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O Sars-CoV-2 e a estrongiloidíase humana

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Academic year: 2022

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10.5935/1676-2444.20210056

O Sars-CoV-2 e a estrongiloidíase humana

Sars-CoV-2 and human strongyloidiasis

Victoria M. Giudice; Luciane N. Calil; Silvia M. Spalding

Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, Rio Grande do Sul (RS), Brasil.

ABSTRACT

The Sars-CoV-2, the virus that causes Covid-19 (coronavirus disease 2019), is highly transmissible and of rapid dissemination, and transmitted by respiratory droplets and by direct contact, which can cause respiratory failure and reach multiple organs. Although there is still no effective treatment for the disease, the use of corticosteroids has shown positive results in patients with severe Covid-19, such as dexamethasone, which acts as an immunosuppressant to control cytokine storm syndrome (CSS). In this review, we will abroad the challenge of establishing a balance between risk and benefit in corticosteroid therapy in severe cases of the disease, since corticosteroids can activate the latent infection by Strongyloides stercoralis and develop the critical form of strongyloidiasis, the Strongyloides stercoralis hyperinflation syndrome (SHS). For these circumstances, screening and empirical treatment with ivermectin is recommended for those patients at moderate to high risk of hyperinfection. The keywords used were “Strongyloides”

AND “Covid” and the searched databases were PubMed, Scopus, and Web of Science. The selected articles were published from 2020 to 2021 and without language restriction.

Key words: Strongyloides; Covid-19; pulmonary cycle; corticoids.

RESUMO

O coronavírus 2 (Sars-CoV-2) é o vírus causador da doença do novo coronavírus (Covid-19), altamente transmissível e de rápida disseminação; é transmitido por gotículas respiratórias e pelo contato direto, podendo causar insuficiência respiratória e atingir múltiplos órgãos. Embora ainda não exista um tratamento eficaz para combater o vírus, o uso de corticoides tem mostrado resultados positivos em pacientes graves da Covid-19, como é o caso da dexametasona, que age como imunossupressor para controlar a síndrome da tempestade de citocinas (CSS). Nesta revisão, dissertaremos sobre o desafio de estabelecer um equilíbrio entre o risco e o benefício na corticoterapia em casos severos da doença, uma vez que os corticoides podem ativar a infecção latente por Strongyloides stercoralis e desenvolver a forma grave da estrongiloidíase, a síndrome de hiperinfecção por Strongyloides (SHS). Para isso, recomenda-se o rastreamento e o tratamento empírico com ivermectina, para aqueles pacientes com risco moderado a alto de hiperinfecção. As palavras-chave utilizadas foram

“Strongyloides” AND “Covid”, e as bases de dados foram PubMed, Scopus e Web of Science. Os textos selecionados foram publicados no período de 2020 a 2021, sem restrição de idioma. 

Unitermos: Strongyloides; Covid-19; ciclo pulmonar; corticoides.

RESUMEN

El coronavirus 2 (Sars-CoV-2) es el virus que provoca la enfermedad del nuevo coronavirus (Covid-19), que es altamente transmisible y se propaga rápidamente, transmitiéndose por gotitas respiratorias y por contacto directo, y puede causar insuficiencia respiratoria y afectar a múltiples órganos. Aunque todavía no existe un tratamiento eficaz para combatir el virus, el uso de corticoides ha mostrado resultados positivos en pacientes críticamente enfermos de Covid-19, como la dexametasona, que actúa

Primeira submissão em 20/10/21; última submissão em 11/10/21; aceito para publicação em 11/10/21; publicado em 20/12/21

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INTRODUÇÃO E OBJETIVOS

O novo coronavírus (Covid-19), causado pelo coronavírus 2 (Sars-CoV-2), surgiu em Wuhan, na China, no final de 2019, e rapidamente se espalhou pelo mundo, tornando-se uma pandemia. O sistema pulmonar é o mais afetado pelo Sars-CoV-2, e suas manifestações clínicas variam conforme a gravidade da doença. No estado grave da Covid-19, ocorre o desenvolvimento de pneumonia com síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA), insuficiência respiratória, hipóxia e/ou morte(1).

