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A VERDADEIRA DOR DO PARTO: UMA ANÁLISE DA VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA A LUZ DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS DA MULHER.

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Academic year: 2021

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A VERDADEIRA DOR DO PARTO:

UMA ANÁLISE DA VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA A LUZ DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS DA MULHER.

BALDUÍNO, Geiziane Lima1. GONÇALVES, Débora de Souza2. RIBEIRO, Andressa Rieda Reis3. SOBREIRA, Pollyana de Souza4

SILVA, Tatiana Mareto5.

INTRODUÇÃO

No Brasil, muitas mulheres são vítimas, diariamente, de algum tipo de violência em razão da sua condição de mulher. Este trabalho teve como enfoque principal a análise de uma modalidade específica de violência – a obstétrica.

Considerando os valores da dignidade humana e os tratados dos quais o Brasil é signatário, discutimos a problemática que versa sobre a atuação estatal e a violência obstétrica, que traumatiza e viola direitos fundamentais das mulheres durante a gestação e o parto. Para tanto, analisamos os procedimentos médicos que são recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e regulamentos nacionais, desde o início da gestação até a parturição e o puerpério, questionando a inobservância dessas prescrições e a realização de procedimentos outros que possam colocar em risco a integridade física e mental da mulher, bem como suas consequências no mundo jurídico.

O estudo, portanto, objetivou analisar o papel do Estado e sua omissão frente à violência obstétrica, bem como verificar a existência de políticas públicas para prevenção, punição e quiçá erradicação dessa prática abusiva que acontece em hospitais da rede privada e pública do Brasil.

1Graduanda do Curso de Direito do Centro Universitário São Camilo-ES, geiziane_balduino@hotmail.com;

2Graduanda do Curso de Direito do Centro Universitário são Camilo-ES, deboraescritorio112014@gmail.com;

3Graduanda do Curso de Direito do Centro Universitário são Camilo-ES, andressarieda14@hotmail.com;

4Graduanda do Curso de Direito do Centro Universitário são Camilo-ES, polly-sobreira@hotmail.com;

5 Professora orientadora. Doutoranda vinculada ao Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Direitos e Garantias Fundamentais da Faculdade de Direito de Vitória (FDV), tatianamareto@saocamilo-es.br

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METODOLOGIA

Pesquisa exploratória com base em levantamento bibliográfico, elaborado mediante pesquisas em artigos científicos e em sites, a fim de produzir conhecimento teórico para o desenvolvimento da pesquisa.

DISCUSSÃO

A violência obstétrica consiste no descaso, desrespeito e a falta de assistência a gestante (ZANARDO, 2016). O descaso, desrespeito e a falta de assistência podem vir através de violência física, verbal, psicológica, exposições vexatórias e abuso no uso de medicamentos.

O agente desta modalidade de violência são os profissionais da área da saúde, que pode ir desde a recepcionista do hospital ou da clínica até o diretor geral.

Já o agente passivo são as mulheres em condição de gestante, parturiente e puérpera. Segundo D’Oliveira, Diniz e Scharaiber (apudZANARDO, 2016), a violência contra a mulher nas instituições de saúde são discutidas e definidas em quatro tipos: “Negligência (omissão do atendimento), violência psicológica (tratamento hostil, ameaças, gritos e humilhação intencional), violência física (negar alívio da dor quando há indicação técnica) e violência sexual (assédio sexual e estupro)”.

Rigorosamente falando, os relatos acerca dessa modalidade de violência, transparecem os sentimentos de submissão, medo, indignação e revolta. Os relatos de violência verbal são encontrados com mais facilidade nas redes sociais. Em 2015, numa edição online da Revista Época intitulada “Vítimas da violência obstétrica: o lado invisível do parto” pode-se encontrar alguns relatos de violência verbal como, por exemplo, o de Eva Maria Cordeiro que ao chegar à maternidade sofreu repreensão e ainda foi culpada pela morte do seu nascituro. Merece destaque também, o relato de Kelly de Oliveira Mafra, de 20 anos, que durante o trabalho de parto ouviu dos profissionais da saúde: “Na hora de fazer, não gostou?”, “Não grita, vai assustar as outras mães” (LAZZERI, 2015).

