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Capítulo 1

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Academic year: 2022

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Capítulo 1

Era uma noite de tempestade, um ser coberto num manto negro caminha a passos largos na penumbra, carregando um cesto. Deixa o cesto em frente de uma casa luxuosa, tira de dentro do casaco um papel coloca no cesto e some na escuridão da noite. Minutos depois a grande porta de madeira talhada se abre e uma jovem grita: Tem uma criança aqui na porta!

Todas as mulheres correram para porta, Rita a dona da casa surge sem abalos e nem preocupação, muito elegante e sorridente diz: Todas de volta ao trabalho. Pega o cesto e o carrega para dentro, senta-se pega o bilhete e lê em voz alta para que as outras possam ouvir:

Cuide da minha filha, por favor, o nome dela é Selena. A senhora tem um bom coração e é caridosa, sei que fará o melhor para ela.

Adeus.

Rita tirou os olhos do papel e encontrou os olhos vivos da linda menina que deveria ter uns 2 meses. As garotas estavam encantadas, todas estavam em volta do cesto.

-Todas de volta ao trabalho, nossos clientes vão chegar a qualquer momento.

Rita entra no escritório com o cesto, deu o bilhete para Sila ler.

-Pode ficar com ela; preciso me preparar para meu show.

-Fico com ela sim, mas peça ao Verno para vim aqui, vamos precisar de fraldas e leite.

-Não tem onde comprar nada a essa hora.

-Nessas horas recorremos às amigas, diga que ele venha rápido.

-Farei isso agora mesmo.

Rita sai do escritório e Sila conversa com a criança que olha pra ela querendo chorar: não chora, vou cuidar de você, não vamos te abandonar. Ela pega a criança no colo e começa a ninar como só uma mãe sabe fazer. As lágrimas banharam seus olhos e com voz aveludada cantou uma linda canção de ninar.

-Leva muito jeito

Sila nada diz entrega o bilhete e diz onde ele deve ir.

Quando Rita termina sua primeira apresentação vai até o escritório acompanhada do Juiz.

- A senhora leva muito jeito com criança, até parece que teve filhos. Diz o juiz olhando de perto para a criança e em seguida lendo o bilhete.

-E então? Pergunta Rita impaciente.

-É uma menina bem cuidada e a mãe pode se arrepender e voltar para buscar o que lhe pertence, vamos aguardar. Se ninguém reclamar a pequena em dois anos conversamos de novo.

-Só isso! Reclamou Rita.

-E se dê por satisfeita por deixar com vocês a criança, deveria mandar para o orfanato, mas dona Sila parece ter tanto amor pra dar que a criança fica, mas ficarei de olho, pois, a senhora é uma cabeça de vento. Falou olhando para Rita.

- Como ousa?

-Vamos deixar de conversa, meus camaradas me esperam para começar o jogo.

O juiz deixa o escritório às pressas para voltar à mesa de jogo. Verno entra com as encomendas e Rita vai para seu camarim amuada.

-O que deu nela.

(2)

-O juiz disse que ela é uma cabeça de vento.

-Já sou fã desse homem -Verno!

-Ele falou a pura verdade. Não me leve a mal, ela é boa pessoa, muito generosa e excelente patroa, mas parece que veio ao mundo a passeio. Se não fosse por você essa boate não existiria mais e ela estaria de novo na miséria.

-Quantas vezes?

-Três vezes em dez anos. Primeiro jogou fora a fortuna do pai. Com 15 anos se casou com um velho rico que prometeu o estrelato. Quando viu que o velho tinha mentido ficou furiosa e o abandonou ficando na miséria. A dona dessa boate a acolheu e quando a senhora morreu herdou a boate e todos os empregados. Faliu a boate e arrastou todos para lama junto com ela. Então o velho marido morre e deixou uma fortuna pra ela, assim reergueu a boate. E se não fosse por você já teria perdido tudo.

-Nem todos sabem usar bem o dinheiro, mas isso é porque não foram ensinados.

-Ou não quiseram aprender. O pai dela era um negociante exemplar, homem pobre que aproveitou muitas oportunidades e soube usar bem o dinheiro. Tudo que ele tocava virava ouro. A mulher dele era igualmente apta para negócios, já a filha só pensa em estrelato.

-Então vamos trabalhar para assegurar que a boate se torne a nossa mina de ouro.

-Já vou voltar ao trabalho.

Sila cuidava da menina com tanto carinho que parecia a mãe. ​Você veio me salvar menina brilhante, minha lua​. Pensou Sila enquanto alimentava a menina que lhe segurava os cabelos.

Rita entra sorridente como sempre.

-Que bom que ela gostou de você, vou te contratar para cuidar dela.

-Tenho ideia melhor -Estou ouvindo.

-Serei a madrinha dela.

-Maravilhoso!

Selena é uma menina linda, cheia de energia e muito teimosa. Rita não tem muita paciência, então Sila cuida da menina o tempo todo.

Cinco anos depois

Selena se tornou filha de Rita, a adoção foi efetuada com a ajuda do juíz.

— Hora de dormir lua

— Não estou com sono, quero dançar com minha mãe.

— Vá dormir e sonhe dançando num salão de festa com um lindo rapaz.

— Como aquele que esteve aqui no final da tarde.

— Você achou o Olavo bonito?

— Sim, lindo!

— Já pra cama.

— Eu já vou dinda chata.

— Sou chata?

— É sim; mas eu te amo mesmo assim dinda.

(3)

A menina se deitou na cama que preparam para ela no escritório da boate e Sila deitou do lado para contar uma linda história da princesa lua e seu Príncipe. Logo a pequena sapeca dormia. Rita entrou para ver a filha.

