• Nenhum resultado encontrado

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO"

Copied!
26
0
0

Texto

(1)

1

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA POLITÉCNICA

PME – 3100 MECÂNICA GERAL I

Parte III – Dinâmica

Capítulo 2

Dinâmica dos Sistemas Materiais

Henrique de Britto Costa 2.020

(2)

2

Advertência

Estas notas de aula contêm problemas resolvidos das Listas de Exercícios que constam no site da disciplina. Essas resoluções devem ser usadas apenas para consulta. O aluno deve tentar, antes, resolver os exercícios por conta própria.

CONTEÚDO

1) Teorema da Resultante

2) Teorema do Momento Angular 3) Teorema da Energia Cinética 4) Teorema de Koenig

(3)

3

DINÂMICA DOS SISTEMAS MATERIAIS

H. Britto – 2.020

1 ) TEOREMA DA RESULTANTE

Seja S um sistema material de partículas Pi, de massa mi, que se movimenta em relação a um referencial inercial (figura 1):

Figura 1

Seja F⃗ i a resultante das forças externas que atuam em Pi e f i a resultante das forças internas. Apliquemos a primeira lei de Newton:

mi a⃗ i = F⃗ i+ f i (1) Somando as equações do movimento de todos os pontos:

∑ mi a⃗ i = ∑ F⃗ i+ ∑ f i

Pelo princípio da ação e reação, as forças internas constituem um sistema equivalente a zero (de resultante e momento nulos). Assim (O é um ponto qualquer):

∑ f i = 0⃗ (2) ∑(Pi− O) ∧ f i = 0⃗ (3) Consequentemente:

∑ mi a⃗ i = ∑ F⃗ i (4) O centro de massa G do sistema se define por meio de:

(4)

4

m (G − O) = ∑ mi (Pi − O) (5) Se O coincide com G, resulta:

∑ mi (Pi − G) = 0⃗ (6) Derivando duas vezes, consecutivamente:

∑ mi (v⃗ i − v⃗ G) = 0⃗ (7) ∑ mi (a⃗ i − a⃗ G) = 0⃗ (8) Sendo: m = ∑ mi (9) resultam, de (7) e (8), respectivamente: m v⃗ G = ∑ mi v⃗ i (10) m a⃗ G = ∑ mi a⃗ i (11) Notemos que as expressões (10) e (11) também podem ser obtidas por derivação de (5). Define-se como quantidade de movimento total do sistema o vetor Q⃗⃗ dado por (10):

Q⃗⃗ = m v⃗ G = ∑ mi v⃗ i (12) Introduzindo (4) em (11) obtemos:

m a⃗ G = ∑ F⃗ i ∴ m a⃗ G = F⃗ (13) onde F⃗ = ∑ F⃗ i é a resultante das forças externas.

A expressão (13) traduz o importante Teorema da Resultante, ou Teorema do Movimento do Baricentro (T.M.B.)

O T.M.B. pode ser assim enunciado:

O centro de massa de qualquer sistema material se movimenta como se toda a massa do sistema estivesse nele concentrada e todas as forças externas nele aplicadas.

(5)

5

Se F⃗ = 0⃗ então ma⃗ G = 0⃗ e Q⃗⃗ = mv⃗ G é constante. É o chamado Princípio da Conservação da Quantidade de Movimento, ou Lei da Inércia, cujo enunciado é o seguinte:

Quando a resultante das forças externas é nula, ou quando o sistema está sujeito apenas a forças internas, o centro de massa G descreve movimento retilíneo e uniforme, mantendo constante a quantidade de movimento total.

Primeiro Exemplo (França)

Na figura 2 um ponto material de massa m desliza sobre a face inclinada de um prisma triangular de massa M, sem atrito, provocando o deslocamento do prisma no plano horizontal (sem atrito). Supondo que o sistema partiu do repouso, e com a partícula no ponto mais alto, pedem-se:

a ) a velocidade do prisma (u̇) em função da velocidade relativa (ṡ) do ponto material b ) o deslocamento (u = d) do prisma quando o ponto atingir o plano horizontal

(6)

6

Resolução: As forças externas que agem no sistema (os dois pesos e a reação do plano sobre o prisma) são verticais. Portanto o baricentro G do sistema tem velocidade cuja componente horizontal é constante e igual à do instante inicial, isto é, zero.

