• Nenhum resultado encontrado

O LUGAR DA EDUCAÇÃO DO CAMPO NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2022

Share "O LUGAR DA EDUCAÇÃO DO CAMPO NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES"

Copied!
15
0
0

Texto

(1)

O LUGAR DA EDUCAÇÃO DO CAMPO NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES Alex Lima dos Santos1 José Milson dos Santos2

RESUMO

Este trabalho tem como objetivo relatar a experiência do Projeto de Formação de Professores em 2011. A formação era desenvolvida entre a Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e algumas Secretárias de educação dos Municípios da Paraíba. A metodologia utilizada foi à pesquisa bibliográfica e fizemos uma releitura dos dados dos questionários aplicados com os educadores/as durante a formação. Damos destaque para a importância da formação continuada de educadores em educação do campo, além de abordarmos aspectos que ajuda a esclarece certos problemas pelos quais passa a educação no Brasil. Por último, destacamos ao longo dos quatro anos (2008-2011) o papel da UFPB na promoção social e na difusão da educação do campo como meio de promover os sujeitos que habitam o meio rural.

Palavras chave: Educação do campo; Formação de Professores e Universidade.

Introdução

Este trabalho tem como objetivo, relatar a experiência desenvolvida pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) juntamente a alguns Municípios paraibanos (Jacaraú, Curral de Cima, Conde, Itabaiana, Areias, Guarabira e outros) sobre a educação do campo. O Projeto Intitulado: “Jornada de Formação de Educadores em Educação do Campo”, tinha por tema: “Educação e Escola do Campo”. O mesmo era coordenado pela professora Dr. Maria do Socorro Xavier Batista do Centro de Educação-CE da UFPB juntamente ao CNPq.

Acreditamos que o educador, cada vez mais se torna um profissional extremamente importante para a atual sociedade. Se acreditarmos que a educação só se dá entre “eu e eles

1 Autor: Graduado em Pedagogia do Campo nas séries iniciais do ensino infantil, fundamental e aprofundamento em educação de jovens e adultos (EJA) pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) entre os anos de 2008 e 2011. Com pesquisa de monografia na área de Lideranças e educação do campo. E-mail: alexpedagogia10@hotmail.com

2 Coautor: Graduado em Pedagogia do Campo nas séries iniciais do ensino infantil, fundamental e aprofundamento em educação de jovens e adultos (EJA) pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) entre os anos de 2008 e 2011. Com pesquisa de monografia na área de juventude e educação do campo. E-mail: jm777santos@hotmail.com; santos100013@gmail.com

(2)

e eles e eu”, então não há como o professor perder sua função devido ao uso das novas tecnologias. Mesmo com tudo isso, como disse Freire (2005), a educação não se da entre

“eu e tu”. Educação é diálogo, por sua vez, diálogo jamais será a pronuncia vazia das palavras. O diálogo compreende experiênciar novos horizontes, dizendo o mundo através das práticas materializadas em palavras e palavras em práticas. “Porque é encontro de homens que pronunciam o mundo, não deve ser doação do pronunciar de uns a outros. É um ato de criação” (Freire, 2005, p.91).

A metodologia que utilizamos foi à pesquisa bibliográfica e análise dos dados do Projeto de Formação de Professores de 2011. Neste trabalho, colocamos a relevância da capacitação dos educadores para que atendam as peculiaridades do campo.

O intenso aburguesamento da sociedade atual provocou uma ida intensa de camponeses para os grandes centros urbanos, quanto mais tecnologias são desenvolvidas mais se aumenta os desníveis entre classes. Nas palavras de Bogo (2005) ao discorrer sobre o pensamento de Marx, o mundo burguês polarizou o campo da cidade, colocando o campo a mercê do urbano.

O presente texto está dividido da seguinte maneira:

. Educar para potencializar as experiências locais. Nesta parte, trazemos a importância da formação continua de professores para uma educação mais contextualizada.

. Caráter da educação: alguns aspectos. Colocamos algumas leituras sobre a situação dos educadores quanto à formação e as instituições das quais se capacitaram.

