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Contribuição do setor de confecções para o desenvolvimento econômico do município de Sarandi/RS

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO

GRANDE DO SUL

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL E GESTÃO DE SISTEMAS

PRODUTIVOS PATRÍCIA KISCHNER

CONTRIBUIÇÃO DO SETOR DE CONFECÇÕES PARA O

DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO DO MUNICÍPIO DE SARANDI/RS

IJUÍ, RS 2020

(2)

PATRICIA KISCHNER

CONTRIBUIÇÃO DO SETOR DE CONFECÇÕES PARA O

DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO DO MUNICÍPIO DE SARANDI/RS

Dissertação apresentado ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Desenvolvimento Regional, na linha de pesquisa Desenvolvimento Territorial e Gestão de Sistemas Produtivo, da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ, RS), como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento Regional.

Orientador: Prof. Dr. David Basso

IJUÍ, RS 2020

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Catalogação na Publicação

Ginamara de Oliveira Lima CRB10/1204 K61c

Kischner, Patrícia.

Contribuição do setor de confecções para o desenvolvimento econômico do município de Sarandi/RS / Patrícia Kischner. – Ijuí, 2020.

111 f. ; il. ; 30 cm.

Dissertação (mestrado) – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Campus Ijuí). Desenvolvimento Regional.

“Orientador: Prof. Dr. David Basso. ”.

1. Aglomerados produtivos. 2. Setor de confecções. 3. Desenvolvimento local. I. Basso, David. II. Título.

CDU: 631.145

391

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UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional – Mestrado

A Banca Examinadora, abaixo assinada, aprova a Dissertação

“CONTRIBUIÇÃO DO SETOR DE CONFECÇÕES PARA O DESENVOLVIMENTO DO MUNICÍPIO DE SARANDI/RS”

elaborada por

PATRÍCIA KISCHNER

como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Desenvolvimento Regional

Banca Examinadora:

Dr. David Basso – (PPGDR/UNIJUÍ) _________________________________________________ Dr. Airton Adelar Mueller– (PPGDR/UNIJUÍ) _________________________________________ Dr. ª Tanice Andreatta – (PPGAGR/UFSM) ____________________________________________

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AGRADECIMENTOS

Ao concluir esta Dissertação agradeço todas as pessoas que direta ou indiretamente contribuíram ao longo desses dois anos para que o sonho de cursar o Mestrado se tornasse realidade. Foi um período intenso de muito estudo, dedicação, abdicação, crescimento pessoal e profissional que me possibilitou este momento.

Ao meu companheiro Celio, agradeço todo o carinho, paciência e dedicação durante este período e, principalmente por acreditar neste sonho contribuindo incessantemente para que pudesse se tornar realidade. Sem tua perseverança e apoio nada disso seria possível, o seu amor e carinho tornaram os meus dias mais alegres e leves.

Ao meu orientador, David Basso, um agradecimento especial cheio de admiração. Primeiramente por me aceitar como orientanda, por toda a calma e paciência quando estava ligeiramente “apavorada” com algumas situações que surgiram no decorrer do Mestrado. Durante estes dois anos somente ouvi palavras de apoio, incentivo e confiança, sempre disposto a colaborar inclusive em temáticas não relacionados ao mestrado, és um exemplo a ser seguindo.

A todos os professores do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional da Unijuí, referências de dedicação e comprometimento. Ao José Valdemir Muenchen que se dispôs de maneira admirável a auxiliar na realização deste estudo, sempre à disposição em todos os momentos que o procurei.

À Tanice Andreatta por ter aceitado fazer parte da banca de avaliação deste trabalho. Você sempre será para mim uma importante referência e também fonte de inspiração. Agradeço por todos os ensinamentos, a disponibilidade e o carinho.

Aos colegas da 17ª turma de Mestrado em Desenvolvimento Regional da Unijuí por todos os momentos compartilhados, pelas angústias, anseios, dúvidas, aprendizado e amadurecimento. Em especial, a amiga Cristiane, pela amizade construída nestes dois anos. Conviver com você e dividir a experiência do Mestrado deixou a caminhada mais leve, desejo que está amizade permaneça no decorrer das nossas vidas.

À Unijuí e a CAPES pela concessão da bolsa de estudo que possibilitou a realização deste curso. A todos os atores sociais de Sarandi/RS que se disponibilizaram a participar e contribuir para a realização desta pesquisa.

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“Aprender é a única coisa de que a mente nunca se cansa, nunca tem medo e nunca se arrepende.”

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RESUMO

A organização espacial produtiva é considerada elemento capaz de gerar economias externas que influenciam positivamente o desenvolvimento de distintas regiões, dentre as quais se destacam os aglomerados produtivos de pequenas e médias empresas. Em tais configurações, as relações estabelecidas entre os diferentes agentes tendem a resultar em interação e aprendizagem organizacional facilitando o acesso às novas tecnologias e processos de inovação. A partir deste enfoque, esta dissertação discute à dinâmica de industrialização do município de Sarandi/RS, enfatizando a contribuição do setor de confecções para o desenvolvimento econômico daquele local. O objetivo principal do estudo consiste em analisar a contribuição das empresas do aglomerado industrial de confecções no desenvolvimento econômico do município. A abordagem dos Distritos Industriais Marshallianos e a formação de Sistemas Produtivos e Inovativos Locais (SPILs) constituíram a base teórico-conceitual para a análise dos resultados. Trata-se de uma pesquisa explicativa, com abordagem qualitativa dos dados coletados através de entrevistas, documentos e revisão bibliográfica. Os resultados obtidos a partir da pesquisa realizada no período de março a setembro de 2019, apontam que a indústria de confecções de Sarandi/RS desempenha importante função no processo de desenvolvimento econômico local, porém, mesmo tratando-se de uma atividade produtiva com certo grau de especialização, não se evidenciam relações de cooperação e de intercâmbio de informações entre os atores sociais. Dentre as conclusões do estudo, destaca-se que o conjunto de empresas em análise constitui-se apenas em uma aglomeração territorial em torno de uma atividade produtiva que não apresenta economias externas inerentes a atividade. Logo, o desafio é transformar este incipiente agrupamento territorial de firmas numa aglomeração produtiva com características de um SPILs. Assim, entende-se que as contribuições aqui apresentadas podem possibilitar avanços, estabelecer novas fronteiras e abrir novas possibilidades de pesquisas.

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ABSTRACT

The productive spatial organization is considered an element capable of generating external economies that positively influence the development of different regions, among which are the productive clusters of small and medium-sized companies. In such configurations, the relationships established between the different agents tend to result in interaction and organizational learning, facilitating access to new technologies and innovation processes. Based on this focus, this dissertation discusses the dynamics of industrialization in the municipality of Sarandi / RS, emphasizing the contribution of the clothing sector to the development economic of that place. The main objective of the study is to analyze the contribution of companies in the industrial cluster of clothing in the development economic of the municipality. The Marshallian Industrial Districts approach and the formation of Local Productive and Innovative Systems (SPILs) constituted the theoretical-conceptual basis for the analysis of the results. It is an explanatory research, with a qualitative approach to the data collected through interviews, documents and bibliographic review. The results obtained from the research carried out from March to September 2019, indicate that the clothing industry in Sarandi / RS plays an important role in the local development economic process, however, even though it is a productive activity with a certain degree of specialization, cooperation and information exchange relationships between social actors are not evident. Among the conclusions of the study, it is noteworthy that the group of companies under analysis is constituted only in a territorial agglomeration around a productive activity that does not present external economies inherent to the activity. Therefore, the challenge is to transform this fledgling territorial group of firms into a productive agglomeration with the characteristics of SPILs. Thus, it is understood that the contributions presented here can enable advances, establish new frontiers and open new possibilities for research.

