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Trabalho infantil: realidade e perspectivas

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LEANDRO MORAES KOPPLIN

TRABALHO INFANTIL: REALIDADE E PERSPECTIVAS

Ijuí (RS) 2017

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LEANDRO MORAES KOPPLIN

TRABALHO INFANTIL: REALIDADE E PERSPECTIVAS

Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Trabalho de Conclusão de Curso.

UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

DCJS- Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais

Orientador: MSc. Paulo Marcelo Scherer

Ijuí (RS) 2017

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Dedico este trabalho à minha família, pelo incentivo, apoio e confiança em mim depositados durante toda a minha jornada.

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AGRADECIMENTOS

À minha família, que sempre esteve presente e me incentivou com apoio e confiança nas batalhas da vida e com quem aprendi que os desafios são as molas propulsoras para a evolução e o desenvolvimento.

Ao meu orientador com quem eu tive o privilégio de conviver e contar com sua dedicação e disponibilidade, me guiando pelos caminhos do conhecimento.

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“Compactuar com o trabalho infantil é ser cúmplice de um crime praticado por adultos contra a criança. É ser a favor da violação dos direitos desses indefesos brasileiros.” Isis Dumont

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RESUMO

Se analisada historicamente a questão do trabalho infantil, verifica-se que a exploração desse tipo de trabalho ocorre desde os tempos mais remotos. Diante disso, faz-se primeiramente uma análise evolutiva da história do trabalho infantil, traçando os principais aspectos de diferentes épocas. Em um segundo momento, discorre-se sobre aspectos legislativos que norteiam a temática, traçando algumas considerações sobre a legislação nacional, situações permissivas, assim como proibitivas, além dos deveres e responsabilidades necessárias para que efetivamente o menor possa laborar. Por fim, após a pesquisa bibliográfica, trabalha-se com casos concretos para que trabalha-seja possível ilustrar o outro viés da pesquisa, a questão prática, permitindo, assim, a análise em casos concretos de situações atuais que envolvem o trabalho infantil, fazendo a vinculação entre teoria e prática.

Palavras chave: Trabalho infantil. Trabalho do menor. Atividades proibidas. Atividades permitidas. OIT.

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ABSTRACT

If the question of child labor is analyzed historically, it has been verified that the exploitation of this type of work has occurred since the earliest times. In the face of this, an evolutionary analysis is first made in the history of child labor, tracing the main aspects of different eras. And secondly, we discuss legislative aspects that guide the issue, drawing some considerations about national legislation, permissive situations, as well as prohibitions, as well as the duties and responsibilities necessary for the child to effectively work. Finally, after the bibliographical research, concrete cases are worked out to illustrate the other bias of the research, the practical question, enabling the analysis in concrete cases of current situations that involve child labor, being possible to make the link between theory and practice.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 8

1 TRABALHO INFANTIL ... 10

1.1 Questões históricas do trabalho infantil e conceituação ... 10

1.2 Características e classificação do trabalho do menor ... Erro! Indicador não definido.7 1.3 Principais atividades, apontamentos e estatísticas do trabalho infantil no Brasil...21

2 ASPECTOS LEGISLATIVOS ... Erro! Indicador não definido.6 2.1 Legislação em âmbito nacional, situações permissivas e proibitivas ... Erro! Indicador não definido.6 2.2 Legislação no âmbito internacional... 31

2.3 Decisões jurisprudenciais...35

CONCLUSÃO ... 39

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho apresenta um estudo acerca das primeiras noções do trabalho infantil, com o intuito de delinear primeiramente o significado desse termo, para, posteriormente, adentrar na discussão do tema. Serão tecidas, dessa forma, sucintas considerações históricas, para demonstrar que o trabalho infantil é algo que subsiste há séculos na sociedade e da necessidade de comunhão de esforços, tanto por parte do Estado, por intermédio de mecanismos como políticas públicas, legislação que tendam a erradicar esse tipo de trabalho, assim como da efetiva participação dos membros da sociedade, de modo que a mudança parta de cada indivíduo.

Para a realização deste trabalho foram efetuadas pesquisas bibliográficas e por meio eletrônico, analisando também a questão legislativa, a fim de enriquecer a coleta de informações e permitir um aprofundamento no estudo do trabalho do menor e, consequentemente, trazer as matrizes de limites para que os jovens possam laborar, conforme limites dispostos em lei.

Inicialmente, no primeiro capítulo, será realizada uma abordagem das questões históricas do trabalho infantil, traçando uma linha tênue e superficial de alguns pontos que demonstram na história da sociedade, nitidamente, a utilização do trabalho infantil. Também serão tratados pontos característicos desse trabalho, assim como classificação do trabalho infantil. Discorrer-se-á acerca das garantias do trabalho do menor contidas nas doutrinas de juristas contemporâneos, que não deixaram de realizar o paralelo com a história do trabalho infantil.

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No segundo capítulo, serão analisados mais profundamente os aspectos legislativos em âmbito nacional que visam cunhar a limitação do trabalho do menor, para que se intente a busca pela erradicação do trabalho infantil. Dessa forma, serão analisados os dispositivos que traçam questões proibitivas e permissivas, assim como os deveres e responsabilidades do empregador, até mesmo quando contrata o menor que realmente pode laborar, observando-se questões específicas de idade e outros caracteres que fazem com que se configure a possibilidade de labor.

Por fim, serão trazidas algumas questões práticas para a vinculação entre teoria e prática, para demonstração de que o trabalho infantil ainda permeia na contemporaneidade.

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1 TRABALHO INFANTIL

O trabalho infantil é um tema bastante discutido nos últimos anos pela sociedade brasileira, assim como em outras partes do mundo, visto ser uma realidade que compromete diretamente o desenvolvimento desses indivíduos. Logo, o trabalho infantil, de maneira sucinta, deve ser compreendido como a forma de trabalho exercida por aqueles que não possuem a idade mínima legal para o trabalho, consoante a legislação vigente do país. Em regra, o trabalho infantil é proibido pela legislação em âmbito nacional. A proibição, precipuamente, está ligada às formas mais nocivas e cruéis e no que tange às proibições.

O trabalho infantil é visto em diversas ocasiões na contemporaneidade, até mesmo em empresas de marcas conceituadas, que buscam mão de obra mais barata, além de, na prática, em diversas ocasiões haver a submissão ao trabalho devido à necessidade de ajudar financeiramente a família.

Tecidas essas breves considerações, passa-se a análise do trabalho infantil sob a ótica da história, de evolução dessa forma de trabalho, que permeia por diversos séculos e lugares.

1.1 Questões históricas do trabalho infantil e conceituação

Precipuamente, devem-se elucidar algumas questões que envolvem a temática objeto desse estudo, visto que há necessidade de se diferenciar os conceitos de trabalho infantil e o conceito de menor. Tem-se como conceito amplo que o trabalho infantil é aquele realizado por menores de 18 anos, mas, o Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA trata da infância e da juventude como espaços distintos. Dessa maneira, quando no decorrer dessa pesquisa se mencionar o trabalho infantil, se quer fazer referência àquele que é exercido por pessoa que, segundo a legislação trabalhista, ainda não pode laborar.

No decorrer da evolução humana, cada momento histórico teve nuances próprias, no que tange ao trabalho infantil, este também teve implicações dessas

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mudanças históricas, tendo em vista que está estreitamente ligado à questão da idade. Logo, devido às principais características de cada época, houve grande oscilação no quantum que configuraria o trabalho infantil, seja pela condição de trabalho da época ou pelos principais trabalhadores que executavam determinadas atividades.

