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Juizados de Conciliação Relevância Social no Resgate da Cidadania

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Academic year: 2021

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Juizados de Conciliação – Relevância Social no Resgate da Cidadania

Luciana Trindade dos Reis Bottrel Mansur1

RESUMO:

Os Juizados de Conciliação foram criados por iniciativa do Poder Judiciário de Minas Gerais. Apesar de ter o Poder Judiciário como órgão criador não tem função jurisdicional. São locais onde, além de ter seu conflito solucionado, o indivíduo resgata alguns valores que a sociedade moderna deixou adormecerem ao longo da história. Em um mundo onde as soluções parecem melhores resolvidas diante de um “poder para coagir”, muitas vezes, “impondo respeito”, as pessoas perderam o hábito de tentarem conciliar de acordo com suas possibilidades e solucionarem elas próprias problemas que, na maioria das vezes, são resolvidos com uma simples conversa pautada na ordem e no bom senso. Assim, grande importância tem os Juizados de Conciliação, no resgate de valores pessoais, no desafogar do Judiciário e na prática da cidadania pelos conciliadores em busca da perseguida harmonia social.

Palavras-Chaves: Juizados de Conciliação; Conciliadores; Voluntariado; Responsabilidade Social

1 – Introdução

O Juizado de Conciliação é proveniente de um projeto social que tem a missão de promover a solução dos conflitos pela composição dos interesses das partes que o procuram. Sua criação tem o escopo de favorecer a resolução consensual de um conflito instaurado entre pessoas.

1 Advogada, Mestre em Direito Empresarial, Professora da Faculdade de Direito Promove e do Centro

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Tal projeto social teve iniciativa do Poder Judiciário de Minas Gerais que, em setembro de 2002, criou os Juizados de Conciliação, através da Resolução 400/2002. Hoje funciona respaldado pela Resolução nº 460/2005, que revogou a resolução anterior.

Tem toda uma estrutura organizacional, com a participação efetiva dos membros do Poder Judiciário, com competências e atribuições definidas legalmente, o que possibilita uma credibilidade em seu funcionamento e garante sua idoneidade enquanto projeto social.

Apesar de ter como suporte o Poder Judiciário, não tem função jurisdicional, ou seja, não tem a autoridade de aplicar as leis, a necessidade de conhecer das infrações às leis, crimes e delitos, o poder de julgar e administrar a justiça da forma como o tem o Poder Judiciário no exercício da jurisdição a ele inerente.

No Juizado de Conciliação não há necessidade do processo formal, sendo atendidos os conflitos em que são possíveis a realização de acordos.

Os acordos realizados no Juizado de Conciliação não são homologados. Motivos existem para tanto. As pessoas fazem estes acordos se quiserem, não sendo forçadas a isto; e os cumprem porque foram feitos dentro de suas possibilidades e tiveram a opção de fazê-los, convencidas de que a solução encontrada é a melhor.

Após estes pontos introdutórios, vejamos o funcionamento e os valores advindos deste projeto social que prima pela harmonia social, em busca da paz almejada por todos os seres viventes.

2 – Juizado de Conciliação – um projeto social

Falar em projeto social traz uma sensação de esperança muito grande para um futuro melhor. A sociedade demonstra aos poucos que está consciente de seu papel nas mudanças necessárias para um futuro melhor.

O projeto do Juizado de Conciliação foi planejado pelo Poder Judiciário para incutir às comunidades uma nova cultura: a cultura da resolução consensual de conflitos, sem a necessidade do litigioso, onde sempre existe um perdedor e um ganhador.

Assim, parte essencial deste projeto é a comunidade. Sem ela nada pode ser implantado, muito menos desenvolvido com sucesso. A comunidade é parceira necessária neste projeto. É a parte que requer a implantação do Juizado. O sistema de nada funcionaria

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se fosse implantado por imposição dentro das comunidades. Deste modo, quando a comunidade deseja contar com um ajudador para manter a convivência social pacífica, harmonizando as pessoas em conflito, o Juizado de Conciliação implanta-se naquele ponto, onde foi requerida a existência de um posto de atendimento.

Podemos nominar alguns parceiros, dentro de uma comunidade, que colaboram com a implantação dos Juizados de Conciliação: Prefeituras, empresas privadas, ONGs, escolas, instituições religiosas, associações de classe, e outras entidades. Os parceiros cedem o espaço físico, equipamentos, doam recursos, indicam voluntários e até mesmo, disponibilizam funcionários dependendo do que o Projeto representa para aquele parceiro a nível institucional.