. A contribuição da Universidade Federal da Paraíba na formação de educadores.

Aqui, fazemos uma breve consideração do papel da Universidade Pública na sociedade atual, de modo especial, ressaltamos o papel da UFPB ao longo dos últimos quatro anos com a função de estender o conhecimento sistematizado. Algumas produções de autores como: Araújo (2011), Arroyo (2008), Bogo (2005), Casali (2007), Falcão (2011), Freire (2005), Pimenta (1999) e outros fizeram-nos compreender o quanto se faz necessário potencializar a formação de educadores para que sejam mais comprometidos com a educação do/no campo.

Educar para potencializar as experiências locais

(3)

Este trabalho tem o objetivo de relatar dados colhidos durante o projeto de formação de professores desenvolvido pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) no Município de Jacaraú- PB, no segundo semestre de 2010.

Como propõe o título geral deste texto, “O lugar da educação do campo na formação de professores”, partimos de três premissas indispensáveis como pré-requisito de uma educação dialética. Primeiro: Qual a importância que tem a educação do campo na formação continuada de professores? Segundo, o lugar da formação de professores na educação do campo. E terceiro, a formação continuada como prerrogativa de diálogo com as realidades existentes.

Analisaremos os três últimos tópicos anteriormente descritos separadamente, mas entendendo que cada um deles está interconectado em forma de redes multe e com pluriinterligações. Vejamos:

. Qual a importância que tem a educação do campo na formação continuada de professores? Ora, vivemos numa sociedade marcada pela diversidade. Não dá para pensarmos num tipo de educação que leve em consideração, unicamente os valores da cidade. Mas esse não se constitui no motivo principal do valor da inclusão da educação do campo na formação docente, para nós, são três pontos relevantes: o educador do campo a todo o momento se depara com situações que merecem maior capacitação metodológica, pedagógica, filosófica e histórica; o educador deve entender melhor o local onde trabalha, tendo o campo como forjado de múltiplas relações e entender que os indivíduos camponeses são cheios de saberes.

A escola formal, mesmo com todas as suas problemáticas se constitui num instrumento indispensável para a autonomia dos sujeitos do campo. Em sua longa história, a escola acumulou uma gama de saberes, experiências que podem contribuir decisivamente no trabalho do homem e da mulher do campo.

Por vez, essas experiências sistematizadas pela escola são resultantes do próprio trabalho das pessoas na busca pela sobrevivência. Os conhecimentos articulados pela escola são essencialmente culturais, não surgiram do nada, do vazio. Assim sendo, trata-se de saberes produzido pelos seres humanos ao transformarem a natureza para a sobrevivência.

(4)

Entendemos que na formação de professores, o destaque a “realidade” do campo deve ser o cerne do processo. Quais as iniciativas locais de grupos de danças, de produção, associações, ongs3 que nos ensinam novas maneiras de educar. De acordo com Araújo (2011), o ensino em sua totalidade, cumpre determinações previamente colocadas pelo Estado. Mas, segundo o autor antes citado, essas regras não podem suprimir as individualidades humanas.

Essa é a importância que tem a educação do campo na formação de educadores, ou seja, para que os docentes ganhem instrumentos pedagógicos que potencializem os saberes dos educandos, da comunidade e suas histórias de vida.

. O lugar da formação de professores na educação do campo. Observamos que os espaços aonde se discutem sobre educação do campo, ainda são poucos. As discussões, de modo geral, estão muito centradas nas Universidades. Precisamos fazer com que Estados, Municípios, Sindicatos, Movimentos sociais e outras instituições, assumam essa bandeira de luta.

. A formação continuada como prerrogativa de diálogo com as realidades existentes. A prerrogativa da formação continuada para professores, sempre se constitui-o num dilema. Isso por dois motivos: muitos educadores acham que não é necessário e dão pouco valor e a dificuldade de encaixar esse tipo de formação, dentro do trabalho do docente e a escola.

