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O cenário social e a teia de conceitos (de)marcadores da formação do profissional em produção cultural: desafios ao curriculo de graduação

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Academic year: 2021

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O CENÁRIO SOCIAL E A TEIA DE CONCEITOS (DE)MARCADORES DA FORMAÇÃO DO PROFISSIONAL

EM PRODUÇÃO CULTURAL: DESAFIOS AO CURRICULO DE GRADUAÇÃO

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação nas Ciências da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, como requisito parcial para a obtenção do título de Doutora em Educação nas Ciências.

Orientadora: Profa. Dra. Maria Cristina

Pansera-de-Araújo

IJUÍ 2016

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Zeneida Britto CRB10/1374

Cultura; Currículo; Educação; Formação acadêmico-profissional; Produção cultural. profissional em produção cultural: desafios ao currículo da graduação /

Elisa Lubeck Terra. – Ijuí, 2016. 168 f.: il. ; 30 cm.

Tese (doutorado) – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Campus Ijuí e Santa Rosa). Educação nas Ciências. “Orientadora: Maria Cristina Pansera-de-Araújo”.

1. Cultura. 2. Currículo. 3. Educação. 4. Formação acadêmico-profissional. 5. Produção cultural. I. Pansera-de-Araújo, Maria Cristina. II. Título. III. Título: Desafios ao currículo da graduação.

CDU: 008 371.13

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ouvidos, mas o que modifica o jeito de olhar e ouvir”.

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por ser a minha inspiração e por tornar os meus dias cheios de luz e amor...

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Ao curso de Relações Públicas da Universidade Federal de Santa Maria, onde iniciei minha trajetória como discente e depois como docente.

Aos colegas docentes e discentes do curso de Relações Públicas – Ênfase em Produção Cultural da Universidade Federal do Pampa, pela oportunidade de dividir comigo as conquistas enquanto profissional de relações públicas.

À professora Maria Cristina, que com muita paciência e alegria aceitou o desafio de orientar-me.

Aos professores Walter Frantz e Otavio Maldaner, pela sabedoria compartilhada e pelo diálogo e incentivo constantes durante a minha trajetória na Unijuí.

À equipe de docentes e funcionários do Programa de Pós-Graduação em Educação nas Ciências, pela humanidade e gentileza com que sempre me receberam.

A todos os amigos e familiares que compartilharam comigo momentos de alegria, angústia e desafios nesta pesquisa, em especial às professoras Elena Bilig Melo, Diana Salomão e Elisangela Maia Pessoa pelas contribuições carinhosas durante o desenvolvimento do trabalho.

Ao colega Gabriel Sausen Feil, pelo incentivo de buscar a Pós-Graduação em Educação nas Ciências da Unijuí.

À minha família, por sempre ter apontado o caminho dos estudos e do conhecimento e por estar comigo nos momentos mais desafiadores da caminhada da vida.

Aos professores Amilcar Almeida Bezzera (UFPE), Gabriel Chanti (Unipampa, campus Jaguarão), João Domingues (UFF), Leonardo Costa (UFBA), Valmor Rhoden, Cristóvão Almeida e Joel Guindani (Unipampa, campus São Borja) e aos servidores Helena Claudia de Pelegrin Basso Feil, Manoel Eduardo Fonseca e Nilson Levi Zalewski de Souza (Unipampa, campus São Borja) pela disponibilidade e pelo auxílio concedido quando da coleta de dados e disponibilização das informações dos cursos.

Sou sinceramente grata a todos aqueles que foram generosos ou curiosos e a todos que compartilharam sua atenção para a realização deste trabalho.

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A presente pesquisa tem por objetivo compreender os processos de formação e profissionalização no campo da cultura, em especial sobre as relações e interações com o cenário social contemporâneo na organização e implantação de currículos de graduação em produção cultural. Visto que os currículos dos cursos são (de)marcados pela constante interação com o cenário social em que emerge uma nova perspectiva da cultura, interligada com os processos de desenvolvimento econômico, político e social, delimitou-se o contexto de atuação dos profissionais de produção cultural, observando o que é essencial na formação a fim de estabelecer um perfil adequado para atuação no sistema de organização da cultura - um perfil que valorize e desenvolva a autonomia dos sujeitos. Como estratégia de pesquisa, adotei o estudo de caso (GIL, 2010) e a análise textual discursiva de Moraes e Galiazzi (2011), além de acionar diferentes instrumentos de investigação (pesquisa documental, pesquisa bibliográfica, contato telefônico, visitas, entrevistas) que serviram como base para a análise das matrizes curriculares dos cursos de graduação. Os resultados apontaram que a sociedade contemporânea exige outros modos de gerir a cultura e comunicá-la, utilizando-se das indústrias audiovisuais e das redes digitais, expressos em diferentes perfis profissionais de produtores culturais. Os profissionais devem ter um perfil multidisciplinar, capaz de trabalhar com a incerteza, reposicionando-se no debate sobre a cultura, a alteridade, a identidade, a cidadania, a diversidade e a interculturalidade. Ainda: a organização das matrizes curriculares dos cursos é dinâmica, em constante revisão frente aos novos arranjos produtivos da cultura, mantendo a característica multidisciplinar, resultante da complexificação do mercado cultural, a fim de garantir a formação profissional que garanta o reconhecimento efetivo no campo de trabalho.

Palavras-chave: Cultura; Currículo; Educação; Formação acadêmico-profissional; Produção

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The following research aims to understand the processes of formation and professionalization in the field of culture, particularly, concerning relations and interactions with the contemporary social scenario in the organization and implementation of undergraduate syllabus in cultural production. Since the syllabus of the majoring is marked by constant interaction with the social setting in which a new perspective of culture emerges, interconnected with the processes of economic, political and social development, I have delimited the context of cultural production professionals, taking into account what is essential in the formation process in order to establish an appropriate profile for operations in the organizational system of culture, a profile that values and develops the autonomy of the subject. As a research strategy, I have considered the case study by (Gil, 2010) and the discursive textual analysis by Moraes and Galiazzi (2011), besides triggering different research instruments (documentary research, literature search, telephone contact, visits, interviews) which served as the basis for the analysis of the syllabus matrices of undergraduate courses. The results showed that the contemporary society demands other ways to manage the culture and communicate it, making use of the audiovisual industries and digital networks, expressed in different professional profiles of cultural producers. Professionals should have a multidisciplinary profile, capable of working with uncertainty, repositioning in the debate about culture, otherness, identity, citizenship, diversity, and interculturalism. Still, the organization of the curricular matrices of the courses is dynamic, constantly being reviewed before new clusters of culture, keeping the multidisciplinary feature, resulting from the complexity of the cultural market in order to ensure professional formation, allowing effective recognition in the field of work.

Keywords: Academic-professional formation; Culture; Curriculum; Cultural production;

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Figura 1 – Dinâmica de funcionamento da economia criativa...56 Figura 2 – Tridimensionalidade da Cultura...61 Figura 3 – Matriz Curricular dos componentes curriculares obrigatórios do Curso de Produção Cultural da UFF...88 Figura 4 – Perfil profissional do Curso de Produção Cultural da UFF...90 Figura 5 – Matriz Curricular dos componentes curriculares obrigatórios e optativos do Curso de Comunicação com Habilitação em Produção em Comunicação e Cultura...97 Figura 6 – Matriz Curricular do Curso de Relações Públicas – Ênfase em Produção Cultural - 2015...106 Figura 7 – Matriz Curricular do Curso de Relações Públicas – Ênfase em Produção Cultural - 2016...107 Figura 8 – Matriz curricular dos componentes curriculares obrigatórios e optativos do Curso de Produção e Política Cultural da Unipampa...111 Figura 9 – Oferta dos componentes curriculares complementares de graduação (CCCG)...112 Figura 10 – Mapa do perfil do egresso do Curso de Comunicação com habilitação em

Produção em Comunicação e Cultura...146 Figura 11 – Mapa do perfil do egresso do Curso de Comunicação Social com Ênfase em Produção Cultural ou Mídias Sociais...147 Figura 12 – Mapa do perfil do egresso do Curso de Produção Cultural...149 Figura 13 – Mapa do perfil do egresso do Curso de Produção e Política Cultural...150 Figura 14 – Mapa do perfil do egresso do Curso Relações Públicas - Ênfase em Produção Cultural...151 Figura 15 – Mapa do Perfil Profissional híbrido do Produtor Cultural Contemporâneo...154

