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44 ENCONTRO ANUAL DA ANPOCS. GT35 - Relações raciais: desigualdades, identidades e políticas públicas

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44° ENCONTRO ANUAL DA ANPOCS

GT35 - Relações raciais: desigualdades, identidades e políticas

públicas

Dinâmicas contra-hegemônicas: o papel dos cursos

preparatórios como estratégia de acesso das corporalidades

negras à pós-graduação.

Renata Nascimento da Silva UERJ

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Dinâmicas contra-hegemônicas: o papel dos cursos preparatórios como estratégia de acesso das corporalidades negras à pós-graduação.

Renata Nascimento da Silva

Resumo:

O presente artigo tem por escopo refletir sobre o papel dos os cursos preparatórios como estratégias contra-hegemônicas dentro das universidades públicas que tensionam a meritocracia. As práticas racistas no Brasil possuem diversas formas de atuação que nem sempre são perceptíveis, o que não implica dizer que tais experiências não existam. Dados sociais revelam que miséria, fome, analfabetismo e violência têm a cor da pele negra. A relação intrínseca entre pobreza e pele negra é a marca do racismo que, por trás da suposta garantia de universalidade e igualdade das leis, leva ao extermínio a população negra. O acesso à educação se torna, assim, mais uma fronteira dentro deste debate, que envolve mobilidade social e instrução formal, mas também o processo de constituição desses indivíduos enquanto sujeitos e o direito de narrar e investigar sua história ancestralidade.

I. Introdução

Nos últimos anos temos acompanhado políticas públicas e ações sociais que tornam o acesso à pós-graduação mais inclusivo. Desde 2017, um ano após a publicação da portaria que regulamenta a políticas de cotas na modalidade, vêm surgindo prática ações colaborativas no formato de cursos preparatórios, tal qual os pré-vestibulares comunitários. . São iniciativas criadas por coletivos negros ou apoiados por instituições de ensino superior como modo de auxiliar a entrada de minorias no mestrado ou no doutorado.

Segundo Sodré (2015), na contemporaneidade, grupos minoritários são aqueles que lutam contra os dispositivos hegemônicos. Por sua vez, entende-se como dispositivo ações concretas e/ou virtuais que estabelecem uma rede em que se inscreve sempre uma relação de poder (AGAMBEM, 2009). A luta dessas chamadas minorias, especificamente das populações afrodiaspóricas, por participação nas instâncias de poder não se trata apenas de uma inversão de valores do Norte pelos do Sul (SANTOS, 2019), mas da possibilidade de pensar a partir da diversidade, da inclusão e das diferenças. Para tanto, precisamos compreender que a luta contra-hegemônica passa pelo entendimento de que o sistema racista contemporâneo está ligado ao viés político e educacional. A

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reivindicação de uma produção de conhecimento mais inclusiva dentro da academia acontece no momento em que abandonamos as noções euroamericanas – combater as reações racistas mais do que enfrentar suas estruturas políticas e históricas (ARAUJO E MAESO, 2019) – de que o racismo é uma questão de bagagem intelectual, ou seja, de “falta de educação”.

Tal perspectiva faz com que se separe a questão racial das formas rotineiras de governabilidade (ARAUJO E MAESO, 2019), o que acaba por proteger/reproduzir o privilégio branco (legislação, ideal meritocrático, narrativas eurocêntricas e política internacional). O entendimento do racismo como um sistema de poder histórico, político e econômico presente na sociedade e, consequentemente, nas instituições sociais, possibilita o reconhecimento desta luta dentro da academia. Visto que a universidade representa uma instituição social outorgada pelo Estado, a ideia de que “somos todos iguais” e/ou “aqui não há racismo”, acaba por mostrar que o racismo brasileiro apresenta peculiaridades, dentre elas, “um preconceito de ter preconceito” que pautado sobre o mito da democracia racial mascara uma sociedade cujo passado escravagista reverbera até hoje nas estruturas institucionais e na cultura.

Desse modo, ao aprofundarmos a discursão teórica sobre raça e racismo visamos desconstruir um paradigma euroamericano que estigmatiza os atos racistas como individuais e não como fruto de algo sistêmico presente nos processos de relações de poder que atravessam a educação desde do nível básico, da creche, até o ensino superior que vão desde o acesso, permanência e conclusão

Assim, o artigo pretende problematizar alguns apontamentos sobre a ampliação de ações criadas por coletivos estudantis para o ingresso de candidatos negros na pós-graduação. Elas auxiliam os candidatos na elaboração do projeto, construção de currículo e orientação para entrevista. Ao promover tal política, os movimentos sociais questionam o conceito de meritocracia, contrariando uma noção de igualdade/isonomia que não condiz com a realidade social brasileira, visto que as desigualdades decorrem de fatos históricos e dispositivos estruturais de controle. A construção metodológica se deu a partir de observação participante, entrevistas, mapeamento (levantamento) dos cursos preparatórios criados por coletivos (ou não) ao longo de 2019.

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II. Mapeamento das redes dos preparatórios nas universidades públicas

Howard S.Becker (2010), ao descrever seu cotidiano em São Francisco, aponta que os elementos que vão fazem parte dessa narração dependem do interlocutor que está tentando conversar/convencer. Por meio disso, Becker (2010) traça os objetos, ações e sujeitos que vão constituir seu diálogo. A descrição visual das ruas, os vizinhos, os pontos de referência e de distribuição no espaço tornam-se um mapa parcial do que se quer explicar, dos elementos em torno daquele espaço e das pessoas que convivem naquela rua, formando assim uma rede de pessoas e de organizações que definem os objetos a que a descrição deverá atender.

Diante disso, é possível considerar “redes” como uma série heterogênea composta de elementos humanos e não humanos que estão em conexão (LATOUR, 2012). Para Bruno Latour (2012, p. 23), as “redes sociotécnicas” não se referem à uma única coisa, mas sim à um conjunto de relações, um modo de funcionamento, uma maneira de abordar, observar, de entender os fenômenos.

Nesse sentido, Latour (2012) aponta que as “redes sociotécnicas” consistem em elementos em conexão, sejam estes sujeitos/pessoas e/ou coisas que estabelecem determinadas configurações: instituições públicas, políticas públicas, processos seletivos, alunos e ex-alunos, ações governamentais, discurso meritocrático, racismo institucional, entre outros. Esses arranjos entre sujeitos, objetos técnicos e ações originam a rede dos cursos preparatórios para pós-graduação no Brasil. .

A ações educacionais voltadas para a inserção de sujeitos negros e outras minorias sociais (SODRÉ, 2015) no ensino superior, não é algo novo no Brasil. Conhecidos como cursinhos pré-vestibular tal dispositivo data dos anos 90 (Silva, 2012) e foram atividades articuladas pelos movimentos negros dentro e fora das instituições de ensino. Eles refletem, desde sua concepção, a luta pela educação dos sujeitos negros. Conforme Sueli Carneiro (2005), a educação é o único meio seguro para mobilidade social da população negra.

