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Cadernos Compartilhados - Direito Econômico II - Ana-Clara-Pereira-9

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Unidade I: Aspectos Gerais

• Formas de atuação do Estado na economia:

• Técnicas de intervenção do Estado: visam à produção de riqueza e bem estar

social.

-

Propriedade industrial (lei 9.279/96): Com o intuito de incentivar a inovação, a propriedade industrial cria um espectro de proteção, um monopólio temporário;

-

Política industrial (art. 170, CF/88): muitas vezes o Estado atua na atividade industrial fornecendo subsídios e outros incentivos à empresas que, por exemplo, crescem de forma desigual em relação à suas competidoras, ou devido ao local em que estão inseridas, entre outros fatores;

-

Defesa do meio ambiente: art. 170, VI, CF/88;

-

Defesa comercial;

-

Defesa do consumidor: art. 170, V, CF/88;

• A importância da tutela da livre concorrência:

-

Consumidor: produtos de melhor qualidade/menor preço;

-

Fornecedor: liberdade para empreender sem entrave dos concorrentes;

-

Mercado: alcança maior desenvolvimento (parque industrial eficiente);

Direito Econômico

II

Faculdade de Direito da UFMG Professor: Leandro Novais e Silva

Ana Clara Pereira Oliveira 2017/1º - Diurno

(2)

-

Sociedade: descentralização das decisões econômicas

• Três momentos distintos da história da ideia de concorrência:

I. O primeiro período: disciplina da concorrência para eliminar distorções

tópicas.

II. O segundo período: a concorrência e o liberalismo econômico.

III. O terceiro período: as normas antitruste como instrumento de

implementação de políticas públicas. Unidade II: Organização Industrial • Concorrência perfeita vs. Monopólio:

(3)

Unidade III: Ordenamento Jurídico da Concorrência

• Estados Unidos:

(1) A cronologia da legislação americana:

-

Sherman Antitrust Act (1890): lei muito inflexível, sem espaços

interpretativos, inclusive com previsões de responsabilização penal.

-

Clayton Act e FTC (1936): segunda legislação que veio a flexibilizar e

esclarecer questões relativas ao Sherman Act, sendo que ambas passaram a coexistir. Tal lei passou a exemplificar figuras típicas de comportamentos que a lei considerava anticoncorrenciais.

-

Robinson Patman Act (1936): trouxe também complementações às leis

anteriores, tipificando principalmente condutas relativas à discriminação de preços.

-

Celler-Kafauver Antimercer Act (1976): tal diploma trouxe inovações no

sistema estabelecido anteriormente.

-

Hart-scott Rondino Antitrust Act: até o momento os atos de fusão e

incorporação eram analisados na legislação a posteriori. Porém com o advento dessa lei a análise passou a ser anterior, evitando agravamento dos eventuais problemas relativos à esses processos.

(2) Períodos na aplicação da legislação:

-

1890/1914: período de descobertas acerca do alcance jurisprudencial e da

finalidade da lei;

-

1915/1939: afirmação da regra da razão, a qual se comportaria como uma

válvula interpretativa à aplicação da lei. A regra da razão era uma espécie de regra de proporcionalidade, utilizada para ampliar o processo de contestação dos réus e a exigência de indícios comprobatórios mais robustos;

-

1940/1973: preocupação com a regra per se, gerando punição mais

automática, sem a necessidade de acervo probatório profundo. Um exemplo clássico é o caso dos cartéis, para os quais dificilmente há justificativa plausível para a criação de um cartel, não sendo necessário acervo probatório tão amplo.

-

1974/dias atuais: análise econômica.

(3) Regras de Análise Antitruste: regra da razão vs. regra per se. No caso da

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esforços, maior número de pessoas envolvidas e, consequentemente, exige mais recursos públicos. Ademais, amplia o espaço de defesa do réu. No segundo método percebe-se que, ao mero indicativo de prática anticoncorrencial, já é possível tomar providências para a condenação. Com efeito, o campo de contestação existe, apesar de ser mais limitado do que na regra da razão.

(4) Principais escolas norte-americanas: Harvard e Chicago. Em linhas gerais,

entende-se que a primeira se aproxima mais de uma aplicação per se, enquanto a segunda potencializa a regra da razão, fornecendo mecanismos interpretativos. Harvard defende o modelo de estrutura, conduta e performance, que será traçado a seguir.

(5)

• Brasil:

-

Constituições Brasileiras:

a. Liberal (1824/1891): tais constituições não traziam capítulos acerca do

papel do Estado na ordem econômica, trazendo apenas dispositivos pontuais e espalhados.

b. Intervencionista (1934/1937/1946): a CF/34 já traz mudanças no que

diz respeito à intervenção do estado na ordem econômica, que foram se aprimorando nas constituições seguintes. Inclusive, a CF/46 já trazia um capítulo acerca da ordem econômica e o papel do Estado, bem como a exigência de lei infraconstitucional para cuidar da proteção à concorrência.

c. Intervencionista e participante do mercado (1967/1969)

d. Intervencionista e papel de agente normativo e regulador (1988):

prevê desenho constitucional do estado como agente criador de normas e também regulador.

-

Legislações:

a. Decreto-lei 869/38: defesa da concorrência com foco na proteção do

consumidor, sob a égide de crimes contra a economia popular, dando tratamento criminal à questão. Revogado pela CF/46.

b. Decreto-lei 7.666/45: tratamento administrativo à defesa da

concorrência. Em 1945 houve também a criação do CADE, porém ainda sem independência financeira e institucional. Não obstante, teve duração efêmera, haja vista sua revogação pela CF/46.

c. Lei 1.521/51: reforça o tratamento criminal trazendo elementos típicos

às ações anticoncorrenciais, com foco na proteção à economia popular.

d. Lei 4.137/62: tratamento administrativo. e. Lei 8137/90: retorno do tratamento criminal.

f. Lei 8.884/94: estrutura de combate à inflação, sob tratamento

administrativo e com foco nos agentes econômicos, não tão voltado à defesa do consumidor, pois na época já estava em vigor o CDC. Ademais, transformou o CADE em autarquia e deu a ele independência funcional e econômica. Em 2011 nova lei entrou em vigor, a lei 12.524, que é a atual lei de defesa da concorrência e será estudada no semestre.

(6)

• Intervenção do Estado no Domínio Econômico:

Unidade IV: Execução da Lei da Concorrência

• Princípios norteadores:

(a) Princípio da liberdade de comércio: se baseia na liberdade de iniciativa e

no direito de propriedade individual. Por óbvio, esse princípio não exclui a necessidade de intervenção do Estado, mas deverá este exercer regulações proporcionais à atividade visando a resguardar a independência de cada participante do mercado.

