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PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO. Registro: ACÓRDÃO

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Academic year: 2022

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Registro: 2021.0000459942

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº 2075933-13.2021.8.26.0000, da Comarca de São Paulo, em que é agravante BANCO ITAÚ S/A, são agravados ANTONIO JOSÉ DE ALMEIDA CARNEIRO e MARIA LÚCIA BOARDMAN CARNEIRO.

ACORDAM, em 16ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça

de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Por maioria, deram provimento em parte ao recurso, vencido o Relator sorteado, que declara. Acórdão com o 2º Desembargador. O advogado Victor Salgado OAB 389465/SP, previamente inscrito, abriu mão de realizar a sustentação oral.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores JOVINO DE SYLOS (Presidente sem voto), ADEMIR MODESTO DE SOUZA, vencedor, MAURO CONTI MACHADO, vencido E COUTINHO DE ARRUDA.

São Paulo, 8 de junho de 2021

ADEMIR MODESTO DE SOUZA RELATOR DESIGNADO

Assinatura Eletrônica

(2)

Agravo de Inst rum ent o nº: 2075933-13.2021.8.26.0000.

Agravant e:

ITAÚ UNIB ANCO S /A.

Agravado: ANTO NIO JO SÉ DE ALMEIDA CARNEIRO e OUTRA.

Comarca: São P aul o 4ª Vara C ível F R J abaquara.

Magis trado:

Fa bio Fresca.

VOTO Nº 00 226

AG RAV O D E I NST RUM ENT O. BEM DE FA MÍ L I A.

I M ÓVE L D E V ALO R V ULT OSO . P ENH ORA . P OSS I BI LI D ADE EX CEP CI O NAL . R ESE RVA DE

PA RTE DO VA LOR AO DE VED OR.

NE CES SI D ADE . V ALO R Q UE DEV E S ER

GRA VAD O C OM CLÁ USU LA DE

I MP ENH ORA BI L I DA DE. PR ESE RVA ÇÃO DO PA TRI MÔN I O MÍ N I MO E DA DI G NI D ADE HU MAN A D O D EVE DOR .

1. - A i n t er pr e t aç ão si s t em át i ca e t eol ógi ca do ar t . 1 º d a L ei nº. 8. 009 / 90 , m edi ant e p ond er a ção do s p r i n cí p i os co nst i t u ci o nai s q ue i nf or m am a i m pe nho r ab i l i dad e d o b em de f am í l i a e ga r an t em o di r ei t o d e a ção co m d ur a ção r a zoá vel do pr oce sso , à l u z d os pr i ncí pi o s d a r azo abi l i d ade e pr o por ci o nal i da de, pe r m i t e a p enh or a de i m óve l d e v al o r v ul t oso ( R $ 2 4.0 00. 000 ,00 ) , ai n da que de st i nad o à m o r ad i a do dev edo r .

2. - A pe nho r a de bem de f a m í l i a de val or vul t os o, no ent ant o, exi ge que se r e ser ve ao dev edo r v al o r c ond i ze nt e co m s ua si t uaç ão soc i al , v i sa ndo a pos si b i l i t ar - l h e a aq ui s i çã o d e o ut r o i m óv el par a m or a r c om di g ni d ade .

3. - A r e ser va de par t e do pr o dut o d a a l i e naç ão do i m ó vel pe nho r ad o d eve se r g r av ada co m c l áu sul a d e i m pe nho r ab i l i dad e, vi s and o a da r c um p r i m ent o a o d i sp ost o n o a r t . 1º . d a L ei nº. 8. 009 / 90 , c onf or m e s ua i nt er p r et açã o c onf or m e à Co nst i t u i çã o F ede r al . 4. - D eci são r e f or m ad a. Agr avo pa r ci al m ent e p r ov i do .

1. Trata-se de agravo de i nst rum ent o i nterposto por I TAÚ UNIBANCO S/ A, nos autos da ação de execução que promove em face

de

ANTO NIO JO SÉ DE ALMEIDA CARNEIRO

e MARIA LÚCIA

(3)

BO ARDMAN CARNE IRO, cont ra a r. deci são que desacol heu pedido de

penhora de im óvel dos devedores , com val or declarado de R$

24.000.000,00, ao fundamento de tratar-se de bem de famí lia, vist o que com provadamente desti nado à moradia dos devedores. Sus tenta que o codevedor ANTONIO JOS É DE ALMEIDA CARNEIRO é uma das pess oas mais ricas do paí s, com patri mônio avaliado em mai s de R $ 5 bi lhões, porém , s em bens de valor regi strados em s eu nom e, a não ser o imóvel onde res ide. Aduz que a im penhorabi lidade do bem de famí lia não pode servi r de escudo à blindagem pat rim oni al do devedor, vis to que seu escopo é prot eger a proteção da di gni dade da pess oa hum ana do devedor, que não há afetada pela const rição requerida, não medida em que part e do produto da al ienação do i móvel que se pretende penhorar pode ser ut ili zada para a com pra de outro im óvel, ass egurando-se, as sim , uma moradi a digna aos devedores . Dest aca, ainda, que, apes ar de já terem sido penhorados obras de artes e veí cul os de propri edade do devedor, o valor dest es bens está muito aquém da quant ia necess ári a à satis fação da execução, daí s er imperi osa a penhora do referido i móvel.

Promovido o preparo e negado efeito suspensi vo ao agravo, os agravados apresentaram contrarrazões, oport uni dade em que defenderam a im penhorabi lidade do im óvel onde residem, ao fundamento de que a Lei nº. 8.009/99, ao garant ir a prot eção do bem de fam íli a cont ra a cons tri ção judicial , não est abeleceu um val or lim ite.

É o rela tório.

2.

O art . 1º. da Lei 8.009/90 consagrou a

im penhorabi lidade do im óvel resi dencial próprio ou de entidade famil iar,

i ndependentem ent e de s eu val or. É chamada i mpenhorabili dade l egal do

bem de fam íli a.

(4)

Apesar de o referido di sposit ivo legal não t er fixado um li mit e de valor para que o bem dest inado à m oradia seja impenhorável , a interpretação do art . 1º da Lei 8.009/ 90 não pode ser di ssociada de seus fins sociais e das exi gências do bem com um, bem como dos princípios const itucionai s da dignidade da pes soa humana, proporcional idade, razoabil idade, legal idade, publi cidade e efi ciênci a, até porque o as sim exigem o art. 5º. da Lei de Int rodução às Norm as do Direit o B ras ileiro e do art . 8º. do CPC , que ass im dis põem, res pectivamente:

Ar t . 5o Na apl i ca ção da l e i , o j ui z at end er á ao s f i ns so ci a i s a q ue el a se di r i g e e às ex i gê nci as do bem co m um .

Ar t . 8º Ao apl i ca r o or den am e nt o j u r í d i co , o j u i z at e nde r á aos f i ns soc i ai s e às ex i gê nci as do bem co m um , r esg uar dan do e p r om ove ndo a di g ni d ade da pe sso a h um a na e o bse r va ndo a pr o por ci o nal i da de, a r az oab i l i dad e, a l ega l i d ade , a pu bl i ci d ade e a e f i c i ên ci a .

De fato, ensina a moderna doutri na que toda legisl ação i nfraconst itucional deve ser exami nada com as luzes da Consti tui ção Federal, vale dizer, em conformi dade com os pri ncí pios que a i nformam.