O sistema educacional, desde o escravismo até os dias de hoje, mostra que a inserção da população negra não ocorre somente pelas políticas públicas, mas também pela comunidade negra que, organizada, constrói estratégias para superar as desigualdades sociais, econômicas, políticas e geográficas. As estratégias para reverter essa disparidade estrutural nos levam a examinar os registros desses cursos preparatórios, e demais ações de coletivos negros, que começaram para auxiliar adolescentes negros a

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ingressarem na graduação e hoje atuam na condução de mestres e doutores nos programas de pós-graduação.

2.1 – Histórico dos cursos preparatórios

Em 2013, o Ministro da Educação através da Portaria n° 1.129 de 17 de novembro de 2013, criou o Programa de Desenvolvimento Acadêmico Abdias Nascimento, cujo objetivo era o de capacitar estudantes autodeclarados pretos, pardos, indígenas e estudantes com deficiência para o ingresso em universidades, instituições de educação profissional e tecnológica e centros de pesquisa no Brasil e no exterior. O programa estava dividido em sete modalidades visando promover, por meio de bolsas de estudos, pesquisas e trabalhos, a igualdade racial, visando combater o racismo e auxiliar na difusão do conhecimento da História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena. Visava ainda ampliar a participação e a mobilidade internacional de estudantes pretos, pardos, indígenas e deficientes visando criar oportunidades de cooperação entre grupos de pesquisa brasileiros e estrangeiros em centros de ensino e universidades.

No contexto deste programa, o edital SESU/SECADI n° 01/2014 que trazia as diretrizes para seleção de instituições de educação de ensino superior que desejam ingressar na formação pré-acadêmica de acesso à pós-graduação, apresentou o resultado das Universidades que foram selecionadas para receber os recursos. Foram 24 (vinte quatro) universidades, além dei institutos federais e Fundação Universidade que receberam esse apoio de construir uma pré-formação para entrada de minorias políticas nos cursos de mestrados e doutorados antes da criação da portaria n° 13, de maio de 2016 que implementa as ações afirmativas na Pós-graduação.

No entanto, nota-se que antes do programa Abdias do Nascimento entrar em vigor, tais ações já existiam com apoio institucional e/ou organizadas por movimentos sociais. O projeto Observatório de Favelas e a Redes de Desenvolvimento da Maré1 e o curso preparatório para candidatos negros à Pós-Graduação2. Os dois cursos são ações que antecedem o programa do governo federal. O Curso do Observatório de Favelas e Redes de Desenvolvimento da Maré, datada de 2012, é uma inciativa oriunda de moradores e

1 Dados disponíveis no site https://www.yumpu.com/pt/document/read/38820461/preparando-para-o-futuro-e-novos-saberes-incentivam-ingresso-de- Acesso em 16 de novembro de 2020

2 Informação disponível no site: http://www.palmares.gov.br/?p=26232 Acesso em 16 de novembro de

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ex-moradores que chegaram ao ensino superior. No entanto, o projeto conta com apoio de empresas privadas e internacionais para construção de bibliotecas e disponibilidade de material para os alunos. O curso da UnB conta com apoio institucional e é financiado pelas Fundações Ford e Carlos Chagas. Essas iniciativas demostram que ações de colaborações não são recentes, o movimento estudantil, a sociedade civil e até instituições atentavam-se para pouca presença de negros e negras nos cursos de mestrado e doutorando criando a necessidade de criar/elaborar projetos que auxiliassem no ingresso desses sujeitos.

2.2 – Levantamento dos cursos preparatórios

Em um levantamento feito em redes sociais durante os anos de 2019 e 2020, seguindo as conexões necessárias para o entendimento da estrutura dos cursos preparatórios por coletivos sociais, buscamos, em um primeiro momento, /coletar dados de cursos preparatórios que utilizaram esses sites como plataformas de divulgação e organização. Após essa fase preliminar, separamos os dados em 11 (onze) tipos de filtros a fim de computarmos os cursos por Estado, público-alvo, área de conhecimento, tipo de curso (mestrado ou doutorado), apoio ou vínculo institucional, organizador (coletivo ou não), ano, metodologia do curso, periodicidade das aulas e divulgação das redes sociais. Numa primeira coleta, sem discriminação do ano de lançamento/data de início, foram encontrados 60 (sessenta) cursos preparatórios espalhados por todo o Brasil. Esses dados foram separados por anos dentro de um recorte que abrange os anos de 2017, pós portaria n° 13, de maio de 20163 sobre cotas na pós-graduação, 2018, 2019 e 2020. Para

este trabalho, escolhemos apenas os cursos preparatórios cujo público-alvo são alunos negros, organizados por coletivos negros e referentes ao ano de 2019 - pelo fato de suas ações já estarem concluídas.

Conforme a pesquisa, foram encontrados 22 (vinte e dois) cursos preparatórios no Brasil no ano de 2019. O Estado do Rio de Janeiro concentra as principais ações preparatórias4, tanto para mestrado como para doutorado. Após o Rio de Janeiro,

3 Informações disponíveis em:

https://www.in.gov.br/materia/- /asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/21520493/do1-2016-05-12-portaria-normativa-n-13-de-11-de-maio-de-2016-21520473 Acesso: 16 de novembro de 2020

4 Cabe ressaltar que o mapeamento foi realizado por meio de redes sociais. Devemos levar em consideração

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observamos o Estado de Minas Gerais e o Paraná como os Estados com a segunda maior presença de cursos preparatórios. Conforme gráfico abaixo:

Figura 1: Cursos Preparatórios por Estado

Fonte: Gráfico do autor

Ressaltamos que os dados apresentados se referem à uma coleta de informação baseada em cursos que divulgaram suas ações nas plataformas digitais. Os cursos preparatórios de 2019 representam a consolidação de três anos da portaria sobre cotas elaborada pelo MEC.

Segundo Venturini (2018), após a portaria n° 13/2016, os programas de pós-graduação passaram a criar ações/políticas em cumprimento a resolução do Ministério da Educação da portaria do ue determinava a adoção da norma por todos os programas da universidade. No caso dos cursos de graduação, alunos oriundos de rede pública e os que se declaram pretos, pardos e indígenas são os maiores beneficiários da política. Já na pós-graduação, a política privilegiou principalmente a população negra, independentemente do nível socioeconômico. Conforme Anna Venturini, as instituições ofereceram medidas para candidatos pardos, indígenas e com deficiência, mas também para quilombolas, transexuais e travestis. Ou seja, a política em favor das minorias expandiu-se na pós-graduação.

Nota-se que os principais alvos das políticas públicas e de ações como os cursos preparatórios eram estudantes pretos, pardos e indígenas, o que aponta uma diferença entre os primeiros cursinhos pré-vestibulares e os cursos preparatórios. Tal percepção é verificada no tratamento dos dados dos cursos preparatórios que buscam reunir não só estudantes oriundos de classes sociais socioeconômicas vulneráveis, como também, pessoas trans e travestis. Apesar de serem em sua maioria organizações oriundas de

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coletivos negros, destacamos que quase todos visam incluir outras minorias nesse processo de entrada no ensino superior.