A abscissa xG do centro de massa do sistema pode ser achada no instante inicial. Sendo b a abscissa do centro de massa do prisma (b = ℓ 3⁄ ) , temos:

xG =Mb + m(0)

M + m ∴ xG = Mb M + m Num instante t qualquer:

xG =M(b − u) + m(s cos θ − u) M + m

Igualando as duas expressões de xG obtemos o deslocamento do prisma no instante t: Mb M + m = M(b − u) + m(s cos θ − u) M + m ∴ u = m s cos θ M + m (14) Derivando temos a velocidade do prisma:

u̇ =m ṡ cos θ

M + m (15) Para resolver o ítem b) basta fazer s = ℓ cos θ⁄ na expressão de u :

d = m ℓ

M + m (16)

Segundo Exemplo (Beer-Johnston)

Um veículo espacial com 200 kg de massa é observado passando pela origem de um referencial inercial (O x y z) com uma velocidade v⃗ = 150 i . Nesse instante ele explode e se separa em 3 partes A, B e C, de massas 100 kg, 60 kg e 40 kg, respectivamente. Passados 2,5 segundos após a explosão, as partes A e B são vistas nas posições A (555, −180, 240) e B (255, 0, −120) , onde as coordenadas são expressas em metros e a velocidade em m/s . Achar a posição da parte C nesse instante.

Resolução: como não há forças externas, o centro de massa G do sistema continua se movendo com velocidade v⃗ G = 150 i depois da explosão. Após 2,5 segundos G estará na posição:

r G = (G − O) = 150 (2,5) i = 375 i

Aplicando no instante t = 2,5 s a expressão (5), que define a posição de G: m r G = ∑ mi r i ∴ m r G = mA r A+ mB r B+ mC r C

(7)

7

200(375) i = 100(555 i − 180 j + 240 k⃗ ) + 60(255 i − 120 k⃗ ) + 40(x i + y j + z k⃗ ) Resolvendo as equações, obtemos a posição da parte C:

x = 105 m , y = 450 m e z = − 420 m

Terceiro Exemplo: No exemplo anterior calcular as velocidades v⃗ A, v⃗ B e v⃗ C no instante t = 2,5 s

Resolução (figura 3)

Figura 3

A quantidade de movimento é a mesma, antes e depois da explosão, pois não há forças externas. Temos, imediatamente após a explosão:

v ⃗ G = 150 i , v⃗ A= vA r A |r A| , v⃗ B = vB r B |r B| e v⃗ C= vC r C |r C| sendo (verificar): |r A| = 630,892 m , |r B| = 281,824 m e |r C| = 624,440 m

Aplicando a equação (10) no ponto O, imediatamente antes e imediatamente após a explosão: m v⃗ G = ∑ mi v⃗ i = mA v⃗ A+ mB v⃗ B + mC v⃗ C

(8)

8 vA = 252,36 m s , vB = 112,73 m s e vC= 249,78 m s

É preciso observar que, no cálculo realizado, desprezamos as forças internas, de origem gravitacional, no intervalo que vai de 0 até 2,5 segundos. Significa considerar retilíneas as trajetórias das partes A, B e C.

2 ) TEOREMA DO MOMENTO ANGULAR

Seja um sistema de pontos materiais Pi e O um ponto qualquer. O momento angular, ou

momento cinético, do sistema em relação a O, se define como:

H⃗⃗ O = ∑(Pi − O) ∧ mi v⃗ i (17) Portanto, o momento angular é o momento polar dos vetores quantidade de movimento. Derivando (17), membro a membro, com relação ao tempo:

H ⃗⃗ ̇O = ∑(Pi− O) ∧ mi a⃗ i + ∑(vi − vO) ∧ mi vi H ⃗⃗ ̇O = ∑(Pi− O) ∧ mi a⃗ i+ (∑ mi vi) ∧ vO Introduzindo (1) e (10): H ⃗⃗ ̇O = ∑(Pi− O) ∧ (Fi + f i) + m vG∧ vO Considerando (3), resulta: H ⃗⃗ ̇O = ∑(Pi− O) ∧ Fi + m vG∧ vO Finalmente, em virtude de ser:

∑(Pi− O) ∧ F⃗ i = M⃗⃗⃗ Oext

o momento polar das forças externas em relação a O, obtemos o importante Teorema do Momento Angular (T.M.A.) para um sistema material:

H⃗⃗ ̇O = M⃗⃗⃗ Oext+ m v⃗ G∧ v⃗ O (18) No caso particular do sistema ser formado por apenas um ponto material, (18) fica, como vimos no capítulo 1:

H

⃗⃗ ̇O = M⃗⃗⃗ O+ m v⃗ ∧ vO

(9)

9

Há 3 casos particulares importantes, em que a segunda parcela do lado direito se anula: a ) quando O é um ponto fixo (v⃗ O = 0⃗ )

H⃗⃗ ̇O = M⃗⃗⃗ Oext (19) b ) quando O coincide com G

H⃗⃗ ̇G = M⃗⃗⃗ Gext (20) c ) quando v⃗ G e v⃗ O são paralelas, como no quinto exemplo a seguir (figura 9). Aqui vale a expressão (19).

Observação: as expressões (19) e (20) guardam uma certa semelhança com a expressão (13),

abaixo transcrita, e que representa o Teorema da Resultante: m a⃗ G = F⃗

quando se coloca esta última sob a forma:

m v⃗ ̇G = F⃗ ∴ Q⃗⃗ ̇ = F⃗ (21) Como já vimos, quando F⃗ = 0⃗ , Q⃗⃗ se mantém constante, e temos o Princípio da Conservação da Quantidade de Movimento.

Analogamente, quando M⃗⃗⃗ Oext = 0⃗ , teremos H⃗⃗ O constante, o mesmo podendo-se dizer com relação a M⃗⃗⃗ Gext e H⃗⃗ G . É o chamado Princípio da Conservação do Momento Angular.

Quarto Exemplo (França)

O bloco homogêneo da figura 4, de peso mg, está sobre um carro de massa desprezível que se move horizontalmente, com aceleração a . O coeficiente de atrito entre o bloco e o carro é μ . Achar o valor máximo admissível de a para que:

a ) não haja escorregamento do bloco b ) não haja tombamento do bloco

(10)

10

Resolução: Temos um sistema de dois corpos, sendo um deles de massa desprezível. a ) Na iminência do escorregamento temos T = μ N (figura 5):

Figura 5

Aplicando o T.M.B. nas direções vertical e horizontal, obtemos duas equações: F

⃗ = m a⃗ G ∴ {

N − mg = 0 ∴ N = mg T = ma ∴ μ N = ma ∴ μ mg = ma ∴ a = μ g

b ) Na iminência do tombamento, o bloco se apóia no ponto A (figura 6):

Figura 6

Como o carro tem massa desprezível, o momento angular, em relação a A, se escreve como, de acordo com (17): H ⃗⃗ A= (G − A) ∧ m vG ∴ H⃗⃗ A= ( b 2 i + h 2 j ) ∧ m v i = − m v h 2 k⃗ Derivando: H ⃗⃗ ̇A = − m a h 2 k⃗ Pelo T.M.A., expressão (18), sabemos que:

(11)

11 H ⃗⃗ ̇A = M⃗⃗⃗ Aext+ m v G∧ v⃗ A = M⃗⃗⃗ Aext , pois v⃗ G // v⃗ A ( v⃗ G = v⃗ A = v i ) ∴ − m a h 2 k⃗ = − m g b 2 k⃗ ∴ a = b h g

A maior aceleração admissível é o menor dos dois valores encontrados, a = μ g ou a = b

h g

Quinto Exemplo (França)

Na figura 7 as polias e os fios têm massa desprezível. Os fios são flexíveis e inextensíveis. Não há atrito nos eixos das polias. Calcular as acelerações Ẍ e ẍ .

Figura 7

Resolução: Para facilitar o trabalho algébrico vamos supor que M = 2 m .