Na pesquisa feita durante a formação de professores, logo no início descrito, boa parte deles tinham idades entre 31 e 40 anos. Quanto à experiência em educar, a maioria estava ou já tinha trabalhado em escolas situadas no campo. Vejamos as tabelas abaixo:

TABELA 1- Distribuição dos professores quanto à idade

3 Organização não governamental.

IDADES N

º

% 20 a 30 08 21,62 31 a 40 14 37,83 41 a 50 08 21,62

(5)

Tabela produzida por Alex Lima e José Milson, 2011.

A representação acima, demostra uma inovação do quadro docente do Município de Jacaraú em até 2011. Isso é explicado, graças à abertura de cursos diurnos e noturnos de graduação e especialização oferecidos pelos novos campi Universitários nas cidades de Mamanguape, Rio Tinto e Guarabira- PB. Além disso, temos o surgimento de cursos que são oferecidos à distância.

Dos trinta e sete (37) professores que responderam ao questionário, 24, 32% tinham entre Um Mês (01) e cinco meses (05) de trabalho no campo. Nove (09), ou seja, 24,32%

de 37 pesquisados estavam entre Seis (06) a Dez (10) anos exercendo a docência no campo. Observemos a tabela logo abaixo:

TABELA -2. Tempo de trabalho no campo

Tabela produzida por Alex Lima e José Milson, 2011.

Portanto, um grande número de educadores já desenvolveram trabalhos no meio rural. Com tudo isso, observamos que poucos desses professores/as têm conhecimentos 51 a 60 04 10,81

Não respondeu 03 08,10 TOTAL 37 100%

ANOS\ MÊS Nº % 1mês a 5 09 24,32 6 a 10 09 24,32 11 a 20 06 16,21 21 a 30 01 02,70 Não Responderam 12 32,43 TOTAL 37 100%

(6)

específicos sobre a complexidade na qual o campo é constituído. Outro motivo demonstrado pelo quadro acima, é que, há uma movimentação de atuação dos espaços desses educadores.

A formação continuada de professores em educação do campo requer que seja um tipo motivam-te de outros olhares dos sujeitos camponeses. De acordo com Caldart (2004), deve motivar potencialidades de dentro da realidade. “Os processos educativos vêm de dentro, não de fora. Vêm sobretudo das tensões sociais” (Caldart, 2004, p. 12).

Na opinião de Pimenta (1999), na sociedade do conhecimento o professor quase ficou relegado. Vejamos o que diz a autora:

Para que professores numa sociedade que, de há muito, superou não apenas a importância destes na formação das crianças e dos jovens, mas também é muito mais ágil e eficaz em trabalhar as informações? E, então para que formar professores? Contrapondo-me a essa corrente de desvalorização profissional do professor e às concepções que o consideram como simples técnico reprodutor de conhecimentos e/ou monitor de programas pré-elaborados, tenho investido na formação de professores, entendendo que na sociedade contemporânea cada vez mais se torna necessário o seu trabalho enquanto mediação nos processos constitutivos da cidadania dos alunos... (PIMENTA, 1999, p. 15).

Cremos, assim como disse Pimenta anteriormente, que a formação de educadores é extremamente relevante para que o educador consiga situar-se conscientemente em sua profissão. Na sociedade da informação, a mediação de educadores se faz cada vez mais imprescindível. Não dá para dizer que o papel/ função dos educadores foi superada, jamais isso irá acontecer. O ato educativo só se dá entre “eu e eles, eles e eu”. Nas palavras de Arroyo (2008), não dá para separarmos a discussão do campo das que nos remetem a cidade. “A educação do campo nasce de outro olhar sobre o campo” (Arroyo, 2008, p.11).

É imprescindível, associarmos o despertar novos olhares na docência, só um processo educativo continuado dará suporte a essa função. Se for de outra maneira, jamais teremos uma educação mais próxima das especificidades das pessoas. Entendemos como realidade, aquilo dito por Júnior (2004), ou melhor, com sentido de construir. “Quando se trata de abandonar o irreal, de voltar-se ao mundo sólido e concreto, caímos na realidade, colocamos os pés no chão. O real é o terreno que pisamos em nosso cotidiano” (Júnior, 2004, p.08).

