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CONDENAC ES A MORTE IMPOSTAS POR TRIBUNAIS MILITARES. NA REPttBLICA POPULAR DE ANGOLA DURANTE 1984

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CONDENAC�ES A MORTE

IMPOSTAS POR TRIBUNAIS MILITARES NA REPttBLICA POPULAR DE ANGOLA

DURANTE 1984

Amnistia Internacional Secretariado Internacional 1 Easton Street Londres WClX 8DJ Reino Unido

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EXTERIOR (para distribuicao geral) Janeiro de 1985 AI fndice: AFR 12/03/85P Distr: DP/CO Amnistia Internacional Secretariado Internacional 1 Easton Street Londres WC1X 8DJ Reino Unido CONDENACOES A MORTE IMPOSTAS POR TRIBUNAIS MILITARES

NA REPUBLICA POPULAR DE ANGOLA DURANTE 1984 1. Introduca.o

A Amnistia Internacional esta preocupada com a aplicaca.o da pena de morte que tern recentemente sido imposta numa escala crescente na Republica Popular de Angola. A organizacao tambem esta preocupada corn informacoes de que os tramites processuais dos tribunais militares que tern pronunciado as sentencas

a

pena de morte a nao militares

podem nao ser conformes aos padroes internacionalmente reconhecidos de julgamentos justos.

Em 1983 a Amnistia Internacional teve conhecimento de apenas uma condenaca.o

a

morte em Angola. Entre Fevereiro e Dezembro de 1984 a organizaca.o recebeu noticias acerca de 31 pessoas sentenciadas

a

morte, 30 das quais por tribunais militares. So ha noticia de uma sentenca a morte ter sido comutada - a unica pronunciada por um tribunal civil. Mais de metade das sentencas

a

morte foram pronunciadas nos ultimos tres meses de 1984. Os sentenciados

a

morte tern sido condenados por crimes contra a seguranca do Estado, tais como traicao, espionagem e rebeliao armada.

A Amnistia Internacional opoe-se

a

pena de morte em todas as circunstancias, considerando-a uma violacao do direito

a

vida, contido na Declaracao Universal dos Direitos do Homem, e uma

forma extrema de punicao cruel, desumana e degradante. Conquanto a Amnistia Internacional·· considere que a pena de morte nao deva nunca ser imposta, nos sistemas legais que conservam a pena de morte a organizacao ere que devera haver estricta observancia de processos judiciais e de·padroes internacionalmente reconhecidos de julgamento justo.

2. Enquadramento

Antes de Angola se ter tornado independente em 1975, a pena de morte tinha sido abolida por lei em Portugal e em todos os seus territorios ultramarinos, incluindo Angola. Contudo, durante o conflito interno entre as forcas portuguesas e um certo numero de movimentos indepen­ dentistas que precederam a independencia, o movimento que mais tarde assumiu o poder quando da independencia, o Movimento Popular de Libertacao de Angola (MPLA), adoptou um regulamento interno em 1966 que autorizava a aplicaca.o da pena de morte em certas circunstanclas. A data da independencia em 1975, foi dado a este regulamento forca de

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lei e adoptado nas areas sob o controle do MPLA.

Depois da independencia o governo do MPLA considerou, evidente­ mente, que a pena de morte poderia ser imposta pelos tribunais a pessoal militar, incluindo membros das forcas armadas do governo e membros armados de grupos de oposicao, que tivessem sido condenados por certos crimes graves, tais como assassinio, espionagem e outros crimes contra a seguranca do Estado. So em Fevereiro de 1978 foi adoptada uma nova lei (Lei nQ 3 /78) que, pela primeira vez1, introduziu

a pena de morte como uma punicao para civis. Desde Maio de 1978 a pena de morte foi tornada obrigatoria para certos crimes contra a seguranca do Estado e pode tambem ser aplicada a uma serie de outros crimes. Os tribunais civis ordinaries, excepto o Tribunal Popular Revolucionario, nao tern, todavia, poderes para impor a pena de morte.