Sendo F a força no fio superior, a primeira lei de Newton produz, segundo a figura 8: 3 m g − F = 3 m Ẍ (i)

(12)

12

Figura 8

Aplicando o T.M.B. ao subsistema inferior, na direção vertical, resulta, conforme a figura 9: R ⃗⃗ = m a⃗ G = ∑ mi a⃗ i ∴ 3 m g − F = 2 m d 2 dt2 [ (L − X) + x ] + m d2 dt2 [ (L − X) + (ℓ − x) ]

Fazendo as derivadas, vem:

∴ 3 m g − F = 2 m (− Ẍ + ẍ ) + m (− Ẍ − ẍ ) (ii)

Figura 9

Aplicando agora o T.M.A. ao subsistema inferior, começamos calculando o momento angular em relação ao ponto A. De acordo com a figura 9 podemos escrever:

H

⃗⃗ A = (P − A) ∧ 2m vP+ (Q − A) ∧ m vQ

∴ H⃗⃗ A = (x i − r j ) ∧ 2m (ẋ − Ẋ) i + [ (ℓ − x) i + r j ] ∧ m (− ẋ − Ẋ ) i Fazendo os produtos vetoriais, resulta:

H

(13)

13

Derivando, vem:

H

⃗⃗ ̇A = m r (3 ẍ − Ẍ ) k

O T.M.A. é dado pela expressão (18), abaixo reescrita para o polo A: H

⃗⃗ ̇A= M⃗⃗⃗

Aext+ m v⃗ G∧ v⃗ A = M⃗⃗⃗ Aext ( pois v⃗ G ∕∕ v⃗ A )

Portanto:

m r (3 ẍ − Ẍ ) k⃗ = (2mgr − mgr) k⃗ ∴ m r (3 ẍ − Ẍ ) = m g r (iii) Resolvendo o sistema (i), (ii) e (iii), obtêm-se:

ẍ = 6 17 g , Ẍ = 1 17 g e F = 48 17 m g

O problema não pediu, mas podemos achar a força F∗ no fio inferior. Com base na figura 7 apliquemos a primeira lei de Newton aos pontos P e Q:

2 m g − F∗ = 2 m ( ẍ − Ẍ ) (ponto P) m g − F∗ = m (− ẍ − Ẍ ) (ponto Q) Qualquer uma das equações acima fornece:

F∗ =24

17 m g

3 ) TEOREMA DA ENERGIA CINÉTICA

Consideremos uma partícula Pi do sistema material, de massa mi , e sujeita às forças F⃗ i (resultante das forças externas) e f i (resultante das forças internas):

O Teorema da Energia Cinética (T.E.C.), aplicado ao movimento da partícula Pi , produz: ∆Ei = Ei − Ei0 =1 2 mi (vi 2− v i0 2) = W iext+ Wiint (22)

Somando para todos os pontos, resulta o importante Teorema da Energia Cinética para um sistema de pontos materiais:

∆E = E − E0 = Wext+ Wint (23) cujo enunciado pode ser assim estabelecido:

A variação da energia cinética de um sistema material é igual ao trabalho realizado por todas as forças (externas e internas) que atuam no sistema.

(14)

14

Notemos que, derivando a expressão (23), resulta:

Ė = Ẇext+ Ẇint = 𝒫ext+ 𝒫int

Ou seja, a derivada da energia cinética é igual à soma das potências instantâneas dos esforços

externos e internos.

Trabalho das forças internas

Consideremos o trabalho elementar correspondente ao par de pontos Pi e Pj (figura 10):

Figura 10

Sendo r i e r j os vetores posição de Pi e Pj podemos escrever:

(Pi− Pj) = r i− r j = r ij= |r ij| u⃗ ij= rij u⃗ ij (24) onde u⃗ ij é o versor de r ij = (Pi− Pj) .

O trabalho elementar é dado por:

dWij = f ij∙ dr i+ f ji∙ dr j = f ij∙ (dr i− dr j) (25) Diferenciando (24), vem:

(15)

15

Introduzindo (26) em (25), fica:

dWij= f ij∙ (drij u⃗ ij+ rij du⃗ ij) (27) Por ser u⃗ ij de módulo constante, sabemos que du⃗ ij ⊥ u⃗ ij . Portanto, de (27) resulta:

dWij = f ij∙ drij u⃗ ij ∴ dWij = − fij drij (28) com fij = |f ij| . Notemos que , para o sentido positivo que foi adotado para as forças internas (forças saindo da partícula), o trabalho elementar é sempre negativo.

O trabalho elementar total será a soma de todos os dWij , e o trabalho total realizado por todas as forças internas pode ser obtido por integração ao longo do tempo.