Por meio desse levantamento inicial, contabilizamos nove coletivos negros. Consideramos aqueles que se autodenominam e entendem que são organizações autogeridas, descentralizadas que possuem uma finalidade específica, sendo eles: “Coletivo Negro da UFRJ”; “Coletivo Negro da UFF”; “estudantes negros do PPGH e integrantes do Coletivo de Estudantes Negros da UFF”; “Coletivo Negro Marlene Cunha”; “Coletivo Negro Guerreiro Ramos; GETEQ/UFS; NEAB/UFS/Coletivo de Estudantes Negras/OS; Beatriz Nascimento/UFS” e “Coletivo UnB”.

Na tabela, abaixo, nota-se articulação entre os coletivos negros e o envolvimento de outras minorias como público-alvo dos cursos preparatórios:

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Figura 2 - Tabela cursos preparatórios 2019

Fonte 1 - Tabela do Autor

CURSO RESPRESENTAÇÕES

MINORITÁRIAS ORGANIZADOR

Preparatório para Mestrado e

Doutorado do PPGCOM/UFRJ negras, trans e indígenas Coletivo Negro da UFRJ Preparatório para Mestrado e

Doutorado do PPGCOM/UFF negras, trans e indígenas Coletivo Negro da UFF Curso Preparatório para seleção

de mestrado (Psicologia/UFF - 2019) mestrado Psi UFF

negras, trans, indígenas, travesti, transgênero e com deficiência

alunes e ex-alunes da graduação e pós-graduação.

Preparatório para o Programa de pós-graduação em História da

UFF negras, trans e indígenas

estudantes negros do PPGH e integrantes do Coletivo de Estudades Negros da UFF

Curso preparatório para Candidates Negres ao Mestrado e Doutorado do Museu Nacional

negros Coletivo Negro Marlene Cunha

Preparatório Mestrado

PPCULT/UFF afro-pindiramicos Organizador Instituto Hoju // GMATER O grupo de estudos Orientação

Afirmativa

candidatos autodeclarados negros

A iniciativa é fruto do voluntariado de discentes do programa – Pâmela Guimarães, Mayra Bernardes e Lucianna Furtado – e não consiste em uma ação institucional.

Curso Preparatório Mestrxs

Pretxs negros Tarcizío, Taís Oliveira, Marcus Vinicius Bomfim e Lina Moreira

Curso de Preparação para Negros

negros Coletivo Negro Guerreiro Ramos

CURSO PREPARATÓRIO PARA PESSOAS NEGRAS: SELEÇÃO DE MESTRADO DO IPPUR-UFRJ

negros Alunos da instuição

CURSO PREPARATÓRIO PARA SELEÇÃO PÓS GRADUAÇÃO

Exclusivamente Cotistas, Negras/os (pretas/os e pardas/os), indígenas e

quilombolas.

GETEQ/UFS; NEAB/UFS/Coletivo de Estudantes Negras/OS; Beatriz Nascimento/UFS

Curso preparatório para candidatos negros à Pós-Graduação

negros Coletivo negro

Tutorias para programas de

pós-graduação Candidatos negros alunos negros da instuição Tutoria de Projeto em Artes 2020

sem especificação alunos da turma de 2019 de arte

Por dentro das Leituras

negras e negros, indígenas, LGBTQIA+, pessoas com deficiência e em vulnerabilidade social

Representação Discente do Programa de Pós-Graduação Comunicação Cultura e Amazônia (PPGCOM) da Universidade Federal do Pará.

Pesquisa Científica - Preparatório para Pós-graduação (Stricto Sensu ou Lato Sensu)

Servidores técnico-administrativos da UFRJ de todos os ambientes

organizacionais

Institucional

Integra Mestrado: Oficinas preparatórias gratuitas para o processo seletivo 2020

Sem especificação Ex-alunos e alunos da instituição

PREPARATÓRIO DE MESTRADO E DOUTORADO PARA NEGRAS E NEGROS NO IMS/UERJ

negras, trans e indígenas Coletivo Negro Makota Valdina

3° CURSO PREPARATÓRIO PARA PESSOAS NEGRAS: SELEÇÃO DE MESTRADO DO IESP-UERJ 2019 - TURMAS 2020 ::

Pessoas negras Coletivo Negro do IESP Marielle Franco

Curso de Formação Pré Acadêmica: Afirmação na Pós (Pré-Pós)

Pessoas negras; indígena; quilombola; pessoa com deficiência; travestis, transexuais e/ou comunidade LGBTI;

migrantes humanitário

Superintendência de Inclusão, Políticas Afirmativas e Diversidade (SIPAD) e o Núcleo de Estudos

Afro-Brasileiros (NEAB) da Universidade Federal do Paraná cursos de pós-graduação da

Fundação Lemann

pessoas de baixa renda, negros,

pardos e indígenas, preferencialmente. Fundação Lemann AFIRMAÇÃO NA

PÓS-GRADUAÇÃO: CURSO PREPARATÓRIO DE NEGRAS E

NEGROS.

negros e negras

Instituto de Educação da UFMT, campus Cuiabá. Núcleo de Estudos e Pesquisas Sobre Relações Raciais e

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Apesar dos cursos serem ações de coletivos, alguns recebem apoio institucional como a possibilidade de usar/reservar? as salas da universidade em horários noturnos para as aulas. Outros são criados em parceria com a instituição. Além disso, também observamos cursos criados por fundações privadas e iniciativas criadas por pessoas físicas sem vínculo oficial com coletivos e/ou com instituições de ensino superior.

Os cursos criados pelos coletivos possuem aulas ministradas por ex-alunos que passaram pelo processo seletivo e que desejam compartilhar a experiência com os novos candidatos e/ou participar tanto na organização como também ministrando aulas. Além de ex-alunos, percebemos a presença de alunos (de mestrado ou doutorado) da instituição partilhando os saberes e também pós-doutores. As aulas de uma forma geral acontecem no período noturno e podem ser semanais (um encontro por semana) e/ou quinzenais, tudo depende da metodologia oferecida pelo preparatório.

Alguns preparatórios oferecem apenas aulas sobre a bibliografia solicitada no edital, outros buscam acompanhar os candidatos em todos os passos: lendo e disponibilizando os textos do edital, por meio digital, explicando as linhas de pesquisas do programa, auxiliando na elaboração do projeto e passando dicas de entrevistas. Sendo assim, a periodicidade do curso está ligada diretamente à metodologia escolhida por cada coletivo.

Observamos que determinados cursos oferecem aulas de yoga, meditação e minicursos intitulados “Como ser mais produtivo em estudos acadêmicos, gestão do tempo e afins5”. De certa forma, nota-se uma necessidade de criar um espaço que não seja apenas a partilha de técnicas, mas também de experiência, afeto e ações políticas. Conforme fala de um voluntário do curso “Preparatório para Mestrado e Doutorado do PPGCOM/UFF”: “(...) a importância do curso não é uma questão de domínio da técnica, mas uma ação política” (voluntário do preparatório da Universidade Federal Fluminense - UFF, 2019). Existe uma necessidade entre os voluntários de alguns cursos, de que aquele espaço não é somente para “(...) ensinar a escrever (...)”, mas um lugar de trocar e de partilhar, e que os candidatos voltem ao curso para compartilhar e multiplicar os saberes e, principalmente, as experiências de pós-graduação.