Precis a, a propósi to, a lição de NELSON ROSENVALD e CR ISTIANO C HAVES DE FAR IAS , que, ao defenderem a necessi dade de uma vis ão consti tucional sobre o direito ci vil , ensi nam :

Em um or den am e nt o j u r í d i co un i t á r i o e com pl e xo, i m pos sí v el ass oci ar o d i r e i t o ci vi l ao có di g o c i vi l . O d i r e i t o ci vi l é um si s t em a a ber t o de val or e s e a nat ur e za nor m at i va da Co nst i t u i çã o F ede r al se ex t er i or i za po r u m c onj unt o d e p r i n cí p i os e r eg r as de st i nad os a r eal i zá - l o s.

Em soc i ed ade s c om p l ex as, o di r ei t o s e r eve l a por um a p l ur al i dad e d e f ont es e m ét o dos de su bsu nçã o ( ace i t o em um vi és pos i t i vi s t a) é sub st i t uí do por um a r eno vad a t eor i a da i nt er p r et açã o j ur í di c a, f un dam ent ada em pr oce di m ent os ar g um e nt a t i v os, co nf o r m e as es col has de f u ndo do or den am e nt o , c om apt i dã o p ar a ex t r a i r dos pr i nc í pi os a s ua ef i các i a t r a nsf or m ado r a.

O pós - po si t i vi sm o nã o d esp rez a o di rei t o pos t o.

To dav i a, a pas sag em da l ei ao di rei t o é u m p roc ess o

(5)

c ont í nu o p aut ado em at i vi dad e h erm enê ut i ca. Em se nt i do f i g ur a do, po dem os per ceb er o o r de nam ent o c om o um i c ebe r g. A par t e vi s í ve l a os ol h os r ep r es ent a a l e t r a da l e i , por ém a m ai o r p ar t e s e e nco nt r a s ubm er s a. É l á q ue a v i da ac ont ece e as nec ess i da des so ci a i s pau t am o pr o ces so de i nt er p r et açã o d o d i r e i t o po r o ut r as f on t es , c om o os co st u m es , a do ut r i na e a j ur i spr udê nci a ( g.n .) .1

As sim , o exame da im penhorabi lidade do bem de famí lia previ sto no art. 1º. da Lei n

o

. 8.009/ 90 não pode ser di ssociado dos princípi os consti tucionais que j ust ifi caram a concess ão des sa proteção ao devedor: a) a pres ervação da dignidade hum ana; b) efet ivi dade ao preceit o cons tit uci onal que consagra o direito de moradia; c) es tabelecim ent o de uma proteção à enti dade fami liar; e d) pres ervação do m íni mo exi stenci al.

Inegavel mente, a Lei n

o

. 8.009/90 objetivou garant ir ao devedor a manut enção de um pat rim ôni o m íni mo para l he proporcionar, em detrimento do di rei to do credor, uma moradi a digna, vis ando à preservação do mí nim o exis tencial necessário à garant ia de sua di gni dade como pessoa humana. Nesse senti do, defende LUIZ EDSON F ACHIN:

(...) a exi stênci a de uma garant ia pat rim oni al mínima inerente a toda pess oa hum ana, i ntegrante da respecti va esfera jurídica individual ao lado dos atributos perti nentes à própri a condição humana.

Trata-se de

um pa tri môn io mín imo in dis pen sável a u ma vid a d ign a d o q ual , em h ipó tes e a lgu ma, po de ser desap oss ada , cuja pr oteção es tá aci ma dos in ter ess es dos cr edo res

(g.n.).

2

Por s ua vez, t rat ando da dignidade da pes soa humana, leciona LUÍS ROBER TO BAR ROS O:

1 D i r e i t o C i v i l C o n t r a t o s T e o r i a G e r a l e C o n t r a t o s e m E s p é c i e , 1 0 ª . e d . , S a l v a d o r , J u s P o d i v m , 2 0 2 0 , p . 3 7 .

2 E s t a t u t o j u r í d i c o d o p a t r i m ô n i o m í n i m o . R i o d e J a n e i r o : R e n o v a r , 2 0 0 1 , p . 4 5 .

(6)

Di gni dad e d a p ess oa hum ana ex pr e ssa um co nj u nt o de va l or es ci v i l i zat ór i os i nc or p or a dos ao pa t r i m ôn i o da hum ani dad e. O c ont eúd o j ur í di c o d os pr i ncí pi o s v em ass oci ado ao s d i r e i t o s f und am e nt a i s, en vol ven do asp ect os dos di r ei t os i n di v i du ai s , p ol í t i c os e s oci ai s . S eu núc l eo m a t er i al el em e nt a r é co m po st o do m í ni m o e xi s t en ci a l, l oc uçã o q ue i de nt i f i c a o co nj u nt o de be ns e u t i l i da des bá si c as par a a su bsi st ê nci a f í si ca e i ndi spe nsá vel ao de sf r ut e da pr ópr i a l i b erd ade. A qué m d aqu el e pa t am ar , ai nda qu and o h aj a so br e vi v ênc i a, nã o h á d i gn i da de.3

Se a proteção conferida pela Lei n

o

. 8.009/90 é a preservação de um pat rim ôni o m íni mo, vi sando à garanti a de um m íni mo exi stenci al necess ári o para tornar efet iva a dignidade da pessoa humana, cumpre i ndagar se es sa proteção se est ende a um im óvel de valor decl arado de R$ 24.000.000,00 (vinte e quat ro mil hões de reai s), valor que, por certo, s upl ant a o patri mônio tot al da grande maioria dos brasi lei ros . A resposta, à evidênci a, é negativa, já que nenhuma pes soa, ainda que int egrant e do t opo da pi râm ide econômica da s oci edade, neces sit a de um i móvel nes se val or para a preservação de sua dignidade com o pess oa hum ana.

É certo que a int erpret ação l iteral do art. 1º da Lei 8.009/90 conduz à concl usão de que a prot eção l egal cont empla imóvel de qualquer valor. P orém, com o l eci ona LUÍS ROB ERTO B ARR OSO, “ a atit ude do intérprete jamais poderá ser a mera abordagem conceit ual ou semântica do t ext o”. Ao contrári o, sus tenta o eminent e cons tit uci onalis ta, “cabe-lhe perquirir o espí rit o da norma e as perspect ivas de sent ido ofer eci das pela combinação com out ros el ementos de i nterpretação”.

4

A int erpret ação s ist emática do art. 1º da Lei n

o

. 8.009/ 90,

3 I n t e r p r e t a ç ã o e A p l i c a ç ã o d a C o n s t i t u i ç ã o . 7 ª e d . , S ã o P a u l o : E d i t o r a S a r a i v a , 2 0 1 0 , p . 3 3 7 .

4 C U R S O D E D I R E I T O C O N S T I T U C I O N A L C o n t e m p o r â n e o 8 ª e d . - S ã o P a u l o : S a r a i v a J u r , 2 0 1 9 , p . 2 8 1 .

(7)

à luz dos princípios const itucionai s que inform aram a proteção por ela cri ada, i ndi ca a poss ibi lidade de penhora de um imóvel no valor de R$

24.000.000,00, ai nda que dest inados à moradi a do devedor, desde que lhe seja ass egurada i mpenhorabili dade de part e do valor obti do em sua al ienação, vis ando a garantir-lhe um patrimônio mí nim o necessário à preservação do mínimo exist encial indis pensável a uma vida digna.

