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WEBJORNALISMO E AS POSSIBILIDADES DE INTERAÇÃO COM O PÚBLICO

Mirabel dos Santos1

GT 5 – Educação, Comunicação e Tecnologias

RESUMO

As novas tecnologias da comunicação e informação abriram espaço para que o público tivesse maiores possibilidades de interação com os veículos de comunicação. A facilidade de acesso à internet, aumento da classe C e o barateamento dos produtos tecnológicos, são fatores que contribuíram para que o usuário deixasse sua posição de receptor passivo para se tornar um potencial produtor de informação noticiosa. No entanto, diante da mudança de um modelo comunicacional de um-todos para todos-todos na internet, as empresas jornalísticas sentiram a necessidade de fazer mudanças estruturais em suas práticas e em seus produtos, passando a adotar estratégias de interação diferenciadas com seus usuários. Neste artigo pretendemos fazer uma revisão bibliográfica, partindo de estudos realizados sobre webjornalismo, caracterizar esta modalidade e analisar as possiblidades de participação do usuário na produção de informações noticiosas ao longo do processo de evolução do jornalismo de referência praticado na web.

Palavras-chave: Webjornalismo. Interação. Mediador. Público

RESUMEN

Las nuevas tecnologías de comunicación e información han abierto un espacio para que el público tenga mayores posibilidades de interacción con los medios de comunicación. La facilidad de acceso a la internet, el aumento de la clase C y el abaratamiento de los producto tecnológicos, son factores que contribuyeron para que el usuario dejara su posición de receptor pasivo para convertirse en un productor potencial de la información de prensa. Sin embargo, antes el cambio de un modelo comunicacional de uno-todos para todos-todos en internet, las empresas de periódicos sintieron la necesidad de hacer cambios estructurales en sus prácticas y en sus productos, pasando a adoptar diferentes estrategias de interacción con sus usuarios. En este artículo, nos proponemos hacer una revisión de la literatura, a partir de estudios de periodismo en la red, caracterizar este modo y analizar las posibilidades de participación de los usuarios en la producción de informaciones de noticias a lo largo del proceso de evolución del periodismo de referencia practicado en el proceso web.

Palabras clave: Periodismo en la red. Interacción. Mediador. Pública.

INTRODUÇÃO

No final do século XX as tecnologias digitais de informação e comunicação apresentaram um acelerado desenvolvimento. No entanto, como afirma Castells (1999) e

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Licenciada em Pedagogia, Especialista em Tecnologias em Educação pela PUC/RJ, Professora do Colégio Estadual Barão de Mauá, aluna especial do Mestrado em Comunicação da UFS em 2016.2. E-mail:

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Lévy (2000) o progresso das tecnologias precisa ser compreendido dentro de um contexto social, cultural, político e econômico visto que a evolução história não é definida pela tecnologia, mas ela é mola propulsora de mudanças na sociedade em que está inserida. De acordo com Lima Junior (2008) esse processo de mudança acontece em uma via de mão dupla, ou seja, de maneira bilateral. Segundo o autor, na medida em que as tecnologias produzem mudanças na sociedade, esta também é capaz de influenciar essas transformações a partir de modificações do comportamento humano.

Para Castells (1999) algumas mudanças formaram o alicerce para a difusão das tecnologias para fins civis e comerciais como é o caso do microcomputador. Portáteis, de fácil manuseio e com preços cada vez mais acessíveis, os computadores pessoais promoveram uma nova maneira de lidar com o conhecimento e com a informação. Paralelamente, outro fenômeno que contribuiu para a reconfiguração do manuseio da informação foi o surgimento das redes, ou mais especificamente da World Wide Web ou simplesmente “web”2 como é mais conhecida.

Com o avanço da informática e o “nascimento” da rede mundial de computadores, surge um espaço que potencializa a interatividade entre as pessoas e o conteúdo em rede e entre as pessoas em si. Este novo ambiente, concebido por Lévy (2000) como “ciberespaço” transformou a relação dos usuários com a informação o que gerou mudanças nas práticas jornalísticas.

