e fui pra o Grupo Escolar Visconde do Rio Branco, onde eu passei 30 anos ensinando no que hoje se chama Pri-meiro Grau.
E n t r e v i s t a - - S e m p r e e m e s c o l a p ú
-b l i c a o u a s e n h o r a e n s i n o u e m e s c o
-l a p a r t i c u -l a r ?
Luíza -- É, eu também ensinei em
escola particular porque quando eu
comecei a trabalhar e passei da JEC,
que era o grupo estudantil, pra ruc
( J u v e n t u d e U n i v e r s i t á r i a C a t ó l i c a )
-entrei na faculdade - e conheci pesso-as diferentes. Conheci, por exemplo, o professor Roberto Carvalho Rocha, que tinha chegado dos Estados
Uni-dos, era ex-seminarista. E ele então
tinha a idéia de fundar uma escola. E então, ele, eu, a atual esposa dele que era essa minha colega de infância, Maria Lúcia, e outras amigas, nós fundamos esse que hoje é um grande
colégio. Grande não sei nem se
qualitativamente, mas pelo menos é
uma grande empresa educacional,
chamada Christus. No início era uma escola pequena e durante oito anos foi um trabalho muito entusiasmante, né? Éramos amigos e fazíamos um
trabalho diferente. Era uma escola
cujas propostas eram novas pra
cida-de. Foi muito interessante. No
mo-mento em que eu comecei a perceber que a coisa ia se dirigindo pra o que hoje geralmente é a escola particular - uma grande empresa onde o lucro é a coisa mais importante, mais impor-tante do que a educação -, aí eu saí do Christus e passei a ensinar num outro colégio particular, também de muito bons propósitos, o colégio do profes-sor Lauro de Oli veira Lima, o Agapi to dos Santos. Lá eu ensinei até 64. Em 64 eu ensinava no Agapito dos Santos e era professora pública, mas tinha
sido chamada pelo governador
Virgílio Távora pra organizar uma
coisa que foi muito importante na
época, um trabalho pioneiro desse
grande estadista que foi Virgílio
Távora. Ele fundou uma assessoria
de educação que curiosamente, não,
deliberadamente -- isso aí mostra um
pouco do que era o Virgílio Távora--ele convidou pra essa assessoria, que
seria responsável pela reforma do
ensino no Estado, todas as pessoas dessa assessoria eram de oposição.
, 'Imaginávamos que
uma escola - eu ainda
imagino - deva ser isso:
um lugar onde as
pes-soas, acima de tudo,
aprendam o gosto do
saber. "
Porque, aí vem uma história anterior, meu pai sempre foi um político de oposição. Meu pai era daquele tipo
H a y g o b i e m o , s o y c o n t r a . Então, eu
sempre fui do que a gente chamaria
esquerda, principalmente nessa
dé-cada de 60, que nós da.ruC estávamos fundando a Ação Popular. Eu, Betinho
( H e r b e r t d e S o u z a . s o c i ó l o g o ) , esse
pessoal todo. Tínhamos fundado o
braço político da .ruC, que por sinal
a Igreja ficou profundamente
insulta-da com isso, porque dizia que nós
estávamos nos convertendo ao
mar-xismo, e ela nos tirou da ruC. Ofici-almente nós deixamos de pertencer
aos quadros paraeclesiáticos. Então,
nessa época eu tinha uma militância realmente de esquerda. E, apesar dis-so, eu fui chamada com todo o conhe-cimento de causa, tive uma conversa muito séria com o governador e
vári-os outrvári-os companheirvári-os da mesma
linha. E ele disse que o que interessa-va a ele era competência, e sabia que
nós éramos competentes. Eu dirigi
essa assessoria. Quando o golpe foi dado, eu estava afastada da sala de
aula da escola pública e estava na assessoria. Naquela época as pesso-as todpesso-as que eram militantes de
es-querda foram profundamente
perse-guidas. E eu devo o fato de não ter perdido meu ganha-pão à grandeza
do governador Virgílio Távora. Ele
não cedeu às pressões, que queriam
que a gente fosse simplesmente
de-mitido do Estado. E ele dissolveu a
assessoria, pra que nós não
perdês-semos nossos empregos. Então, nós todos voltamos. Alguns eram
pro-fessores da universidade, voltaram
pra universidade, e eu voltei pra
minha cadeira de Primeiro Grau.
