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3 DESENVOLVIMENTO E O PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO DO

3.3 PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO DE SARANDI/RS

4.1.5 Indústria de confecções tipo facção

O termo “facção”, enquanto atividade econômica específica, é caracterizada pela Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE 2.0) como: “serviços industriais de facção de blusas, camisas, vestidos, saias, calças, roupas íntimas e de dormir, ternos e outras peças do vestuário (corte e costura de golas, punhos ou outras partes das roupas)” (IBGE, 2016, S/D).

O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE, 2015, p. 1), apresenta uma definição mais detalhada relacionando esta atividade ao processo de terceirização levado a cabo por indústrias ou varejistas que buscam diminuir os custos produtivos e manter-se no mercado. Esta é a definição de facção adotada neste trabalho:

Facção é o nome dado às confecções que prestam serviços para outras empresas do ramo que possuem marca própria e foco na comercialização, dentro da cadeia produtiva do setor têxtil. Em geral uma facção não vende seus produtos diretamente no varejo, realizando somente trabalhos de corte, montagem e acabamento de peças do vestuário para outras confecções. O segmento da confecção está inserido no setor têxtil e engloba todas as atividades envolvidas na produção de roupas. Essas indústrias podem concentrar o processo completo de produção ou terceirizar uma ou várias fases de produção. Trata-se de um sistema de terceirização e de integração que vem sendo muito utilizada na indústria da confecção. Funciona assim: Uma indústria maior, que normalmente tem como principal atividade a criação e comercialização, cria a sua coleção, efetua os cortes das peças e encaminha para outras indústrias menores que são contratadas para montar as roupas. Essas indústrias não comercializarão os produtos, apenas são responsáveis pelo serviço de montagem das roupas, devolvendo em seguida, para a indústria maior, que confere as peças, padroniza a qualidade e comercializa os produtos (SEBRAE, 2015 p. 2).

Este é o cenário das empresas de confecções do tipo “facção” que atuam em Sarandi/RS que, por questões econômicas e de mercado, não conseguiram manter-se com produção e marca próprias, optando assim pela terceirização, que implica em menos custos e uma renda mínima para a manutenção do empreendimento em âmbito local.

A categoria social predominante entre estas firmas é do tipo patronal, conjugando a utilização de mão de obra familiar e contratada, envolvendo cerca de 1 unidade de trabalho familiar e, em média, 10 unidades de trabalho contratadas. Este tipo de empreendimento industrial tem adquirido maior representatividade em Sarandi/RS a partir dos anos 2000, quando aspectos relacionados às novas dinâmicas

de mercado conduziram a uma reorganização do parque industrial de confecções do município.

Existem em torno de 8 empresas deste tipo em Sarandi/RS, que possuem uma estrutura produtiva semelhante, com máquinas e equipamentos de baixo nível tecnológico e que mantêm uma relação de concorrência direta entre si. A relevância destes empreendimentos para o desenvolvimento local, avaliada a partir dos indicadores de VA e R é destacada no quadro 7, em que é possível visualizar os resultados do cálculo representativo deste tipo de empresa. No apêndice 5 pode-se observar mais detalhes do cálculo econômico relativos à composição do Valor Bruto da Produção e dos itens que compõem o Consumo Intermediário e as Depreciações).

Quadro 7

Cálculo do Valor Agregado e da Renda na indústria de confecções tipo facção de Sarandi/RS (2018)

Fonte: dados da pesquisa (2019)

As empresas deste tipo costumam utilizar imóveis alugados para desenvolver os serviços de facção encomendados por outras indústrias de confecções. Para atender estas encomendas as empresas de confecções tipo facção precisam de um conjunto de móveis, máquinas e equipamentos simples, que representam um investimento de um valor estimado de R$ 54.000,00 (Apêndice 5).

Aplicando a equação 01, constante dos procedimentos metodológicos, têm-se o indicador do valor agregado e da renda, os quais indicam a contribuição das empresas tipo facção para o desenvolvimento regional e para os seus proprietários. Como as empresas tipo facção apenas prestam serviços, o consumo intermediário é de baixo

valor, o que explica o fato de o VA destas empresas representar em torno de 80% do seu Valor Bruto de Produção.

Considerando o fato que o impacto no desenvolvimento regional depende da parcela do VA que tem chance de se tornar renda para agentes com potencial de consumi-la localmente, no caso em questão, mais de 50% do valor agregado gerado por empresas de confecções tipo facção de Sarandi/RS é apropriado por trabalhadores (salários e ordenados) e representantes comerciais (comissionados), provavelmente domiciliados na região, com chances de ali gastarem seus rendimentos.

A parte do VA apropriada pelo Estado, sob a forma de tributos, que no caso das empresas de facção representa em torno de 17% do VA, só contribui indiretamente para o desenvolvimento local a partir do retorno de ICMS ao município. Como este tipo de empresa utiliza-se de estrutura de produção alugada para desenvolver suas atividades aproximadamente 11% do VA é destinado para os proprietários dos imóveis e, o que sobra do VA (em torno de 22%), é apropriado como Renda por seus proprietários.

Em virtude de se tratar de apenas um membro da família que realiza a gestão do empreendimento e não de investidores de capital, este relata uma remuneração mínima necessária, para a sua permanência na atividade, seria de dois salários mínimos mensais, o que corresponde a um valor próximo a R$ 24.000,00 com probabilidade elevada de ser gasto para satisfazer as necessidades de consumo de sua respectiva família em fornecedores locais. Ainda restaria entre 25 a 30 mil reais que poderiam ser utilizados pela empresa para novos investimentos, uma vez que a reposição das condições existentes já estaria assegurada pelo fundo de depreciações.

Pode-se inferir assim, pela análise dos resultados, que este tipo de empresa tem potencial de contribuição ao desenvolvimento local e apresenta capacidade para manter-se na atividade no decorrer tempo.