Por meio do acompanhamento dos cursos preparatórios fica evidente que a experiência é a linha mestre de construção das aulas e da troca entre candidatos e

5 Trecho extraído da página do coletivo que divulga o curso preparatório para mestrado e doutorado do

PPGCOM/UFRJ. Disponível

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voluntários. A troca de experiência que vai desde a construção do projeto – determinados cursos criaram um drive com os projetos dos voluntários para que os candidatos possam acessar e ver como foram os pré-projetos de seleção – passando pela história de seleção (banca, prova e relação de professor) e até a vida acadêmica é algo comum aos cursos que foram acompanhados para a produção desse artigo.

A elaboração desse comum, verificado nos cursos, como afirmou Costa (2018), nada tem a ver com “algo em comum”, mas uma espécie de compartilhamento de experiências construídas que precedem a linguagem e o sentido que está ligado ao afeto que organiza a partilha da existência social. Assim, para Sodré (2017), a comunicação social pode ser entendida como um diálogo não “entre” formações estanques que se pretendem a verdade, mas a lógica do trans – “através do limites do sentido” (SODRÉ, 2017, p. 22-23) – que produz uma realidade a partir de vinculações sociais, por meio de relações de pessoas e coisas que abrem caminho para novos termos das disputas de sentido.

Diante disso, os cursos preparatórios são fenômenos sociais oriundos de uma rede de cooperação que constrói processos de vinculação social por meio da partilha de experiência/afeto entre os candidatos e voluntários. Isso constrói estratégias de inclusão das minorias na pós-graduação que tensiona a meritocracia moderna que reforça a oposição entre individualismo e coletivo e; razão e corpo. Além da dicotomia entre mérito e políticas públicas.

Existem algumas definições de políticas públicas, mas neste artigo optamos por utilizar a definição de Marques (2013, p. 24), como “(...) um conjunto de ações implementadas pelo Estado e pelas autoridades governamentais em um sentido amplo.” Assim, para que possamos identificar a presença de políticas públicas, conforme Venturini (2017), é necessário que o Estado reivindique a totalidade ou parte da tarefa de ações consideradas importantes ou fundamentais para realizações de objetivos socialmente relevantes para mudanças no mundo real.

Sendo assim, pode-se dizer que as ações afirmativas são políticas públicas que contêm diversas modalidades, visando ações de reparação. Entre elas, o sistema de cotas que é uma ação dentro das ações afirmativas que consiste em destinar um determinado

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número de vagas para candidatos em situação de desigualdade, como indígenas, negros, portadores de deficiência, mulheres6.

De acordo com Martins (2018), o movimento/discussões a respeito das políticas públicas convida à reflexão acerca das desigualdades sociais, econômicas, políticas, de gênero e raciais. A discussão exige um posicionamento nas diferenças entre os sujeitos e uma ação do Estado no combate à desigualdade. O advento das cotas, portanto, representa um avanço em torno das políticas públicas, da desigualdade e da lógica meritocrática. Contudo, o argumento da meritocracia é forte no meio acadêmico em relação as ações afirmativas para pós-graduação pelo fato desse ambiente ser visto como espaço de excelência que só os mais qualificados podem ingressar (VENTURINI, 2019).

Para além da academia, nota-se que a lógica meritocrática foi utilizada como argumento para refutar a importância das cotas na sociedade civil (MARTINS, 2018). De acordo com a opinião pública (incluindo a imprensa), as cotas acabam sendo o elemento que promove a desigualdade entre os sujeitos. Diferente desta percepção da sociedade civil/senso comum, esse desequilíbrio/injustiça não reside em supostas vantagens adquiridas pelos optantes das ações afirmativas ao “contornarem/subverterem” a meritocracia, muito pelo contrário.

Além disso, entendemos que a relação entre políticas de cotas e meritocracia não se encontra somente no discurso, mas no sistema meritocrático em si. As ações afirmativas são organizadas e geridas pelos critérios de mérito que hierarquizam os sujeitos a partir de suas capacidades técnicas.

A meritocracia normatiza a lógica moderna da educação superior em que o domínio da razão, da individualidade e a exaltação da técnica são os critérios universais de qualificação e excelência. Sabe-se que a construção do saber/razão ocidental moderna buscou aliar o conhecimento ao próprio desejo de dominação. Segundo Boaventura de Souza Santos (2009), o empreendimento colônia em seu processo de poder, de afirmação da visão civilizatória ocidental e da categoria da racialidade utilizou-se da violência genocida e da violência epistemológica em seu processo de dominação.

A expansão do processo colonial sobre o corpo dos sujeitos ancorou-se na desqualificação do conhecimento de povos subjugados, na anulação das suas culturas e de seus saberes. Esse cenário persiste até hoje no acesso a educação e na afirmação (e

6 Informações extraídas do site do Governo do Brasil. Disponível em: https://www.in.gov.br/materia/- /asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/21520493/do1-2016-05-12-portaria-normativa-n-13-de-11-de-maio-de-2016-21520473 Acesso: 06/11/2020

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negação) desses sujeitos como “qualificados” e “excelentes”, conforme os critérios meritocráticos.

Para Carneiro (2005),

(...) o epistemicídio é, para além da anulação e desqualificação do conhecimento dos povos subjugados, um processo persistente de produção da indigência cultural: pela negação ao acesso à educação, sobretudo de qualidade; pela produção da inferiorização intelectual; pelos diferentes mecanismos de deslegitimação do negro como portador e produtor de conhecimento e de rebaixamento da capacidade cognitiva pela carência material e/ou pelo comprometimento da autoestima pelos processos de discriminação correntes no processo educativo. Isto porque não é possível desqualificar as formas de conhecimento dos povos dominados sem desqualificá-los também, individual e coletivamente, como sujeitos cognoscentes. E, ao fazê-lo, destitui-lhe a razão, a condição para alcançar o conhecimento `legítimo´ ou legitimado. Por isso o epistemicídio fere de morte a racionalidade do subjugado ou a sequestra, mutila a capacidade de aprender etc. (CARNEIRO, 2005, p. 97)

Logo, concluímos que as políticas de cotas não vão contra a lógica meritocrática, ao contrário, elas tentam enquadrar as minorias dentro do sistema. Assim, a adesão dos programas de pós-graduação às cotas não resultaria em uma redução da excelência do ensino e das pesquisas. Essa afirmação resulta do grande aumento de alunos negros, estudantes da rede pública e outras minorias nas universidades públicas. Neste contexto, as ações afirmativas para pós-graduação apresentam uma continuidade ao pensamento ocidental hegemônico, pois os pleiteantes as reservas de vagas raciais disputam entre si dentro dos critérios meritocráticos organizados pelas instituições. Não seria errado dizer que as minorias precisam “encaixar-se” nas diretrizes dos programas e isso torna-se evidente nos relatos presentes nos cursos preparatórios.

Sendo assim, o objeto empírico para tal reflexão serão duas inciativas de cursos preparatórios criados por coletivos negros do estado do Rio de Janeiro, gratuitos, e da área de comunicação social: Preparatório para Mestrado e Doutorado do PPGCOM/UFRJ e Preparatório para Mestrado e Doutorado do PPGCOM/UFF.