É a civilização humana que se transforma a partir de uma variável independente: a informatização. O processo digital, de tempo real, de comunicação online estabelece novos parâmetros sociais. Muda tudo. O Jornalismo, bem como os valores de progresso, evolução e razão, foram emanações de outra época histórica, foram epifenômenos da revolução industrial burguesa nos séculos 18 e 19. Não seria coerente que num momento de introdução revolucionária de técnicas de inscrição, armazenamento e reaproveitamento de informações- como é a informática – sobrevivessem derivações de outras épocas históricas. (MARCONDES FILHO, 2000, p. 37)

As novas tecnologias abriram espaço não somente para o público consumir informação, mas também produzir conteúdo. Com a mudança de um modelo comunicacional de um-todos para todos-todos, a internet afetou o jornalismo e desencadeou uma ruptura dos modelos de negócios, de narrativas, de distribuição, de relacionamento com o público e com

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www ou web – é um sistema de informações ligadas através de hipermídia (hiperligações em forma de texto, vídeo, som e outras animações digitais) que permitem ao usuário acessar uma infinidade de conteúdos através da internet.

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as fontes. Aliado a este fator, a crise financeira de 20083 e a diminuição da publicidade voltada para os jornais impressos também cooperaram para que os jornais passassem a adotar outras alternativas de sobrevivência no mercado e uma delas foi explorar as plataformas digitais.

A atividade jornalística na rede é resultado de uma nova estrutura que se estabelece (a partir do surgimento das inovações tecnológicas) e da remodelação de configurações já existentes (o jornalismo tradicional). E é nessa nova conjuntura que surgem experiências inovadoras na área, como o Webjornalismo e o jornalismo participativo na internet [...]. (FONSECA; LINDERMAN, 2007, p. 88)

Este cenário retratou as condições necessárias para o surgimento do que podemos chamar de Webjornalismo. Esta nova modalidade jornalística surge com uma série de mudanças estruturais que lhe confere características próprias, como por exemplo, a ampliação do espaço de interação com o público, dando a ele vez e voz, para produzir informação noticiosas. Com recursos simples e de fácil utilização, capazes de registrar e publicar informações noticiosas a qualquer hora e em qualquer lugar, o usuário passou a ter a sensação de que poderia ser um “repórter” em potencial. No entanto, nos jornais de referência praticados na web, o usuário tem contribuído como fonte de informação e não como produtor de notícias.

É importante ressaltar que aqui não se pretende negar as práticas interativas alternativas e/ou de caráter informal praticadas na web, como por exemplo, os blogs ou o open

source journalism4, mas lembrar que para este estudo a análise terá como foco apenas a participação do usuário nos webjornais de referência5.

DEFINIÇÃO DE WEBJORNALISMO

A utilização da internet para fins jornalísticos ocorreu a mais de duas décadas e vários estudos sobre este fenômeno já foram realizados, contudo, pela sua complexidade e

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Crise financeira ocorrida entre o final de 2008 e o começo de 2009, iniciada no setor imobiliário americano que se propagou para todo o sistema bancário e consequentemente tornou-se uma crise econômica internacional atingindo também o Brasil.

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De acordo com Brambilla (2005) a existência do jornalismo open source define-se, de modo geral, pela abertura do sistema – informático e editorial – para publicação, ou seja, são sites cujo código-fonte permanece aberto para que as pessoas participem da construção e do aprimoramento do software e, também, da elaboração e aprimoramento dos textos publicados.

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Webjornais de referência são entendidos, neste trabalho, a partir do conceito proposto por Targino (2009), como aqueles alimentados no espaço cibernético por grandes organizações de mídia, que normalmente mantém edições especiais em papel paralelamente à internet.

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constantes transformações ainda se constitui como um objeto de estudo em construção. Uma das discussões em torno dessa modalidade de jornalismo é sobre a nomenclatura. Quanto a isso, Mielniczuk (2003, p. 22) afirma que “ainda não existe um consenso sobre a terminologia a ser utilizada quando nos referimos ao jornalismo praticado na internet, para a internet ou com auxílio da internet”. Desta maneira, apresentar as concepções e definições compartilhadas por alguns autores se faz necessário para que se possa justificar a escolha a ser adotada neste artigo.

