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Diversificação do Parque Industrial e os impactos da crise econômica

3 DESENVOLVIMENTO E O PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO DO

3.3 PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO DE SARANDI/RS

3.3.3 Diversificação do Parque Industrial e os impactos da crise econômica

A expansão da atividade econômica na indústria têxtil e confecções em Sarandi/RS manteve-se em nível de crescimento até o início dos anos 2000, mais precisamente

2007/08. Nesta fase evidenciaram investimentos relacionadas a instalação de um centro comercial para divulgação e exposição dos produtos comercializados pelas diferentes empresas em espaços geográficos de fácil acesso para os lojistas (ENTREVISTADO B, 2019).

No entanto, a partir de 2008 com acessão da crise econômica nacional, muitas empresas passaram a apresentar dificuldades relacionadas a produção e capital de giro. Também começaram a surgir problemas relacionados a demanda pelos produtos locais, ocasionados pela expansão de outros centros de produção atacadista como Santa Catarina e São Paulo que passaram a oferecer alternativas de produtos por preços mais competitivos, impactando negativamente na demanda local (ENTREVISTADO B, 2019).

Aliado a isso, o “fenômeno dos importados”, têm conquistado espaço significativo nos últimos anos, com variedades de produtos e preços altamente competitivos. Substituindo gradativamente as mercadorias produzidas em âmbito local. O mercado tornou-se insuficiente para manter o ritmo da atividade industrial têxtil na medida em que não tem capacidade para demandar o volume comercializado até então no comércio atacadista (excursões de lojistas, feiras, etc) (ENTREVISTADO B, 2019).

A partir disso, as empresas passaram a enfrentam sérias limitações relacionadas à: inserção de novas tecnologias nos processos produtivos devido à dificuldade de acesso a linhas de crédito para financiamento, investimento e escoamento da produção por preços competitivos. Estes fatores ocasionaram a falência de algumas firmas, enquanto outras deslocaram-se para centros maiores8, buscando novos consumidores para seus produtos e provocando a perda de representatividade da indústria têxtil e de confecções na dinâmica industrial local.

Conforme referenciado pelo entrevistado B (2019), atual diretor da indústria têxtil do município, no início dos anos 2000 tinha-se mais de 50 empresas, produzindo no ramo têxtil e confecções em Sarandi/RS. Nas observações e entrevistas realizadas pela pesquisadora em 2019 constatou-se a existência de pouco mais de 30 empresas atuando regularmente neste ramo, gerando próximo de 500 empregos diretos, sendo que no passado este número era praticamente o dobro.

Outros ramos de atividade começaram a se destacar neste período, a indústria de móveis é um exemplo, com a introdução de tecnologia de ponta em seus processos

produtivos, algumas empresas têm conquistado espaço representativo no mercado regional e nacional. Igualmente importantes para a atividade industrial foi a retomada do frigorífico que atualmente é administrado pela a Cooperativa Central Aurora Alimentos, com um volume de emprego e de produção fundamental para a economia local. Bem como o surgimento de outros ramos industriais, tais como o gráfico, laticínios, setor de metalurgia, com a produção de esquadrias, galpões, silos e construção civil.

A agricultura se mantém, impulsionada principalmente pela consolidação da Cooperativa Trítícola Sarandi Ltda (Cotrisal) em âmbito regional. Com a matriz em Sarandi/RS atualmente a cooperativa realiza diversas atividade Inter relacionadas, uma vez que dispõe de rede de recebimento de produtos agrícolas (soja, trigo e milho), rede de Supermercados, Lojas Lar e Construção, Unidade de Peças e Implementos Agrícolas, Lojas de Pecuária, Insumos, Moinho de Trigo, Posto de Recebimento de Leite, Fábrica de Rações, Unidade de Beneficiamento de Sementes (UBS) e Posto de Combustíveis. Conta com aproximadamente 40 unidades operacionais está presente em 27 municípios da região norte do Rio Grande do Sul (COTRISAL S/D).

No que se refere ao papel do setor público no processo de industrialização de Sarandi/RS, as entrevistas apontam que o poder público local perdeu a capacidade de fomentar políticas de incentivos ao setor industrial nos últimos anos. “O Setor Público hoje muitas vezes atrapalha, com o argumento de que nunca tem recursos financeiros para desenvolver ações na esfera da atividade produtiva. Além disto, observam-se frequentemente a existência de conflitos partidários no âmbito empresarial” (ENTREVISTADO A; ENTREVISTADO B, 2019).

No processo inicial de criação e expansão da atividade, a participação e o envolvimento do setor público local foi fundamental, principalmente na criação das condições físicas e institucionais para a instalação do parque industrial e a promoção de feiras e exposições para divulgar a produção local, especialmente de têxtil e confecções (DALLABRIDA; FERNÁNDEZ, 2008). Segundo os entrevistados A e B (2019), as feiras foram essenciais para a divulgação da produção local na medida em que anunciavam com exclusividade as empresas locais. Atualmente já não cumprem mais este papel, uma vez que são abertas para qualquer expositor, mediante pagamento da taxa de aluguel do espaço.

Outro elemento que contribuiu para a queda da representatividade da indústria têxtil no âmbito local foi a desaceleração das atividades da fábrica de calçados Dakota

nos últimos anos e o fechamento da unidade em Sarandi/RS em 2018. Conforme o entrevistado C (2019), representante do poder público municipal, a empresa encerrou suas atividades no município com cerca de 148 funcionários. Há mais de três anos, já havia uma desaceleração de suas atividades, alegando como motivo, a crise no mercado nacional. Esperava-se uma melhora no cenário econômico, a qual não aconteceu e resultou no encerramento das atividades desta empresa na cidade.