— Fez birra para dormir.

— Não, mais disse que queria ir dançar com você, então eu disse pra ela ir dormir e sonhar dançando com um belo rapaz e ela me disse que achou Olavo lindo.

— O que?

— Minha lua já sabe o que é bonito ou feio

— Pelo menos ela tem bom gosto. É um belo rapaz.

— Ainda vai fazer 15 anos e já terá que assumir os negócios do pai, precisamos ajudar ele de alguma forma.

— Dona de boate é uma maldição.

— Sei que nossa comunidade não nos aceita, mas temos que ajudá-lo, aquele tio dele vai roubar tudo o que ele tem. O pai dele ainda vai ficar muito tempo no hospital.

— Está bem. Amanhã falo com ele quando ele vier trazer os documentos que pedi. Mando ele falar com você, mas ajudar ele não pode interferir no seu trabalho aqui na boate.

—Sim chefe.

Rita riu e saiu do escritório para apresentar seu segundo show, alguns minutos depois, Verno chama Sila.

—Precisamos de você na sala de jogos — O senhor Alcântara aprontando de novo?

— Não! O juiz está passando mal e não quer que ninguém chame um médico.

Sila tranca a porta do escritório e vai até a sala de jogos ver o amigo. No caminho liga para Valério e pede para ele atender o juiz. Sila consegue convencer o amigo a ir até o escritório, ele precisa de ajuda para caminhar e se apoia nela e em Verno. Valério chega pouco minutos depois que eles entram no escritório e acomodam o juiz no sofá. O doente é medicado e todos vão embora.

— Meu amigo, precisa se cuidar. Prometa que não vai fazer isso de novo.

— O que foi que fiz?

— Pensa que me engana. Deixou de tomar seus remédios de novo.

— Eles me dão sono entre outras coisas.

— Ou toma os remédios ou vou proibir sua entrada no salão de jogos.

— Está bem, amanhã compro.

— Marquei uma consulta para amanhã antes da sua primeira audiência, ele vai mais cedo para atendê-lo, diga como se sente com os remédios.

— Vi como ele olha para você, mas ele é casado, você merece coisa melhor.

— Valério é meu irmão, o único que fala comigo desde que vim trabalhar aqui.

— Nunca entendi você ter escolhido ser faz tudo numa boate.

—É uma longa história meu amigo.

— Você teve filhos. percebi quando vi você segurar Selena pela primeira vez.

— Quero ajudar você.

— Agora vai descansar, depois falamos sobre isso.

Sila segura na mão do amigo e com voz aveludada canta para ele uma canção antiga.

— Devia cantar na boate, falando isso adormeceu.

O filho do juiz veio buscá-lo — Obrigada Sila por cuidar dele.

(4)

— Amanhã ele tem uma consulta.

— Seu irmão ligou pra mim como você pediu. Vou estar com ele na consulta. Você sabe que sempre fui contra meu pai frequentar essa boate.

— Sei! Eu entendo.

—Agora incentivo ele vir.

— O que mudou?

— Desde que minha mãe morreu você e o Verno tem apoiado ele como ninguém na família fez, aqui ele tem amigos de verdade.

— Seu pai é um homem admirável.

— Obrigada de novo. Melhor eu ir ele detesta esperar.

— Pode contar comigo.

O jovem sai e o Verno se aproxima.

—Qual a bronca?

—Ao contrário o jovem reconheceu que eu e você temos ajudado o pai dele.

— O que aconteceu com o discurso: vou achar um jeito de fechar esse antro de devassidão.

— Parece que mudou de ideia, disse que incentiva o pai a vir.

— Que mudança! Se você não andasse segundo a lei ele teria conseguido fechar ano passado.

— Nos perseguiu demais. Porém eu entendo, vivemos numa comunidade que não aceita a jogatina e dançarinas seminuas...

— Você também não gosta de nada disso.

— Não escolhi estar aqui e você sabe disso, mas já que estou faço o melhor que posso.

— Você transformou isso aqui num lugar decente e artístico. E o juiz tem razão deveria cantar.

— Já trabalho demais.

— Cante uma noite e veja como se sente.

— Vou pensar.

No dia seguinte Sila ajudou Olavo, pede para ele prestar atenção ao tio e ensinou como saber se algum negócio foi feito sem autorização dele. Organizou os documentos que ele trouxe, mostrando a eles pequenos erros que poderia fazer com que a firma dele tivesse problemas. Selena estava quieta olhando para o rapaz, o que era de estranhar. Quando o rapaz saiu Selena olhou para Sila e disse: ​quando eu crescer vou me casar com ele.

— Ele é dez anos mais velho que você.

— Dinda, dinda; ser preconceituosa é feio.

Virou às costas para a madrinha e foi brincar com seus brinquedos. Sila sorriu e voltou para o trabalho.

Rita entrou brincou com a filha e falou para a amiga.

— O juiz ligou, quer que você cante essa noite na abertura da boate.

— Não posso fazer isso.

— Você pode, mas não quer, pois tem medo que pensem mal de você e te neguem o que você quer. Procure outro emprego, cantando ou não, estar aqui na boate já elimina suas chances. Pense!

(5)

Capítulo 2

Naquela noite ela cantou na boate, pela primeira vez na vida. Parecia que tinha nascido para fazer aquilo. Tanta naturalidade e presença de palco que para sua surpresa foi aplaudida de pé. Até os que jogavam pararam para ouvir aquela voz que lhe tocava o coração.