Tanto é assi m que a própria Lei n

o

. 8.009/ 90, coerente com a neces sidade de restrição de s ua proteção ao mínimo exist encial , excl uiu da im penhorabi lidade as “obras de arte e os adornos s unt uos os” (art. 2º.), bem como a aquisi ção de má-fé de “i móvel mai s vali oso para transf eri r a residência famili ar, desfazendo-se ou não da moradia ant iga” (art . 4º.).

Coerente que a neces sidade de a imunidade patri monial à constrição j udi cial s e rest ringir ao mí nim o exis tencial necessário à preservação da dignidade humana, o art. 1.711 do Código C ivi l l imi tou a pos sibili dade de i nst ituição voluntária de bem de famí lia a 1/3 do patri mônio do ins tit uidor, as sim di spondo:

Ar t . 1.7 11. Po dem os cô nj u ges , o u a en t i d ade f a m i l i ar , m edi ant e e scr i t u r a púb l i c a o u t est am e nt o , d est i na r p ar t e d e s eu pat r i m ôni o p ar a i n st i t ui r b em de f am í l i a, des de que nã o u l t r apa sse um t e r ço do pa t r i m ôn i o l í q ui d o e xi s t en t e ao t em po da i ns t i t ui ç ão, m a nt i das as r e gr a s s obr e a i m pen hor abi l i d ade do i m óve l r esi den ci a l e st a bel eci da em l ei es pec i al .

Da mesma forma, o art. 1.715, parágrafo único, do

referi do Diplom a Legal, ao tratar da hi pót ese de penhora de bem de

famíl ia convencional por dívi das provenientes de t ributos relativos ao

prédio ou de despesas do condomínio, di spõe s er necess ári o o resguardo

de quantia suficiente para a aquisição de outr o prédio necess ári o ao

s ust ent o f ami liar, num a clara demonst ração do legisl ador de que o

objetivo da i mpenhorabili dade do bem de fam íli a s e dest ina à proteção

(8)

do mínimo exist encial e não da total idade de seu valor.

Por outro l ado, em verdadeira interpretação aut ênt ica da Lei n

o

. 8.009/ 90, o própri o l egi slador, repercutindo o s ent imento da sociedade que repres ent a e percebendo o erro da interpretação lit eral que não vê li mit ação de valor para a impenhorabil idade do bem de famíl ia, aprovou o P L 51/06, que deu origem à Lei n

o

. 11.382/06, est abelecendo que som ent e estariam prot egi dos da const rição os imóvei s de valor até 1.000 (um mi l) sal ári os-mínimos.

É certo que o dis pos iti vo contido no P L 51/06, que li mit ava a impenhorabil idade do bem de famíl ia a i móveis de at é 1.000 (um mil ) s alários-m íni mos foi vetado pel o P res idente da República, que, apes ar de ver razoabil idade na medida, s ust ent ou que el a era contrária à tradição jurídi ca de nos so paí s. Contudo, tão desproposit ado é o m oti vo invocado no vet o pres idenci al que SÉRGIO C RUZ AR ENHART, P rofess or da Uni versidade Federal do Paraná, s ust ent a s ua incons tit uci onalidade, advogando a não obs ervância e propondo que a prot eção da Lei n

o

. 8.009/90 seja lim itada a i móveis de valor de at é 1.000 (um mil ) s alários-m íni mos .

5

Ademais, nossa legis lação regist ra divers os cas os em que a int erpret ação dout rinári a e juris prudencial não obs erva o senti do lit eral do t ext o l egi slativo. Uma dessas i nterpretações é a que possi bil itava a venda da part e correspondent e à meação do cônj uge no im óvel comum, ou do condôm ino, por dívidas cont raí das por apenas um del es, com a reserva da parte do preço corres pondente ao propri etário não devedor

6

, i nterpretação que foi incorporada pel o art. 843, do CPC vi gente, que pass ou a perm iti r a penhora sobre o produto da al ienação do i móvel

5 A P E N H O R A B I L I D A D E D E I M Ó V E L D E F A M Í L I A D E E L E V A D O V A L O R E D E A L T O S S A L Á R I O S , R e v i s t a F o r e n s e , v o l . 3 9 8 R i o d e J a n e i r o : F o r e n s e , 2 0 0 8 .

6 L I M A , A l c i d e s d e M e n d o n ç a . C o m e n t á r i o s a o C ó d i g o d e P r o c e s s o C i v i l , 7 ª . e d . , v o l . V I , R i o d e J a n e i r o , F o r e n s e , p . 4 3 3 .

(9)

indivi sível.

Da mesma forma, a despeito de o sal ári o s er impenhorável , s ão inúmeras as decisões permit em a cons tri ção de parcela que não s e dest ina à sat isfação das necess idades básicas do trabal hador, ou então da parte que remanes ce em conta corrente e que não foi util izada para s ua subsis tência, no pres supost o de que seu “míni mo exi stenci al” es tá sat isfeit o. Nes se sentido, confira-s e os s eguint es jul gados.

AG RAV O I NTE RNO NO AG RAV O I NTE RNO NO AG RAV O E M R ECU RSO ES PEC I AL . P ENH O RA .

S ALÁ RIO . P AG A MEN TO . H O NO R ÁRI O S

ADV OCA TÍ C I OS . D I GN I DA DE DO DEV EDO R.

PRE SER VAÇ ÃO.

1. Re cur so esp eci al i nt er p ost o c ont r a acó r dã o p ubl i ca do na vi g ênc i a do Cód i go de Pr oce sso Ci vi l de 20 15 ( En unc i ad os Adm i ni st r at i vos nº s 2 e 3/ S TJ) .

2. A exc eçã o à r e gr a da i m pen hor abi l i d ade co nt i da no ar t . 8 33, § 2º, do Có di g o d e P r oc ess o C i vi l d e 2 015 se ap l i c a s om e nt e ao s c aso s d e p r es t aç ão al i m en t í c i a, nã o s e e st e nde ndo às hi pót ese s d e v er b a d e n at u r ez a a l i m ent ar , co m o são os ho nor ár i os adv oca t í c i os. F i ca r e ssa l va da, po r ém , a hi pót ese em qu e, com ba se na r eg r a ger al do ar t i go 83 3, I V, do CP C/ 2 015 , a pe nho r a de sal ár i os é d ef e r i d a, m as co m a pr ese r va ção de pe r ce nt u al cap az de gar ant i r a s ubs i st ênc i a di g na do dev edo r e de su a f am í l i a . P r ec ede nt e da Co r t e Es pec i al .

3. Na hi pót ese do s a ut o s, o t r i b una l d e o r i g em f i x ou o p er c ent ual da pe nho r a sob r e sal ár i os con si d er a ndo qu e o va l or r e m an esc ent e g ar a nt i r i a a sob r ev i vê nci a d i gn a d a d eve dor a, est and o e m c ons onâ nci a c om a r ece nt e j u r i s pr u dên ci a de st a Co r t e .

4. Ag r av o i nt e r no nã o p r ov i do ( g .n. )7.

RE CUR SO ESP ECI AL. AL EGA DA OFE NSA À SÚM ULA

VI NCU LAN TE DO STF . N ÃO CAB I ME NTO .

E MBA RGO S À EX ECU ÇÃO . C UMP RI M ENT O D E S ENT ENÇ A. HON ORÁ RI O S A DVO CAT Í CI OS DE SUC UMB ÊNC I A. PE NHO RA DA REM UNE RAÇ ÃO DO DEV EDO R. EXC EÇÃ O D O § 2º DO ART . 8 33 DO CPC / 15 . I NAP LI C ABI LI D ADE . D I FE REN ÇA ENT RE PRE STA ÇÃO AL I ME NTÍ CI A E VER BA DE NAT URE ZA ALI MEN TAR .