Sabe-se que entre Maio de 1976 e Maio de 1977 um tribunal civil especial, formado para julgar crimes politicos, o Tribunal Popular Revolucionario, aplicou oito penas de morte, incluindo as impostas a quatro mercenaries estrangeiros condenados em Junho de 1976.

'

Depois de uma tentativa de golpe falhada em Maio de 1977 cre-se que um Tribunal Militar Especial tenha condenado os seus suspeitos chefes

a

morte. Incluiam pessoal militar e civis, embora ao tempo a pena de morte nao pudesse legalmente ser imposta a civis. Nestas circunstancias, parece ter sido imposta por autoridade do governo mas sem bases legais e algumas das execucoes que tiveram lugar parece terem sido extrajudiciais. Mais, inumeras pessoas suspeitas de terem

parti-cipado na tentativa de golpe afirma-se terem sido executadas· extrajudicialmente pelas forcas de seguranca sem terem recebido qualquer forma de julgamento.

Ate Julho de 1980, quando o primeiro de uma serie de julgamentos de suspeitos membros da rede bombista da Uniao Nacional para a Independencia Total de Angola (UNITA) terminou em 16 condenacoes

a

morte nao se soube que a pena de morte tivesse voltado a ser aplicada por um tribunal. Entre Julho de 1980 e Abril de 1983 o Tribunal Popular Revolucionario condenou 70 pessoas

a

morte, das quais todas, excepto seis, foram con­ denadas por crimes politicos. Mais, em Junho e Novembre de 1982 um tribunal militar na provincia de Cabinda condenou a morte dois suspeitos membros da Frente de Libertacao do Enclave de Cabinda (FLEC).

Entre 1980 e 1983 sabe-se que duas sentencas a morte foram comutadas e cre-se que um total de 70 execucoes, todas por pelotoes de fusilamento, tiveram lugar.

3. A Extensao da Jurisdicao dos Tribunais Militares em Julho de 1983 Em 30 de Julho de 1983 foi dada aos tribunais militares jurisdicao sobre casos politicos em todas as provincias onde estavam actives movimentos de oposicao armada. Esta extensao da jurisdicao dos tribunais militares fazia parte de um conjunto de medidas tomadas em resposta as actividades de guerrilha de apoio

a

UNITA, que em meados de 1983 estavam activas em todas as provincias, excepto Bengo, Cabinda, Luanda, Uige e Zaire. Estas medidas equivaleram a uma declaracao da lei marcial em 14 provincias; Benguela, Bie, Cabinda (onde a FLEC continuava activa), Cunene, Huambo, Huila, Kuando Kubango, Kwanza Norte, Kwanza Sul, Lunda Norte, Lunda·Sul, Malange, Moxico e Namibe. Em todas estas provincias a responsabilidade

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3

geral de assuntos administrativos e militares foi confiada a um Conselho Militar Regional. Estabeleceram-se Conselhos em cada uma das divisoes militares, denominadas Regioes Polftico-Militares, afectadas pelas actividades de opositores armadas do �overno (cada Regiao Politico­ Militar engloba uma ou mais provincias, tendo-se dividido as 18 provincias do pais em nave Regioes Politico-Militares). Formaram-se Tribunais Militares Regionais especiais em cada uma destas regioes para julgar quer guerrilheiros da oposicao quer civis suspeitos de cometerem crimes graves. Foram dados poderes a estes tribunais para impor a pena de morte.

0 preambulo da lei que estabeleceu os Conselhos Militares Regionais nestas regioes declarava que "o agravamento da situacao polftico-militar em algumas parcelas do territorio nacional, exige a adopcao de medidas de caracter excepcional e transitorio". 0 Artiga 4 da lei declara:

"Competira aos Tribunais Militares o julgamento dos crimes contra a seguranca do Estadq, de sabotagem economica, de especulacao e de

desobediencia as o�dens emanadas dos Conselhos Militares Regionais, bem coma de todos aqueles que causaram danos ou ponham em perigo os

interesses da Defesa e Seguranca colectivas".