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 — Divisão dos entrevistados de acordo com o grupo relacionado... 48 Quadro 2 — Classificação dos entrevistados conforme função desempenhada ... 49 Quadro 3 — Cálculo do Valor Agregado e da Renda na indústria confecções tipo malharia tear eletrônico de Sarandi-RS (2018) ... 72 Quadro 4 — Cálculo do Valor Agregado e da Renda na indústria confecções tipo malharia com tear mecânico de Sarandi/RS (2018) ... 75 Quadro 5 — Cálculo do Valor Agregado e da Renda da indústria de confecções tipo

camisaria de Sarandi/RS (2018) ... 78 Quadro 6 — Cálculo do Valor Agregado e da Renda na indústria de confecções tipo

enxoval de Sarandi/RS (2018) ... 80 Quadro 7 — Cálculo do Valor Agregado e da Renda na indústria de confecções tipo facção de Sarandi/RS (2018) ... 83 Quadro 8 — Cálculo do Valor Agregado e da Renda da indústria de confecções tipo

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1— Etapas para a Análise de Situações de Desenvolvimento (ASD) ... 46 Figura 2 — Mapa situacional do município de Sarandi/RS ... 56 Figura 3 — Distribuição da população urbana e rural de Sarandi/RS no período de 1980 a 2017 ... 57 Figura 4 — Número de habitantes dos municípios de Sarandi e Palmeira das Missões, no Rio Grande do Sul, no período de 2000 a 2017...58 Figura 5 — Relação entre Valor Agregado e Unidades de Trabalho utilizadas pelos

diferentes tipos de empresas de confecções ... 87 Figura 6 — Relação entre Renda e Unidades de Trabalho Familiar nos diferentes tipos de empresas de confecções ... 89

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ACISAR — Associação Comercial Industrial Serviços e Agronegócio APLs — Arranjos Produtivos Locais

ASD — Análise de Situações de Desenvolvimento CDL — Conselho de Diretores Lojistas

CEPAL — Comissão Econômica para a América Latina COREDES — Conselhos Regionais de Desenvolvimento FEISA — Feira da Indústria de Sarandi

IBGE — Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IDESE — Índice de Desenvolvimento Socioeconômico IDHM — Índice de Desenvolvimento Humano Municipal MET — Ministério do Trabalho e Emprego

P&D — Pesquisa e Desenvolvimento PMEs — Pequenas e Médias Empresas PIB — Produto Interno Bruto

REDESIST — Rede de Pesquisa em Sistemas Produtivos e Inovativos Locais SEBRAE — Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas SENAI — Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial

SI — Sistema de Inovação

SNI — Sistema Nacional de Inovação

SPILs — Sistemas Produtivos e Inovativos Locais SRI — Sistema Regional de Inovação

UNIJUI — Universidade Regional do Estado do Rio Grande do Sul UPF — Universidade de Passo Fundo

UFRJ — Universidade Federal do Rio de Janeiro UTF — Unidade de Trabalho Familiar

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 22

1 DELINEAMENTO TEÓRICO CONCEITUAL ... 26

1.1 AGLOMERAÇÕES PRODUTIVAS LOCAIS E A FORMAÇÃO DOS DISTRITOS INDUSTRIAIS MARSHALLIANOS ... 26

1.2 ABORDAGEM DA TEORIA ECONÔMICA EVOLUCIONÁRIA ... 30

1.2.1 Sistemas de Inovação e a formação dos Sistemas Produtivos e Inovativos Locais ... 35

2 DELINEAMENTO METODOLÓGICO ... 41

2.1 PRESSUPOSTOS ONTOLÓGICOS, EPISTEMOLÓGICOS E METODOLÓGICOS ... 41

2.2 ABORDAGEM DA PESQUISA: ANÁLISE DE SITUAÇÕES DE DESENVOLVIMENTO ... 42

2.3 PROCEDIMENTOS DA PESQUISA ... 47

2.3.1 Classificação e delineamento ... 47

2.3.2 Sujeitos da pesquisa ... 48

2.3.3 Coleta de dados ... 48

2.3.4 Análise e interpretação dos dados ... 49

3 DESENVOLVIMENTO E O PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE SARANDI/RS ... 50

3.1 DO PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO A DESCONCENTRAÇÃO INDUSTRIAL NO BRASIL ... 50

3.2 ESPECIALIZAÇÃO TERRITORIAL PRODUTIVA NA INDÚSTRIA DE CONFECÇÕES: O CASO DE SARANDI/RS ... 55

3.3 PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO DE SARANDI/RS ... 58

3.3.1 Crise da agricultura nacional e o surgimento das primeiras empresas (1939 - 1980) ... 59

3.3.2 Surgimento e consolidação das indústrias comunitárias (1980 – 2005) ... 60

3.3.3 Diversificação do Parque Industrial e os impactos da crise econômica nacional (2005 – 2018) ... 65 4 DIFERENCIAÇÃO SOCIAL E CONTRIBUIÇÃO DA INDÚSTRIA DE CONFECÇÕES DE SARANDI/RS PARA O DESENVOLVIMENTO LOCAL 69

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4.1 CLASSIFICAÇÃO DOS DIFERENTES TIPOS DE EMPRESAS DO

AGLOMERADO INDUSTRIAL DE CONFECÇÕES DE SARANDI/RS... 69

4.1.1 Indústria de confecções tipo malharia com tear eletrônico ... 70

4.1.2 Indústria de confecções tipo malharia tear com mecânico ... 74

4.1.3 Indústria de confecções tipo camisaria ... 76

4.1.4 Indústria de confecções tipo enxoval ... 79

4.1.5 Indústria de confecções tipo facção ... 82

4.1.6 Indústria de confecções tipo uniforme ... 84

4.2 CONTRIBUIÇÃO DOS DIFERENTES TIPOS DE EMPRESAS PARA O DESENVOLVIMENTO LOCAL ... 87

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 94

REFERÊNCIAS ... 97

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INTRODUÇÃO

A organização espacial produtiva é considerada elemento capaz de gerar economias externas que influenciam positivamente o desenvolvimento de distintas regiões. A proximidade geográfica, conciliada pelo contexto social, estimula o compartilhamento do conhecimento e tem o papel de fomentar os processos de aprendizado em âmbito local e incentivar atividades produtivas e inovativas nessas aglomerações (CASSIOLATO; SZAPIRO, 2003; SUZIGAN et al., 2004; GARCIA et al., 2015, COSTA; GARCIA, 2018).

A análise das possibilidades de desenvolvimento a partir das condições locais pode ser amparada teoricamente na perspectiva neoschumpeteriana, proposta inicialmente por Freeman (1982; 1987) e Lundvall (2016) a partir do enfoque de Sistemas de Inovação (SI). Freeman (1982; 1987), enfatizou a relação entre inovação e comércio internacional e Lundvall (2016), destacou a formação de redes e aprendizagem interativa em nível nacional. Referindo-se assim, a esfera micro onde a inovação é percebida como resultado das relações estabelecidas entre os diferentes atores econômicos.

Estas abordagens sugerem a inovação como elemento fundamental na engrenagem da economia capitalista, resultante da aprendizagem advinda da interação entre os diferentes atores interorganizacionais. Logo, a formação de aglomerações produtivas territoriais não depende apenas do conjunto de empresas, mas também da forma como elas interagem, entre si e com outros agentes, bem como as distintas formas pelas quais adquirem, exploram e difundem o conhecimento (LUNDVALL, 2016).

Mytelka e Farinelli (2000) destacam que o enfoque de sistemas de inovação rompe com algumas abordagens usuais da inovação. Esta deixa de ser entendida apenas como processo de mudança radical na fronteira tecnológica, realizada por grandes empresas. Reconhece-se que está compreende mais do que apenas a pesquisa e desenvolvimento (P&D), ao mesmo tempo, em que se realça o papel das atividades realizadas por pequenas e médias empresas (PMEs).

No Brasil, o debate sobre as aglomerações produtivas, centraram na análise dos Arranjos e Sistemas Produtivos e Inovativos Locais (ASPILs) (CASSIOLATO; SZAPIRO, 2003; LASTRES; CASSIOLATO, 2005). Termo amplamente discutido

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pela RedeSist1, como instrumento para compreender e interpretar o desenvolvimento industrial e tecnológico de diferentes regiões ao definir a produção e inovação como processos sistêmicos, que resultam da articulação, da assimilação e do uso de conhecimentos por parte dos distintos atores (MATOS et al. 2015).

