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A relativização da responsabilidade avoenga

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ANA PAULA BORTOLINI

A RELATIVIZAÇÃO DA RESPONSABILIDADE AVOENGA

IJUÍ (RS) 2012

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ANA PAULA BORTOLINI

A RELATIVIZAÇÃO DA RESPONSABILIDADE AVOENGA

Monografia final do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Monografia.

UNIJUÍ – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

DCJS – Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientadora: MSc. Lisiane Beatriz Wickert

IJUÍ (RS) 2012

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Dedico este trabalho aos meus pais Paulo e Suzana, ao meu namorado Jean e a minha amiga Carla pelo carinho, auxílio, compreensão e incentivo durante esses anos da minha caminhada acadêmica, e a todos que de uma forma ou outra contribuíram nessa etapa da minha vida.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, acima de tudo, pela vida, inteligência e força para continuar minha caminhada em busca dos meus objetivos.

À minha orientadora Lisiane Beatriz Wickert por seu auxílio, sua dedicação e incentivo.

Aos meus familiares que colaboraram durante a trajetória de construção deste trabalho, tributo meu agradecimento!

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“Só pode sentir-se parte de uma sociedade quem sabe que esta sociedade se preocupa ativamente com sua sobrevivência digna. Assim, verifica-se que a cidadania é uma relação de mão-dupla: dirige-se da comunidade para o cidadão, e também do cidadão para a comunidade. Portanto, só se pode exigir de um cidadão que assuma responsabilidades quando a comunidade política tiver demonstrado claramente que o reconhece como membro seu, inclusive através da garantia de seus direitos sociais básicos.”

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RESUMO

Os alimentos são as prestações devidas, feitas para que o alimentado possa subsistir, isto é, os alimentos são prestações com as quais podem ser satisfeitas as necessidades vitais de quem não pode provê-las sozinho. Para fixar os alimentos, o juiz deve analisar o artigo 1.694, parágrafo primeiro, do Código Civil. Esse diploma legal menciona que os alimentos devem ser fixados na proporção das necessidades do alimentado e das possibilidades do alimentante. Nesse sentido, os pais detêm maior responsabilidade alimentar em relação aos filhos. Todavia, os artigos 1.694 a 1.698 do Código Civil reconhecem a obrigação alimentar dos parentes, em razão do princípio da solidariedade, mas somente na impossibilidade de ambos os genitores é que se pode cogitar a busca de alimentos perante os avós. Configurada a falta de pagamento da pensão alimentícia, pode o alimentando executar o débito, seja a obrigação fixada em face dos pais, seja em face dos avós

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ABSTRACT

Child support is a benefit established in order to maintain a person who needs it, in other words, it is an alimony which satisfy vital needs of those who cannot provide it by themselves. So, to assess the maintenance, the court must examine the article 1.694, paragraph first, from the Civil Code. This law mentions that child support must be fixed in proportion on the needs of one and possibilities of the other who pays them. It is true that parents have a greater responsibility towards their children support. However, since it is proved the inability of both parents to provide alimony to the child/needed person, the maintenance must be supported by relatives, preferentially the closest in degree. Once it is fixed and configured the lack of payment, the person who receives the benefit can execute the debt against parents, or even grandparents.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...9

1 DOS ALIMENTOS...11

1.1 Espécies de alimentos...13

1.2 Características...15

1.3 Dos Critérios de fixação de alimentos...18

1.4 A prestação alimentícia na maioridade...22

2 OBRIGAÇÃO ALIMENTAR DOS AVÓS...26

2.1 Dever de sustento entre ascendentes e descendentes ...26

2.2 Caráter subsidiário e complementar da obrigação alimentar avoenga...30

2.3 Meios executivos da pensão alimentícia...33

2.4 Execução da prestação alimentar avoenga...38

CONCLUSÃO...42

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INTRODUÇÃO

Os alimentos são as prestações devidas, feitas para que o alimentado possa subsistir, isto é, os alimentos são prestações com as quais podem ser satisfeitas as necessidades vitais de quem não pode provê-las sozinho. É, ainda, uma contribuição periódica assegurada a alguém.

Para o juiz fixar os alimentos é preciso analisar o binômio necessidade do alimentado e possibilidade do alimentante. Em caso de fixar alimentos para criança menor de 18 anos, a jurisprudência entende que as necessidades são presumidas. Fixada a verba alimentar, esta passa a ser devida enquanto perdurarem as necessidades do alimentando e as possibilidades do alimentante. Ademais, esta obrigação poderá ser corrigida de acordo com as alterações das necessidades ou das possibilidades das partes.

É de se destacar que mesmo com o implemento da maioridade civil, a exoneração da pensão alimentícia não se opera automaticamente. O que ocorre é que com a maioridade civil desaparece o Poder Familiar e, em consequência, o dever de sustento dos pais em relação aos filhos. O dever de sustento transmuta-se em obrigação alimentar, a qual decorre do parentesco e também submete-se ao binômio necessidade/possibilidade. Portanto, persistindo a necessidade e havendo a possibilidade, permanece hígido o encargo.

Quanto a obrigação alimentar avoenga, esta pode ser subsidiária ou complementar a dos obrigados principais. A obrigação subsidiária ocorre quando não há como buscar os alimentos contra o obrigado principal, seja por

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impossibilidade total dele em pagar os alimentos ou por desídia. Os alimentos podem ser complementares quando o valor pago a título de pensão alimentícia pelos pais não é suficiente para a sobrevivência do alimentado

Fixados os alimentos, havendo inadimplemento por parte do alimentante, o alimentado, munido do título executivo, poderá executar os alimentos. A execução de alimentos pode ocorrer de quatro maneiras: a) por desconto em folha de pagamento; b) por desconto de alugueis ou de quaisquer outros rendimentos do devedor; c) pela citação do devedor para pagar ou se justificar em três dias sob pena de prisão; d) pela forma de execução por quantia certa. Estes meios executivos estão previstos nos artigos 732 a 735 do Código de Processo Civil e nos artigos 16 a 19 da Lei 5.478/68.

Portanto, em quais situações os avós tem a obrigação de prestar alimentos aos netos? Como será essa prestação? Em caso de inadimplemento, como serão os meios de execução? Será cabível a execução de alimentos pelo rito da coerção pessoal?

Diante das referidas indagações, o primeiro Capítulo abordará, de forma sucinta, a questão dos alimentos, explicitando conceitualmente as espécies, características, os critérios de fixação dos alimentos e, por fim, a prestação alimentícia na maioridade.

No mesmo sentido, o segundo Capítulo trata da obrigação alimentar dos avós, dever de sustento entre ascendentes e descendentes, caráter subsidiário e complementar da obrigação alimentar avoenga, os meios executivos da pensão alimentícia e, finalmente, a execução da prestação alimentar avoenga.

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1 DOS ALIMENTOS

A família possui função assistencialista de seus membros. Esta função engloba, além da alimentação, a educação, o lazer e a cultura, de acordo com a condição econômica da família. Normalmente os vínculos afetivos estabelecidos entre os familiares são suficientes para garantir o cumprimento desta função.

No entanto, quando algum familiar está necessitando de apoio e os laços familiares não forem suficientes assegurar este apoio, a lei o obriga por meio do instituto dos alimentos. O titular do direito aos alimentos é chamado de alimentado, enquanto o devedor dos alimentos é chamado de alimentante.

De acordo com Fábio Ulhoa Coelho (2006, p. 196):

A lei dá ao alimentante a opção de pagar os alimentos ou dar diretamente hospedagem e sustento ao alimentado (CC, art. 1.701). Embora, na maioria das vezes, a obrigação alimentar se resolva mediante o pagamento de uma pensão mensal, o alimentante pode substituí-la por prestações diretas. Adapta sua casa para nela receber o parente necessitado, e o provê de alimento e vestuário mediante a direta entrega de bens. A opção pelo sustento direto não é cabível no caso de alimentos devidos a cônjuge ou companheiro, hipótese em que a lei menciona especificamente o pensionamento (art. 1.704). Desse modo, se o irmão alimentante receia que o alimentado, por ser alcoólatra, desperdiçará em bebidas o dinheiro da pensão alimentícia, poderá cumprir sua obrigação recebendo-o em casa, e o sustentando diretamente, com o objetivo de evitar o desvio da finalidade da prestação.