7 A g I n t n o A g I n t n o A R E s p 1 6 4 5 5 8 5 / D F , R e l . M i n i s t r o R I C A R D O V I L L A S B Ô A S C U E V A , T E R C E I R A T U R M A , j u l g a d o e m 1 6 / 1 1 / 2 0 2 0 , D J e 2 4 / 1 1 / 2 0 2 0

(10)

I N TER PRE TAÇ ÃO DAD A A O A RT. 83 3, I V, DO CP C/ 1 5. POS SI B I LI DAD E D E P ENH ORA DA

RE MUN ERA ÇÃO A DEP END ER DA HI P ÓTE SE

CON CRE TA. JU LGA MEN TO PEL O C PC/ 15.

1. Aç ão de em b ar g os à e xec uçã o, aj u i za da em 10/ 04/ 201 5, at u al m ent e n a f ase de cu m pr i m e nt o de se nt e nça pa r a o p aga m en t o dos ho nor ár i os adv oca t í c i os de su cum bên ci a , d e q ue f oi ex t r a í do o pr e sen t e r ec ur s o e spe ci a l , i nt er p ost o e m 2 3/ 0 1/ 2 019 e at r i bu í do ao ga bi n et e em 09 / 04 / 20 19.

2. O pr o pós i t o r e cur sal co nsi st e em de f i n i r sob r e a p oss i bi l i d ade de pe nho r a da r em une r aç ão da r ec or r i da pa r a o p aga m en t o de hon or á r i o s a dvo cat í ci os de suc um b ênc i a dev i do s a o r eco r r e nt e .

3. A i nt er p osi ção de r e cur so esp eci al não é cab í ve l c om f un dam ent o e m v i ol açã o d e s úm u l a vi n cul ant e d o S TF, po r qu e e sse at o n or m at i vo não se en qua dr a no co nce i t o de l e i f ede r al pr evi st o no ar t . 105 , I I I , " a " d a C F/ 8 8.

4. No j u l ga m en t o do Res p 1 .81 5.0 55/ SP, ( j ul g ado em 03 / 08 / 20 20, DJ e 2 6/ 0 8/ 2 020 ) , a C or t e E spe ci a l d eci di u qu e a ex ceç ão con t i d a n a p r i m ei r a p ar t e d o a r t . 83 3, § 2 º, do CPC / 15 é exc l us i va m en t e em r el açã o à s p r es t aç ões al i m e nt í ci a s, i nd epe nde nt e m en t e de sua or i ge m , i st o é , o r i u nda s d e r el a çõe s f am i l i a r es , r esp ons abi l i d ade ci vi l , c onv enç ão ou l eg ado , n ão se est end end o à s v er b as r em une r at ór i as em ger al , de nt r e a s q uai s s e i ncl uem os ho nor ár i os adv oca t í c i os .

5. Re gi s t r o u- s e, naq uel a o cas i ão , t oda vi a , q ue, na i n t er pr e t aç ão da pr ó pr i a r egr a g er a l ( ar t . 6 49, I V , d o C PC/ 73, co r r e spo nde nt e ao ar t .8 33, I V , d o C PC/ 15) , a j u r i s pr u dên ci a de st a Co r t e se f i r m o u n o s ent i do de qu e a i m pen hor abi l i d ade de sa l ár i os po de ser ex cep ci o nad a q uan do f or pr ese r va do per cen t ua l c apa z d e d ar gua r i d a à di gni dad e d o d eve dor e de sua f a m í l i a ( ER Esp 15 824 75/ MG, Co r t e Es pec i al , j ul g ado em 03 / 10 / 20 18, RE PDJ e 1 9/ 0 3/ 2 019 , D Je de 16/ 10/ 201 8) .

6. As si m , e m bo ra não se po ssa ad m i t i r, em ab st r at o , a pe nho ra de sal ári o c om bas e n o § 2º do ar t . 833 do CP C/ 1 5, é p oss í ve l d et e rm i nar a con st r i çã o, à l uz da i nt erp ret açã o d ada ao ar t . 833 , I V, do CPC / 15 , q uan do, co ncr et a m en t e, f i car de m on st r ado no s a ut o s q ue t al m e di d a n ão com pro m et e a su bsi st ê nci a d i gn a d o d eve dor e sua f a m í l i a.

7. Re cur so esp eci al con hec i do em pa r t e e, ne ssa ex t en são , d esp r ov i do8 ( g .n. )

A doutri na est á atenta ao debate e vozes import ant es têm defendido a fl exi bil ização da interpretação do art . 1º. da Lei n

o

. 8.009/90 para efeit o de poss ibi lit ar a penhora do im óvel de valor vult oso, ainda

8 R E s p 1 8 0 6 4 3 8 / D F , R e l . M i n i s t r a N A N C Y A N D R I G H I , T E R C E I R A T U R M A , j u l g a d o e m 1 3 / 1 0 / 2 0 2 0 , D J e 1 9 / 1 0 / 2 0 2 0 .

(11)

que sej a o único de propriedade do devedor e dest inado à s ua moradi a, mediante res erva de parcela do valor para aquisi ção de outro im óvel que lhe proporci one moradia digna, com respeit o ao m íni mo exi stenci al, vi sando à pres ervação de s ua dignidade como pes soa humana. Nes se sentido, dentre outros, impede destacar a lição de CÂNDIDO R ANGEL DINAMARCO:

Nã o s e l egi t i m a, por ex em p l o, l i vr a r d a e xec uçã o u m b em qua l i f i ca do com o i m pe nho r áv el m as ec ono m i c am e nt e t ã o v al i oso qu e d ei x ar de ut i l i z á- l o i n e xec ut i vi s se r i a um i n con st i t uc i on al pr i vi l égi o c onc edi do ao dev edo r . Pen se- se na hi p ót e se de um dev edo r a r qu i m i l i o nár i o m as se m d i nh ei r o v i sí vel ou qu al q uer ou t r o be m d ecl ar a do, e que vi va em l ux uos a m ans ão; es se é o se u b em de f am í l i a, em t es e i m pe nho r áv el por f o r ça de l e i ( l ei n. 8. 009 , d e 2 9.3 .90 ) m as que , e m c aso s c om o es se, nã o s e j ust i f i car i a f i c ar pr e ser vad o p or i nt ei r o.9

Conquant o ainda m inorit ári a, a j uri sprudênci a t ambém tem admit ido a penhora de i móvel de val or vul tos o, consoante se vê, dent re out ros , dos seguintes julgados :

EX ECU ÇÃO DE TÍ TUL O E XTR AJU DI C I AL

D ESC ONS I DE RAÇ ÃO DA PER SON ALI DAD E D A

E MPR ESA DE VED ORA JÁ DE CRE TAD A I MÓ VEL DO SÓ CI O B EM DE FAM Í LI A APA RTA MEN TO DE LUX O M ui t o e m bo r a o d eve dor co m pr ove r e si d i r no i m ó vel cu j os di r ei t os f o r am pe nho r ad os, nã o h ave ndo i n dí c i o de que t e nha ou t r o be m d i sp oní vel pa r a con st r i çã o, a i m pe nho r ab i l i dad e l ega l d eve se r m i t i gad a.