Lemos (2002) aponta o estímulo à inovação, como um dos principais objetivos enfocados na promoção do desenvolvimento de arranjos e sistemas produtivos locais de empresas de pequeno porte. É nesse contexto que a dimensão local ganha relevância, de maneira que as interações e os diferentes modos de aprendizado criam distintas capacitações que conjuntamente definem as especificidades de cada região. E, são fundamentais para a criação e implantação de processos produtivos com certo grau de inovação, especialmente em regiões periféricas que apresentam diferentes realidades socioeconômicas.

Dessa maneira, infere-se que estudar a dinâmica local de um processo de desenvolvimento, especialmente a participação do setor industrial, tem se tornado elemento fundamental para a compreensão de diferentes níveis de desenvolvimento em territórios com características socioeconômicas semelhantes.

Considerando a relevância que os aglomerados produtivos localizados em diferentes regiões exercem sobre a dinâmica socioeconômica local, o presente estudo centra-se a análise no município de Sarandi/RS, que a partir da década de 1990 tem apresentado uma trajetória de desenvolvimento diferenciada. O resultado da interação de seus atores sociais, econômicos e institucionais que em conjunto possibilitaram a implantação de diversas iniciativas socioeconômicas resultaram na criação de um aglomerado industrial do setor de confecções.

Sarandi/RS possui 35 empresas de confecções, que geram aproximadamente 440 empregos diretos. Do contexto geral das firmas industriais instaladas no município, o setor de confecções representa em torno de 25% dos empreendimentos e em torno de 22% dos postos de trabalho gerados (MTE, 2018). Assim, infere-se que Sarandi/RS

1 A Rede de Pesquisa em Sistemas Produtivos e Inovativos Locais (RedeSist), do Instituto de Economia

da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), conceituou o termo ASPILs como: aglomerações produtivas com fortes e fracas relações entre os atores locais participantes (LASTRES; CASSIOLATO, 2005). Em termos gerais este enfoque conceitual e analítico permite um melhor entendimento da maneira como os processos de aquisição e uso de conhecimentos ocorrem e de que forma as capacitações produtivas e inovativas são geradas e se desenvolvem no âmbito local. Essa abordagem conceitual está diretamente relacionada ao enfoque do SNI, o núcleo central de pesquisadores desta rede começou a trabalhar com o referido conceito nos anos 1980, quando ele ainda estava sendo criado e desenvolvido na Inglaterra, na Dinamarca e no Brasil.

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apresenta um aglomerado produtivo com elevada representatividade na formação de emprego e renda local.

A escolha desta realidade empírica parte do entendimento de que a compreensão de pequenos aglomerados empresariais e institucionais, além de possibilitar a identificação de diagnósticos precisos de determinada atividade produtiva, permite a superação do enfoque tradicional voltado para análise estatística de setores industriais, que somente identifica problemas gerais e soluções genéricas. Considerando a relevância do setor de confecções para o desenvolvimento de Sarandi/RS, o estudo em tese está norteado pela seguinte pergunta: como as empresas que integram a aglomeração industrial do setor de confecções do município de Sarandi/RS contribuem para o desenvolvimento econômico local?

O objetivo principal da pesquisa foi analisar a contribuição das empresas do aglomerado industrial de confecções no desenvolvimento econômico local. A partir do objetivo central, foram delineados três objetivos específicos. O primeiro buscou contextualizar a dinâmica de desenvolvimento econômico do município a luz da experiência brasileira. O segundo procurou analisar as categorias de empresas presentes no aglomerado industrial e as relações estabelecidas entre elas. E, o terceiro consistiu em identificar o desempenho econômico das principais categorias de firmas presentes no aglomerado.

Em termos metodológicos, utilizou-se neste estudo de dados primários e secundários. A coleta de dados primários envolveu basicamente observações diretas e entrevistas realizadas com informantes chave. Os dados secundários foram coletados em livros, registros, artigos científicos, dentre outras fontes. Os procedimentos metodológicos orientadores da pesquisa estão descritos detalhadamente no capítulo 2. O estudo está estruturado em quatro capítulos, além desta introdução e da conclusão. No capítulo 1 abordam-se as teorias e conceitos que dão suporte à análise dos dados primários. Selecionou-se duas principais perspectivas teóricas e conceituais para auxiliar na compreensão do objeto de pesquisa: 1) Aglomerações Produtivas e Distrito Industrial Marshalliano; 2) Abordagem neoschumpteriana dos Sistemas Produtivos e Inovativos Locais. O capítulo 2 apresenta os delineamentos metodológicos utilizados.

O capítulo 3 contextualiza o processo de industrialização de Sarandi/RS a partir da experiência brasileira. Inicialmente destacam-se as principais características da reconfiguração industrial do país, a partir do enfoque de industrialização latino

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americano. Após é descrito o contexto de industrialização local, apontando as principais características socioeconômicas que configuram o cenário atual da atividade industrial no município.

No capítulo 4 apresenta-se e discutem-se os diferentes tipos de empresas do aglomerado industrial de confecções de Sarandi/RS, a contribuição destas firmas para o desenvolvimento e as perspectivas de crescimento e expansão da atividade. A caracterização está baseada no conjunto de entrevistas com os responsáveis pelas firmas (proprietários e/ou gerentes), em que buscou-se obter informações qualificadas relativas à: estrutura e a capacidade de reprodução, origem e forma de utilização dos diferentes fatores de produção em seus processos, porte do empreendimento comparativamente aos demais concorrentes, bem como do mercado consumidor. A contribuição para o desenvolvimento local e capacidade de reprodução social são avaliados a partir dos resultados referentes ao valor agregado, a renda e o número médio de unidades de trabalho de cada um dos tipos em análise.

Espera-se que os resultados desta pesquisa possam contribuir para o avanço dos estudos acadêmicos sobre operacionalização e relevância das aglomerações produtivas de pequenas empresas enquanto possibilidade de desenvolvimento socioeconômico de diferentes territórios, em especial de regiões periféricas, evidenciando a experiência deste município. Além de fornecer subsídios para que as instituições e agentes locais possam se utilizar para prospectar e implementar ações voltadas à qualificação do processo de desenvolvimento local.

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1 DELINEAMENTO TEÓRICO CONCEITUAL

Neste capítulo são abordados temas e conceitos referentes às categorias sociais e econômicas relacionadas ao objeto de pesquisa. Para compreender e interpretar a realidade em que está inserido, considera-se relevante discorrer sobre a formação de aglomerações produtivas locais com enfoque na perspectiva clássica dos Distritos Industriais Marshallianos, bem como sobre abordagem da formação de Sistemas Produtivos e Inovativos Locais (SPILs) alicerçando-se para isso na abordagem neoschumpeteriana.

1.1 AGLOMERAÇÕES PRODUTIVAS LOCAIS E A FORMAÇÃO DOS DISTRITOS INDUSTRIAIS MARSHALLIANOS

A formação de aglomerações produtivas de pequenas e médias empresas é amplamente discutida como fator de aceleração do processo de desenvolvimento socioeconômico de distintos territórios. O interesse por tal configuração organizacional tem como marco inicial os estudos realizados por Marshall (1890) sobre a formação de um fenômeno de concentração de empresas especializadas em ramo de produção, nos arredores das grandes indústrias nas cidades inglesas, no final do Século XIX, conceituado pelo referido autor como distrito industrial.

O tipo de sistema proposto por Marshall era, como aponta Parsons (1931, p. 123-124), “[...] caracterizado pela predominância de firmas concorrentes relativamente pequenas, cada uma sob a liderança de um homem de negócios empreendedor e inventivo que, assumindo o risco, faz experiências com várias combinações de fatores produtivos”. A forma predominante de relações de trabalho nessas firmas era a assalariada, na qual “[...] o planejamento e organização dos negócios, sua administração e riscos são assumidos por um conjunto de pessoas, enquanto o trabalho manual requerido é feito por trabalhadores contratados” (MARSHALL, 1982 p.617). Nesta concepção, distrito industrial não é resultado apenas de uma mera aglomeração de pequenas empresas, mas um sistema integrado formado por empresários e instituições que possam mesclar as firmas à comunidade local. As firmas, mesmo sendo independentes, negociam conjuntamente preços de matérias primas e a inserção do produto no mercado. Criada a atmosfera industrial, novas ideias são

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disseminadas, forma-se uma base de quem comunga o mesmo ideal no distrito (MARSHALL, 1997).