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Quadro 1 – Quadro informativo dos Cursos do Corpus de Análise...32 Quadro 2 – Relação entre os elementos da ATD e o Software ATLAS.Ti...35 Quadro 3 – Componentes Curriculares Optativas divididas por blocos formativos da UFF....89 Quadro 4 – Componentes Curriculares Obrigatórios e Optativos do curso da UFBA...94 Quadro 5 – Matriz Curricular do Curso de Comunicação Social da UFPE – Componentes Obrigatórios e Eletivos dos ciclos básico e profissional...118 Quadro 6 – Distribuição da Carga Horária dos Cursos...126 Quadro 7 – Distribuição da carga horária do Trabalho de Conclusão de Curso...127 Quadro 8 – Componentes Curriculares Obrigatórios específicos de Produção Cultural por Curso...134 Quadro 9 – Distribuição dos componentes curriculares por semestre e por Curso...135 Quadro 10 – Componentes Curriculares Obrigatórios da área de Comunicação Social

distribuídos por Curso...141 Quadro 11 – Componentes Curriculares Obrigatórios dos Cursos distribuídos de acordo com o foco...143

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Gráfico 1 – Ingressantes no Curso de Relações Públicas – Ênfase em Produção Cultural da Unipampa...101

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ACG – Atividade Complementar de Graduação

BDTD – Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações CCCG – Componente Curricular Complementar de Graduação Consuni – Conselho Universitário

Enem – Exame Nacional do Ensino Médio FNC – Fundo Nacional de Cultura

FGV – Fundação Getúlio Vargas Funarte – Fundação Nacional de Arte

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

Ibict – Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia IPEA – Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas

MEC – Ministério da Educação MinC – Ministério da Cultura NDE – Núcleo Docente Estruturante

OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico ONU – Organização das Nações Unidas

PAC – Programa de Ação Cultural

PAE – Programa de Acompanhamento de Egressos PDI – Plano de Desenvolvimento Institucional PEC – Proposta de Emenda à Constituição PNC – Plano Nacional de Cultura

PPC – Projeto Político-Pedagógico de Curso PPI – Projeto Pedagógico Institucional

Pronac – Programa Nacional de Apoio à Cultura Procultura – Programa Pró-Cultura

Proplan – Pró-Reitoria de Planejamento SIEC – Sistema Estadual de Cultura. SiSu – Sistema de Seleção Unificada SNC – Sistema Nacional de Cultura

SNIIC – Sistema Nacional de Informações e Indicadores Culturais UECE – Universidade Estadual do Ceará

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UFBA – Universidade Federal da Bahia UFF – Universidade Federal Fluminense UFPE – Universidade Federal de Pernambuco UFSM – Universidade Federal de Santa Maria

Unesco - Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura UNEC – Centro Universitário de Caratinga

Unijuí - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul Unipampa – Fundação Universidade Federal do Pampa

Unirio – Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro USP – Universidade de São Paulo

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INTRODUÇÃO...16

1 CONSTRUÇÃO DE SENTIDOS: VIVÊNCIA E PESQUISA...27

2 CONCEITOS (DE)MARCADORES DOS FIOS DA TEIA FORMADORA DO PRODUTOR CULTURAL: O CENÁRIO...37

2.1 A CULTURA E O SISTEMA CULTURAL...37

2.1.1 Cultura: conceito e compreensões...37

2.1.2 Cultura, interculturalidade e hibridação...43

2.1.3 O sistema cultural...48

2.1.4 Da economia da cultura à economia criativa...51

2.2 POLÍTICAS CULTURAIS E A ORGANIZAÇÃO DA CULTURA: DESAFIOS À FORMAÇÃO DO GRADUADO EM PRODUÇÃO CULTURAL...57

2.2.1 Breve histórico das Políticas Culturais no Brasil...57

2.2.2 Gestão do Ministério da Cultura (MinC) no Governo Dilma (2011-2014/2015)...64

3 O CURRÍCULO NA EDUCAÇÃO SUPERIOR: QUESITOS PARA A FORMAÇÃO EM PRODUÇÃO CULTURAL...70

3.1 O PRODUTOR CULTURAL...70

3.2 O CURRÍCULO NA EDUCAÇÃO SUPERIOR...77

4 A TESSITURA DOS FIOS: OS CONTEXTOS FORMATIVOS DA GRADUAÇÃO EM PRODUÇÃO CULTURAL...85

4.1 OS CURSOS DE GRADUAÇÃO EM PRODUÇÃO CULTURAL SELECIONADOS...85

4.1.1 Produção Cultural – Universidade Federal Fluminense (UFF)...85

4.1.1.1 Perfil do Egresso do Curso de Produção Cultural da UFF...90

4.1.2 Comunicação com Habilitação em Produção em Comunicação e Cultura – Universidade Federal da Bahia...92

4.1.2.1 Perfil do Egresso do Curso de Comunicação com Habilitação em Produção em Comunicação e Cultura da UFBA...98

4.1.3 Curso de Relações Públicas com ênfase em Produção Cultural – Universidade Federal do Pampa...99

4.1.3.1 Perfil do Egresso do Curso de Relações Públicas com ênfase em Produção Cultural da Unipampa...108

4.1.4 Curso de Produção e Política Cultural - Universidade Federal do Pampa, campus Jaguarão...109

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da Universidade Federal de Pernambuco...114

4.1.5.1 Perfil do Egresso do Curso de Comunicação Social com ênfase em Mídias Sociais ou Produção Cultural da UFPE...119

5 AS (DE)MARCAÇÕES DAS APROXIMAÇÕES E DISTANCIAMENTOS EXPRESSAS NA CONSTITUIÇÃO DA TEIA DE CONCEITOS DAS MATRIZES CURRICULARES...121

CONSIDERAÇÕES FINAIS...156

REFERÊNCIAS...161

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A reflexão que desenvolvi nesta tese buscou compreender os processos de formação e profissionalização no campo da cultura no Brasil, no período de 2011 a 2015, em especial na implantação de currículos de graduação para a formação na área de produção cultural e suas relações a partir da interação com o cenário social contemporâneo, compreendendo que “formar é muito mais do que puramente treinar o educando no desempenho de destrezas” (FREIRE, 2011, p.16), mas permitir ao homem tornar-se sujeito, construir-se e fazer a cultura e a história.

A metáfora da teia foi utilizada para marcar a complexidade1 do fenômeno com

cadeias de interdependências e evidenciando os seus inter-relacionamentos, referindo-se ao contexto histórico, político, econômico e social de modo multidimensional (MORIN, 2000), tendo em vista que a formação resulta da interação de diferentes contextos, todos interligados.

Dentre as motivações para estudar esta temática está o meu ingresso, em 2004, como professora substituta do Departamento de Ciências da Comunicação da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), atividade que desenvolvi até o ano de 2006, e também o início de minhas atividades como docente, em agosto de 2010, no Curso de Relações Públicas – Ênfase em Produção Cultural, da Universidade Federal do Pampa – campus São Borja. A partir de então, como uma das primeiras professoras do curso, comecei a formular algumas questões referentes à formação profissional do produtor cultural, além de teorizar sobre este campo em constituição e sobre a prática docente na implantação de um novo currículo.

No intuito de contribuir com a construção e reconstrução do currículo do meu curso de atuação, decidi tornar-me uma “presença que intervém, que transforma, que fala do que faz, mas também do que sonha, que constata, compara, avalia, valora, que decide, que rompe” (FREIRE, 2011, p. 20). Uma presença que procurou pensar criticamente, reconhecendo as possibilidades de um currículo e de um curso inseridos em uma universidade nova, instalada em uma região marcada pelos baixos índices de desenvolvimento. Uma instituição que foi criada com a missão de promover a educação superior de qualidade com vistas à formação de sujeitos comprometidos e capacitados para atuarem em prol do desenvolvimento regional,

1Para Morin (2000, p.38): “O conhecimento pertinente deve enfrentar a complexidade. Complexus significa o

que foi tecido junto; de fato, há complexidade quando elementos diferentes são inseparáveis constitutivos do todo (como o econômico, o político, o sociológico, o psicológico, o afetivo, o mitológico), e há um tecido interdependente, interativo e inter retroativo entre o objeto de conhecimento e seu contexto, as partes e o todo, o todo e as partes, as partes entre si. Por isso, a complexidade é a união entre a unidade e a multiplicidade. Os desenvolvimentos próprios a nossa era planetária nos confrontam cada vez mais e de maneira cada vez mais inelutável com os desafios da complexidade”.