III. Os PPGCOM e os coletivos: a construção de redes de cooperação entre alunos e voluntários.

Nos últimos anos, as universidades foram convidadas a abrir suas portas para negros, indígenas e pessoas trans por meio da política de cotas que trouxe uma ampliação

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desses sujeitos dentro da academia. A chegada das minorias tornou a academia mais heterogênea e diversificada. Novas pesquisas foram realizadas, o antes observado tornou-se pesquisador. Aquilo que era objeto de estudo passou a tornou-ser questionado por meio de outras epistemologias. Neste sentido, as cotas buscam corrigir a invisibilidade das populações indígenas e negras dentro da universidade.

A crescente presença das “minorias” neste ambiente é uma forma de começar a pensar pela “potencialidade e pela possibilidade de um ‘e’ (...)” (HALL, 2013, p. 383), o que significa que o “nosso” pensamento precisa se articular com “o outro”. Essa lógica evidencia as relações de poder. Mostra que a manutenção de uma ordem vigente não é estável nem tampouco é uma questão de vitória ou dominação, mas um jogo no qual são escolhidos quem e o quê podem “ser vistos ou não”; quais as configurações e disposições que neste momento interessam ao poder. Em certa medida, mudanças como as ações afirmativas têm a ver com o asseguramento do poder, uma estratégia capaz de assegurar privilégios já determinados e de deslocar as disposições de poder sem mexer na estrutura. Em virtude deste cenário, indagamos em que sentido, os cursos preparatórios evidenciam (tornam visível) o aspecto meritocrático da reserva de vagas para inclusão de negros (pretos e pardos), indígenas e pessoas com deficiências em programas de pós-graduação (Mestrado, Mestrado Profissional e Doutorado)?

Sabe-se que as ações afirmativas englobam diversas modalidades de políticas públicas e privadas com o objetivo de promover, reparar ou compensar efetivamente as desigualdades sociais resultantes de passivos históricos, político e econômicos. Para esse artigo, optamos por analisar o percurso de estudantes negros, pois historicamente sua capacidade intelectual era associada a cor da pele. Ao focar nesses estudantes para compreender as ações afirmativas questiona-se que o discurso racista do século XIX, que apontava o negro como inferior, retoma pelo viés meritocrático.

Há um discurso de que os sujeitos que fazem uso de cotas não são talentosos e retiram vagas de outros estudantes. Do mesmo modo, o racismo cientifico que atestava que os negros não eram inteligentes pela cor da pele, hoje, encontra-se na ideia de que os negros não avançam socialmente porque não são merecedores (CARNEIRO, 2005). Ao utilizar a meritocracia, ou melhor, a falta de mérito na trajetória dos estudantes negros que ingressam nas universidades pelas cotas, as instituições e a sociedade civil estão resgatando o racismo cientifico do século XIX, só que mascarado pelo viés do neoliberalismo. Venturini confirma este dados por meio de relatos colhidos em sua tese, na qual lhe foi dito por meio de entrevista:

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A principal resistência [as cotas] que a gente encontra na pós é a questão do “mérito”, porque na pós-graduação não poderia deixar de haver mérito. Então, a primeira coisa foi quebrar essa ideia do mérito como algo absoluto e muito fácil de medir. E aí, logicamente, você abre: sim, tem o mérito, mas tem outras questões envolvidas. E como acharíamos um balanço entre a questão do mérito e a questão da correção do passivo histórico em relação às ações afirmativas [...] (entrevistado UFG apud VENTURINI, 2019, p.154)

Ou seja, os sujeitos que foram selecionados a partir da reserva de vagas ainda foram escolhidos em virtude de enquadramentos meritocráticos. A adoção das cotas em nada interrompe o sistema meritocrático, ao contrário, denuncia que o mérito tem se constituído como uma forma de exclusão para grupos desprestigiados historicamente. Ele fortalece aqueles grupos cujos privilégios instituídos pelas castas raciais persistem na sociedade (CARNEIRO, 2005).

Por esse motivo, os objetivos deste artigo são: (1) entender os cursos preparatórios como estratégia contra-hegemônica que evidencia a lógica meritocrática presente nas políticas de cotas; (2) apontar que a estratégia antimeritocratica dos curso preparatórios pode ser compreendida como uma possível tática de “encaixe e desencaixe” em que o candidato é preparado conforme os critérios da seleção; e (3) enquadrar a meritocracia enquanto sistema hegemônico (eurocêntrico, racializado, heteropatriarcal, capitalista e sexista) que assegura os privilégios para uma casta racial presente na sociedade.

Mediante o exposto, tecemos a ideia de que a invocação do mérito para impedir as cotas na pós-graduação (VENTURINI, 2019 e CARNEIRO, 2005) visa afirmar os privilégios oriundos de determinadas castas que segundo seus fenótipos por si só já consistem o mérito; a argumentação contra as contas baseadas no ideal meritocrático moderna indica uma discriminação racialista baseado na concepção de que negros e indígenas não possuem mérito (razão) e; a concepção da meritocracia moderna é racista.

Tais indagações são decorrentes dos relatos observados e recolhidos em dois cursos preparatórios criados por alunos que se propuseram auxiliar candidatos cotistas a ingressar no mestrado e doutorado. As ações, como apontamos anteriormente, são do preparatório da UFF/PPGOM e UFRJ-ECO/PPGCOM e foram formuladas após a portaria das cotas na pós-graduação e a implementação das cotas pelo programa. O preparatório da UFF/PPGCOM acontece desde 2017, e o da UFRJ-ECO/PPGCOM

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acontece desde 2018. Os dois cursos preparam os candidatos ao processo seletivo, por meio de leitura, de aulas que contemplam a bibliografia da prova, e preparação do pré-projeto. Em certa medida, o curso decodificava aos candidatos o funcionamento do sistema de ensino superior no qual desejam ingressar na instituição.

De origens culturais e socioeconômicas variadas, nem sempre condizentes com o formato de conhecimento chancelado pela academia, os candidatos presentes encontravam-se dispostos a se adequar à lógica de avaliação construída pelas instituições. Concorriam pelo sistema de cotas, mas teriam que passar por uma prova, por análise de projeto e por uma entrevista. Ou seja, seriam avaliados dentro de uma política de conhecimento que, construída ao longo de um contexto histórico e cultural específico, traduz as relações de poder hegemônicos a ser codificadas/decodificadas pelos indivíduos desejosos de ingressar naquele espaço.

3.1 Relatos

As duas atuações nos cursos preparatórios dos programas de pós-graduação em Comunicação realizados pela UFF-PPGCOM e ECO-UFRJ que traduzem lembranças, vivência e experiência sobre o processo de educação. Todos os relatos trazem em comum a dimensão extremamente importante do afeto, durante o curso; a ser colocada como o estado de espirito no qual tanto os candidatos quanto os voluntários foram afetados em seu momento de individualidade – uma troca que deixou marcas.