Observação importante:

No caso do sistema ser rígido, as distancias relativas entre os pontos materiais se mantém constantes, e, portanto, drij = 0 . Nessas circunstâncias o trabalho das forças internas é nulo. Assim, no caso particular importantíssimo do sistema S ser um sólido rígido, o T.E.C. tem uma forma mais simples, como veremos no capítulo 4:

∆E = E − E0 = Wext (29)

O caso de dois corpos em contato

Quando dois corpos estão em contato por meio de um ponto, sejam (R⃗⃗ , P1) e (− R⃗⃗ , P2) as forças de contato (R⃗⃗ = N⃗⃗ + T⃗⃗ ) , aplicadas no ponto P1 do sólido 1 e no ponto P2 do sólido 2 (esses pontos representam na verdade uma sucessão de pontos ao longo do tempo).

De acordo com (25), o trabalho elementar se escreve como:

dW = R⃗⃗ ∙ (dr 1− dr 2) = R⃗⃗ ∙ (v⃗ 1− v⃗ 2) dt Esse trabalho vale zero nos seguintes casos:

a ) contato sem atrito: porque R⃗⃗ = N⃗⃗ é normal ao vetor dr 1− dr 2 , que tem a direção da velocidade relativa (v⃗ 1− v⃗ 2)

b ) contato com atrito sem escorregamento: este é o caso do rolamento puro. A velocidade relativa dos pontos que estão em contato é nula: v⃗ 1 = v⃗ 2 ou dr 1 = dr 2 .

No caso de contato com atrito e com escorregamento, apenas a força tangencial (força de atrito) realiza trabalho:

R

(16)

16

O caso da força peso

O peso é uma força externa distribuída de volume. O trabalho realizado pelas forças peso de um sistema pode ser calculado supondo o peso total aplicado no baricentro do sistema.

Sexto Exemplo (França)

Voltando ao primeiro exemplo, da partícula que escorrega sobre o prisma triangular, calcular a aceleração do prisma.

Resolução: como não há atrito, as forças internas, que são as reações normais de contato entre a partícula e o prisma, não realizam trabalho. Dentre as forças externas, que são os dois pesos e a reação normal do solo sobre o prisma, a única que realiza trabalho é o peso da partícula. Na figura 11 se representa a posição do sistema num instante t qualquer:

Figura 11

Sendo τ⃗ o versor da rampa, a velocidade v⃗ absoluta da partícula é a soma da velocidade relativa com a velocidade de arrastamento:

v

⃗ = ṡ τ⃗ − u̇ i (a) com u̇ dado por (15):

u̇ =m ṡ cos θ M + m Aplicando a expressão (23), que representa o T.E.C:

E − E0 = Wext+ Wint ∴ E = Wext (E0 = Wint = 0) A energia cinética no instante genérico t vale:

E =1

2 m (v⃗ ∙ v⃗ ) + 1

(17)

17

Na expressão (b) temos, de acordo com (15): u ⃗ ̇ = − u̇ i = − m ṡ cos θ M + m i ∴ u⃗ ̇ ∙ u⃗ ̇ = u̇ 2 = ( m ṡ cos θ M + m ) 2

Por outro lado podemos escrever, com base em (a): v

⃗ ∙ v⃗ = (ṡ τ⃗ − u̇ i ) ∙ (ṡ τ⃗ − u̇ i ) ∴ v⃗ ∙ v⃗ = ṡ2+ u̇2− 2 ṡ u̇ cos θ

De acordo com (15), temos:

ṡ = (M + m) u̇ m cos θ

Introduzindo a expressão acima de ṡ nas fórmulas obtidas de u⃗ ̇ ∙ u⃗ ̇ e v⃗ ∙ v⃗ , e o resultado desta operação em (b), resulta, finalmente, resulta a energia cinética em função de u̇ :

E =1 2 ℳ u̇

2 com ℳ = (M + m)(M + m sin 2θ)

m cos2θ

O trabalho realizado pelo peso da partícula se calcula como: Wext = m g s sin θ Mas, de (14) sabemos que:

s = (M + m) u m cos θ Portanto:

Wext = g tan θ (M + m) u Sendo E = Wext fica:

1 2 ℳ u̇

2 = g tan θ (M + m) u (c)

A expressão (c) fornece a velocidade do prisma em função do deslocamento do mesmo. Derivando (c) obtém-se:

ℳ u̇ ü = g tan θ (M + m) u̇ Sendo u̇ ≠ 0 resulta a aceleração do prisma:

ü =(M + m) g tan θ

ℳ ∴ ü =

m g sin θ cos θ

M + m sin2θ (d)

Notemos que ü é constante. A equação (d) é a equação do movimento do prisma. Ela pode ser integrada ao longo do tempo, partindo das condições iniciais, que são u(0) = 0 e u̇(0) = 0 , obtendo a função u = u(t), a qual, por diferenciação, fornece u̇(t) e ü(t) = cte.