Paralelamente, a violência física, é pouco relatada, vez que em sua maioria ocorre na genitália feminina, são tidas como procedimentos/intervenções necessárias, porém não há confirmação científica, o que se acumulou durante os anos foram evidências, conforme narrado por Melania Amorim, médica especialista

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em Ginecologia e Obstetrícia no documentário “A Dor Além do Parto”, onde a profissional fala sobre a intervenção conhecida como episiotomia (A DOR ALÉM DO PARTO, 2013).

Métodos como a manobra de Kristellere o uso do fórceps não são recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (2010), porém ainda são utilizadas nos hospitais brasileiros rotineiramente e sem consentimento. E como se encontram em um momento delicado e aguardado acabam ignorando o desconforto que alguns procedimentos lhes causam e consequentemente não denunciam.

Há que se destacar também, o excesso de confiança depositado nos profissionais da saúde pelas parturientes, sejam eles obstetras ou enfermeiros, acreditam que todos os procedimentos adotados sejam comuns e necessários, quando na verdade não são. Devido à falta de informação ficam submissas a tratamentos vexatórios e desumanos. E apesar de a prática ser comum nos hospitais públicos e particulares brasileiros, ainda não há amparo legal que proteja às vítimas da violência obstétrica e que puna aqueles que às praticam.

Segundo a Organização Mundial da Saúde o momento do parto é quando as mulheres estão mais vulneráveis a sofrer algum tipo de violência, podendo acarretar em consequências severas.

Embora o desrespeito e os maus tratos possam ocorrer em qualquer momento da gravidez, no parto e no período pós-parto, as mulheres ficam especialmente vulneráveis durante o parto. Tais práticas podem ter consequências adversas diretas para a mãe e a criança (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2014).

Acerca do fenômeno violência obstétrica, a Doutora e Medicina Carmem Simone Grilo Diniz, entende que “é chegado o momento de reconhecer as práticas dolorosas, perniciosas e não-científicas adotadas nas maternidades como problemas de saúde pública e direitos humanos” (DINIZ; CHACHAM, 2006). No mesmo sentido, a referia autora afirma que “faz-se necessário criar as condições para que a maternidade seja exercida em um contexto de direitos humanos, isto é, para que ela seja voluntária, segura, socialmente amparada e prazerosa, promovendo, assim, a igualdade de gênero” (DINIZ; MATTAR, 2012, p. 111).

Com relação à proteção dos Direitos Humanos, o Brasil assinou em 1979, promulgou e publicou em 2002, a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher que expõe em seu artigo 12 os direitos e

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garantias da mulher, bem como a responsabilidade do país em relação à mulher no ambiente hospitalar.

1. Os Estados-Partes adotarão todas as medidas apropriadas para eliminar a discriminação contra a mulher na esfera dos cuidados médicos a fim de assegurar, em condições de igualdade entre homens e mulheres, o acesso a serviços médicos, inclusive os referentes ao planejamento familiar.

2. Sem prejuízo do disposto no parágrafo 1o, os Estados-Partes garantirão à mulher assistência apropriadas em relação à gravidez, ao parto e ao período posterior ao parto, proporcionando assistência gratuita quando assim for necessário, e lhe assegurarão uma nutrição adequada durante a gravidez e a lactância. (BRASIL, 2002)

Desta maneira, para punir, atenuar e até mesmo erradicar essa espécie de agressão é necessário colaboração da sociedade, inclusive das mulheres vítimas, e dos órgãos estatais (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2014, p.03).

CONCLUSÃO

A realização do presente estudo possibilitou observar que não há previsão legal que identifique como crime esse tipo de violência. Gestantes, parturientes, puerperais e nascituros continuam morrendo por negligência, imprudência e imperícia de profissionais da saúde.