Trata-se de opção exclusiva do alimentante, contra qual não pode o alimentado se insurgir, a menos que circunstâncias especiais do caso revele buscar aquele, por vias transversas, a exoneração da obrigação. Representaria exercício abusivo do direito de optar pelo sustento direto em sua casa a substituição, pelo pai, da pensão alimentícia que paga à filha residente em outro Município, onde cursa faculdade. Quando se revelar o abuso, o juiz fixará a forma mais adequada para o cumprimento da obrigação alimentar (art. 1.701, parágrafo único).

A palavra alimentos vem a ser tudo aquilo que é necessário para satisfazer os reclamos da vida. Alimentos são prestações pagas a alguém com o intuito de satisfazer as necessidades vitais daquele que não pode provê-los por si.

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Segundo Yussef Said Cahali (2009, p. 16):

Alimentos são, pois, as prestações devidas, feitas para que aquele que as recebe possa subsistir, isto é, manter sua existência, realizar o direito à vida, tanto física (sustento do corpo) como intelectual e moral (cultivo e educação do espírito, do ser racional).

A doutrina firmou entendimento no sentido de que os alimentos não são apenas o indispensável para o sustento do alimentado, mas também é o necessário para manter a vida social do menor, devendo esta ser compatível com a condição social do alimentante. De acordo com Beviláqua (apud PORTO, 2003, p. 17), “alimentos, na terminologia jurídica, significam sustento, habitação, vestuário, tratamento por ocasião de moléstia, e, quando o alimentário for menor, educação e instrução”.

Nesse sentido é o entendimento de Orlando Gomes (apud COSTA, 2011, p. 46):

A prestação alimentar é um comportamento do devedor que visa satisfazer os interesses do credor, materializada em prestações, normalmente em dinheiro, constituindo dívida de valor, mas não se reduz ao conceito clássico da obrigação pecuniária ainda que a prestação o seja. Trata-se de direito pessoal não patrimonial.

Por fim, os alimentos são as prestações devidas, feitas para que o alimentado possa subsistir, isto é, os alimentos são prestações com as quais podem ser satisfeitas as necessidades vitais de quem não pode provê-las sozinho.

Tendo em vista a importância deste tema, o presente capitulo tem por finalidade estudar as espécies de alimentos, as características da obrigação alimentar, os critérios para fixação dos alimentos e a prestação desses alimentos na maioridade.

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1.1 Espécies de alimentos

Conforme referido anteriormente, os alimentos são prestados àquele que não pode provê-los sozinho. O vínculo afetivo existente na família normalmente é suficiente para garantir o cumprimento desta obrigação. Porém, no caso de este vínculo não ser suficiente para o familiar prover os alimentos, o alimentante pode intentar ação de alimentos, pleiteando que o juiz fixe um valor para os alimentos. Estes alimentos possuem diversas espécies, as quais serão analisadas neste capítulo.

De plano, acerca do quantum alimentar, os alimentos podem ser classificados em civis ou naturais. Assim, quando se destinarem a manutenção do padrão social, abrangendo as necessidades intelectuais e morais, diz-se que são alimentos civis. Todavia, se os alimentos se destinam ao estritamente necessário para a sobrevivência da pessoa, compreendendo tão-somente alimentação, vestuário e habitação, diz-se que os alimentos são naturais.

Cumpre referir o posicionamento de Fábio Ulhoa Coelho (2006, p. 201, grifo do autor):

Em termos gerais, o alimentado tem direito aos alimentos compatíveis com sua condição social, quando seu patrimônio ou renda são insuficientes para a manutenção do padrão de vida correspondente. Os alimentos devem ser fixados em montante que possibilite ao alimentado continuar a se vestir, comer, descansar e, de um modo geral, levar a mesma vida que levava antes do surgimento da necessidade. Isso significa que, exceto nas classes de menor renda, o valor devido pelo alimentante ultrapassa em muito o que seria suficiente à mera subsistência do alimentado.

Quanto a finalidade os alimentos serão provisórios quando forem fixados liminarmente em ação de alimentos que tramite pelo rito da Lei 5.478/68. Para o alimentante ajuizar a ação pelo rito especial é necessário haver prova pré-constituída da obrigação alimentar legítima, por exemplo, comprovação da paternidade pela certidão de nascimento.

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Cumpre referir, que para a fixação dos provisórios, não há necessidade comprovação da urgência da medida, ou seja, não é preciso vir aos autos prova do dano irreparável ou de difícil reparação ou, até mesmo, do periculum in mora.

Todavia, os alimentos serão provisionais quando não houver prova pré-constituída da legitimidade do devedor, desde que haja a comprovação de provável vínculo. Esta espécie de alimentos pode ser intentada antes do deslinde do feito principal ou, até mesmo, antes do ajuizamento da ação principal, devendo ser processada em autos apartados, por meio de ação cautelar de alimentos provisionais.

Os alimentos provisionais são regulados pelos artigos 852 a 854 do Código de Processo Civil. Ao contrário dos alimentos provisórios, os alimentos provisionais exigem a comprovação da urgência da medida, sendo necessário prova do fumus boni juris e do periculum in mora para concessão dos alimentos.

O legislador preocupou-se também em assegurar ao nascituro o direito de receber alimentos. São os chamados alimentos gravídicos previstos na Lei 11.804/08, a qual disciplina a forma como devem ser exercidos os direitos do nascituro. Essa nova lei confere direito à mulher grávida, casada ou não, de receber alimentos desde a concepção até o parto, mediante ação própria movida contra o futuro pai.

Assim, para que o pleito alimentar seja acolhido, a lei prevê que cabe ao juiz decidir sobre a fixação de alimentos com base em meros indícios de paternidade. Os alimentos são percebidos pela gestante e servem para abranger os gastos decorrentes da alimentação especial, da assistência médica, do parto, entre outros gastos que se fizerem necessários durante o período da gravidez.

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Uma vez fixados, os alimentos permanecem em vigor até que ocorra o nascimento com vida, ocasião em que serão convertidos em pensão alimentícia em favor do filho e poderão ser revistos, por provocação de qualquer das partes1.

Feitas as considerações expostas, devem-se analisar as características da obrigação alimentar, a fim de entender melhor o instituto dos alimentos.

1.2 Características

A obrigação alimentar possui algumas características específicas. Dentre elas, as mais importantes são: a transmissibilidade; o direito personalíssimo; a irrenunciabilidade; a incessibilidade; a impenhorabilidade; a incompensabilidade; a imprescritibilidade; o direito de preferência; a periodicidade e a ausência de solidariedade.

Em tela, a transmissibilidade da obrigação alimentar encontra amparo no artigo 1.700 do Código Civil. Pela transmissibilidade entende-se que a obrigação do devedor em prover alimentos ao credor se estende aos herdeiros, limitada, obviamente, às forças da herança. Essa característica acabou por modificar outro pressuposto da obrigação alimentar, qual seja, o direito personalíssimo. Pelo novo Código Civil, a prestação alimentar é personalíssima apenas em relação ao alimentado, perdendo o alimentante tal característica.

Impende ressaltar o entendimento de Sérgio Gilberto Porto (2003, p. 41, grifo do autor):

Deste quadro legislativo emerge a circunstância de que – diversamente do sistema anterior, que previa a intransmissibilidade e, por decorrência, permitia a construção de que o art. 23 da Lei do

1 Art. 6o da Lei 11.804/08 - Convencido da existência de indícios da paternidade, o juiz fixará alimentos gravídicos que perdurarão até o nascimento da criança, sopesando as necessidades da parte autora e as possibilidades da parte ré.

Parágrafo único. Após o nascimento com vida, os alimentos gravídicos ficam convertidos em pensão alimentícia em favor do menor até que uma das partes solicite a sua revisão.