(b) Princípio da liberdade contratual: nasce sob o pressuposto ideológico da

autonomia da vontade. Nesse âmbito, defende-se a possibilidade do sujeito contratualizar seu negócio, como competidor no mercado. Porém, essa liberdade precisa ser limitada pelas leis de proteção da concorrência quando se tornar prejudicial a outros fornecedores em sua atuação;

(c) Princípio da igualdade: obrigatoriedade de respeito à igualdade de direito

entre todos os integrantes do mercado, independente de seu tamanho estrutural. Um exemplo de ação que fere esse princípio é o da cláusula de

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exclusividade imposta pela UNIMED aos médicos conveniados, que foi considerada anticoncorrencial pelo CADE, justamente por estabelecer desigualdade em desfavor dos conveniados.

(d) Princípio da não-discriminação: se constrói a partir dos três conteúdos

abaixo.

d.1) Aplicar um tratamento desigual a pessoas que se encontrem numa situação comparável;

d.2) Aplicar a pessoas que se encontrem em situações diferentes um tratamento desigual que não é justificável;

d.3) Aplicar um tratamento igual a pessoas que não se encontrem em situações comparáveis.

(e) Princípio da transparência do mercado: para que o mercado funcione bem

em regime de concorrência, deve se basear no princípio da lealdade por meio de atitudes "reveladoras de intenções". Para tanto, fixa-se a regra da publicidade obrigatória de preços condições de venda. Isso possibilita que os concorrentes tenham conhecimento exato dos preços definidos por seus concorrentes, por exemplo.

(f) Princípio da análise econômica/regra da razão: esse direcionamento

metodológico foi promovido principalmente pelas Universidades norte-americanas de Chicago e Yale. Segundo ele, as normas antitruste não podem ser aplicadas em abstrato, exigindo-se uma análise do caso concreto que considere parâmetros estabelecidos pela economia, devendo ser promovida a chamada "análise econômica do direito". Tal análise deve considerar o balanço econômico de custo e benefício e eficiência econômica, porém sem perder de vista o princípio da equidade, que está atrelado às noções de justiça distributiva;

(g) Princípio da eficiência: alocação de recursos em que se maximiza o valor

produzido. A eficiência é, portanto, inerente à toda atividade econômica e pode ser alocativa, produtiva, distributiva ou dinâmica. A eficiência alocativa é alcançada pela conjugação da produção e da troca e o adequado posicionamento dos recursos na economia. A economia produtiva, por sua vez, se refere ao uso efetivo dos recursos, aumentando a produtividade. Por fim, a eficiência dinâmica se adequa melhor à situação econômica de fato, em contraposição às duas outras noções, que são estáticas. Tal perspectiva,

(8)

dessa forma, adiciona elementos da realidade à análise, como limitações de informações e limitações de fato. O princípio da eficiência é disposto pela Lei do CADE (Lei 12.529/11) nos artigos 36, §1º e 88, §6º da Lei 1 2 12.529/11.

• Objetivos da política de concorrência:

(a) Bem-estar geral (excedente total): principal objetivo;

(b) Bem-estar do consumidor (excedente do consumidor): objetivo reflexo; (c) Defesa das pequenas empresas: objetivo reflexo;

(d) Promoção da integração do mercado: objetivo reflexo;

(e) Combate à inflação/razões sociais/ambientais/políticas: objetivo reflexo. • Organização do CADE: na vigência da lei 8.884/94 o órgão era criticado pela

sua falta de agilidade na resolução dos casos, o que influía consideravelmente em sua atuação. Essa baixa eficiência era atribuída à organização funcional do CADE, que se dividia entre secretarias e departamentos ligados ao Ministério da Fazenda e ao Ministério da Justiça, cindindo sua atuação e gerando demora na atuação. Após a lei 12.529/11, o CADE passou a ter três órgãos funcionais (art. 5º da lei 12.529/11 ), a superintendência geral, o tribunal administrativo e o 3 departamento de estudos econômicos, promovendo substancial melhora na atuação do CADE em nível nacional, já que todas as competências foram trazidas para dentro da própria autarquia.

Unidade IV.2. Análise antitruste

• Mercado relevante: quais são os produtos tratados no caso concreto para

discutir concorrência. Para definição do mercado relevante, são usados critérios que podem ser material, geográfico ou temporal.

a) Material: o critério material define quais os produtos estão em

concorrência, sendo que um substitui o outro na escala de consumo, ou seja, há a possibilidade de migração do consumidor de um produto para outro, no caso de aumento do preço. Assim, a ideia é que quanto mais produtos

Lei 12.529/11: Art. 36 (...) § 1o A conquista de mercado resultante de processo natural fundado na maior eficiência de agente 1

econômico em relação a seus competidores não caracteriza o ilícito previsto no inciso II do caput deste artigo.

Lei 12.529/11: Art. 88 (...) § 6o Os atos a que se refere o § 5o deste artigo poderão ser autorizados, desde que sejam observados 2

os limites estritamente necessários para atingir os seguintes objetivos: I - cumulada ou alternativamente: a) aumentar a produtividade ou a competitividade; (...)

Lei 12.529/11: Art. 5º O Cade é constituído pelos seguintes órgãos: I - Tribunal Administrativo de Defesa Econômica; II - 3

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singulares, maior poder de mercado da empresa e quanto mais produtos substituíveis, menor poder de mercado.

b) Geográfico: existem mercados locais, regionais, nacionais e internacionais.

Destaca-se, nesse ponto, a importância da internet, que amplia os espaços econômicos. A ideia é que quanto maior o mercado relevante geográfico, menor o poder de mercado.

c) Temporal: determinados produtos não são produzidos o ano todo,

principalmente no que se refere aos produtos agrícolas. Assim, o mercado relevante pode oscilar do ponto de vista temporal. É o critério menos relevante dos três, por abarcar reduzido número de produtos, considerando todos os disponíveis no mercado.

• Poder de mercado: capacidade de uma empresa (individualmente ou de forma

coordenada com outras) atuar no mercado impondo condições, principalmente de preço, sem ser constrangida. Esse poder poder ser exercido de forma abusiva, ensejando a atuação dos núcleos de regulação da concorrência. Uma empresa em

posição dominante é aquela que domina determinado percentual do mercado

significativo, podendo atuar sozinha no mercado. Segundo o art. 36, §2º da Lei 12.529/11 , o percentual que define a posição dominante é de 20% do mercado 4 consumidor. Isso não quer dizer que a empresa será punida, mas haverá investigação.