Atualmente, a principal legislação que regulamenta o trabalho, para que se possa entender a sistemática do trabalho infantil, é a Consolidação das Leis do Trabalho, que delineia que a partir dos quatorze anos o menor apenas poderá laborar na condição de aprendiz, atingindo sua capacidade plena quando completa dezoito anos. Nesse sentido, a CLT estabelece:

Art. 403. É proibido qualquer trabalho a menores de dezesseis anos de idade, salvo na condição de aprendiz, a partir dos quatorze anos. Parágrafo único. O trabalho do menor não poderá ser realizado em locais prejudiciais à sua formação, ao seu desenvolvimento físico, psíquico, moral e social e em horários e locais que não permitam a freqüência à escola.

Nesse mesmo viés, dispõe a Constituição Federal de 1988:

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social:

XXXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos.

O mesmo diploma legal, no art. 227, dispõe:

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

Dessa forma, esses dispositivos expressam um marco na proteção dos cidadãos que ainda não possuem dezoito anos, ou mesmo buscam dar a esses indivíduos tratamento pleno, para que possam ser tratados como sujeitos de direitos e obrigações, devendo, tanto o Estado quanto a família ter zelo prioritário em relação aos menores (MELO, MARTIN CÉSAR, 2016).

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Conforme já delineado anteriormente, o trabalho infantil não é uma novidade desse século, aliás, é um retrato histórico que durante a maior parte do tempo não foi objeto de análise, tendo-se como algo inerente à existência do ser humano, isso pode ser evidenciado pelo fato de que quando da exploração da colônia europeia recém-descoberta, esta teve incidência direta e violenta sobre a classe infantil. Dessa forma, o trabalho infantil não é visualizado apenas na contemporaneidade, nem mesmo é um problema existente em âmbito apenas nacional, haja vista que atingiu até mesmo os tempos mais remotos, havendo referências, inclusive, na bíblia da exploração de crianças escravas e naquela época a aversão acerca do assunto (OIT, 2003).

Diversos autores tendem a demonstrar momentos históricos distintos, contudo, praticamente todos em seus discursos retratam a questão do trabalho infantil no período da escravatura e desigualdade de classes, momento em que havia nitidamente a subalternidade dos considerados negros, que englobava tanto os adultos como crianças e a necessidade destes de trabalhar. O trabalho naquela época também estava muito ligado à aptidão física, assim, quando completassem o porte físico que os possibilitasse trabalhar, eram retirados do seio familiar, deixavam de lado as brincadeiras, para se tornar adultos precocemente ou fingir que já tinham aptidão para se tornar um.

Assim, levando em consideração esse momento histórico, é possível evidenciar que:

Ao se fazer uma descrição sobre o influxo do período da escravatura na vida das crianças e adolescentes oriundas de famílias escravas, extrai-se de tal entrecho histórico elementos de vasta relevância, entremeados no emprego da violência como forma de controle social, primando-se pela obediência e submissão de escravos e pela forma nada criteriosa com que famílias ricas conduziam os primeiros anos de vida de crianças negras, condenadas desde cedo ao cativo. Esta análise histórica conduz a relatos de que, até 5 ou 6 anos de idade, crianças escravas eram tratadas como animais domésticos pelos senhores, conduzidas com certo mimo, para em seguida serem colocadas juntas aos outros escravos, no desempenho de funções diárias e fatigantes (LIBERATI, DIAS, 2006, p. 20)

Nesse período, pode-se salientar, ainda, que o abuso se destinava a órfãs e as filhas dos escravos, sendo como os adultos, submetidos ao trabalho árduo que se

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estendia por longas horas, que eram realizados nas fazendas sob a supervisão dos senhores do engenho (LIBERATI, DIAS, 2006). Sobre esse período, ainda pode-se afirmar que:

Para os escravos adolescentes, a vida não era fácil... Viviam sob o controle dos senhores, tanto nas senzalas quanto nas cidades, se fossem escravos urbanos. No campo os meninos começavam desde cedo a trabalhar nas lavouras e na mineração, dependendo do lugar onde moravam. Um negro saudável de 14 anos era considerado uma mercadoria importante e cara, pois tinha toda a força da juventude para gastar no trabalho. Por isso, a maioria dos escravos jovens era encaminhada para trabalhos pesados. Os que ficavam nas atividades domésticas, como os pajens, por exemplo, podiam se considerar privilegiados, pois tinham a confiança ou a predileções dos patrões (DOURADO, FERNANDES, 1999, p. 53).

Nesse sentido, ainda salienta Vidotti (2016), que nesse período histórico eram poucas crianças que conseguiam chegar à idade considerada adulta, segundo registros. Principalmente aquelas que desembarcavam no Cais do Valongo no Rio de Janeiro, durante o período do século XVIII e XIX, faziam parte do número que não atingia a maioridade em virtude da grande submissão ao esforço físico e longas jornadas de trabalho. Acrescenta o autor que muitos navios negreiros saiam da Angola e tinham como ponto final de desembarque o Brasil, sendo divididas em duas espécies de crianças, como moeda de troca para pagamento de taxas: as “crias de pé” e as “crias de peito”.

Quer dizer, as primeiras eram consideradas aquelas que já caminhavam e mediam até quatro palmos, isto é, “crias de pé”, que possuíam um abatimento de 50% dos direitos equivalentes, já as segundas, “crias de peito”, estavam livres de impostos e eram como se fossem uma extensão das próprias mães. Sob esse viés, destaca Vidotti (2016, p. 23):

Infelizmente a denominação dada a elas era o menor dos problemas para as crianças escravas que eram vitimadas pela alta mortalidade nas viagens pelo Atlântico, pouquíssima expectativa de chegar à vida adulta, inserção no trabalho a partir de quatro anos de idade etc.

Era nítida a subalternidade e obediência dos escravos às famílias ricas, pautada na violência como forma de controle social, devendo, desde cedo, obedecer primeiramente às ordens desses ao invés dos próprios pais, visto que maior parte do

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tempo permaneciam laborando sem parar. Diante de tais condições, houve movimentos que visavam combater a escravidão, devendo ser ressaltado que o processo de decadência do sistema escravista se estendeu pelo período de cinquenta anos, até a abolição da escravatura (1888), por intermédio da Lei Áurea (LIBERATI, DIAS, 2006).

Contudo, momentaneamente, a abolição não surtiu efeito e não trouxe melhoria para a vida dos escravos libertos e de seus filhos, havia a liberdade, porém, não tinham qualquer qualificação, profissão, nem mesmo terras ou alguém que pudesse os ajudar, senão a si próprios.

Cabe frisar, que não foi apenas nesse período que não havia distinção entre crianças e adultos, isso perdurou na exploração da mão de obra de imigrantes, que serviam de mão de obra explorada para as indústrias e o comércio. No que tange à Revolução Industrial (século XVIII) o menor ficou completamente desprotegido, passando a trabalhar de 12 a 16 horas diárias, sendo que o seu trabalho era equiparado ao das mulheres. Utilizava-se muito do trabalho do menor, inclusive em minas de subsolo (MARTINS, 2016).

Ainda, acerca da questão do trabalho infantil no período da Revolução Industrial, discorrem Liberati e Dias (2006, p. 13-14):

A Revolução Industrial causou uma profunda modificação na estrutura da economia familiar, à medida que os produtos artesanais não mais conseguiam competir com a intensa carga produtiva de máquinas. Deste modo, a mão de obra infanto-juvenil, presente em atividades agrícolas no período pré-industrial, acabou se transferindo para os centros industriais. A oferta de empregos nas indústrias fez com que grande parte das famílias se deslocasse para áreas urbanas em busca de novas oportunidades, pois empregadores procuravam mão de obra barata e facilmente controlável, acarretando, em decorrência, do ingresso de mulheres e crianças nas fábricas.

Com o passar dos anos, a sociedade como um todo, a legislação em âmbito nacional, assim como órgãos internacionais, começam a perceber as repercussões do trabalho infantil, sobre esse aspecto Silva (2013, p. 11) discorre que, verificou-se a extensão do dano

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[...] tanto na criança trabalhadora quanto na desigualdade na livre concorrência dos tomadores desses serviços, como também na formação da sociedade futura no geral, considerando a saúde, a educação, enfim, todo o desenvolvimento de uma sociedade sadia e com senso de justiça e solidariedade.