Mas o colégio particular - que nessa época o professor Lauro de Oliveira Lima também estava preso e já esta-va em outras mãos - não teve co-ragem de me segurar. Passei a ser perigosa. Tive que deixar o colégio
Agapito dos Santos. Continuei só
com a minha escola de Primeiro
Grau.
E n t r e v i s t a - - C o m o s e d e u e s s e c o
-n h e c i m e -n t o . e s s a a m i z a d e c o m
V i r g i l i o T á v o r a ?
Luíza -- A partir desse convite pra trabalhar na assessoria de educação.
E n t r e v i s t a - - A i n i c i a t i v a f o i d e l e .
Luíza -- Foi. Ele tomou informações e convidou as pessoas que eram
con-sideradas competentes na cidade. E
não por coincidência eram todas
es-querdistas.
E n t r e v i s t a - - Q u e m e r a m e s s a s p e s
-s o a -s ?
Luíza -- Por exemplo, o professor Eduardo Diatahy, vocês conhecem. O professor Edgard Linhares, a
pro-fessora Isolda Castello Branco, a
professora Iracema Santos, que foi
pró-reitora da UECE até ano passa-do.
E n t r e v i s t a - - E s s e
grupo
f e z p a r t ed a q u e l e g l 1 l p o d e p r o f e s s o r e s q u e
i m p l a n t a r a m o C l i r i s t u s ?
Luíza -- Não, não. Dos professores
que implantaram o Christus, alguns
ficaram ... Maria LÚCia casou com o diretor e as outras saíram -- incl
usi-ve Diatahy também tinha sido do
Christus _o, saíram de lá pela mesma razão minha. A gente sentia que o
colégio já não estava mais
correspondendo ao que a gente
ima-ginava que devesse ser.
E n t r e v i s t a Q u a l e r a o p e n s a m e n
-t o d e s s e s p r o f e s s o r e s ? O q u e v o c ê s
i m a g i n a v a m q u e o C o l é g i o C h r i s t u s
d e v e r i a s e r ? N o q u e e l e s e d e s v i r t u o u
d e s s e p e n s a m e n t o ? E s s a i d é i a t i n h a
a l g u m a d i f e r e n ç a d a e s c o l a p ú b l i c a
Entrevista
edcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
L u i z a d e T e o d o r oLuíza -- Bom, quando nós fundamos
o Christus nós pretendíamos fazer
uma escola onde a educação fosse a coisa principal, quer dizer, mais im-portante do que o conteúdo das coi-sas ensinadas deveria ser a maneira
como as crianças aprendessem.
To-dos nós, de uma maneira ou de outra,
tínhamos uma experiência de ação
católica. E a Ação Católica foi uma
grande escola. Porque nós partíamos do contato com a realidade, da análi-se da realidade e de conclusões que eram tiradas através de discussões, de estudos. E se procurava então agir
coerentemente. Não de uma
manei-ra, digamos, catequética, mas de uma
maneira testemunhal, quer dizer, dar
um testemunho de vida, coerência,
com a verdade que a gente
acredita-va. Então, nós imaginávamos que
uma escola eu ainda imagino --deva ser isso: um lugar onde as pes-soas acima de tudo aprendem o gosto
do saber. E onde aprendam a se
relacionar consigo mesmas, com o
mundo, com a realidade. E é uma
escola de um meio burguês,
extre-mamente difícil. E nós tínhamos
consciência de que essas pessoas, a um prazo curto, seriam dirigentes da sociedade. Então, a gente tinha um sonho, de tentar fazer com que elas,
as crianças, os filhos dessa classe
social, tivessem uma outra visão de mundo. E acho que não foi
inteira-mente perdido, não. Essa geração
que saiu do Christus da nossa época é a geração que fez esse grupo novo
de empresários que...
ihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
É claro queesta dentro do sistema mas, por exem-pIo, A.marílio Macedo ( e m p r e s á r i o ) ,
Tasso Jereissati ( p r e s i d e n t e n a c i o
-n a l d o P S D B ) , Assis Neto ( p r e s i d e n
-t e d o P S D B - C E ) . São pessoas que, de
qualquer forma, eles têm uma certa diferença dos que vieram antes de-les. E eu acredito que esses oito anos que eles tiveram conosco, pelo me-nos é o que eles dizem, têm uma
influência nisso. O Mino (Castelo
Branco), aquele desenhista. Muita
gente de valor, não apenas de valor, digamos, econômico, mas muita gente
que tem uma certa preocupação com
o social. De qualquer maneira eu
acho que esses oito anos deixaram essa marca. Mas aí, é a tal história, o
tempo vai revelando as coisas, né?
Então, nós começamos a perceber
que a tendência do colégio era se
transformar em mais um colégio que tinha que crescer a custa do lucro, enfim, como os grandes colégios da
cidade cresceram. E nós achamos
que se fosse pra ser assim, tudo bem, só que a gente não tava com vontade de colaborar nesse projeto. Eu, pelo menos, não estava e tenho certeza que algumas das pessoas que saíram
comigo também não tinham vontade disso, não.
E n t r e v i s t a C o m o é q u e e s s e p r o j e
-t o f u n c i o n a v a ?
Luíza -- Sim, esse era o projeto
coleti vo dentro do Christus. Enquan-to pôde ser coletivo nós fizemos. Quando não pôde mais ser coletivo, saímos. O Grupo Escolar Visconde do Rio Branco é uma escola pública, então, como toda escola pública, é ambígua. Porque não existe um pro-jeto, uma filosofia de educação
esta-tal. Exatamente a nossa tentativa
nessa assessoria, que foi cortada pelo golpe militar, era dar ao Estado essa
possibilidade de ter uma filosofia de
educação. O que nós conseguimos
lançar, no dia 25 de março de 1964 --imagina perto de que nós estávamos -- foi um chamado L i v r o d a P r o f e s
-s o r a . Era exatamente essa idéia
co-locada pra todo o Estado, a idéia que todos os professores do Ceará
pudes-sem ter a oportunidade de refletir
sobre isso, sobre o sentido que deve-ria ter a educação. Claro que nós não conseguimos, nessa época, nada
dis-so e tudo acabou no dia 10de abril.
E n t r e v i s t a - -
O
l i v r o c h e g o u a s e rd i s t r i b u í d o ?
Luiza -- Chegou. E foi até usado algum tempo, mesmo depois que eu tive que sair inclusive da cidade, por causa de perseguições políticas, né? Mas aí é diferente, num outro con-texto, e sobretudo num contexto de
terror, não funcionava. Porque, de
repente, chegava uma pessoa e dizia pra você: "I~so aí é uma idéia pe-rigosa. Não, isso aí é uma coisa que não deve ser adotada. Isso é comu-nismo". As pessoas tinham medo, é claro. Agora, dentro do Grupo Esco-lar Visconde do Rio Branco eu tive uma sorte maravilhosa - aliás, a mi-nha vida é toda marca da por esses
acontecimentos especiais. Quem
di-rigia o Grupo Escolar Visconde do Rio Branco - que é o que eu ia dizer a ambiguidade que estava - é que, se por um lado era uma escola ligada ao poder político, por outro lado tem um espaço de liberdade muito maior que
numa escola privada. Exatamente
porque a Secretaria de Educação não tem condição de estar ou vindo tudo o que se passa. E eu tive a sorte de entrar no grupo Escolar Visconde do Rio Branco na época em que a pro-fessora Tony Cais, Maria Antonieta CaIs, era a diretora e era uma grande educadora. Foi uma mulher que aju-dou, a mim e a toda equipe que trabalhava nessa época, a ser exata-mente isso. Aquele sonho que a gen-te tinha no Christus a gengen-te conse-guiu realizar durante muito tempo
porque a Tony era a diretora e, de-pois que ela deixou de ser, uma outra
professora, a Francisca... Esqueci
agora, o sobrenome. Faria questão
que o nome dela fosse correto.
