DIREITO PENAL III Prof. Carlos Humberto Fauaze
AULA 5
(PRECLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE ATÉ RIXA)
1) PERIGO DE CONTÁGIO VENÉREO
Art. 130 - Expor alguém, por meio de relações sexuais ou qualquer ato libidinoso, a contágio de moléstia venérea, de que sabe ou deve saber que está contaminado:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. § 1º - Se é intenção do agente transmitir a moléstia: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. § 2º - Somente se procede mediante representação.
2) PERIGO DE CONTÁGIO DE MOLÉSTIA GRAVE
Art. 131 - Praticar, com o fim de transmitir a outrem moléstia grave de que está contaminado, ato capaz de produzir o contágio:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
3) ART. 132 CPB – PERIGO PARA A VIDA OU A SAÚDE DE OUTREM
Considerações preliminares - Crime de perigo - natureza subsidiária;
- perigo contra pessoa determinada
Bem jurídico tutelado – Incolumidade pessoal – integridade fisiopsiquíca; Sujeitos
ativo – qualquer pessoa
passivo – qualquer pessoa determinada – crime comum. (difere dos art. 133,134 e 136)
dever de arrostar o perigo Tipo objetivo
- expor, colocar em perigo a vida ou a saúde de outrem; - perigo iminente, concreto, não se admitindo a presunção; - perigo não tolerável (análogo ao risco permitido)
- pode ocorrer por omissão (não fornecimento de EPI); - diferente de não cumprimento de normas de segurança; - independe do consentimento da vítima.
Tipo subjetivo
- Consciência e vontade (dolo) de criar o perigo; - Dolo direto ou eventual;
- o dolo não abrange o dano, apenas o perigo;
Exclusão do crime – dever de agir da vítima para evitar o perigo; Consumação e tentativa
- Consumação: surgimento efetivo do perigo - se resulta morte – homicídio culposo
-se resulta lesão corporal – crime de perigo (pena maior), exceto se na condução de veículo automotor. (princípio da subsidiariedade).
Classificação: - crime comum, - formal; - de perigo concreto; - doloso; - de ação livre; - instantâneo; - comissivo/omissivo; - simples; - subsidiário. Figura majorada.
- transporte de pessoas para prestação de serviços em estabelecimentos de qualquer natureza – Novas elementares (novo tipo).
Pena – Detenção - 3 meses a 1 ano. Ação penal – pública incondicionada.
4 ART. 133 CPB – ABANDONO DE INCAPAZ
Considerações preliminares - Crime de perigo - natureza subsidiária;
Bem jurídico tutelado – Segurança da pessoa humana, incapaz de defender-se dos riscos do abandono.
- função do tipo penal (garantia). Interpretação extensiva para limitar o alcance da norma.
Sujeitos
5.3.1)ativo – qualquer pessoa que tenha especial relação de assistência com a vítima (cuidado, guarda vigilância ou autoridade)
5.3.2) passivo – qualquer pessoa incapaz (pode ser do ponto de vista físico), não somente o menor, desde que guarde relação com o sujeito ativo
Tipo objetivo
- abandonar a pessoa incapaz, e não o dever de assisti-la; - abandono temporário ou definitivo, desde que por tempo juridicamente relevante;
- colocar em perigo, através do abandono, o incapaz de defender-se.
- a incapacidade é normativa; - conceitos:
- cuidado: pessoa capaz que acidentalmente torna-se incapaz;
- guarda: assistência a pessoas que não prescindem dela; - vigilância; zelo pela segurança. Sem o rigor da guarda; - autoridade: relativa a submissão a poder.
- art. 133 § 2º e art. 13 § 2º do CP: paradoxo?;
Tipo subjetivo
- Consciência e vontade (dolo) de criar o perigo; - Dolo direto ou eventual;
- o dolo deve abranger o dever de assistência; Consumação e tentativa
- Consumação: abandono efetivo - perigo concreto
-possibilidade de tentativa, embora de difícil configuração. Classificação:
- crime próprio, - formal;
- de perigo concreto; - doloso;
- de ação livre; - instantâneo; - comissivo/omissivo; - simples; - subsidiário. Figuras qualificadas. - Se resulta morte, ou - lesão corporal Majoração - Local ermo;
- praticado por ascendente, descendente, cônjuge, irmão ou curador. Ação penal – pública incondicionada.
Pena – Detenção - 6 meses a 3 anos.
5 ART. 134 CPB – EXPOR OU ABANDONAR RECÉM-NASCIDO, PARA OCULTAR DESONRA PRÓPRIA
Considerações preliminares
- Crime de perigo - natureza subsidiária; Bem jurídico tutelado – Segurança do recém-nascido
Sujeitos
5.3.1)ativo – mãe (desonra própria), mulher honrada (?). Pai adúltero, incestuoso?
