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A CRIANÇA E A CULTURA LÚDICA: REFLEXÕES POSSÍVEIS NA EDUCAÇÃO FÍSICA

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Academic year: 2021

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A CRIANÇA E A CULTURA LÚDICA: REFLEXÕES POSSÍVEIS NA EDUCAÇÃO FÍSICA

Evandro Salvador Alves de Oliveira¹, Lenilza Alves Pereira Souza², Raniey José Fernandes³

¹ Professor Adjunto do curso de Educação Física (UNIFIMES). UNIFIMES, Rua 22 s/n Setor Aeroporto, CEP 75 830-000, Mineiros, Goiás.

² Coordenadora do curso de Educação Física (UNIFIMES). UNIFIMES, Rua 22 s/n Setor Aeroporto, CEP 75 830-000, Mineiros, Goiás.

³ Professor do curso de Educação Física (UNIFIMES). UNIFIMES, Rua 22 s/n Setor Aeroporto, CEP 75 830-000, Mineiros, Goiás.

Resumo: Este trabalho tem como objetivo apresentar algumas reflexões acerca de questões que permeiam a infância na sociedade moderna e contemporânea, entrelaçando com o campo do brincar. Consiste num levantamento bibliográfico que abarca cultura lúdica e criança. O texto sustenta-se na reflexão crítica sobre a importância do lúdico na infância. Assim, discutimos a educação e o ensino dialogando com Gauthier, o que possibilita compreender a criança e a escola. Para fomentar a nossa discussão, embasamo-nos nos seguintes teóricos: Agamben (2009), Almeida (2011), Ariès (1981), Bracht e Almeida (2006), Brougère (2002), Corsaro (2011), Foucault (1999), Gauthier (2010), Martineau (2010), Moriyón (2010), Marcellino (2003), Olivier (2003) e Mello (2003). Esses autores nos trazem reflexões sobre a contemporaneidade, educação - a partir das considerações de Hannah Arendt -, pós-modernidade, a cultura lúdica da criança, a sociologia da infância, o lúdico e algumas questões da educação, o ensino e a pedagogia para a criança, por fim, os apontamentos de Rousseau sobre a infância, assim como as implicações e possibilidades da participação da criança em ações voltadas a ela. As reflexões teóricas nos possibilitam perceber que o lúdico é de suma importância na educação de crianças, porque para elas o seu significado evidencia-se pela via da representação.

Palavras-chave: Educação (Física). Infância. Lúdico.

1 Introdução: breve contexto

Para discutirmos a infância, apresentamos algumas reflexões pertinentes à criança e posteriormente a situaremos no período histórico, de modo que favoreça a compreensão das discussões que aqui fazemos, caracterizada pelos tempos modernos e contemporâneos.

Na perspectiva de Agamben (2009, p. 69), “a contemporaneidade se escreve no presente assinalando-o antes de tudo como arcaico1, e somente quem percebe no mais moderno e recente os

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índices e assinaturas do arcaico pode dele ser contemporâneo”. No entanto, a infância contemporânea não está apenas situada num passado cronológico como é descrito por Agamben (2009), mas também no devir histórico, ou seja, ela é contemporânea porque não pára de operar no tempo, portanto, a cada dia a criança registra sua marca no presente.

Assim, dizemos que compreender como acontece o desenvolvimento infantil atualmente não é algo simples, pois se faz necessário compreender a criança na contemporaneidade e ainda refletir sobre as marcas oriundas de uma modernidade inacabada. Um claro exemplo de tal questão apresenta-se quando observamos que a criança é constantemente influenciada pelo apelo incessante da mídia, se relacionando desde a mais tenra idade com os artefatos midiáticos e aparelhos tecnológicos2.

2 Pressupostos metodológicos

Este trabalho é de cunho qualitativo, em que utilizamos referencias teóricos para construir as reflexões que aqui trazemos, desdobrando-se, portanto, em uma revisão de literatura.