Na porta do escritório encontrou o Verno com Selena no colo.

— Ela já devia estar dormindo.

— Não! Deveria estar acordada vendo sua dinda se superar, vendo a mulher que ela ama demonstrar sua força e sua coragem. Um dia ela vai saber o que fez por ela, vai entender que você é a única verdade que ela tem.

— Vá trabalhar, vou colocar a menina para dormir.

— Como se sentiu?

— Como alguém que faz o que devia fazer.

— Sabe que lhe apoio em qualquer que seja a circunstâncias.

— Sei sim. Obrigada!

Rita entra no escritório e encontra a amiga com os olhos na papelada que Olavo trouxe.

— Seus fãs querem que você cante no final.

—Tá bom!

— Queria que você vestisse esse vestido.

— Sabe o que eu penso sobre isso; as pessoas querem ouvir minha voz não ver meus seios.

— Ok! Não vamos discutir de novo.

— Poderia vestir esse vermelho?

— É brilhoso demais, mas esse eu visto se vai lhe agradar.

Verno entra trazendo uns documentos que Olavo enviou por um portador.

— Contrariou a Toda Poderosa? Ela passou por mim com cara de poucos amigos.

— Ela queria que eu vestisse aquele vestido verde que ela comprou a semana passada.

Aquele que os seios só faltam pular em cima de quem chega perto.

Verno sorriu.

—Você acha engraçado?

— Sim! Justo curto e decotado até o umbigo; como ela achou que você vestiria aquilo?

— Ela acha que as pessoas só jogam, dançam, comem e se apresentam aqui por causa das mulheres seminuas que circulam no lugar. Mas isso só causa problemas na

comunidade.

— Ela gosta de afrontar os conservadores, não ver como ela se veste para ir ao supermercado ou a feira, ela ama ver o olhar de reprovação das mulheres.

—Teríamos mais clientes se ela parasse com essa quebra de braço com os mais conservadores.

— Sei que você aceitou o vestido pisca-pisca contra a sua vontade, como você quer se apresentar e como você quer que as dançarinas se apresentem?

— Lembra daquele vestido vermelho que fiz, como pedrarias todo bordado.

— Como poderia esquecer, você fica linda nele. E as dançarinas?

— Lembra daquelas roupas que fiz e bordei?

(6)

— Lembro! As meninas amaram, mas a Toda Poderosa odiou. Estilo indiana, só a barriga de fora e em alguns movimentos a coxa aparece, sensual, lembra as mil e umas noites.

Considere feito. Mande pegar as roupas.

— Como você consegue?

Verno retorna da sua missão.

—Qual o veredicto.

— Pode usar o que quiser,mas...

-—Eu sabia que tinha mas, sempre tem uma condição absurda.

—Se vocês agradarem os clientes podem se vestir como quiserem.

—E se não agradar?

—Vai vestir o que ela quiser, sem reclamar.

—Não gosto disso.

—Vai arrasar tenho certeza. Tudo que você faz é perfeito. Falar nisso o Juiz quer saber sua história, porque veio trabalhar aqui. Parece que quer ajudar você.

—O que você disse?

— A verdade. Que eu também gostaria de saber, mas que nem você, nem a Toda Poderosa fala sobre isso. Todavia é algo que lhe causa dor e algo que você ainda precisa resolver. Tipo ajustar as contas com o passado.

— Com o Juiz me entendo depois.

— Você sabe que pode confiar em mim.

— Eu confio em você, o problema não é esse.

— Qual o problema então?

—Você não ficaria quieto, agiria pra me defender sem pensar nas consequências.

— Embora você não olhe pra mim como eu gostaria, sabe que por você eu atravessaria mares e desertos.

— É por saber disso que tenho que ficar quieta, mas prometo te contar um dia.

— Vou esperar com paciência por esse dia. Agora vai se arrumar e mostra a Toda Poderosa que bom gosto também agrada.

— Qual a razão de ter aceitado esse emprego que detesta.

— Preciso mesmo responder? Acredito que você conhece a resposta.

—E se eu jamais puder corresponder com o mesmo amor que você me dedica?

—Vou estar sempre por perto, não tenho esperança de ser feliz com você, mas tenho esperança de te ajudar a conseguir o que deseja; seja o que for...

—Não sei o que dizer.

—Não precisa dizer nada, só o que precisa fazer essa noite é cantar e encantar. Eu olho a pequena que dorme sem preocupações.

—Obrigada!

—Vai logo deixa de conversa.

Verno espera ela sumir no corredor pra poder falar ao telefone.

—Conseguiu encontrar?

—Acredito que sim. Está doente, abandonado em um hospital de quinta.

—Pode conseguir a transferência para o hospital que te falei?

— Amanhã de manhã. Agora você é responsável por uma vida; tem certeza que quer comprar essa briga.

—Vai dar pra fazer o teste de DNA com o material que mandei?

— Já foi feito, na próxima semana vou receber o resultado.

(7)

—Qual a situação geral.

—Pode não sobreviver, sofreu muita violência por parte dos cuidadores. Estou desconhecendo você cara.

—Por amor um homem arranja controle e se torna paciente.

— Melhor assim, só iria estragar sua vida tentando ser o justiceiro.

—Não posso mas ser assim, tenho que cuidar dela, ou seja, deles.

— Ela nunca vai te amar meu amigo, e, se amar não vai poder viver com você.

—Eu sei, mas quando ela estiver bem, num bom lugar e segura, eu desapareço.

— Vai continuar se escondendo? Você já pagou o que devia e agora está fazendo algo grandioso por amor. Precisa criar raízes.