Dentre as falas, temos trechos referentes à três entrevistas com um candidato do curso preparatório do PPGCOM/UFRJ-ECO e, também, com dois voluntários do preparatório do PPGCOM/UFF. Além de trechos que foram anotados durante a observação participativa como forma de segurança, nenhum entrevistado terá o nome verdadeiro divulgado. A intenção é relatar a percepção tanto do voluntário como do candidato sobre o curso preparatório e a relevância dessa ação.

Trata-se de compreender como as reuniões acontecem, como as trocas são efetuadas e como se dá a inserção de estratégias dos candidatos para entrar na pós-graduação. Cabe assinalar aqui que os entrevistados se autodeclaram negros e que possuem trajetórias distintas dentro da vida acadêmica.

3.1.1 Preparatório para Mestrado e Doutorado do PPGCOM/UFRJ

O curso preparatório do PPGCOM/UFRJ, iniciou-se em 2018, no ano em que o programa implementou as cotas sociais e raciais na pós-graduação. Neste primeiro

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ano, participei como voluntário do curso junto com mais duas pessoas. Uma doutora e outra pós-doutora e, nesse período, tinha acabado de entrar no doutorado da UERJ. O convite foi decorrente da minha filiação ao Grupo de Pesquisa Muniz Sodré sobre relações raciais – GEMS. A participação restringiu-se com os outros convidados para formulação da aula de construção de projeto.

No primeiro ano, o preparatório foi divido em aulas teóricas e práticas que refletiam o edital de seleção. Os professores voluntários eram todos alunos de doutorado da instituição. Cada aluno escolhia, a partir da sua abordagem teórica e formação as aulas que poderiam oferecer aos candidatos. As turmas eram dividas conforme as linhas de pesquisas da instituição: Mídia e Mediações Socioculturais e Tecnologia da Comunicação e Estética.

Durante o ano que participei como voluntário, o preparatório não era meu objeto de estudo, a minha pesquisa do doutorado era sobre meritocracia, mas não focava nessas ações. A ideia de olhar para o curso preparatório como espaço que tensiona meritocracia e políticas de cotas venho no ano anterior.

No ano seguinte, em 2019, tendo o curso preparatório como objeto, passei a participar como pesquisadora desenvolvendo observação participativa e entrevistando os candidatos ao processo seletivo do ano. Neste período, o curso só ofereceu aulas referentes aos livros solicitados na bibliografia do edital do respectivo ano. No entanto, as dicas sobre construção de projeto foram passadas durante as aulas de teoria por alguns voluntários.

Entre as perguntas que realizamos com o entrevistado do PPGCOM-UFRJ foi o motivo pelo qual procurou os cursos preparatórios para ingressar no mestrado. Ao que o candidato respondeu: “(...) não tinha como pagar o curso, tem um curso particular que é preparatório para mestrado, e eu não tinha condições para pagar e aí que eu não sabia por onde começar a estudar”.

Naquele momento, ele estava afastado há muito da universidade e não sabia como “ (...) montar o projeto e eu nem sabia como era a prova. Enfim... eu sabia que era discursiva, mas não sabia como era a arquitetura da prova e o que pedia (...)” (ENTREVISTADO ECO-UFRJ, 2019).

Esse tipo de dificuldade apareceu na fala de outros candidatos presentes no curso seja pelo fato de estarem afastados da universidade em virtude de trabalho, por uma insegurança de idade ou pela formação acadêmica em faculdade particular. A presença desses fatores está recorrente na fala dos alunos que procuram os cursos

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preparatórios que mostram medo e insegurança em relação ao domínio do enunciado acadêmico devido a idade, longo período de ausência da universidade ou uma formação fraca decorrente de faculdades particulares. Alguns desses alunos só pensaram em fazer mestrado e doutorado após a política de cotas. Eles apontam surpresa quando percebem a grande presença de mestrandos e doutorandos negros que articulando o movimento. Conforme a fala de um voluntário ECO-UFRJ (2019): “(...) não sabia que tinha tanto negro no mestrado e doutorado”.

Tais fatores refletem na importância em dominar o enunciado acadêmico tanto para o candidato como para o voluntário que enfatiza que o projeto precisa ser tecnicamente impecável. Ao enfatizar isso, o entrevistado ECO-UFRJ acrescenta: “(...) precisa ser um desfile da Beija Flor tecnicamente impecável (...)”. Todos riem, mas entendem a mensagem passada pelo voluntário que acrescenta que a prova é uma ocasião em que a técnica prevalece, já que na entrevista há uma subjetividade.

A percepção de que a prova é o lugar mais “seguro”, ou seja, menos subjetivo e, em virtude disso, o candidato precisa estar super preparado, traz esse papel do curso de preparar, ou de adequar, o candidato para a academia - seja decodificando os autores e auxiliando na construção do projeto que é um ponto bastante explorado pelos voluntários e pelos alunos.

Conforme formulário em que indagamos: em que aspecto o curso preparatório ajudou durante o processo seletivo?, a maioria dos participantes responderam na construção do projeto e neste momento em que a técnica se junta à experiência dos voluntários que, ao mesmo tempo, são alunos do programa e passam para os candidatos como construir o projeto.

Segundo o voluntário ECO-UFRJ (2019), o projeto acadêmico é um trabalho de sedução. Neste trabalho de sedução, eles fazem questão de mostrar e enfatizar aos candidatos que determinados temas e palavras, já não são bem-vindos por alguns professores, por exemplo, a temática de telenovelas não seria uma discussão interessante mais para os professores da linha de mediação. Essa abordagem ficou tão marcada que o entrevistado enfatizou esse momento:

Ali aprendi que nesse movimento de falar da negritude nem sempre você pode usar todas as palavras. Eu me lembro muito bem de um dos professores falando assim: ‘Você não pode usar a palavra resistência.” Então, é para que seja evitado. Existe um padrão de comportamento para você que é cotista, ser aceito. É como se você tivesse que se revestir, sabe?! (Frantz) Fan “Pele Negras e Mascaras Brancas” é como se você tivesse que usar uma máscara branca para

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poder entrar na universidade; como se a gente não pudesse questionar a universidade, e aí, você fala o que a ela (a universidade) espera que você fale. E, neste curso, aprendi a falar o que quero de uma maneira suave (ENTREVISTADO ECO-UFRJ, 2019).

A ponderação pelo não uso de tal palavra presente nos mostra como a linguagem é um campo em disputa onde podemos observar as tensões e as posições de hierarquia de poder. Além disso, a partilha dos voluntários de que alguns professores não orientam pesquisas com determinados termos em um primeiro momento podem ser entendidos como uma questão puramente técnica, mas a recusa também mascara a imposição da autoridade ocidental sobre os saberes, línguas e culturas.

Sabe-se que o enquadramento de produções acadêmicas que são associadas a determinados temas, tal como resistência, não são vistos como possíveis de pesquisar por alguns professores que fazem questão de frisar que a academia é um lugar da ciência e não espaço de construção política. Os temas e as metodologias que fogem do conhecimento que definem o que é erudição são questionados sob o argumento de não constituírem ciência “verdadeira”, seja pela recursa do tema e/ou por subterfúgios.