5.3.2) passivo – recém-nascido. Conceito (?) um mês (?). necessidade de que o parto não seja largamente
conhecido.
Tipo objetivo
- expor (conduta comissiva, transportar); - abandonar (conduta omissiva);
- colocar em perigo, através do abandono, o recém-nascido)
Tipo subjetivo
- Consciência e vontade (dolo) de criar o perigo; - elemento subjetivo especial (ocultar desonra própria); - dolo eventual de difícil caracterização, por conta do especial fim de agir;
Consumação e tentativa
- Consumação: abandono efetivo - perigo concreto
-possibilidade de tentativa, desde que caracterizado o iter criminis Classificação: - crime próprio, - formal; - de perigo concreto; - doloso; - de ação livre; - instantâneo; - comissivo/omissivo; - simples; - subsidiário. Figuras qualificadas. - Se resulta morte, ou - lesão corporal Majoração - Local ermo;
- praticado por ascendente, descendente, cônjuge, irmão ou curador.
Ação penal – pública incondicionada. Pena – Detenção - 6 meses a 2 anos.
6 ART. 135 CPB – OMISSÃO DE SOCORRO
Considerações preliminares
- a omissão como evento da cadeia causal (ausência de causalidade fática).
- tipos de delito omissivo: próprio e impróprio; - considerações obre o crime omissivo próprio:
- não é necessária para configuração a ocorrência de dano.
Bem jurídico tutelado – proteção da vida e da saúde por meio da solidariedade humana (um dever geral).
Sujeitos
7.3.1)ativo – qualquer pessoa (dever geral). Necessidade de presença no local
7.3.2) passivo
– criança abandonada ou extraviada; - pessoa inválida ou ferida, desamparada, - qualquer pessoa, em grave e iminente perigo.
Tipo objetivo
- deixar de fazer o que a norma determina;
- dever de assistência direto ou indireto (comunicar à autoridade);
- inexistência de risco pessoal (físico e não patrimonial ou moral);
- ausência de relações jurídicas especiais; Tipo subjetivo
- Consciência e vontade (dolo) - consciência do perigo e vontade de omitir;
- possibilidade de dolo eventual;
- dolo de perigo que exclui o dolo de dano. Concurso de pessoas
- várias pessoas que podem prestar socorro e se omitem – cada uma comete crime autônomo;
- várias pessoas podem prestar socorro e que deliberam (liame subjetivo) por não fazê-lo – co-autoria;
- pessoa que, sem poder prestar socorro, ou sem o dever de faze-lo, instiga outrem a omitir-se – participação. Consumação e tentativa
- Consumação: no local e momento em que a ação devia e podia ser praticada
-não existe possibilidade de tentativa, por se tratar de delito unissubsistente e não exigir resultado naturalístico Classificação:
- crime omissivo próprio, - comum
- instantâneo;
- de perigo concreto; - doloso;
Figuras majoradas (aumento de pena). - Se resulta morte, ou - lesão corporal
- necessidade de relação de causalidade – o dever é de agir e não de evitar o dano.
Ação penal – pública incondicionada.
Pena – Detenção – 1 a 6 meses ou multa, podendo ser majorada à metade nos casos previstos.
7) ART. 136 CPB – MAUS TRATOS
Considerações preliminares
- Coerção a castigos imoderados, comuns na idade média. Bem jurídico tutelado
– Vida e saúde humanas – integridade fisiopsiquíca, especialmente daqueles submetidos a autoridade, guarda ou vigilância para fins de educação, ensino, tratamento ou custódia.
Sujeitos
2.3.1)ativo – quem se encontra na condição de exercer a autoridade, guarda ou vigilância (vide os conceitos relativos ao crime de abandono de incapaz – CPB art. 133), para fins de educação, ensino, tratamento ou custódia. CRIME PRÓPRIO.
- Educação: atividade destinada a aperfeiçoar a capacidade individual; - Ensino: ministrar conhecimentos visando a formação básica cultural; - Tratamento: atividade voltada a propiciar cura ou subsistência;
-Custódia: detenção de pessoa para fim autorizado ou determinado em lei.
7.3.2) passivo – pessoa que se encontra subordinada para fins de educação, ensino, tratamento ou custódia. Qualquer outra subordinação ou submissão não configura o delito.
- A esposa ou companheira, marido ou companheiro, não podem ser sujeito passivo de delito, por não se encontrar em relação de submissão ou autoridade em relação ao marido. Vide Lei Maria da Penha (Lei 11.340/2006).