Contemporaneamente, o trabalho infantil pode ser compreendido como aquele em que há todos os requisitos que configuram a relação de trabalho normal, isto é, a prestação não eventual de serviços, a subordinação, mediante pagamento de salários, via de regra, aos menores de dezoito anos. Todavia, há na legislação casos específicos em que o menor poderá laborar, observando determinadas limitações.

O Fundo das Nações Unidas para a Infância – UNICEF, discorre acerca do conceito do trabalho infantil, embasando-se para tanto no próprio conceito da OIT:

Segundo a UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância), o trabalho infantil é definido como toda a forma de trabalho abaixo dos 12 anos de idade, em quaisquer atividades econômicas; qualquer trabalho entre 12 e 14 anos que não seja trabalho leve; todo o tipo de trabalho abaixo dos 18 anos enquadrado pela OIT nas "piores formas de trabalho infantil". Para fins de pesquisa de campo, a UNICEF define o indicador de trabalho infantil como o percentual de crianças de 5 a 15 anos envolvido com trabalho infantil. A definição da UNICEF, para fins de pesquisa, encontra-se sob a seguinte classificação: Trabalho de crianças de 5 a 11 anos: trabalho executado durante a semana anterior à pesquisa por pelo menos uma hora de atividade econômica ou 28 horas de empregado doméstico/trabalho doméstico naquela semana; Trabalho de jovens de 12 a 14 anos por pelo menos 14 horas de atividade econômica ou 42 horas de atividade econômica e trabalho doméstico combinados naquela semana por isso que a nova teoria, por mais particular que seja seu âmbito de aplicação, nunca ou quase nunca é um mero incremento ao que já é conhecido. Sua assimilação requer a reconstrução da teoria precedente e a reavaliação dos fatos anteriores. Esse processo intrinsecamente revolucionário raramente é completado por um único homem e nunca de um dia para o outro. (TRABALHO INFANTIL, 2013, s.p.).

Para a Organização Internacional do Trabalho (OIT):

A Convenção nº 138 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), de 1973, no artigo 2º, item 3, fixa como idade mínima recomendada para o trabalho em geral a idade de 16 anos. No caso dos países-membros considerados muito pobres, a Convenção admite que seja fixada inicialmente uma idade mínima de 14 anos para o trabalho. A mesma Convenção recomenda uma idade mínima

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de 18 anos para os trabalhos que possam colocar em risco a saúde, a segurança ou a moralidade do menor, e sugere uma idade mínima de 16 anos para o trabalho que não coloque em risco o jovem por qualquer destes motivos, desde que o jovem receba instrução adequada ou treino vocacional. A Convenção admite ainda, por exceção, o trabalho leve na faixa etária entre os 13 e os 15 anos, desde que não prejudique a saúde ou desenvolvimento do jovem, a ida deste à escola ou a sua participação numa orientação vocacional ou programas de treino, devendo a autoridade competente especificar as atividades permitidas e o tempo máximo de trabalho diário ciência normal, atividade na qual a maioria dos cientistas emprega inevitavelmente quase todo seu tempo, é baseada no pressuposto de que a comunidade cientifica sabe como é o mundo (TRABALHO INTANTIL, 2013, s.p.).

Já a Diretiva n. 33/1994 da União Europeia disciplina que qualquer indivíduo menor de dezoito anos é considerado jovem, já aquele que ainda não tenha completado quinze anos de idade ou esteja frequentando o ensino obrigatório é tratado como criança. Por fim, adolescente é aquele que tem idade de quinze anos completos até dezoito incompletos (OLIVEIRA, 2016).

Antes de adentrar na legislação especifica, vale elucidar que conforme se extrai da Convenção n. 182 da OIT, mais precisamente no seu parágrafo segundo, o termo criança se refere ao menor de 18 anos. Contudo, se analisada a legislação em âmbito nacional, dispõem os artigos 4021 e 4032 da Consolidação das Leis do Trabalho, que o trabalho infantil é aquele realizado por crianças e adolescentes com menos de dezoito anos, havendo previsão proibitiva do trabalho aos menores de dezesseis anos, salvo, na condição de aprendiz, com o devido registro na carteira, a partir dos quatorze anos. Deve-se também mencionar que para que isso se torne efetivamente possível, deve ser observada a frequência obrigatória à instituição de ensino, a atividade ser compatível com o desenvolvimento do adolescente, além de propiciar o labor e estudo, por isso, muitas vezes se utiliza do turno inverso ao escolar para que o estudante crie seu vínculo como aprendiz.

1 Art. 402. Considera-se menor para os efeitos desta Consolidação o trabalhador de quatorze até dezoito anos

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Art. 403. É proibido qualquer trabalho a menores de dezesseis anos de idade, salvo na condição de aprendiz, a partir dos quatorze anos.

Parágrafo único. O trabalho do menor não poderá ser realizado em locais prejudiciais à sua formação, ao seu desenvolvimento físico, psíquico, moral e social e em horários e locais que não permitam a freqüência à escola.

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Ademais, é pertinente também delinear alguns conceitos básicos de criança e adolescente, dispostos no Estatuto da Criança e do Adolescente, que são tratados, respectivamente:

Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade (grifo nosso).

Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se excepcionalmente este Estatuto às pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade.

Nesse contexto, o mesmo diploma legal dispõe que criança e o adolescente têm os direitos fundamentais e inerentes à pessoa humana, assegurando-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade, sendo de fundamental importância a efetiva preocupação do Estado e da sociedade, formando um elo de continua e efetiva proteção integral.

1.2 Características e classificação do trabalho do menor

A Lei nº 8.069/90, Estatuto da Criança e do Adolescente, disciplina no art. 2º, que criança é todo indivíduo de 0 a 12 anos de idade incompletos, ademais, considera-se adolescente aquele que possui entre 12 e 18 anos de idade, estendendo ainda, em seu parágrafo único, nos casos expressos em lei, excepcionalmente, até os 21 anos, conforme se verifica no artigo in verbis:

Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade.

Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se

excepcionalmente este Estatuto às pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade.

Já o capítulo IV da CLT, na seção I, que trata especificamente da proteção do trabalho do menor, dispõe que:

Art. 402. Considera-se menor para os efeitos desta Consolidação o trabalhador de quatorze até dezoito anos

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Art. 403. É proibido qualquer trabalho a menores de dezesseis anos de idade, salvo na condição de aprendiz, a partir dos quatorze anos.

Conforme já delineado anteriormente, os adolescentes a partir dos 14 anos podem laborar na condição de aprendizes, conforme previsões bem restritas constantes em lei. O trabalho de indivíduos abaixo dessa faixa etária é proibido e considerado abusivo, visto que se tenta não repetir os erros cometidos no passado e que ainda são vistos na atualidade, que é submeter crianças ao trabalho, quando ainda não tenham o desenvolvimento completo, seja físico ou mental.

O contrato de aprendizagem deve observar as diretrizes estabelecidas na Constituição Federal de 1988, na CLT e na lei de aprendizagem. A primeira, no art. 7º, inciso XXXIII, prevê a possibilidade do trabalho na condição de aprendiz a partir dos 14 anos. Deve-se entender como aprendizagem, conforme o art. 428, caput, da CLT:

Art. 428. Contrato de aprendizagem é o contrato de trabalho especial, ajustado por escrito e por prazo determinado, em que o empregador se compromete a assegurar ao maior de 14 (quatorze) e menor de 24 (vinte e quatro) anos inscrito em programa de aprendizagem formação técnico-profissional metódica, compatível com o seu desenvolvimento físico, moral e psicológico, e o aprendiz, a executar com zelo e diligência as tarefas necessárias a essa formação.