Para Marshall três características principais explicaram a formação destas aglomerações industriais no território inglês: primeiro, a existência concentrada de mão de obra qualificada com habilidades específicas ao setor; segundo, a presença de fornecedores especializados que garantem baixos custos e fácil acesso a produtos e serviços; e, em terceiro lugar, a ocorrência de transbordamentos de conhecimentos, chamados de spillovers, resultantes da rápida difusão de conhecimentos proveniente da proximidade entre os agentes (MARSHALL, 1997; SCHMITZ, 1997).

Marshall (1997) referiu-se a tais ganhos como “economias externas” e as compreende como particularmente relevantes para as pequenas firmas. Krugman (1998, p.50) pontua que estes ganhos são decorrentes: da possibilidade oferecida por um grande mercado local de viabilizar a existência de fornecedores de insumos com eficiência de escala; das vantagens decorrentes de uma oferta abundante de mão de obra; da venda de seus produtos no mercado internacional; e da troca de informações técnicas e comerciais que ocorre quando empresas do mesmo setor se situam próximas umas das outras. Sob esta perspectiva, as firmas não se beneficiam apenas da redução de custos de transporte e de outras transações, mas também da interação dos diferentes atores locais.

Dentre as várias características esses novos sistemas produtivos têm oportunizado o surgimento de vasto número de pequenas e médias empresas, tanto em regiões industrializadas quanto nas menos desenvolvidas, ligadas ou controladas por grandes corporações, ou operando independentemente, atuando em nichos de mercado e até concorrendo nos mesmos mercados das grandes empresas (SENGENBERGER; PYKE, 1990). Nesta linha de raciocínio, Becattini (1989, p. 262) destaca que “as vantagens da produção em grande escala, podem igualmente ser obtidas por uma multidão de empresas de pequeno porte, concentradas num certo território, especializadas numa fase do processo de produção e inseridas num único mercado de trabalho local”.

Apesar de não ser o único mecanismo de desenvolvimento local, a formação de aglomerações produtivas territoriais tem estado no centro de um debate teórico e empírico interessante que começou no final de 1970 e permanece até o momento atual. Embora seus benefícios fossem conhecidos desde o final do século XIX, foi somente na década de 70 que o conceito passou a ser empregado de forma sistemática na

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interpretação dos movimentos de crescimento e desenvolvimento regional. Isso foi resultado de diversos estudos empíricos que indicaram a proximidade geográfica como elemento fundamental para a formação de aglomerados de firmas eficientes e competitivas, a partir da segunda metade do século XX. Este é o caso das experiências exitosas dos distritos industriais da chamada Terceira Itália, dos sistemas produtivos locais na França, na Alemanha e no Reino Unido, do Vale do Silício, nos EUA, ou das redes de empresas, no Japão, na Coréia e em Taiwan (AMATO NETO, 2000).

Nas palavras de Sengenberger e Pyke (1990, p. 1): enquanto as economias de todo o mundo no final dos anos 1970 e 1980 estavam em recessão e estagnação, frequentemente acompanhada por deteriorações graves nas condições de trabalho e sociais, o aumento do desemprego e insegurança, algumas localidades destacaram-se como exibindo uma notável resiliência e até mesmo crescimento. Eles estavam envolvidos em uma variedade de indústrias, e incluiu não só os setores avançados, mas também, de trabalho intensivo mais tradicionais e, assim, um desafio para aqueles que têm argumentado que essas atividades econômicas já não podem ter sucesso em países industrializados e com altos salários. [...]Muitas dessas localidades apresentaram semelhanças suficientes em seu modo de operação econômica que lhes permitam ser classificados como “distritos industriais”.

Na interpretação de Becattini (1994, p. 20) o distrito industrial é “ uma entidade socioterritorial caracterizada pela presença ativa de uma comunidade de pessoas e de uma população de empresas em um determinado espaço geográfico e histórico”. Para o autor, tende-se a criar uma “osmose perfeita” entre comunidade local e as empresas, sendo a característica mais marcante dos distritos industriais à italiana, seu sistema de valores e de pensamentos que é relativamente homogêneo.

A experiência de sucesso da Terceira Itália é considerada o principal impulso aos novos distritos industriais, baseados em uma “miríade” de pequenas empresas. Aparentemente desfavorecidas em termos de estruturas de comercialização e de produção, de acesso ao crédito, e de intervenções nos mercados globais, elas conseguiram captar uma parte crescente do mercado (interno e externo), obtendo maiores lucros e criando novas fontes de geração de emprego e renda local. A partir destas experiências, o conceito de distrito industrial passou a incluir um conjunto de abordagens, cujos os principais atributos são: proximidade geográfica, especialização setorial, predominância de pequenas e médias empresas, estreita colaboração entre as firmas, competição entre firmas baseada na inovação, identidade sócio cultural com

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confiança, organizações de apoio ativas, para a prestação de serviços comuns e promoção de governos regionais e municipais (SCHMITZ, 1997).

Becattini (1990) ressalta, ainda, que a origem e o desenvolvimento de um distrito industrial não se relacionam apenas ao conjunto localizado de certas características sócio culturais de um determinado território. Inclui igualmente um processo de interação dinâmica entre a divisão e integração do trabalho exercidas na aglomeração, a busca permanente por nichos de mercado para a sua produção e a organização de uma rede de sólidos vínculos com os mercados externos. Estes elementos se inter-relacionam e influenciam o desenvolvimento de um determinado distrito industrial, conforme suas especificidades (BRUSCO, 1992). O autor refere-se a estas características como uma espécie de “sentido de pertencimento” (sense of belonging) que distingue os indivíduos pertencentes a estes aglomerados de outras formas de organização industrial (BECATTINI, 1990, p. 49).

É relevante destacar que a identificação de aglomerações produtivas em outros países, além da Itália, resultou na compreensão de que estes sistemas econômicos surgem e passam por alterações a partir dos diferentes contextos socioeconômicos e político-institucionais do território em que estão inseridos, assumindo formas específicas de organização. Como destaca Sforzi (2015), os processos tomam caminhos diferentes e são afetados por distintos fatores, em um determinado momento, dentro de um espaço institucional específico.

Segundo este mesmo autor, não se pode esquecer a importância do espaço económico, isto é, as variedades de mercados em que operam os diferentes aglomerados produtivos, incluindo a gama e a qualidade dos bens que produzem e a concorrência que enfrentam. Uma análise dos determinantes desse sistema econômico deve abordar os processos, tais como: a divisão progressiva do trabalho da principal atividade de produção do espaço; a constituição de mercados locais; a influência de instituições formais e informais; a integração de conhecimento interno e externo e a maneira como as empresas distritais são capazes, ou não, para explorar simultaneamente conhecimento local existente ao explorar as novas oportunidades oferecidas pelo conhecimento externo; a formação de agentes versáteis que podem interligar as diferentes especializações internas dentro do aglomerado com os mercados externos; a edificação ou dissolução de relações de confiança e um sentimento de pertencimento (SFORZI, 2015).

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De modo geral, o desenvolvimento e a difusão de diversos estudos e experiências de distritos industriais ratificaram a presença de uma pluralidade inesgotável de singularidades e especificidades. Mesmo reconhecendo que a experiência da Terceira Itália oferecia uma particularidade, com um tipo de mistura balanceada envolvendo “concorrência-emulação-cooperação”, Becattini (1990) reconhece não ser possível fazer generalização teórica. Na mesma direção Bagnasco (1990) diz que cada realidade concreta não pode ser vista como um modelo a ser imitado e, da mesma forma, nenhum esquema interpretativo pode explicar todo e qualquer caso de expansão da pequena empresa.