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nacional e internacional2, de acordo com o Art. 2º, da Lei nº 11.640, de 11 de janeiro de 2008,

que instituiu a Fundação Universidade Federal do Pampa:

A Unipampa terá por objetivos ministrar ensino superior, desenvolver pesquisa nas diversas áreas do conhecimento e promover a extensão universitária, caracterizando sua inserção regional, mediante atuação multicampi na mesorregião Metade Sul do Rio Grande do Sul.

Uma presença marcada pela consciência crítica e com a vontade de contribuir para a transformação da realidade, acreditando que o homem, “quanto mais refletir sobre a realidade, sobre sua situação concreta, mais emerge, plenamente consciente, comprometido, pronto a intervir na realidade para mudá-la” (FREIRE, 1979, p. 19). Ou, como sugere García Canclini (2008, p.279), o trabalho consiste em deixar-se desafiar pelos fatos e “o confronto é um modo de encenar a desigualdade (embate para defender a especificidade) e a diferença (pensar em si mesmo através daquele que desafia)”. Portanto, “uma proposta pedagógica é um caminho, não é um lugar. Uma proposta pedagógica é construída no caminho, no caminhar. Toda proposta pedagógica tem uma história que precisa ser contada. Toda proposta contém uma aposta” (KRAMER, 1999, p.169).

Dessa forma, esta tese foi uma “aposta” com o intuito de colaborar com a (re)construção do currículo e do Curso de Relações Públicas – Ênfase em Produção Cultural da Universidade Federal do Pampa (Unipampa). Para isso, identifiquei e analisei o cenário atual de atuação dos profissionais de produção cultural, com o objetivo de descrever algumas das características da cultura na contemporaneidade, observando, dentro desse contexto, o que era essencial na formação desses profissionais, e estabelecendo um perfil profissional que considerei mais adequado para atuar no sistema de organização da cultura brasileira, além de de(marcar) os componentes e os espaços-tempos de discussão do tema nas matrizes curriculares3.

Algumas das discussões norteadoras da pesquisa também surgiram a partir de minha participação no Núcleo Docente Estruturante (NDE) do Curso de Relações Públicas – Ênfase em Produção Cultural, de acordo com a Portaria nº 234, de 27 de fevereiro de 2013, tais como: o que era a profissão de produtor cultural? Com o que trabalhava? Como era formado esse profissional em um curso superior? Qual era o perfil profissional proposto nos cursos?

2Plano de Desenvolvimento Institucional 2014-2018, Universidade Federal do Pampa.

3Compreendendo que a matriz curricular substitui a grade curricular, pois a matriz curricular constituiu-se na

“articulação das antigas disciplinas em componentes curriculares, áreas ou módulos, em torno de eixos [...]” (ANASTASIOU, 2007, p.56). Com isso, a matriz curricular, na perspectiva da sinergia, é maior do que a soma das partes, e deve evidenciar a flexibilização curricular, a interdisciplinaridade, a contextualização, a relação entre teoria e prática e a indissociabilidade entre pesquisa, ensino e extensão.

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Quais eram os limites e as possibilidades da organização curricular e das práticas estabelecidas nos cursos de graduação para garantir a formação do produtor cultural num curso de graduação?

A partir destes questionamentos, estabeleci o meu problema de pesquisa: se os processos de formação em Produção Cultural resultam da constante interação dos cursos de graduação com o cenário social contemporâneo, que conceitos (de)marcam o perfil profissional e permitem responder aos desafios impostos pela organização demandada nas matrizes curriculares dos cursos?

Nesse sentido, trabalhei com a hipótese de que os currículos dos cursos de graduação em produção cultural constituiam-se numa perspectiva de hibridismo cultural4 e

interculturalidade5 (de)marcados por uma teia de conceitos e interações com o cenário social

contemporâneo, em que a formação era fruto de uma nova perspectiva de cultura, interligada aos processos de desenvolvimento econômico, político, ambiental e social.

Meu objetivo foi analisar as trajetórias e as identidades curriculares explicitadas nas matrizes dos cursos de graduação na área de produção cultural para compreender os processos de formação, seus desafios e sua relação com o contexto político, econômico, ambiental e social contemporâneo, além de apresentar alguns referenciais orientadores da constituição do perfil que valorizasse e desenvolvesse a autonomia dos sujeitos para a atuação nesta área.

Nesse sentido, esta pesquisa evidenciou as características do perfil do egresso de alguns cursos de produção cultural condizentes à atuação estratégica no setor cultural. Ainda: o produtor cultural a ser formado dependia das escolhas efetuadas na elaboração dos currículos dos cursos - daí a necessidade de observar os seus componentes e sua relação com as características constitutivas deste profissional. Além disso, demarquei os diferentes perfis de formação expressos nas matrizes curriculares dos cursos analisados.

A formação dos profissionais da área da cultura ocorreu no cotidiano do trabalho, e somente a partir de 1980, com a criação das instituições públicas de cultura e com a legislação de incentivo fiscal e financiamento do setor cultural, é que se iniciou a trajetória de reconhecimento da profissão. Para Cunha (2013), era essencial um equilíbrio entre a formação

4O conceito de hibridismo não deve limitar-se a descrever as misturas interculturais, mas deve ser “útil para

interpretar as relações de sentido que se reconstroem nas misturas” (GARCÍA CANCLINI, 2008, p.XXIV).

5 García Canclini (2007b) entende a interculturalidade como a diversidade de culturas em confrontação e

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teórica e a prática para que as matrizes curriculares de produção cultural se adequassem as demandas contemporâneas da atuação profissional.

Ao trabalhar o perfil e o campo de atuação do gestor cultural, uma profissão relativamente nova, é preciso analisar também o seu processo formativo, considerando como base de sustentação teórica conhecimentos multidisciplinares, que deve estabelecer uma relação entre as questões artísticas e culturais associadas aos conhecimentos sociológicos, antropológicos e políticos, bem como aos conhecimentos mais técnicos da comunicação, economia, administração e direitos aplicados à esfera cultural. (CUNHA, 2013, p.24)

Para isso, foi essencial o debate sobre os conceitos contemporâneos do campo da cultura, pois eles exigem a construção de um perfil profissional diferenciado, “capaz de olhar de forma estratégica e sensível o seu campo de atuação, capacitado para ocupar funções novas que surgem no setor cultural” (CUNHA, 2013, p.7).

Para Anastasiou (2005), os currículos devem permitir ao discente construir um quadro teórico-prático global, superando a fragmentação, tornando-o capaz de adequar-se a uma realidade dinâmica, desenvolvendo a interpretação, espontaneidade, auto-organização, criatividade, evolução e o reconhecimento do contexto histórico, social e político no qual está inserido. Portanto, somente a partir da definição do perfil profissional a ser alcançado nos cursos ocorreu o planejamento do percurso que o discente deveria realizar, de modo a se apropriar dos saberes propostos em crescente complexidade para realizar a formação esperada na atuação.