Outrossim, observando-se a lei de aprendizagem, lei n. 10.097/2000, aprendiz é considerado o jovem que estuda e trabalha, de modo que, concomitantemente, tenha formação na profissão para a qual está se capacitando, assim como frequente as atividades escolares normalmente.

Destarte, também se deve mencionar que não é apenas a questão da idade mínima que importa, mas também o fato de que esse tipo de trabalho especial necessita ser estipulado por prazo determinado, não excedente há dois anos, ressalvado os casos em que se tratar de aprendiz com deficiência. O seu ajuste deve ser por escrito, para sua validade deverá haver a anotação da CTPS, matrícula e frequência do aprendiz na escola, na hipótese de não ter concluído o ensino médio, assim como a inscrição em programa de aprendizagem a ser desenvolvido sob a supervisão de entidade qualificada (GARCIA, 2017).

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A carga horária do trabalho do aprendiz não poderá exceder seis horas diárias, não sendo possível a prorrogação, nem mesmo a compensação de jornada. Conquanto, há que se fazer menção que tal limite pode ser ampliado, até oito horas diárias para aqueles que já concluíram o ensino fundamental, se nelas forem computadas as horas destinadas à aprendizagem teórica (art. 432 da CLT).

Conforme o art. 15, § 7º, da Lei 8.036/90, que teve sua redação acrescentada pela Lei 10.097/2000, os contratos dos aprendizes terão alíquota do FGTS reduzida para 2%. Há autores que questionam a validade da referida redução, visto que configuraria uma piora nas condições de trabalho do aprendiz. Assim como, do direito social trabalhista em questão, que tem previsão na Constituição, no art. 7º, inciso III, além de poder ser considerado um retrocesso social, bem estar em desacordo com os objetivos fundamentais da República, que estão cunhados no sentido de erradicação da pobreza e da redução das desigualdades sociais, principalmente, primando pela vedação de qualquer forma de discriminação (GARCIA, 2017).

Além disso, pode-se frisar que a Consolidação das Leis do Trabalho, confere a família, aos responsáveis legais, tutores e aos empregadores a necessidade de cumprimento das normas previstas aos aprendizes, para que seja possível o deslinde do contrato de aprendizagem, seja garantido o ínterim necessário para estudo, repouso e observadas as regras de higiene e segurança do trabalho (SILVA, 2013).

Ao Ministério do Trabalho e Emprego, cabe a fiscalização dos estabelecimentos que possuem os serviços de menores aprendizes em todo o país, com o intuito de zelar pelos direitos trabalhistas destes, assim como primar pelo desenvolvimento sadio do menor, de modo que se propicie o trabalho, assim como não se obste a realização de outras atividades cotidianas sadias e o acesso à educação, prevalecendo sempre esta última.

Já aqueles que possuem faixa etária de dezesseis a dezoito anos podem laborar, desde que tenham a devida anotação Carteira de Trabalho e Previdência

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Social, todavia, deve-se atentar para o fato de que o trabalho noturno é proibido, entendido este como o desempenhado entre as vinte e duas horas às cinco horas (art. 404 da CLT). Ademais, há expressa vedação de trabalho em locais e serviços perigosos, que sejam prejudiciais à formação, desenvolvimento físico, psíquico, moral e social.

Sobre essa questão, Martins (2016, p. 917) faz importantes considerações, dispondo que:

No passado, os menores eram equiparados às mulheres, como se verifica dos dois capítulos da CLT sobre a tutela que deva ser dada a essas pessoas. Hoje, isso já não se justifica, principalmente diante do fato de que homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações. A tutela do trabalho do menor apenas se evidencia no momento em que o trabalho interfere em sua formação moral, física, cultural.

Outrossim, cabe destacar que a OIT diante da necessidade de editar normativas que de alguma forma auxiliem na erradicação do trabalho infantil, expediu uma série de convenções e recomendações acerca da temática. Pode-se enfatizar a Convenção n. 182, que trata da proibição das piores formas de trabalho infantil, esta que emergiu em virtude da necessidade de se adotar novos instrumentos para a proibição e eliminação de questões atinentes ao trabalho infantil, visto que se trata de uma prioridade não somente nacional, mas também internacional, que inclui cooperação e assistência internacionais.

Essa Convenção tem como escopo a efetiva eliminação das piores formas de trabalho infantil, de maneira imediata e global, estando também pautada na educação fundamental e gratuita, além de ressaltar a necessidade de retirada da criança de todos os trabalhos prejudiciais a sua saúde e desenvolvimento, sem olvidar da promoção da reabilitação integral e social (OIT, 2011). Logo, denota-se que a Convenção n. 182, não está restrita apenas a questão de retirada dessas crianças de seus ambientes de trabalho não condizentes com a sua idade, mas também, após essa etapa, promover sua reabilitação, reinserção em sociedade, de modo a trata-la conforme prevê a legislação em âmbito nacional e internacional.

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Corrobora no mesmo sentido a lista TIP – Decreto 6481/08, que trata da lista das piores formas de trabalho infantil, que será, pormenorizadamente, tratada posteriormente, em tópico específico.

1.3 Principais atividades, apontamentos e estatísticas do trabalho infantil no Brasil

Embora na legislação se garanta minimamente que o trabalho pode ser exercido apenas a partir dos quatorze anos sob a condição de aprendiz, sabe-se que a existência de trabalho infantil ainda está muito longe dos parâmetros esperados. Não se está próximo de sua erradicação, mas sim, se está a passos largos em direção à utilização dessa mão de obra. Sob esse prisma, pode-se afirmar que:

Por estar intimamente ligado à pobreza, o trabalho infantil, ramifica-se intensamente, nos paíramifica-ses subderamifica-senvolvidos, onde é visível a falta de um alicerce fixo para comandar as ações políticas, sociais e administrativas, visando o combate a esse tipo de atividade (LIBERATI, DIAS, 2006, p. 36).

Em âmbito nacional, é frequente a utilização do trabalho infantil, que muito está pautada na omissão de direitos das crianças e dos adolescentes. Deve-se salientar que em 2000, o Brasil ratificou a Convenção sobre Proibição das Piores Formas de Trabalho Infantil e Ação imediata para a sua eliminação, segundo esta Convenção as piores formas de trabalho infantil compreendem:

a) todas as formas de escravidão ou práticas análogas à escravidão, como venda e tráfico de crianças, sujeição por dívida, servidão, trabalho forçado ou compulsório, inclusive recrutamento forçado ou obrigatório de crianças para serem utilizadas em conflitos armados; b) utilização, demanda e oferta de criança para fins de prostituição, produção de pornografia ou atuações pornográficas; c) utilização, recrutamento e oferta de criança para atividades ilícitas, particularmente para a produção e tráfico de entorpecentes conforme definidos nos tratados internacionais pertinentes; d) trabalhos que, por sua natureza ou pelas circunstâncias em que são executados, são suscetíveis de prejudicar a saúde, a segurança e a moral da criança.

Segundo estudos estatísticos que o IBGE vem há anos realizando, verifica-se que quanto mais pobres são os adolescentes, menos estudam e mais cedo começam a laborar, consequentemente, os postos em que trabalham, exigem

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menos qualificação. Em uma amostra do IBGE, realizada em 2001, por exemplo, aqueles que estudam de 09 a 11 anos podem ganhar até 56% mais que aqueles que estudam de 05 a 08 anos.

Já em 2003, foi divulgada uma nova pesquisa pelo mesmo instituto, que revelou que das 5,5 milhões de crianças que se encontravam no mercado de trabalho, aproximadamente 300 mil tinham entre 05 e 09 anos e por volta de 2 milhões entre 10 e 14 anos. A mesma pesquisa trouxe considerações acerca da jornada de trabalho, que cerca de um terço das crianças e adolescentes laboram quarenta horas ou mais durante a semana, nesse período as profissões que mais utilizavam a da mão de obra infanto-juvenil eram: as atividades agrícolas (43,4%); trabalhos domésticos (45,2%), ademais, 48,6% das crianças e dos adolescentes não recebiam qualquer valor referente ao labor e 76% recebiam até um salário por mês (LIBERATI, DIAS, 2006).