Os Tribunais Militares podem aplicar a pena de morte a todos os crimes tornados puniveis corn morte na legislacao anterior. Par exemplo, a Lei nQ 7/78 de 26 de Maio de 1978 sabre Crimes contra a Seguranca do Estado tornou a pena de morte obrigatoria para crimes tais coma traicao e rebeliao armada e tambem aplicavel para crimes tais coma sabotagem econOmica. Uma lei de Fevereiro de 1983 sobre o Segredo Estatal pre­ screve penas, incluindo a pena de morte, tanto para espionagem coma para a divulgacao de informacoes que possam por em perigo a seguranca do Estado.

Os tramites processuais seguidos pelos Tribunais Militares Regionais parecem ser os estabelecidos na Lei nQ 17/78 de 24 de Novembre de 1978 sabre a justica penal militar e par um decreto especial publicado pouco depois de ter sido conferida aos tribunais militares jurisdicao sabre cases politicos, Decreto nQ 105/83 sabre a Regulamentacao dos Orgaos de Justica Militar. Nos termos da Lei nQ 17/78, os juizes e procuradores do Tribunal Militar Regional sao nomeados pelo Ministro da Defesa e podem ser substituidos a qualquer tempo. Enquanto no desempenho das suas funcoes estao subordinados

a

disciplina e regulamentacoes internas das £areas armadas. 0 Artiga 18 da lei declara que a Procuradoria Militar no exercfcio das suas funcoes

e

independente dos outros orgaos do governo e das forcas armadas. A lei confere certas garantias ao acusado, inclu­ indo O direito a assistencia jurfdica de sua propria escolha, OU na falta dela, de um defensor nomeado oficiosamente; o direito da defesa examinar o processo de acusacao dez dias antes do julgamento; e o direito de arrolar testemunhas ou de introduzir outras provas a favor da defesa. A lei tambem garante a todos os condenados direito de recurso e, se uma pena de morte

e

pronunciada, exige, nos termos do Artiga 49, que um recurso seja automaticamente interposto para o tribunal militar superior, o Tribunal Militar das Forcas Armadas. Se a sentenca a pena de morte e confirmada par um tribunal superior, o caso deve ser submetido ao chefe do Estado, que pode comutar a sentenca em pena de 24 anos de prisao. Se o chefe do Estado se recusar a comutar a pena de morte, a sentenca e suposta ser executada nas 24 horas que se seguem

a

vitima ter sido informada desta recusa.

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4. Informacoes sobre OS Processos

Em fim de Dezembro de 1984, a Amnisti� Internacional obteve informacoes sabre 80 pessoas condenadas par tribu�ais militares durante 1984, 30 das quais se afirma terem sido sentenciadas

a

morte.

A maior parte das informacoes sabre sentencas

a

morte e julgamentos dos Tribunais Militares Regionais recebidas pela Arnnistia Internacional provieram de declaracoes oficiais publicadas na imprensa. As noticias sabre tais julgamentos na imprensa angolana davam apenas, geralmente, escasos pormenores, tais como OS names dos reus, um sumario das acusacoes levantadas contre eles e as sentencas pronunciadas pelo tribunal. Nao se tern obtido nenhuma informacao, quer da imprensa, quer de outras fontes sobre processes de recurso. Nern tao pouco tern sido publicadas noticias confirmando que as penas de morte tenham sido executadas.

� possivel que, como parece ter sido o caso no passado, nem todas as condenacoes

a

morte tenham sido publicitadas e que o numero total de pessoas sentenciadas

a

morte par tribunais militares possa ser superior a 30. As execucoes, levadas a cabo por pelotoes de fusilamento, nao tern sido relatadas na imprensa angolana ha varios anos. Contudo, a Arnnistia Internacional tern, ocasionalmente, recebido de fontes independentes con­ firmacao de que OS presos condenados

a

morte tern sido executados, sem que noticias de tais execucoes tenham aparecido na imprensa. Quando noticias de execucoes foram publicadas, por exemplo em 1980, a Arnnistia Interna­ cional teve conhecimento em varies casos que os reus foram executados poucas semanas depois de terem sido condenados

a

morte.