I m ó vel de l u xo e a l t o pa dr ã o, cuj o v al o r d e m er c ado é con si d er a vel m en t e sup er i or ao val or da dí v i da . P enh or a qu e d eve se r m ant i da l e van do- se o i m óv el à h ast a p úbl i ca , d eve ndo , c ont udo , m et a de do pr o dut o a l ca nça do ser r e ver t i d a e m p r ov ei t o d o d eve dor , a f i m d e q ue pos sa adq ui r i r out r o i m ó vel pa r a al b er g ar a s i e a sua f a m í l i a.

A out r a m et ade de ve per m an ece r r et i da nos au t os , p ar a f i ns de qui t aç ão do déb i t o pe r se gui do. RE CUR SO

9 I n s t i t u i ç õ e s d e D i r e i t o P r o c e s s u a l C i v i l , 3 ª . e d . r e v . e a t u a l . , v o l . I V , C a m p i n a s , M i l e n n i u m , 2 0 0 9 , p . 3 8 3 / 3 8 4 .

(12)

PRO VI D O E M P ART E.10

PE NHO RA BEM DE FA MÍ L I A Exe cuç ão por t í t ul o e xt r aj u di c i al Co nf i ssã o d e d í vi das Pe nho r a de i m ó vel pe r t e nce nt e ao co - ex ecu t ad o. Al e gaç ão de que el e s e t r at a d e ' bem de f a m í l i a' Ac ol h i m e nt o qu e d eve se r f ei t o c om r es sal vas di ant e d as pec ul i ar i dad es do cas o I m óv el ext r em am e nt e su nt u oso , p oss ui n do m ai s d e 7 00 m et r os qu adr ado s D eve dor qu e, ant es do aj u i za m en t o da pr e sen t e açã o, t r a nsf er i u o ut r os dez ess et e s i m óv ei s se us a t er c ei r a e m pr esa em ev i de nt e di ssi paç ão do pat r i m ôni o D i r e i t o do cr edo r q ue t am bém de ve ser pr ot e gi d o H i pó t es e d e a col hi m ent o p ar c i al do r e cur so a f i m de que a pen hor a s ej a m a nt i da e o i m óve l s ej a l e vad o à ha st a pú bl i ca, de ven do, co nt u do, m e t ad e d o p r od ut o al can çad o e m r el a ção à quo t a par t e pen hor ada , s er r ev er t i da em pr ove i t o do de ved or , a f i m de qu e p oss a a dqu i r i r o ut r o i m óv el par a a l be r ga r a si e a s ua f am í l i a D eci são r e f or m ad a R ecu r so pa r ci al m ent e p r ov i do .11

OB JEÇ ÃO PRE LI M I NA R P RET ENS ÃO DE

REV OGA ÇÃO DO S B ENE FÍ C I OS DA JU STI ÇA GRA TUI TA CON CED I DO S À AP ELA DA EM 1º GRA U D ESC ABI MEN TO ace r vo do s a ut o s q ue se coa dun a c om a c onc ess ão do f av or l eg al que de ve ser m a nt i do obj eçã o

r ej e i t a da. OB JEÇ ÃO PRE LI M I NA R

I NTE MPE STI VI D ADE DO S E MBA RGO S N ÃO

OCO RRÊ NCI A e m ba r go s o pos t os de nt r o d o p r az o p r ev i st o n o 6 75 do CPC i m óve l q ue não f o i a dj u di c ado , a l i e nad o p or i ni ci a t i v a p ar t i cu l ar , o u a r r e m at ado , p el o qu e o s e m ba r go s f or a m o f er t ad os den t r o do pr azo l e gal i n exi st ê nci a d e q ual que r r ess al v a n o s ent i do de qu e a co nt a gem do pr azo , n os t er m os do r e f er i do di spo si t i vo l e gal , s ó s e d á n a h i pó t es e d e o em bar gan t e des con hec er a e xi s t ên ci a da co nst r i ç ão com o n ão é d ado ao i n t ér pr e t e di s t i n gui r o nde a l ei pr oce ssu al não o f az , é i n evi t áv el que os em bar gos se j am co nsi der ado s t em p est i vo s o bj e ção r e j ei t ad a. EMB ARG OS DE TER CEI RO ACO LHI DOS , C OM DET ERM I NA ÇÃO DE LE VAN TAM ENT O D A C ONS TRI ÇÃO pr ece den t e r ej ei ç ão, po r f al t a d e p r ov as, do pe di d o f or m ul a do pel o e xec ut a do, de r e con hec i m e nt o do i m óve l c om o be m d e f am í l i a l e gi t i m i dad e p ar a pu gna r p el a pr ot e ção co nf e r i d a p el a l e i a o b em de f am í l i a q ue é d a e nt i dad e f am i l i a r p oss i bi l i d ade de ex am e da qu est ão nos pr ese nt e s e m ba r go s q ual i da de de bem de f a m í l i a

10 T J S P ; A g r a v o d e I n s t r u m e n t o 2 0 7 4 6 3 9 - 2 8 . 2 0 1 8 . 8 . 2 6 . 0 0 0 0 ; R e l a t o r ( a ) : M a r i a L ú c i a P i z z o t t i ; Ó r g ã o J u l g a d o r : 3 0 ª C â m a r a d e D i r e i t o P r i v a d o ; F o r o C e n t r a l C í v e l - 4 3 ª V . C Í V E L ; D a t a d o J u l g a m e n t o : 2 0 / 0 6 / 2 0 1 8 ; D a t a d e R e g i s t r o : 2 6 / 0 6 / 2 0 1 8

11 T J S P ; A g r a v o d e I n s t r u m e n t o 0 0 1 5 0 5 9 - 4 8 . 2 0 1 1 . 8 . 2 6 . 0 0 0 0 ; R e l a t o r ( a ) : J a c o b V a l e n t e ; Ó r g ã o J u l g a d o r : 1 2 ª C â m a r a d e D i r e i t o P r i v a d o ; F o r o R e g i o n a l I V - L a p a - 2 ª V a r a C í v e l ; D a t a d o J u l g a m e n t o : 0 1 / 0 6 / 2 0 1 1 ; D a t a d e R e g i s t r o : 0 2 / 0 6 / 2 0 1 1 .

(13)

dem ons t r a da nos au t os i m óve l l oca l i z ado em ba i r r o n obr e d a c i da de de São Pa ul o , a val i ad o e m q uat r o m i l hõe s, qui nhe nt o s e ci nqu ent a m i l r ea i s ci r cun st â nci a q ue t or na pos sí v el a p enh or a e al i ena ção do be m d e f am í l i a co m r est r i ç ões , c om r es er v a d e p ar t e d o v al o r p ar a qu e a ap el a nt e po ssa ad qui r i r ou t r o i m óve l , em con di ç ões di gna s d e m or a di a so l uç ão que nã o i m pl i ca vi ol a ção à di g ni d ade da f a m í l i a do dev edo r e qu e, ao m es m o t em po, i m ped e q ue a p r ot eçã o l ega l a o b em de f am í l i a s ej a de svi r t u ada de m o do a s er v i r de bl i nda gem de gr and es pat r i m ôni os i nt er p r et açã o s i st em á t i c a e t e l eo l óg i ca do i n st i t ut o d o b em de f am í l i a ( Lei nº 8. 009 / 90 ) p enh or a e al i ena ção , c om r es er v a d o p r od ut o r e m an esc ent e p ar a a aqu i si ção de ou t r o i m óve l , t al vez m a i s m od est o, m as ne m p or i ss o d e p ouc a q ual i da de bem qu e n ão pod er á se r a l i e nad o p or m en os de 80% ( o i t e nt a po r c ent o) do val or da ava l i a ção at ual i za da que , e spe ci f i ca m en t e no cas o d os aut os, se r á con si d er a do pr e ço vi l r e st r i çã o q ue f az co m q ue o r em a nes cen t e cer t am ent e s ej a su f i c i en t e par a a qui si ç ão de m or adi a a pt a a gar ant i r pad r ão si m i l ar de con f or t o ao do i m ó vel pe nho r ad o r eco nhe ci m ent o d o b em de f am í l i a m ant i do , c ont udo , c om a m anu t en ção da pe nho r a par a v end a d o b em pen hor ado no s t er m os del i ne ado s r ecu r so pa r ci al m ent e p r ov i do , c om det er m i na ção .12