Ensinar é mais do que simplesmente administrar um conteúdo, dividi-lo em sequências didáticas e transmiti-lo; é também preocupar-se com o outro, com a formação democrática e o alcance da cidadania. O processo de ensino e aprendizagem precisa, necessariamente, ser intencional e provocar mudança. Nesse sentido, conforme explica Gauthier (2010), o ensino implica um movimento em direção ao outro, o aluno, para apreendê-lo, apoiá-lo, dar-lhe aquilo de que ele precisa.

Nessa perspectiva, podemos afirmar que a educação é uma prática social. Todavia o ato de educar a criança na escola deve implicar em uma ação didática pedagógica intencional para que o sujeito alcance a condição de diálogo entre os seus pares. O ato de educar a criança implica em trabalhar para formar a integração humana dos sujeitos. O professor assume grandeza ímpar nesse processo, pois é ele que conduz o educando para a produção e apropriação do conhecimento contribuindo para a construção e o desenvolvimento cognitivo da criança. Na concepção de Gauthier (2010), “ensinar tudo a todos” significa não só limitar-se ao conteúdo, nem trabalhar segundo o modo de preceptorado, mas fazer com que “todos” tenham acesso ao conteúdo, independente de suas diferenças individuais.

Gauthier (2010, p.130) expõe que “A criança desde a mais tenra idade, uma vez superado o risco de mortalidade infantil, se mistura aos adultos; pertence à sociedade dos adultos”. Nota-se que na análise feita por Gauthier, a partir dos pressupostos de Ariès, a criança era considerada um adulto em miniatura e que as ditas leviandades da infância eram tidas como indisciplinas que desorganizavam a sociedade e deveriam ser corrigidas.

Gauthier nos apresenta que no século XVII as escolas promoviam verdadeiros códigos de posturas, pois a má postura é sinal de desordem, e o controle não se restringe apenas à instituição

2 Para maior aprofundamento desta questão, ver BUCKINGHAM, D. Crescer na era das mídias eletrônicas. São

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escolar, ele perpassa o exterior da escola, onde inclusive as ações externas dos alunos são vigiadas por outros alunos designados que têm o nome de deciários. Cabe a eles se ocupar da conduta dos alunos nas ruas. “A vigilância vai ainda mais longe nos colégios dos Jesuítas, onde a confissão permite conhecer os segredos dos alunos” (GAUTHIER, 2010. p. 140).

É possível identificar que nesta época a vigilância à criança abarcava todas as instâncias do convívio destes nas salas de aula, nos corredores e pátios, na vida pública e ainda contava com um aliado onipresente, uma vez que a vigia ocorria permanentemente pelos “Olhos de Deus”.

Na sociedade contemporânea em que convivemos, caracterizada pelo adulto que atravessa a temporalidade na infância, temos uma relação estimável entre a criança, a escola e as maneiras em que as crianças - produtoras de cultura - se comportam quando estão em contato com o brincar, construindo, assim, sua cultura lúdica. Nesse caso, discutiremos sobre as questões que implicam na relação entre a criança, escola e cultura lúdica.

3 Discussões: a criança, escola e cultura lúdica

O grande desafio da escola é fazer com que o aluno desperte o desejo pela cultura e construção do conhecimento. A escola tem função de desenvolver a criticidade do sujeito ao ponto de fazê-lo refletir sobre os desafios que aparecem na sua vida, pois na medida em que as crianças são instigadas a se posicionarem de maneira crítica perante os fatos e acontecimentos do mundo, pode-se dizer que a finalidade social da escola (educação) está pode-sendo alcançada.

Para as crianças que se desenvolvem desde cedo em condições como esta, a disciplina, a ordem excessiva, os castigos desumanos, entre outras formas de dominação se tornam naturais, e assim alimentam um sistema que está intrinsicamente estruturado em suas concepções e, consequentemente, mascaram a visualização de outra forma senão a que lhes foi imposta.

Quando a criança deixa de fazer aquilo que é proposto pelos currículos escolares, reforça a questão sensível em que se encontra a escola e o professor no palanque das incertezas e dúvidas, visto que as atitudes dos alunos possivelmente são frutos da desestruturação que a instituição escolar vem sofrendo ao longo do tempo juntamente com a sociedade.