As informacoes disponiveis sobre os tramites processuais dos Tribu­ nais Militares Regionais mostram que OS julgamentos sao publicos e que OS reus tern sido assistidos par defensores. Na maior parte dos casos, o defensor parece ter sido nomeado pelo tribunal; contudo, nao

e

claro se este facto se deve a nao ter sido dada oportunidade aos reus para escolherem o seu proprio advogado ou se eles nao o fazem. Par exemplo, num julgamento no Huambo que teve lugar de 30 de Outubro a 3 de Novembre de 1984, um unico advogado do colectivo de advogados local afirma-se ter actuado como advogado de defesa de todos os oito reus, dois dos quais foram, por sinal, condenados

a

morte. Igualmente um unico advogado defendeu oito reus num julgamento em Malange em Novembro de 1984: tres foram condenados

a

morte.

As 30 pessoas condenadas

a

morte por Tribunais Militares Regionais foram todas elas acusadas de participarem em actividades em apoio do movimento de oposicao UNITA. As noticias na imprensa sabre os seus julgamentos deram, geralmente, poucos pormenores sabre as acusacoes. Contudo, pode-se, par vezes, dispor de informacoes adicionais quando os mesmos individuos apareceram perante jornalistas e outros em sessoes publicas antes dos seus julgamentos. Par exemplo, a primeira pessoa a ser condenada

a

morte durante 1984, Jeremias Isaias Nangolo, chefe da central dos telefones do Huambo, afirma-se ter confessado ter inter­ ceptado comunicacoes militares e ter passado informacoes

a

UNITA e ter albergado guerrilheiros da UNITA quando foi levado perante jornalistas no Huambo, em 27 de 0utubro de 1983. Foi condenado

a

morte a 20 de Fevereiro de 1984. 0utro preso, chamado Epalanga, que foi condenado

a

morte a 3 de Novembro de 1984, tinha aparecido anteriormente numa sessao publica em Janeiro de 1984, em que se afirmou ter-se entregue

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5 voluntariamente as forcas de defesa e seguranca. Foi sentenciado

a

morte corn outros dois depois de ter sido condenado por traicao, espionagem e sabotagem. A Amnistia Internacional preocupa-se com o facto de que de­ claracoes de auto-incriminacao feitas'por presos na presenca de jornalistas OU de outros membros do publico possam ter sido feitas sob coaccao.

Tanto Jeremias Isaias Nangolo como pelo menos seis dos outros sen­ tenciados a morte foram condenados por espionagem a favor da UNITA. Jeremias Isaias Nangolo nao era acusado de tomar parte emataques da UNITA, mas a maior parte dos outros condenados

a

morte disse-se terem participado em actividades violentas que variaram entre explosoes de bombas em :i!nstalacoes do governo a um ataque a central hidraulica do Kuito. Um sumario das acusacoes levantadas contra OS condenados

a

morte por tribunais militares pode-se ver no apendice a este documento.

Em complemento as 30 sentencas a morte impostas por tribunais mili­ tares, uma sentenca

a

morte foi pronunciada contra Francisco Carlos Fragata pelo Tribunal Popular Revolucionario civil, em fim de 0utubro de 1984, considerado culpado de espiar para os Estados Unidos da America e tambem de comercio ilegal de diamantes. Uma semana mais tarde, contudo, o Tribunal de Recurso especial que foi estabelecido em 1980 para rever todas as sentencas a morte OU a mais de 20 anos de prisao pronunciadas pelo Tribunal Popular Revolucionario, reduziu a sua sentenca a seis anos de prisao, tendo retirado, aparentemente, a principal acusacao de

espionagem levantada contra Francisco Carlos Fragata.

Tendo em conta a ausencia de informacoes sobre audiencias de recurso,

a Amnistia Internacional preocupa-se corn o facto de que o direito de

recurso, garantido na lei angolana, possa nao ter sido respeitado e tern repetidamente pedido as autoridades angolanas que fornecam informacoes que esclarecam os tramites processuais que se tem vindo a seguir. Nenhuma informacao sobre audiencias de recurso foi, porem, ate agora fornecida

a

Amnistia Internacional, nem se tern conhecimento que qualquer informacao deste tipo tenha sido tornada publica.