Em síntese, como sustenta Sforzi (2015), por estarem conectados a territórios, os problemas e sucessos dos distritos industriais estão ligados não apenas ao âmbito econômico, mas também ao âmbito geopolítico. São estas singularidades e especificidades que precisam ser identificadas para que as assimetrias que existem entre os distritos industriais possam ser compreendidas e explicadas.

Desta forma, o 'plus' de produtividade fornecidos pelo distrito industrial faz derivar não da mera proximidade espacial de empresas do mesmo setor, mas a partir da formação de um "ambiente de produção especial." Ou seja, esta é incorporada na comunidade local como um todo (incluindo as famílias e outras instituições) e é através das interações entre estes diferentes atores que o efeito distrito é produzido (BECATTINI, 2015).

1.2 ABORDAGEM DA TEORIA ECONÔMICA EVOLUCIONÁRIA

O arcabouço teórico da Teoria Econômica Evolucionária ou neoschumpeteriana2, considera a mudança tecnológica como aspecto central na compreensão do capitalismo enquanto um sistema caracterizado por constantes processos de transformações, causados pelas rápidas e contínuas inovações. Assim, reconhece-se a relevância do processo inovativo na dinâmica de acumulação capitalista, processo este que tem a empresa como elemento central, pois é a partir da sua dinâmica produtiva que se desenvolvem novos produtos e processos.

Este quadro analítico provém da insatisfação com a Teoria Ortodoxa (neoclássica), que busca explicar o comportamento das firmas e o funcionamento dos

2

Adotam-se aqui os termos teoria neoschumpeteriana e teoria evolucionária como sinônimos

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mercados a partir das tradicionais concepções de maximização dos lucros e equilíbrio, que não expressam os reais elementos envolvidos no processo de decisão dos empresários (COOKE, 1998).

Nelson e Winter (2005, pp. 39-40) destacam que a preocupação central da teoria evolucionária está relacionada

(...) aos processos dinâmicos que determinam conjuntamente os padrões de comportamento da firma e os resultados de mercado ao longo do tempo. [...] Buscas e seleção são aspectos simultâneos e interativos do processo evolucionário: os mesmos preços que geram o feedback da seleção também influenciam as direções da busca. As firmas evoluem ao longo do tempo através da ação conjunta de busca e seleção e a situação do ramo de atividade em cada período carrega as sementes de sua situação no período seguinte.

Em consonância a isso, Possas (2008) destaca que a teoria neoschumpeteriana situa-se na análise das mudanças econômicas – especialmente de longo prazo – relacionadas a dois aspectos inter-relacionados: a variação e a seleção institucional. O primeiro corresponde à inovação econômica, realizada no âmbito dafirma mediante um processo de busca, enquanto osegundo reflete à seleção das respectivas rotinas, realizada pelo mercado.

A perspectiva neoschumpeteriana também edifica parte considerável da sua abordagem no enfoque darwiniano da evolução das espécies biológicas. Para tal, os economistas desta escola de pensamento buscam analisar o sistema econômico como o produto de um processo evolutivo, ou seja, enquanto que nos sistemas biológicos isso envolve “recombinação e mutação genética”, a evolução das instituições econômicas e sociais implica “inovação, imitação, planejamento entre outros mecanismos” (HODGSON; KNUDSEN, 2010, p. 34-35) inerentes ao mercado.

Além desta abordagem mais geral do sistema econômico, apoiada nas noções de processo evolutivo, trajetórias não deterministas, geração endógena de variedade e sua seleção. Possas (2008, p. 287) destaca também uma relação nítida entre os elementos revolucionários e suas contrapartidas econômicas. Em síntese, “os organismos individuais (fenótipos) correspondem às firmas; populações aos mercados (indústrias); genes (genótipos) às rotinas (regras de decisão) ou formas organizacionais; mutações às inovações (em sentido amplo, schumpeteriano); e lucratividade à aptidão (fitness).” Assim, as firmas que dispõem de rotinas melhor

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adequadas à obtenção de lucro conseguem auferir de maiores ganhos no mercado em que estão inseridas.

O autor ainda destaca o potencial que inovações tem de gerar rotinas indutoras de maior lucratividade no âmbito das firmas. “Rotinas mais rentáveis tenderão a ser selecionadas em detrimento das demais, aumentando sua participação no pool de rotinas da indústria, assim como genes selecionados aumentam sua participação no pool genético de uma população (POSSAS, 2008, p. 287).

Desse modo, apesar de manter o foco no sistema econômico e nas interações dinâmicas entre seus componentes, a abordagem neoschumpeteriana não retira da análise a “firma3”, mas a coloca como o centro do processo de acumulação tecnológica, no interior do qual se criam rotinas e estruturas de comportamento que conduzem a “trajetórias” de crescimento e desenvolvimento econômico. Isto porque “o comportamento de uma organização é, num sentido estrito, porém importante, redutível ao comportamento dos indivíduos que a compõem” (NELSON; WINTER, 2005 p. 115). Este enfoque estabelece que as rotinas organizacionais orientam as firmas na busca pelas melhores respostas às mudanças no ambiente econômico, ademais, são as rotinas as principais fontes de conhecimento das empresas que elas utilizam na busca por novos produtos, métodos de produção, formas organizacionais e de comercialização.

Os conhecimentos codificados e tácitos de que a empresa dispõe são provenientes de múltiplas fontes e dependem de sua história passada, do regime tecnológico dominante em seu setor, de suas interações com outros atores econômicos e do domínio da técnica que utiliza em seu dia a dia (COSTA, 2016). Para Nelson e Winter (2005, p. 153) “a rotinização das atividades de uma organização constitui a forma mais importante de estocagem do conhecimento específico da organização”. A ideia central é de que as firmas com rotinas melhor adaptadas a ambientes de mudança dispõem de maior capacidade de crescimento e domínio de parcela significativa do mercado no qual estão inseridas.

Os referidos autores propõem que as mudanças organizacionais acontecem justamente quando as rotinas (ou conjunto de técnicas) são postas à prova por

3 Para a teoria neoschumpeteriana, embora os conhecimentos que criam os processos de inovação

possam vir tanto do ambiente interno da empresa – por exemplo, através de seu departamento de P&D – quanto do ambiente externo – academia, laboratórios de pesquisa e outras instituições – é a empresa que, de um modo geral, introduz as inovações na economia (COSTA, 2016, p. 292)

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determinados tipos de problema e precisam ser revistas, “os esforços para solucionar os problemas que se iniciam com a rotina [...], podem afinal, levar a inovações” (NELSON; WINTER, 2005, p. 197). Assim a inovação é compreendida como um processo de modificação ou ajuste (mutação) das técnicas desenvolvidas no processo de produção.

O amplo momentum de progresso científico, tecnológico e econômico do mundo moderno deriva em grande parte do fato de cada nova realização não ser meramente uma resposta para um problema particular, mas também constituir um novo item no vasto repertório de componentes disponíveis para uso, em “novas combinações”, na solução de outros problemas futuros. De modo semelhante, as inovações na rotina de uma organização consistem, em grande parte, de novas combinações de rotinas já existentes (NELSON; WINTER, 2005, p. 198).

Evidencia-se, dessa maneira, um feedback entre as rotinas e a inovação, pelo fato de que ao mesmo tempo em que a inovação cria novas rotinas, estas, ao estarem consolidadas e adaptadas a determinados contextos, acabam incentivando ou restringindo o desencadeamento de novas práticas. Logo, as firmas mais aptas, ou que possuírem um conjunto de rotinas mais eficientes, terão maior lucratividade e, por efeito, maior representatividade no mercado (NELSON; WINTER, 2005; POSSAS, 2008). As empresas, portanto, são instituições de aprendizado, nas quais o processo de aprendizagem é condição inerente e indispensável à sua existência, em função da permanente transformação dos cenários econômicos.