—Vou criar raízes, mas não aqui, onde as pessoas são incapazes de perdoar meu erro. O único emprego que posso ter aqui é numa boate de quinta, porque a dona me deve favores.

— Aqui ou em qualquer lugar vai contar com minha ajuda.

—Você sempre foi leal e me livrou da minha sede por justiça.

—Prometi a sua mãe antes dela morrer e pretendo cumprir a promessa que fiz a minha dinda.

—Ela ficaria orgulhosa do homem que você se tornou.

—Ela teria orgulho de nós dois. Vai trabalhar.

—Amanhã te ligo.

Depois de se despedir do amigo ele senta na porta do escritório pra ouvir a amada cantar.

Pediu para Vicente gravar.

Capítulo 3

Quando Sila voltou para o escritório, Verno disse que precisava falar com ela.

— Foi ruim a apresentação?

— Você foi maravilhosa. O assunto é outro.

—Fale! Parece que é algo que te deixou aborrecido.

— Selena não pode crescer numa boate dormindo o primeiro sono num escritório.

—Tenho me preocupado com isso,mas Rita não quer falar sobre o assunto.

— Já arranjei a casa, quero que vá olhar, se concordar entreviste a babá que escolhi.

— Como consegue?

— Dessa vez foi uma briga feia, se não fosse por vocês duas tinha mandado a Toda Poderosa para o lugar que aquela tola egoísta merece e tinha saído daqui pra nunca mais voltar.

— Imagino como foi difícil pra você. Obrigada! Selena precisa de um lar estável.

— Que bom que concorda. Já me desgastei demais hoje.

— Duvidava que eu aceitaria?

— Nem por um instante, mas estou de mau humor. Desculpe!

— Eu compreendo. Vá cuidar do seu serviço, vou levar nossa menina para o quarto e vou adiantar umas coisas para amanhã.

— Desculpe pelo mau humor.

— Você está cuidando de nós duas, sou muito grata.

Sila da um beijo na face de Verno e se afasta. Ele olha a sua amada cuidar da afilhada e depois sai do escritório em silêncio, mas com o coração pulando de alegria.

(8)

Selena está muito feliz de ir morar com a madrinha na casa nova. Verno escolheu uma casa perto da boate com quintal, Jardim, ventilada e banhada pelo Sol.

—Dinda, mamãe está azeda hoje.

—Ela queria muito vir com a gente, mas precisa cuidar das meninas que moram na Boate.

— E precisa ficar azeda? Somos praticamente vizinhas da boate. Tomará que daqui não dê pra escutar aquele barulho, aquilo cansa.

Sila sorriu.

— Não vai ter barulho aqui.

—Ufa! Que alívio! Dinda você está doente?

—Não!

Selena colocou as mãos na cintura, olhou com cara feia apertando os olhos e falou:

— Dinda! Não me esconda nada.

Sila segurou o riso, se ajoelhou para falar com sua lua.

—Quem te disse que eu estou doente?

—Ninguém. Mas eu sou esperta.

—Como assim?

— Acordei e ouvi tio Verno dizendo: preciso ajudar Sila, ela precisa de mim nesse momento.

—Ouviu mais alguma coisa?

—Não! Desculpe o sono me venceu.

— O tio Verno estava falando que precisava me ajudar a encontrar essa casa.

— Não sei se quero ficar grande. Uma fica azeda porque não pode vir e o tio aflito por causa de uma casa, com tantas pela cidade.

Sila sorriu

—Dinda, agora que já conversamos de mulher para mulher, posso ir brincar no meu quintal.

- Pode sim minha lua iluminada.

Sila fica preocupada, Verno não pode saber do segredo dela, ele é muito impulsivo e faria qualquer coisa por ela, mesmo que arruinasse sua própria vida.

Rita acabou gostando da filha está na nova casa, percebeu que a filha estava mais feliz e tranquila.

Sila estava preocupada com o que Verno estava sabendo e do que ele queria protegê-la.

Passou a semana toda evitando o contato com ela e sumiu por dois dias.

—Sabe onde o Verno foi?

—Não; ele pediu folga para resolver um problema pessoal.

—Sabe quando ele volta?

—Não. Mas a impressão que eu tive é que ele não volta.

— Sabe o endereço do amigo dele?

—Tem um cartão dele no escritório. Fábio Aguiar. Cuidado com Verno, ele já fez coisas ruins.

—Você também fez muitas coisas erradas, o passado dos dois é bem semelhante.

—Eu nunca fui presa.

—Outra pessoa foi presa no seu lugar e suspeito que tenha sido o Verno.

—Não sei do que está falando. O figurino que você escolheu para a apresentação de hoje eu já aprovei.

(9)

—Obrigada!

Sila trabalhou naquela noite um pouco distraída, mas cantou e encantou. Não deixou que ninguém percebesse sua preocupação.

No dia seguinte foi até o escritório do Fábio Aguiar.

—Ele disse que você chegaria até mim.

—Ele se meteu em algum problema?

—Não graças a você e a Selena ele manteve o controle.

—Então qual foi a razão de ter partido sem se despedir?

—Ele precisa de um tempo sozinho pra achar seu lugar. Pode vir comigo até o hospital onde seu irmão trabalha.

— O que aconteceu com meu irmão?

—Seu irmão está bem, só quero que você conheça uma pessoa.

Sila estava muito nervosa e assustada. Ao chegar ao hospital foi levada a um quarto onde tinha um menino magro e com marcas de violência, mas sorridente e brincalhão, tinha uns 9 anos. Sila chorou. O menino disse:

—Chora não mamãe, tio Verno me trouxe de volta pra você o tio Valério cuidou de mim bem direitinho. Ela olhou para o irmão meio perdida.