5. As Preocupacoes da Amnistia Internacional

Com base na informacao que tern coligido sobre julgamentos nos Tribu­ nais Militares Regionais tanto de noticias da imprensa como de fontes nao oficiais, a Amnistia Internacional preocupa-se corn o facto de que os julgamentos possam nao ter atingido padroes internacionalmente aceites num certo numero de aspectos importantes. Todavia, na ausencia de informacao pormenorizada sobre certos aspectos dos julgamentos, a

Amnistia Internacional nao tern podido determinar a extensao precisa das suas preocupacoes.

0s aspectos dos julgamentos dos Tribunais Militares Regionais sobre os quais a Amnistia Internacional se preocupa podem sumariar-se como se segue.

i) Reus civis e membros de organizacoes armadas de-oposicao tern sido julgados por tribunais militares.· Tendo em·conta·a limi­ tada independencia dos ju{zes do tribunal militar, que podem ser sancionados pelo Ministro da Defesa corn demissao, e tendo em conta o facto desses ju{zes serem oficiais do exercito qfie esta em luta contra os guerrilheiros da UNITA, o lireito

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basico destes reus a um julgamento justo por um tribunal inde­ pendente e imparcial pode nao ter sido respeitado. Este di­ reito e garantido no Artigo 10 da Declaracao Universal dos Direi tos do Homem que declara':

"Todas as pessoas tem direito, em plena igualdade, a que a sua causa seja ouvida equitativa e publicamente por um tribunal independente e imparcial, que decidira quer dos contestacoes sobre OS seus direitos e obrigacoes, quer do hem fundado de qualquer acusacao em materia penal dirigida contra elas."

ii) Embora se afirme que os reus foram assistidos por um defensor, fontes da oposicao tem alegado que OS advogados de defesa nomeados pelo tribunal nao deram assistencia adequada devido a pressao do governo. A Amnistia Internacional nao pode con­ firmar esta alegacao mas preocupou-se no passado com o facto de que os advogados de defesa em julgamentos que implicavam presos politicos nao defenderam devidamente os seus clientes. iii) 0s reus e os advogados de defesa podem nao ter tempo sufici­

ente para preparar a defesa. Ainda que a lei conceda aos reus 10 dias para prepararem a sua defesa antes de irem a julgamento, na pratica parece que apos terem sido notificados da acusacao oficial nao lhes e permitido consultar OS porme­ nores da acusacao contra eles levantada, conforme estabelecido na Lei nQ 17/78. Alem do mais quando um so advogado actua em defesa de um certo numero de reus acusados de diferentes crimes, pode nao ter tempo suficiente para preparar uma defesa completa de todos os seus clientes. Este parece ter sido o caso no Huambo, no principio de Novembre de 1984, quando um advogado actuou como advogado de defesa de todos os oito reus, dois dos quais foram subsequentemente condenados

a

morte.

iv) A Amnistia Internacional preocupou-se com o facto de que nos julgamentos dos Tribunais Militares Regionais, os reus possam ter sido condenados corn base em provas fracas ou em declaracoes que fizeram sob coaccao enquanto detidos antes do julgamento, como parece ter sido o caso em julgamentos do Tribunal Popular Revolucionario quer em 1983 quer em 1984.

A Amnistia Internacional tambem se preocupa corn certos aspectos processuais dos casos dos presos condenados

a

morte pelos Tribunais Militares Regionais, especialmente sobre a possivel ausencia de recursos. Em complemento a organizacao acha preocupante o facto de que alguns dos condenados

a

morte por Tribunais Militares Regionais parecer terem sido julgados por incidentes que tiveram lugar antes de ter sido dada a tais tribunais jurisdicao sobre alegados membros de movimentos armados de oposicao em Julho de,1983.