Para isso, uma das maneiras de analisar esta construção foi realizar revisões e aproximações sucessivas, tomando como partida a matriz curricular e as ementas existentes, os saberes que dependiam e/ou se associavam uns aos outros, para compor o percurso resultante do quadro teórico-prático global de investigação da profissão que o discente buscava na sua formação universitária (ANASTASIOU, 2005). É claro que não há objeto que não envolva um ponto de vista, e colocada diante do desafio que representa o estudo de “um mundo ao qual se está ligado por todas as formas” (BORDIEU, 2013b, p.26), procurei estabelecer, dentro do possível, um controle lógico dentro do conjunto de escolhas que determinaram as análises:

A lógica da pesquisa é uma engrenagem de dificuldades maiores ou menores que condenam a pessoa a se indagar, a cada momento, sobre o que se fez e permitem saber cada vez mais o que se procura fornecendo começos de resposta que levam a novas questões, mais fundamentais e mais explícitas (BORDIEU, 2013b, p.28) Em 2009, foi realizada uma pesquisa intitulada “Mapeamento da Formação em organização da cultura no Brasil”, coordenada por Antonio Albino Canelas Rubim. A referida

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pesquisa englobou o estudo sistemático e o diagnóstico sobre a formação em política e gestão cultural no Brasil, tendo em vista que uma das carências detectadas nas pesquisas das políticas culturais brasileiras era a ausência de pessoal qualificado em política, gestão e produção cultural para atuação nos diferentes espaços.

A pesquisa apontou a existência de nove cursos de graduação em Produção Cultural no Brasil: Bacharel em Produção e Política Cultural (Unipampa, campus Jaguarão); Ciências Sociais – Produção e Política Cultural (UCAM); Comunicação com Habilitação em Produção em Comunicação e Cultura (UFBA); Curso Superior em Ciências Sociais com concentração em Cultura e Sociedade (FGV); Engenharia de Produção com ênfase em Produção em Cultura (Unirio); Produção Cultural (UNEC); Produção Cultural (UFF); Produção e Marketing Cultural (UCAM); Relações Públicas com ênfase em Produção Cultural (Unipampa, campus São Borja)6.

Esta tese justifica-se pela análise das matrizes curriculares dos cursos de produção cultural, com o objetivo de acompanhar as tendências desta área no Brasil, que exige profissionais que estejam cada vez mais conscientes da realidade sociocultural, política e econômica. Profissionais competentes para atuarem em uma área em constante evolução, desenvolvendo a capacidade de aprimoramento, criatividade e formação continuada, observando que os currículos devem ser estudados dentro de seu contexto social, uma vez que são historicamente situados e culturalmente determinados (VEIGA, 2002). Ainda, “interessam-me os estudos de caso porque ajudam a recriar esses modos de pensar e, ao mesmo tempo, permitem configurar novas leituras – a partir do trabalho teórico – sobre os materiais empíricos” (GARCÍA CANCLINI, 2007b, p.54).

Conforme Rubim (2003), os cursos de produção cultural devem oferecer uma formação técnica/instrumental consistente, além de desenvolver um compromisso ético e político com a cultura e a sociedade, disponibilizando uma ampla informação cultural que permita a reflexão acerca da cultura e da sociedade.

A profissionalização das funções culturais foi resultado do crescimento da educação superior e dos mercados artístico e literário. Além disso, a ampliação do mercado cultural acabou por fomentar a especialização na área (GARCÍA CANCLINI, 2008).

6Dados do relatório final do “Mapeamento da formação e qualificação em organização cultural no Brasil”,

coordenado por Antonio Albino Rubim, Alexandre Barbalho e Leonardo Costa. Disponível em: <http://www.organizacaocultural.ufba.br/>. Acesso em 10 de setembro de 2015.

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Definida a temática e sua delimitação, segui para um levantamento das pesquisas existentes, buscando tomar os estudos já realizados como base para estabelecer relações. Realizei pesquisas no Banco de Teses da CAPES, na Biblioteca Digital Brasileira, em revistas científicas e nos repositórios online de algumas Universidades (UFBA, UFF, UNIPAMPA e UFPE). Dos resultados encontrados, selecionei aqueles que iam ao encontro da perspectiva da produção cultural.

Observando os resultados encontrados no banco de teses da CAPES, no período de 2010 a 2014, com a palavra-chave “produção cultural” no título, foram encontradas apenas oito teses, o que ressaltou a importância de refletir mais profundamente sobre esta questão. As oito teses abordavam temas bem diversos, como pode ser depreendido dos títulos: 1) "Desafiando o coro dos contentes": Torquato Neto e a produção cultural brasileira nas décadas de 1960-70; 2) Cala a boca já morreu. Quem manda aqui sou eu? Uma reflexão sobre a produção cultural da juventude contemporânea no universo das novas mídias; 3) Produção cultural no contexto das políticas públicas: uma análise da trajetória do teatro baiano profissional no período de 1988 a 2010; 4) 20 primeiros anos do festival de inverno da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); 5) É tudo nosso! Produção cultural na periferia paulistana; 6) Pérolas da cantoria de repente em São José do Egito no vale do Pajeú: memória e produção cultural; 7) A amizade como produção cultural midiática brasileira; 8) Profissionalização da organização da cultura no Brasil: uma análise da formação em produção, gestão e políticas culturais. Esta última tese, de autoria de Leonardo Costa, defendida em 2011, na Universidade Federal da Bahia (UFBA), realizou um mapeamento da organização da cultura no Brasil, entre junho de 2009 e janeiro de 2010, caracterizando o contexto da formação como peça fundamental para o desenvolvimento do setor. Leonardo Costa fez parte da equipe que sistematizou os cursos e as instituições que trabalhavam com a formação e qualificação em organização da cultura nos mais diversos níveis de aprimoramento (atividades presenciais e online, de extensão, graduação, especialização, mestrado e doutorado).

Para Leonardo Costa (2011), a organização da cultura compreendia as políticas nacionais para a formação nesse setor. Em sua tese, o autor trabalhou com a hipótese de que a formação contribuia para a profissionalização do campo da organização da cultura e que a ausência de políticas prejudicava essa relação, destacando a importância dos cursos de graduação na área de produção cultural no Brasil, além de realizar uma análise dos cursos de graduação plena e tecnológicos.

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Durante o trabalho, foram mapeadas 257 instituições, 355 setores, 624 cursos e 98 publicações. Conforme o levantamento, 49% das instituições que trabalhavam com formação em organização da cultura eram privadas, e apenas 29% eram públicas. Dos 624 cursos pesquisados, 75,88% eram de extensão, com caráter mais esporádico, e, 9,49% eram de especialização. Observando-se a pouca oferta de graduações na área: 0,96%.

Nesse sentido, a presente tese se aproximou da pesquisa desenvolvida por Leonardo Costa (2011) nos aspectos relativos à formação em organização da cultura. No entanto, diferenciou-se pelo aprofundamento da análise sobre os currículos dos cursos de graduação.

Para complementar os dados, também utilizei a Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD), do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict), que integra o sistema de informações sobre teses e dissertações produzidas no país e no exterior, dando visibilidade à produção científica brasileira. Com a palavra “produção cultural”, no título, no período de 2010 a 2015, encontrei 4 teses, intituladas: “Burguesia radiodifusora no Brasil: propriedade privada e direção na produção cultural” (UFPE); “É tudo nosso! Produção cultural na periferia paulistana” (USP); “Produção cultural no contexto das políticas públicas: uma análise da trajetória do teatro baiano profissional no período de 1988 a 2010” (UFBA); “Pérolas da cantoria de repente em São José do Egito no vale do Pajeú: memória e produção cultural” (UFPB).

Quando procurei pelas palavras “cultura”, “cultural” ou “culturais” no título, foram encontradas quatro teses em 2014, nove em 2013, quatro em 2012 e seis em 2011. Também encontrei duas dissertações de mestrado, uma produzida em 2013 e outra em 2014, que tratavam do campo da produção cultural: “O campo da produção cultural no Ceará: conformações, configurações e paradoxos”, de Rachel Gadelha Weyne, do Mestrado em Políticas Públicas e Sociedade, da Universidade Estadual do Ceará (UECE); e “Projeto cultural: as especificidades de um novo gênero do discurso”, de autoria de Inti Anny Queiroz, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP).

Em sua dissertação, Queiroz (2014) defendeu a ideia de que os projetos culturais eram constituídos e constituiam a esfera político-cultural brasileira, além de destacar que as políticas culturais, em especial as leis de incentivo fiscal, foram responsáveis pela viabilização da produção cultural no País. Por sua vez, Weyne (2014) abordou o lugar do produtor cultural no sistema da cultura, dando destaque também para as leis de incentivo. Porém, sua pesquisa foi contextualizada no Estado do Ceará.