Por-que ela continuou e aprofundou o
trabalho da Tony. Um grupo escolar, a escola pública, depende fundamen-tahnente da diretora. Porque toda a
estrutura é hierárquica. Émuito
difí-cil que um grupo de professores pos-sa fazer alguma coipos-sa se a diretoria se opõe. Porque aí é a relação com a Secretaria de Educação e geralmente é uma influência quando não neutra,
negativa. Principalmente nesse anos
de chumbo, né? Em que as direções das coisas eram entregues a pessoas
manobradas pelos militares. Então,
nós conseguimos atravessar todo esse tempo do golpe militar com a maior
independência possível. Eu era uma
pessoa extremamente visada, eu era
a comunista oficial da cidade. E, no
entanto, nem a Tony, nem a
Francisca, nunca puseram qualquer obstáculo, qualquer objeção às
mi-nhas idéias pedagógicas. Eu sempre
pude trabalhar com a maior
liberda-de. Você imagine que, quando o
Genoíno ( e x - g u e r r i l h e i r o e h o j e d e p u
-t a d o f e d e r a l p e l o P T - S P J o s é
G e n o i n o ) saiu da prisão, os meus
alunos foram visitá-lo no lugar onde ele tava escondido. E a diretoria
sa-bia disso. Eles tinham vontade, o
Genoíno era um herói pra eles. E era sim, merecia ser. O José Genoíno. Ele, depois da guerrilha, foi preso e os últimos anos de prisão cumpriu aqui, no Ceará. Lá no Presidente Vargas. Ele e vários outros presos
políticos. Professor Valmir, que é
aqui da universidade, o Oswald
Bar-roso, esse que foi diretor do Theatro,
"Quero que a criança
dentro de mim não
morra nunca ... Tenho
uma
fé
muito
infantil, ..
essa de segurar na mão
de Deus e ir, sabe?"
Todos eles estavam lá. E quando o
Genoíno saiu nós tivemos muita
preocupação com ele porque havia
grupos interessados em elirnina-lo,
ou pelo menos a gente tinha
in-dicações sobre isso. E ele ficou
refu-giado num determinado lugar, e eu
fui com meus alunos, que eram então de 5" ou 6" Série, porque eles queri-am conhecer o Genoíno. E nós fomos
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A le itu r a p a r a L u íz a s e m p r e te v e u m a c o n o ta ç ã o d e a fe to , d e d iv e r s ã o . " N ã o s e i d i-z e r d e s d e q u a n d o s e i le r e d e s d e q u a n d o le io " .
N o in íc io d a e n tr e v is -ta , L u íz a s e n to u - s e d e b r a ç o s c r u z a d o s . M a s , a o fin a l, m a is àv o n ta -d e ,já e s ta v a -d e b r a ç o s a b e r to s .
N o s ú ltim o s m in u to s d a e n tr e v is ta , L u íz a s e p e r g u n to u : " E u n ã o s e i o q u e v o c ê s v ã o e s c r e v e r c o m e s s a s b e s te ir a s " . E s o r r iu .
L u t z a a e
yxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
1e o a o r oEntrevrsta
lá. Então, a gente conseguia criar um a franqueza im ensa. Ele foi pro- ação clandestina, nós nos opusem os esse clim a. De um a espécie de resis- fundam ente ... Eu não digo generoso, àquela entrada na luta arm ada por-tência à ditadura, m esm o com as porque não é questão de condescen- que nos parecia que era inoportuna. crianças. Era um a escola prim ária. dência, não. Foi um a pessoa que E a história provou que era m esm o. Depois que a Tony term inou o m an- soube pôr as coisas nos lugares, de M as a gente nunca deixou de apoiar, dato e a Francisca tam bém , eu já de todas as m aneiras possíveis, a ensinava na Universidade Estadual ação de nossos com panheiros com
u-a
ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
e x - g o v e r n a d o r V ir - do Ceará, m as eu procurava sem pre nistas e esquerdistas de urna m aneira g í lio T á v o r a f o i u m m anter m inha cadeira de curso pri-"Eu não sou com unis-
geral. M as nós não éram os com u-g r a n d e a m iu-g o . M a s n ã om ário. M as, quando elas saíram , que
ta, porque não dava
nistas. Isso não tem m uita importân-h a v ia c o n c o r d â n c ia
p o lí t ic a . " É r a m o s a r e - as coisas m udaram -- isso já depois cia, nunca teve, pra m im . Eu nunca t u o s o s in im ig o s " . da anistia, m as os efeitos da ditadura
certo com igo ... Agora,
fui de achar que, por ser com unista,são longos, né? -- aí realm ente foi
houve determ inados
a pessoa tá errada ou certa. M as, naque esses efeitos se fizeram sentir e verdade eu não sou com unista, não
•
eu abandonei a escola e passei a ficarm om entos em que a
dava certo com igo. Eu nunca deixei•
só na Universidade.ação da gente era a
de ser espiritualista, aliás, eu nunca•
deixei de ser cristã. E não faziasen-•
E n t r e v i s t a - - A s e n h o r a e s c a p o u i l e -m esm a, né?"