(7)

Fortalece a identidade de mulher e homem do campo, deve ser a prerrogativa primeira de uma educação que seja dialética. Identidade essa, ligada às produções materiais humana como diz Pinto (2011).

Na coletividade, os camponeses inseridos em um processo educacional problematizado com a própria realidade, serão capazes de fazer questionamentos e consequentemente ter um senso crítico sobre as ideias que os oprimem, no sentido não de passar a serem os opressores, mas sim de conhecer como se dar a opressão para terem subsídios combatê-la. Já Menciona Bogo (2010, p.119) que ´´não é simplesmente ignorando a realidade que ela deixará de existir”. “Dessa forma é que a identidade, na atualidade, deve perseguir um projeto, em negação do projeto dominante e, sem ignorá-lo, ultrapassar os limites por ele impostos” (PINTO, 2011, p. 24-25).

É por isso, que a formação continuada de professores ganha um caráter essencialmente politico. Não se trata de mero quer fazer sem pretensão, o objetivo é abrir canais de uma consciência grupal de maneira a-ingênua, a-política e com mais midiatização entre o que penso- a realidade- e o que o outro acha/pensa o mundo. Fica evidenciado que o número de pessoas a entrarem em cursos de formação de professores é cada vez maior, isso ficou muito visível na Tabela 01 deste texto. Na qual, 21,62% dos educadores que responderam ao questionário e ensinavam no Município de Jacaraú, tinham idade entre 20 e 30 anos.

Muitas vezes, esse fato ocorre devido a serem as únicas oportunidades de terem uma profissionalização. Escolher ser professor não é uma opção/decisão consciente, mas uma maneira paliativa de ter um dinheiro para conseguir se formar em outra área do conhecimento, o que em nossa visão, é o mais grave.

Caráter da educação: alguns aspectos

Sobre tudo que enumeramos até aqui, algumas observações que fizemos no decorrer do processo formativo4, valem a pena serem enumerados. Uma das observações, é

4 Referimo-nos A jornada de formação desenvolvida pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) em 2011 em vários Municípios da Paraíba. A capacitação acontecia através de parcerias entre a Universidade e as Secretarias de Educação visando formar, capacitar e

(8)

que, a educação das séries iniciais, continua tendo um caráter feminino. Lógico que não temos nada contra as mulheres, mas por traz de tudo isso, observamos que a educação, sobretudo a Pedagogia foi sempre tratada como uma extensão da maternidade/do ser mãe.

TABELA 3 - Distribuição quanto ao sexo:

Tabela produzida por Alex Lima e José Milson, 2011.

Observamos que num universo de trinta e sete (37) professores que responderam ao questionário, 70,27% eram do sexo feminino e apenas 29,72% homens. Há uma forte desvalorização do magistério como sendo profissão minoritária, um simples quefazer. Uma prova disso, é que, o magistério sempre foi interpretado como uma extensão da maternidade. Nas escolas, frequentemente nos deparamos com essa ideologia onde alunos chamam seus educadores de “tios e tias” e eles aceitam harmoniosamente. Não podemos aceitar que o magistério seja considerado uma extensão da família/do ser mãe, por esse motivo os educadores recebem salários tão baixos e são tão desvalorizados profissionalmente. Devemos lutar pela identidade de profissionais da educação, a nosso ver essa é uma condição pela qual temos que lutar.

É passarmos de uma luta vegetativa, para uma na qual ganhemos liberdade de trabalhar como educadores emprestando o que produzimos como matéria e não dando nosso próprio trabalho. Ou melhor, como menciona Marx (2005): “Alugar o próprio trabalho é dar início à escravidão; alugar a matéria do trabalho é estabelecer a própria liberdade... O trabalho é o homem, mas a matéria nada tem do homem” (Marx, 2005, p.90).

difundir a questão da educação do campo nessas regiões. O financiamento do Projeto era coordenado pelo CNPq, nós fazíamos parte como bolsista.