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Partindo da premissa de que a formação era essencial para o desenvolvimento do sistema cultural, este trabalho buscou delimitar e interpretar algumas das relações de sentido que ocorriam dentro das matrizes curriculares de produção cultural, a partir da análise dos projetos político-pedagógicos7 dos cursos, dos componentes curriculares e do perfil dos

egressos, revendo os saberes e reunindo “o rigor dos conceitos com outros modos de explicação, compreensão e expressão” (GARCIA CANCLINI, 2012, p. 64). Iluminou-se a análise, ainda, com as teorias pós-críticas de currículo, identificando as conexões entre identidade, saber, poder, cultura, gênero, raça, alteridade, diferença, etnia e multiculturalismo, como afirmou Tomaz Tadeu da Silva (2011, p.16):

Sua questão central seria, pois, não tanto “o quê?”, mas “por quê?”. Por que esse conhecimento e não outro? Quais interesses fazem com que esse conhecimento e não outro esteja no currículo? Por que privilegiar um determinado tipo de identidade ou subjetividade e não outro?

De posse destas informações iniciais, organizei o texto em seis partes: Introdução; 1.Construção de sentidos: vivência e pesquisa; 2. Conceitos (de)marcadores dos fios da teia formadora do produtor cultural: cenário; 3. Currículo na Educação Superior: quesitos para a formação em produção cultural; 4. Tessitura dos fios: os contextos formativos da graduação em produção cultural; 5. As (de)marcações das aproximações e distanciamentos expressas na constituição da teia de conceitos das matrizes curriculares da graduação em produção cultural; Considerações Finais.

O primeiro capítulo, intitulado “Construção de sentidos: vivência e pesquisa”, mostra a trajetória percorrida para a compreensão dos conceitos que compuseram o contexto da pesquisa. Inicia com o detalhamento metodológico, visando explicitar a caminhada realizada, a partir da leitura das obras que contribuíram com a construção desta tese. Os procedimentos adotados elucidaram a organização e estruturação da mesma, além de demonstrar o percurso de escolha das instituições e cursos de graduação analisados. Foi detalhado o modo de coleta e organização dos dados obtidos, nas instituições com cursos de graduação em produção cultural.

O segundo capítulo, intitulado “Conceitos (de)marcadores dos fios da teia formadora do profissional Produtor Cultural: Cenário”, esboça o corpo conceitual, em produção cultural,

7Considerando a definição de Projeto Político-Pedagógico proposta por Veiga (2004, p.16) como: “instrumento

de ação política [que] deve estar sintonizado com uma nova visão de mundo, expressa no paradigma emergente de ciência e de educação, a fim de garantir uma formação global e crítica para os envolvidos nesse processo, como forma de capacitá-los para o exercício da cidadania, a formação profissional e o pleno desenvolvimento pessoal”.

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que fundamentou o entendimento decorrente das análises realizadas na pesquisa. A elaboração desse capítulo, atrelado à leitura crítica e analítica das obras selecionadas para estudo nesta tese, auxiliaram o processo de construção de definições sobre cultura, currículo, hibridismo, entre outros conceitos necessários a compreensão do contexto dos cursos. A argumentação fundamentou-se nos estudos de alguns pressupostos teóricos sobre os diversos conceitos de cultura, de autores como: Barbosa (2013), Botelho (2001), Caldas (2008), Certeau (2012), Chauí (2006), Coelho (2008), Eagleton (2005), Garretón (2003), Jordão (2012), Laraia (2006), Veiga-Neto (2003).

Buscando responder à questão do estabelecimento do quadro conceitual desta tese – o que é cultura – recorri a Néstor García Canclini (2012, 2008, 2007a, 2007b), que contribuiu com os conceitos de interculturalidade, multiculturalidade e hibridação. A partir dessa compreensão, destaquei também a concepção de cultura adotada pelo Ministério da Cultura, desde as suas dimensões simbólica, econômica e cidadã, além da compreensão do sistema cultural, da economia da cultura e criativa, como setores que trabalhavam as questões culturais enquanto bens simbólicos capazes de fomentar o desenvolvimento econômico e social. Tendo em vista que a produção cultural tem representado um importante papel na atividade econômica do país, assumindo uma forma produtiva própria, como outras mercadorias que circulam, e que este era o cenário em que os futuros profissionais de produção cultural iriam desenvolver suas atividades.

Seguindo a teia de conceitos, bem como o cenário da formação em cultura no Brasil, evidenciei as políticas culturais e a organização da cultura de 2011-2015, traçando um breve apanhado histórico que culminou com o Plano Nacional de Cultura (PNC)8, instituído em

2010. Dentro do PNC, elenquei as 53 metas, em especial as que dialogavam com os temas: reconhecimento e promoção da diversidade cultural; criação e fruição; circulação, difusão e consumo; educação e produção de conhecimento; ampliação e qualificação de espaços culturais; fortalecimento institucional e articulação federativa; participação social; desenvolvimento sustentável da cultura; e fomento e financiamento. Entre as metas analisadas, destaquei as que trabalhavam a dimensão da educação e produção do conhecimento, consideradas fundamentais para a formação dos profissionais ligados à cultura no país e, consequente, a criação dos cursos de graduação na área. Além disso, algumas das ações desenvolvidas no Ministério da Cultura de 2011 a 2015 foram apresentadas, no sentido de caracterizar o contexto de atuação do profissional Produtor Cultural.

8O PNC foi instituído pela Lei 12.343, de 2 de dezembro de 2010. Este apresenta o planejamento e

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O terceiro capítulo, intitulado “Currículo na Educação Superior: quesitos para a formação”, completou a ideia de conceitos na Educação Superior e na perspectiva cultural para a formação em produção cultural. Para esta relação utilizei os autores: Lopes e Macedo (2010), Corazza (2010), Apple (1994), Santos (2005), Morin (2001), Almeida e Pimenta (2011) e Alencar (1996). No que se refere à perspectiva cultural do currículo trouxe as contribuições de Moreira e Silva (2011), Tomás Tadeu da Silva (2011) e Alice Lopes (1999).

“Tessitura dos fios: os contextos formativos da Graduação em Produção Cultural” é o título do quarto capítulo, o qual contemplou as informações relativas aos cursos da Universidade Federal Fluminense (UFF, em 1995); da Universidade Federal da Bahia (UFBA, em 1996); da Universidade Federal do Pampa (Unipampa, campus São Borja, RS, em 2010; campus Jaguarão, RS, em 2012); e da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE, em 2014); A sistematização das informações a respeito dos cursos garantiu a preservação e o resgate histórico dos mesmos, lembrando sempre que “as peculiaridades das trajetórias nacionais certamente influenciam, sobremodo, as configurações acadêmicas dos cursos em cada país e região do globo” (RUBIM, 2011, p.118). Além disso, destaquei aproximações e distanciamentos na constituição da teia de conceitos (de)marcadores da Graduação em Produção Cultural.

O quinto capítulo, cujo título é “As (de)marcações das aproximações e distanciamentos expressas na constituição da teia de conceitos das matrizes curriculares da graduação em produção cultural”, discuti os resultados produzidos e apontei conceitos relevantes à tessitura da organização da graduação em produção cultural no cenário atual.

Nas considerações finais, apresentei alguns cenários na área da formação em produção cultural. A partir das formulações elaboradas e das experiências e singularidades dos cursos, destaquei que é possível trabalhar um conjunto de temas que permitissem a construção de uma formação qualificada e sintonizada com a sociedade e a concepção de cultura contemporâneas. A partir da reflexão sobre as matrizes curriculares dos cursos de produção cultural, das experiências da Universidade Federal do Pampa e de iniciativas como o Curso de Comunicação Social da Universidade Federal de Pernambuco, por meio do Centro Acadêmico do Agreste, esbocei características do perfil profissional de produção cultural, privilegiando fatores sociais e culturais que:

“[...] implicam também na conquista da autonomia e da cooperação, princípios básicos da cidadania, garantindo, ainda, o enfrentamento e a solução de problemas, a responsabilidade, a criatividade, a formação de autoconceito, a vivência da linguagem nos seus vários modos de expressão” (KRAMER, 1999, p. 172).