-

Responsabilidade objetiva do art. 36 (caput) da lei 12.529/11: não

interessam as intenções da empresa, mas apenas o resultado ou efeito do ato de concentração. Assim, caracteriza-se a licitude pelos efeitos.

-

Incisos do artigo 36 da lei 12.529/11: as condutas anticompetitivas devem

incidir nos incisos do artigo 36 (efeitos), bem como nas figuras típicas (art. 5 36, §3º da Lei do CADE).

• Testes:

-

C4: analisar as quatro principais empresas do setor e verificar qual é o nível de

participação das 4. Por exemplo, o C4 domina 90% do mercado. Se elas

Lei 12.529/11: Art. 36. (...) § 2o Presume-se posição dominante sempre que uma empresa ou grupo de empresas for capaz de 4

alterar unilateral ou coordenadamente as condições de mercado ou quando controlar 20% (vinte por cento) ou mais do mercado relevante, podendo este percentual ser alterado pelo Cade para setores específicos da economia

Lei 12.529/11: Art. 36. Constituem infração da ordem econômica, independentemente de culpa, os atos sob qualquer forma 5

manifestados, que tenham por objeto ou possam produzir os seguintes efeitos, ainda que não sejam alcançados: I - limitar, falsear ou de qualquer forma prejudicar a livre concorrência ou a livre iniciativa; II - dominar mercado relevante de bens ou serviços; III - aumentar arbitrariamente os lucros; e IV - exercer de forma abusiva posição dominante. (...)

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ocupam grande maioria do mercado, há grande concentração e uma eventual fusão poderá sofrer interferência do CADE.

-

HHI: analisam-se todas as empresas do mercado e eleva-se sua participação

ao quadrado. A soma desses valores irá resultar em determinado índice, que poderá ser de (a) baixa concentração: 1500 pontos; (b) moderada concentração: 1500/2500 pontos e (c) elevada concentração: 2500 pontos.

-

Exemplo: mercado com 5 empresas. A detém 20%, B detém 20%, C detém

20%, D detém 20% e E detém 40%. Assim, considerando que = 400 e equivale a 1600, 400 + 400 + 400 + 400 + 1600 = 2800, o que caracteriza alta concentração.

• Possibilidade do exercício do poder de mercado:

-

Importações: devem ser levados vários aspectos em consideração, como o

custo de transporte, a barreira alfandegária, a incidência de impostos, o tempo gasto para entrada da mercadoria no país e, principalmente, a taxa cambial, que influi fortemente no preço praticado. Dessa relação concluiu-se que quanto mais relações comerciais o país tem e quanto mais acordos comerciais ela firma, maior seu mercado, impactando internamente sua economia. O Brasil, segundo o professor, é relativamente fechado.

-

Rivalidade: análise de qual será a reação das rivais em relação à uma fusão ou

aumento de preços e/ou produção da outra rival. Considera-se, nesse ponto, a chamada capacidade ociosa das rivais, que é a capacidade de maior produção ou financiamentos que vão possibilitar ou impossibilitar a sua reação. Quanto maior a rivalidade, menor a possibilidade da empresa exercer o poder de mercado, e vice-versa.

-

Barreiras à entrada: se refere aos agentes que estão fora do mercado,

diferente da rivalidade, que trata das empresas que estão dentro do mercado. Nesse âmbito, construiu-se a chamada teoria dos mercados contestáveis. Essa noção compreende o fato de que os agentes que estão fora do mercado podem conseguir entrar rapidamente no mercado financeiro constrangindo a empresa principal, que terá dificuldade de exercer o poder de mercado. Atenção ao fato de que a mera ameaça de entrada desses agentes já poderá gerar constrangimento à empresa dominante, que não poderá aumentar demais o preço ou então abrirá "brecha" para entrada dessas empresas externas, por exemplo. Porém, essa teoria não considera questões como os

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custos irrecuperáveis de gastos com publicidade ou custos de viabilidade de entrada. Por isso, o CADE, quando analisa esse ponto, o faz sob dois aspectos, os quais sejam: (a) tempestividade da entrada: é o prazo para entrada da nova empresa, sendo que o CADE estabelece como aceitável o prazo de dois anos para essa entrada. Nesse ponto, devem ser analisados os custos de entrada bem como o histórico de entradas no mercado em análise; (b) probabilidade e suficiência da entrada: a empresa deverá entrar no mercado com competitividade para, de fato, constranger a empresa dominante.

• Eficiência: para fazer com que o ato de concentração seja aprovado, a empresa

deverá tentar demonstrar, do ponto de vista da eficiência, que irá gerar mais benefícios que malefícios ao setor em questão, conforme os tópicos seguintes:

-

Economias de escala/escopo;

-

Introdução de uma tecnologia mais produtiva;

-

Apropriação de externalidades positivas: apropriação, por exemplo, de um

mercado consumidor que antes não se tinha acesso;

-

Eliminação de externalidades positivas: um exemplo, eliminar a poluição

gerada;

-

Poder de mercado compensatório.

Unidade V. Pontos da Lei 12.529/11:

• Procedimentos administrativos no âmbito do CADE (art. 48):

I. Procedimento preparatório de inquérito administrativo (art. 66/68):

análise se o caso é de competência do CADE, quando há dúvidas a esse respeito (para condutas anticompetitivas);

II. Inquérito administrativo para apuração de infrações (art. 66/68):

obtenção de informações, instrução do caso para que vire processo (para condutas anticompetitivas);

III. Processo administrativo para imposição de sanções (art. 69/83): nível de

instrução que enseja abertura do PA, sendo enviado o caso para o tribunal (para condutas anticompetitivas - art. 36).

IV. Processo administrativo para análise de atos de concentração (art. 53/65): deverão ser apresentados os documentos referentes à concentração

(12)

V. Procedimento administrativo para apuração de atos de concentração p (art. 53/65): caso a empresa não apresente os documentos (art. 88), ela

poderá ser apenada, e haverá abertura do PA;

VI. Processo administrativo para imposição de sanções incidentais

• Infrator (art. 31 da Lei do CADE): qualquer pessoa jurídica de direito privado 6

e direito público, inclusive empresas que trabalham em regime de monopólio. Poderá haver punição solidária (art. 32 da Lei do CADE) do administrador da 7 empresa, bem como do grupo econômico (art. 33 da Lei do CADE) justamente 8 para facilitar o recebimento de multas.

• Desconsideração da personalidade jurídica (art. 34 da Lei do CADE): 9

também para facilitar o recebimento dos valores devidos, há previsão da desconsideração da personalidade da pessoa jurídica utilizando a aplicação da "teoria maior" (estudar).