Outro aspecto presente na fala do entrevistado ECO-UFRJ (2019) é que o acolhimento e a troca são marcantes: “(...) eu fui ao encontro, o que foi maravilhoso assim... a receptividade é o primeiro sentimento. A gente tem afeto e conforto. Você ouve tanto que é difícil, que precisa estar preparada que passa a acreditar que aquilo é impossível, mas chegando lá você vê que não é impossível, digamos assim”.

A partilha de experiência da vida acadêmica entre os sujeitos que estão fora e que estão dentro acaba por instaurar um vínculo de confiança entre os sujeitos que eles passam a dividir experiências que vão desde o simples fato de conseguir ingressar no pós-graduação, o medo de não conseguir concluir o curso, a dificuldade de ser negro, nordestino e pessoas trans dentro da universidade, até casos de assédio moral do orientador. Os voluntários deixam claro que independem do resultado, o objetivo do curso é acolher os candidatos e decodificar (descortinar) o processo seletivo de alunos cotistas à pós-graduação. Sendo assim, para eles, o curso tem por finalidade oferecer acesso, permanência e continuidade aos cotistas que desejam ingressar na instituição.

3.1.2 Preparatório para Mestrado e Doutorado do PPGCOM/UFF

O preparatório do PPGCOM/UFF surge após uma aluna do curso de comunicação acompanhar a organização do coletivo negro da área de Antropologia da UFF para a

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implementação das cotas no Programa de Pós-Graduação em Antropologia – PPGA. A aluna descreve o processo como sendo algo muito difícil que em sua visão foi marcado pelo racismo. Após os alunos do PPGA conseguirem implementar as cotas no curso, que foi marcado pelo racismo, eles iniciaram o curso que segundo a entrevista do PPGCOM/UFF, junto com a política de cota, foi muito bem sucedido com 14 (catorze) aprovados no primeiro ano do curso e das cotas.

Ao ver a experiência do PPGA, a entrevista primeiramente uniu os alunos negros do curso de pós-graduação de comunicação para implementar a cota no mestrado e doutorado que ainda não tinha e depois da aprovação da modalidade. Eles passaram o construir o curso preparatório organizado por estudantes negros e voltado para candidatos negros a fim de construir uma imagem positiva dos negros na pós-graduação que mostraria aos candidatos a presença de negros no ensino superior de mestrado e doutorado. Assim, a primeira edição do curso foi em 2017 com uma aula que explica o edital, o processo seletivo, as linhas de pesquisas e fala sobre os professores.

No ano seguinte, 2018, segundo o voluntário, eles conseguiram se estruturar melhor devido à entrada de mais alunos negros. Ele aponta que foram 7 (sete) alunos negros aprovados no mestrado e 4 (quatro) no doutorado logo após a política de cotas. Com a entrada desses estudantes e o interesse em contribuir no curso preparatório, eles conseguiram calendário que incluísse todos os pontos do processo seletivo. Teve até uma aluna que ofereceu aula de ioga para os candidatos com o objetivo de as pessoas controlarem a ansiedade. Portanto, cada voluntário foi contribuindo com o curso preparatório com o que tinha de conhecimento tanto acadêmico e com outras formas de aprendizado. Nesse ano, o curso conseguiu aprovar 4 (quatro) alunos negros que concorriam no PPGCOM dentro do sistema de cotas sendo que eram 6 (seis) vagas. Além de aprovarem alunos em outros projetos seletivos.

A consolidação do curso neste período faz com que os estudantes passem a indagar a presença de pessoas trans como público alvo do preparatório. Conforme, a entrevistada do PPGCOM-UFF (2019), o questionamento surgiu de pessoas brancas que sugeriram a participação de pessoas trans nas aulas do preparatório, a sugestão gerou tensão entre os alunos negros que desejavam consolidar o curso antes de abrir para outras minorias. Portanto, nas edições de 2018 e 2019, a ação passa a contar em sua descrição do público alvo pessoas negras, indígenas e pessoas trans.

Para a entrevistada a construção do curso foi bem difícil pelo fato de serem independentes e de questionarem a capacidade dos voluntários em preparar os candidatos

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para o processo seletivo do doutorado. No entanto, as dificuldades foram esperadas, como aponta a entrevistada ao receber dos candidatos bons feedbacks do curso como um espaço de apoio pessoal, principalmente, para pessoas negras que possuem certas inseguranças ou não possuem certa familiaridade com o ambiente acadêmico. A insegurança que aparece no preparatório da ECO-UFRJ, devido a vários fatores, no preparatório do PPGCOM-UFF, parece estar mais associada a questão da racialidade, conforme relato de um dos voluntários do preparatório:

Todos temos né independente da questão racial..., mas a gente sabe que isso incide mais sobre os corpos negros né. Então é isso, eu acho que acaba sendo um espaço que a gente pode discutir isso mais abertamente num patamar muito de igual pra igual. Assim, também, em nenhum momento tem uma coisa de que estamos aqui e vocês não, muito pelo contrário né. Se estamos aqui porque vocês também podem entrar e é muito legal, assim (...) (ENTREVISTADO DA UFF, 2019)

Outro fator que parece atuar na confiança do candidato no processo de escrita do pré-projeto é a possibilidade de poder contar com alguém que olhe o projeto, converse e a possibilidade de acessar os antigos pré-projetos de mestrado e doutorado. Os voluntários criaram uma página na nuvem em que os candidatos podem acessar e verificar os pré-projetos de entrada dos alunos que passaram no programa. Esse compartilhamento tanto da técnica, quanto da experiência, passam a construir uma confiança entre os sujeitos que afeta a autoestima como aponta o entrevistado do PPGCOM/UFF que participou como voluntário:

(...) eu achei muito interessante porque existia um apoio do ponto de vista acadêmico em relação aos candidatos. De olhar os projetos deles, de compartilhar os nossos projetos pessoais com eles, de passar algumas dicas de escritas durante a aula e tal..., mas a questão central é o apoio mesmo que passamos para eles. É um apoio de acreditar em si mesmo... meio esse tipo de coisa, sabe!? Esse tipo de coisa meio de levantar a autoestima mesmo (...) (ENTREVISTADO – PPGCOM/UFF, 2019)

Nota-se que o curso não afeta só o candidato, mas também o voluntário. A ideia de que o curso levanta a autoestima dos alunos pode ser considerada uma via de mão-dupla, pois tanto o voluntário quanto os candidatos são afetados por essa troca de experiência que em um primeiro momento está associada à entrada na academia, mas que reflete a solidão do processo de discriminação racial de habitar lugares que são considerados para corpos brancos. Segundo a filósofa Beatriz Nascimento (2018), que quando chegou à Universidade Pública e mudou-se para Zona Sul da cidade do Rio de

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Janeiro, bairro nobre, percebeu a ausência de pessoas não negras naqueles espaços e que precisou se adaptar a nova comunidade.