tido, porque o que é que eu ia fazer•
•
s a d a d i t a d u r a ? num partido que não tinha nada a ver•
L u í z a - - Em term os. Não fui presa com isso? Agora, houve determina-•
nem m altratada fisicam ente, M as dos m om entos em que a ação da•
•
respondi a inúm eros interrogatórios. perceber o que era essa cidade e o gente era a m esm a, né? Pouco impor-•
que é que havia de m esquinharia de tava em nom e de quem fosse feita.•
•
E n t r e v i s t a - - I s s o a í f a z p a r t e d a inveja e que eclodia em nom e de•
s o r t e q u e a s e n h o r a d i s s e q u e s e m p r e perseguição política. Que as coisas E n t r e v i s t a - - A a m i z a d e q u e a s e n h o-•
t e v e ? Of a t o d e n ã o t e r s o f r i d o . . . ? que diziam que eram razões políti- r a t e v e c o m o c o r o n e l V i r g í l i o T á v o r a•
•
L u í z a - -Acredito que sim . Eu tenho cas, na verdade, eram razões m es- d u r o u m u i t o t e m p o ?•
um a -- vocês talvez achem isso in- quinhas, de com petição, de ... coisas L u í z a - -O Virgílio ficou sendo m eu•
fantil e tom ara que seja, eu quero provincianas. E eu saí de lá com a am igo até o fim da vida. M as isso não•
•
que a criança dentro de m im não m inha nom eação. sem pedi-Ia, por- quer dizer que tenha havidoconcor-•
m orra nunca. M as eu tenho um a fé que eu nunca fui pra ninguém da dância política. Aliás, ele tinha um a•
m uito infantil, m esm o. Essa de segu- ditadura pra pedir nada. Inclusive grande m ágoa: eu nunca votei nele.•
•
rar na m ão de Deus e ir, sabe? Então, eles tinham a exigência de que a M esm o quando voltaram os tem posL u í z aéc o n h e c id a p o r
•
eu acredito que eu sou m uito protegi- pessoa deveria fazer um docum ento de votar, eu nunca concordei com as•
n ã o g o s t a r d e d a r e n
-•
da m esm o. Porque inclusive em to- condenando as idéias com unistas e idéias políticas dele, nós éram osafe-t r e v is afe-t a s , o q u e a f ir m a
•
dos os interrogatórios eu sem pre fui fizeram , um coronel lá fez um rascu- tuosos inim igos ( r i s o s ) . n ã o s e r v e r d a d e . E f o i•
profundam ente respeitada com o pes- nho pra m im . Aí eu li. Era umnegó-o q u e n ó s p r negó-o v negó-o u d u -
•
•
soa. E m ais ainda: consegui diálogos cio assim : "O com unism o, essa dou- E n t r e v i s t a - - A s e n h o r a f a l o u q u e r a n t e d u a s h o r a s d e•
com generais e coronéis assim incrí- trina abom inável, essas pessoas que t o d a e s c o l a p ú b l i c a é a m b í g u a . E up a p o .