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Fatores que considerei mais condizentes com as transformações culturais da contemporaneidade, almejando contribuir, em especial, com a estruturação e o desenvolvimento dos currículos dos cursos de produção cultural da Universidade Federal do Pampa.

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1 CONSTRUÇÃO DE SENTIDOS: VIVÊNCIA E PESQUISA

Consciente de que os resultados da pesquisa dependem das decisões tomadas ao longo do processo (LOPES, 2005), e que para compreender a cultura na contemporaneidade e a atuação dos profissionais de produção cultural era necessário delimitar o corpus de estudo, optei pelo estudo de caso, visando explorar e descrever um contexto complexo, envolvendo diversos fatores, como afirma Araújo (2008, p.22):

Concluímos que um estudo de caso representa um método de investigação relevante, sobretudo porque assenta numa pesquisa intensiva e aprofundada de um determinado objecto de estudo, que se encontra extremamente bem definido e que visa compreender a singularidade e globalidade do caso em simultâneo.

A opção por esta abordagem reside no fato de que proporciona uma maior familiaridade com o problema proposto, de forma a torná-lo mais explícito. “Pode-se dizer que estas pesquisas têm como objetivo principal o aprimoramento de ideias ou a descoberta de intuições” (GIL, 2010, p.45). Seu planejamento flexível permite levar em consideração inúmeros aspectos relativos ao objeto de estudo. Ainda: a “profundidade e a qualidade das descrições, interpretações e principalmente teorização atingida no processo são indicadores da qualidade da pesquisa” (MORAES e GALIAZZI, 2011, p.127)

O primeiro passo foi a pesquisa bibliográfica, que permitiu esboçar um corpo conceitual, buscando organizar o “estado da arte” sobre o tema. De acordo com Lakatos e Marconi (2011), a pesquisa bibliográfica coloca o pesquisador em contato com aquilo que foi publicado sobre determinado assunto, permitindo-lhe um reforço na análise e interpretação das informações. Assim, a revisão da literatura sobre os principais temas auxiliou as instâncias de investigação, as escolhas e as decisões tomadas.

A seguir, busquei as instituições que trabalhavam com a formação e qualificação em organização da cultura na graduação, destacando as universidades federais que ofereciam cursos em produção cultural com o objetivo de identificar os desafios presentes nessa formação.

Assim sendo, encontrei o trabalho intitulado “Mapeamento da formação em Organização da Cultura no Brasil”9, resultado da pesquisa coordenada por Antonio Albino

Canelas Rubim, Alexandre Barbalho e Leonardo Costa, realizada em 2009. O mapeamento está disponibilizado em um site para consulta e, utilizando a busca por cursos tipo “graduação” e campo “produção cultural”, foram encontrados nove cursos no Brasil. São eles:

9A pesquisa para o mapeamento começou em 15 de junho de 2009, prosseguindo até 15 de setembro do mesmo

ano. O banco de dados compreende um total de 258 instituições, 356 setores, 626 cursos e 97 publicações. Disponível em: <http://www.organizacaocultural.ufba.br>. Acesso em outubro de 2014.

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Bacharel em Produção e Política Cultural (início em 2012, Unipampa, campus Jaguarão-RS); Ciências Sociais - Produção e Política Cultural (reconhecido em 8 de agosto de 2012, Universidade Cândido Mendes – Rio de Janeiro-RJ); Comunicação com habilitação em Produção em Comunicação e Cultura (início em 1996, UFBA); Curso Superior em Ciências Sociais com concentração em Cultura e Sociedade (início em 2005, FGV); Engenharia de Produção com ênfase em Produção em Cultura (início em 2010, Unirio); Produção Cultural (início em 2007, Centro Universitário de Caratinga – UNEC); Produção Cultural (início em 1995, Universidade Federal Fluminense-RJ); Produção e Marketing Cultural (UCAM); Relações Públicas com ênfase em Produção Cultural (início em 2010, Unipampa, campus São Borja-RS).

O referido mapeamento também identificou que a maior parte das instituições que trabalham com formação em organização da cultura são privadas (49%), seguidas de públicas (29%) e outras (22%)10. Dos 626 cursos pesquisados no mapeamento, 75,88% eram de

extensão, e apenas 0,96% de graduação.

No estudo, a área de organização da cultura foi definida pelo tipo de atuação que pode ser em produção, gestão e políticas culturais. Com relação a essa divisão foram encontrados 70,18% dos cursos na área de produção cultural, 26,09% deles na gestão cultural, e 3,40% nas políticas culturais. Esses dados também demarcam a nomenclatura predominantemente utilizada para caracterizar o profissional como produtor cultural, já que mais de 70% dos cursos mapeados foram definidos na área de produção cultural.

O aspecto regional foi marcante nos resultados do mapeamento: 48,44% das instituições envolvidas com formação em organização da cultura eram da região Sudeste, mais especificamente de São Paulo (20,70%) e Rio de Janeiro (17,19%). Já a região Norte possuía apenas 3,52% de instituições atuantes no setor. Os autores destacaram que essa tendência já vinha sendo enfrentada pelo Ministério da Cultura, havendo um esforço do Governo Federal na criação de novos cursos nas regiões Norte, Centro-Oeste, Nordeste, Sul e Sudeste.

Assim, para fins de análise, foram escolhidos os cursos de graduação da Universidade Federal do Pampa, da Universidade Federal da Bahia, da Universidade Federal Fluminense e da Universidade Federal de Pernambuco. Os cursos da Universidade Federal da Bahia e da Universidade Federal Fluminense foram selecionados por serem os primeiros do Brasil na

10Instituições privadas compreendem universidades, faculdades e empresas de produção ou gestão cultural;

públicas referem-se a universidades públicas e a órgãos de gestão estatal na área da cultura (secretarias e fundações), a nível federal, estadual ou municipal; outras engloba associações e organizações não-governamentais.

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área de produção cultural, e os da Universidade Federal do Pampa e da Universidade Federal de Pernambuco foram eleitos por serem mais recentes. Além disso, a escolha pelos cursos da Unipampa ocorreu por ser a instituição na qual exerço minhas atividades docentes, e o da UFPE, por ser um curso de Comunicação Social com ênfase em Produção Cultural, semelhante ao Curso de Relações Públicas com ênfase em Produção Cultural da Unipampa, campus São Borja.

A partir da escolha dos cursos, procurei elencar alguns pontos que permitissem a análise crítica dos mesmos, tais como: os projetos pedagógicos, a estrutura e a carga horária dos cursos, os componentes curriculares e os perfis dos egressos. Mesmo observando que os referidos cursos estão refletindo sobre os seus PPCs de forma permanente, utilizei os que foram efetivamente aprovados pelas instituições de ensino até 2015, sempre tendo em vista que o cenário de formação é bastante complexo, com caráter dinâmico e de movimento permanente de construção e reconstrução. Portanto, sua descrição, interpretação e compreensão não se esgotam (MORAES e GALIAZZI, 2011).

De posse dos projetos pedagógicos dos cursos, como um primeiro movimento, realizei a análise exploratória dos mesmos para identificar algumas características específicas e comuns, objetivos, justificativa de criação, entre outros pontos.

A partir da pesquisa bibliográfica, organizei as referências de domínio público sobre o tema em estudo, desde publicações, boletins, livros, artigos, pesquisas, teses, até meios de comunicação como sites, jornais e revistas. De acordo com Lakatos e Marconi (2011), a pesquisa bibliográfica permite uma revisão sobre o tema em questão além de um novo enfoque ou abordagem.

Conforme Gil (2010, p.30), “a pesquisa documental vale-se de toda a sorte de documentos, elaborados com finalidades diversas, tais como assentamento, autorização, comunicação etc”. Nesta pesquisa, foram utilizados documentos institucionais mantidos nos arquivos dos cursos, além dos documentos disponíveis nos sites do Ministério da Cultura, Ministério da Educação, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Universidade Federal da Bahia, Universidade Federal Fluminense, Universidade Federal do Pampa, Universidade Federal de Pernambuco, entre outros. A pesquisa documental iniciou com o contato com as coordenações dos referidos cursos, por meio de telefonemas ou e-mails, e o consequente levantamento dos seguintes materiais: projetos pedagógicos dos cursos; ementas dos componentes curriculares; planos de ensino; plano de desenvolvimento institucional; avaliações do Ministério da Educação; e ata de criação. Esses itens se encontram

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sistematizados no Quadro 1. Com esses materiais, verifiquei o percurso curricular proposto para formação e capacitação universitária do profissional produtor cultural.