• Territorialidade da Lei (art. 2º da Lei do CADE): 10

a. Territorialidade: os atos aconteceram no Brasil? A lei tem filial ou está

estabelecida no Brasil?

b. Efeitos: mesmo que o ato tenha se iniciado fora do país, mas gerem efeitos

no Brasil, é possível que o CADE exerça sua jurisdição, de duas formas. A primeira ocorrerá se a empresa tiver filial no Brasil, estando sujeita essa filial às punições determinadas. A segunda forma é a união de esforços (acordos internacionais de cooperação) das várias agências antitruste no mundo.

Lei 12.529/11: Art. 31. Esta Lei aplica-se às pessoas físicas ou jurídicas de direito público ou privado, bem como a quaisquer 6

associações de entidades ou pessoas, constituídas de fato ou de direito, ainda que temporariamente, com ou sem personalidade jurídica, mesmo que exerçam atividade sob regime de monopólio legal.

Lei 12.529/11: Art. 32. As diversas formas de infração da ordem econômica implicam a responsabilidade da empresa e a 7

responsabilidade individual de seus dirigentes ou administradores, solidariamente.

Lei 12.529/11: Art. 33. Serão solidariamente responsáveis as empresas ou entidades integrantes de grupo econômico, de fato ou 8

de direito, quando pelo menos uma delas praticar infração à ordem econômica.

Lei 12.529/11: Art. 34. A personalidade jurídica do responsável por infração da ordem econômica poderá ser desconsiderada 9

quando houver da parte deste abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social. Parágrafo único. A desconsideração também será efetivada quando houver falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provocados por má administração.

Lei 12.529/11: Art. 2º Aplica-se esta Lei, sem prejuízo de convenções e tratados de que seja signatário o Brasil, às práticas 10

cometidas no todo ou em parte no território nacional ou que nele produzam ou possam produzir efeitos. § 1o Reputa-se domiciliada no território nacional a empresa estrangeira que opere ou tenha no Brasil filial, agência, sucursal, escritório, estabelecimento, agente ou representante. § 2o A empresa estrangeira será notificada e intimada de todos os atos processuais previstos nesta Lei, independentemente de procuração ou de disposição contratual ou estatutária, na pessoa do agente ou representante ou pessoa responsável por sua filial, agência, sucursal, estabelecimento ou escritório instalado no Brasil.

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Unidade VI. Casos para a primeira prova:

• Caso Correios:

-

Envolvidos:

a. Representante: Sindicato das Empresas de Transporte de Carga de SP e

Região. Ofereceu denúncia à CADE contra os Correios, pois eles estariam promovendo condutas anticoncorrenciais.

b. Representada: Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, empresa

pública prestadora de serviço público (art. 21, X da CF/88 - monopólio). Em 2003, houve o julgamento da ADPF 46, porém, permaneceu a indefinição sobre o termo "carta". Tendo isso em vista, os Correios passaram a promover ações contra outros agentes que, sem sua visão, vinham usurpando seu monopólio.

-

Análise antitruste:

(1) Definição do mercado relevante:

a. Dimensão Geográfica: Mercado Nacional

→ Zona do monopólio legal; → Competição aberta;

→ ECT ausente (cartas pesadas).

(2) Poder de mercado: 30% a 70% do mercado a. Extensão da rede/capilarizada;

b. Economias de Escala/escopo/subsídios cruzados;

c. Privilégios da ECT (monopólio e privilégios processuais); d. Maior empregadora do país.

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a. Abuso de direito de petição com finalidades anticoncorrenciais: os

correios inundaram o poder judiciário com ações contra supostos concorrentes na área de competição do mercado. Investigação acerca dos objetivos dos correios a ajuizar tais ações - estariam os Correios apenas exercendo seu direito de petição ou o intuito seria aumentar o custo de entrada das empresas de menor porte no mercado e atingir os concorrentes? - porém, diante da dificuldade do CADE para identificar se havia abuso de direito, foram feitos dos testes, os quais sejam: (a) Teste PRE, que analisava base objetiva, verificando se havia grande número de ações com falta de condições da ação. Com esse teste, o CADE descobriu que, de fato, havia várias ações sem condições para serem promovidas; (b) Teste POSCO, o qual analisava à base subjetiva, verificando as taxas de vitórias das ações. Verificou-se que, no caso das contas de luz e água, a taxa de insucesso era de 85% e nos casos de cobranças tributárias, 77%. Tais resultados evidenciaram para o CADE que havia material suficiente para abrir o processo administrativo para analisar as condutas dos Correios e verificar se seriam ou não anticoncorrenciais.

b. Restrição pura à concorrência (Naked Restraint): nos casos de cartões

magnéticos e talões de cheque, os quais exigem maior nível de segurança, os Correios assumiram o serviço mas não da forma como os bancos desejavam, pois a entrega não era feita na casa do indivíduo, mas o cartão ficava disponível na agência mais próxima. Nesses casos, bem como em serviços de motofrete, percebe-se que a ECT não prestava o serviço, mas ainda sim movia as ações judiciais (venire contra factum

proprio). Tais ações não teriam racionalidade econômica e trariam

malefícios principalmente aos consumidores, tornando a chance de argumentação dos Correios bastante reduzida.

c. Tratamento discriminatório anticoncorrencial: a ECT pratica

tratamento discriminatório com relação aos diferentes clientes. Para empresas de logística, por exemplo, que também fazem transporte de encomendas mas ainda sim precisam de alguns serviços do Correios, os preços praticados são mais elevados, aumentando seu custo de atuação no mercado, enquanto para empresas que não fazem entregas por si só,

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os preços são mais interessantes justamente para competirem com as empresas de logística.

Unidade VI. Controle de Estruturas

• Razões para a concentração:

A) Arrefecimento da concorrência entre os agentes econômicos;

B) Viabilizar economias de escala e de escopo e o melhor aproveitamento dos

recursos;

C) Não visa o controle, mas pessoal pessoal especializado, patentes e PI. D) Viabilizar a entrada do agente comprador em um novo mercado; E) Preservar a continuação das atividades;

F) Economias tributárias.

• Análise do artigo 88, Lei do CADE:

-

Portaria interministerial MF 994/2012: alterou os incisos I e II do artigo,

aumentando o valor mínimo de faturamento para provocar investigação.

Assim, haverá investigação se a primeira empresa envolvida no ato fatura no mínimo 750 milhões, e quanto a empresa a ser fundida deverá ter o mínimo de faturamento de 75 milhões.