•
reis, que a gente contando parece estão dispostas ... " Essas histórias, q u e r i a p e r g u n t a r o s e g u i n t e : o s m a r
-•
•
.m entira. De seres hum anos pra seres com e criancinha e tal, né? Aí eu x i s t a s v ê e m o E s t a d o c o m o u m a p a r e-•
hum anos. disse: "Olhe, eu sei que a m inha vida l h o r e p r e s s i v o e i d e o l ó g i c o d a s c 1 a s-•
profissional tá dependendo disso, m as s e s d o m i n a n t e s . N a s u a o p i n i ã o a•
•
E n t r e v i s t a - - A s e n h o r a s e r e c o r d a eu não posso assinar um papel des- e d u c a ç ã o é d e v e r d o E s t a d o ? E s e•
d e a l g u m ? se". Aí o general disse assim : " É , e l a é , c o m o a s e n h o r a v ê e s s a r e-•
L u í z a - -Eu m e recordo de m uitos. realm ente, está m uito m al-escrito" l a ç ã o E s t a d o - e s c o l a ?•
..
( r i s o s ) . Achei ótim a a saída. "Então E n t r e v i s t a - - E u q u e r i a a p r o v e i t a r e•
E n t r e v i s t a - - P o d e d i z e r ? a senhora faz o seguinte: a senhora p e r g u n t a r , e m t e r m o s d e r e l a c i o n a-•
Luiza -- As pessoas já m orreram e redige com o achar m elhor." Aí eu m e n t o , c o m o f o i t a m b é m o s e u r e l a-•
•
parece cabotinism o. M as, na verda- redigi, tá lá nos arquivos: "Pedem - c i o n a m e n t o c o m s e u s a l u n o s ?•
de, por exem plo, eu afirm o isso: que m e que declare que não pertenço ao•
•
todas as pessoas, inclusive o general Partido Com unista. Realm entenun-•
Jansen Barroso, que foi um a das ca fui do Partido Com unista, porque•
pessoas m ais nobres que eu já conhe- nunca fiz essa opção, em bora respei-' 'As coisas são feitas
•
•
ci e que era um general da ditadura. te profundam ente os que a fizeram ":de pessoas ... Quando
•
Que tinha sido inform ado de que eu Ponto e assinei.•
não deveria assum ir o m eu lugar navocê se instala num a
•
•
Uni versidade Estadual em bora tives- E n t r e v i s t a - - A s e n h o r aA
f o i d e a l g u mm áquina estatal, é
•
se sido classificada em concurso. g r u p o p o l í t i c o ?•
Então, resolvi falar com ele. E per- L u í z a - - Da Ação Popular, da AP,m uito difícil preservar
•
•
guntar por que é que não podia traba- não era com unista. A AP tinha duasesses valores hum
a-•
lhar. Eu disse: "Olhe, o senhor sabe, tendências. Um a tendênciadecidi-•
m e conhece o suficientem ente, tem dam ente m arxista e um a tendêncianos.' ,
•
E la s e c o n s id e r a u m a
•
bastantes docum entos pra saber, que que assum ia do m arxism o as coisasp e s s o a d e s o r t e . A v id a
•
eu não vim dizer que concordo com que eram m ais apropriadas à com-p a r a L u í z a t e m s id o
•
m u it o s u a v e . " A s f a -
•
as suas idéias. Agora eu quero saber preensão do m undo. M as que não eras e s t ê m p a s s a d o m u l-
•
se as m inhas idéias m e im pedem de um a opção m arxista - inclusive a AP L u í z a - -M aravilhoso, isso. Até hoje t o s u a v e m e n t e " .•
continuar viva. Porque, se eu não de tendência nitidam ente m arxista eu sou am iga de todos os alunos que•
•
trabalhar, eu m orro". Então, a partir acabou indo pro PCdoB. E eu perten- já passaram por m im . M esm oquan-•
daí estabeleceu-se um diálogo de cia à outra, e nós ficam os num a situ- do eu nem m e lem bro m ais deles eles30
•
•
•
•
Entrevista
aZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
L u l z a d e T e o d o r ose lem bram de m im . E, com m uita am izade, com m uito carinho. Isso aí eu acredito que tenha sido a escolha m ais certa que eu fiz, entrar num a profissão de um a coisa que eu sei fazer. E no saber fazer eu dou a prioridade a essa possibilidade de estabelecer relações hum anas posi-tivas, quer dizer, não apenas no sen-tido de com pensação afetiva, não é isso, m as no sentido de fazer com que as pessoas cresçam junto com igo. Quer dizer, eu cresça com elas e elas com igo. Agora, essa questão do Esta-do ... O EstaEsta-do ... Olha, eu acho que esse negócio, essas coisas que a gen-te diz assim "o Estado", "a conjun-tura" ... As coisas são feitas de
pes-soas.
ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
É claro que quando você se instala num a m áquina estatal é mui-to difícil preservar esses valores hu-m anos. O que é um a pena, porque realm ente o poder corrom pe e o po-der absoluto corrom pe de m aneira absoluta. Isso é verdade. Então, essa entrada nas estruturas do poder é um risco sem pre m uito grande, m as isso não exclui a responsabilidade que o Estado tem de distribuir a justiça. E a justiça é o respeito aos direitos hum anos. O direito à educação é fundam ental. Então, é papel do Esta-do, sim . Agora, é papel dos indivídu-os evitar que esse m ales do poder se transfiram pras pessoas. Um profes-sor de um a escola pública é que responde diante da com unidade pela qualidade da educação do seu aluno. Esse negócio de você usar essa des-culpa de que não posso fazer isso, porque a secretária de Educação, porque o M inistério, porque não sei o quê ... Eu duvido m uito disso, por-que eu nunca obedeci nenhum a or-dem de m inistério nem de secretaria, e tam bém nunca entrei em choque, porque eu acho tam bém suicida você fazer um tipo de revolução solitária. Eu acho que com inteligência você consegue cum prir as obrigações que são exigi das pelo seu cargo sem trair os seus valores fundam entais. As pessoas, m uitas vezes com o não tem m uita firm eza, m uita convicção des-ses valores, elas, por preguiça, por inércia, por com odism o, deixam que as coisas corram m al. Então, a des-culpa é essa: " É não, é porque o Estado é ruim , a Secretaria de Edu-cação, a ideologia". Acredito nisso não. Eu acredito em gente. Gente pode sem pre fazer as coisas, quando quer fazer e quando tem com petên-da, porque tam bém tem o negócio da com petência porque ninguém m exia com igo, porque ninguém ganhava de m im . Eu sabia fazer. E apresentava as coisas. M e lem bro de um a época ... Eu sem pre dei m inhas aulas com o eu dou hoje na universidade, Você sabe
que m inha aula é com pletam ente di-ferente. Se vocês quiserem , todas as segundas e quartas, podem assistir. e nem por isso eles deixam de apren-der o que é essencial. Porque o m ais im portante que eu acho em qualquer grau de ensino é que as pessoas apren-dam a pensar, ter senso critico e desenvolvam a sua inteligência. Se você desenvolve a sua inteligência você é capaz de agir convenien-tem ente em qualquer situação. M e lem bro de um a época quando eu era professora prim ária, na m inha tur-m a, eu dava o progratur-m a que conside-rava adequado pra que eles apren-dessem - eu ensinava História - a refletir sobre o m undo, Pra m im , História só tem esse sentido. Não é apenas um a coleção de cadáveres que você vai desenterrando, m as é um a reflexão sobre os traços que a hum anidade tem deixado na sua pas-sagem por esse m undo. E você se reconhecer nessa hum anidade e sa-ber qual o teu papel e teu lugar aqui e agora .. Então, isso eu fazia com os m eninos. É claro que não podia se-guir aquilo que vinha escrito da Se-cretaria de Educação: "Ensinar as
"Educação
é o
cresci-m ento da
personalida-de ... É o que fica
lim po ...