—Fique com seu filho um pouco, as enfermeiras vão levar ele para uns enxames, você pode acompanhar. Eu e o senhor Aguiar vamos esperar você no meu escritório.

Quando Sila entra no escritório do irmão ainda está atordoada. O irmão começa a falar.

—Verno encontrou seu filho o trouxe para mim, mas estava muito doente.

—Faz quanto tempo que ele está aqui?

—Duas semanas. Mas estávamos esperando o resultado do DNA para não te dar falsas esperanças. Seu ex marido também fez o exame de DNA.

—Como conseguiram que ele aceitasse?

—Verno falou com ele.

—Imagino que não vou querer saber como foi a conversa.

— Imaginou certo. Eles trouxeram o menino pra mim e ontem chegou o resultado do DNA.

O senhor Aguiar falou com seu marido sobre a pensão e ele vai dar as dispensas da criança sem causar problemas. E seu filho vai ter alta hoje, mas ele vai ter que voltar ao hospital todo mês.

—Eu não posso levar meu filho pra casa de Rita.

Fábio Aguiar olha pra ela e diz:

— A casa é sua Verno comprou para você. A guerra dele com Rita foi para você levar a menina e criar ela do seu jeito.

—Não estou entendendo nada.

— O senhor Aguiar vai te explicar tudo, eu preciso ver uns pacientes agora.

Aguiar começa a falar.

—Rita chamou Verno para trabalhar na Boate, mas ele não queria nem precisava, então foi dizer a ela a decisão dele pessoalmente, quando chegou lá encontrou você e se enamorou. Pro meu desespero aceitou o trabalho.

—Desespero?

—Somos sócios de uma empresa o trabalho dele a noite prejudicaria o trabalho dele comigo. Mas ele colocou na cabeça que não era lugar pra você e que Rita iria se aproveitar de você e ele tinha que te proteger.

—Eles já foram amantes?

(10)

—Não. Eles são primos e meios irmãos. Uma família bagunçada. Quando o juiz lhe viu com Selena nos braços ele disse que você já tinha sido mãe e não estava ali por acaso, havia uma tragédia no seu passado e a dor da perda de um filho. Daquele dia em diante Verno assumiu a missão de descobrir quem te fez mal.

—Contratou um detetive?

—Não precisou. O amigo do seu marido estava bêbado num bar desabafando o amor dele por você. Chamaram Verno na boate e ele foi ao bar, fiquei com medo que ele espancasse o homem, mas ele manteve o controle e seguiu o homem até a residência dele. No dia seguinte era um domingo e a família do homem foi a igreja.

—Verno fez ele falar a força.

— O cara era um covarde falou tudo sem precisar que nosso amigo usasse a força. Falou da paixão que sentia e da vontade de possuir você, que tinha tentado a força, só que seu irmão chegou na hora. Que perseguia você por toda a parte e não conseguia nem trabalhar direito pensando em vocês dois juntos. Então disse ao seu marido que vocês tinha um caso e que o filho era dele. Seu marido enfurecido te arrastou pra boate e disse que lá era lugar de vadia.

—Ele tirou meu filho de mim.Rita me acolheu. Meu irmão queria me ajudar, mas minha cunhada disse: a vadia ou eu.

—Ele disse que escolheu você.

—Eu não aceitei, eu tinha perdido minha família, meu bom nome…

—Não era justo que ele perdesse a dele. Verno fez o idiota dizer a verdade ao seu marido e fez ele escrever essa carta confessando tudo.

Deu a carta a ela.

—Verno procurou seu filho. Quando encontramos ele comprou aquela casa pra você.

Entregou a ela as escrituras

—Ele também arranjou um emprego para você num escritório só a parte da manhã e uma vez no mês o dia todo.

Entregou a ela o endereço.

—Ele também matriculou seu filho e Selena numa escola particular. Está paga por um ano. Fez Rita lhe dá a guarda de Selena o juiz vai te procurar com a papelada. Ele te deixou essa carta. Vou te esperar no quarto do seu filho, vou levar vocês dois pra casa A carta dizia:

Sila eu espero que não me odeie agora, mas fiz de tudo pra você confiar em mim e aceitar minha ajuda. Eu tinha que fazer alguma coisa pra te tirar da Boate e te fazer feliz. Sei que nunca vai poder me amar. Sei que ainda ama seu marido e ele te ama, espero que se entendam.

Deixei tudo encaminhado agora o resto é com você, seja feliz meu amor, para que eu possa ser feliz também. Fábio é confiável, pode contar com ele.

Precisava ir buscar um lugar pra mim, preciso esquecer você. Preciso recomeçar. Se eu ficasse não suportaria ver você com seu marido e se ele te magoasse de novo, eu faria mal a ele. É melhor para todos que eu esteja longe.

Vou pro meio da mata, para uma tribo tentar fazer negócios. Eles são artesãos e será uma novidade, nesse comércio cheio das mesmices.

Vou ligar para o Fábio no final do mês quando chegar na cidade, na tribo não tem sinal de telefone.

Estarei sempre pensando em você e nas crianças.

(11)

Te amo agora e para sempre.

Sila chorou muito. Nunca imaginou que ele fosse deixar ela sozinha. Fábio levou mãe e filho pra casa.

—Me procure se precisar.

—Quando seu amigo ligar diga que ele estava errado sobre tudo. Que jamais serei feliz sem o homem que eu amo, que partiu sem se despedir. Que meus filhos não conheceram outro pai e que uma metade de mim morre se ele não voltar.