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Divórcio autorizava apenas e tão-somente a transmissibilidade da obrigação alimentar nas obrigações derivadas do casamento –, agora, a regra do Código Civil também é da transmissibilidade, portanto a obrigação alimentar transmite-se aos herdeiros do devedor na forma do art. 1.694, ou seja, sejam os alimentos decorrentes do parentesco ou das relações de afinidade. Em qualquer hipótese, contudo, respeitar as forças da herança, consoante estabelecido pelos arts. 1.792 e 1.997 do Código, bem como, evidentemente, o binômio necessidade-possibilidade. Estando aí a possibilidade representada exatamente pelas chamadas forças da herança.

Importante salientar que as prestações alimentícias são impenhoráveis, porquanto eventual penhora dos valores destinados a alimentação violaria o direito do alimentado à sobrevivência. Os alimentos também são incessíveis e incompensáveis. A incessibilidade significa que não se pode ceder a terceiros os alimentos que se tem direito, enquanto pela incompensabilidade entende-se que se o devedor de alimentos vier a ser credor do alimentado, por qualquer motivo, não se pode compensar seus prejuízos cessando o pagamento da pensão alimentícia.

Cumpre transcrever o entendimento jurisprudencial acerca da incompensabilidade:

Ementa: EXECUÇÃO DE ALIMENTOS. ARTIGO 733 DO CPC. ERRO DE CÁLCULO POR PARTE DA CONTADORIA. EXCESSO DE EXECUÇÃO. Caso em que o excesso de pagamento na execução advém de erro no cálculo da contadoria judicial. Apesar das relações alimentícias serem norteadas pelos princípios da irrepetibilidade e incompensabilidade, há de se tomar cuidado para que não haja enriquecimento sem causa. DERAM PROVIMENTO. (RIO GRANDE DO SUL, 2010).

Ainda, por oportuno, importante destacar o entendimento do Egrégio Tribunal de Justiça acerca da característica da impenhorabilidade dos alimentos:

Ementa: AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO PRIVADO NÃO ESPECIFICADO. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. BLOQUEIO DE

VALORES. Incontroversa a impenhorabilidade dos valores

depositados em contas bancárias à título de salário, pensão ou aposentadoria, nos termos do art. 649, IV, do Código de Processo Civil. No entanto, tal reconhecimento não pode impedir, de forma irrestrita, para o futuro, nas mesmas contas, o bloqueio de valores outros, que não apresentem natureza alimentar. Possível a realização de novos bloqueios nas contas das devedoras, desde que

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respeitada a impenhorabilidade imposta pelo art. 649, IV, do Código de Processo Civil. Decisão interlocutória reformada. DADO PROVIMENTO AO AGRAVO DE INSTRUMENTO, em decisão monocrática. (RIO GRANDE DO SUL, 2012).

Cumpre referir que o direito da pessoa necessitada em pleitear alimentos é imprescritível, estando sujeito a prescrição somente a execução das prestações em atraso. O direito do alimentado em cobrar as prestações em atraso prescreve em dois anos, conforme dispõe o artigo 206, parágrafo 2º, do Código Civil. Dispõe Yussef Said Cahali (2009, p. 96):

O CC/2002 não repete a disposição que se continha no art. 178, § 10, I, do Código anterior, que estabelecia prescreverem em cinco anos “as prestações de pensões alimentícias”; aclarando-se posteriormente, no art. 23 da Lei 5.478, de 1968, que “a prescrição qüinqüenal referida no art. 178, § 10, I, do Código Civil [1916] só alcança as prestações mensais e não o direito a alimentos”.

Da maneira mais concisa, estabelece o Código que prescreve em dois anos “a pretensão para haver prestações alimentares, a partir da data em que se vencerem” (art. 206, §2º).

Além da simples redução do lapso prescricional das prestações, verifica-se que, substancialmente, nada terá sido modificado em relação ao direito anterior, pois as prestações pretendidas “a partir da data em que se vencerem” serão aquelas devidas após a citação, convencionadas ou arbitradas judicialmente.

Importante salientar que, no caso da cobrança das parcelas vencidas, se o alimentado for menor o prazo prescricional começa a correr com o advento da maioridade. Isso porque em favor dos incapazes, o artigo 198, inciso I, do Código Civil, dispõe que não corre prescrição. Ademais, se o devedor dos alimentos for ascendente ou descendente pode-se aplicar o artigo 197, inciso II, do mesmo diploma legal, o qual menciona não correr prescrição entre ascendente e descendente durante o poder familiar.

A propósito:

Ementa: AGRAVO DE INSTRUMENTO. IMPUGNAÇÃO AO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. ALIMENTOS. PRESCRIÇÃO. ABSOLUTAMENTE INCAPAZ. Nos termos dos arts. 197, inciso II, e 198, inciso I, do Código Civil, não corre a prescrição "entre os ascendentes e descendentes, durante o poder familiar" e "contra os incapazes de que trata o art. 3º". POR MAIORIA, NEGARAM

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PROVIMENTO AO AGRAVO DE INSTRUMENTO, VENCIDO O RELATOR. (RIO GRANDE DO SUL, 2012).

Ainda analisando as características da obrigação alimentar, impende acentuar que a prestação alimentícia deve ser alcançada ao alimentado de forma periódica, sendo normalmente mensal. Além disso, caso o alimentante não alcançar os alimentos no período determinado pelo juiz, estas prestações vencidas podem ser executadas, tendo o crédito alimentar direito de preferência em relação aos demais.

Por fim, sem que a localização desmereça sua importância, em caso de pluralidade de alimentantes para o mesmo alimentado, impende salientar que não há solidariedade entre eles quanto à totalidade do débito. Porquanto, ao haver mais de um alimentante cada um será obrigado de acordo com as suas possibilidades e as necessidades do alimentado.

Para Beviláqua (apud CAHALI, 2009, p. 122):

Se os alimentos forem devidos por mais de uma pessoa, a prestação deverá ser cumprida por todos, na proporção dos haveres de cada um. A obrigação de prestar alimentos não é solidária. Algumas legislações prescrevem que, nos casos urgentes, possa o juiz impor a obrigação a um só dos coobrigados, ao qual fica salvo o direito regressivo contra os outros, pelas cotas respectivas. O Código Civil brasileiro [1916] não perfilhou essa regra, que, aliás, propusera o Projeto Primitivo, art. 473. A Comissão da Câmara aboliu-a.

Visto as principais características da obrigação alimentar, no próximo ponto, serão analisados os requisitos necessários para a fixação desses alimentos.

1.3 Dos critérios de fixação dos alimentos

Para fixar alimentos é necessário o Juiz analisar o artigo 1.694, parágrafo primeiro, do Código Civil. Esse diploma legal menciona que os alimentos devem ser fixados na proporção das necessidades do alimentado e das possibilidades do alimentante.

Em razão deste dispositivo, a jurisprudência majoritária do Tribunal gaúcho entende que para a fixação da pensão alimentícia é necessário observar o binômio

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necessidade/possibilidade, ou seja, necessidade de quem reclama o sustento e as possibilidades de quem vai arcar com a obrigação.

Acerca da análise da necessidade do alimentado, no que se refere à fixação dos alimentos ao menor de idade, não é preciso haver a comprovação da necessidade da criança. Isso porque, as necessidades dos menores são presumidas, ou seja, caracteriza-se pela necessidade de alimentação, vestuário, material escolar, habitação, transporte, entre outros.

Contudo, antes de fixar a verba alimentar deve-se analisar as possibilidades do alimentante, pois se apenas as necessidades fossem levadas em conta, seria possível estabelecer, de modo prévio, os valores da pensão de acordo com a faixa etária. Embora as necessidades sejam semelhantes e presumidas, as possibilidades variam muito. Alimentantes com alto padrão de vida, devem proporcionar o mesmo aos seus filhos, ainda que não morem consigo. Ao contrário, se o alimentante for economicamente desfavorecido, o alimentado terá somente o que couber no seu orçamento.