A Amnistia Internacional opoe-se

a

pena de morte em todos OS casos e sempre que tem sido noticiadas condenacoes

a

morte em Angola a organizacao tem apelado para as autoridades angolanas para exerce­ rem clemencia. Adicionalmente a organizacao tem pedido ao governo da Republica Popular de Angola para introduzir alteracoes tais nos Tribunais Militares Regionais que os torne conformes a padroes

internacionalmente reconhecidos de julgamentos justos e que assegure

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7

que disposicoes da lei angolana respeitantes aos direitos dos reus sejam estrictamente observadas, especialmente o direito de recurso para um tri­ bunal superior. Os padroes internacionalmente reconhecidos sobre os qmaisaAmnistia Internacional especialmente se preocupa estao sumariados na Resolucao do Conselho Economico e Social das Nacoes Unidas (ECOSOC) 1984/50 (adoptada em 25 de Maio de 1984) que aprovou Medidas cautelares que asseguram a proteccao dos direitos dos acusados de crimes passfveis de pena de morte. As medidas cautelares aprovadas incluem:

"A pena capital so pode ser imposta quando a culpabilidade da pessoa acusada assenta em provas claras e convincentes que nao deixam lugar a uma explicacao alternativa dos factos."

(Medida cautelar 4)

"A pena capital so pode ser executada em conformidade corn um julga­ mento final dado por um tribunal competente depois de um processo judicial legal que conceda todas as garantias possfveis para assegurar um julgamento justo, pelo menos iguais as contidas no Artigo 14 do Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Poli­ ticos (1), incluindo o direito por parte de todo aquele suspeito ou acusado de um crime pelo qual a pena capital possa ser imposta a assistencia juridica adequada em todos OS estadios do processo."

(Medida cautelar 5)

"Todo aquele condenado a morte tera o direito de recurso para um tribunal de jurisdicao superior e devem ser tomadas medidas no sentido de assegurar que tais recursos sejam obrigatorios."

(Medida cautelar 6)

"Todo aquele condenado a morte tera o direito de solicitar o perdao OU a comutacao da sentenca; tanto O perdao como a comuta-cao da pena podem ser concedidos em todos os casos de pena capital." (Medida cautelar 7)

(1) Nota de rodape: 0 Artigo 14.3 do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Politicos declara: "Qualquer pessoa acusada de uma infraccao penal tera direito, em plena igualdade, pelo menos as seguintes garantias:

a) A ser prontamente informada, numa lingua que ela compreenda, de modo detalhado, acerca da natureza e dos motives da acusacao apresentada contra ela;

b) A dispor do tempo e das facilidades necessarias para a prepara­ cao da defesa e a comunicar corn um advogado da sua escolha; c) A ser julgada sem demora excessiva;

d) A estar presente no processo e a defender-se a si propria ou a ter a assistencia de um defensor da sua escolha; se nao tiver defensor, a ser informada do seu direito de ter um e, sempre que o interesse da justica o exigir, a ser-lhe atribuido um defensor oficioso, a tftulo gratuito no caso de nao ter meios para o remunerar;

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e) A interrogar ou fazer interrogar as testemunhas de acusacao e a obter a comparencia e o interrogatorio das testemunhas de defesa nas mesmas condicoes das testemunhas de acusacao;

f) A fazer-se assistir gratuitamente de um interprete, se nao com­ preender ou nao falar a l{ngua utilizada no tribunal;

g) A nao ser forcada a testemunhar contra si propria OU a confessar­ -se culpada."

0 Artigo 14.5 do mesmo Pacto Internacional declara: "Qualquer pessoa declarada culpada de crime tera o direito de fazer examinar por uma

jurisdicao superior a declaracao de culpabilidade e a sentenca em confor­ midade corn a lei."

(10)

APENDICE

CONDENACOES A MORTE PRONUNCIADAS EM ANGOLA PELOS TRIBUNAIS MILITARES REGIONAIS EM 1984

9

Nomes Data Tribunal Militar Regional

(ano, mes, dia)

NANGOLO, Isaias Jeremias 84.02.20 4e Regiao, Huambo

Condenado por traicao e espionagem; acusado de escutar conversas

telefonicas e passar informacoes

a

UNITA.

QUINTAS, Simao 84.04.25 4e Regiao, Kuito

Condenado por traicao, espionagem e sabotagem; acusado de

coligir informacoes e passa-las

a

UNITA e de participacao no

ataque

a

central hidraulica do Kuito.