É
o que fica
além de tudo o que a
gente aprende."
capitanias hereditárias", "Ensinar não sei o quê". O que é que interessa a um m enino saber quem foi o donatário da capitania não sei das quantas. Agora, o sentido de um país ter sido arbitrariam ente dividido, entregue a pessoas do poder, que não levaram nenhwna das necessidades das pessoas que estavam naquelas terras, isso é o im portante. Então, eu estava ensinando capitanias heredi-tárias, não concordo com o que o livro dizia. Com toda a consciência eu botava lá no livro: "Capitanias heredi tárias' , , porque é verdade. Éa verdade em que eu acredito. M as inventaram de eles fazerem uns exa-m es, que eraexa-m exa-m andados pela Secre-taria de Educação. Isso era 6' Série. Eu digo: "Olhe, turm a é o seguinte: tá aqui essa ordem , daqui a dois m eses vocês vão ter que fazer um a prova e pra essa prova isso que a gente tá aqui pensando, isso que a gente sabe que é o correto, não vai
servir pra passar. Então, o que a gente faz? Vam os estudar do jeito que e1esquerem . Depois vocês esque-cem isso" ( R i s o s ) . Estudaram tudinho, aprenderam tudinho, passa-ram brilhantem ente. Claro! A vida é um a tática de luta. Você tem que ser inteligente. Agora, vir dizer que não, os m eninos não aprendam isso, não, e eles serem reprovados. Que graça que tinha?
E n t r e v i s t a - - E s s e s e n t i m e n t o d e i n
-v e j a q u e e x i s t e e n t r e a s p e s s o a s t a m
-b é m e m p e r r a a e d u c a ç ã o ?
Luíza -- Claro. Porque educação é um crescim ento da personalidade, não é wna acum ulação de conheci-m ento. Neconheci-m conheci-m esconheci-m o de conheciconheci-m en-to filosófico, nem m esm o de conhe-cim ento ideológico. Tem um a lenda zen que diz o seguinte: o discípulo pergunta ao m estre o que é educação, o que é cultura. Ele diz: "Pegue esse jarro aqui. Encha d'água". Aí o cara vai láe enche o jarro d'água. "Tom a aqui, m estre." "Agora derram a tudinho, derram a no chão. O que é que aconteceu?" "Eu ench.i d'água e agora tá vazio." "E o que m ais?"
" É , tá m ais lim po." Educação é o
que sobra, é o que fica lim po. M W 1-do. M undo quer dizer lim po. Éo que fica lim po depois de tudo, é o que fica além de tudo o que a gente aprende. Acum ulação de conhecim ento é eru-dição. Tem m uita gente erudita no m undo que não serve pra nada. Ou pelo contrário, serve pra m uita coisa ruim . Já pensou a quantidade de co-nhecim ento pra se fazer um a bom ba H, ou um a dessas arm as quím icas ou biológicas? Precisa m uito conheci-m ento pra isso. Você saber coconheci-m o se faz as coisas é m uito pouco. Você tem que criar um a consciência é de para que você sabe. Para que serve aquilo. Essa é que é a questão funda-m ental. Essa questão que o professor tem que ajudar o aluno a encontrar. Porque ninguém ensina ninguém . O verdadeiro professor é um facilitador, até um dificultador, m uitas vezes, pra que as pessoas aprendam a resol-ver problem as. A função do profes-sor é essa. Pra isso, ele precisa ser um ser hwnano estruturado. Não per-feitam ente estruturado, porque se-não a gente ia com eçar a ser profes-sor quando? Na hora de m orrer, se é que se estrutura até a hora da m orte, sei lá ... m as pelo m enos um a pessoa que tenha vontade de estar nesse processo, um a pessoa que queira cres-cer, que queira ter grandeza. Isso é um professor. Se você não é assim , com o é que você vai despertar isso nos outros? Se existe essa troca, isso é possível em qualquer circunstân-cia, com qualquer conteúdo.
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N u n c a o b e d e c e u c o m r ig o r a n e n h u m a o r -d e m s u p e r io r , m a s L u lz a t a m b é m n u n c a e n t r o u e m c h o q u e . N ã o a c r e d it a e m r e v o -lu ç ã o s o lit á r ia .
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L u í z a c r ê q u e c o m in -t e lig ê n c ia s e p o d e c u m p r ir c o m a s o b r i-g a ç õ e s d e q u a lq u e r c a r g o s e m t r a ir a s e u s v a lo r e s f u n d a m e n -t a is .
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" U m C e r t o P la n e t a A z u l" p a r t iu d o d e s e -jo d e L u í z a d e d a r à s c r ia n ç a s p o b r e s o li-v r o m a is b o n it o q u e e la s p u d e s s e m t e r .