(18)

18

Se quisermos ainda achar as forças internas N e a reação externa R basta isolar o prisma e aplicar o T.M.B. (figura 12):

Figura 12

{

N sin θ = M ü ∴ N = M ü sin θ R = Mg + N cos θ Notemos que N e R são constantes.

No ANEXO ao final deste capítulo apresenta-se uma complementação deste problema, no que se refere ao cálculo da velocidade v⃗ G e da aceleração a⃗ G do centro de massa do sistema.

Sétimo Exemplo (Problema DP-4 da Lista 3 de Exercícios)

Na figura 13 o bloco A de 10 kg e o bloco B de 4 kg estão ambos a uma altura h = 0,5 m acima do solo, quando o sistema é liberado do repouso. Depois que A bate no chão sem ricochetear, observa-se que B alcança uma altura máxima de 0,18 m. Determine a velocidade de A imediatamente antes do impacto e a quantidade de energia dissipada por atrito na polia.

(19)

19

Resolução: Chamemos de Wd a energia dissipada no eixo da polia. Vamos calcular a energia do sistema em 3 instantes do movimento:

i ) energia inicial (g = 10 m/s2)

W0 = ( mA+ mB) g h = 70 Nm = 70 J ii ) energia imediatamente antes do impacto W1 = 1

2( mA+ mB) v

2+ m

B g (2h) = 7 v2+ 40

iii) energia no instante final

W2 = mB g (2h + 0,18) = 47,2 J Agora, fazendo o balanço das energias:

{

W0 = W1+ Wd ∴ 70 = 7 v2+ 40 + Wd W1 = W2 ∴ 7 v2+ 40 = 47,2 As duas equações acima fornecem:

{ v = √36 35≅ 1,014 m s Wd = 22,8 J

Em resumo: W0 = 70 J e W1 = W2 = 47,2 J . A energia dissipada corresponde a 32,57 % da energia disponível inicialmente:

( Wd

W0) 100 = 32,57 %

Oitavo Exemplo (Trabalho de esforços internos)

Na figura 14 calcular as acelerações δ̈A e δ̈B dos blocos A e B em função dos deslocamentos δA e δB . A força P é constante e aplicada no instante inicial, quando o sistema está em repouso e a mola está com o seu comprimento natural. Não há atrito.

(20)

20

Figura 14

Resolução:

Na figura 15 se representam os diagramas de corpo livre para as duas partículas:

Figura 15

Apliquemos a primeira lei de Newton a cada massa, na direção do movimento: { m δ̈A = P − F (a) m δ̈B = F (b) Mas: F = k (δA− δB) (c) Portanto: { m δ̈A = P − k δA+ k δB (d) m δ̈B = k δA− k δB (e)

As equações (d) e (e) se constituem na solução do problema. Elas são as equações diferenciais do movimento.

(21)

21

Podemos chegar a essas mesmas equações aplicando o T.E.C., dado pela expressão (23), abaixo replicada:

∆E = E − E0 = Wext + Wint ∴ Ė = Ẇext+ Ẇint (f) sendo: E0 = 0 e E =1 2 m δ̇A 2 +1 2 m δ̇B 2

Com relação ao trabalho temos:

Wext = P δA Wint = − 1

2 F (δA− δB) Em virtude de (c) a expressão acima fica:

Wint = − 1

2 k (δA− δB)

2 (g)

Introduzindo os resultados acima em (f), obtemos: 1 2 m δ̇A 2 +1 2 m δ̇B 2 = P δ A− k 2 ( δA 2 + δ B 2 − 2 δ A δB ) Derivando: m δ̇A δ̈A+ m δ̇B δ̈B = P δ̇A−k 2 (2 δA δ̇A+ 2 δB δ̇B − 2 δ̇A δB− 2 δA δ̇B ) Agora, fatorando as velocidades:

δ̇A (m δ̈A− P + k δA− k δB ) + δ̇B (m δ̈B− P − k δA+ k δB ) = 0

Como a expressão acima deve valer, quaisquer que sejam as velocidades δ̇A e δ̇B , então os conteúdos entre parênteses devem se anular separadamente. Este fato recupera as equações (d) e (e).