-

Análise prévia: segundo os §§ 2º e 3º do artigo 88, os atos não poderão ser

consumados antes da análise do caso, se isso ocorrer, a empresa poderá ser punida duas vezes, pelo ato de concentração bem como pela consumação. Dessa forma, se estabelece condição suspensiva, congelando o ato de concentração (§4º). Porém, há exceção do art. 59, §1º, em que se permite condição resolutivo tácita se for necessária a consumação de algum dos atos de concentração, analisado o caso concreto, desde que se possibilite a reversibilidade da operação.

-

Prazo máximo de análise: 240 dias, sujeitos à prorrogação de 60 dias (parte)

ou 90 dias (tribunal).

• Atos submetidos ao controle de estruturas (art. 90): concentrações horizontais,

verticais e conglomerados (definição no art. 220 da Lei 6.404/76).

• Procedimento do controle de estruturas: artigos 53 a 64. • Formas de controle: estrutural ou comportamental.

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Unidade VII. Análise de atos de concentração horizontal

• Fluxograma: ver manual do CADE. • Consumação prévia:

-

Atividades que podem caracterizar a consumação:

(A) Troca de informações:

A.1) Custos das empresas evoluídas; A.2) Nível de capacidade;

A.3) Estratégias de marketing; A.4) Precificação dos produtos;

A. 5) Informação não-publica sobre marcas e patentes. (B) Cláusulas contratuais problemáticas:

B.1) Cláusula de não-concorrência prévia; B.2) Cláusula de pagamento antecipado; B.3) Cláusula que permite a ingerência direta. (C) Atividades das partes

C.1) Integração da força de vendas; C.2) Exercício de direito de voto; C.3) Interrupção das atividades.

-

Procedimentos para diminuição do risco de consumação:

(A) Protocolo antitruste;

(B) Clean team/comitê executivo; (C) Acesso à informação/tratamento; (D) Confidencialidade;

(E) Parlor room.

-

Possíveis punições:

(A) Aplicação de pena pecuniária;

(B) Interrupção de processo administrativo; (C) Nulidade dos atos praticados.

-

Pontos específicos do novo guia CADE:

(A) Análise clássica vs. análise alternativa; (B) Mercado relevante dinâmico;

(C) Poder de portfólio; (D)Mercado de dois lados;

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Unidade VIII. Caso de concentrações no mercado da aviação civil:

• Regulação/concorrência do setor (EUA):

-

Regras para a entrada: inicialmente a cada rota era atribuída uma empresa,

fenômeno que teve início nos EUA, desde o início da indústria até meados dos anos 70. Com o tempo as regras de entrada foram sendo abolidas, de maneira que se a empresa desejasse operar nova rota, deveria fazer pedido em particular aos aeroportos, pois não havia mais entidade reguladora. Assim, se houvesse espaço estrutural, a empresa poderia entrar naquele aeroporto.

-

Preços das passagens: inicialmente, o Estado definia a precificação, de acordo

com as rotas. Posteriormente, as empresas puderam estruturar seus preços, sendo que, inicialmente, o valor da passagem foi bastante alto, mas com a entrada de novas empresas, abaixou.

-

Programa de fidelidade: cativar o consumidor para que ele voe com a

empresa, independente do preço. Essa foi uma das estratégias das empresas para competirem no mercado e a pioneira nesse aspecto foi a American Airlines.

-

Revolução do sistema hub-and-spoke (centro-raio): rotas origem-destino

demonstraram não serem muito eficientes. Então as empresas passaram a escolher aeroportos (hub) para concentrar suas aeronaves e depois pulverizar os voos e passageiros para outras cidades. Assim, quem domina aeroportos centrais, tem poder de mercado naquela área. Isso fez com que os trechos de voo e o número de passageiros crescessem de forma exponencial. Outros problemas surgiram desse sistema, como extravio de bagagem e perda de conexões, bem como aumento do tempo de voo;

-

As empresas de baixo custo: criadas nos anos 80/90 oferecendo serviços de

bordo mais simples. O trade-off caberá ao consumidor, que poderá escolher uma passagem mais barata com serviço de bordo mais simples ou serviços de bordo sofisticados com passagens mais caras.

• Pontos importantes do mercado brasileiro:

-

100 milhões de passageiros transportados;

-

Receita doméstica de elevação, incialmente. Nos anos atuais, porém, percebe-se redução, percebe-sendo que o mercado foi fortemente atingido pela cripercebe-se econômica brasileira;

-

Preços médios em declínio, devido ao ambiente competitivo e a diminuição da regulação do setor;

(18)

-

Falência da Varig, Vasp e TransBrasil, as empresas tradicionais da aviação brasileira. Inicialmente, no período da regulação, o sistema brasileiro se estruturava por empresas tronco, ou nacionais, que faziam o transporte entre Estados, enquanto empresas menores faziam os trajetos entre cidades menores, normalmente dentro do próprio Estado. Com o fim da regulação estatal, essas empresas não conseguiram se adaptar à concorrência e o surgimento de novas empresas de baixo custo, como a Gol (2001) e a Azul (2008).

• Casos internacionais: o fenômeno que ocorreu no Brasil, de falência das grandes

empresas ou de fusão entre estas e as empresas de menor custo, também ocorreu na Europa e nos Estados Unidos, como nos casos abaixo listados:

a. KLM - Air France; b. Iberia - BA;

c. United - Continental; d. AA - US Airways; e. Delta - Northwest.

• Definição do mercado relevante: a definição do mercado é feita pela análise

origem-destino (cada trecho que conecta duas cidades). Assim, se apenas uma empresa opera determinado trecho, considera-se que ela tem monopólio daquele trecho e quem detém acesso à infraestrutura do aeroporto com maior intensidade, nos horários de pico de voo, detém poder de mercado em determinada origem-destino. Concluiu-se que a entrada no mercado é difícil, dada a necessidade de autorizações e certificações, mas estabelecer rivalidade seria mais fácil.

• Casos Brasileiros:

(1) Caso 1: TAM - Pantanal, 2010:

-

Inexistência de sobreposição horizontal de rotas: enquanto a TAM era

empresa nacional, de grande atuação, a Pantanal era de menor porte, atuando principalmente no norte do país. Assim, o que ocorreu foi uma complementação de rotas, sendo a Pantanal um braço regional da TAM;

-

Recente distribuição de rotas e possibilidade de rivalidade com a Gol:

apesar da TAM adquirir algumas rotas com a concentração, recentemente havia ocorrido distribuição de rotas para a Gol, que ofereceria concorrência à TAM, em grande medida;

(19)

-

Recuperação judicial da Pantanal: não havia outra solução de mercado, a não

ser a fusão.