Importante referir o entendimento de Rui Portanova acerca da fixação dos alimentos. Para este, a fixação da pensão alimentícia deve observar o trinômio alimentar, ou seja, possibilidade, necessidade e proporcionalidade:

Ementa: APELAÇÃO. ALIMENTOS. FIXAÇÃO SENTENCIAL. ADEQUAÇÃO. MAJORAÇÃO. DESCABIMENTO. Descabe majorar o "quantum fixado pela sentença, já em devida consonância com o trinômio possibilidade/necessidade e proporcionalidade. Inviável majorar o valor dos alimentos, considerando-se que, para além da aqui apelante, o apelado é responsável pelos sustento de ao menos 01 outro filho menor, e ainda sofre de problemas de saúde. NEGARAM PROVIMENTO. (RIO GRANDE DO SUL, 2009).

A doutrina entende que a dificuldade em aplicar o binômio ou o trinômio não está em verificar as possibilidades do alimentante, mas em analisar as necessidades do alimentado. A possibilidade é demonstrada com as provas trazidas pelas partes ao processo, enquanto que as necessidades de quem pede alimentos estão no fato

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de que, além das necessidades vitais, existem as necessidades civis que, mesmo dispensáveis para a sobrevivência, melhoram as condições de vida do alimentado.

Cumpre referir que a obrigação de prover os alimentos aos filhos menores cabe, via de regra, a ambos os genitores, devendo cada qual concorrer na medida da própria disponibilidade. Assim, para a fixação de alimentos é necessário que o titular do direito não possa manter-se sozinho e que a pessoa de quem se reclamam possa fornecê-los sem prejuízo do seu sustento, conforme dispõe o artigo 1.694, § 1º, do Código Civil. Segundo Yussef Said Cahali (2009, p. 512-513):

A regra tradicional é que cada pessoa deve prover-se segundo suas próprias forças ou seus próprios bens: a obrigação de prestar alimentos é, assim, subsidiária, eis que só nasce quando o próprio individuo não pode cumprir esse comezinho dever com a sua pessoa, que é o de alimentar-se com o produto do seu trabalho e rendimentos.

A impossibilidade de prover, o alimentando, à própria mantença pode advir da incapacidade física ou mental para o trabalho; doença, inadaptação ou imaturidade para o exercício de qualquer atividade laborativa; idade avançada; calamidade pública ou crise econômica que resulte absoluta falta de trabalho.

Fixada a verba alimentar, esta passa a ser devida enquanto perdurarem as necessidades do alimentando e as possibilidades do alimentante. No entanto, esta obrigação poderá ser corrigida de acordo com as alterações das necessidades ou das possibilidades das partes, conforme dispõe o artigo 1.699 do Código Civil2.

Dessa forma, só é possível a redução, exoneração ou majoração do pensionamento se verificada a mudança das necessidades do alimentado ou das possibilidades do alimentante, cabendo o ônus probatório para aquele que alegar mudança da situação anterior, de acordo com o artigo 333, inciso I, do Código de Processo Civil.

2 Art. 1.699. Se, fixados os alimentos, sobrevier mudança na situação financeira de quem os supre, ou na

de quem os recebe, poderá o interessado reclamar ao juiz, conforme as circunstâncias, exoneração, redução ou majoração do encargo.

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Cumpre transcrever o entendimento do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul acerca do assunto:

Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. REVISIONAL DE ALIMENTOS. FILHOS MENORES DE IDADE. BINÔMIO: NECESSIDADE-POSSIBILIDADE. ÔNUS DA PROVA. INEXISTÊNCIA DE PROVAS QUANTO A ALEGADA IMPOSSIBILIDADE. A fixação do quantum da pensão alimentícia deve atender ao binômio necessidade do credor e possibilidade do devedor, impondo-se ao demandante-alimentante demonstrar a mudança em tais condições pessoais a justificar a redução da verba alimentar. Ausente comprovação da alegada redução nas possibilidades, não procede o pleito. Sentença mantida. NEGARAM PROVIMENTO AO APELO. (RIO GRANDE DO SUL, 2012).

Nesse mesmo sentido, entende o Tribunal gaúcho acerca do ônus da prova:

Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE EXONERAÇÃO DE ALIMENTOS. FILHO MAIOR DE IDADE. BINÔMIO: NECESSIDADE-POSSIBILIDADE. ÔNUS DA PROVA. NÃO COMPROVADA A MANUTENÇÃO DA NECESSIDADE. Em não se tratando de necessidade presumida, é imprescindível àquele que pretende a manutenção dos alimentos a prova da falta de condições de prover a própria subsistência. Em sendo o alimentante filho saudável, maior de idade e capaz, que não demonstrou interesse pelos estudos, não há razão para manter o pagamento de alimentos fixados em seu favor. NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO. (RIO GRANDE DO SUL, 2012).

Em que pese o artigo 15 da Lei 5.478/68 dispor que a sentença que fixa alimentos não transita em julgado, em razão da existência de modificações nas condições financeiras dos interessados, na realidade, a sentença que fixa alimentos faz coisa julgada material, não podendo ser reexaminada.

Na visão de Sérgio Gilberto Porto (2003, p. 108):

Em matéria alimentar o estudo da coisa julgada, a exemplo de outros ramos, também enfrenta alguma dificuldade de interpretação. Com efeito, em muitas vezes as obras que versam sobre matéria processual alimentar afirmam que a decisão proferida em processo de alimentos não transita em julgado. Esta orientação, por certo, decorre o teor do art. 15 da Lei de Alimentos, que reza: “A decisão judicial sobre alimentos não transita em julgado e pode a qualquer tempo ser revista em face da modificação da situação financeira dos interessados”.

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Todavia, com a máxima vênia daqueles que esposam este entendimento, não é esta a interpretação que deve ser dada ao texto legal, pois a sentença proferida em ação de alimentos, no que tange ao mérito, transita em julgado e atinge o estado de coisa julgada material.

Note-se, neste passo, que uma relação jurídica continuativa dá suporte material à ação de alimentos, ou seja, uma relação jurídica em que a situação fática sofre alterações com o passar dos tempos. Desse modo, quando se diz que “inexiste” coisa julgada material nas ações de alimentos, faz-se referência apenas ao quantum fixado na decisão, pois, se resultar alterada faticamente as situações das partes, poder-se-á alterar os valores da obrigação alimentar. Mas, uma vez reconhecida esta, que envolve inclusive o estado familiar das partes, transita ela em julgado e atinge a condição de coisa julgada material, não podendo novamente esta questão ser reexaminada. Aqui, a declaração da obrigação alimentar, por representar o mérito da demanda e definir a nova situação jurídica existente, adquire o selo da imutabilidade e, portanto, faz coisa julgada material.

Contudo, sobre a coisa julgada material incide o princípio da proporcionalidade, sendo possível a revisão dos alimentos quando houver afronta a tal princípio. Desse modo, é cabível revisar os alimentos para reequilibrar a trinômia proporcionalidade – necessidade – possibilidade.

1.4 A prestação alimentícia na maioridade

Primeiramente, conforme mencionado, os alimentos são prestações que objetivam atender às necessidades vitais e sociais básicas de quem não as pode prover por si só.

É de se destacar que mesmo com o implemento da maioridade civil, a exoneração da pensão alimentícia não se opera automaticamente. O que ocorre é que com a maioridade civil desaparece o Poder Familiar e, em consequência, o dever de sustento dos pais em relação aos filhos. O dever de sustento transmuta-se em obrigação alimentar, a qual decorre do parentesco e também submete-se ao binômio necessidade/possibilidade. Portanto, persistindo a necessidade e havendo a possibilidade, permanece hígido o encargo.

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Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE ALIMENTOS. BINÔMIO: NECESSIDADE-POSSIBILIDADE. FILHA MAIOR DE IDADE.