Assim, evidencia-se que ainda está presente no país a relação entre trabalho e estudo, ou apenas trabalho, realizada por crianças que por princípio legal deveriam estar apenas vinculadas à escola e que diversas vezes não tem desempenho escolar satisfatório, ou mesmo deixam de frequentar a escola em virtude da dificuldade que encontram em conciliar as duas jornadas, de trabalho, via de regra exaustiva, e a da escola. Isso terá repercussão para o resto da vida dessas crianças e adolescentes, visto que durante o seu desenvolvimento, físico, mental, sentem-se incapazes de lutar pelos seus sonhos, apenas tendem a encontrar formas de prover o próprio sustento e ajudar suas famílias.

Do outro lado, o que se verifica é um empregador em busca de mão de obra mais barata, de um indivíduo que supra as necessidades do estabelecimento, custando bem menos que um adulto e, por vezes, que labore por maior número de horas. Assim, pode-se salientar que:

A deficiente estrutura do mercado de trabalho, sempre visando a menores gastos e maiores lucros, bem como inúmeros empregadores que se aproveitam, ilicitamente, da situação de miséria e de pobreza das famílias desses jovens cidadãos, como forma de expandir maiores riquezas, acabam por gerar, assim, um

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abuso cada vez maior da mão de obra infanto juvenil (LIBERATI, DIAS, 2006, p. 20).

Embora, tenha se passado mais de uma década dessas pesquisas, se verifica que muitos dos malefícios do trabalho infantil ainda perduram no tempo e no espaço. Todavia, a Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios (Pnad) de 2015, realizada pelo IBGE, indicou queda de 19,8% no número de crianças em situação de trabalho no Brasil3. Tal número está também muito ligado ao retrocesso econômico e do aumento de desemprego no país, logo, não pode ser apenas sinônimo de benefícios, isso porque, via de regra, os mais novos são os que mais sofrem com o período de recessão, podendo ser mais facilmente substituídos, visto que, não tem grande grau de escolaridade, nem mesmo anotação da CTPS.

Segundo a pesquisa realizada pelo IBGE, para que se possa ter uma ideia em números, em 2015, havia 2,7 milhões de crianças e adolescentes entre 5 e 17 anos em situação de trabalho infantil. No ano de 2014, eram 3,3 milhões.

Em termos percentuais, a maior redução ocorreu na faixa dos 10 a 13 anos, com 31,1% a menos. A diminuição ocorreu principalmente para o grupo de 14 a 17 anos de idade, com 518 mil adolescentes a menos. Todavia, tende-se ao aumento do trabalho infantil para as crianças entre 5 a 9 anos. Fazendo-se uma retrospectiva, pode-se dizer que em 2015, foram registrados 79 mil casos, 12,3% a mais que em 2014, quando havia 70 mil crianças nesta faixa trabalhando. Já no período de 2013, eram 61 mil.4

Assim, pode-se visualizar o gráfico a seguir acerca do trabalho infantil por grupo de idade:

3

Conforme notícia veiculada http://www.chegadetrabalhoinfantil.org.br/noticias/materias/trabalho-infantil-registra-queda-de-198-em-2015-aponta-pnad/

4 Conforme notícia veiculada no Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil http://www.fnpeti.org.br/noticia/1606-trabalho-infantil-diminui-198-entre-2014-e-2015.html

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Fonte: IBGE

A pesquisa realizada pelo IBGE também evidenciou elevação do percentual de crianças de 5 a 13 anos ocupadas em atividades agrícolas, de 62% para 64,7%. Houve redução do trabalho infantil em todas as regiões brasileiras, sendo que as maiores ocorreram nas regiões Nordeste (180 mil pessoas) e Sudeste (163 mil pessoas). Pode-se destacar, dessa forma, o gráfico a seguir:

Fonte: IBGE

Deve-se salientar que, embora tenha havido certa diminuição em alguns índices nos últimos anos, sabe-se que a erradicação do trabalho infantil é algo que

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deve ser trabalhado em longo prazo, com diretrizes e metas que propiciem a diminuição de incidência a cada nova pesquisa do instituto.

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2. ASPECTOS LEGISLATIVOS

2.1 Legislação em âmbito nacional, situações permissivas e proibitivas

A legislação presente no Brasil versando sobre o trabalho do menor, busca estabelecer um conjunto de garantias que orientem este menor a atividades de estudo, recreação e convívio familiar, inerentes a sua idade. Esta regra tem exceção quando o menor pode realizar uma atividade laboral que tenha como propósito conciliá-lo a seu processo de aprendizagem. Além desta situação, quando próximo dos 18 anos, ou seja, no período de 16 a 18 anos, poderá trabalhar em atividades que não repercutam de maneira insatisfatória na sua formação moral e fisiológica. Se bem observado, este é o princípio contido na Constituição Federal, no Estatuto da Criança e Adolescente, na Consolidação das Leis do Trabalho e na Lista dos Piores Tipos de Trabalho Infantil – Lista TIP, além de leis esparsas.

A proibição existe para os adolescentes de 14 a 18 anos em atividades insalubres, penosas, perigosas, bem como trabalho noturno, além de atividades que os submetem a excessivas jornadas de trabalho, com cargas pesadas, Além disso, são proibidas atividades que prejudiquem o desenvolvimento moral, social e psíquico, se buscando, como forma de solidificar um pilar de proteção a este grupo.

O Brasil preza, como em países desenvolvidos, pela supressão do trabalho infanto-juvenil, com fulcro na proteção da criança e do adolescente. Dessa forma, o legislador da Constituição Federal teve preocupação em positivar o máximo de princípios e garantias tidos como fundamentais, e esse zelo não poderia ser diferente quando se trata de crianças e adolescentes, devendo ser elevados a um patamar máximo de proteção (LIBERATI, DIAS, 2006).

Conforme Silva (2013, p. 22):

Não há como datar, ou fixar o surgimento do trabalho infantil no mundo, de modo que há comprovação histórica desde os primórdios da humanidade. Há, no entanto, que se admitir que a Revolução Industrial do século XVIII foi uma espécie de marco, por oportunizar a aceleração do sistema de produção, a ascensão do capitalismo e a consequente ápice da exploração em geral.

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Na evolução da sociedade, a legislação foi de suma importância para o resguardo do menor, tendo em vista que tende a tipificar condutas consideradas lícitas e prever direitos, e isso não é diferente no âmbito do direito do trabalho, mais precisamente quanto ao trabalho infantil. Conforme já delineado anteriormente, por intermédio do Decreto nº 3.597, de 12 de setembro de 2000, o Brasil ratificou a Convenção 182, sendo considerada mais um instrumento de erradicação do trabalho infantil, pelas observações que seguem:

O PRESIDENTE DA REPUBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, inciso VIII, da Constituição,

Considerando que a Convenção 182 e a Recomendação 190 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) sobre a Proibição das Piores Formas de Trabalho Infantil e a Ação Imediata para sua Eliminação foram concluídas em Genebra, em 17 de junho de 1999;

Considerando que o Congresso Nacional aprovou os atos multilaterais em epígrafe por meio do Decreto Legislativo no 178, de 14 de dezembro de 1999;

Considerando que o Governo brasileiro depositou o Instrumento de Ratificação da referida Convenção em 02 de fevereiro de 2000, passando a mesma a vigorar, para o Brasil, em 02 de fevereiro de 2001, nos termos do parágrafo 3o de seu Artigo 10o;

DECRETA:

Art. 1o A Convenção 182 e a Recomendação 190 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) sobre a Proibição das Piores Formas de Trabalho Infantil e a Ação Imediata para sua Eliminação, concluídas em Genebra, em 17 de junho de 1999, apensas por cópia a este Decreto, deverão ser executadas e cumpridas tão inteiramente como nelas se contém.

