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Análise ergonômica da atividade de pressurização manual de recipientes de extintores de incêndio portáteis

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Análise ergonômica da atividade de pressurização manual de

recipientes de extintores de incêndio portáteis

Henrique Costa Braga (ABA) henriquebragaseg@ig.com.br

Roberto Fernandes da Costa (UGF) roberto@robertocosta.com.br

Évelin Moreno (UGF) evelinmoreno@hotmail.com

Neste trabalho foi realizada uma avaliação ergonômica da atividade de pressurização manual de extintores portáteis PQS e AP em uma micro-empresa de manutenção de extintores de incêndio. O objetivo desta avaliação foi adaptar esta atividade às necessidades dos operadores, de modo tanto a atender a legislação pertinente à manutenção de extintores (Portarias Inmetro) quanto a legislação trabalhista (NR 17). Inicialmente foram realizadas entrevistas e discussões com os operadores, e executadas diversas análises da atividade com uso de imagens fotográficas e filmagens. Com base nesta avaliação inicial, verificou-se que a atividade real não estava atendendo ao preconizado. Assim, modificações foram propostas e realizadas na linha de manutenção. A nova atividade laboral melhorada foi então avaliada, por meio de novas entrevistas e filmagens, mas com a realização adicional da aplicação do questionário nórdico, do check list de Couto para os membros superiores, e do sistema OWAS de análise de posturas. Concluiu-se que as melhorias sugeridas e realizadas foram satisfatórias, e que dentro dos aspectos avaliados neste trabalho, a nova atividade de pressurização de recipientes de extintores atende a legislação e não é considerada danosa à saúde do trabalhador.

Palavras-chave: Ergonomia, OWAS, Design, Extintores, Manutenção.

1. Introdução

Os extintores de incêndio, pela sua importância, estão espalhados em praticamente todas as empresas, independente do porte e segmento. Na maioria dos casos estes extintores passam periodicamente por manutenções, realizadas por mais de 1000 empresas de manutenção de extintores espalhadas por todo o país (BRAGA, 2012). Estas empresas devem atender, além da legislação trabalhista pertinente, toda uma legislação própria especifica do segmento (Portarias Inmetro). Conforme esta legislação a atividade de pressurização dos extintores de incêndio deve ser realizada dentro de um dispositivo de proteção de forma a se preservar a integridade do trabalhador em caso de acidente.

Neste trabalho foi realizada uma avaliação ergonômica da atividade de pressurização de recipientes de extintores portáteis em uma micro-empresa de manutenção, de forma a verificar tanto a adequação do dispositivo de proteção quanto a NR 17. Foram realizadas entrevistas e discussões com os operadores, filmagens e registros fotográficos das atividades, além de aplicados o questionário nórdico, o checklist de Couto para os membros superiores, e o sistema OWAS de avaliação postural.

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Este trabalho possui a seguinte organização: após a introdução (seção 1), é realizada uma fundamentação teórica (seção 2), conceituando o extintor de incêndio, a atividade de pressurização de recipientes de extintor e a legislação aplicável. Em seguida (seção 3) é realizada uma caracterização inicial da população dos colaboradores envolvidos, da empresa em que foi realizada esta análise, do posto de trabalho, e da tarefa, tanto a prescrita quanto a real. Logo após (seção 4) são feitas recomendações iniciais, e na seção 5 uma análise da atividade já modificada. Por fim as considerações finais (seção 6).

2. Fundamentação

2.1 O extintor de incêndio

O extintor de incêndio é um “equipamento móvel, de acionamento manual, normalizado, portátil ou sobre rodas, constituído de recipiente ou cilindro, componentes, contendo agente extintor e podendo conter gás expelente, destinado a combater princípios de incêndio” (Portaria Inmetro 206/11), em que incêndio pode ser definido como o fogo que ocorre sem controle em material que não estava a ele destinado. Pela sua importância no mundo moderno, Challoner (2011) lista o extintor de incêndio como uma das maiores invenções da humanidade.