BE M D E F AMÍ LI A I MPE NHO RAB I LI DAD E LEI

8. 009 / 90 I MÓV EL EM BAI RRO NO BRE

I NCI DÊN CI A DA CO NST RI Ç ÃO RE SGU ARD AR AO DEV EDO R N A A RRE MAT AÇÃ O O VA LOR DE UM I M ÓVE L M ÉDI O POS SI B I LI DAD E. A L ei 8.0 09/ 90 de cun ho em i nen t em ent e s oci al , t e m p or esc opo r e sgu ar d ar a r esi dên ci a do de ved or e d e s ua f am í l i a, ass egu r an do- l he s c ond i çõ es di g nas de m o r ad i a; m a s n ão pod e o de ved or ser vi r - se do i n st i t ut o d o b em de f am í l i a c om o m e i o par a f r us t r a r l egí t i m a p r et ens ão de seu s c r ed or e s, sub t r a i nd o d a e xec uçã o i m óv el de el e vad o v al o r , si t uad o e m b ai r r o nob r e, e com o t al pod e e de ve ser el e o bj e t o do ar r est o; dev end o, no ent ant o, ext r ai r , qua ndo da ve nda ou ar r em at a ção , u m v al o r q ue pr o por ci o ne ao exe cut ado a aqu i si ção de um i m óve l d e p or t e m édi o, no m es m o m un i cí pi o de su a l oca l i z açã o, cap az de ass egu r ar ao de ved or e à su a e nt i dad e f am i l i a r c ond i çõ es de sob r ev i vê nci a d i gn a, m as se m s unt uos i da de.13

Não s e desconhece que o Colendo Superi or Tri bunal de

12 A p e l a ç ã o n º . 1 0 9 4 2 4 4 - 0 2 . 2 0 1 7 . 8 . 2 6 . 0 1 0 0 , r e l . C a s t r o F i g l i o l a , j u l g a d a e m 0 2 . 0 9 . 2 0 2 0 .

13 T J / M G , A c . 1 1 ª C â m . C í v . , A g I n s t r . 1 . 0 0 2 4 . 0 6 . 9 8 6 8 0 5 - 7 / 0 0 5 ( 1 ) C o m a r c a d e B e l o H o r i z o n t e , r e l . D e s . D u a r t e d e P a u l a , j . 5 . 3 . 0 8 , D J M G 1 9 . 3 . 0 8 .

(14)

Jus tiça, no jul gam ent o do R esp. 1.178.469-SP, rel. Min. M ass ami Uyeda, deci diu que não há lim itação de valor para a i mpenhorabili dade do i móvel des tinada à moradi a do devedor, deci são fortemente cri ticada pelo ins igne process ual ist a DANIEL AMORIM AS SUM PÇÃO NEVES, porque “não encont ra qualquer justif icativa à luz do princípio do pat rimôni o míni mo e da dignidade da pessoa humana ”.

14

Entretanto, al ém de o C olendo Superior Tribunal de Justi ça ter ressalvado no referi do jul gado que não se justi fica a penhora de bem de famíl ia

pel o s imp les fa to de ele ser d e l uxo ou de el eva do, é

certo aquela Colenda Corte tem recentem ent e adot ado um a post ura mais flexível quanto à impenhorabil idade do sal ári o, afastando-se da interpretação lit eral do t ext o l egal, consoante acima destacado, o que levou o M ini stro LUÍS FELIP E S ALOMÃO, no j ulgamento do Resp 1.351.571/SP , embora vencido, a propor a flexibi lização da penhora do bem de famí lia, ress algando que "o pri ncí pio da is onomia se vê af rontado por sit uação que privi legia det erminado suj eit o s em a correspondent e r azão que justif ica es se pri vil égi o. A ques tão exige muito mais que a simples i nterpretação li ter al da nor ma legal" , aduzindo que "a proposta é de afas tament o da absolut a i mpenhorabili dade, e da possibi lidade de ser afas tada diante do cas o concret o e da ponderação dos di rei tos em jogo. Não a impos ição de nova si stemát ica. Se o objet ivo da lei é garantir a dignidade humana e di rei to à moradia, acaso deferida, os bens j urí dicos manter ão incólumes . Ela contínua morando com local e com dignidade super ior à média" .

Injus tificável , port ant o, a i mpenhorabili dade de um i móvel de val or declarado de R$ 24.000.000,00, ai nda que dest inado à m oradia do devedor, já que este não necessi ta da proteção da impenhorabil idade para a preservação de seu m íni mo exi stenci al ou de

14 N o v o C ó d i g o d e P r o c e s s o C i v i l c o m e n t a d o a r t i g o p o r a r t i g o 2 ª . e d . r e v . e a t u a l . S a l v a d o r : E d i t o r a J u s P o d i v m , 2 0 1 7 , p . 1 . 3 4 8 .

(15)

sua di gni dade como pessoa humana, sobretudo porque ess a prot eção não se est ende a um segundo imóvel desti nado à compl ementação de renda de mi lhares de brasi lei ros , ainda que est e e o des tinado à moradi a t enham val ores que, somados, não alcancem 1/20 (um vint e avos ) do valor do i móvel aci ma referi do.

Em reali dade, proibi r-s e a penhora de imóvel de valor vultoso, só e só porque desti nado a moradia do devedor, além de afrontar o fi m s oci al a que se des tinou a prot eção previst a no art. 1º. da Lei n

o

. 8.009/90 finalidade que deve ser buscada pelo jul gador na apl icação da lei (art . 5º., LINDB ; o art. 8º., C PC) -, também está em confront o com os pri ncí pios cons tit uci onais da igualdade (art. 5º., “caput ”, CF), efet ivi dade da pres tação jurisdici onal de ação (art. 5º., XXXV, CF), duração razoável do processo (art. 5º., LXXVIII, CF), além dos princípios da razoabil idade e proporcionali dade.

De fato, a impenhorabil idade de imóvel de valor vultoso fere o princípi o da i gualdade porque coloca devedores ricos e pobres em pos ições ass imétri cas , pois , enquant o os prim eiros podem concentrar t oda sua fort una num único i móvel para brindá-lo contra a penhora, os segundos ficam suj eit os à cons tri ção se, necessi tando adquirir um segundo i móvel, igual mente sim ples como aquel e onde reside, vis ando a compl ementar s ua renda, não t em a prot eção da Lei n

o

. 8.009/90 em relação à part e de s eu pat rim ôni o.