Até o momento, tem-se o conhecimento de que a transmissão do vírus se dá por contato direto e gotículas respiratórias, enquanto outras formas de transmissão estão sendo estudadas. O tratamento para casos severos da doença ainda é um desafio, embora a terapia imunossupressora tenha mostrado resultados positivos para o controle da síndrome de tempestade de citocinas (CSS) em pacientes graves(1).

A estrongiloidíase é causada pelo Strongyloides stercoralis, um nematelminto que infecta de 10% a 40% da população em países tropicais e subtropicais. Considerada endêmica, especialmente na Europa Central, no Sudeste da Ásia, na América Latina e na África subsaariana, também é encontrada em regiões não endêmicas por indivíduos imigrantes ou viajantes de países endêmicos, bem como por trabalhadores agrícolas que trabalham com o solo(2).

A estrongiloidíase costuma ser assintomática em indivíduos imunocompetentes(3); entretanto, indivíduos em tratamento com corticosteroides, alcoolistas, pacientes com infecção pelo vírus linfotrópico de células T humanas 1 (HTLV-1) ou pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV), bem como os portadores de doenças hematológicas ou de órgãos transplantados podem progredir para síndrome de hiperinfecção por Strongyloides (SHS) ou para a forma disseminada, potencialmente fatal(4, 5).

Diante do exposto, o objetivo inicial deste estudo foi avaliar a interface de dois agentes etiológicos, viral e parasitário, em organismo humano, uma vez que o Strongyloides faz ciclo pulmonar e o Sars-CoV-2 acomete prioritariamente o sistema pulmonar. A partir disso, encontramos diversos estudos publicados que associavam a utilização de corticoides em pacientes com infecção moderada a grave por Covid-19 ao desenvolvimento da hiperinfecção em indivíduos com risco para infecção por Strongyloides. Esse foi o direcionamento de nosso estudo.

MATERIAL E MÉTODOS

O estudo consiste em uma revisão da literatura que foi realizada nas bases de dados PubMed, Web of Science e Scielo.

A estratégia de pesquisa foi: “Strongyloides” AND  “Covid”; não houve restrições de idioma para a busca e nenhum outro filtro foi aplicado. Como critério de elegibilidade, foram inseridos estudos que abordassem as complicações da estrongiloidíase em pacientes Covid-19 – todos os artigos relatavam tratamento com uso de corticoides.

Como inclusão utilizada posteriormente às referências encontradas, selecionamos um artigo que foi extraído das referências bibliográficas de um dos pré-selecionados, o qual descrevia a síndrome de hiperinfecção e disseminação de uma forma concisa e complementar ao restante dos estudos eleitos.

Foi incluído também o manejo terapêutico proposto pelo Centers for Disease Control and Prevention (CDC) para estrongiloidíase aguda e crônica e hiperinfecção. Os estudos excluídos estavam fora do tema proposto: dois deles referiam-se à pandemia por Covid-19 com outras doenças; outros dois artigos abordavam o tratamento antimicrobiano na estrongiloidíase; e um relatava a Strongyloides e o vírus Covid-19 como agentes causadores de artrite reativa. 

como inmunosupresor para controlar el síndrome de liberación de citocinas (CSS). En esta revisión, discutiremos el desafío de establecer un equilibrio entre riesgo y beneficio en la terapia con corticoides en casos severos de la enfermedad, ya que los corticosteroides pueden activar la infección latente por Strongyloides stercoralis y desarrollar la forma grave de estrongiloidiasis, el síndrome de hiperinfección por Strongyloides (SHS). Para ello, se recomienda el cribado y el tratamiento empírico con ivermectina en aquellos pacientes con riesgo moderado a alto de hiperinfección. Las palabras clave utilizadas fueron “Strongyloides” AND

“Covid”, y las bases de datos fueron PubMed, Scopus y Web of Science. Los textos seleccionados se publicaron de 2020 a 2021, sin restricción de idioma. 

Palabras clave: Strongyloides; Covid-19; ciclo pulmonar; corticoides.