Existem diversos tipos de incêndio que podem ser divididos em classes de fogo, tais como: classe A (materiais sólidos), classe B (líquidos inflamáveis), classe C (materiais energizados), classe D (materiais pirofóricos); classe E (materiais radioativos) e classe K (kitchen). Para cada classe de fogo existe um ou mais modelos de extintor de incêndio mais apropriado. Como exemplo, se tem extintores tipo AP – água pressurizada para fogos classe A, extintores tipo PQS – pó químico seco para fogos classe BC (quando carregados com agente pó químico BC como o bicarbonato de sódio) ou fogos classe ABC (quando carregados com agente extintor pó químico ABC como o monofosfato de amônia). Cada extintor possui uma capacidade extintora, relacionada com a sua carga nominal, seu projeto e forma de utilização (a capacidade extintora é uma medida do tamanho do fogo que o extintor pode apagar e é normalizada pela ABNT NBR 15808/10). Adicionalmente os extintores podem ser classificados como portáteis (até 20 kg de massa total) ou sobre rodas; de pressurização direta (agente extintor se encontra permanentemente pressurizado) ou indireta (a pressurização do agente extintor só ocorre quando do uso); ou de baixa ou alta pressão. Assim existem inúmeros tipos, modelos e tamanhos de extintor, cada um com sua aplicação específica. 2.2 A pressurização dos recipientes

Os extintores são equipamentos que para garantia de sua usabilidade, precisam passar por manutenções e/ou inspeções periódicas. De nada adianta possuir um extintor se este não estiver em condições operacionais para o uso eficiente. Assim, por motivos preventivos (depois de decorrido certo período de tempo) ou corretivos (após o uso ou se danificados) os extintores precisam ser manutenidos ou substituídos por um novo. A opção por um equipamento manutenido é preferencial, pois acaba sendo mais econômica que a substituição por um novo, além de respeitar o meio ambiente pela economia energética que uma operação de manutenção tem sobre a operação de fabricação ou reciclagem, e por evitar a geração de resíduos que seriam gerados com o descarte do extintor vencido ou usado.

Os serviços em extintores são divididos em inspeção e manutenção. A própria manutenção é dividida em 1º, 2º e 3º níveis. Nas manutenções de 2º e 3º níveis uma etapa

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obrigatória consiste na pressurização do extintor. Nos extintores de pressurização direta PQS e AP a pressurização é feita no seu recipiente com um gás expelente, normalmente nitrogênio (N2). A pressão normal de pressurização dos recipientes varia de extintor para extintor conforme definido em seu manual técnico, mas é tipicamente de 10,5 kgf/cm2.

A pressurização é feita por meio da transferência de gás de um cilindro externo de N2 pressurizado com uma pressão maior do que a pressão com que será pressurizado o recipiente do extintor. Este cilindro externo quando cheio vem normalmente carregado com 180 kgf/cm2. A pressão do cilindro externo de N2 é então reduzida por meio de um regulador de pressão apropriado, e transferida para o recipiente a ser pressurizado por um registro adicional para controle e uma conexão. Esse sistema deve ser previamente calibrado antes da pressurização (Portaria Inmetro 005/11 item 7.11). Na Figura 1a é apresentada imagem de alguns extintores de pressurização direta portáteis típicos, e na Figura 1b a representação esquemática do encaixe da conexão da rede de pressurização que vem do cilindro de N2 com o recipiente do extintor por intermédio da válvula do extintor.

(a) (b)

FIGURA 1. Em (a) imagem de alguns extintores PQS/AP típicos, e em (b) detalhes da conexão com a válvula. Fonte: Figura 1b adaptado de Resil (2009).