É preciso analisar a brincadeira na infância com outros olhares, no sentido de entender como as crianças constroem valores a partir das relações com o brincar. A criança, enquanto produtora de cultura, necessita de olhares compreensivos. Em se tratando dessa questão, Brougère (2002, p. 26) afirma que “a criança adquire, constrói sua cultura lúdica brincando”. Nesse sentido, destacamos o quanto é importante o aspecto do brincar, dos momentos lúdicos no desenvolvimento da cultura infantil.

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Na perspectiva de Corsaro (2011, p. 131), “a participação das crianças nas decisões sobre os cuidados oferecidos por pessoas de fora da família ou sobre a educação infantil em programas pré-escolares é limitada”. Isso reforça o que Moriyón também destaca, visualizando a criança como sujeito que pode contribuir com as formulações e decisões das questões e políticas voltadas a ela. Mas nesse caso peculiar, a criança é um sujeito que possui a voz silenciada, sem “ouvidos” para ouvi-la e sem organizações para entendê-la como um ser cujos direitos precisam ser efetivados.

O lúdico caracteriza-se como uma via de comunicação direta com a criança e dela com o adulto. Como ressalta Mello (2003, p. 30), “enquanto o adulto se expressa predominantemente através das palavras, a criança se expressa através de suas atividades com seus brinquedos. Através do brincar, a criança expressa suas fantasias, seus sentimentos, suas ansiedades e suas experiências”. A criança adquire experiências brincando. A partir da relação com o outro, as crianças produzem cultura lúdica.

4 Considerações finais

O lúdico é de grande relevância para a criança, visto que a cultura produzida por elas é fruto de relações que são vivenciadas dia-a-dia. Na escola, as experiências infantis se constituem nas relações com os pares, com os adultos, professores, diretores e coordenadores.

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Referências

AGAMBEN, G. O que é contemporâneo? e outros ensaios. Chapecó, SC: Argos, 2009.

ALMEIDA, V. S. Educação em Hannah Arendt: entre o mundo deserto e o amor ao mundo. São Paulo: Cortez, 2011.

ARIÈS, P. História social da criança e da família. 2ed. Rio de Janeiro: LTC, 1981.

BRACHT, V. ALMEIDA, F. Q. de. A pedagogia crítica em crise: entre o moderno e o pós-moderno. In: Emancipação e diferença na educação: uma leitura com Bauman. Campinas: Autores Associados. 2006. p. 35-54.

BROUGÈRE, G. A criança e a cultura lúdica. In: KISHIMOTO, T. M. O brincar e suas teorias. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002.

BUCKINGHAM, D. Crescer na era das mídias eletrônicas. São Paulo: Edições Loyola, 2007.

CORSARO, W. A. Sociologia da infância. Porto Alegre: Artmed, 2011.

FOUCAULT, M. Vigiar e punir, nascimento da prisão. 20. ed. Petrópolis: Vozes, 1999.

GAUTHIER, C. O século XVII e o problema do método no ensino ou o nascimento da pedagogia. In: A pedagogia: teorias e práticas da antiguidade aos nossos dias. Clemont Gauthier e Maurice Tardif. Petrópolis: Vozes. 2010. p.121-148.

KISHIMOTO, T. M. O brincar e suas teorias. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002.

MARCELLINO N. C. (org.) Lúdico, Educação e Educação Física. Rio Grande do Sul: Unijuí, 2003.

MARTINEAU, S. Jean-Jacques Rousseau: o Copérnico da pedagogia. In: GAUTHIER, C. e TARDIF, M. A pedagogia: teorias e práticas da antiguidade aos nossos dias. Petrópolis – RJ: vozes, 2010. MELLO, M. M. O Lúdico e o Processo de Humanização. In: MARCELLINO N. C. (org.) Lúdico, Educação e Educação Física. Rio Grande do Sul: Unijuí, 2003.

MORIYÓN, F. G. A infância, um território fronteiriço. In: KOHAN, W. O. (org.) Devir-criança da filosofia: infância da educação. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2010.

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