SEXOS N

º

% MASCULINO 11 29,72 FEMININO 26 70,27 TOTAL 37 100%

(9)

Mesmo com esses descompaços, notamos que cada vez mais o quadro docente está mais qualificado, o que não significa estar preparado para o ato de ensinar5. É evidente que não estamos colocando aqui o caso dos professores em analises, mas concordemos que de modo geral, há uma grande defasagem quanto à formação de educadores, sobretudo quanto ao ensino- pesquisa- extensão como fundamentais no trabalho de formar educadores. A tabela abaixo demonstra o grau/nível de instrução dos docentes da rede Municipal de ensino de Jacaraú até o ano de 2011. Observemos:

TABELA – 4 - Nível de formação dos professores

Tabela produzida por Alex Lima e José Milson, 2011.

A demonstração acima revela que boa parte dos educadores, possui nível superior, ou seja, 81,08% tem formação/graduação. Fora aqueles que não responderam ao questionário, algo em torno de 05,40%; temos um percentual significativo de pessoas em pleno estado de capacitação, numa estimativa de 13,51% de indivíduos. Experiências comprovam que a escolha pelo magistério, em sua maioria, é porque o individuo não teve outras oportunidades de profissionalização. Mas existem relatos plausíveis, merecedores de destaque. Esse é o caso de uma professora citada por Falcão e Pimenta (2011), vejamos:

5 Sobre essa problemática, nos últimos anos, por uma questão mercadológica, notamos uma grande enxurrada de novas Instituições de Ensino Superior que passaram a oferecer cursinhos de formação de professores. Esses cursinhos, na maioria das vezes são extremamente insipientes. Cursos de finais de semana, uma vez por mês, sem conta que a maioria deles não exerce o tripé: Ensino- Pesquisa- Extensão. São cursos unicamente para emitir diplomas, não tendo nenhuma consistência no prepara/fundamentação de uma formação laica.

NÍVEL Nº % MÉDIO 00 00,00 CURSANDO 05 13,51 SUPERIOR 30 81,08 Não Responderam 02 05,40 TOTAL 37 100%

(10)

Nasci e me criei em uma pequena cidade do Nordeste de Pernambuco, Glória do Goitá. Filha única, meu pai motorista e minha mãe professora, aos 14 anos de idade eu, saía do Ensino Fundamental II, no ano de 1999, me questionando: “E agora, qual caminho seguir?” Mas, esse questionamento comum à maioria dos jovens da minha idade na época, não era garantia de escolher o melhor caminho a seguir. Ao refletir sobre minha própria história de vida, surgiram muitas indagações que se aproximam da justificativa e da importância de ações concretas que contribuam na formação dos jovens brasileiros: Venho de uma família de professores (avós, tias, primas e pais...) e me orgulho muito disso, essa vivência no ambiente familiar alimentou um sonho, de ser professora (FALCÃO E PIMENTA, 2011, p.43).

Falas como essa, enaltecem e fortalecem os motivos pelos quais acreditamos ser possível curso de formação para professor de cunho mais contextualizado. Não adianta só emitir diplomas, mas formar educadores. Que esses, sejam verdadeiros cientistas da educação, que saibam o que fazem, tenham consciência do ato de ensinar como um compromisso essencialmente politico, social e cultural. Despertar no professor em processo de formação, uma consciência de classe é indispensável. De preferência, que essa tal consciência de classe seja a mais próxima possível dos anseios da classe popular.

Como descreve Saviani (2003), a função precípua da escola é essa, ou seja, possibilitar aos indivíduos acesso aos conhecimentos que são necessários a sua vida, a vida tanto no meio rural/campo, como na cidade. Vejamos isso nas palavras do autor:

A escola existe, pois, para propiciar a aquisição dos instrumentos que possibilitem o acesso ao saber elaborado (ciência), bem como o próprio acesso aos próprios rudimentos desse saber. As atividades da escola básica devem organizar-se a partir dessa questão (SAVIANI, 2003, p.15).

É pelo que Saviani anteriormente enumera que defendemos a extrema importância da escola formal para o campo, não negando o campo como lugar de saberes diverso. Mas, tendo-o como molhado de saberes que podem e devem ser potencializados pela escola. As crianças, adolescentes e jovens estudantes das escolas básicas, tem o direito de acesso a um tipo de ensino que motive noções primeiras e fundantes para o seu desenvolvimento intelectual. Outro aspecto evidenciado, é que, um grande número de educadores tinham se formado em Instituições de Ensino Privado ou Filantrópica, assim como mostra o quadro abaixo:

(11)

TABELA – 5- Qual tipo de instituições?

