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Neste estudo, à metodologia utilizada tem como base o método de Análise de Situações de Desenvolvimento (ASD), considerado um procedimento de estudo voltado à compreensão de processos reais com a perspectiva de estabelecer linhas estratégicas de desenvolvimento para diferentes contextos histórico-sociais (BASSO, 2012). Este método tem como referência as pesquisas realizadas por Silva Neto (2007) e Basso (2012), que, apoiam-se epistemologicamente nas contribuições do realismo crítico de Bhaskar (2008) e no materialismo histórico e dialético (SILVA NETO,

2016). Bem como na referência teórica de Análise-Diagnóstico de Sistemas Agrários de Dufumier (2007) e Mazoyer Roudart, (2010).

Silva Neto (2007) aponta que os procedimentos da ASD devem considerar alguns princípios metodológicos, dentre os quais requerem destaque:

● Realizar a análise a partir dos fatos mais gerais para os mais específicos, através de uma abordagem sistêmica em vários níveis;

● Avaliar cada nível da realidade individualmente, realizando uma síntese das categorias de análise mais abrangentes, antes de analisar as categorias mais particulares;

● Privilegiar a explicação em detrimento da descrição, priorizando à perspectiva histórica;

● Manter-se atento à heterogeneidade da realidade, evitando interpretações generalizadas que dificultam a explicação dos processos de diferenciação. Logo, para efetuar esta análise o pesquisador deve priorizar o contato direto com a realidade para compreender a situação em estudo e assim explicá-la (BASSO, 2012). A partir disso, é necessário avaliar cada nível de estudo separado e progressivamente através de observações e falas de indivíduos selecionados no próprio processo da pesquisa, de maneira que sejam respondidas às questões mais pertinentes em cada etapa. No momento em que as principais perguntas de cada nível forem respondidas é preciso realizar uma síntese daquele nível, buscando identificar as questões relevantes para o nível posterior. O enfoque principal deve ser dado aquelas informações com maior capacidade explicativa, de maneira que se tenha mais poder explicativo do objeto de estudo (SILVA NETO, 2007) e, não apenas uma descrição da realidade em tese.

Segundo Basso (2012), cada aspecto da realidade que se deseja estudar envolve níveis ou etapas particulares e procedimentos específicos, assim, qualquer análise de situação de desenvolvimento pode ser dividida em três grandes etapas de estudo.

Para o autor, o primeiro nível deve caracterizar o processo de desenvolvimento da região em que se localiza a situação ou o objeto de estudo. No segundo nível deve ser definida a tipologia dos atores ou agentes econômicos, sociais, políticos, em concordância com o processo de identificação realizado na etapa anterior. No terceiro nível são definidas as estratégias de desenvolvimento com o intuito de melhorar as condições de reprodução social tanto do ponto de vista dos atores caracterizados na segunda etapa, quanto da sociedade local (BASSO, 2012). A partir dos níveis de análise descritos por Basso (2012) para ASD, o estudo em tese está subdividido em três etapas:

● Etapa 1 — classificação geral e identificação das principais heterogeneidades presentes no processo de desenvolvimento do setor de confecções no município;

A primeira etapa de análise comporta a caracterização do processo de desenvolvimento industrial da região e do objeto (setor de confecções) de investigação. A partir desta abordagem inicial foi possível compreender os principais condicionantes que permitiram configurar o cenário atual do setor. O procedimento básico utilizado para isso, forma entrevistas e observações diretas na realidade em estudo.

● Etapa 2 — classificação dos diferentes tipos de unidades de produção que compõem o setor de confecções de Sarandi/RS;

A definição dos diferentes tipos de empresas atuantes no setor pesquisado foi o procedimento aplicado para melhor compreender a diversidade de situações observadas.

Os diferentes tipos de unidades de produção foram definidos a partir de informações coletadas sobre as especificidades dos processos de produção das empresas, da disponibilidade e uso dos fatores de produção, da natureza das relações de trabalho e da racionalidade dos empresários. Basso e Muenchen (2006) destacam que a definição do tipo de empresa deve ser utilizada como referência para a determinação da sua capacidade de geração de excedente econômico e da sua capacidade de reprodução social.