Observação: as equações (d) e (e) podem ser colocadas no formato matricial, o que permite

explicitar as matrizes de massa e de rigidez do sistema: [ m 0 0 m ] { δ̈A δ̈B } + [ k −k −k k ] { δA δB } = { P 0 } (h)

A matriz de rigidez é singular porque o sistema é não vinculado. O sistema de equações diferenciais (h) pode ser integrado, pelo menos em princípio, duas vezes consecutivamente, a partir das condições iniciais, que são homogêneas:

(22)

22

Feita essa integração, obtêm-se as funções incógnitas δA(t) e δB(t) , as quais, por

diferenciação, fornecem as velocidades e acelerações ao longo do tempo. Os detalhes da integração serão estudados na disciplina de Vibrações Mecânicas.

Como uma última observação, notemos, pelo exame da expressão (g), que o trabalho das forças internas é sempre negativo.

Notemos ainda que, diferenciando a expressão (g), obtemos a equação (28) do trabalho elementar, abaixo transcrita:

dWij = − fij drij Se não, vejamos:

dWint = − k (δA− δB) d(δA− δB) = − F (dδA− dδB) ∴ dWint = − F dδAB

4 ) TEOREMA DE KOENIG

Na figura 16 seja um sistema material S cuja energia cinética se quer calcular. O referencial ∑ é inercial. Consideremos também o referencial baricêntrico, que é aquele cuja origem coincide com o centro de massa G do sistema e cujos eixos se mantém paralelos aos eixos de ∑ :

(23)

23

Notemos que o referencial baricêntrico não é inercial, a menos no caso particular em que G descreve movimento retilíneo e uniforme, ou seja, quando a resultante das forças externas é nula.

O vetor posição de Pi no referencial baricêntrico se escreve como:

r i = Pi− G = (Pi− O) − (G − O) (30) Derivando, vem: r ̇i = v⃗ i − v⃗ G ∴ v⃗ i = v⃗ G+ r ̇i (31) sendo: { v⃗ i ⟶ veloc. absoluta de Pi r ̇i ⟶ veloc. relativa de Pi v ⃗ G ⟶ veloc. de arrastamento de Pi A energia cinética do sistema se escreve como:

E = 1

2 ∑ mi v⃗ i ∙ v⃗ i = 1

2 ∑ mi (v⃗ G + r ̇i) ∙ (v⃗ G+ r ̇i) (32) Fazendo o produto escalar:

E =1 2 ∑ mi vG 2 + 1 2 ∑ mi |r ̇i| 2 + ∑ mi v⃗ G∙ r ̇i O último termo da expressão acima vale zero. Se não, vejamos:

∑ mi v⃗ G∙ r ̇i = ∑ mi v⃗ G ∙ (v⃗ i − v⃗ G) = v⃗ G∙ ∑ mi (v⃗ i − v⃗ G) = 0 pois, em virtude de (7), sabemos que:

∑ mi (v⃗ i− v⃗ G) = 0⃗ Assim, temos o Teorema de Koenig:

E = 1 2 m vG 2 + 1 2 ∑ mi |r ̇i| 2 (33) cujo enunciado pode ser assim colocado:

A energia cinética de um sistema material S é a soma da energia obtida considerando toda a massa do sistema concentrada no seu baricentro (energia de translação), com a energia de S em relação ao referencial baricêntrico (energia de rotação).

(24)

24

ANEXO

Este anexo representa uma complementação do problema abordado no primeiro exemplo com continuação no sexto exemplo. Consiste, principalmente, no cálculo da velocidade v⃗ G e da aceleração a⃗ G do centro de massa do sistema de dois corpos lá considerado.