NECESSIDADES COMPROVADAS. AUSENTE PROVA DA

IMPOSSIBILIDADE. A fixação do quantum da pensão alimentícia deve atender ao binômio necessidade do credor e possibilidade do devedor, impondo-se ao alimentante demonstrar suas reais condições pessoais a justificar a redução da verba alimentar fixada. A formação de nova família, por si só, não tem o condão de autorizar a redução dos alimentos fixados. Apesar da maioridade da alimentada, descabe exonerar ou reduzir o encargo alimentar, porquanto persiste a necessidade, especialmente em razão da realização de curso universitário. Entretanto, ausente demonstração de necessidades especiais, não há falar em majoração dos alimentos. NEGARAM PROVIMENTO AO APELO E AO RECURSO ADESIVO. (RIO GRANDE DO SUL, 2012).

Por sua vez, cumpre transcrever o entendimento de Sérgio Gilberto Porto (2003, p. 19, grifo do autor) no sentido de que a maioridade, por si só, não é motivo para cessar a pensão alimentícia, uma vez que permanece o dever de assistência à família:

De outra banda, vale registrar que o sistema do instituto jurídico dos alimentos – como tantos outros – deve ser interpretado sistematicamente e, nesta medida, não pode ser desconhecida a recomendação constante do caput do art. 1.694 do CC, o qual introduziu na ordem legal a compatibilização com a condição social. Desta forma, se a condição social do filho maior reclama curso superior, por evidente, no conflito entre o valor maioridade e o manutenção de padrão social, deverá preponderar este em detrimento daquele, daí a razão pela qual entendemos, ao menos neste contexto, possível a outorga de alimentos a filhos maiores, ainda quando estudantes máxime porque há certeza de que, através do instituto de alimentos, visou o legislador resguardar a assistência à família e à própria comunidade humana, impondo que um, diante de suas possibilidades, auxilie o outro, diante de suas necessidades, aos efeitos de aperfeiçoar o convívio social.

Para a exoneração dos alimentos é necessário o alimentante comprovar a total desnecessidade do alimentando ou a sua incapacidade absoluta em prestar os alimentos. O simples fato de o alimentado ter atingido a maioridade não pressupõe desnecessidade de auxílio financeiro, ainda mais se permanece estudando e não aufere ganhos suficientes para manter-se por si só.

Quanto a comprovação da necessidade de continuar percebendo alimentos, o Superior Tribunal de Justiça já se manifestou no seguinte sentido:

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PROCESSUAL CIVIL. CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE ALIMENTOS. CURSO SUPERIOR CONCLUÍDO. NECESSIDADE. REALIZAÇÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO. POSSIBILIDADE. 1 O advento da maioridade não extingue, de forma automática, o direito à percepção de alimentos, mas esses deixam de ser devidos em face do Poder Familiar e passam a ter fundamento nas relações de parentesco, em que se exige a prova da necessidade do alimentado. 2. É presumível, no entanto, – presunção iuris tantum –, a necessidade dos filhos de continuarem a receber alimentos após a maioridade, quando frequentam curso universitário ou técnico, por força do entendimento de que a obrigação parental de cuidar dos filhos inclui a outorga de adequada formação profissional. 3. Porém, o estímulo à qualificação profissional dos filhos não pode ser imposto aos pais de forma perene, sob pena de subverter o instituto da obrigação alimentar oriunda das relações de parentesco, que tem por objetivo, tão só, preservar as condições mínimas de sobrevida do alimentado. 4. Em rigor, a formação profissional se completa com a graduação, que, de regra, permite ao bacharel o exercício da profissão para a qual se graduou, independentemente de posterior especialização, podendo assim, em tese, prover o próprio sustento, circunstância que afasta, por si só, a presunção iuris tantum de necessidade do filho estudante. 5. Persistem, a partir de então, as relações de parentesco, que ainda possibilitam a percepção de alimentos, tanto de descendentes quanto de ascendentes, porém desde que haja prova de efetiva necessidade do alimentado. 6. Recurso especial provido. (BRASIL, 2011).

Portanto, a maioridade civil e, em consequência, a extinção poder familiar não são causas para cessar a prestação alimentícia sem que haja comprovação da total desnecessidade do alimentado em continuar recebendo alimentos. Para tanto, cumpre ressaltar o entendimento de Yussef Said Cahali (2009, p. 462-463):

Afirma-se, então, que a obrigação alimentar tem relação não apenas com a idade, mas também com o vínculo de parentesco existente entre o alimentante e o alimentado. Assim, a extinção do pátrio poder (hoje, poder familiar), por si só, não é causa para a exoneração do encargo. Na espécie, tudo deverá ser avaliado a fim de comprovar a necessidade de receber os alimentos e a possibilidade do genitor de pagá-los, o que será feito com submissão ao contraditório e à ampla defesa. Outrossim, a redução da maioridade civil de 21 para 18 anos exige que o magistrado tenha mais cautela ao decidir, haja vista que pessoas nessa faixa etária, normalmente, se encontram estudando ou mesmo necessitando de amparo para concluírem sua formação. A maioridade civil, atingida aos 18 anos de idade, só será causa de excludente do dever alimentar quando ficar comprovado que o filho tem meios próprios de subsistência. Com efeito, o novo Código Civil não diz que cessa o dever de alimentar com a maioridade civil do filho. O dever de alimentar decorre do grau de parentesco (art.1.694), sendo que o direito a prestação de alimentos é recíproco entre pais e

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filhos, e extensivo a todos os ascendentes (art. 1.696). Os alimentos são devidos inclusive para atender às necessidades de educação, segundo o art. 1.694; daí a necessidade da manifestação do alimentando antes do juiz decidir se exonera o pai do dever de alimentar, para saber, pois, se o filho é estudante, ou se, por qualquer motivo, ainda necessite dos alimentos. A exoneração automática dos alimentos, sem oitiva do alimentando, fere os princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa.

Assim, o que se tem é que com a maioridade ou emancipação cessa o poder familiar, mas isto não é suficiente para fazer cessar o dever do alimentante de prestar alimentos, caso não tenha desaparecido o binômio necessidade/ possibilidade.

O capítulo seguinte tratará acerca da obrigação dos avós em prestar alimentos aos netos, fugindo da regra geral de serem os pais responsáveis por prestarem alimentos aos filhos. Será analisado, ainda, o dever de sustento entre avós e netos, bem como os meios executivos desta obrigação.

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2 Obrigação alimentar dos avós

Os pais detêm maior responsabilidade alimentar em relação aos filhos, os quais, enquanto menores, estão sujeitos ao poder familiar. Portanto, aos pais incumbe o dever de sustento de seus filhos, sendo essa obrigação recíproca. O dever de prestar alimentos é extensivo a todos os ascendentes, recaindo a obrigação nos mais próximos aos mais remotos, conforme dispõe o artigo 1.696 do Código Civil.

Maria Aracy Menezes da Costa (2011, p. 63-64) fala acerca da obrigação alimentar dos demais parentes:

O que se vê na doutrina e principalmente na jurisprudência é que não se encontram suficientemente estabelecidos os limites das obrigações alimentarias, e não há o necessário discernimento entre a obrigação dos pais e a obrigação dos demais parentes, sejam eles ascendentes ou colaterais, principalmente entre os ascendentes: há uma tendência de responsabilizar os avós a uma prestação alimentar como se pais fossem, quando não o são.

Seja quem for o protagonista da obrigação alimentar, os elementos que norteiam essa relação são a necessidade de quem pede e a possibilidade de quem dá, conforme referido no capítulo anterior.

No presente capítulo, objetiva-se fazer uma análise sobre a obrigação alimentar entre ascendentes e descendentes, o caráter dessa relação e os meios de executar a obrigação.

2.1 Dever de sustento entre ascendentes e descendentes

Os artigos 1.694 a 1.698 do Código Civil reconhecem a obrigação alimentar dos parentes, em razão do princípio da solidariedade que se pressupõe estar presente nos vínculos afetivos. Assim, o Código Civil considera como sendo parentes todas as pessoas que estão em relação de ascendência ou descendência umas para com as outras, independentemente do grau, bem como os colaterais até o quarto grau.