Vale destacar que, a partir de contatos com a coordenação do Curso de Produção Cultural da Universidade Federal Fluminense, recebi, via correio, as fotocópias do primeiro projeto político pedagógico do curso criado em 1995, do projeto de reconhecimento do curso, ocorrido em dezembro de 2000, e da efetivação daquele em fevereiro de 2000. Ainda obtive, via e-mail, o relatório de gestão do biênio 2011-2012, organizado pela coordenação do curso, que culminou com a implantação, em 2012, da nova estrutura curricular do mesmo.

Devido à ausência de material disponível online sobre o curso de Comunicação com Habilitação em Produção em Comunicação e Cultura, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), decidi visitar pessoalmente a coordenação do mesmo, em abril de 2015. Durante a visita, fui recepcionada pelo professor Leonardo Figueiredo da Costa, que também era coordenador de Programas e Projetos da Pró-Reitoria de Extensão Universitária e foi coordenador do Colegiado da Graduação (Facom/UFBA), no período de 2013 a 2015. Desde 2012, Leonardo Costa coordena a pesquisa intitulada “A experiência da formação no curso de Comunicação com habilitação em Produção em Comunicação e Cultura: reformulação do seu projeto pedagógico”. A pesquisa é resultado de uma necessidade de mudança do curso na sua matriz curricular, já que a última modificação foi realizada em 2000.

A partir dessa visita, tive acesso aos documentos históricos do curso, como ata da reunião extraordinária do colegiado do curso de Comunicação, de 26 de junho de 1995, que marca a implantação da nova habilitação em Produção em Comunicação e Cultura; ata da reunião ordinária do departamento de comunicação da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia, de 16 de outubro de 2006; projeto de alteração curricular do Curso de Comunicação (habilitações de Jornalismo e da Produção em Comunicação e Cultura), de 08 de novembro de 1999; ofício nº 6, de 16 de março de 2007, encaminhando a proposta de ajuste curricular do Curso de Comunicação, com habilitações em Jornalismo e Produção em Comunicação e Cultura. Os documentos e o contato com os professores do curso foram fundamentais para a reflexão sobre o projeto político pedagógico do curso da UFBA.

Com a coordenação do Curso de Produção e Política Cultural da Unipampa, campus Jaguarão, foi realizado contato eletrônico que resultou no envio, pela coordenação, dos dois projetos político-pedagógicos de curso – o primeiro e o atual – além dos planos de ensino de 1-2013 a 2-2014.

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O Curso de Relações Públicas – Ênfase em Produção Cultural da Unipampa, campus São Borja, disponibilizou os planos de ensino e projetos pedagógicos de curso de 2010, 2013, 2014 e 2015. Lembrando que, como integrante do primeiro quadro de professores do curso, também fui responsável pela implantação do primeiro PPC em 2010 e, como membro do Núcleo Docente Estruturante (NDE), participei das discussões que originaram os PPCs de 2013 e 2014.

O Curso de Comunicação Social da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) com ênfase em Produção Cultural e Mídias Sociais disponibilizou o seu projeto político-pedagógico, de setembro de 2013, bem como os componentes curriculares do curso, por meio de contatos via e-mail com a coordenação.

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Quadro 1 – Quadro informativo dos Cursos do Corpus de Análise

CURSO UNIVERSIDADE CRIAÇÃOANO DE

DO CURSO DOCUMENTOS Curso de Produção Cultural Universidade Federal Fluminense 1995

• Projeto político pedagógico do curso de 1995; • Projeto de reconhecimento do curso de 2000; • Relatório de Gestão do biênio 2011-2012; • Projeto político pedagógico do curso de 2012; • Plano de Desenvolvimento Institucional da UFF 2013-2017;

•Projeto Pedagógico Institucional da UFF de 2002.

Comunicação com Habilitação em Produção em Comunicação e Cultura Universidade Federal da Bahia 1996

• Proposta de Reforma Curricular e Implantação de Nova Habilitação de julho de 1995;

• Ofício nº063 de 1999, encaminhando proposta de alteração curricular;

• Ata da reunião extraordinária do Colegiado do curso de Comunicação de 26 de junho de 1995; • Ata da reunião ordinária do Departamento de Comunicação de 16 de outubro de 2006;

• Projeto de alteração curricular do Curso de 08 de novembro de 1999;

• Ofício nº6 de 16 de março de 2007;

• Projeto Pedagógico Institucional UFBA de 2005; • Plano de Desenvolvimento Institucional da UFBA 2012-2016. Curso de Relações Públicas -Ênfase em Produção Cultural Universidade Federal do Pampa 2010

• Projetos Político-Pedagógicos do Curso de 2010, 2013, 2014 e 2015;

• Plano de Desenvolvimento Institucional da Unipampa 2014-2018. Curso de Produção e Política Cultural Universidade Federal do Pampa 2012

• Projetos político-pedagógicos de curso de 2011 e de 2014;

• Planos de Ensino de 2013 e 2014;

• Plano de Desenvolvimento Institucional da Unipampa 2014-2018. Curso de Comunicação Social (Ênfase em Produção Cultural ou Mídias Sociais) Universidade Federal de Pernambuco 2014

• Projeto Político Pedagógico de Curso de 2013; • Plano de Desenvolvimento Institucional da UFPE 2014-2018.

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A construção dos dados engloba os procedimentos de coleta de informações e das transformações destas em dados pertinentes através da observação, da seleção e da operacionalização (LOPES, 2005). Para fins de transformação dos dados, e a partir da abordagem qualitativa dos documentos, utilizei a Análise Textual Discursiva (ATD), proposta por Moraes e Galiazzi (2011, p.7), pois “corresponde a uma metodologia de análise de dados e informações de natureza qualitativa com a finalidade de produzir novas compreensões sobre os fenômenos e discursos”.

A ATD está organizada em quatro etapas (ou elementos) que iniciam com o processo de fragmentação/desconstrução dos textos do “corpus”11 (unitarização), seguem com o

estabelecimento de relações entre os elementos unitários (categorização), que possibilitam a emergência de uma nova compreensão (metatexto) e, finalmente, culminam com o ciclo de análise. Portanto,

Pesquisar e teorizar passam a significar construir compreensão, compreender esse nunca completo, mas atingido por meio de um processo recursivo de explicitação de inter-relações recíprocas entre categorias, superando a causalidade linear e possibilitando uma aproximação de entendimentos mais complexos (MORAES e GALIAZZI, 2011, p.30).

Isso tendo em vista de que o meu corpus representa uma multiplicidade de vozes, e que, ao examiná-lo e analisá-lo, sou influenciada por esse conjunto de vozes, nas leituras intensivas e extensivas, a partir de meus referenciais (MORAES e GALIAZZI, 2011). Portanto, constituem o meu corpus de análise os projetos politico-pedagógicos dos cinco cursos, os componentes curriculares e os perfis dos egressos.

A partir do corpus, foi realizado o processo de fragmentação dos textos, focalizando aspectos específicos que resultaram em unidades de análise pertinentes ao objeto da pesquisa. A classificação das unidades de análise corresponde à categorização. “É com base nela que se constrói a estrutura de compreensão e de explicação dos fenômenos investigados” (MORAES e GALIAZZI, 2011, p.116).

Na ATD, destacam-se dois sistemas de categorias: a priori e emergentes.

Quando a opção é trabalhar com categorias a priori, o pesquisador deriva suas categorias de seus pressupostos teóricos, sejam explícitos ou implícitos. Nesse caso, as categorias já estão definidas antes de se encaminhar a análise e classificação propriamente dita das unidades. Quando a opção é por categorias emergentes, o pesquisador assume uma atitude fenomenológica de deixar que os fenômenos se

11Moraes e Galiazzi (2011) denominam corpus como o conjunto de documentos que representam as informações

da pesquisa: “O corpus da análise textual, sua matéria-prima, é constituído essencialmente de produções textuais. Os textos são entendidos como produções linguísticas, referentes a determinado fenômeno e originadas em um determinado tempo e contexto” (MORAES e GALIAZZI, 2011, p.16).