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RESULTADOS 

Durante a pesquisa, encontramos 38 artigos; 15 deles atendiam ao objetivo desta revisão (Figura). Inicialmente, a seleção se deu a partir da leitura do título, já excluindo os artigos em duplicidade entre as bases de dados. Após a leitura do resumo, fizemos uma última seleção com a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão.

resultados promissores para o controle da CSS em pacientes graves da Covid-19(6). É o caso da dexametasona, que se tornou padrão de tratamento para Covid-19 em pacientes que requerem ventilação mecânica ou oxigênio suplementar(7). Em contrapartida, é um importante fator de risco para infecções oportunistas, como a Strongyloides stercoralis(1).

Um ensaio clínico randomizado da UK-based Randomized Evaluation of COVID Therapy (RECOVERY) fornece evidências de que o tratamento com dexametasona na dose de 6 mg, uma vez por dia, por até dez dias, reduz a mortalidade em 28 dias em pacientes hospitalizados com Covid-19 que estão recebendo suprimento de oxigênio, mas não entre aqueles que não recebem suporte respiratório(8).

O ciclo de vida do Strongyloides stercoralis é complexo, alternando entre ciclos parasitários – no hospedeiro, onde pode ocorrer a autoinfecção – e de vida livre – que ocorre no solo. As larvas rabditoides podem se desenvolver em filarioides no intestino e penetrar na mucosa intestinal ou na pele da área perianal, resultando em autoinfecção. Esse processo, quando desregulado, faz com que um grande número de larvas infectantes penetre no intestino, atinja os pulmões e retorne ao intestino, levando à hiperinfecção. Quando as larvas atingem regiões ectópicas, ocorre a estrongiloidíase disseminada(4).

A SHS e a forma disseminada são as manifestações clínicas mais graves da doença, com alto índice de mortalidade. A primeira está relacionada com diferentes tipos de imunocomprometimentos, e a segunda se dá pela migração das larvas para outros órgãos, bem como pelo ciclo pulmonar de autoinfecção; geralmente se associa a infecções bacterianas secundárias(4). A proliferação e a disseminação descontroladas do parasita manifestam no paciente febre, sintomas respiratórios e gastrointestinais, além de episódios de sepse por organismos Gram negativos ou meningite.

Indivíduos assintomáticos que se tornam imunossuprimidos, mais comumente aqueles em tratamento com corticosteroides, em processo quimioterápico e indivíduos com infecção por HTLV-1 ou HIV, estão suscetíveis a desenvolver a hiperinfecção(3).

Nesse contexto, observamos o uso de dexametasona – um glicocorticoide – em pacientes coinfectados por Strongyloides stercoralis como um potenciador para causar a SHS. A dose atual recomendada de dexametasona do Painel de Tratamento Covid-19 é de 6 mg por 10 dias. Portanto, ocorreram casos de hiperinfecção por Strongyloides em período mais curto e/ou dose menor, e também de casos após uma única dose de dexametasona, o que levou os estudiosos a crerem na ocorrência da doença independentemente da dose, da duração ou da via de administração(9)

FIGURA – Fluxograma do processo de inclusão e exclusão de estudos para revisão

Figure –Flowchart of the process of inclusion and exclusion of studies for review Estudos encontrados na

base de dados (n= 38)

PubMed (n= 15) Web of Science (n= 10)

Scopus (n= 13)

Artigos excluídos devido à duplicação na base de

dados (n= 20)

Artigos selecionados depois de ler o resumo

(n= 18)

Artigos excluídos por não atenderem ao tema proposto neste estudo

(n= 5)

Artigos incluídos (n= 2)

Artigos selecionados após leitura do texto completo

(n= 15)

DISCUSSÃO E CONCLUSÃO

A CSS está entre as manifestações mais graves da Covid-19, levando pacientes à falência de múltiplos órgãos e à morte. Um dos sintomas é o aumento inesperado nos níveis circulantes de citocinas pró-inflamatórias [interleucina 1 (IL-1) e 6 (IL-6), interferon gama (IFN-γ) e fator de necrose tumoral alfa (TNF-α), o que ocasiona a hiperinfecção e a CSS. Quando ocorre a CSS, diferentes células do sistema imune (neutrófilos, macrófagos e células T) migram ao local da infecção, advindo uma cascata de danos à barreira vascular, dano alveolar difuso, lesão pulmonar e insuficiência de múltiplos órgãos(1).