Confesso que houve momentos na minha vida em que eu me escondia, andava pelas ruas como cabra, isto é, beirando a calçada. Sem coragem de encarar as pessoas e com medo que me encarassem. Eu andava sempre na defensiva, com vergonha, então sei bem se era vergonha de ser preta, vergonha de ser pobre ou vergonha de ser pobre ou vergonha das duas condições... (NASCIMENTO, 2018, p. 248)

A citação de Beatriz Nascimento (2018), em certa medida, vai ao encontro do posicionamento da entrevistada do PPGCOM-UFF que demostra a importância de lugares tal como o curso preparatório na construção de meios de permanência dos alunos negros nas universidades que vão além da materialidade, mas no sentido do sujeito negro não se sentir isolado dentro do espaço acadêmico que o tempo todo cobra, reivindica e exige um comportamento que traduza a exaltação da razão.

Desse modo, os estudantes negros vivem numa dualidade dentro do espaço acadêmico. Na medida em que ele impõe que a ciência é produzida independente das relações de poder que existem na sociedade, mas que não considera assimetria no acesso de determinados grupos na produção desse conhecimento. Além disso, não perceber a agenda de estrutura e de recursos que operam os resultados de escritores e intelectuais nesses espaços e para aqueles que desejam ingressar precisam padronizar seus comportamentos segundo os ditames hegemônicos (brancos). Isso pode levar o sujeito negro a anular-se, a passar a viver uma outra vida ou acatar a imposição da autoridade com medo de sofrer represália ou nunca se sentir parte daquele espaço.

Dessa forma, a assimilação pode acontecer no momento em que o sujeito resolve mascarar o uso de palavras, ou da sua temática de estudo porque deseja entrar no curso e por medo acaba abrindo mão do seu desejo de estudo até casos eternos de insegurança em que o sujeito abre mão de usar as bolsas de cotas raciais, pois tem medo ou receio de ficar marcado como aluno inferior. Mesmo sendo uma pessoa incrível com capacidade de posicionar as coisas com clarezas e precisão.

Isso pode ser ilustrado, em certa medida, pelas dicas que os voluntários passam aos candidatos que chegam na fase da entrevista para que possam se posicionar da melhor forma na entrevista:

(...) assim a gente dá umas dicas em relação às palavras que podem ser controversas e isso pode ser visto pela banca ou por quem vai ler o projeto de uma forma mais complicada. Tipo... troca racismo por

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preconceito. [...] Porque nem todas as pessoas vão pesquisar a questão do racismo [...], mas isso tem uma ressonância na própria postura que a pessoa vai tendo na entrevista (...) (ENTREVISTADO PPGCOM-UFF, 2019)

A discussão parece residir dentro de uma ordem semântica, mas não é. Elas refletem uma dimensão do poder que mantém posições hierarquizadas que preservam uma dominação racializada que traduz quem pode falar, onde pode falar e que momento pode falar (KILOMBA, 2019). O medo e a insegurança, fruto da consciência de que a universidade espelha a estrutura social e política do sociedade e que as estruturas de validação do conhecimento que definem o que é “bom” ou “ruim” para esse espaço, são controlados pelo sistema colonizador que se colocam como universais e, por vezes, inquestionáveis de seus critérios de verdades.

Desse modo, a entrada do corpo negro que foi colocado a margem desse espaço por regimes dominantes que regulam o que é “aceitável” para ambiência acadêmica gera a imposição, que talvez seja inconsciente, de um comportamento que parece ser de ordem semântica, mas que é estrutural.

(...) a banca é composta na maioria por pessoas brancas; [...] tem algumas pessoas que já tavam [sic] no programa, que relataram o mesmo [...] o que aconteceu com elas em relação tanto ao conteúdo, mas na própria entrevista [...] não que tenha acontecido coisas grandes [...] mas que é importante a gente se dar conta que isso atravessa os olhares e que vai se fazer presente nas conversas e em todas as relações que vão se estabelecer ali [...] por mais que o programa seja um programa até muito acolhedor nesse sentido - foi um dos primeiros de cotas e tudo mais - isso ainda incide sobre os corpos. E o fato disso incidir, faz com que as pessoas se sintam um pouco mais inseguras [...] (ENTREVISTADO PPGCOM-UFF, 2019)

Observa-se que o voluntário tenta traduzir para os candidatos o que é esperado pela banca ao avaliar o aluno. Ao mesmo tempo em que aponta que nada nunca aconteceu no programa de série e que a instituição é muita acolhedora, pois implantou a política de cotas. Isso revela que ao mesmo tempo que exista algum vestígio de racismo, há uma certa consideração ao programa pelo fato de adquirem a políticas de cotas. Essa dualidade em observar e perceber que mesmo com as políticas de cotas implementadas nos cursos de mestrado e doutorado ainda coexistam o racismo e perceptível nos dois cursos.

Os criadores dos cursos tornam isso evidente ao narrar a dificuldade de implementação das cotas e/ou a entrada de negros e demais minorias na pós-graduação. Apesar da dificuldade, os alunos acreditam que possuem a responsabilidade de incluir esses sujeitos no espaço seja para continuidade da ação ou para que a política de cotas

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continue vigorado. Visto que a modalidade foi revogada pelo ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub, em 19 de junho, mas que a partir de mobilizações sociais e políticas ligadas às universidades e fora delas, conseguiram reverter a revogação do ministro.

Considerações Finais:

O artigo buscou refletir de que modo, certo preconceito/discriminação camuflado em critério meritocrático ainda reverbera em muitas instâncias sociais e acadêmicas. Este cenário evidencia o papel do sistema de cotas e dos cursos oferecidos para auxiliar esses grupos minoritários no acesso ao ensino superior. A valorização do mérito e da excelência (moderna e ocidental) e sua exigência aos cotistas negros inseridos nas universidades, desde as primeiras experiências com ações afirmativas, pode ser observado no meio acadêmico e social, sobretudo, na seleção dos alunos que podem ingressar neste sistema.

A meritocracia ignora as deficiências do Estado em proporcionar de maneira igualitária, gratuita e de qualidade a formação escolar à grande parte da população desprivilegiada socioeconomicamente, bem como aos negros, indígenas e deficientes no Brasil. A vinculação errônea de que as políticas voltadas para grupos étnicos raciais foram criadas a fim de atender falta de capacidade intelectual e cognitiva dos negros e indígenas, isenta, ao menos no discurso, a responsabilidade da herança escravagista do Estado. Também cabe ressaltar que o trabalho através dos relatos dos candidatos aos programas de pós-graduação visou reflexões sobre as formas de conhecimento que circulam (ou não circulam) dentro das universidades públicas e sobre como isso opera dentro de uma filosofia do “outro” que precisa adquirir certo modo de ser, ver e existir para que possa habitar determinados espaços. Dessa maneira, há a necessidade de uma reflexão sobre poder e saber em torno de: como articular o conhecimento que existe fora dos muros universitários com o modo de pesquisa acadêmico; como criar um comum entre saberes que contrastam entre si (ou que ocupam este espaço), mas que funcionam como instrumentos analíticos para o mundo; como esses saberes podem ser utilizados pelos cotistas no processo de seleção.

Trata-se, portanto, de compreender quais as forças em jogo; como se comportar no processo seletivo; como tornar o sistema mais igualitário para aqueles que não possuem o saber institucionalizado e de entender qual o papel da universidade diante dos

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universitários cotistas, além de buscar mecanismos para articular um sistema de avaliação que permita outras formas de pensar.

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