Por ser um projeto social, os serviços de conciliação são inteiramente gratuitos, contando com a colaboração de voluntários. Os voluntários são pessoas que entendem que a paz social é responsabilidade de todos os cidadãos e por isso devem colaborar para tanto. São pessoas escolhidas de acordo com suas habilidades de envolvimento compromissado e consciente. Devem ter aptidão para o trabalho de natureza conciliatória, dedicação e reputação ilibada. Não necessitam serem formadas, letradas, mestras ou doutoras. Basta serem pessoas em busca de um futuro melhor, com coração disposto a ajudar e diminuir as barreiras que impedem os relacionamentos pacíficos. Pessoas sensíveis aos problemas alheios e que não se julgam melhores e mais capazes e sim têm a exata noção de que podem cumprir o papel social de forma digna e produtiva. Pessoas em busca de exercerem cidadania e se sentirem úteis à comunidade na qual estão inseridas. Os requisitos são: terem perfis adequados e serem maiores de dezoito anos.

Muitos não conhecem o funcionamento do Juizado de Conciliação, fator importante na constatação dos valores que dele advêm, no resgate da Cidadania.

2 – Funcionamento dos Juizados de Conciliação

Uma vez verificada a necessidade de implantação do Juizado em determinada comunidade e determinado qual será o parceiro responsável pela cessão do local e os voluntários, é assinada uma portaria permitindo que o trabalho naquele local seja iniciado, sob supervisão do Tribunal de Justiça.

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São feitos trabalhos de divulgação, recebimentos de reclamações, agendamentos de sessões de conciliação, inclusive as sessões de conciliação. Indispensável ressaltar que todo o pessoal voluntariado passa por etapas de admissão: o preenchimento da ficha para se candidatar ao voluntariado e do Termo de Adesão, a entrevista com os responsáveis técnicos pelo Projeto para verificar o perfil do conciliador, o treinamento de uma semana para tornar-se efetivamente um conciliador e ainda a sua designação através de portaria. Ainda assim, para melhor capacitação, o novo conciliador visita alguns postos de atendimento já instalados para assistir os procedimentos realizados por conciliadores mais experientes, antes de proceder à sua primeira conciliação.

Já montado e com pessoal capacitado, os Juizados começam efetivamente receber os casos para conciliação. Muitos casos podem ser levados ao Juizado, uma vez que é competente para atender qualquer tipo de conflito e tanto pessoas físicas ou jurídicas podem ser reclamantes ou reclamadas. Casos que necessitam de homologação, separação judicial, ações criminais, Aposentadoria, Benefício de INSS, FGTS, Indenizações de Órgãos Públicos não são atendidos nos Juizados. Contudo, descumprimento de obrigações, não recebimento por serviço prestado, cheques devolvidos, empréstimos que não foram devolvidos, conflitos de vizinhos, problemas de família, contratos não cumpridos são casos recorrentes nos Juizados; com resultado vitorioso.

O resultado vitorioso não se funda somente na solução do problema imediato, questão pela qual as pessoas ali se encontram, mas também pelo estímulo ao diálogo, pelo desenvolver nas pessoas sentimentos de que são capazes de solucionar conflitos pessoais, por restaurar relacionamentos de convivência já destruídos entre familiares pelas circunstâncias e falta de diálogos, pela sensação de dever cumprido, por parte do conciliador, que se alegra em ajudar e tem sua auto-estima muitas vezes devolvida com o reconhecimento de sua habilidade de conciliar, de resolver, de mediar.

2.1 – O Atendimento

O atendimento do cidadão em conflito é o primeiro passo. É feito pelo secretário, que após escutar a reclamação e verificar se o caso pode ser atendido pelo Juizado, vai redigir uma carta-convite ao reclamado para que compareça ao Posto do Juizado na data e

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hora marcada de Sessão de Conciliação. A carta é entregue ao Reclamante que vai providenciar seu envio ao Reclamado ou vai entregá-la em mãos.

Quando os casos não puderem ser atendidos no Juizado de Conciliação, as pessoas são orientadas a se encaminharem aos órgãos competentes para realizar o atendimento e proceder à solução do problema.

2.2 – O Convite ao Reclamado

Recebendo a carta-convite para comparecimento ao Juizado de Conciliação, o Reclamado tem a opção de escolha, entre comparecer e tentar solucionar seu problema ou apenas ignorar o convite. Não tendo função jurisdicional, nenhuma conseqüência legal há se ele não comparecer, uma vez que foi apenas convidado e não citado ou intimado judicialmente. É apenas uma tentativa de diálogo para resolver um problema sem a necessidade de recorrer à Justiça formal.

2.3 – Sessão de Conciliação

Este é o momento esperado por todos, de onde há a expectativa de que um problema que está atormentando as partes seja solucionado de uma vez. Reclamante, Reclamado e Conciliador reúnem-se para um eventual acordo. Na sessão de conciliação deve existir um ambiente de cordialidade, respeito, confiança no conciliador, disciplina no diálogo.