A efetividade da prestação juris dicional, por s ua vez, fica

prejudicada porque, imposs ibi lit ada a penhora de i móvel de val or

vul tos o, ainda quando se reserve parte de seu valor para a garanti a da

m oradia di gna do devedor, frust ra o direito de ação do credor, que

permanece de mãos atadas , i mpossi bil itado de apreender parte do

patri mônio do devedor para a sat isfação de s eu crédit o. Com o s ust ent a

(16)

S ÉRGIO CRUZ ARENHAR T, ao sus tentar a penhorabi lidade de bens de fam íli a de valores vultosos , “ não havendo out ros bens penhor áveis, o impedi mento de penhora de t ais bens (imóveis de alt o valor) inviabili zar ia a t utela do credor , em mani fes ta ofensa à gar ant ia do amplo acesso à Jus tiça (art . 5º., XXXV, CF)” .

15

Igual mente ani qui lado rest a o princípi o da duração razoável do processo (art. 5º., LXXVIII, CF), pois basta ao devedor concentrar t oda sua riqueza num único i móvel e nele residir para i nvi abi lizar o t érm ino da execução, que não será ext int a enquant o não houver a prescrição do crédito.

Por fim, a vedação de penhora de im óvel de valor vult oso fere os pri ncí pios da razoabi lidade e proporcional idade, pois não é razoável nem proporci onal que, vi sando a garanti r o mí nim o exis tencial para as segurar a di gni dade humana do devedor, se permit a que imóvel de valor vultoso no caso des tes autos no valor declarado de R $ 24.000.000,00 fique i mune de cons tri ção judicial . P recisas a respeito as ponderações de GUILHERM E C ALM ON NOGUEIRA DA GAM A e THAÍS BOIA MAR ÇAL, que, com apoi o em C RIS TIANO CHAVES DE FARIAS, acentuam:

Co ncl ui r qu e a Le i 8 .00 9/ 1 990 i m pos si b i l i t a a p enh or a do i m óve l l uxu oso , a i nd a q ue ut i l i z ado co m o bem de f a m í l i a, af r on t a a r azo abi l i d ade po r n ão gua r da r p r op or c i on al i dad e e nt r e o be m j ur í di c o t ut e l ad o ( o d i r e i t o a um pat r i m ôni o v ast o, exc ede ndo o l i m i t e do ne ces sár i o a u m p adr ão m éd i o de vi d a d i gn a) e o be m j ur í di c o s acr i f i cad o ( a p r et ens ão do cr e dor ) .

Ex pl i ca- se.

Nã o é r a zoá vel pe r m i t i r qu e o de ved or m an t en ha um al t o p adr ão de vi d a, com co nf o r t o e com odi dad e e xce ssi vos , e m d et r i m e nt o de se us cr e dor es que po dem vi r a so f r e r

15 A P E N H O R A B I L I D A D E D E I M Ó V E L D E F A M Í L I A D E E L E V A D O V A L O R E D E A L T O S S A L Á R I O S , R e v i s t a F o r e n s e , v o l . 3 9 8 R i o d e J a n e i r o : F o r e n s e , 2 0 0 8 , p . 6 2 5 .

(17)

u m c om p r om et i m en t o de sua di gni dad e.16

A propós ito, acerca do pri ncí pio da proporci onalidade, bem oportuna é a li ção de HUMBERTO ÁVILA:

O pos t ul ado da pr opo r ci ona l i d ade se ap l i c a “ ape nas a si t uaç ões em qu e h á u m a r el açã o d e c aus al i dad e e nt r e d oi s el em e nt o s e m pi r i c am e nt e di sce r ní vei s, um m ei o e um f i m , de t al so r t e qu e s e p oss a p r oc ede r a os t r ê s e xam es f un dam ent ai s : o da ad equ açã o ( o m ei o pr om o ve o f i m ? ) , o d a n ece ssi dad e ( den t r e os m e i os di spo ní v ei s e i gu al m ent e a deq uad os par a p r om ove r o f i m , não há ou t r o m e nos r e st r i t i vo do( s) di r ei t o( s ) f und am e nt a i s af e t ad os? ) e o da pr o por ci o nal i da de em sen t i d o e st r i t o ( a s v ant age ns t r a zi d as pel a p r om oçã o d o f i m cor r es pon dem às de sva nt a gen s p r ov oca das pe l a ado ção do m e i o? ) .17

Const atado, pois, que a aplicação l iteral do art. 1º. da Lei n

o

. 8.009/ 90 fere os princípios da proporci onalidade e razoabili dade, é poss ível i ntervenção j udi cial para a correção da violação, adequando o texto legal aos referidos pri ncí pios cons tit uci onais. Nesse senti do, pondera LUÍS R OBERTO BARROSO:

O pr i ncí pi o da r a zoa bi l i da de ou da pr o por ci o nal i da de per m i t e a o J udi ci á r i o i n val i da r a t os l e gi s l at i vo s o u a dm i ni s t r a t i v os qua ndo : ( a) não ha j a ade qua ção en t r e o f i m pe r se gui do e o i n st r um e nt o em pr e gad o; ( b) a m ed i da nã o s ej a ex i gí vel ou ne ces sár i a, ha ven do m ei o a l t e r na t i v o p ar a ch ega r a o m esm o r esu l t a do com m e nor ôn us a u m d i r e i t o i n di v i du al ( ve daç ão do exc ess o) ; ( c ) n ão haj a p r op or c i on al i dad e e m s ent i do es t r i t o, ou se j a, o que pe r de co m a m e di d a é de m a i or r e l ev o d o q ue aqu i l o qu e s e g anh a.18

Em suma, a int erpret ação do dispost o no art. 1º. da Lei nº.

8.009/90, visando a atender aos fins s oci ais da lei a que ele se des tina e

16 P E N H O R A B I L I D A D E D O B E M D E F A M Í L I A " L u x u o s o " N A P E R S P E C T I V A C I V I L - C O N S T I T U C I O N A L , R e v i s t a d e D i r e i t o I m o b i l i á r i o , A n o 3 7 , V o l . 7 7 . S ã o P a u l o : E d i t o r a R e v i s t a d o s T r i b u n a i s , 2 0 1 4 , p .

17 T e o r i a d o s P r i n c í p i o s 1 9 ª e d . r e v . e a t u a l . S ã o P a u l o : M a l h e i r o s E d i t o r e s , p . 2 0 6 .

18 C u r s o . O p . c i t . , p . 2 5 4 .

(18)

às exigênci as do bem comum (art. 5º., LINDB), em conform idade com a Consti tui ção Federal, mediante ponderação dos princípi os do pat rim ôni o m íni mo e da dignidade da pes soa humana com os pri ncí pios da l egalidade, i gualdade, duração razoável do proces so, efeti vidade da prest ação j uri sdi cional , proporcionali dade e razoabil idade, autoriza a conclusão de que é possí vel a penhora do bem de fam íli a de valor vult oso, com res tri ção da im penhorabi lidade à parte do val or a s er apurado em s ua ali enação, em m ont ant e s ufi ciente para ass egurar ao devedor uma moradia digna. A propós ito, assi nal e-s e que a i nterpretação conforme à Consti tui ção é “admissível se não confi gur ar violência contr a a expressão l iteral do texto e não al ter ar o s ignifi cado do t ext o normati vo, com mudança radial da própria concepção original do l egi slador” .

19

A preservação de um pat rim ôni o m íni mo ao devedor, vis ando a garantir-lhe uma moradi a digna, exi ge a observânci a de s ua sit uação social , j á que exi gir-lhe m oradia em im óvel de pequeno valor si gni fica i mpor-l he tratam ent o i ndi gno.