De modo geral, os autores norte-americanos preferem os termos “jornalismo on-line” ou “jornalismo digital”, já os autores hispânicos preferem o termo “jornalismo eletrônico”. É possível ainda encontrar nomenclaturas como “jornalismo multimídia”, ou “ciberjornalismo”. Os autores brasileiros, por sua vez, de modo geral, utilizam com maior frequência o termo “jornalismo on-line” ou “jornalismo digital”.

Na tentativa de ordenar as diversas terminologias Mielniczuk (2003) propõe uma sistematização que privilegia os meios tecnológicos através dos quais as informações são trabalhadas, como fator determinante para elaborar a denominação do tipo prática jornalística, seja no âmbito da produção ou no âmbito da disseminação de informações jornalísticas.

De acordo com essa autora o campo “eletrônico” é o mais abrangente, posto que a aparelhagem tecnológica que se utiliza no jornalismo é, em sua maioria, de natureza eletrônica, seja ele analógica ou digital. Desta forma, quando se faz uso de equipamentos e recursos eletrônicos, quer para capturar ou para disseminar informação, ocorre o “jornalismo eletrônico”.

Dentro da esfera eletrônica está imersa a “tecnologia digital” (câmeras fotográficas digitais, gravadores de som, ilhas de edição de imagem não-lineares, suportes digitais, entre outros) utilizada na captura, processamento ou disseminação da informação. O “jornalismo digital”, também é chamado de “jornalismo multimídia” pelo fato de que pode fazer a manipulação conjunta de dados digitalizados de diferentes naturezas como, por exemplo, textos, sons e imagens.

Segundo a autora, há também o espectro chamado de “ciberjornalismo”, ou seja, o jornalismo realizado com o auxílio de possibilidades tecnológicas oferecidas pela cibernética ou jornalismo praticado no - ou com o auxílio do - “ciberespaço”. Esse espaço é compreendido por Levy (2000, p. 92) como “o espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial dos computadores e das memórias dos computadores”. Para Lemos (2000) o ciberespaço é uma entidade real, pois é constituída por um conjunto de redes de

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computadores interligados ou não em todo o planeta. Portanto, ciberespaço é um lugar hipotético ou imaginário no qual se encontram imersos pessoas que pertencem ao mundo da eletrônica, da informática.

Numa outra esfera está o “Jornalismo on-line” que segundo Mielniczuk (2003) é aquele desenvolvido utilizando tecnologias de transmissão de dados em tempo real posto que o termo on-line nos remete a ideia de tempo real, ou seja, de fluxo contínuo de informações e quase instantâneo. Ela ressalta ainda que as possibilidades de acesso a transferência de dados on-line utilizam-se, em sua maioria, de tecnologia digital, entretanto, nem tudo o que é digital é on-line.

Por fim, a autora apresenta o “Webjornalismo”, referindo-se ao jornalismo que faz uso de uma parte especifica da internet, a web, que disponibiliza interfaces gráficas de uma forma bastante amigável.

Observando a complementariedade entre as nomenclaturas anteriormente apresentados, Mielniczuk (2003) chama atenção para o fato de que uma não exclui a outra, mas, ao contrário, se enquadram de maneira dinâmica e concomitante perpassando as práticas e os produtos elaborados pelos jornalistas. Para esclarecer melhor cita como exemplo:

Na rotina de um jornalista contemporâneo, estão presentes atividades pertinentes a todas as nomenclaturas. Vejamos, pois, ao consultar o arquivo da empresa na qual trabalha, o profissional poderá assistir a uma reportagem em fita VHS (jornalismo eletrônico); usar o recurso do e-mail para comunicar-se com uma fonte ou mesmo com seu editor (jornalismo on-line), consultar a edição anual condensada - editada em CD-ROM – de um jornal (jornalismo digital); verificar dados armazenados no seu computador pessoal (ciberjornalismo); ler, em sites, noticiosos disponibilizados na web, material que outros veículos já produziram sobre o assunto (webjornalismo) (MIELNICZUK, 2003, p. 28)