Nesta concepção, as firmas deixam de apresentar um comportamento maximizador e passam a demonstrar uma conduta satisfatória. Esta não é considerada apenas uma simples função de produção em que o conhecimento tecnológico é dado, para que ela adquira um conjunto de técnicas aplicáveis ao seu processo produtivo, faz-se necessário um movimento de busca. Assim, “as firmas [...] faz-serão tratadas como motivadas pelo lucro e comprometidas com a busca de maneiras de aprimorar seus lucros, mas não se supõe que suas ações sejam maximizadoras de lucros em um conjunto de escolhas bem definidas e dadas” (NELSON; WINTER, 2005, pp. 18-19). Compreende-se que a empresa desempenha um comportamento satisfatório, agindo com racionalidade limitada, visto que os indivíduos possuem capacidade cognitiva restrita e o contexto econômico em que atuam é complexo e incerto.

No tocante ao papel da inovação, a abordagem neoschumpeteriana tem suas bases analíticas alicerçadas nos enfoques teóricos apregoados por Schumpeter (1934), mesmo o autor não interpretando a “evolução” dos sistemas econômicos pela ótica

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darwiniana, ele concentrou suas análises nas mudanças tecnológicas, no empreendedorismo e na inovação no interior dos sistemas capitalistas, enquanto aspectos fundamentais para o crescimento e desenvolvimento econômico destas estruturas econômicas.

Argumentando o papel do “empresário inovador” neste processo, destaca que este é o agente responsável pela inserção de inovação e pela realização de “novas combinações” no interior dos sistemas produtivos. Estas novas combinações são concebidas de modo amplo, podendo tratar-se tanto da criação de novos produtos quanto da introdução de novos métodos de produção, da abertura de um novo mercado, da conquista de uma nova fonte de matérias-primas, ou ainda da criação de uma nova forma de organização industrial (SCHUMPETER, 1997).

Nesta concepção a inovação é compreendida, em essência, como a introdução de novas combinações de produtos ou processos economicamente viáveis. A teoria neoschumpeteriana aceita as principais ideias de Schumpeter no tocante a dinâmica da concorrência e da inovação e sua importância na economia capitalista. Contudo os enfoques teóricos desenvolvidos a partir desta corrente analítica baseiam-se na interação temporal entre as estratégias empresariais, “que envolvem o referido processo de busca de inovação – mas abrangendo ainda outras estratégias competitivas e decisões (produção, investimento e preços) – e o processo de seleção pelo mercado dessas mesmas inovações” (POSSAS, 2013, p.422).

Em sentido amplo, considera-se que empresários ou organizações empresariais não atuam de maneira isolada, ambos estão inseridos em um contexto mais amplo, expandindo a noção da realidade sistêmica. A inovação é tratada nesta perspectiva, como um fenômeno sistêmico, com uma abordagem interativa, não-linear mais complexa e que permite a evolução tecnológica nos âmbitos que transcendem o caráter individual da organização. Esta noção, por sua vez, leva à crença de que qualquer mudança no sistema, mesmo que apenas pela ação de uma empresa, pode ter repercussão em todos os outros, pelo menos naqueles que fazem parte da mesma indústria.

Partindo desta premissa, a inovação refere-se a busca, a descoberta, a experimentação, desenvolvimento, imitação e inserção de novos produtos, novos processos e novas formas de organização. Logo, pode ser considerada algo novo ou uma combinação de elementos já existentes, tratando-se assim, de um processo social que dá amparo a novidade técnica sustentada economicamente e segue procedimentos

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estabelecidos, essencialmente processos de busca, rotinas e seleção; utilizando-se para isso de diversas formas de aprendizado oriundas da infraestrutura tecnológica das organizações, dos gastos em pesquisa e das relações entre ciência e tecnologia (DOSI, 1988).

Relacionando a teoria evolucionária aos diferentes níveis de desenvolvimento entre países e regiões, Belussi (1996) afirma que atrasos de desenvolvimento deve ser entendido não como um produto da falta de recursos, mas de diferentes capacidades organizacionais e técnicas para aplicar o conhecimento prático e os recursos existentes. Tais capacidades não são predeterminadas, elas podem ser aprendidas e modificadas no decorrer do tempo ampliando a gama de oportunidades de inovação que afetam o progresso econômico.

Partindo dessa premissa, surge o enfoque dos Sistemas de Inovação (SI) correlacionando as desigualdades tecnológicas entre países com a sua estrutura organizacional e institucional, considerando para isso o aprendizado, tanto em nível macro como microeconômico, determinante para os processos de inovação e consequente desenvolvimento econômico.

1.2.1 Sistemas de Inovação e a formação dos Sistemas Produtivos e Inovativos Locais

O ponto de partida para a análise dos Sistemas de Inovação (SI) é a teoria schumpeteriana e seu desdobramento posterior ocorre através da abordagem neoschumpeteriana (evolucionária) a partir da segunda metade do Século XX, para as quais a inovação é considerada elemento fundamental na engrenagem da economia capitalista.

As primeiras contribuições teóricas que se utilizaram deste conceito, estão ancoradas nas ideias desenvolvidas por List (1841;1983), um dos responsáveis por antecipar diversas teorias contemporâneas sobre Sistemas Nacionais de Inovação (SNIs). Conforme Freeman (1994), a preocupação inicial de List era a possibilidade de a Alemanha ultrapassar a Inglaterra em termos econômicos. Ele defendia não apenas a proteção das indústrias “infantis”, mas uma ampla gama de políticas projetadas para acelerar, ou tornar possível, industrialização e crescimento econômico. A maioria dessas políticas preocupava-se em aprender sobre as novas tecnologias e sua aplicação.

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De acordo Freeman (1995, p. 5) e Lundvall (2016), List centrou sua análise na relevância da ação governamental para construção de infraestrutura tecnológica nacional e uma forte base de conhecimento nacional para a promoção do desenvolvimento, notadamente via educação, a promoção de indústrias estratégicas, a acumulação de conhecimentos e, ainda, a coordenação de políticas de longo prazo.

A partir deste enfoque, o Sistema de Inovação tornou-se um termo amplamente discutido por diferentes perspectivas teóricas e políticos de todas as partes do mundo. Lundvall (2016, p. 2), define o termo “como uma nova combinação que tem evoluído e sido reinventada, ligando-o a novos campos da teoria e pesquisa empírica por estudiosos que operam em campos distintos”.

É exatamente a relevância da interação que aproxima as interpretações mais contemporâneas sobre Sistemas de Inovação presentes na construção de Freeman (1982; 1987) e Lundvall (2016). Ao destacar os resultados empíricos oriundos de seu trabalho desenvolvido sobre o sistema de inovação japonês, Freeman (1987) apontou a relevância de políticas regionais sobre os processos de catch up. Ao tratar das políticas de desenvolvimento econômico no Japão, o autor ressaltou o esforço governamental na criação e execução de políticas regionais baseadas na ciência, educação, comunicações e infraestrutura. O objetivo de tais políticas seria levar capacitações técnicas a todo o território nacional de modo a integrar aos circuitos tecnológicos e científicos o maior número possível de agentes, independentemente de sua localização ou escala econômica (FREEMAN, 1987, p. 36)

A partir da análise de alguns elementos do sistema de inovação japonês e as implicações para outros países, Freeman (1987) definiu SNI como a rede de instituições dos setores público e privado cujas atividades e interações iniciam, importam, modificam e difundem novas tecnologias. Conforme o autor este enfoque mais abrangente não englobava apenas a estrutura produtiva e o conjunto de instituições que fazem parte do sistema de ciência e tecnologia, mas também outros fatores de ordem social e institucional. Nesta perspectiva o autor destaca que:

a maioria dos neoschumpeterianos [...], enfatiza que um “national system of inovation” é muito mais do que uma rede de instituições de apoio à P&D; ele envolve redes de relações inter firmas e especialmente elos produtor-usuário de todos os tipos, assim como sistemas de incentivos e apropriabilidade, relações de trabalho e um amplo leque de instituições e políticas governamentais (FREEMAN, 1995, p. 484).

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Johnson e Gregersen (1995) estabelecem que o SNI é formado por um conjunto de instituições formais e informais que estimulam os processos de inovação tecnológica, sendo o grau de interação entre elas determinado pelo ambiente em que estão inseridas. O SNI é composto, portanto, pelos atores econômicos, sociais, políticos, organizacionais, e institucionais que representatividade na difusão e uso das inovações tecnológicas (EDQUIST, 2010).