Tabela produzida por Alex Lima e José Milson, 2011.

Somando os que se profissionalizaram nas Instituições Privadas com os/as que se capacitaram nas Filantrópicas, temos um total de 52,91% de pessoas que fizeram cursos nesse tipo de instituição6. Sem contar os indivíduos que não responderam a questão, que somam 18,91%, a tabela acima nos coloca uma preocupação. Temos mais pessoas se formando em Instituições Privadas e Filantrópicas, que em Universidades Públicas Federais e Estaduais. A burocratização das Universidades e a seletividade apregoada por elas tem dificultado o ingresso da maioria das pessoas em cursinhos. Por outro lado, numa lógica mercadológica, há um aumento de Instituições de Ensino Superior que ofertam cursos de finais de semana, em sua maioria, sem muita qualidade.

O eixo central desses tipos de cursinhos é o ensino, como se a formação fosse unicamente aprender conteúdos pré-elaborados pelos formuladores dos currículos. A formação acadêmica deve procurar o máximo possível aliance à realidade, a vida social.

Por isso, a atividade de estágio, da pesquisa, da extensão deve está profundamente ligada à formação de educadores.

A contribuição da Universidade Federal da Paraíba na formação de educadores

6 As Instituições Privadas aqui referidas trata-se da Universidade Vale do Acaraú (UVA), já as de caráter Filantrópico, diz respeito ao Instituto Teológico Pedagógico da Paraíba (INTEPPB), entre outros.

Instituições Nº % Privada 13 35,13 Pública 11 29,72 Filantrópica 06 16,91 Não Responderam 07 18,91 TOTAL 37 100%

(12)

Cada vez mais a Universidade Pública tem enfrentado o desafio de se aproximar das camadas sociais menos favorecidas, isso deve-se ao compromisso de promoção humana com os mais pobres assumido pela Instituição Universitária. Durante quatro anos como estudantes do curso de Pedagogia do Campo da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), pude perceber que paulatinamente ela vem aumentando seu compromisso social para com as classes menos favorecidas.

De acordo com Neto (2004), esse é um dos objetivos que a Universidade tem que enfrentar: fazer-se cada vez mais próxima das situações da população. Destacamos uma das grandes potencialidades observadas por nós nesses quatro anos como estudantes de graduação na UFPB, a relação do muito imbricada de ensino-pesquisa-extensão. Quero falar um pouco da experiência do Projeto de Formação de Professores, coordenado pela professora do Centro de Educação (CE) Dr. Maria do Socorro Xavier Batista. No projeto, além de outros estudantes bolsistas da turma de pedagogia do campo do REÚNE do CE, tínhamos nós do PRONERA7. O projeto tinha duração de sete meses, quinzenalmente nós estudantes bolsistas, coordenadores e professores se reuniam para preparar as atividades de formação nos Municípios paraibanos. A turma de pedagogia do campo do PRONERA era bem diversa, tinha representações de várias cidades da Paraíba. Nós éramos responsáveis por fazer a ponte entre a UFPB e as Secretarias de Educação Municipais, já a Universidade ficava responsável pela capacitação dos professores. Nesse interstício, no segundo semestre de 2011, deu-se início as primeiras atividades formativas. O trabalho foi intitulado como “Jornada de Formação de Educadores em Educação do Campo” e tinha por tema: “Educação e Escola do Campo”.

Foi através desse projeto, que pela primeira vez, deu-se começo a discussão em torno da temática da educação do campo em Jacaraú e em outras cidades na qual tinha estudantes do PRONERA. Nisso que mencionamos até aqui, está a função da Universidade Pública, infelizmente boa parte delas não cumpre essa prerrogativa, ou seja, a de estar cada vez mais indo aqueles que necessitam. Mas, a Universidade Federal da Paraíba tem na medida do possível, cumprido com esse objetivo, estender o conhecimento que a sociedade lhe deu.