O conciliador tem fundamental parcela de responsabilidade para a concorrência de todos estes itens. Deve estar preparado emocionalmente e entrar no ambiente de conciliação, de imparcialidade. Ele colabora para que as pessoas se sintam acolhidas na forma de apresentar o problema que ali se encontram para solucionar. Todo o resultado de uma sessão vai depender de como o conciliador se porta transmitindo segurança, conduzindo a conciliação de forma clara e objetiva e proporcionando às partes oportunidade de escolherem a melhor forma de se entenderem. O diálogo deve ser entre as partes, pois é para isto que estão ali! O conciliador é apenas um mediador, para acalmar os ânimos, quando exaltados, esclarecer circunstâncias e apontar saídas que as partes,

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emocionalmente envolvidas, não conseguem visualizar. Quanto mais saídas apontadas, maiores as chances de acordo!

A sessão de conciliação pode terminar com ou sem acordo. Quando se tem um acordo, as partes saem satisfeitas e com um problema a menos nas suas vidas; por outro lado, o Judiciário agradece, vez que menos um processo tem ingresso em juízo para desenrolar por longos anos. Quando não se tem um acordo, o papel do Juizado foi cumprido parcialmente: a tentativa de resolver. Melhor do que não ter tentado!

No encerramento da sessão, lavra-se um Termo de Acordo, quando se tem o acordo, contendo os moldes do que foi convencionado para cumprimento, assinado pelo Conciliador, pelo Reclamante, pelo Reclamado e por duas testemunhas.

3 – Importância do Juizado de Conciliação no resgate da Cidadania

Chegamos ao ponto crucial do Juizado: desafogar o Judiciário ou incutir à sociedade valores que não se vêm mais por aí, como Respeito, Ética, Compromisso, Responsabilidade Social?

Não podemos negar o fato de que quanto mais conciliações extrajudiciais, menos processos a serem julgados. Como conseqüência fática, temos o desafogar (expressivo?) do judiciário quando as soluções são encontradas previamente, sem ter que abrir um processo formal.

Também, não podemos negar outro fator relevante que este projeto reflete, até mesmo em proporções talvez muito maiores e mais efetivas: o resgate da cidadania dos voluntários e das partes que ampliam seus potenciais na busca da harmonia social.

Este projeto traz à realidade a necessidade de reconhecer e encarar a diversidade cultural, social, racial quando pessoas que são totalmente diferentes em pensamentos e ações buscam, através do diálogo chegar a um acordo em prol da paz social. São condutas pautadas pela integridade, honestidade exaltando a dignidade da pessoa humana.

Quando a comunidade adere a este projeto, através do voluntariado, verifica-se um compromisso assumido, traduzido pela responsabilidade e comprometimento contínuo com a promoção da paz social e uma mudança de mentalidade que ao exercer o seu papel no contexto social, o homem fortalece sua cidadania e não fica a mercê do destino imposto

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pelo Estado. Passa a querer ter voz ativa, através de atos que demonstram sua capacidade de mudança.

Ponto fundamental, o que este projeto retrata!!!! Parceria do Poder Judiciário, órgão do Poder Estatal e da Comunidade representando que a paz, a harmonia e a responsabilidade social é de todos!

4 – Conclusão

Fechar estes comentários sem ressaltar o papel primoroso do Poder Judiciário neste Projeto seria um ato irresponsável! O Juizado de Conciliação depende de parceiros, de partes, de voluntários e depende muito do Poder Judiciário.

A iniciativa deste Projeto foi do Poder Judiciário, que montou toda uma estrutura, dentro do Tribunal de Justiça, para dar suporte aos Juizados implantados. Todos os formulários, todo o material necessário, transporte para os conciliadores, cursos de capacitação gratuitos, funcionários disponíveis para este projeto, e muito mais tem sido cedido pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais para que o projeto tenha sucesso e possa ser ampliado a cada dia mais.

Os números fornecidos em agosto de 2007, pelo Tribunal de Justiça, são de 67 postos instalados em Belo Horizonte; 03 centrais de Atendimento, onde as pessoas podem agendar e escolher o Posto para a conciliação mais próximo de sua residência ou trabalho. No interior, existem, até então, 255 postos de Juizados de Conciliação.

Visível o sucesso deste Projeto! Aprouve a mim escrever sobre ele tamanha admiração que tenho por esta iniciativa e pelos frutos que tenho presenciado como Conciliadora-Orientadora de um Posto de Juizado de Conciliação. Também, para que as pessoas conheçam seu funcionamento e um dia se utilizem dele, para crescimento próprio, como cidadão, no exercício do voluntariado ou como parte que, certamente, sairá com menos um dos problemas da vida a serem resolvidos, após passar pela sessão de conciliação do Juizado de Conciliação.

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Bibliografia:

Referências

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