—Eu sabia que o idiota estava metendo os pés pelas mãos. Vou dar seu recado.

Quando Fábio Aguiar chega ao escritório descobre que o avião do amigo caiu na mata, que as equipes de resgate não sabem o lugar exato da queda. Pra piorar o mau tempo está impedido os trabalhos. Fábio se desespera.

Capítulo 4

Fábio avisa a todos o acontecido, depois viaja para ficar perto da equipe de busca. Sabia que nada podia fazer pra ajudar, mas sentia a sensação de que estaria perto do amigo. Se fosse ao contrário Verno entraria na mata atrás dele e só voltaria depois de encontrá-lo.

Não tinha a mesma coragem e impulsividade do amigo, mas a lealdade era a mesma.

Sila e Rita estavam apoiando uma a outra. Apesar da diferença de pensamento, de estilo de vida as duas mulheres se respeitam.

-— Como começou a amizade de Verno e Fábio?

— A mãe de Verno era madrinha de Fábio, os dois brincavam juntos. Um dia um inimigo do meu pai, que também era pai do Verno, descobriu que a mãe do Verno, minha tia era amante do meu pai. Foi a casa dela para que ela revelasse o esconderijo do meu pai. Ela não sabia ou não queria dizer, então ele torturou ela. Verno escondeu Fábio e pulou a janela pra buscar ajuda. Quando ele chegou com a ajuda a mãe estava morrendo e Fábio ajoelhado junto dela chorando.

—Quantos anos eles tinham?

—Verno tinha dez anos e Fábio tinha oito. A mãe de Fábio deixou o trabalho e veio pegar o filho. Se mudou e os dois meninos não se encontraram por 10 anos. Minha mãe, tia de Verno não quis ficar com ele, então o estado ficou, Meu pai nunca se importou.

Duas irmãs apaixonada pelo mesmo homem, complicado.

—Foi minha mãe que disse ao homem que meu pai se escondia na casa de tia.

— E ele estava?

— Não. Mas minha mãe achava que ele mantinha contato com eles e com a gente não.

Estava com ciúmes. Verno foi quem mais sofreu.ninguém se importou com a dor dele.

Porém Fábio quando completou 18 anos voltou para cumprir a promessa que fez a madrinha.

—Promessa?

— Antes de morrer ela pediu: ​Não deixe ele se perder. Ele vai buscar vingança. Não deixe ele se perder.

— Ele cumpriu a promessa.

— A mãe dele fez de tudo pra ele esquecer a promessa e por um tempo ele fingiu ter esquecido. A vida dele girou em torno disso. Quando ele voltou Verno estava preso cumprindo pena por ter espancado um homem até quase a morte.

(12)

— Ele fez isso?

— Não! Eu que bati no sujeito o teria matado se Verno não tivesse aparecido. Ele abusou da minha irmã, iludiu ela com promessas de amor.

— O que Verno foi fazer lá?

Minha irmã avisou a ele. Ele mandou minha irmã ligar para à polícia. Como ele tinha fama de brigão ninguém investigou. Ele disse que iria me cobrar um dia.

— Cobrou?

— Sim! Eu entreguei Selena pra você.

— Você é a mãe dela, eu sou a madrinha e será assim para sempre. Mas Fábio chegou nesse momento?

— Sim. Ele tirou Verno da prisão, construíram a empresa. O melhor foi ter conseguido que ele desistisse da vingança

— O que aconteceu com o homem que matou a mãe dele?

— Anda se exibindo por toda parte, vai quase toda noite na Boate.

— Aron?

—Sim! Odeio ele.

— Agora entendo a razão de Vincente ficar no lugar de Verno quando Aron estava por lá.

Fábio ligou dizendo que as buscas não evoluíram por causa do mal tempo. Sila desabou e Rita tentou consolar a comadre, mas ela também estava desolada. Quanto mais demorasse menas chances Verno tinha; dava pra ver na voz de Fábio a desesperança.

—Meu Deus! Verno não pode ter esse fim logo agora que poderia ter uma família. Uma vida normal: um amigo-irmão, um amor, filhos… um lar.

— Até eu estou aflita por ele.

As duas mulheres fizeram de tudo para Lua não desconfiar, Verno se tornou importante para ela como um pai. Não podiam perder as esperanças, tinham que confiar que ele voltaria para elas. Sila tinha o filho doente e com feridas emocionais que precisava da atenção dela. Sentia tanta raiva de Verno por não estar com ela nesse momento, foi por causa dele que ela seguiu em frente. Haveria outra chance para ela dizer a ele o quanto ele era valioso para ela?

Verno e o piloto desapareceram na mata, o avião foi encontrado, mortos e feridos foram resgatados. As busca continuariam por um tempo, a esperança nunca abandonou Fábio ele contratou homens treinados em resgate para continuar as buscas.

Sila se dedicava aos filhos, trabalhava em casa e a noite cantava na boate, Fábio estava sempre com ela, ajudava em tudo, se tornou amigo, conselheiro e confidente. Se apaixonou por ela, não era homem de romances longos e duradouros, com Sila porém, ele se

entregaria de corpo e alma. Não disse a ninguém sobre seus sentimentos, quando Rita perguntou ele negou, passou a ir a boate acompanhado de uma garota nova a cada noite.

Só ousaria falar dos seus sentimentos quando o corpo de Verno fosse encontrado.