-

Não houve intervenção do CADE e a fusão foi permitida.

(2) Caso 2: Lan - TAM, 2011:

-

Sobreposições: empresas nacionalidades diferentes, não gerando sobreposição

de rotas no Brasil. Porém, na América Latina, foram identificadas sobreposições entre os trechos Paulo - Santiago, São Paulo - Buenos Aires e São Paulo - Lima.

-

Permuta de 2 slots (horário de voo + estrutura de aeroporto): houve

permuta dos slots no trecho de SP - Santiago - SP com outra empresa. Essa foi a decisão do CADE, de caráter misto, estrutural e comportamental. Ressalta-se que quem coordena os slots é o governo por meio das agências reguladoras (ANAC), e os slots não podem ser vendidos.

(3) Caso 3: Gol - WebJet, 2012:

-

Modelos de negócios similares: baixo custo e menor preço;

-

Intensa sobreposição de rotas: de 100 rotas, 27 slots eram preocupantes. O

mais preocupante era o Santos Dumont no RJ. Foi imposto à Gol querela deveria aproveitar em 85% esse slot, e, se ela não conseguisse, haveria retorno do slot (TCD).

-

Entrada de empresas no mercado: para competir, a nova empresa deveria ter

30 aeronaves com 100 assentos, um investimento de 600 milhões. Isso tornava a entrada praticamente impossível.

(4) Caso 4: Azul - Trip, 2013:

-

Consolidação no mercado nacional e desenvolvimento nacional (Trip);

-

Acordo de code-share entre TAM e Trip: extinção por decisão do CADE;

-

TCD em Santos Dumont: novamente, assim como no caso 3, foi imposto à

Azul aproveitamento de 85% para os slots, ou sua devolução. Unidade IX. Caso Sadia-Perdigão (BRFoods):

• Ato de concentração 08012.004423/2009-18: durou até junho de 2011. • Mercado de alimentos refrigerados:

-

50% - 80% de market share (alimentos processados).

• Características:

(20)

-

Jusante: extensa e capilarizada rede de distribuição;

-

Entrada: cadeia integrada;

-

Rivalidade: inexistência de capacidade ociosa;

-

Sadia: 300 mil pontos de venda/Contrato

• Voto do Conselheiro-Relator:

-

Dos mercados relevantes/participações de mercado:

➢ Mercado de carne "in natura" de Peru (80%); ➢ Mercado de Margarina (80%);

➢ Mercado de Processados (50%-80%).

➢ Poder de mercado: integração, distribuição, pontos de venda, economias de escala/escopo, poder de portfólio e marcas.

-

Aprovada, com restrições: alienação de uma marca "Premium". Porém, feita

análise dessa restrição, verificou-se que os custos seriam tão altos, que o melhor seria a reprovação.

-

Reprovação, com concessões: pelos custos da restrição, o melhor seria a

reprovação total.

• Voto do Conselheiro-Revisor:

-

Primeira proposta de "TCD": insuficiente;

-

Novo TCD:

➢ Criação - abate - processamento - distribuição - marcas;

➢ Recriar o "duopólio virtuoso": apesar da ausência de fragmentação, havia um nível de competição entre as empresas, que controlavam os preços uma da outra;

➢ "A nova empresa deveria possuir uma capacidade produtiva de processados ao menos equivalente à menor participação das requerentes nos mercados considerados" - criação de uma vice-líder de mercado.

(21)

Unidade XVIII. Caso Itaú-Unibanco e Mastercard:

• Requerentes: Itaú/Unibanco e Mastercard Brasil Solução de Pagamento LTDA; • Ato de concentração: n° 08700.009363/2015-10

• Esquema: mercado de cartões de pagamento (quatro partes), conforme esquema

abaixo.

• Histórico recente do mercado de meios de pagamento:

-

Ausência de neutralidade do prestador de serviço;

-

Ausência de interoperabilidade;

-

Exclusividade contratual.

• Estrutura do mercado - concentração e verticalização:

• Problemas concorrenciais:

-

Tombamento da base de clientes: migração de clientes Mastercard para nova

bandeira;

(22)

-

Interação vertical:

(1) Mercado de emissão:

➢ Fechamento à Juzante: nova bandeira em relação à outros bancos emissoras;

➢ Fechamento à Montante: Itaú/Unibanco em relação à outras bandeiras.

(2) Mercado de credenciamento:

➢ Fechamento à Juzante: a nova bandeira discriminar outros credenciadores;

➢ Fechamento à Montante: deixar de credenciar outros cartões. Unidade XIX. O Cartel (Controle de condutas):

• Introdução: geralmente, nos cartéis, há redução de produtos produzidos e o

aumento do preço em um intervalo de 20% a 30%, em comparação a uma situação de concorrência plena. O cartel pode ser de qualquer caráter do negócio, relativo desde à produção até a região da venda, sempre impactando preço. Segundo o professor, o cartel emula atos de concentração, pois apesar das empresas permanecerem separaras do ponto de vista empresarial, elas agem como se uma do empresa fossem. Na formação do cartel há um trade off entre os custos de se manter no mercado em meio à concorrência e os custos da entrada em um cartel, levando em consideração a possibilidade de eventual punição.

(a) Cartéis Clássicos: na literatura econômica são chamadas de cartéis hard

core. Os clássicos são cartéis organizados e relativamente estáveis, dotados de uma central de negociação que promova a troca de informações e combinações entre as empresas. Usualmente, eles têm estrutura de vigilância e punição para aqueles que não cumprirem o acordo feito. Estes punem a sociedade de forma mais intensa. Nesse caso, há colusão explícita.

(b) Cartéis Difusos: cartel conjuntural, momentâneo. Exemplo é o caso em que

as empresas de certo setor sofrem com um choque cambial, sendo obrigadas a aumentar os preços. Porém, ao invés de cada uma aumentar os preços ao seu momento é proporção, é feita combinação para aumentarem todas ao mesmo tempo. Nessa hipótese, muitas vezes, a colusão é tácita, gerada por um elemento que motiva a ação da empresa em razão da ação das outras, não havendo elemento de "encontro". Nesses casos, não deve haver punição.