Parágrafo único. São sujeitos à aprovação do Congresso Nacional quaisquer atos que possam resultar em revisão da referida Convenção, assim como quaisquer ajustes complementares que, nos termos do art. 49, inciso I, da Constituição Federal, acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional.

Sob esse viés, também desempenha papel singular a Constituição Federal de 1988, no art. 277, que as crianças e adolescentes são sujeitos de direito com prioridade absoluta. Posteriormente, levando-se em consideração a questão evolutiva, visualizou-se a necessidade da sociedade e do Estado se unirem para combater a exploração do trabalho infantil, foi nesse momento que foi criado o Fórum Nacional de Prevenção da Erradicação do Trabalho Infantil, que possuía o apoio da OIT e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (SILVA, 2013).

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Dessa forma, para regular e tornar as atividades consideradas indevidas proibidas, é que na legislação ao longo dos tempos se tentou cunhar mecanismos que possibilitem a diminuição gradativa da utilização dessa mão de obra, quando não esteja de acordo com a legislação vigente. A Constituição brasileira prevê que “é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independente de censura ou licença”, portanto, torna-se exceção a proibição.

Sobre o tema, os arts. 406 e 407 da CLT, dispõem sobre a necessidade de autorização, desde que a representação tenha fim educativo ou a peça de que participe não seja prejudicial à sua formação moral e que se certifique ser a ocupação do menor indispensável à própria subsistência ou à de seus pais, avós ou irmãos e não advir nenhum prejuízo à sua formação moral. Diante disso, tendo como exemplo o trabalho artístico, denota-se que há proibição quando se comprometa a saúde moral ou física. Isto porque, o menor, por si só em determinadas ocasiões não conseguiria ter a sensibilidade com tenra idade de saber o que é melhor para o seu desenvolvimento.

Com vistas a observar a necessidade de regulação sobre o tema é que a CLT, no art. 405, elencou hipóteses de trabalho a que o menor não pode se submeter:

Art. 405. Ao menor não será permitido o trabalho:

I - nos locais e serviços perigosos ou insalubres, constantes de quadro para êsse fim aprovado pelo Diretor Geral do Departamento de Segurança e Higiene do Trabalho;

II - em locais ou serviços prejudiciais à sua moralidade.

No § 3º, buscou-se trazer na legislação de forma exemplificativa pontos que seriam prejudiciais à moralidade do menor:

§ 3º Considera-se prejudicial à moralidade do menor o trabalho: a) Prestado de qualquer modo em teatros de revista, cinemas, boates, cassinos, cabarés, “dancings” e estabelecimentos análogos; b) Em empresas circenses, em funções de acrobata, saltimbanco, ginasta e outras semelhantes;

c) De produção, composição, entrega ou venda de escritos, impressos, cartazes, desenhos, gravuras, pinturas, emblemas, imagens e quaisquer outros objetos que ossam, a juízo da autoridade competente, prejudicar sua formação moral;

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d) Consistente na venda, a varejo, de bebidas alcoólicas. (BRASIL, 1943).

O Decreto n. 6.481/08/08, dispõe que é proibido o trabalho do menor de dezoito anos nas atividades descritas na Lista TIP, salvo nas hipóteses permissivas previstas no decreto. Há duas possibilidades de eliminar a vedação do trabalho do menor de dezoito anos nas atividades descritas na lista:

Art. 2o Fica proibido o trabalho do menor de dezoito anos nas atividades descritas na Lista TIP, salvo nas hipóteses previstas neste decreto.

§ 1o A proibição prevista no caput poderá ser elidida:

I - na hipótese de ser o emprego ou trabalho, a partir da idade de dezesseis anos, autorizado pelo Ministério do Trabalho e Emprego, após consulta às organizações de empregadores e de trabalhadores interessadas, desde que fiquem plenamente garantidas a saúde, a segurança e a moral dos adolescentes; e

II - na hipótese de aceitação de parecer técnico circunstanciado, assinado por profissional legalmente habilitado em segurança e saúde no trabalho, que ateste a não exposição a riscos que possam comprometer a saúde, a segurança e a moral dos adolescentes, depositado na unidade descentralizada do Ministério do Trabalho e Emprego da circunscrição onde ocorrerem as referidas atividades (grifo nisso).

A Lista das Piores Formas de Trabalho Infantil (Lista TIP), evidencia a relação das atividades que devem ser proibidas, todas as formas de escravidão ou mesmo aquelas análogas a essa, a prostituição e pornografia infantil, a realização de atividades ilícitas, e o labor que, por sua natureza ou pelas condições em que é realizado, pode prejudicar a saúde, a segurança ou a moral.

Um exemplo abarcado nas proibições se refere ao trabalho doméstico, segundo Brain (2014) as piores formas de trabalho infantil não deixam de ser uma forma de escravidão, tendo em vista que estas podem ser consideradas uma opressão dos membros mais vulneráveis, constituindo-se como uma antítese do trabalho decente. Sobre a questão do trabalho infantil discorre Thome (2015, p. 124):

No caso do trabalho infantil doméstico, a discriminação em razão da idade é potencializada pela discriminação em razão de gênero, ocorrendo o fenômeno chamado de interseccionalidade de

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discriminações, com articulações entre a discriminação em razão da idade e a subinclusão desses fatores, muitas vezes, negando ou invizibilizando a existência e importância da discriminação de gênero e de idade nesse fenômeno.

Em relação ainda aos trabalhos proibidos, estabelece o art. 7º da Lei n. 8.069/90 que: A criança e o adolescente têm direito a proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência.

Cabe ressaltar, que o trabalho noturno tem condão prejudicial ao menor, tendo em vista o detrimento, aliás, a legislação ordinária já tinha previsão de proibição do trabalho noturno ao menor de 18 anos, conforme o art. 404 da CLT5, previsão esta que se embasa no art. 2º da Convenção n. 6 da OIT, de 1919. Conforme Martins (2016, p, 925) “na maioria das vezes, o período noturno é utilizado pelo menor para estudar, pois é dever do empregador proporcionar ao menor tempo para que esse possa frequentar aulas (art. 427 da CLT).”

Ainda no que tange as questões proibitivas, a Constituição Federal, veda qualquer trabalho insalubre ao menor, e não só no que concerne àquele realizado na indústria:

Art. 405 - Ao menor não será permitido o trabalho:

I - nos locais e serviços perigosos ou insalubres, constantes de quadro para êsse fim aprovado pelo Diretor Geral do Departamento de Segurança e Higiene do Trabalho;

Sob esse prisma, a Convenção n. 136, ratificada pelo Brasil, determina que seja proibido o trabalho de menores de 18 anos em locais que haja exposição ao benzeno ou outros derivados.

Quando a matéria é proibição Martins (2016, p. 926), acrescenta algumas questões sobre o tema:

5 Art. 404 - Ao menor de 18 (dezoito) anos é vedado o trabalho noturno, considerado este o que for executado no período compreendido entre as 22 (vinte e duas) e as 5 (cinco) horas.

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Certo foi também incluir a vedação do trabalho perigoso para os adolescentes, que é o que utiliza explosivos e inflamáveis, para empregados que manipulam energia elétrica, fios de alta tensão, conforme determina a Lei n. 7369/85 [...]

A Convenção n. 138 da OIT proíbe, antes de 18 anos qualquer trabalho penoso, prejudicial à saúde, como de remoção individual de objetos pesados ou movimentos repetitivos, como também o trabalho imoral.