O corpo de Verno não foi encontrado, as busca foram encerradas. Sila e Rita estavam de luto. Fábio ficou ainda mais próximo de Sila e das crianças, tinha esperança de conquistar o coração da mulher mais encantadora que conheceu, seu desejo e afeição eram tão

profundos que a amava ardentemente. Era um sábado de verão, dois meses depois do acidente, Sila estava no parque com as crianças, Verno se aproximava, quando viu Fábio chegar, às crianças correrem para ele e Sila sorrir para o amigo... Fábio estava no lugar que ele sonhou, foi embora.

Rita quando viu Verno chorou agarrada no pescoço dele.

(13)

— Está me sufocando.

— Sila já viu você?

— Não

— Então vá procurar por ela, quando tiver vai surtar. Você nos assustou.

— Ela já me esqueceu.

— Que conversa maluca é essa? Ficou louco?

— Eu a vi com Fábio e as crianças no parque, estavam felizes. Perfeitos juntos, a família perfeita.

Verno se senta numa cadeira e chora. Rita tenta acalmar o irmão, está tão magro, barbudo e bem nervoso.

— Tenho roupas suas aqui, tome um banho faça a barba e vamos fazer uma visita a Sila. As crianças não sabem o que aconteceu, pensam que você está viajando. Fez de tudo por eles, correu risco de me ter como inimiga, não vai desistir agora.

— Se ela estiver apaixonada por ele?

— Sabe que odeio os "Se". Só vai saber se for lá. O Fábio pode até estar gostando dela, todos gostam da sem graça, sem sal e sem açúcar, mas gosto não se discute, não é?

— Ciumenta!

— Mesmo que ele goste da sem graça e sem estilo, não disse nada a ela. E foi para dentro da mata procurar você, gastou horrores com buscas, eu mesmo não teria gasto aquele dinheiro todo nem pela minha mãe. Amigo como esse não se encontra em lugar nenhum. Cuidado para não estragar tudo.

— Se eu sumisse, deixasse eles em paz? Ele é melhor que eu…

—Esse é um pensamento egoísta. As crianças perguntam por você todo dia: quando tio Verno volta? Ela responde que será em breve e vai chorar no banheiro. Quem é melhor para ela é uma decisão dela, não sua. Agora vá se arrumar para acabar com a aflição deles.

Rita liga para Sila pedindo para ela vim para a boate, sem as crianças. Sila fica nervosa, deixa às crianças com Fábio e corre para boate cheia de esperança, com o coração acelerado e mãos trêmulas.

— Tem notícias dele?

— Ele está lá em cima, no banheiro. Leve as roupas para ele.

Sila sobe as escadas tão rápido que deve ter pulado degraus. Quando chega no quarto de Rita não tem ninguém, procura nos outros quartos, todos vazios, as moças estavam numa sala nos fundos se arrumando para a apresentação da noite.

— Que brincadeira sem graça — Gritou Sila — É cruel brincar assim.

Rita subiu as escadas confusa, olhou em todos os quartos, colocou a mão na cintura e falou um palavrão. Sila ficou confusa, pensando que a comadre estava louca. Rita explica tudo que aconteceu e a conversa que teve com Verno. Falou também o quanto estava magro e abatido.

— Pelo menos vamos parar de chorar, sabemos que o idiota está vivo. O que vamos fazer?

— Dá um tempo para ele. Parece que o horror que ele viveu na selva deixou marcas, ele viu um barulho das meninas, se assustou.

— Não me conformo de deixar ele sozinho, sempre cuida dos outros, agora precisa de cuidados.

(14)

Sila foi para casa, contou tudo a Fábio, estava aliviada por ele estar vivo, ao mesmo tempo angustiada por não estar com ele. Fábio percebeu que o amor dela por Verno era tão grande quanto o amor dele por ela, assim saiu resolvido a encontrar o amigo.

Capítulo 5

Verno não estava bem, foi encontrado num hospital. O médico disse que ele estava fraco, com ferimentos e desidratado. Sila deixou as crianças com a cunhada e foi encontrar Rita no hospital.

— Ele vai ficar bem.

— Posso ver ele?

— Pode! Vou esperar o Fábio aqui.

Sila entrou, ele estava dormindo, ela se sentiu feliz por ter ele de volta.

— Ei estranho.

— Acordar com você perto de mim é sonho antigo.

— Nos meus sonhos era em outra situação.

— Você nunca me disse..

— Que eu te amo, que você tem sido a razão para suportar meu sofrimento?

— Deveria ter me dito antes.

— Ainda tenho chance, ou se apaixonou por uma índia?

— Meu coração pertence a você.

Rita entrou interrompendo o beijo ardente do casal apaixonado.

— O amor cura tudo! O que aconteceu com o piloto?

— Nos afastamos do avião para buscar ajuda e caímos Numa armadilha, um buraco, ficamos ali dentro por dias. Um grupo estranho de uma aldeia nos achou, ele estava fraco e machucado demais, não suportou. Assim que pude andar sai da aldeia. Um caçador me encontrou perambulando pela mata desorientado, resolveu me ajudar, fiquei na cabana dele esperando um avião que vinha trazer suprimentos, quase não tínhamos mais o que comer.

— Se recupere que vou fazer um banquete. Sila vai cuidar de você direitinho. Eu tenho uma reunião de negócio.

Rita beija o irmão, promete voltar a noite, pergunta o que ele quer que ela traga. Depois que vai embora Verno quer saber mais sobre os mistérios da prima.

— Um cliente novo?

— Ela vai vender a Boate. Quer montar outro negócio, numa sociedade comigo. Um trabalho que não envergonhe as crianças.