7 Programa de Educação na Reforma Agrária.

(13)

A meta primeira do trabalho era introduzir nos âmbitos das Secretarias, subsídios que os estimulassem a discutirem o campo e seus princípios de educação. Fazer com que secretários, educadores, gestores e toda a comunidade escolar e extraescolar pudessem discutir assiduamente sobre a educação do campo. A UFPB revelasse com um papel fundamental, lançar uma nova perspectiva de educar nas escolas do campo apartir da realidade dos homens e das mulheres do campo.

Durante as atividades do projeto, sempre começávamos com uma exposição do que séria educação do campo, as direções que regimentavam essa nova educação, seus princípios e por fim, fazíamos algumas atividades em grupo com os professores. Nessa perspectiva, a UFPB tem cumprido sua função de “trabalho social útil”. “É, sobretudo, um trabalho que tem na sua origem a intensão de promover o relacionamento entre ensino e pesquisa. Nisto, e fundamentalmente nisto, diferencia-se das dimensões outras da universidade...” (Neto, 2004, p.83). Ou melhor, no seu fazer cientifico cotidiano, a UFPB tem tentado cada vez mais se aproximar das problemáticas sociais.

O curso de pedagogia do campo e o próprio PRONERA, tem motivado outras relações no âmbito acadêmico de parcerias e cogestão participativa entre professores e alunos. Relações mais co-gestativas, tanto na Universidade como impulsionado à ida da mesma ao encontro do povo.

Romanelli (2007), fala da estratificação do ensino superior no Brasil. Dentro das funções da Universidade Pública, uma delas deve se destacar, que é: “A investigação científica e o preparo para o exercício profissional...” (Romanelli, 2007, p. 133). A todo o momento, a Universidade (de modo especial, a UFPB), tem aos poucos tentado se despir da dualidade sociedade e Universidade. É evidente que isso não se deu de forma natural, mas devido a uma forte insurgência de estudantes, de jovens advindos do meio popular.

Considerações finais

Nosso intuito com esse texto foi sistematizar alguns itens da experiência de formação vivida por nós como estudantes do curso de Pedagogia do campo e bolsista pelo CNPq no Projeto de Formação de Professores pela Universidade Federal da Paraíba

(14)

(UFPB). Uma das grandes contribuições que considero, é a fundamental importância de discutirmos as necessidades gerais da sociedade sem esquecermos as peculiaridades. A formação dantes referida tinha por eixo esse proposito, discutir educação do campo ligada à dinâmica todo social.

Bogo (2005) descreve que a burguesia não existe sem revolucionar os meios de produção social, no entanto, esse revolucionar dito por Bogo não é equânime, exclui todos os/as miseráveis, os esfarrapados pelo capital dominante. Frente a esse quadro, colocamos um dos maiores resultados do trabalho de formação ao qual já citamos, que é, possibilitar uma reflexão mais aguçada sobre a situação do meio rural no Brasil.

A educação sempre foi muito defasada no campo, a formação de professores sempre se deu de maneira descompactada da realidade, ou seja, não se discutem na formação de professores que atuam no campo, as questões pertencentes ao campo. Por isso, destacamos em nosso trabalho a imprescindível contribuição da UFPB na durante os últimos tempos para a formação de educadores em educação do campo.

Por último, almejamos aqui pelo que disse o professor Casali (2007), não existe só um único pensamento crítico. “O pensamento crítico não é um só, porque a realidade humana não é una, porque a cultura não é una, a história não é una...” (Casali, 2007, p.07), isso acontece porque a realidade é feita por pessoas e do contrário também.

Uma escola, professores e gestores que compreendam a fundante importância do campo como constituído de saberes a serem sistematizados é uma necessidade, uma escola como diária Marx, do trabalho, da práxis educativa. Como diz Casali (2007) discorrendo sobre o pensamento de Kuhn, às vezes é [...] “preciso revirar do avesso o método para se ter certeza se o que nós estamos pensando é crítico (Casali, 2007, p. 08). Como defende alguns intelectuais, a libertação verdadeira, falo de libertação humana como diz Marx (2005), não se dá unicamente pela aquisição de uma consciência política em detrimento da consciência ingênua, seu contrário. Mas, pela luta que travo para superar minha condição material de existência.