Neste artigo tomaremos como nomenclatura adequada o webjornalismo, em concordância com Canavilhas (2003), que considera que a terminologia usada no jornalismo está de alguma forma relacionada ao suporte técnico, por isso justifica que, se para o jornalismo praticado na televisão use-se o termo “telejornalismo”, para o jornalismo praticado no rádio use-se o temo “rádiojornalismo”, para o jornalismo praticado de forma impressa em papel, use-se o temo “jornalismo impresso”; da mesma forma, para o jornalismo praticado na web, seguindo a mesma lógica, o termo mais acertado seria “webjornalismo”.

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ESTÁGIOS DE DESENVOLVIMENTO DO JORNALISMO NA WEB

Depois de duas décadas de jornalismo na web, ainda são muitas as propostas de desenvolvimento de produtos que se ajustem as configurações das plataformas on-line e também que satisfaçam as necessidades e expectativas do público. Ao longo deste processo de desenvolvimento esses produtos passaram por várias etapas categorizadas por diversos autores como Jonh Pavlik (2001), Silva Jr. (2002) e Palacios (2002) citados por Mielniczuk (2003, p.29) tomando como foco aspectos diferenciados de acordo com seus estudos. Jonh Pavlik (2001) faz uma categorização das fases do webjornalismo dando ênfase a produção de conteúdo. Silva Jr. (2002) traz como preocupação central a categorização a partir da questão da disseminação de informações jornalísticas nas redes digitais. Palacios (2002) e Mielniczuk (2003) sugerem uma classificação que resulta da adaptação das categorizações já feitas pelos dois primeiros autores, contudo, tomando como viés o formato de apresentação da notícia na

web.

Partindo dessas referências, percebemos que o webjornalismo e o seu desenvolvimento, tendo como foco o produto, pode ser classificado em quatro gerações cuja descrição faremos a seguir, antes, porém, é preciso salientar que na prática, segundo Mielniczuk (2003) elas podem ocorrer de forma dinâmica, concomitante e complementar.

Essas fases não são estanques no tempo, e nem são excludentes entre si, ou seja, em um mesmo período de tempo, podemos encontrar publicações jornalísticas para a web que se enquadram em diferentes gerações e, em uma mesma publicação, pode-se encontrar aspectos que remetem a estágios distintos. Cabe apontar que essa classificação diz respeito à trajetória do conjunto de experiências e não, à evolução individual dos webjornais. (MIELNICZUK, 2003, p. 31)

No webjornalismo de primeira geração os produtos oferecidos eram meras transposições das principais partes dos jornais impressos para a rede. A cada 24 horas o conteúdo era atualizado de acordo com a nova edição impressa. Nesse período não houve grandes alterações no formato e na diagramação dos jornais produzidos para a web. As empresas também não faziam esforços para explorar as características especificas do novo meio.

Na segunda geração do webjornalismo, mesmo com todas as facilidades advindas pelo desenvolvimento da estrutura técnica da internet, o modelo de jornal impressos ainda

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servia como referência para a elaboração das interfaces de novos produtos jornalísticos. No entanto, já era possível perceber a preocupação em explorar as características especificas oferecidas pela rede através do uso de links com chamadas para notícias de última hora; e-mil como canal de interação entre jornalista e leitor ou entre leitores; fóruns de debates e o uso mais elaborado do hipertexto. Apesar dos avanços apresentados nesta fase, verificamos que a vinculação ao modelo de jornal impresso estava associada a credibilidade e a rentabilidade que este produto agregava às empresas jornalísticas.

Com a crescente popularização do uso da internet e o surgimento de iniciativas empresariais e editoriais, na terceira geração, o cenário do webjornalismo começa a apresentar mudanças significativas. Esta fase é marcada pelo surgimento de sites jornalísticos que rompem com a ideia de uma versão na web atrelada ao modelo impresso. As possibilidades oferecidas pela web para elaboração de materiais de caráter noticioso passam a ser exploradas e aplicadas de maneira mais efetiva, de modo que os produtos jornalísticos começam a fazer uso de recursos multimídia (sons e imagens), recursos de interatividade (chats, enquetes, fóruns de discussões), configurações personalizadas, utilização do hipertexto e atualização contínua dos conteúdos.