— Com aquelas roupas minúsculas e a maquiagem pesada, ninguém vai levar ela a sério. A Boate não é o maior problema, as roupas e o comportamento dela é que fazem as pessoas ficarem distante.

— Vamos dar um jeito nisso também.

— Posso saber o nome desse milagre?

— Uma Lua de língua afiada e mão na cintura.

— Se crescer assim vai colocar todos nós no bolso.

Fábio chegou para ficar com ele, Sila precisava ficar com as crianças até a hora de ir para a boate. Quando chegou na Boate encontrou Rita alegre.

— A Boate não é mais nossa, a partir da próxima semana estaremos sem emprego sócia.

(15)

— Vamos dar um jeito nisso.

— O Juiz quer falar com você.

O Juiz fez uma proposta de trabalho irrecusável, Ela poderia montar o escritório em casa. Ela não tinha desistido da sociedade com Rita, no entanto sabia que a amiga era imprevisível, trabalhar com o Juiz traria segurança para ela e para os filhos.

Verno teve alta e foi levar presentes para as crianças.

— Tio Verno, não quero mais que brinque de se esconder. — Falou a menina com as mãos na cintura — Eu estava triste.

— Não vou mais brincar assim.

— Promessa de dedinho.

— Promessa de dedinho.

Sila e Rita sorriam, da menina de olhos arregalados e mãos na cintura, batendo o pezinho.

— Eu queria conhecer a mãe dessa menina.

— Você já conhece, convive com ela.

— Verno o que você sabe? — Indagou Rita já nervosa

— Olha para ela! A cor do cabelo, a maneira que arregala os olhos, quando fica brava coloca a mão na cintura e bate o pé, o sorriso fácil, o jeito que mexe no cabelo.

— Meu Deus! Fátima?— Rita parecia confusa.

— Faz sentido, deixou a filha na Boate e depois foi procurar emprego onde a filha estava.

Precisamos reunir a mãe e a filha.

— Não vou deixar que ela leve Lua. — Falou Rita angustiada— Ela abandonou a criança, não é justo…

—Ela nunca abandonou a filha, sempre esteve por perto. Deve ter sido uma escolha difícil.

— Sila tem razão. Além disso Lua vai atrás da mãe quando crescer, vai querer saber a sua origem. Vou falar com Fábio para da um emprego para ela.

— Quero que trabalhe comigo aqui em casa, vou precisar de ajuda no escritório, já iria procurar uma secretária mesmo.

Rita estava calada, parecia aflita, era contra aquela decisão. Sila mandou chamar Fátima.

— Por que a senhora me escolheu?

— Você é boa dançarina, mas não gosta do que faz. E Lua precisa da mãe por perto. Não tente negar.

Ela olhou para Rita que estava num canto com os braços cruzados e parecendo adivinhar os pensamentos da patroa falou:

— Não vou tentar tirar ela de vocês, ela já tem duas mães que vão dar a ela um futuro que não posso dar.

— Então ela vai ter três mães. — Falou Sila olhando para Rita — Você pode ter o amor da sua filha. Vai trabalhar aqui como secretária no escritório que vou montar e vai ajudar a criar sua filha.

Fátima chorava, Rita sentou perto dela, Sila e Verno observam as duas mulheres.

— Não chore, esses dois corações moles estão te dando a chance de ter uma boa vida com sua filha e com esse grupo estranho.

Lua entrou na sala e percebeu Fátima chorando — Quem morreu?

Sila sentou Lua no colo, começou a falar com carinho.

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— Dinda, Dinda! Meu irmãozinho está me esperando para brincar, então não me enrola.

— Lembra que você me perguntou sobre sua mãe?

— Está brincando de se esconder, como Tio Verno, um dia ela volta. Eu sei esperar Dinda.

— Sua mãe não quer mais brincar de se esconder, ela está aqui para ver você Fátima chorou ainda mais, a menina se jogou em cima da mãe, abraçou e beijou.

— Chora não, gente grande faz muita bobagem, a que me dá menos trabalho é a Dinda.

Vou brincar, não vá se esconder de novo.

— Não vou!

— Promessa de dedinho.

— Promessa de dedinho.

Lua saiu correndo e gritando para o irmão que tinha três mães, falou que só o que estranhava era que tinha tantas mães e irmão só um, tinha algo errado. Fátima Sorriu.

Verno foi brincar com as crianças. Rita e Sila foram acertar com Fátima como seria a convivência entre elas.

As vidas se cruzam de maneiras surpreendentes. Três mulheres são obrigadas a trabalhar em uma Boate, sofrer preconceitos, desistir de seus sonhos para sobreviver. Uma doce e esperta menina deu a essas três mulheres a força e determinação para continuar lutando, para juntas fazer um novo amanhã. Selena era a lua que iluminava a escuridão de vidas sem esperança. Tinha unido aquelas mulheres, deu a elas coragem para abandonarem a Boate e voltar a sonhar, voltar a andar de cabeça erguida, conquistar a dignidade tão almejada.

Muitas vidas tocadas e transformadas por uma mulher que foi jogada na porta de uma Boate a noite, pelo marido que acreditou numa mentira, um sujeito medíocre que não conhecia o caráter da esposa dedicada. E por uma criança deixada na porta da Boate Numa noite chuvosa por uma mãe desesperada. Essas duas vidas que se cruzaram numa Boate de má reputação, foram capazes de mudar a vida de um juíz, de um justiceiro, de uma mulher sem noção, de uma mãe desesperada… A Boate acabou para elas, mas Lua e Dinda juntas vão sacudir o mundo.

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Referências

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