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Acerca da obrigação alimentar, Nelson Nery Junior (2006, p. 925, grifo do autor) disserta:

3. Obrigação alimentar. A obrigação legal de alimentar é toda especial. Como seu adimplemento se relaciona diretamente com a sobrevivência do alimentando, o sistema dota a prestação alimentar de mecanismos extraordinários de cumprimento, dentre os quais se destacam a possibilidade de prisão civil (CF 5º LXVII); o privilégio constitucional creditório (CF 100 caput e § 1º-A); garantias especiais de execuçao (CPC 602) e o privilégio de foro do domicílio ou da residência do alimentando, para ação em que se pedem alimentos (CPC 100 II).

Os dispositivos supracitados estabelecem uma ordem de preferência entre os parentes obrigados a prestar alimentos. Sobre essa ordem de preferência, Yussef Said Cahali (2009, p. 467) tem o seguinte entendimento:

O legislador não se limita à designação dos parentes que se vinculam à obrigação alimentar, mas determina do mesmo modo a ordem sucessiva do chamamento à responsabilidade, preferindo os mais próximos em grau, e só fazendo recair a obrigação nos mais remotos à falta ou impossibilidade daqueles de prestá-los: o conceito é, pois, o de que exista uma estreita ligação entre obrigado e alimentado, pelo que aqui não se considera a família no seu mais amplo significado, mas como o núcleo circunscrito de parentes próximos e quais aqueles que estão ligados pelas mesmas íntimas e comuns relações patrimoniais.

Diante disso, pode-se dizer que existem quatro classes de pessoas obrigadas a prestar alimentos, formando uma hierarquia no parentesco: pais e filhos; ascendentes, na ordem de proximidade com o alimentante; descendente, observado o grau de parentesco; irmãos, unilaterais ou bilaterais. Maria Aracy Menezes da Costa (2011, p. 113) discorre acerca do assunto:

No direito brasileiro, nos termos do art. 1.696, “o direito à prestação de alimentos é recíproco entre pais e filhos, e extensivo a todos os ascendentes, recaindo a obrigação nos mais próximos em grau, uns em falta dos outros”. Evidencia-se que também existe uma clara hierarquia na ordem de prestar alimentos, iniciando-se pelos parentes mais próximos em grau, na linha reta – ascendentes. Assim, se faltam os pais, a obrigação passa aos avós; se faltam estes, os bisavós.

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Portanto, para exigir pensão alimentícia de parente em grau mais remoto é necessária a comprovação da inexistência ou da impossibilidade do parente mais próximo em prestar alimentos. Nesse sentido é o entendimento do Tribunal de Justiça do nosso Estado:

Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. ALIMENTOS. OBRIGAÇÃO

AVOENGA. Em atenção ao princípio do contraditório e em especial ao contido no art. 397 do CPC, apenas excepcionalmente é admitida a produção de prova documental em fase de recurso. Até porque, a instância recursal é de revisão. A presunção de veracidade que emana da revelia é relativa. Tratando-se de alimentos postulados a avô, é preciso averiguar se as condições de que desfrutam ambos os genitores inviabilizam o atendimento minimamente adequado das necessidades do alimentando, que deve ficar adstrito ao que é possível dispor com a renda de pai e mãe, a menos que estes não tenham condições para lhe fornecer um mínimo de vida digna e, de outro lado, os avós detenham tal possibilidade. Isso porque somente é possível demandar alimentos aos parentes de grau mais remoto quando nenhum dos que compõem o grau mais próximo dispõe de condições mínimas, conforme art. 1.696, CC. Hipótese em que resta, de um lado, caracterizada a possibilidade de os genitores arcarem com o sustento do apelante e, de outro, evidenciada a impossibilidade de o avô paterno suportar tal encargo, quanto mais que sua obrigação alimentar em relação ao menor em tela é subsidiária. APELAÇÃO PROVIDA. (RIO GRANDE DO SUL, 2011). (grifo nosso).

Cumpre referir que a obrigação dos avós em relação aos netos decorre do parentesco, não do poder familiar como a obrigação dos pais. Assim, apenas em situações excepcionais é que cabe a fixação de alimentos a serem pagos pelos avós, sempre condicionado à demonstração de que o valor não causará prejuízo de seu próprio sustento.

Vale ressaltar o entendimento de Belmiro Pedro Welter (2004, p. 228-229, grifo do autor):

Entretanto, há que distinguir que a condição social a ser preservada, o padrão de vida a ser garantido, deve ser o dos pais para os filhos, e não o padrão de vida dos avós para os netos. Tal conclusão deriva

da natureza do “poder-dever parental”, hoje denominado

equivocadamente “poder familiar” em substituição do pátrio poder (familiar abrange toda a família, ao passo que parental diz respeito a ambos os pais). A obrigação alimentar dos avós não é decorrência

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do poder familiar. Inaplicável o dispositivo legal aos alimentos alcançados pelos avós, visto que o padrão de vida dos filhos é determinado e proporcionado pelos pais, como componente do poder familiar.

Por evidente que, em se tratando de alimentos, jamais será ignorado o exame da possibilidade de quem alcança e da necessidade de quem pede. No entanto, quando se trata de obrigação avoenga, a possibilidade dos avós prepondera sobre a necessidade dos netos.

Em razão dessa ordem de grau de parentesco, os ascendentes de um mesmo grau são obrigados em conjunto, sendo a ação de alimentos movida contra todos e a quota alimentar fixada de acordo com as possibilidades de cada alimentante, levando-se em conta as necessidades do alimentado.

Nelson Nery Junior (2006, p. 927, grifo do autor) salienta inexistir solidariedade entre os alimentantes, destacando o litisconsórcio passivo facultativo:

Alimentos. Obrigação avoenga. Inexistência de solidariedade entre os alimentantes. Litisconsórcio passivo facultativo. Inexiste solidariedade entre os alimentantes, (a) uma vez que esta não se presume, mas resulta da lei ou vontade das partes; (b) e porque cada alimentante é obrigado no limite de suas possibilidades. O CC/1916 397 [CC 1696] não estabelece a obrigatoriedade de que a ação de alimentos seja promovida contra todos os ascendentes do mesmo grau. O alimentando tem a opção de escolher contra quem demandar, ficando o alimentante obrigado no limite de suas possibilidades. Não existe, assim, litisconsórcio necessário. Referida figura processual só ficará caracterizada “quando, por disposição de lei ou pela natureza da relação jurídica, o juiz tiver que decidir a lide de modo uniforme para todas as partes; caso em que a eficácia da sentença dependerá da citação de todos os litisconsortes no processo”, nos termos do CPC 47 caput. Na verdade, o litisconsórcio é facultativo, a teor do CPC 46 caput do mesmo estatuto. Descabido o bloqueio em conta poupança do alimentante quando não demonstrado o risco de inadimplemento dos alimentos, considerando que são descontados diretamente dos proventos de aposentadoria recebidos (TJRS, 7ªCam., 70003419207-Porto Alegre, rel.Des. Luiz Felipe Brasil Santos, v.u.,j.5.12.2001).

Nesse mesmo sentido é o entendimento do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul:

Ementa: AGRAVO DE INSTRUMENTO. ALIMENTOS. FIXAÇÃO

LIMINAR. OBRIGAÇÃO AVOENGA. CHAMAMENTO.

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que ora se impugna, qualquer referência acerca da reedição do pedido liminar de fixação de alimentos, não é possível conhecer do pleito, sob pena de indevida supressão de instância. 2. Não obstante as características de não-solidariedade e divisibilidade da obrigação alimentar, deve ser deferido o chamamento à lide dos avós maternos requerido pelo avô paterno, em face da obrigação destes, também, de sustento do neto pela alegada falta de condições dos genitores para a mantença do filho. Trata-se de litisconsórcio facultativo ulterior simples, expressamente previsto no art. 1.698 do Código Civil. AGRAVO EM PARTE CONHECIDO E NO QUE CONHECIDO DESPROVIDO. (RIO GRANDE DO SUL, 2011).