(23)

• Cenário favorável à formação do cartel:

(a) Existência de poucas empresas: maior facilidade em combinar preços e

atender a todos os interesses envolvidos;

(b) Semelhanças de custo e processos de produção: facilita a compatibilidade,

que possibilita a combinação de preços;

(c) Produto relevante homogêneo: quanto mais parecidos os produtos, mais

fácil é formar o cartel, pois custos e eficiências acabam se equivalendo ou pelo menos se aproximando. Exemplos de produtos homogêneos e de difícil substituição seriam aço, brita, areia;

(d) Ausência de substitutivos: ver item C;

(e) Elevadas barreiras à entrada: quanto mais difícil a entrada, mais difícil um

agente externo reagir ao aumento de preço. Se o agente externo conseguisse entrar mais facilmente, ofereceria competição ao cartel, que praticaria preços mais altos, o que culminaria em sua desestabilização;

(f) Estabilidade de participação no mercado;

(g) Facilidade de obter informações: pode favorecer o cartel, pois se as

empresas entendem o comportamento uma das outras, há maior probabilidade de avaliação dos custos do trade off, o que pode influenciar em eventual combinação.

(h) Existência de sindicato: os sindicatos podem favorecem e facilitar a criação

de cartéis;

(i) Baixa elasticidade de demanda: se o produto é homogêneo e não tem

substitutos, sendo o preço elevado, mesmo assim os indivíduos continuarão, em grande maioria, a consumir, a despeito dos preços;

(j) Mercados em detração: quando os mercados estão em crescimento, há

estímulo à ações mais ousadas das empresas e uma menor tendência à combinar preços. Muitas vezes, em momentos conjunturais de crise do mercado as empresas tendem a se unir para "sobreviver" à crise, para depois continuarem separadamente, formando os chamados "cartéis de crise".

• Diferença de casos lícitos de cartel:

(a) Liderança de preços: quando há empresa líder no mercado que aumenta

preços de forma unilateral, as outras empresas menores, com mais baixa capacidade de produção, tendem a aumentar os preços, pois de houver

(24)

desvio de demanda, ela não conseguirá se manter. Assim, demonstra-se como racional essa atitude.

(b) Paralelismo consciente: diante de fator externo (ex.: empresa líder

aumentando os preços) as empresas tendem a se comportar da mesma forma, aumentando também os preços, como dito no ponto (a), sem que haja combinação efetiva. Esse caso não merece punição pelo CADE.

(c) Paralelismo consciente "plus": o "plus", no caso, seria justamente a

combinação entre as empresas, mesmo havendo influência de fator externo. Nessa hipótese, há ilicitude e o CADE poderá exercer punição.

• Cartéis clássicos julgados pelo CADE:

(1) Cartel do aço, 1999: Usiminas, CSN e COSPA; (2) Cartel da brita, 2005: sindicato;

(3) Cartel da areia, 2008: empresa de consultoria; (4) Cartel de gases industriais, 2010: R$2.9 bilhões; (5) Cartel dos vigilantes, 2007: acordo de conveniência;

(6) Cartel do pão de sobradinho, 1999: padarias e pequenos comércios

organizaram reuniões para combinar o preço do pão. Eles utilizaram um mesmo cartaz padrão afixado na porta de cada um desses estabelecimentos, informando o novo preço a partir de determinada data, bem como a ata da reunião que decidiu o preço. Apesar deste ser um mercado menos relevante e de baixo valor, considerando os casos em que o CADE normalmente atua, a autarquia atuou no caso, por uma questão de política antitruste. A atuação, porém, foi adequada às proporções do mercado, com penas pecuniárias relativamente baixas;

(7) Cartel de cimento, 2014: cartel longevo, que tratava do insumo principal

da industrial de construção civil. Nesse caso, além de aplicar multa bilionária, adotou controle de estruturas. Além da pena pecuniária foi exigido desinvestimento, devendo as empresas alienar parte da capacidade de produção e de unidades fabris para outras empresas, gerando a fragmentação do mercado. Essa decisão foi ao judiciário e os advogados de defesa das empresas questionam a interferência do CADE na estrutura das empresas. Além disso, questionou-se que, no passado, o CADE autorizou fusões de empresas no mercado, gerando alta concentração. Agora, segundo

(25)

as empresas, haveria uma tentativa do CADE de compensar as decisões pretéritas, que já poderiam ter condicionado de forma diferente o mercado.

• Teoria dos Jogos:

Unidade X. Programa de Leniência e Termo de Compromisso de Cessação:

(1) Programa de Leniência:

• Quem faz? Superintendência Geral;

• Colaboração resulta: identificação dos demais envolvidos e obtenção de

informações e documentos que comprovem a infração;

• Requisitos:

a. Empresa seja a primeira a se qualificar;

b. Empresa tem que cessar completamente seu envolvimento; c. A Superintendência Geral não disponha de provas suficientes; d. A empresa confesse sua participação e coopere completamente. • Benefícios:

a. Extinção da ação punitiva da administração pública (sem conhecimento); b. Redução de 1/3 a 2/3 das penas aplicáveis, com conhecimento parcial;

c. Leniência plus: quando a empresa ou indivíduo é parte do cartel delatado,

mas perde a chance de delatar, pois outra o fez primeiro. Porém, delata outro cartel, do qual não participa. Nesse caso recebe 1/3 de redução e benefícios criminais (suspensão do prazo prescricional e impedimento do oferecimento da denúncia) no que diz respeito ao caso do cartel do qual participou.

(2) Termo de Compromisso de Cessação (TCC):

• Quem faz? CADE (Conselheiro Relator) ou Superintendência Geral (pode

propor);

• Prazo: 30 dias, prorrogáveis por mais 30 para apreciação.

(26)

• Elementos do acordo:

a. Especificação das obrigações e cessar conduta;

b. Multa pelo descumprimento, a ser cobrado por meio do título executivo

extrajudicial;

c. Fixação de valor de contribuição pecuniária para Fundo de Direitos

Difusos. O mínimo fixado é estabelecido no art. 37.

d. O compromissado deverá reconhecer sua participação, para não

deslegitimar a principal forma de controle, a leniência.

• Preço da negociação:

-

Redução do percentual de 30% a 50%;

-

Redução percentual de 25% a 40%;

-

Redução percentual de até 25%

* Observação: se o processo está no Tribunal, há redução de até 15% no máximo. (3) Da Medida Preventiva (art. 84):

• Quem faz? CADE (Conselheiro Relator) ou Superintendência Geral (pode

propor);

• Objetivo: cessação da prática e reversão, gerando garantia de que, no momento

de punição, ela seja eficaz.

• Aplicação: a ser aplicada contra condutas que causam ou possam causar lesão

irreparável ao mercado.

• Recurso: recurso para o Plenário/Tribunal, prazo de 5 dias.

Unidade XI. Concorrência e regulação:

• Finalidades da regulação: alguns momentos atua ao lado da concorrência,

enquanto em outros, como substitutiva desta.