Outra garantia do trabalho do menor é a concessão das férias de uma só vez, que deve coincidir com as escolares, como forma de propiciar o descanso depois de um longo período de estudos e de labor (art. 136, § 2º da CLT). Ademais, pode-se salientar que no que tange à jornada de trabalho do menor, esta estará amparada nas regras gerais da CLT, sendo vedada a prorrogação de jornada, com exceção da compensação de duas horas para não trabalhar em outro dia, ou motivo de força maior.

Por fim, como situação permissiva, já amplamente discutida nesse trabalho, se destaca o labor do menor na condição de aprendiz, a partir dos 14 anos, observadas as restrições previstas em lei e na CLT. A partir do 16 anos as proibições são consideradas menores, haja vista que se restringem apenas o trabalho noturno, insalubre ou perigoso e prejudicial à moral, porém, o Decreto n. 6.481/08 apresenta ampla lista de atividades em que a presença do menor é vedada.

2.2 Legislação em âmbito internacional

Evidentemente, a questão do trabalho infantil é abordada há muitos anos em âmbito internacional. Desde a conferência de Berlim, ocorrida em 1890, já se almejava regular internacionalmente a questão do trabalho do menor, assentando-se a imprescindibilidade de se ter a intervenção do Estado nesta seara (BARROS, 2017).

Barros (2017, p. 365) acrescenta que:

Com a evolução do Direito do Trabalho, as normas alusivas ao menor foram sendo revistas, com o objetivo de intensificar a tutela, enquanto as normas sobre o trabalho da mulher sofrerão revisões,

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mas no sentido de dar-lhes uma flexibilidade maior, para adaptá-las às novas necessidades econômicas-sociais e, em última análise, para acelerar a conquista da igualdade no emprego ou profissão.

É notória a importância da necessidade de comunhão de esforços para que o trabalho infantil seja erradicado, sendo visível que não se trata de uma necessidade local, mas também de âmbito internacional, havendo necessidade de se discutir questões atinente aos menores e seu desenvolvimento sadio. Sob esse prisma, após a Primeira Guerra Mundial, em 1919, na Conferência da Paz, pelo Tratado de Versalhes, foi criada a OIT, que está intimamente ligada a questões do trabalho. Preocupada com essas questões, editou-se diversas convenções que abrangem também a temática do trabalho infantil, indicando certos limites, como de idade mínima, a proibição do trabalho noturno.

Nesse sentido, destaca Silva (2013, p. 24):

A principal finalidade dessa Organização foi de assegurar a paz mundial através da justiça social, melhorando as condições de trabalho e garantindo os direitos dos menos desfavorecidos, especialmente das crianças espalhadas e exploradas mundo a fora.

Consoante Dias (2007, p. 29), podem ser citadas as seguintes Convenções que são de extrema relevância:

Convenção 05: estabeleceu 14 anos como idade mínima para admissão nas indústrias.

Convenção 06: proibiu o trabalho noturno nas indústrias aos menores de 18 anos.

Convenção 07: fixou a idade mínima para admissão no trabalho marítimo em 14 anos.

Convenção 10: estabeleceu a idade mínima de 14 anos para trabalhar na agricultura

Convenção 13: proibiu o trabalho do menor de 18 anos em serviços de pintura industrial, onde se utilize a alvaiade, o sulfato de chumbo ou qualquer produto que contenha esses elementos.

Convenção 16: estabeleceu obrigatoriedade de exames médicos dos menores de 18 anos antes do ingresso em empregos na marinha mercante.

Convenção 24: criou o seguro enfermidade aos trabalhadores das indústrias, do comércio e no serviço doméstico, estendendo aos aprendizes.

Convenção 33: consagrou a idade mínima de 14 anos para o início em trabalhos não industriais.

Convenção 38: estabeleceu os benefícios do seguro-invalidez para os menores agricultores.

Convenção 39: garantiu o seguro por morte aos menores na indústria.

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Convenção 58: revisou a convenção n. 07 e determinou a idade mínima para o trabalho marítimo em 15 anos.

Convenção 59: revisou a convenção n. 05 estabelecendo a idade mínima para o trabalho nas indústrias em 15 anos.

Convenção 60: revisou a convenção n. 33 e declarou como idade mínima para o trabalho em estabelecimentos não industriais em 15 anos.

Convenção 77: instituiu exame médico para aptidão ao emprego obrigatório aos menores na indústria.

Convenção 78: instituiu exame médico obrigatório para aptidão aos menores em empregos não industriais.

Convenção 79: limitou o trabalho noturno aos menores em trabalhos não-industriais.

Convenção 90: tratou sobre a idade mínima para o trabalho noturno nas indústrias.

Convenção 123: dispôs sobre a idade mínima para o trabalho nas minas.

Convenção 124: estabeleceu exame médico obrigatório aos menores trabalhadores em minas.

Convenção 136: atribuiu proteção contra riscos de intoxicação pelo benzeno e proibiu o trabalho e proibiu o trabalho de menores de 18 anos expostos a tal substância, exceto se orientados dos riscos, tivessem treinamento de uso e controle médico.

Convenção 138: reuniu as disposições sobre idade mínima em setores diversos da economia das convenções anteriores, almejando a construção de um instrumento geral sobre o assunto. Determinou que todo país que ratificasse essa convenção estabelecesse a idade mínima para admissão ao emprego não inferior a conclusão da escolaridade, ou não inferior a 15 anos. E ainda, estabeleceu a idade mínima de 18 anos para admissão em trabalho que prejudique a saúde, segurança e moral do menor. Foi complementada pela recomendação 146.

Convenção 182: trata da proibição das piores formas de trabalho infantil e a ação imediata para sua eliminação; a recomendação nº 190 complementou esta convenção.

É clarividente que a OIT expediu uma série de convenções e recomendações, consoante citado anteriormente, podendo ser ressaltada a Convenção n. 138 de 1973, que delineou acerca da idade mínima para que o menor fosse admitido, estabelecendo-se que a idade não deve ser inferior ao fim da escolaridade obrigatória, bem como admitiu o patamar de 14 anos, como etapa preliminar, para os países considerados insuficientemente desenvolvidos (MARTINS, 2016).

O art. 8º desta Convenção, disciplina que poderá a criança laborar em representações artísticas, desde que haja autorização da autoridade competente, além disso, deverá ser limitada as horas de trabalho, sendo balizada as condições em que este será efetuado.

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Nessa mesma perspectiva de combate de preocupação com o desenvolvimento sadio do menor, tanto no que tange aos aspectos psicológicos como no desenvolvimento físico, a Recomendação n. 190 da OIT complementa a Convenção n. 182 da OIT, que define trabalhos perigosos como:

a) trabalhos em que a criança fique exposta a abusos de ordem física, psicológica ou sexual; b) trabalhos subterrâneos, ou embaixo d’água, em alturas perigosas ou em ambientes fechados; c) trabalhos realizados em máquinas ou ferramentas perigosas ou com cargas pesadas; d) trabalhos realizados em ambiente insalubre no qual as crianças fiquem expostas, por exemplo, a substâncias perigosas, a temperaturas ou níveis de ruídos ou vibrações que sejam prejudiciais à saúde; e) trabalhos em condições dificultosas, como horários prolongados ou noturnos os que obriguem a criança a permanecer no estabelecimento do empregador (MARTINS, 2016, p. 918).

Dessa forma, é possível evidenciar que tanto a legislação em âmbito nacional quanto internacional tem o mesmo objetivo, e que apenas por intermédio de leis, políticas públicas eficazes voltadas para a educação, assim como a observância assídua por parte dos empregadores das condições próprias dos trabalhadores menores é que se poderá chegar a um patamar de proporcionalidade, que se possibilite o desenvolvimento sadio desses indivíduos.

Além disso, no contexto internacional, em 1959, foi editada pela ONU a Declaração Universal dos Direitos da Criança. Essa regulamentação estabelece a norma de proteção especial para o desenvolvimento físico, mental, moral e espiritual da criança, conforme o seu art. 2º, bem como proíbe de empregar a criança antes da idade mínima, conforme o art. 9º, 2ª alínea.