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manifestem, construindo suas categorias a partir das múltiplas vozes emergentes nos textos que analisa (MORAES e GALIAZZI, 2011, p.117).

Lembrando que as categorias “são opções e construções do pesquisador, valorizando determinados aspectos em detrimento de outros” (MORAES e GALIAZZI, 2011, p.117). Dessa forma, para realizar a codificação, destacar as unidades de significado, encontrar as categorias emergentes e finais, utilizei uma ferramenta para organizar e integrar as informações da pesquisa, denominada Atlas.Ti12. O Atlas.Ti é um software para análise

qualitativa de dados, que permite agregar arquivos PDF, imagens de diversas extensões, áudios e vídeos, além de documentos em word e outros aplicativos (FRIESE, 2014).

O Atlas.Ti auxilia no trabalho de organização realizado essencialmente pelo pesquisador, e “pode facilitar o gerenciamento dos arquivos, agilizar a digitação e a codificação e a produção de relatórios com o objetivo de comunicar os resultados, mas a ferramenta não pode decidir por ele” (ARIZA et al, 2015, p. 346-7).

Ariza et al (2015), estudando as articulações metodológicas do Atlas.Ti com a análise textual discursiva, ressaltam a presença da categorização como uma marca comum, mas avisam que é fundamental construir categorias abertas, conforme a ATD, para caracterizar a abordagem fenomenológica da pesquisa.

O Atlas.Ti permite organizar comentários e notas, construir códigos e palavras-chave relacionados com os enunciados, que garantem a autoria e a tomada de decisões do pesquisador. Outro recurso apresentado pelo software é a possibilidade de criar redes estruturais e fluxogramas para representar graficamente os sistemas de relações entre as categorias e códigos, potencializando a produção dos metatextos e favorecendo a percepção das relações e aproximações entre os PPC analisados. Nesse sentido, as redes “permitem conceituar a estrutura, ligando conjuntos de elementos semelhantes em um diagrama visual. Com a ajuda da rede, é possível expressar relações entre códigos, citações, documentos primários, famílias e superfamílias” (ARIZA et al, 2015, p.349).

A elaboração das redes com o auxílio do software contribui para a construção de novos modos de compreender a realidade. Para Moraes e Galiazzi (2011, p.104), a construção dos mapas são movimentos “produzidos para representar terrenos, explorados e conhecidos ao longo da própria construção dos mapas, num processo nunca acabado de qualificação, validação e aperfeiçoamento”.

12Archivfuer Technik, Lebenswelt und Alltagssprache. Text interpretation, que pode ser traduzida como: Arquivo

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Para fins de compreensão, Ariza et al (2015, p.349) organizaram a relação entre os elementos da ATD e do Atlas.Ti (Quadro 2).

Quadro 2 – Relação entre os elementos da ATD e o Software ATLAS.Ti

ELEMENTOS DA ATD RECURSOS DO ATLAS.ti

Unidade Fenomenológica-hermenêutica Unidade Hermenêutica

Corpus da Análise Documento Primário

Codificação Identificação automática

Unidades de Significado Citações Livres ou abertas

Palavras-chave Palavras-chave

Enunciado descritivo Código, supercódigo Unidades de Significado do pesquisador e de

teóricos Notas e comentários

Categorias emergentes, intermediárias e finais Famílias, superfamílias

Organização da Informação Redes

Metatextos Metatextos

Fonte: Ariza et al (2015, p.349)

A escolha na tese pela denominação “produtor cultural” aconteceu, inicialmente, através da observação do nome dos cursos. E pensando em como os cursos mesmos se nomeavam, considerei a presença da palavra “produção cultural”: Curso de Relações Públicas – Ênfase em Produção Cultural (Unipampa), Curso de Produção e Política Cultural (Unipampa), Curso de Produção Cultural (UFF), Curso de Comunicação com habilitação em Produção em Comunicação e Cultura (UFBA) e Curso de Comunicação Social com ênfase em Produção Cultural ou Mídias Sociais (UFPE). Neste sentido, García Canclini (2007b, p.116) destaca a importância de sabermos como chamar ou denominar os outros, ou seja, sermos capazes de “nomeá-los, compreendendo-os e aceitando-os em sua diferença, na multiplicidade das suas diferenças”. A partir desse processo, considerei que o ponto de partida seria atentar para o modo como eles mesmos se nomeavam (GARCÍA CANCLINI, 2007b).

Assim, optei por utilizar o termo produtor cultural como sendo aquele profissional capaz de atuar crítica e conscientemente para a produção, promoção e difusão da cultura. Um profissional capaz de planejar, elaborar e executar produtos culturais em todas as suas etapas, além de compreender e analisar as políticas culturais, visando interferir na realidade sociocultural.

Consciente dos caminhos realizados para análise dos cursos, considerei essencial delimitar o cenário em que está inserido o produtor cultural, tecendo a teia de conceitos que (de)marcam o seu contexto de formação e atuação, como movimento que permite a compreensão das matrizes curriculares, dos perfis e dos projetos político-pedagógicos dos cursos, pois o enriquecimento e a diversificação das ideias requerem a participação de outras

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vozes, outros sujeitos ou teóricos que dialogam com o tema investigado e auxiliam no encaminhamento de outras possibilidades reconstrutivas (MORAES e GALIAZZI, 2011).

A partir da ATD, foi realizada a análise e a síntese que permitiu a interpretação e a explicitação de significados com a construção do metatexto, fazendo o movimento de aprender e comunicar, representando “um esforço de explicitar a compreensão que se apresenta como produto de uma nova combinação de elementos construídos ao longo dos passos anteriores” (MORAES e GALIAZZI, 2011, p.12).

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2 CONCEITOS (DE)MARCADORES DOS FIOS DA TEIA FORMADORA DO PRODUTOR CULTURAL: CENÁRIO

A partir da compreensão da cultura, do sistema cultural, das políticas culturais e as suas múltiplas relações, podemos interpretar o cenário que compõe a realidade na qual os cursos de graduação em produção cultural estão inseridos. Nesse sentido, foi identificada uma teia de conceitos, que estabelece uma relação dialógica com alguns autores que definem o contexto cultural contemporâneo e, desse modo, contribui na constituição de um caminho para novos processos de conhecimento, em que:

O espaço social me engloba como um ponto. Mas esse ponto é um ponto de vista, princípio de uma visão assumida a partir de um ponto situado no espaço social, de uma perspectiva definida em sua forma e em seu conteúdo pela posição objetiva a partir da qual é assumida. O espaço social é a realidade primeira e última já que comanda até as representações que os agentes sociais podem ter dele (BOURDIEU, 1996, p.27).

Por isso, discutir a cultura como um elemento da teia de conceitos é ponto de partida, o início da caminhada para compreender a formação universitária do produtor cultural.

2.1 CULTURA E SISTEMA CULTURAL

A partir do conhecimento da heterogeneidade existente sobre o termo cultura, busquei evidenciar uma compreensão mais ampla a partir dos postulados de Néstor García Canclini (2012, 2008, 2007a, 2007b), que considero mais condizente com a atualidade e com o contexto de criação dos cursos de produção cultural no Brasil.

2.1.1 Cultura: conceito e compreensões

O termo cultura tem sido estudado em diversas áreas, tais como antropologia, sociologia e psicologia, além de ser polissêmico devido à sua abrangência e conceitualização. A expressão tem origem no latim, colere, e significa cultivar.

Conforme Caldas (2008), a palavra cultura era usada pelos romanos na antiguidade denotando uma pessoa de educação aprimorada, com interesse pelas artes, pela ciência, pela filosofia, enfim, por tudo aquilo que o homem produziu e ainda produz ao longo da sua história. Cultura também é considerada como um grupo organizado de padrões, normas, crenças e convenções em constante transformação, abandonando certos elementos e adquirindo outros ao longo da história. Porém, é importante salientar a participação do indivíduo na reprodução dos padrões culturais da sociedade, desenvolvendo suas próprias condutas, na participação ativa das transformações sociais.

Referências

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