Tigre (2005, p. 212) destaca ainda, em relação aos SIs, que “o principal foco de análise é a interação entre os atores econômicos, sociais e políticos que fortalece capacitações e favorece a difusão de inovações em um determinado país.” Assim sendo, o desempenho de um SI está relacionado a um “processo evolucionário”, cuja trajetória compreende aspectos relativos ao conhecimento, à tecnologia, aos atores (governos, empresas, laboratórios, universidades etc.) e aos arranjos institucionais (CARLEIAL, 2011).

Cassiolato e Lastres (2008) definem Sistemas de inovação como um conjunto de diferentes instituições que contribuem para o desenvolvimento da inovação em determinado país, região ou setor econômico, compreendendo assim, uma série de elementos e as relações que se estabelecem para a produção, assimilação, uso e difusão do conhecimento. Em outras palavras, o desempenho inovador depende não só de empresas e P&D, mas também da forma como elas interagem, entre si e com outros agentes, bem como todas as outras formas pelas quais adquirirem, exploram e difundem o conhecimento.

A partir disso, infere-se que a inovação deriva da confluência de fatores sociais, políticos, institucionais e culturais específicos e do ambiente em que os agentes econômicos atuam. Logo, os objetivos de um sistema de inovação devem contemplar: i) a realização de pesquisa e desenvolvimento; ii) a construção de competências internas por meio de qualificação e treinamento; iii) o suporte às interações necessárias para o processo inovativo e iv) a criação, ou mudança, de instituições eliminando obstáculos e dando suporte à inovação, à incubação e ao financiamento de atividades de inovação, dentre outros (EDQUIST, 2010). Com isso, é possível inferir que dentre os componentes de um SN estão as universidades, institutos de pesquisa públicos e privados, centros de P&D, agências governamentais e empresas privadas.

Em via de regra, os Sistemas de Inovação (SI) são discutidos como sinônimo de Sistema Nacional de Inovações (SNI), envolvendo as perspectivas regionais, setoriais e locais, consideradas relevantes para o desenvolvimento nacional

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(PERREIRA; DATHEIN, 2015). Assim, a delimitação das fronteiras de um SI depende da forma como se dá a relação entre os atores e as instituições. Conforme Johnson e Lundvall (2005, p. 101), “ainda que a abordagem de sistemas de inovação engloba tanto sistemas territoriais como setoriais, [...] o foco das pesquisas até o momento tem sido principalmente nos sistemas regionais e nacionais”.

A formação de um Sistema Regional de Inovação (SRI) está atrelada a diferentes aspectos socioeconômicos, dentre os quais Carleial (2011, p. 124) destaca:

a existência de uma base produtiva e, em torno dela, a construção de interação entre empresas, instituições e a organização da sociedade. Há fatores históricos que determinam quais clusters produtivos podem ancorar, atrair um sistema regional de inovação. É necessário construir ou lançar mão (se existe) de uma rede de geração de conhecimentos e informações (universidades, laboratórios, centros de treinamento) voltada para as necessidades das firmas e do sistema produtivo regional com o objetivo de promover inovações voltadas não só para a ampliação da competitividade, mas também compromissada com o preenchimento de elos faltantes nas diferentes cadeias produtivas e, assim, garantir um adensamento produtivo com geração de postos de trabalho de qualidade.

Lundvall (2016) considera que a tendência é de que cada sistema regional de inovação agregue firmas de distintos tamanhos, grandes e pequenas, que se relacionam em redes e não apenas entre si, mas com todo o aparato necessário à produção e à inovação, tais como: institutos de pesquisa, universidades, laboratórios, agências de transferência de tecnologias, câmaras de comércio, agências e departamentos governamentais. Esta é a base para um acordo governamental adequado, que consubstancia uma prática associativa voltada para uma dada sociedade.

É relevante destacar que a busca por estratégias para o desenvolvimento regional por meio a atividade inovativa originou uma série de estudos, teorias e políticas entre as décadas de 1980 e 1990. Dentre os conceitos oriundos deste período, e que contribuíram para o desenvolvimento de um conceito de SRI é possível mencionar os de complexos tecnológicos regionais, parques tecnológicos, redes tecnológicas, tecnopolos, entre vários outros. Todos estes relacionavam a ascensão da inovação tecnológica a aspectos regionais (COOKE, 1998). Na medida em que tais conceitos, explorados predominantemente por cientistas regionais, foram atrelados aos esforços teóricos acerca dos Sistemas Nacionais de Inovação, baseados principalmente em Freeman (1987; 1995) e Lundvall (2016), ganhou forma o conceito de SRI (COOKE, 1998).

(31)

Assim como os Sistemas Nacionais de Inovação, os Sistemas Regionais estão baseados na existência de um corpo institucional e nas interações entre os agentes que o compõem. Porém, esta perspectiva agrega à análise aspectos mais comuns à economia regional, principalmente aqueles atrelados aos efeitos da proximidade entre os agentes no estabelecimento de suas relações. Podem ser mencionados, nesse sentido, fatores ligados à imersão regional dos agentes num mesmo cenário local como facilitadores das interações necessárias para o bom andamento do processo inovativo (COOKE, 2001).

Parte deste enfoque, no final da década de 1990 o debate acadêmico-científico sobre a temática dos Sistemas Produtivos e Inovativos Locais (SPILs) no Brasil, proveniente dos estudos e discussões entre pesquisadores acadêmicos integrantes da Rede de Estudos em Sistemas Produtivos Inovativos Locais (RedeSist).

A Redesist emprega o termo SPIL para o conjunto de atores econômicos, políticos e sociais localizados em um mesmo território, desenvolvendo atividades econômicas correlatas e que apresentam vínculos expressivos de produção, interação, cooperação e aprendizagem. Sob esta perspectiva, tais sistemas derivam da evolução histórica, relacionada a um processo de formação da própria identidade do território em que se inserem. São classificados, também, por uma dimensão territorial; por um conjunto de diferentes atividades e distintos atores econômicos, políticos e sociais ali presentes; pela presença de conhecimento tácito; por processos de inovação e aprendizagem; mecanismos de coordenação das atividades (governança) e por um certo grau de enraizamento das atividades na comunidade local (LASTRES; CASSIOLATO; ARROIO, 2005).

Ainda de acordo com tal definição, os SPILs incluem também empresas produtoras de bens e serviços finais, fornecedores de equipamento e outros insumos para a produção, prestadoras de serviços, clientes, cooperativas, instituições voltadas para o desenvolvimento de pesquisas, promoção e financiamento e, demais organizações voltadas à formação e treinamento de recursos humanos (CASSIOLATO; LASTRES; STALLIVIERI, 2008; MATOS et al., 2015). Deste modo, a relevância dos SPILs reside no fato de englobar atividades que abrangem interações entre diferentes atores, resultando na introdução de novos produtos e processos produtivos, além de promover a possibilidade de inserção competitiva da localidade no cenário global.

Em termos gerais, tanto essa abordagem quanto a do enfoque em Sistemas Nacionais de Inovação levam à negação da pretensa homogeneização do espaço

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econômico e, consequentemente, da globalização como característica imprescindível do capitalismo atual. A RedeSist, reforça o argumento de que as especificidades locais não podem ser desconsideradas, especialmente quando se trata de criar e implementar políticas de desenvolvimento industrial e tecnológico (LASTRES; CASSIOLATO, 2005). Assim, este enfoque vai além da análise da empresa individual como aspecto fundamental de um sistema produtivo, pois considera também as interações estabelecidas entre estas empresas e outras organizações (de ensino e pesquisa, promoção, financiamento etc.).

Estudos recentes, definem SPILs como arranjos produtivos cujo os quais, tem-se um contexto de interdependência, articulação e vínculos substanciais que resultam em interação, cooperação e aprendizagem, com potencial de gerar o incremento da capacidade inovativa endógena, da competitividade e do desenvolvimento local (AMARAL FILHO, 2011; REIS; NETO, 2012).