Na quarta geração ocorre a efetiva industrialização dos processos jornalísticos para a web. De acordo com Schwingel (2005) o webjornalismo de quarta geração

[..] consolidaria a utilização de bancos de dados complexos (relacionais, voltados a objetos) através da utilização de ferramentas automatizadas e diferenciadas (sistemas para a apuração, a edição e a veiculação das informações) na produção de produtos jornalísticos. Tais ferramentas vinculariam diferentes plataformas (web, e-mail, wap) e distintos ambientes (web chats, fóruns), utilizando-se de tecnologias também diferenciadas (Twiki, PHP, Pearl, XML) de acordo com seus interesses e conveniências. (SCHWINGEL,2005, p. 11)

Devido a utilização de bancos de dados associados a sistemas automatizados para apuração, edição e veiculação de informações surge a possibilidade e a necessidade de correlacionar „dados‟. Segundo Colle (2002) citado por Schwingel (2005) “os meta-dados são meta-dados sobre outros meta-dados e se constituem em ferramentas que devem guiar os usuários tanto na consulta quanto na busca de novas informações sobre os mesmos e sobre o sistema em si”. Com o auxílio da internet e das linguagens de programação dinâmicas torna-se possível, nesta etapa, a identificação e a análitorna-se de informações dentro das próprias

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informações, bem como a geração de páginas diferenciadas de acordo com a solicitação dos usuários.

Diante do exposto, verifica-se que o processo evolutivo do jornalismo na web ocorre paralelo ao desenvolvimento das tecnologias digitais e surgimento da internet, uma vez que as empresas de comunicação são forçadas a adaptar suas práticas e produtos de formatos tradicionais ao novo cenário imposto pelas inovações tecnológicas, bem como criar soluções para não perder audiência.

WEBJORNALISMO, INTERAÇÃO E PARTICIPAÇÃO DO PÚBLICO

O termo interatividade tem sido discutido por diversos autores com maior intensidade, desde o surgimento da internet. Contudo, a definição de interatividade torna-se complicada por se tratar de um assunto bastante abrangente e aplicável em vários contextos. Enquanto alguns pesquisadores valorizam o enfoque da interface, relativo às trocas que ocorrem entre usuários de um sistema informático e a máquina, outros destacam a possibilidade de modificação imediata de conteúdo de um ambiente computacional por meio da participação do usuário e ainda há os que, destacam a ideia de bidirecionalidade, relativa à comunicação que ocorre entre indivíduos ou grupos nos dois sentidos.

Primo (2007) entende a interação (inter+ação) como a “ação entre” os participantes do encontro. Para ele a interação mediada por computador ocorre a partir da relação entre seus interagentes em dois níveis: interação reativa e a interação mútua. A primeira é limitada por relações estímulo resposta; já a segunda, vai além da ação de um e da reação de outro, apresentando um complexo de relações onde o comportamento de um interagente afeta diretamente o do outro e vice-versa, ocasionando transformações sucessivas.

Thompson (1998, p.78) afirma que as interações mediadas “implicam o uso de um meio técnico (papel, fios elétricos, ondas eletromagnéticas, etc.) que possibilita a transmissão de informação e conteúdo simbólico para indivíduos situados remotamente no espaço, no tempo, ou em ambos”. Afirma que os indivíduos agem dentro de um conjunto de circunstâncias que lhes proporcionam diversas inclinações e oportunidades, ao que ele chama de “campo de interação”.