7.3.3) Elementar especial: relação subordinativa entre sujeitos ativo e passivo.
- Elementar típica especializante que torna o crime próprio. - A ausência da elementar acarreta a atipicidade relativa Tipo objetivo – várias condutas tipificadas
- privar de alimentação ( necessária apenas a privação relativa, pois a absoluta poderá configurar modo de execução do homicídio);
- privar de cuidados indispensáveis (cuidados mínimos necessários à preservação da vida e da saúde – cuidados afetivos, materiais ou morais);
- sujeitar a trabalho excessivo ou inadequado (trabalho excessivo é aquele que ultrapassa o limita das forças ou da capacidade das vítimas ou cause cansaço insuportável; trabalho inadequado é aquele
incompatível com as condições físico-orgânicas da vítima) – O REFERENCIAL É A VÍTIMA.
- abusar de meios de correção ou disciplinares (castigos excessivos que coloquem em risco a vida ou a saúde da vítima. A correção é justa, porém o excesso é criminalizado. Se a correção for injusta, ocorre a atipicidade relativa). Parte da doutrina entende haver graus de liberdade distintos, no que tange à possibilidade de correção, entre pais e tutores, curadores , professores etc.
Tipo subjetivo
- Consciência e vontade de praticar o fato material; - Necessidade da consciência do abuso;
- Dolo direto ou eventual;
- o dolo não abrange o dano, apenas o perigo; Consumação e tentativa
- Consumação: surgimento efetivo do perigo
- tentativa: possível, exceto quando se trata de figuras que configuram habitualidade – provação de alimentos e privação de cuidados
indispensáveis. Classificação:
- crime próprio, - formal;
- de perigo concreto; - doloso;
- de ação livre;
- instantâneo ou permanente (privação de alimentos, privação de
cuidados indispensáveis e sujeição a trabalho excessivo ou inadequado); - comissivo/omissivo;
- simples.
Formas qualificadas.
- Se resulta lesão corporal de natureza grave (reclusão de 1 a 4 anos); - Se resulta morte (reclusão de 4 a 12 anos).
- Em qualquer caso, o resultado mais gravoso deve estar na esfera de previsão do agente (art. 19 CPB)
Figura majorada
- crime praticado contra menor de 14 anos (+ 1/3). Pena – Detenção - 2 meses a 1 ano ou multa (figura simples). Ação penal – pública incondicionada.
8 ART. 137 CPB – RIXA
Considerações preliminares
- Crime autônomo (sistema da autonomia) apenas no código de 1940)
Bem jurídico tutelado – Integridade fisiopsiquíca (posição geográfica do tipo penal), secundariamente, pode-se considerar a rixa um crime contra a
incolumidade pública.
Sujeitos ativo/passivo – qualquer pessoa.
- Crime plurissubjetivo, onde os rixosos são, reciprocamente, sujeitos ativo e passivo das condutas uns dos outros. Ninguém pode ser, ao mesmo tempo, sujeito ativo e passivo da mesma conduta, por isso os rixosos são sujeitos ativo da própria conduta, e sujeito passivo das condutas dos demais.
- Necessidade de pelo menos 3 rixosos, podendo a participação de menores ser computada para fins da configuração do delito. - Desnecessidade de identificação dos rixosos para configurar o número mínimo de participante.
- Quem participar para separar os rixosos não viola o tipo penal, desde que o faça nos limites necessários a tanto.
Tipo objetivo
- agressões recíprocas generalizadas;
- Pode haver rixa sem contato pessoal (arremesso de paus, pedras etc.);
- Desnecessidade de configuração de lesões nos rixosos.
Tipo subjetivo
- Consciência e vontade (dolo) de participar da rixa; - Dolo direto;
- Não há previsão da modalidade culposa; Consumação e tentativa
- Consuma-se com a eclosão das agressões;
- Difícil configuração de tentativa, por se tratar de delito ex improviso Classificação: - crime comum, - de concurso necessário; - de perigo abstrato; - doloso; - de ação livre; - instantâneo;
- plurissubsistente (conduto desenvolvida em vários atos) - comissivo;
Figuras qualificadas.
- Se resulta morte, ou
- lesão corporal. (detenção de 6 meses a 2 anos)
- qualificam a rixa as lesões ou morte mesmo de quem não participava da rixa.
- responde pelas lesões até mesmo o lesionado, desde que participante da rixa.
- Se identificado o autor do homicídio ou da lesão, este responde em concurso material com a rixa qualificada; enquanto os demais respondem apenas pela rixa qualificada.
Ação penal – pública incondicionada. Pena – Detenção – 15 dias a 2 meses.