Conclui-se, dessa forma, que duas circunstâncias permitem a convocação do ascendente mais remoto: a falta de ascendente em grau mais próximo ou a falta de condições econômicas deste para fazê-lo. Assim, para a obrigação ser direcionada apenas contra os avós, deve haver comprovação da impossibilidade dos genitores em prestar os alimentos, incumbindo ao alimentado o ônus da prova. Diante disso, passa-se analisar o caráter da obrigação alimentar dos avós.

2.2 Caráter subsidiário e complementar da obrigação alimentar avoenga

Conforme referido anteriormente, a obrigação de custear o sustento dos filhos é dos pais, sendo que somente na impossibilidade de ambos os genitores em prestá-los é que se pode cogitar a busca de alimentos perante os avós. Isso porque o dever dos pais decorre do poder familiar, ao passo que a obrigação estendida aos avós deriva da solidariedade familiar.

Acerca do caráter da obrigação alimentar avoenga, o Centro de Estudos do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul concluiu, através do enunciado n.44, que “a obrigação alimentar dos avós é complementar e subsidiária à de ambos os genitores, somente se configurando quando pai e mãe não dispõem de meios para prover as necessidades básicas dos filhos”.

Nesse sentido, a obrigação não é solidária porque o credor de alimentos não pode escolher livremente um parente para pagá-los integralmente. Deve observar a ordem de grau de parentesco, mencionada anteriormente, sendo, portanto, a obrigação subsidiária.

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A obrigação dos avós também é complementar no sentido de auxiliar os pais no sustento dos filhos. Ao contrário da obrigação alimentar baseada no dever de mútua assistência, os alimentos devidos em razão do parentesco visam garantir os recursos indispensáveis para a subsistência do alimentado.

Quanto ao caráter subsidiário e complementar da obrigação alimentar avoenga, Paulo Lôbo (2010, p. 376-377) disserta:

Dentro da mesma classe, os de grau mais próximo preferem aos mais distantes. Dentro do mesmo grau, por fim, os parentes assumem obrigação necessariamente pro rata, em quotas proporcionais aos recursos financeiros de cada um.

De um grau de parentesco para o subseqüente, por exemplo no caso de pais e avós, estes apenas complementam o valor devido pelos primeiros, que tiverem rendimentos insuficientes. Nesse caso, trata-se de obrigação subsidiária, não podendo a ação trata-ser ajuizada diretamente contra os avós, sem comprovação de que o devedor originário esteja impossibilitado de cumprir o seu dever. O requisito da possibilidade leva em conta o paradigma dos pais, ou seja, das condições econômicas e padrão de vida destes, por serem os devedores principais dos alimentos, e não os dos avós, que eventualmente sejam superiores.

Caso a obrigação avoenga seja fixada com intuito de complementar a pensão paga por um dos genitores, a responsabilidade pelos alimentos deve ser fixada proporcionalmente, atendendo as possibilidades dos alimentantes e as necessidades do alimentando.

A propósito, Nelson Nery Junior (2006, p. 927, grifo do autor) entende o seguinte acerca do assunto:

Complementação pelos avôs paternos. Admissibilidade. Se o pai, por si, revela insuficiência de recursos para alimentar a filha menor, pode esta exigir complementação dos avós paternos, em melhores condições econômicas, devendo a responsabilidade pelos alimentos ser repetida proporcionalmente na medida da capacidade financeira dos alimentantes, tendo em vista a suficiente demonstração e comprovação do binômio necessidade-possibilidade (RT 778/358).

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O Superior Tribunal de Justiça, na data de 16/06/2010, publicou notícia, referente ao REsp 576152, acerca da responsabilidade dos avós em pagar alimentos aos netos apenas quando da incapacidade dos pais:

A obrigação dos avós de prestar alimentos é subsidiária e complementar à dos pais, cabendo ação contra eles somente nos casos em que ficar provada a total ou parcial incapacidade dos genitores em provê-los. A conclusão é da Quarta Turma do Superior Tribunal de justiça, que não conheceu do recurso especial de uma neta contra os avós paternos. Representada pela mãe, ela ajuizou ação de alimentos diretamente contra os avós. Eles contestaram a ação, sustentando a impossibilidade de prestarem alimentos. O avô afirmou que seus ganhos não são suficientes para prover tais obrigações, além de possuir uma filha menor a quem presta alimentos. A avó, por sua vez, comprovou estar desempregada, ou seja, não possui qualquer rendimento para satisfazer as necessidades da neta. Em primeira instância, a ação foi julgada improcedente. O juiz entendeu que o pai residia em endereço conhecido no exterior, além de não ter sido compelido a arcar com a pensão. Afirmou, ainda, que não há prova de que os avós tenham condições financeiras de auxiliar nos alimentos. O Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJES) negou provimento à apelação da neta e manteve a sentença. “Diante da ausência de comprovação da apelante de que seu genitor está impossibilitado de prestar alimentos e que os apelados poderiam arcar com o sustento, correta a sentença monocrática ao julgar improcedente a pretensão inicial”, afirmou o tribunal capixaba. No recurso para o STJ, a defesa da neta alegou que a decisão ofendeu o artigo 397 do Código Civil, pois os avós também possuem o dever de alimentar, correspondendo pela obrigação. Afirmou, ainda, que somente no curso da ação é que o endereço do pai no exterior se tornou conhecido e que a prova produzida nos autos demonstra a possibilidade, ao menos parcial, dos avós paternos. A Quarta Turma, em decisão unânime, não conheceu do recurso especial. “Alega a recorrente que o pai reside no exterior, porém essa questão, que é de fato, não foi cuidada nos autos, de sorte que não é dado ao STJ examiná-la, a teor da súmula 7”, afirmou o relator do caso, ministro Aldir Passarinho Junior. Tal verbete prevê a impossibilidade de o STJ examinar provas, em grau de recurso. Para o relator, se não houve ação prévia de alimentos contra o pai, a ação não poderia mesmo ter êxito. “Não fora isso, o acórdão utilizou-se de um segundo fundamento, igualmente extraído do contexto material dos fatos, destacando que não foi demonstrada a possibilidade de os avós arcarem o sustento da neta. Destarte, também aí incidente o óbice da aludida súmula 7 desta Corte”, completou Aldir Passarinho Junior. (BRASIL, 2010).

Em certas ocasiões, os alimentantes não honram com o compromisso periódico de pagar as prestações alimentícias ao alimentando. Ocorrendo isto, o credor poderá executá-los, nas formas como se passa expor.

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2.3 Meio executivos da pensão alimentícia

Configurada a falta de pagamento da pensão alimentícia, pode o alimentando executar o débito na forma dos artigos 732 a 735 do CPC. Em razão da importância da obrigação alimentar, o legislador pôs a disposição do alimentando quatro formas de execução do crédito alimentar, quais sejam: a) execução por quantia certa contra devedor solvente; b) desconto em folha de pagamento; c) desconto de aluguéis; d) coação pessoal.

Importante salientar, por oportuno, que a solidariedade familiar é ilimitada e vai ao extremo de exigir a venda de bens para o cumprimento da obrigação alimentar, forte no princípio constitucional da dignidade da pessoa humana. A execução por quantia certa está prevista no artigo 732 do CPC e dispõe acerca da execução contra devedor solvente.

Para ajuizar ação de execução de alimentos pelo rito do artigo 732 do CPC, é necessária a existência de título executivo judicial ou extrajudicial, sendo o devedor citado para, em três dias, pagar o débito (art. 652 do CPC). Não havendo pagamento ou indicado bens à penhora, o Oficial de Justiça irá penhorar tantos bens quantos bastem para satisfazer a dívida alimentar (art. 659 do CPC).

No entanto, quando o débito se funda em título judicial, há controvérsias quanto ao modo de execução dos alimentos, se será pelo rito do artigo 732 do CPC ou será cumprimento de sentença. Como há lacuna na Lei a respeito desse assunto, o Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul firmou o seguinte entendimento:

A Lei n.º 11.232/05, ao extinguir o processo de execução de título judicial, deixou de tratar especificamente da execução de alimentos. Em razão disso, construiu-se entendimento jurisprudencial no sentido de que é aplicável rito do cumprimento de sentença aos créditos alimentares. Isso porque os alimentos garantem a sobrevivência do alimentado, devendo, portanto, ser alcançados com a celeridade conferia pelo novo rito.