O grupo de pesquisa GTP/ APL (UNICAMP-USP-UFPR), desenvolveu um termo similar, sistema de produção local- que refere-se a um conjunto de empresas com capacidades relacionadas, de portes variados, mas em geral com um conjunto expressivo de pequenas e médias empresas não integradas verticalmente (OLIVARES; DALCO, 2014).

Em via de regra, estudos relacionados a sistemas produtivos, permitem compreender na prática que as relações econômicas não são propriamente realizadas por indivíduos ou empresas atomizadas, conduzidas por uma racionalidade econômica pura, coordenados unicamente pelo sistema de preços, senão por agentes envolvidos também por relações contratuais e de cooperação reguladas por organizações e instituições. Tal abordagem permite mostrar as mudanças estruturais dos sistemas produtivos em relação ao seu meio, no sentido amplo, e perceber suas capacidades de adaptação e de auto-organização (AMARAL FILHO, 2011).

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2 DELINEAMENTO METODOLÓGICO

Neste tópico são apresentados os pressupostos ontológicos, epistemológicos e metodológicos que fundamentam o desenvolvimento deste estudo, bem como o delineamento quanto aos níveis, abordagem, objeto de estudo, sujeitos da pesquisa, plano de coleta e de análise dos dados e o sumário provisório da dissertação em tese. O propósito é esclarecer o caminho metodológico percorrido na realização da pesquisa.

2.1 PRESSUPOSTOS ONTOLÓGICOS, EPISTEMOLÓGICOS E METODOLÓGICOS

A presente pesquisa se apoia essencialmente nos pressupostos ontológicos do realismo crítico, epistemologicamente às abordagens dos sistemas complexos e, metodologicamente, à Análise de Situações de Desenvolvimento (ASD). Segundo os quais as respostas ao problema e objetivo da pesquisa são originariamente buscadas em conteúdos explicativos obtidos diretamente da realidade que está sob investigação.

A abordagem dos sistemas complexos compreende o desenvolvimento como um processo aberto e evolutivo, no qual os sistemas sócios produtivos e a sociedade são processos complexos, em que sua compreensão só é possível através de um enfoque histórico. Logo, a determinação das variáveis que caracterizam o desempenho de um fenômeno, deve considerar os aspectos históricos, assim como os processos internos de diferenciação responsáveis pela sua organização (BASSO, 2012).

Dessa maneira, o objeto (empresas do setor de confecções) pode ser compreendido como um sistema complexo, em que sua operacionalidade depende da interação de várias partes, preceito enfatizado por Wheatley (2006). Segundo a autora nenhum fenômeno deve ser entendido de forma isolada, a partir de suas partes constituintes, é necessário considerar as dinâmicas em operação no sistema global.

Nesta perspectiva, a pesquisa em tese tem a pretensão de explicar os fatos de forma metódica e sistêmica e não apenas descrevê-los ou estabelecer correlações entre os mesmos. Para isso, propõe-se buscar conteúdos explicativos relacionados ao objeto de estudo a partir do conteúdo presente na própria realidade, sob o fundamento de conceitos do Realismo Crítico. Uma corrente do campo da Filosofia e das Ciências Humanas proposto inicialmente por Roy Bhaskar, que destaca a ontologia não empirista como uma alternativa de compreensão da realidade, uma vez que compreende que o mundo não é feito somente de acontecimentos ou fatos, mas também

(34)

por mecanismos ou poderes causais, oriundos de estruturas subjacentes (BARROS; VIEIRA; RESENDE, 2016).

O enfoque do realismo crítico tem como premissa principal que podem existir informações que ainda não foram abordadas no estudo sobre determinada realidade, o desafio é tentar descobrir algo novo que permita a explicação dos fatos para a melhor compreensão do fenômeno em análise.

Logo, compreende-se que as melhores explicações sobre determinado fenômeno só podem ser obtidas no nível mais profundos da realidade. Bhaskar (2008) ao discutir os fundamentos do realismo crítico estratifica a realidade em três esferas: empírica, efetiva e real. O empírico é considerado o nível mais inferior da realidade e é aquele que é observável por meio dos sentidos. É de senso comum e disponível de forma tradicional. A realidade efetiva representa o fenômeno, que não necessariamente observáveis por meio dos sentidos, mas geralmente analisado pela ciência. Finalmente a esfera real, que compõe a esfera superior e que apresenta uma dificuldade maior de ser percebida, consegue explicar, correspondendo aos mecanismos, estruturas, poderes, tendências que explicam ou causam o fenômeno. Para o realismo crítico qualquer fenômeno tem estes extratos ou estes níveis e, um não pode ser reduzido aos demais, o que permite que progressivamente se construam argumentos que explicam determinado fenômeno.

Nesta perspectiva, a pesquisa realizada com empresas do setor de confecções do município de Sarandi/RS priorizou a dimensão intransitiva da realidade, com o objetivo de extrair conteúdo explicativo do fenômeno em tese a partir do próprio fenômeno.

2.2 ABORDAGEM DA PESQUISA: ANÁLISE DE SITUAÇÕES DE DESENVOLVIMENTO

Neste estudo, à metodologia utilizada tem como base o método de Análise de Situações de Desenvolvimento (ASD), considerado um procedimento de estudo voltado à compreensão de processos reais com a perspectiva de estabelecer linhas estratégicas de desenvolvimento para diferentes contextos histórico-sociais (BASSO, 2012). Este método tem como referência as pesquisas realizadas por Silva Neto (2007) e Basso (2012), que, apoiam-se epistemologicamente nas contribuições do realismo crítico de Bhaskar (2008) e no materialismo histórico e dialético (SILVA NETO,

(35)

2016). Bem como na referência teórica de Análise-Diagnóstico de Sistemas Agrários de Dufumier (2007) e Mazoyer Roudart, (2010).

Silva Neto (2007) aponta que os procedimentos da ASD devem considerar alguns princípios metodológicos, dentre os quais requerem destaque:

● Realizar a análise a partir dos fatos mais gerais para os mais específicos, através de uma abordagem sistêmica em vários níveis;

● Avaliar cada nível da realidade individualmente, realizando uma síntese das categorias de análise mais abrangentes, antes de analisar as categorias mais particulares;

● Privilegiar a explicação em detrimento da descrição, priorizando à perspectiva histórica;

● Manter-se atento à heterogeneidade da realidade, evitando interpretações generalizadas que dificultam a explicação dos processos de diferenciação. Logo, para efetuar esta análise o pesquisador deve priorizar o contato direto com a realidade para compreender a situação em estudo e assim explicá-la (BASSO, 2012). A partir disso, é necessário avaliar cada nível de estudo separado e progressivamente através de observações e falas de indivíduos selecionados no próprio processo da pesquisa, de maneira que sejam respondidas às questões mais pertinentes em cada etapa. No momento em que as principais perguntas de cada nível forem respondidas é preciso realizar uma síntese daquele nível, buscando identificar as questões relevantes para o nível posterior. O enfoque principal deve ser dado aquelas informações com maior capacidade explicativa, de maneira que se tenha mais poder explicativo do objeto de estudo (SILVA NETO, 2007) e, não apenas uma descrição da realidade em tese.

Segundo Basso (2012), cada aspecto da realidade que se deseja estudar envolve níveis ou etapas particulares e procedimentos específicos, assim, qualquer análise de situação de desenvolvimento pode ser dividida em três grandes etapas de estudo.

Para o autor, o primeiro nível deve caracterizar o processo de desenvolvimento da região em que se localiza a situação ou o objeto de estudo. No segundo nível deve ser definida a tipologia dos atores ou agentes econômicos, sociais, políticos, em concordância com o processo de identificação realizado na etapa anterior. No terceiro nível são definidas as estratégias de desenvolvimento com o intuito de melhorar as condições de reprodução social tanto do ponto de vista dos atores caracterizados na segunda etapa, quanto da sociedade local (BASSO, 2012). A partir dos níveis de análise descritos por Basso (2012) para ASD, o estudo em tese está subdividido em três etapas:

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