SINDACO, Abilio

SEGUNDA, Paulo 84.05.01 84.05.01 3e Regiao, Mexico 3e Regiao, Mexico

Ambos condenados por rebeliao armada; foram acusados de cola­ borar corn a UNITA, participar em ataques armadas, angariar e

prover assistencia financeira

a

UNITA; SINDACO, um enfermeiro,

foi acusado de fornecer a guerrilheiros da UNITA material medico.

CHIMBAIA, Albino

CHITUMBA, Felisberto Mateus PANDERA, Afonso Tchiamba

84.05.06 84.05.06 84.05.06 6e Regiao, Menongue 6e Regiao, Menongue 6e Regiao, Menongue Condenados por rebeliao armada; acusados de participarem em actividades da UNITA.

-GANDO, Justo

MANUEL, Joaquim 84.08.29 84.08.29 Se Regiao, Lubango Se Regiao, Lubango

Condenados por crimes contra a seguranca do Estado e crimes contra o povo.

CHIMUCO, Miguel

MULANGUE, Candido 84.09.07 84.09.07 Se Regiao, Lubango Se Regiao, Lubango

Condenados por rebeliao armada; acusados de distribuirem panfle­ tos da UNITA e terem causado seis explosoes a bomba no conselho de Caconda, uma das quais resultou na morte de um bebe de dois meses. CAMBINDA, Daniel CATUCUTUCO, Paulino KESSONGO, Eduardo 84.10.13 84. 10. 13 84. 10. 13 Se Regiao, Lubango Se Regiao, Lubango Se Regiao, Lubango Condenados por rebeliao armada e por terem cometido crimes contra a seguranca do Estado.

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Names Data

(ano,rnes, ,dia) Tribunal Militar Regional BANGO, Fernando !SALA, Antonio LINGUMBA, Manuel MANUEL, Floriano 84. 10 .24 84.10.24 84.10.24 84.10.24 6� Regiao, Menongue 6§ Regiao, Menongue 6§ Regiao, Menongue 6§ Regiao, Menongue Condenados por rebeliao armada; acusados de terem tornado parte em ataques da UNITA.

EPALANGA, Frederico MANUEL, Jose

UMBA, Domingos Alberto

84. 11 . 03 84. 11 .03 84. 11 . 03 9§ Regiao, Malange 9§ Regiao, Malange 9§ Regiao, Malange Condenados por traicao, espionagem e sabotagem; acusados de colaborarem corn a UNITA.

FELISBERTO, Filipe

SOMRI, Gaspar 84. 11. 0984. 11 • 09

Condenados por espionagem e sabotagem. CAMEQUE, Joao Domingos 84.11.29

4§ Regiao, Huambo 4§ Regiao, Huambo 5§ Regiao, Huila Condenado por acusacoes de traicao e rebeliao armada; acusado de participar em quatro ataques da UNITA.

BARROS, Antonio Quarta 84.12.05 9§ Regiao, Malange Condenado por traicao e rebeliao armada; acusado de participar em ataques da UNITA:

NUNDA, Antonio Calufele 84. 12. 28 7§ Regiao, Benguela Condenado por rebeliao militar e sabotagem; acusado de ter

tornado parte em varios ataques da UNITA desde 1976 nas provincias de Huambo, Lunda-Norte e Moxico. Conforme a acusacao, durante estes ataques comissarios municipais e civis foram assassinados; acusado tambem de ter empreendido um assalto

a

mina de diamantes de Kanzo.

KATACU, Afonso 84.12.29 9§ Regiao, Ndalatando

KIAMBASSUCA, Alberto 84.12.29 9§ Regiao, Ndalatando KIMBOTA, Adriano 84.12.29 9� Regiao, Ndalatando SECANDO, Eurico 84.12.29 9§ Regiao, Ndalatando Condenados por acusacoes de traicao, rebeliao armada e sabotagem economica. Eurico SECANDO foi acusado de ser soldado da UNITA. Afonso KATACU foi acusado de chefiar uma rede clandestina da UNITA e Alberto KIAMBASSUCA foi acusado de ser sub-chefe da mesma rede clandestina. Adriano KIMBOTO foi julgado e condenado

a

revelia.

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