Os autores apontam que as empresas podem ser classificadas basicamente em três tipos, são elas: capitalistas, em que seus proprietários se organizam em função de uma racionalidade voltada prioritariamente à remuneração do capital, o trabalho é assalariado e a gestão é realizada por profissionais contratados. Já as empresas do tipo familiar representam condições em que gestão e trabalho são tarefas desempenhados por membros da família proprietária “e a reprodução social da empresa obedece a uma racionalidade pautada muito mais pela remuneração do trabalho e, por consequência, da família, do que do capital em si”. Os tipos de empresas patronais, constituem um meio termo entre as unidades capitalistas e familiares, incluindo assim, tanto trabalho familiar como contratado, em que geralmente as funções direcionadas a gestão da atividade são desempenhadas por membros da família e as atividades produtivas realizadas por trabalhadores assalariados (BASSO; MUENCHEN, 2006, p. 99 -100).

Logo, a classificação dos tipos de empresas representadas no setor em estudo foi realizada a partir de pesquisa de campo nas diferentes unidades de produção disponíveis.

● Etapa 3 — Apreciação da contribuição e da capacidade de reprodução dos diferentes tipos de empresas

Após definidas os diferentes tipos de empresas presentes no aglomerado industrial, faz-se necessário avaliar a contribuição e a capacidade de reprodução social destas. Para isso, buscaram-se informações qualitativas e quantitativas que possibilitaram identificar as especificidades dos diferentes tipos, bem como a disponibilidade e uso dos fatores de produção por parte destas empresas. O procedimento utilizado para isso envolveu entrevistas semiestruturadas e observações diretas nas empresas.

A partir das informações coletadas foi realizado o cálculo econômico para mensurar os indicadores de Valor Agregado (VA) e da Renda Industrial (RI), abrangendo para isso, a identificação do Valor Bruto da Produção (VBP), do Consumo Intermediário (CI), da Amortização do Capital Fixo (D), e da Repartição do Valor Agregado (RVA).

O Valor Agregado e a Renda Industrial são indicadores utilizados para avaliar o desempenho dos tipos de empresas identificados. O Valor Agregado representa o aumento de riqueza que a unidade produção gerou durante o período de análise, considerado um indicador relevante para avaliar a contribuição dos agentes econômicos para o desenvolvimento de determinado território, uma vez que quanto maior a capacidade de agregar riqueza (VA), maior a contribuição para o desenvolvimento (BASSO; MUENCHEN, 2006).

Este indicador é obtido através da seguinte expressão:

VA= VBP - CI –D (1)

Em que VBP representa o valor bruto da produção, CI o consumo intermediário e D as depreciações relativas à estrutura de produção (BASSO et al. 2000, p. 38; MUENCHEN et al. 2001, p. 17). Somando-se a isso, para mensurar a real contribuição de uma atividade econômica no desenvolvimento de determinado local, faz-se

necessário também compreender de que forma o Valor Agregado (VA) é partilhado entre os agentes que disponibilizaram algum tipo de fator de produção para que a empresa tivesse condições de produzir o conjunto de bens e serviços declarados.

Na compreensão de Basso e Muenchen (2006) o Valor Agregado é empregado para remunerar os proprietários dos fatores de produção que foram utilizados pelas empresas, sendo usualmente distribuído para o pagamento de mão de obra sob a forma de salário, ao Estado sob a forma de impostos, aos proprietários de bens e imóveis utilizados pela empresa sob a forma de aluguel e as instituições financeiras por meio de juros. Por fim, os proprietários do estabelecimento apropriam-se da Renda Industrial (RI), constituída da parcela do VA que sobra após remunerar os demais fatores de produção.

Desse modo, a Renda Industrial (RI), representa a quantia de riqueza nova gerada pela firma no período que é apropriada pelo (s) seu (s) proprietário (s) e possibilita identificar a capacidade de reprodução social dos diferentes tipos de unidades de produção em análise.

A Renda Industrial pode ser calculada através da seguinte equação:

RI= VA – S- I-A-J-GV-SP (2)

Em que RI compreende a Renda Industrial, VA o Valor Agregado, S os salários, I os Impostos, A os aluguéis, J os juros, GV os gastos com vendas e SP os serviços pagos (BASSO et al. 2000, p. 39; MUENCHEN et al. 2001, p. 18).

Assim, a Renda Industrial é um indicador que serve para analisar a capacidade de reprodução social e de acumulação de capital do tipo de empresa estudada. Para empresas do tipo familiar, a RI deve ser minimamente suficiente para remunerar o trabalho familiar envolvido e, se possível, garantir recursos para reinvestir no processo produtivo. Para as empresas do tipo capitalistas, a RI deve ser suficiente para remunerar o custo de oportunidade do capital investido e, quando possível garantir recursos para reinvestir no processo produtivo (BASSO et al. 2000, p. 39; MUENCHEN et al. 2001, p. 18). A Figura 1 evidencia as etapas supracitadas acima:

Fonte: a autora (2019)