-

Autorregulação do mercado: em alguns casos, ocorre a autorregulação,

quando um ramo se auto regula formando uma espécie de soft law, com regras de conduta a serem seguidas no mercado aberto. Exemplo ocorreu no mercado publicitário. Porém, a maior parte é dependente da atuação do Estado.

-

Regulação exclusivamente econômica:

a. Deficiência da concorrência: ocorre principalmente em casos tendentes ao

monopólio natural ou legal. Exemplos são estruturas ferroviárias e de tubulações.

(27)

b. Bens coletivos (ponto de vista econômico): bens não rivais e não

excludentes, bem que não que se esgotam no seu uso e podem ser utilizados por todos ao mesmo tempo. Quando isso ocorre, é difícil precificar o bem. Exemplo claro é a segurança. Nesses casos, é razoável que a titularidade seja do poder público ou que seja concedido o exercício pelo poder público ao particular

c. Externalidades negativas: são os efeitos causados a terceiros. Exemplo é a

poluição. Demanda-se ação do Estado para que as empresas internalizem esses custos.

d. Assimetrias de informação: campo clássico de atuação dependente, feito

principalmente por agências reguladoras (telecomunicações, aviação e outras). Nesses casos, é necessário agente externo para reduzir a assimetria entre o prestador ou fornecedor de serviços e os consumidores. Do ponto de vista geral, tem-se o Código do Consumidor.

e. Desequilíbrio de mercado: ponto de vista macroeconômico, gerando

desemprego e inflação, por exemplo. A regulação então tem que ser mais geral, como ocorre nos casos de políticas cambiais e monetárias.

-

Regulação social: segunda onda regulatória. A razão passou a ser a regulação

de bens culturais (ex.: Ancine, relativa à industria do cinema).

-

Impacto regulatório: estudo dos custos e benefícios da regulação, compõe a

terceira onda regulatória.

• Regulação substitutiva do mercado:

-

Aplicação das teorias americanas:

A. Ação política (state action doctrine): impõe a substituição da concorrência

plena pela regulação, com a opção manifesta do estado em substituir a concorrência. Ademais, a supervisão é ativa.

B. Poder amplo (pervasive power): há concorrência, mas quem aplica as regras

de defesa da concorrência é o Estado (nos EUA) e as agências reguladoras (no Brasil). Nessa hipótese, pode-se falar de uma ação com maior profundidade.

• Interação entre CADE (SBDC) e as agências reguladoras:

-

Exemplos:

a. CADE e ANATEL: lei 9.471/97, art. 7º e art. 19, XIX; b. CADE e ANAC: lei 11.182/05, art. 5º (convênio - 2009);

(28)

c. CADE e ANP: lei 9.478/97, art. 10 (acordo de cooperação técnica - 2005). • Caso do conflito de atribuições/competência entre o CADE e o Banco

Central:

-

Confusão Administrativa das competências: o caso foi alçado à AGU, que

emitiu o parecer GM-20, dizendo que a competência privativa era do Banco Central para julgar casos de concorrência no âmbito do sistema bancário. Segundo o professor, do ponto de vista de análise de leis, o parecer é correto, porém do ponto de vista prático, é um nonsense, já que o Banco Central não tem os instrumentos que o CADE tem para gerir essas situações. O CADE, porém, não se sujeitou ao parecer, pois sua competência estava em lei, e não havia limitações com relação ao sistema bancário. Ele continuou atuando, o que gerou insegurança jurídica.

-

Mandado de Segurança (Bradesco X CADE): Bradesco alegou que a

competência era do Banco Central e não do CADE. TRF1 julgou que a competência é complementar. O caso então foi ao STJ. O Banco Central reconheceu que a competência era complementar (ver memorial). Porém, com a crise de 2008, voltou atrás o Banco Central e entrou no processo ao lado do Bradesco. O STJ reconheceu a competência complementar. O CADE recorreu ao STF e ainda esta em curso.

-

Melhor cenário, segundo o professor: cenário de competências

compartilhadas, já que o CADE tem expertise em aplicar a defesa da concorrência em todos os setores. O Banco Central cuidaria do espectro da regulação, enquanto o CADE cuidaria da concorrência.

Unidade XII. Defesa da concorrência e política industrial:

• Política industrial:

-

Correção de imperfeições do mercado: a forma como os agentes estão se

organizando é propícia ao desenvolvimento do mercado?

-

Formas de correções:

a. Incentivos fiscais;

b. Investimentos em pesquisa/investimento; c. Créditos subsidiados;

d. Parcerias público-privadas;

(29)

f. Zonas francas

• Política de defesa da concorrência: a ação antitruste seria uma espécie de filtro

que aumentaria as possibilidades da política industrial escolher os setores. Pode atuar na eficiência alocativa ou na competição do mercado.

• Políticas industriais:

a. Política horizontal (sistêmica): concorrência, comércio exterior,

propriedade intelectual;

b. Política vertical (seletiva): alguns critérios utilizados são (1) indústrias

com maior valor agregado, (2) indústrias com grande poder de encadeamento e (3) indústrias nascentes. Nesse tipo de política, alguns erros podem ser cometidos, os quais sejam:

Erro tipo I: não apoio às empresas que precisariam desse apoio. Erro tipo II: apoio às empresas que não precisam desse apoio.

→ O maior problema não é o Estado escolher sistematicamente mal, mas sim, não saber quando parar quando sua abordagem não proporciona os efeitos esperados.

• Tema dos campeões nacionais:

-

Escolha de uma empresa que tenha escala para competir internacionalmente, que se comportará como uma empresa referência em determinado setor estratégico.

-

A chance de erro nesses casos é ainda maior, principalmente de incorrer no erro tipo II, acima comentado.

• Política industrial no Brasil:

-

Plano de metas (1950): foco em infraestrutura e ênfase particular no setor de

transportes (automobilístico). De forma retrospectiva, pode ser considerada ineficiente;

-

Plano nacional de desenvolvimento (1970/1980): escolha de setores

(30)

incentivo à concentração empresarial e pouca utilização de políticas horizontais. Em 1980, a estrutura estava tão desorganizada que a prioridade era controle da inflação, com sucessivos planos nesse sentido;

-

Política industrial (1990): Tendência à horizontalidade, com escolhas de

setores muito específicas;

-

Houve mudança do ponto de vista interventivo, que foi intensificado para priorização de determinadas áreas. Isso foi associado à infraestrutura e às indústrias nascentes. Ocorreram ainda mudança legislativa que deram instrumentos para fazer a política industrial de forma mais agressiva.

Referências

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