É nesse sentido, que defendemos uma escola e educação do/no campo.

(15)

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICA

ARAÚJO, Ismael Xavier de; SILVA, Severino Bezerra da. Educação do campo e a formação sociopolítica do educador.- João Pessoa: Editora Universitária da UFPB, 2011.

ARROYO, Miguel Gonzalez (org), [et al]. Por uma educação do campo. 3ª ed.- Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.

BOGO, Ademar (org). Teoria da organização política: escritos de Engels, Marx, Lênin, Rosa, Mão. - 1ª ed.—São Paulo: Expressão Popular, 2005.

CALDART, Roseli Salete. Pedagogia do movimento Sem Terra. 3ª ed.- São Paulo:

Expressão Popular, 2004.

CASALI, Alípio. Paulo Freire e outras correntes do pensamento e ação: O pensamento complexo, teológico da libertação, justiça restaurativa, teatro do oprimido e planejamento estratégico situacional. —Rede de educadores populares de São Paulo, 2007.

FALCÃO, Emmanuel Fernandes; PIMENTA, Sônia de Almeida (orgs). Serta: uma certa Universidade popular: a Proposta Educacional de Apoio ao Desenvolvimento Sustentável-PEADS.- João Pessoa: Editora Universitária da UFPB, 2011.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 49ª Reimpressão. - Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005.

JÚNIOR, Joao Francisco Duarte. O que é realidade. - 10ª ed.-; SP: Brasiliense, 2004.

MARX, Karl. Manuscritos econômico-filosóficos. Tradução de Alex Martins. - São Paulo, SP: Editora Martin Claret, 2005.

NETO, José Francisco de Melo. Extensão universitária, autogestão e educação popular.

- João Pessoa: Editora Universitária/UFPB, 2004. (Coleção Extensão Popular).

PIMENTA, Selma Garrido (org), [et al]. Saberes pedagógicos e atividades docentes. - São Paulo: Cortez, 1999. - (Saberes da docência).

PINTO, Tiago da Silva. Identidade Camponesa no Assentamento Apasa- PB: o papel da educação do campo na (re) afirmação da identidade do povo camponês. - João Pessoa/PB, 2011.

ROMANELLI, Otaíza de Oliveira. História da educação no Brasil: (1930/1973). - Prefácio do Prof. Francisco Iglésias. —31ª ed.- Petrópolis, RJ: Vozes, 2007.

SAVIANI, Dermeval. Pedagogia histórico-crítica: primeiras aproximações. - 8ª ed.

Revista e ampliada-Campinas, SP: Autores Associados, 2003.

Referências

Documentos relacionados

Portanto, mesmo percebendo a presença da música em diferentes situações no ambiente de educação infantil, percebe-se que as atividades relacionadas ao fazer musical ainda são

Esses pesquisadores argumentam que o ambiente institucional eficiente leva ao desenvolvimento financeiro de um país, principalmente, no que diz respeito à capacidade das

O esforço se desdobra em ações de alcance das projeções estabelecidas pelo MEC para o índice de desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) Dentre os 10

A Universidade Federal da Paraíba – UFPB, por meio do Colegiado Institucional de Formação de Professores, torna público o edital para o processo de seleção de

A Universidade Federal da Paraíba – UFPB, por meio do Colegiado Institucional de Formação de Professores, torna público o edital para o processo de seleção de

Para interpretação do fluxograma deste anexo deve-se tomar como definição de contato próximo um colaborador, terceiro (visitante), professor ou aluno que não apresente sintomas

Observa-se que a resistência mecânica dos corpos-de-prova de todas as formulações aumentaram com o aumento da temperatura de sinterização, como resultado da diminuição

A identificação e entendimento dos fatores ergonômicos no contexto dos veículos Baja podem contribuir para o aprimoramento do projeto, assim como de projetos futuros, tanto