Neste interim, países como Venezuela, Argentina e México já possuem em seu ordenamento jurídico a tipificação penal da prática de violência obstétrica contra a mulher (PAES, 2015). Por outro lado, o Brasil ainda se encontra engessado, fazendo uso de leis genéricas para tentar coibir a prática delituosa, o que é insuficiente.

Desta forma, a inércia do poder público em relação à violência obstétrica fere os direitos da mulher elencados na Constituição Federal, no qual o Estado tem o dever garantir políticas protejam a saúde da população, bem como que essas políticas sejam realizadas de maneira igualitária (BRASIL, 1988), o que não acontece na prática.

REFERÊNCIAS

A DOR ALÉM DO PARTO. Produção de Letícia Campos Guedes e outros. Brasília;

Branco Preto Produções, nov. 2013. Disponível em:<https://www.youtub e.com/watch?v=cIrIgx3TPWs&t=311s>. Acesso em: 20 mai. 2018

BRASIL, Decreto nº 4.377 de 2002. Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher. Brasilia: Planalto, 2002. Disponível

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em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/d4377.htm>. Acesso em: 25 mai 2018.

DINIZ, C.S.G.; CHACHAM, A.S. (2006). O 'corte por cima' e o 'corte por baixo': o abuso de cesáreas e episiotomias em São Paulo. Questões Saúde

Reprodutórias. Disponível em:<https://www.researchgate.net/publication/3072117 73_O_corte_por_cima_e_o_corte_por_baixo_o_abuso_de_cesareas_e_episiotomias _em_Sao_Paulo>. Acesso em: 24 de mai de 2018.

LAZZERI, Thais. Vítimas da violência obstétrica: o lado invisível do parto. O debate sobre violações de direitos no parto chegou às mãos do STF. Entenda o que está em jogo e conheça os relatos de mulheres vítimas da violência obstétrica. Época, ago. de 2015. Disponível em:

<https://epoca.globo.com/vida/noticia/2015/08/vitimas-da-violencia-obstetrica-o-lado- invisivel-do-parto.html >. Acesso em: 24 mai. 2018.

MATTAR, L.D.; DINIZ, C.S.G. Hierarquias reprodutivas: maternidade e

desigualdades no exercício de direitos humanos pelas mulheres. Disponível em:<http://w

ww.scielo.br/pdf/icse/v16n40/aop0212.pdf >. 24 mai 2018

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Disponível em: <http://search.who.i

nt/search?q=MANOBRA+KRISTELLER&ie=utf8&site=who&client=_fr_r&proxystylesh eet=_fr_r&output=xml_no_dtd&oe=utf8&getfields=doctype>. Acesso em: 24 mai 2018.

PAES, Fabiana Dal’Mas Rocha. Estado tem o dever de prevenir e punir a violência obstétrica. Consultor Jurídico, dez. 2015. Disponível em:<htt

ps://www.conjur.com.br/2015-dez-07/mp-debate-estado-dever-dever-prevenir-punir- violencia-obstetrica>. Acesso em: 24 mai 2018.

VENEZUELA. LeyOrganica Sobre El Derecho de LasMujeres a Uma Vida Libre La Violencia, nº 38.770, 2007. Disponível em:<http://www.derechos.org.ve/pw/wp- content/uploads/11.-Ley-Org%C3%A1nica-sobre-el-Derecho-de-las-Mujeres-a-una- Vida-Libre-de-Violencia.pdf>. Acesso em: 25 mai 2018.

ZANARDO, Gabriela Lemos de Pinho et al. Violência Obstétrica no Brasil: uma narrativa. Psicologia e Sociedade, Rio Grande do Sul, Out. 2016 Disponível em:<http://www.scielo.br/pdf/psoc/v29/1807-0310-psoc-29-e155043.pdf>. Acesso em 24 mai. 2018.

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