Rodríguez (2005) citado por Savi (2007, p. 43), foca a interatividade dentro do contexto do webjornalismo e classifica o grau de interatividade de acordo com o nível de participação do usuário, a saber: na interatividade de leitura ou navegação, o usuário escolhe o

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que ver; na interatividade de resposta limitada, a interatividade se restringe a oferecer ao usuário um conjunto pré-definido de opções; na interatividade criativa condicionada, é onde o usuário pode ter uma participação criativa, acrescentar novos conteúdos ou alterar os existentes, mas de maneira limitada e condicionada a uma série de temas, pautas, e regras propostas pelo autor; e a interatividade criativa aberta, quando o usuário pode criar conteúdos originais, propor temas e alterar conteúdos existentes livremente, sendo que todo conteúdo gerado fica aberto à participação de qualquer usuário.

Tomando como referência as concepções de interatividade apresentadas por Primo (2007) e Thompson (1998), bem como os níveis de participação elencados por Rodríguez (2005) apud Savi (2007) vamos agora estabelecer um panorama da participação do público nas diversas fases do desenvolvimento do webjornalismo tomando como base webjornais de referência.

É importante ressaltar que a tipologia que será apresentada não tem a pretensão de ser conclusiva, apenas contribuir para a análise da evolução da interatividade do webjornalismo entre mediadores e público, haja visto que sites jornalísticos podem apresentar características de uma ou mais fases.

Segundo Quadros (2005) a interação entre mediadores (jornalista) e público (usuário) pode ser definida de acordo com a evolução dos webjornais. A autora propõe uma classificação, que demonstra de forma ascendente a evolução dos níveis que esta participação proporciona aos usuários no webjornalismo.

Para a autora, na primeira fase a interatividade é mais uma promessa do que uma realidade, já que o usuário envia e-mail à redação digital e muitas vezes não obtém resposta, quando muito, depois de editado, o conteúdo do seu e-mail passa a ser disponibilizado no espaço destinado aos leitores de maneira semelhante ao que ocorria nas seções de cartas dos jornais impressos.

Na segunda fase a autora afirma que as possibilidades do usuário são ampliadas, ainda que de forma incipiente, pelo uso do hipertexto que já permite, por exemplo, enviar e receber e-mail diretamente para o jornalista. São ofertadas também possibilidades de escolhas através de formulários estanques.

Na terceira fase é proposta ao usuário a oportunidade de interagir através de conversas esporádicas com pessoas famosas ou com os próprios jornalistas, sendo que a intenção do mediador é apenas atrair a atenção dos usuários sem a preocupação de fomentar o espírito crítico neles.

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Numa quarta fase, abre-se a possibilidade para que o usuário possa enviar comentários sobre os assuntos em pauta, mas embora não haja comunicação entre o mediador e o usuário, o responsável por determinada matéria pode ou não fazer citação de alguma mensagem que chame sua atenção ou desperte o seu interesse.

Na quinta fase o mediador permite que o público produza matérias com o seu apoio e também disponibilize conteúdos audiovisuais. Dessa experiência embora os usuários não tenham consciência de suas responsabilidades, surgem resultados inesperados que variam de matérias críticas e construtivas a ações de vandalismo.

Na sexta e última etapa, a classificação proposta por Quadros (2005) evidencia um patamar difícil de ser atingido, nele ocorre uma inversão de papéis entre emissor e receptor a fim de construir um discurso de modo interativo.

A ação do mediador que surge a partir da terceira fase proposta pela autora, constitui-se importante para a análise que pretendemos desenvolver neste texto, isso porque o nível de interação entre mediador e o público vai depender, em grande parte, do perfil jornalístico de cada empresa6.

Na maioria dos canais disponíveis para a participação do público nos webjornais de referência, o nível de interatividade obtido chega, no máximo, à quinta fase proposta pela autora, quando os usuários ganham o direito de disponibilizar conteúdos audiovisuais. Mesmo assim, as contribuições remetidas por eles passam por um processo de seleção realizado por profissionais (jornalistas, editores ou outros colaboradores) das empresas jornalísticas, que podem modificar o material enviado pelos usuários, ou até, impedir sua publicação.