O fator central para o fechamento da unidade foi que, por se tratar apenas de uma linha especifica de produção em Sarandi/RS, a Dakota acabou realizando alguns acordos de importação com empresas chinesas em que são importados produtos semiacabados em que a empresa brasileira apenas insere os detalhes finais e a marca para comercializar em um número menor de plantas industriais, diminuindo seus custos no comparativo à produção com mão de obra própria (ENTREVISTADO C, 2019).

É relevante destacar que, mesmo o setor têxtil e confecções diminuindo sua representatividade na economia do município, algumas ações de fomento ainda são realizadas em âmbito local. A criação do projeto do Polo de Moda Norte Gaúcho, em 2011, é um exemplo disso. Trata-se de um projeto de Apoio Local e Regional desenvolvido pela Acisar, com apoio do governo do Estado, que tem como objetivo disponibilizar apoio técnico para fortalecer as indústrias têxteis da região. Funciona junto a UPF, campus de Sarandi/RS, entidade parceira do projeto. O espaço dispõe de alguns equipamentos que foram adquiridos por meio de verba da consulta popular diretamente com o governo do Estado (POLO DA MODA NORTE GAÚCHO, 2019).

Em 2017, passaram a ser disponibilizados os primeiros serviços e as empresas podem usufruí-los através de associação ao polo, sem custo de adesão. São ofertados serviços de modelagem, design e plotagem, contando com uma modeladora e uma designer para atender em tempo integral junto ao centro tecnológico. Também dispõe de equipamentos como: máquina reta, máquina para cortar tecido de disco, máquina para cortar tecido de faca, máquina de colar botão de pressão, computadores com corel draw, dentre outros (POLO DA MODA NORTE GAÚCHO, 2019).

Atualmente cerca de 30 empresas do município estão associadas ao Polo. Conforme o diretor da área têxtil do município, o foco do projeto é disponibilizar serviços técnicos e tecnológicos para a criação de produtos e serviços, bem como a capacitação referente ao uso destes (ENTREVISTADO B, 2019). Mesmo que lentamente, as empresas têm usufruído dos serviços e algumas prospectado informações consideradas relevantes para inserir em seus processos produtivos.

4 DIFERENCIAÇÃO SOCIAL E CONTRIBUIÇÃO DA INDÚSTRIA DE

CONFECÇÕES DE SARANDI/RS PARA O DESENVOLVIMENTO

ECONÔMICO LOCAL

Neste capítulo, apresenta-se e discutem-se os diferentes tipos de empresas do aglomerado industrial do setor de confecções de Sarandi/RS, sua contribuição para o desenvolvimento econômico local e capacidade de reprodução social.

A caracterização está baseada em observações diretas e entrevistas em profundidade feitas pela autora durante os meses de março a setembro de 2019 com responsáveis pelas firmas (proprietários e/ou gerentes). Assim, buscou-se obter informações qualificadas relativas à: estrutura, capacidade e variedade de produção, origem e forma de utilização dos diferentes componentes/matérias primas dos produtos, instalações, máquinas e equipamentos utilizados nos processos de produção, porte do empreendimento comparativamente aos demais concorrentes e mercado consumidor.

A contribuição para o desenvolvimento econômico local e capacidade de reprodução social dos diferentes tipos de empresas foram avaliados a partir dos resultados referentes ao valor agregado, a renda e o número médio de unidades de trabalho de cada um dos tipos identificados. Referenciando a representatividade econômica de cada categoria em análise.

4.1 CLASSIFICAÇÃO DOS DIFERENTES TIPOS DE EMPRESAS DO AGLOMERADO INDUSTRIAL DE CONFECÇÕES DE SARANDI/RS

Atualmente, o ramo de confecções dispõe de aproximadamente 359 empresas operando regularmente em Sarandi/RS, gerando cerca de 440 empregos. Considerando o fato de se tratar de micro e pequenas empresas, que empregam em média duas unidades de trabalho familiar por empreendimento, cerca de 500 pessoas desempenham funções relacionadas ao setor no município.

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Em levantamento realizado em março de 2019 na Relação Anual de Informações Sociais (RAIS),

constam 52 empresas de confecções cadastradas em Sarandi/RS. Todavia, na pesquisa de campo constatou-se apenas 35 firmas em atividade. A diferença pode ser explicada por duas razões em especial: algumas empresas não estão mais em funcionamento, mas permanecem com o CNPJ ativo e outras operam com mais de um CNPJ (MTE, 2019).

Para fins de análise este conjunto de empresas está agrupado em seis diferentes tipos, todos enquadrados como patronais por envolverem a utilização tanto de mão de obra familiar quanto contratada. Basso e Muenchen (2011) destacam que enquanto o trabalho familiar geralmente está relacionado a gestão e atividades administrativas do empreendimento, a mão de obra contratada envolve-se no processo produtivo. Assim, o aspecto de diferenciação entre os tipos está associado à sua estrutura de produção e à combinação de atividades produtivas.

Com base na categoria social, na matéria-prima básica, na estrutura de produção e nas atividades que desenvolvem, foram definidos seis diferentes tipos de empreendimentos que compõem o setor de confecções de Sarandi/RS, sendo eles: malharia com tear eletrônico, malharia com tear mecânico, camisaria, enxoval, facção e uniformes. Na tabela 1 destaca-se o número de empresas conforme a classificação dos tipos.

Tabela 1

Classificação do número de empresas do setor de confecções de Sarandi/RS

Fonte: dados da pesquisa (2019)

Na sequência discutem-se as principais características de cada um dos tipos de empresas supracitados na tabela 1.