Cálculo da velocidade do centro de massa

A velocidade absoluta da partícula era dada por: v

⃗ = ṡ τ⃗ − u̇ i sendo ṡ = M + m m cos θ u̇ Colocando o versor da rampa τ⃗ na base canônica, fica:

v

⃗ = ṡ (cos θ i − sin θ j ) − u̇ i A quantidade de movimento total do sistema é dada por:

Q

⃗⃗ = (M + m) v⃗ G = ∑ mi v⃗ i ∴ (M + m) vG j = M (− u̇ i ) + m v⃗ ∴ (M + m) vG j = M (− u̇ i ) + m [ ṡ (cos θ i − sin θ j ) − u̇ i ]

já que o baricentro G se movimenta apenas na vertical. Da equação vetorial acima resultam duas equações algébricas:

{ 0 = − M u̇ + m (ṡ cos θ − u̇) (M + m) vG = m (− ṡ sin θ) A primeira é uma identidade (verificar) e a segunda permite obter vG :

vG = − u̇ tan θ ∴ v⃗ G = − u̇ tan θ j

Cálculo da aceleração do centro de massa

A aceleração absoluta da partícula se obtém por derivação da velocidade: a⃗ = v⃗ ̇ = s̈ (cos θ i − sin θ j ) − ü i

sendo:

s̈ = M + m

m cos θ ü e ü =

m g sin θ cos θ

M + m sin2θ (como está no texto)

(25)

25

(M + m) a⃗ G = ∑ F⃗ i ou (M + m) a⃗ G = ∑ mi a⃗ i sendo ∑F⃗ i a resultante das forças externas. Portanto, na base canônica:

(M + m) aG j = M (− ü i ) + m a⃗ = M (− ü i ) + m [ s̈ (cos θ i − sin θ j ) − ü i ] já que o centro de massa está acelerado apenas na vertical. A equação vetorial acima dá lugar a duas equações escalares:

{ 0 = − M ü + m (s̈ cos θ − ü) (M + m) aG = m (− s̈ sin θ) A primeira equação é uma identidade e a segunda fornece:

aG = − ü tan θ ∴ a⃗ G = − ü tan θ j

Notemos que este resultado poderia ter sido diretamente, por derivação da velocidade: a⃗ G = v⃗ ̇G

Verificação da Primeira Lei de Newton para a partícula

Consideremos na figura 17 o diagrama de corpo livre para a partícula:

Figura 17

Como foi deduzido no texto principal, a reação N do prisma sobre a partícula vale: N = M ü

sin θ

A primeira lei de Newton, aplicada à partícula, se escreve como:

(26)

26

A equação vetorial acima produz duas identidades (verificar): { N sin θ = m (s̈ cos θ − ü)

N cos θ − m g = m (− s̈ sin θ)

Cálculo da reação de apoio

Finalmente, tendo aG , podemos achar a reação R do plano sobre o prisma, usando o T.M.B. mais uma vez, sob a forma:

(M + m) aG j = ∑ F⃗ i = − (M + m) g j + R j

∴ (M + m) (aG+ g) = R ∴ R = (M + m)(g − ü tan θ) Após algumas passagens algébricas, chegamos ao seguinte resultado:

R = M g (M + m) M + m sin2θ

Referências

Documentos relacionados

Este desafio nos exige uma nova postura frente às questões ambientais, significa tomar o meio ambiente como problema pedagógico, como práxis unificadora que favoreça

 Os principais objetivos que levam as empresas a implantarem um sistema de gestão e gerenciamento ambiental são: melhoria da imagem da empresa em relação a

a) Aplicação das provas objetivas. b) Divulgação dos gabaritos oficiais do Concurso Público. c) Listas de resultados do Concurso Público. Os recursos interpostos que não se

O método utilizado no trabalho foi o dedutivo, onde inicialmente foi realizada uma pesquisa de base teórica, como também de normas constitucionais referentes ao tema da

 Ambulância da marca Ford (viatura nº8), de matrícula XJ-23-45, dotada com sirene, luz rotativa e equipamento de comunicação (Emissor/Receptor com adaptador);.  Ambulância da

costumam ser as mais valorizadas. B) Uma soma de fatores, como fácil acesso à água, possibilidade de utilizar os rios como meio de transporte e o baixo custo imobiliário devido

Após 90 dias da semeadura (primeiro subcultivo), protocormos com um par de folíolos foram selecionadas visualmente, mantendo um padrão de altura de cerca de dois milímetros

insights into the effects of small obstacles on riverine habitat and fish community structure of two Iberian streams with different levels of impact from the