Outrossim, ainda salienta Martins (2016, p. 918) que “em 21-1-90, vários Estados subscreveram, em Nova York, na sede da ONU, a Convenção sobre os Direitos da Criança, que entrou em vigor internacional em 2-9-90.”

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Sabe-se que a jurisprudência pode ser considerada uma fonte do Direito do Trabalho, que não deve ser entendida como norma obrigatória, mas sim, algo que indica o caminho predominante dos Tribunais, de que forma estes estão aplicando a lei ao caso concreto, sendo também uma forma de suprir lacunas normativas (MARTINS, 2016). Sobre isso, destaca Resende (2017, p. 11) “jurisprudência é a reiterada interpretação conferida pelos tribunais às normas jurídicas, a partir do julgamento de casos concretos levados à apreciação do Poder Judiciário.” Assim, nesse tópico serão trazidas breves considerações da vinculação entre a teoria e prática, algumas implicações do trabalho do menor, tornando-se, dessa forma, palpável o entendimento a partir da análise jurisprudencial.

Fez-se em momento oportuno uma análise quanto ao trabalho escravo, que, historicamente fez com que inúmeras crianças tivessem que laborar em condições indignas. Contudo, essa não é uma realidade que ficou no passado, pois, pode-se falar em trabalho escravo contemporâneo, nesse sentido afirma Schwarz (2015, p. 87):

A precarização das relações de trabalho dos país também atinge as crianças – as crianças mais vulneráveis ao trabalho infantil são aquelas de famílias pobres, especialmente aquelas cujos pais são submetidos a condições menos descentes e/ou indecentes de trabalho – perpetuando sua inserção na extrema pobreza e no subemprego, roubando-lhe uma vida de oportunidades.

As questões do trabalho escravo ou análogo ao escravo restam escancaradas não somente na questão jurisprudencial, mas na própria mídia, nesse sentido, empresas conceituadas no ramo de vestuário, por exemplo, se utilizaram de mão de obra análoga a escrava para alavancar sua produção com baixo custo. Sobre o tema

em junho de 2011, diligência conjunta do Ministério Público do Trabalho com o

Ministério do Trabalho encontrou 51 trabalhadores, dos quais 46 bolivianos, trabalhando em condições de semiescravidão na cidade de Americana (SP). Consoante, MPT, os bolivianos laboravam 14 horas por dia e recebiam cerca de R$

0,20 por peça de roupa produzida.6

6 Conforme notícia veiculada no site Consultor Jurídico https://www.conjur.com.br/2012-set-01/zara-contesta-justica-lista-suja-trabalho-escravo-punida

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O que deve se entender é que a questão do trabalho escravo infantil não se restringe apenas a não existência de liberdade de locomoção, mas está atrelada a outras questões, como, por exemplo, o não respeito à dignidade da pessoa humana, a precarização do trabalho e a não observância dos ditames legais quanto ao

trabalho do menor. Isso porque, deve-se ter uma análise hermenêutica da norma e

do caso concreto que acompanhe a evolução da sociedade. Deve ser evidenciado no entendimento do Tribunal Superior do Trabalho:

AGRAVO DE INSTRUMENTO INTERPOSTO PELOS RÉUS. INTEMPESTIVIDADE. Interposto agravo de instrumento fora do prazo legal, deve ser considerado intempestivo. Agravo de instrumento não conhecido. RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO

PELO AUTOR. MINISTÉRIO PÚBLICO

DO TRABALHO. TRABALHO EM CONDIÇÕES ANÁLOGAS À DE ESCRAVO. CONFIGURAÇÃO. No caso em análise, o eg. Tribunal Regional considerou que "embora reconhecida a realização de trabalho em condições degradantes, não restou demonstrado nos autos a redução dos representados à condição análoga à de escravo", concluindo que "em nenhum momento, houve alusão a qualquer impedimento à ampla liberdade de locomoção dos trabalhadores" e que "a liberdade de ir e vir é incompatível com a condição de trabalhador escravo". Com a redação alterada do art. 149 do Código Penal pela Lei nº 10.803 /2003, o tipo penal passou a trazer explicitamente o conceito do que vem a ser o crime de redução a condição análoga à de escravo, trazendo as hipóteses configuradoras, dentre as quais "sujeitar a condições degradantes de trabalho", exatamente a situação descrita pelo eg. Tribunal Regional. Sob esse enfoque, a caracterização do trabalho escravo não mais está atrelada condicionalmente à restrição da liberdade de locomoção do empregado - conceito revisto em face da chamada "escravidão moderna". É preciso aperfeiçoar a interpretação do fato concreto, de modo a adequá-lo ao conceito contemporâneo de trabalho escravo contemporâneo. Nesse sentido têm caminhado a jurisprudência e a doutrina. Uma vez configuradas as condições degradantes a que eram submetidos os empregados, evidenciado o trabalho em condição análoga à de escravo, o que se declara, nos exatos termos do art. 149 do Código Penal . Recurso de revista conhecido e provido. VALOR DA INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS COLETIVOS (grifo nosso).

(TST – Agravo de Instrumento em Recurso de Revista n. 531004920115160021, data 12/05/2017).

A Justiça Obreira julga com frequência casos envolvendo o trabalho de menores e, e em diversas ocasiões, tem-se reconhecido o vínculo de emprego, pela inobservância por parte dos empregadores dos requisitos legais para a contratação

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ou mesmo pela inobservância do art. 428 da CLT, da utilização em atividades consideradas de risco, proibidas por lei. Ademais, levando-se, em consideração as premissas não proibitivas, mas sim permissivas, deve-se observar que quando se refere aos aprendizes, devem ser preenchidos os requisitos no artigo aludido. Dessa forma, tem-se o seguinte entendimento:

RECURSO DE REVISTA. MOTORISTAS E COBRADORES DE ÔNIBUS. COTA DE APRENDIZES. BASE DE CÁLCULO. OFENSA

AOS ARTIGOS 428 E 429 DA

CLT. NÃO CONFIGURAÇÃO. NÃO CONHECIMENTO. É certo que o artigo 429 da CLT estabelece obrigações às empresas de empregar e matricular aprendizes nos cursos dos Serviços Nacionais de Aprendizagem nas funções que exijam formação profissional. Tal preceito, contudo, não se aplica para a atividade de motorista, a qual não pode ser incluída na base de cálculo do número de aprendizes a serem contratados pela autora, empresa de transporte coletivo e de carga, não obstante o disposto no referido preceito. Primeiro porque para conduzir veículo de transporte coletivo de passageiros, de escolares, de emergência ou de produto perigoso, uma das exigências previstas no artigo 145, I e II, do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) é de que o condutor tenha, no mínimo, 21 anos de idade, além de ser aprovado em curso especializado e em curso de treinamento de prática veicular em situação de risco, em conformidade com normas editadas pelo CONTRAN. Esta exigência, com previsão em norma cogente, leva à conclusão de que, a princípio, nenhum "MENOR" de 21 anos poderá sequer apresentar-se para frequentar curso de especialização, conforme dicção explícita do parágrafo único do supracitado dispositivo. Segundo porque o artigo 428 da CLT trata de " formação técnico-profissional metódica, compatível com o desenvolvimento físico, moral e psicológico". Com isso, conclui-se que não estamos tratando de função que exija formação técnico-profissional, senão "HABILITAÇÃO PROFISSIONAL" que, a toda evidência, cuida de aspecto totalmente dissociado da primeira. Ressalte-se, ainda, que o intérprete da lei há que ter muito cuidado ao proceder à leitura dos dispositivos que cuidam da matéria objeto de interpretação, posto que o artigo 10 do Decreto nº 5.598/05, ao estabelecer que " Para a definição das funções que demandem formação profissional, deverá ser considerada a Classificação

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Referências

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