Diante das análises apresentadas, podemos observar que mesmo quando se trata de jornalismo praticado na web, o nível de interação e de autonomia dos usuários varia conforme a abertura dos sites ou canais. Seus produtos e formatos possibilitam uma sensação de participação que na verdade servem apenas para manter a audiência e ao mesmo tempo usá-la como fonte de informação. De acordo com Primo e Träsel (2006, p.11) “o controle sobre o conteúdo da página e seus múltiplos caminhos alternativos permanecem em poder de um redator, programador ou equipe, que detém a senha de acesso a esses arquivos e ao próprio servidor. ”

6 Neste aspecto a autora utilizou como exemplo o Jornal o Northwestvoice que pode ser acessado na URL http://www.northwestvoice.com/.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Devemos reconhecer que o modelo plural de comunicar na Internet possibilitou uma participação mais efetiva do público que anteriormente era visto como passivo. É visível que essa nova modalidade comunicacional introduziu mudanças na forma como o público se relaciona com os veículos de comunicação e com os jornalistas, uma vez que ele se torna um potencial produtor de informações noticiosas. O jornalismo praticado na web colocou à disposição dos usuários ferramentas gratuitas e simples de usar que facilitam a criação, publicação e transmissão de conteúdos. Mas, é preciso refletir sobre as motivações que levam as empresas jornalísticas a investir de forma mais efetiva nas propostas de interação com os usuários. Primo e Träsel (2006) apontam a dimensão publicitária como um fator responsável por influenciar as decisões de diferentes veículos quando o assunto é participação.

Revela-se, portanto, uma postura estratégica que busca ampliar o público-consumidor, e diante disso, criar novos espaços publicitários. Com maior envolvimento do internauta com o noticiário, incrementa-se seu tempo de contato com a interface do periódico e seu retorno ao site. Sem a relação contratual de assinatura, tradicional no jornalismo impresso, a empresa jornalística reconhece nos espaços de intervenção um novo e rentável produto. Ou seja, havendo demanda crescente e recorrente a essas páginas, elas ganham importante valor de venda a anunciantes, interessados em posicionar suas mensagens publicitárias em espaços de trânsito intenso. Eis a faceta comercial de práticas de webjornalismo participativo. Maior envolvimento com a notícia, maior valor de venda desses espaços. (PRIMO; TRÄSEL, 2006, p.13).

A informação é encarada como negócio pelos empresários de comunicação desde o início do século XIX, mas o acelerado desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação aliado a fatores econômicos desencadearam uma reprogramação das práticas jornalísticas do XX. Com isso, os empresários dos meios de comunicação tradicionais e as suas versões digitais além voltarem suas preocupações com o lucro, tiveram que também voltar a se preocupar com a reconquista e/ou ampliação do seu público. Passaram a olhar com mais acuidade para as mudanças em seu entorno, buscando adaptar e até criar algumas ideias que atraíssem os usuários.

Embora os espaços criados para receber a participação dos usuários tenham se multiplicado nos webjornais nas últimas décadas, a preocupação deles com o público pode ser resumida em um interesse central: o lucro. Um exemplo claro é quando as informações e

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flagrantes aos quais as redações dificilmente teriam acesso agora são enviadas pelo público em poucos minutos e aproveitadas pelas empresas jornalísticas.

Na realidade poucos webjornais de referência interagem de forma mútua com o usuário, pois as ações ditas como interativas por muitos desses meios não passam de uma estratégia mercadológica que tem como objetivo chamar atenção e evitar uma possível migração de sua audiência para blogs ou outras experimentações interativas na rede mundial de computadores.

Apesar das mudanças que ocorreram no jornalismo praticado na web, a imprensa digital tradicional não sofreu modificações radicais, é possível verificar a mão forte de um editor filtrando as informações que ele julga ser relevante para seu público e que não vá de encontro com os interesses da empresa o qual ele pertence. Ao usuário fica esta falsa sensação de participação, quando na prática percebe-se a sua contribuição apenas como fonte de informação.

As análises apresentadas neste texto serviram como aportes teóricos para pensar as possibilidades de participação/interação do público nos webjornais de referência ao longo das suas fases de desenvolvimento através do estudo dos produtos e formatos por eles oferecidos.

REFERÊNCIAS

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Referências

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