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ALIMENTOS. PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO. RITO INICIAL DO ART. 732 DO CPC. CONVERSÃO PARA O PROCEDIMENTO DO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. POSSIBILIDADE. EMBARGOS RECEBIDOS COMO IMPUGNAÇÃO. AUSÊNCIA DE GARANTIA DO JUÍZO. EXEGESE DO ART. 475-J, § 1º, DO CPC. IMPUGNAÇÃO DESACOLHIDA. DECISÃO MANTIDA. AGRAVO DESPROVIDO. (Agravo de Instrumento Nº 70037755782, Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Luiz Ari Azambuja Ramos, Julgado em 16/09/2010);

APELAÇÃO CÍVEL. EXCUÇÃO DE ALIMENTOS. PRESCRIÇÃO DA VERBA EXECUTADA. As execuções de alimentos seguem tramitando pelo rito expropriatório e coercitivo (artigos 732 e 733 do Código de Processo Civil), além de admitir o cumprimento de sentença, puro e simples, previsto nos artigos 475-J e seguintes do CPC. Não sendo instado o devedor a pagar por opção exclusiva da apelante, não houve um marco interruptivo da prescrição. Portanto, prescritas as parcelas inadimplidas entre abril de 1998 e novembro de 2000, pois em relação à execução de 2007, aplica-se o artigo 2.028, do Código Civil/2002, que define serem "os da lei anterior os prazos, quando reduzidos por este Código, e se, na data de sua entrada em vigor, já houver transcorrido mais da metade do tempo estabelecido na lei revogada". Nesse passo, de acordo com o Código Civil/1916, artigo 178, § 10, inciso I, o prazo para executar alimentos é de cinco (05) anos. APELO NÃO PROVIDO. (Apelação Cível Nº 70034140160, Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Alzir Felippe Schmitz, Julgado em 24/06/2010)

No caso, ainda que inicialmente ajuizada a execução pelo rito do art. 733 e, posteriormente, convertida para o rito do art. 732 do CPC, tratando-se de título judicial, mostra-se possível que, na hipótese de não pagamento pelo executado no prazo previsto em Lei, possa a execução prosseguir nos moldes do art. 475-J, do Código de Processo Civil, bastando, para tanto, que se preceda a readequação do procedimento.

Dita providência poderá ser adotada mediante requerimento da credora ou mesmo ser adotada de ofício, por se tratar de norma de ordem pública. (RIO GRANDE DO SUL, 2011, grifo do autor).

Ademais, é certo que a execução de alimentos exige maior celeridade processual, sendo a penhora on line, prevista no artigo 655-A do CPC, de grande importância. Eventual penhora em dinheiro, em valor suficiente para realização da prestação alimentar, pode ser levantada independentemente da prestação de caução, inclusive tendo o executado apresentado embargos ou impugnação.

Quanto a isso, importante salientar o entendimento de Luiz Guilherme Marinoni (2007, p. 389-390):

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Como o art. 732, parágrafo único, do CPC constitui uma regra específica para os alimentos, ela significa, diante da regra geral de que a impugnação e os embargos não suspendem a execução, que a eventual atribuição de efeito suspensivo (art. 475-M e art. 739-A, §1º) jamais poderá impedir o levantamento dos alimentos no caso de a penhora ter recaído sobre o dinheiro.

Na verdade, ainda que se diga que, ao se atribuir efeito suspensivo à impugnação, o exeqüente pode dar continuidade à execução prestando caução (art. 475-M, § 1º, do CPC), isto certamente não se aplica aos alimentos, estando, por isso, o exeqüente autorizado a levantar a prestação alimentícia independentemente da prestação de caução.

Os alimentos constituem crédito com função não-patrimonial, sendo imprescindíveis para a realização de uma necessidade primária e imediata. Quem necessita de alimentos não tem condições patrimoniais para prestar caução, não podendo isso constituir empecilho ao levantamento do credito. De modo que não se pode pensar que a presença dos requisitos ordinariamente suficientes para o juiz atribuir efeito suspensivo à impugnação poderão impedir o levantamento do dinheiro penhorado ou submeter tal levantamento à prestação de caução.

A execução de alimentos pelo rito da expropriação possui algumas peculiaridades. Uma delas é a possibilidade de penhorar bem de família, conforme dispõe o artigo 3º, inciso III, da Lei 8.009/90. A outra peculiaridade está prevista no artigo 649, parágrafo 2º, do CPC, o qual autoriza a penhora de soldos, salário, pensões, proventos de aposentadoria, entre outros, desde que observado o mencionado por Nelson Nery Junior (2006, p. 925):

5. Penhora de percentual de salário em execução de alimentos. Prestações pretéritas. Inaplicabilidade da LA 16 e do CPC 649 IV. Admite-se a penhora de parcela determinada do salário, como meio de expropriação em execução de parcela alimentícia, importando apenas que a constrição não afete a mantença do devedor, o que impõe sua efetivação por meio de parcelamento, cuja extensão será definida pelo juiz da execução (RJTJSP 283/276).

Além da execução por expropriação, outra medida que apresenta grande efetividade é o desconto em folha de pagamento, previsto nos artigos 734 do CPC e 16 da Lei 5.478/68, porquanto o devedor praticamente não tem como inadimplir a prestação alimentar. Ademais, constitui o meio mais rápido para conseguir o quantum devido nas hipóteses em que o alimentante é servidor público, militar, diretor ou gerente de empresa, bem como empregado sujeito à legislação trabalhista ou receba benefício previdenciário.

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Há entendimentos de que o desconto em folha de pagamento é uma obrigatoriedade, e não discricionariedade, imposta ao juiz, que deve determinar a expedição de ofício ao empregador para proceder ao desconto dos alimentos direto da folha de pagamento.

Cumpre referir, por oportuno, o entendimento do Superior Tribunal de Justiça acerca do desconto em folha de pagamento em sede de débito pretérito:

Ementa: EXECUÇÃO DE ALIMENTOS. RECURSO ESPECIAL. DÉBITO VENCIDO NO CURSO DA AÇÃO DE ALIMENTOS. VERBA QUE MANTÉM O CARÁTER ALIMENTAR. DESCONTO EM FOLHA. POSSIBILIDADE.

1. Os alimentos decorrem da solidariedade que deve haver entre os membros da família ou parentes, visando garantir a subsistência do alimentando, observadas sua necessidade e a possibilidade do alimentante. Desse modo, a obrigação alimentar tem a finalidade de preservar a vida humana, provendo-a dos meios materiais necessários à sua digna manutenção, ressaindo nítido o evidente interesse público no seu regular adimplemento.

2. Por um lado, a Súmula 309/STJ, ao orientar que "o débito alimentar que autoriza a prisão civil do alimentante é o que compreende as três prestações anteriores ao ajuizamento da execução e as que se vencerem no curso do processo", deixa límpido que os alimentos vencidos no curso da ação de alimentos ostentam também a natureza de crédito alimentar.

3. Por outro lado, os artigos 16 da Lei 5.478/1968 e 734 do Código de Processo Civil prevêem, preferencialmente, o desconto em folha para satisfação do crédito alimentar. Destarte, não havendo ressalva quanto ao tempo em que perdura o débito para a efetivação da medida, não é razoável restringir-se o alcance dos comandos normativos para conferir proteção ao devedor de alimentos. Precedente do STJ.

4. É possível, portanto, o desconto em folha de pagamento do devedor de alimentos, inclusive quanto a débito pretérito, contanto que o seja em montante razoável e que não impeça sua própria subsistência.

5. Recurso especial parcialmente provido. (BRASIL, 2011).

Procedimento semelhante ao desconto em folha é o desconto dos aluguéis previsto no artigo 17 da Lei 5.478/68, como menciona Luiz Guilherme Marinoni (2007, p. 380, grifo do autor):

A Lei de Alimentos prevê a figura do desconto em aluguéis ou quaisquer outros rendimentos do devedor (sem correspondente no

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