Embora não exista medicamentos definitivamente eficazes para tratar a Covid-19, a terapia imunossupressora apresenta

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Com isso, a avaliação para o risco de estrongiloidíase é recomendada em todos os casos de Covid-19 que requerem corticoterapia, especialmente nos indivíduos de países de média e baixa renda (LMICs) e em pacientes de alto risco, para prevenir a morbidade associada a estrongiloidíase(5). Dos pacientes com estrongiloidíase comprovada por microscopia, 77% têm eosinofilia e 81% apresentam sorologia positiva; por isso a eosinofilia periférica costuma ser um bom marcador clínico para a infecção parasitária por Strongyloides, embora o uso de esteroides possa interferirnesse processo(3). Outro fator negativo para o diagnóstico é que pacientes assintomáticos geralmente possuem microscopia negativa(3).

A Tabela a seguir apresenta os quatro relatos de caso selecionados para esta revisão.

Nesses relatos, os pacientes receberam oxigenoterapia de alto fluxo e ivermectina como primeira escolha para tratamento da estrongiloidíase. Os dois pacientes do primeiro relato(10) tiveram sorologia negativa para HIV-1/2, hepatite viral e HTLV- 1/2 e permaneceram assintomáticos com sorologia positiva para Strongyloides stercoralis no decorrer de três meses. Destaca-se também a ausência de eosinofilia, possivelmente devido ao tratamento com dexametasona. 

No relato de Lier et al. (2020)(11), o paciente não teve resposta clínica a ivermectina, portanto, foi adicionado albendazol 400 mg, via oral (VO), a cada 12 horas, tendo seu anticorpo sérico para S.

stercoralis negativo e as sorologias para HIV e HTLV-1 também negativas.

Durante dez anos, a paciente do caso Marchese et al. (2021) fazia tratamento crônico com prednisona em baixa dosagem para doença de Still. Após administração de dexametasona, os primeiros sinais que levantaram a suspeita de infecção por Strongyloides stercoralis foram aumento abrupto na contagem de eosinófilos associado a dor abdominal e coceira. Entretanto, não houve piora no quadro clínico da paciente(8).

A revisão dos prontuários médicos do paciente do estudo de Stylemans et al. (2021)(12) revelou eosinofilia persistente em um período de sete anos devido à infecção crônica por S. stercoralis. Na infecção por S. stercoralis, a eosinofilia é mais frequente quando comparada com algumas parasitoses, pois a fêmea partenogenética habita na submucosa do intestino e não no lúmen. Durante a Covid-19, os autores observaram depleção absoluta de eosinófilos e, como já se sabe, a eosinopenia é um achado laboratorial frequentemente encontrado na Covid-19, presente em cerca de 50% a 70% dos pacientes hospitalizados.

Com a recuperação do quadro do paciente, houve aumento dos eosinófilos e depois diminuição após tratamento com a ivermectina(12).

As diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendam corticosteroides em pacientes com Covid-19 grave ou crítica, portanto, podem acarretar riscos de reativação de infecções latentes, como a Strongyloides stercoralis(7). Dessa forma, torna-se uma tarefa desafiadora manter um equilíbrio risco-benefício para o uso de imunomoduladores(13)

A estratégia a ser adotada para tentar minimizar os impactos da corticoterapia na infecção por Strongyloides stercoralis é uma triagem antes da administração da terapia imunossupressora, para que seja aderido um tratamento presuntivo com ivermectina, para pacientes com maior risco de infecção por Strongyloides e SHS(14). Sabe-se que a taxa de letalidade por SHS é relatada em 100% se não tratada e, quando tratada com ivermectina, essa taxa reduz para 47%(3).

A diretriz clínica do Hospital for Tropical Diseases London para avaliação e gestão de risco de SHS em pacientes hospitalizados por Covid-19 alerta sobre a avaliação de indivíduos com histórico de viagens ou migração para áreas endêmicas – regiões tropicais e subtropicais – e algumas regiões temperadas, como Japão, Itália, Austrália, Espanha e América;

também considera a exposição de alto risco para Strongyloides:

TABELA – Relatos de casos inseridos na revisão da literatura

Artigo Autores País

(Nascimento/residência) Idade Corticoide Dose Tempo

1. Reactivation of Strongyloides stercoralis in patients with Sars-CoV-2 pneumonia receiving dexamethasone

Feria L, Torrado M, Anton-Vasquez V

Bolívia/Espanha Honduras/Espanha

44 74

Dexametasona Dexametasona

6 mg/dia 6 mg/dia

7 dias 10 dias 2. Case report: Disseminated strongyloidiasis in a patient with

Covid-19 Lier AJ et al. Equador 68 Metilprednisolona 40 mg/8 h 8 dias

3. Strongyloides infection manifested during immunosuppressive therapy for Sars-CoV-2 pneumonia

Marchese V et al. Itália 59 Dexametasona

20 mg/dia reduzido para

10 mg/dia

5 dias 6 dias 4. Covid-19-associated eosinopenia in a patient with chronic

eosinophilia due to chronic strongyloidiasis Stylemans D et al. Equador/Bélgica 59 Metilprednisolona 80 mg Redução gradual em um mês

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agricultores, mineiros, militares, indivíduos que moram na zona rural e em locais com saneamento precário, pacientes em contato com resíduos humanos ou águas residuais e aqueles que têm o hábito de andar descalço.

Há dois protocolos para seguir: 1. em pacientes considerados de elevado risco para estrongiloidíase (indivíduos com Covid-19 moderado a grave que necessitem de terapêutica com dexametasona e se enquadrem nas duas situações citadas anteriormente – viajantes ou migração para áreas endêmicas e com exposição de alto risco), é imprescindível iniciar tratamento empírico com ivermectina e enviar tanto a sorologia para Strongyloides quanto amostra de fezes e escarro/lavado broncoalveolar ao laboratório de parasitologia para microscopia e cultura de Strongyloides; 2. em pacientes com risco não elevado (com histórico de viagem para região endêmica, mas que não atendem aos critérios para paciente de alto risco, ou que tenha Covid-19 leve sem requerimento de dexametasona), a recomendação é o monitoramento quanto ao desenvolvimento de sinais e sintomas sugestivos de SHS (deterioração respiratória na terapia imunossupressora, diarreia e rash cutâneo, sepse Gram negativa e infiltrados pulmonares bilaterais). Nessas condições, ou caso o paciente necessite de terapêutica imunossupressora, aconselha-se a discutir a possibilidade de SHS e considerar a necessidade de ivermectina; necessário enviar amostra de fezes e

escarro/lavado broncoalveolar à parasitologia para microscopia e realizar sorologia para Strongyloides(3).

Em complemento, de acordo com o CDC, o tratamento de primeira escolha para estrongiloidíase aguda e crônica é a ivermectina 200 µg/kg, VO, uma vez ao dia, durante dois dias, ou, como alternativa, albendazol 400 mg, VO, duas vezes ao dia, durante sete dias(15)

As citocinas possuem papel importante na resposta imunológica contra o vírus Sars-CoV-2, no entanto, quando liberadas em excesso, provocam um descontrole no organismo e algumas células de defesa diminuem, configurando a gravidade da Covid-19. Para tanto, o uso de corticoides, como a dexametasona, atenua o caos imunológico por conta do seu efeito imunossupressor. Contudo, a administração desse glicocorticoide em indivíduos coinfectados por Strongyloides stercoralis demonstrou elevado risco de desenvolver a SHS. Para isso, é necessário definir um protocolo de manejo para pacientes com quadro moderado a grave de Covid-19 e que se enquadrem como candidatos a possível infecção por Strongyloides, como, por exemplo, histórico de viagem ou residência em áreas endêmicas, moradia em regiões com saneamento precário, trabalho rural etc.

O objetivo desse protocolo é garantir segurança para administração da corticoterapia e, concomitantemente, tratar a Strongyloides, sem que haja agravamento da infecção.

REFERÊNCIAS

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12. Stylemans D, Cauwelaert SV, D’Haenens A, Slabbynck H. Eosinopenia associada a COVID-19 em um paciente com eosinofilia crônica devido a estrongiloidíase crônica. Infect Dis Clin Pract (Baltim Md). 2021; 29(5): e305-e306. PubMed PMID: 34539164.

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gov/parasites/strongyloides/health_professionals/index.html#tx. [acessado em: 10 out 2021].

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AUTOR CORRESPONDENTE

Silvia M. Spalding 0000-0002-3701-7581 silvia.spalding@ufrgs.br

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