As sim sendo, i mpõe-s e a neces sidade de reserva da quanti a de R $ 2.400.000,00 (dois mil hões e quatrocentos m il reais), correspondent e a 10% (dez por cent o) do val or declarado do im óvel onde residem os execut ados, a s er corrigido a partir da publi cação da presente decisão pelos í ndi ces da tabel a prát ica de at ual ização de débit os judici ais do Tribunal de Justi ça de São Paulo,

q uan tia so bre a qua l fica rá gra vad a a im pen hor abi lid ade

, conform e previsão do art. 1º. da Lei nº.

8.009/90, poss ibi lit ando-l hes a aquisi ção de im óvel de razoável confort o em qual quer cidade des te Paí s.

A opção pel a reserva de um a quantia fi xa prende-se ao

19 M E N D E S , G i l m a r F e r r e i r a ; B R A N C O , P a u l o G u s t a v o G o n e t - 1 4 ª e d . r e v . e a t u a l . S ã o P a u l o : S a r a i v a J u r , 2 0 1 9 , p . 1 . 4 8 9 .

(19)

fato de que a vincul ação a um percentual do imóvel poderá frus trar a garantia do patri mônio mínimo neces sário à m oradia com dignidade, na medida em que a alienação judici al de um bem penhorado pode ser real izada por preço bem abai xo de seu valor de mercado, sem que iss o cons tit ua venda a preço vil (art. 891, parágrafo úni co, CP C).

Resta ressaltar que

técnica da i nterpretação conforme a Consti tui ção não fere a cláusula de res erva plenári o, poi s, ao pri vil egi ar algum sentido cons tit uci onalmente possí vel na interpretação do texto legal, não s e real iza juízo de inconsti tucionali dade.

3 .

Ante o expost o,

dá-se pro vim ent o p arcial ao ag ravo.

ADEMI R MODE STO DE SO UZA Relator Des ign ado

(20)

Voto nº 46681

Agravo de Instrumento nº 2075933-13.2021.8.26.0000 Comarca: São Paulo

Agravante: Banco Itaú S/A

Agravados: Antonio José de Almeida Carneiro e Maria Lúcia Boardman Carneiro

DECLARAÇÃO DE VOTO

Peço licença aos eminentes Desembargadores desta E. 16ª Câmara de Direito Privado acerca da maioria que se formou a respeito da solução da controvérsia, pelas razões de meu voto abaixo deduzidas:

Com efeito, a Lei nº 8.009/1990, em seu artigo 1º, dispõe que:

“O imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade familiar, é impenhorável e não responderá por qualquer tipo de dívida civil, comercial, fiscal, previdenciária ou de outra natureza, contraída pelos cônjuges ou pelos pais ou filhos que sejam seus proprietários e nele residam, salvo nas hipóteses previstas nesta Lei”.

Dispõe, ainda, o artigo 5º, do citado diploma legal, que a impenhorabilidade advinda do benefício do bem de família recairá sobre o “único imóvel utilizado pelo casal ou pela entidade familiar para moradia permanente”, visando garantir a preservação do direito de habitação em detrimento da satisfação do credor (artigo 6º, da Constituição Federal).

Por sua vez, o artigo 3º, da Lei nº 8.009/1990, elenca as hipóteses em que a impenhorabilidade não será oponível:

“A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de execução civil, fiscal, previdenciária, trabalhista ou de outra natureza, salvo se movido:

I - (Revogado pela Lei Complementar nº 150/2015);

(21)

II - pelo titular do crédito decorrente do financiamento destinado à construção ou à aquisição do imóvel, no limite dos créditos e acréscimos constituídos em função do respectivo contrato;

III pelo credor da pensão alimentícia, resguardados os direitos, sobre o bem, do seu coproprietário que, com o devedor, integre união estável ou conjugal, observadas as hipóteses em que ambos responderão pela dívida;

IV - para cobrança de impostos, predial ou territorial, taxas e contribuições devidas em função do imóvel familiar;

V - para execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como garantia real pelo casal ou pela entidade familiar;

VI - por ter sido adquirido com produto de crime ou para execução de sentença penal condenatória a ressarcimento, indenização ou perdimento de bens;

VII - por obrigação decorrente de fiança concedida em contrato de locação”.

Observadas as abalizadas opiniões em contrário, prevalece o entendimento de que o rol de exceções previsto pelo artigo 3º, da Lei nº 8.009/90, se apresenta taxativo:

“AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE TERCEIRO. PENHORA ANTERIOR AO CASAMENTO DO DEVEDOR. IMÓVEL EM QUE RESIDEM A ESPOSA E OS FILHOS. BEM DE FAMÍLIA. IMPENHORABILIDADE.

EXCEÇÕES. ROL TAXATIVO. LEI 8.009/90 (ARTS. 1º E 3º). AGRAVO PROVIDO.

1. As hipóteses de exceção à regra da impenhorabilidade do bem de família são taxativas, não comportando interpretação extensiva.

2. O imóvel em que residem os recorrentes, esposa e filhos do devedor, deve ser objeto de proteção pelo sistema jurídico, não sendo lícito impor à futura esposa o ônus de diligenciar sobre a existência de eventual constrição de imóvel do futuro esposo, como condição para a obtenção de direito à proteção legal, cuja eficácia apenas admite restrição prevista em lei. Ademais, os filhos do devedor têm também direito, eles mesmos, à proteção conferida ao bem de família, que se estende à entidade familiar em seu sentido mais amplo.

3. Se é certo que a proteção legal pode desdobrar-se em múltiplos eventos, para alcançar ambos os cônjuges em caso de separação ou divórcio, assim como o novo lar por eles constituído, com mais razão deve-se admitir que a proteção legal alcance a entidade familiar única, ainda que

(22)

constituída posteriormente à realização da penhora, porquanto tal fato não se mostra relevante aos olhos da lei, que se destina à proteção da família em seu sentido mais amplo.

4. Agravo interno provido para conhecer do agravo e dar provimento ao recurso especial”.

(STJ, AgInt no AREsp nº 1.158.338/SP, 4ª T., Min. Lázaro Guimarães, Dj 22.08.2018).

Destarte, ausente expressa previsão legal, bem como inexistentes elementos de prova idôneos que evidenciem a existência de outros bens imóveis de titularidade do executado, o eventual elevado valor de mercado do imóvel não configura exceção ao benefício do bem de família.

Nesse sentido, assim já decidiu esta C. 16ª Câmara de Direito Privado:

“Execução - título extrajudicial penhora incidente sobre imóvel de alto valor - reconhecida impenhorabilidade do imóvel residencial do devedor agravado, onde reside a sua entidade familiar - aplicação da Lei 8009/90 e jurisprudência do C. STJ e TJSP - liberação da constrição - agravo improvido”.

(TJSP, Agravo de Instrumento de nº 2074233-70.2019.8.26.0000, 16ª Câmara de Direito Privado, Rel. Des. Jovino de Sylos, Dj. 11.08.2020).

Posto isto, pelo meu voto, nega-se provimento ao recurso de agravo de instrumento interposto.

(23)

Este documento é cópia do original que recebeu as seguintes assinaturas digitais:

Pg.

inicial

Pg.

final

Categoria Nome do assinante Confirmação

1 19 Acórdãos

Eletrônicos

ADEMIR MODESTO DE SOUZA 15B9527A

20 22 Declarações

de Votos

MAURO CONTI MACHADO 15FA00CB

Para conferir o original acesse o site:

https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informando o processo 2075933-13.2021.8.26.0000 e o código de confirmação da tabela acima.

Referências

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