2.3 Legislação aplicável

Pela importância, os extintores de incêndio fabricados, importados ou manutenidos, assim como a sua utilização e emprego, já se encontram há muito tempo sujeitos às legislações e normas específicas no Brasil. Em termos normativos a ABNT já há mais de 50 anos edita normas para o segmento (BIDIN, 1976). Atualmente são muitas as normas em vigor, mas se destaca a ABNT NBR 15808/10 – extintores de incêndio portáteis. Em relação à manutenção e inspeção de extintores, o Inmetro promulgou várias portarias regulamentando o segmento. Estas portarias vêm sendo frutos de diversas revisões recentes (BRAGA, 2012) visando a consolidar a qualidade apresentada pelo segmento. Atualmente as portarias em vigor são as Portarias Inmetro 005/11, 206/11, 412/11 e 300/12. Todas as empresas que prestam estes serviços de inspeção e manutenção de extintores devem atender a estas portarias. O Inmetro, com o suporte de representantes da RBMLQ-I – Rede Brasileira de Metrologia Legal e Qualidade, audita e fiscaliza regularmente as empresas (sistema de gestão, infraestrutura, pessoal, e serviços realizados).

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A Portaria Inmetro 206/11, item 6.1.1.4, alínea k nº 33, obriga a existência de dispositivos para “proteção do operador para todos os processos/ensaios de pressurização de cilindros e componentes a alta pressão (acima de 30 kgf/cm²) e para todos os processos/ensaios de pressurização de recipientes”. Assim, a pressurização de recipientes deve ser realizada com o uso de dispositivo de proteção do operador.

Adicionalmente, o MTE, por meio da NR 17 – Ergonomia, descreve as condições mínimas de trabalho em relação às condições ergonômicas as quais os trabalhadores devem ser submetidos. Esta NR visa a “estabelecer parâmetros que permitam a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente” (NR 17.1). As condições de trabalho incluem obrigatoriamente “aspectos relacionados ao levantamento, transporte e descarga de materiais, ao mobiliário, aos equipamentos e às condições ambientais do posto de trabalho, e à própria organização do trabalho” (NR 17.1.1).

3. Caracterização inicial 3.1 Empresa e população

A empresa em estudo é uma micro-empresa de manutenção de extintores de incêndio registrada no Inmetro. A empresa possui oito funcionários, mas apenas dois trabalham na oficina de manutenção propriamente dita, onde a atividade de pressurização ocorre. Ambos foram devidamente esclarecidos e aceitaram livremente colaborar, tendo sido assinado o devido TCLE - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Na Tabela 1 se apresenta o perfil destes colaboradores. Os dois operadores desenvolvem diversas outras atividades relacionadas à inspeção e manutenção de extintores. A atividade de pressurização demanda não mais que 40 minutos diários (cerca de 1 minuto por extintor).

TABELA 1. Perfil dos colaboradores montadores de extintor.

Operador Idade (anos) Estatura (m) Massa corporal (kg) Tempo na atividade

1 33 1,69 88 6 anos

2 28 1,73 81 3 anos

3.2 Posto de trabalho

Na Figura 2 é apresentada uma imagem do posto de trabalho da atividade de pressurização de recipientes. Este é composto por um cilindro de nitrogênio, um regulador de pressão, uma linha de pressurização fixa, manômetro de calibração, registro de pressurização, mangueira de pressurização, conector, cabine de proteção e bancada de trabalho.

A bancada de trabalho é em estrutura de aço rígido com a superfície da mesa de madeira grossa. Sua superfície está a uma altura de 90,5 cm do chão e possui aproximadamente 83 cm de largura por 35 cm de profundidade. A cabine de proteção fica ao lado direito da bancada de trabalho e é feita por uma estrutura envoltória de aço em forma de um paralelepípedo retângulo preenchida por uma tela metálica com malha quadrada de 2,5 cm de abertura. A cabine de proteção possui uma base quadrada de 35 cm de lado localizada a uma altura de 54 cm do solo. A cabine mede 103 cm entre sua base inferior e seu teto. Além da base inferior, que é fixa, a cabine possui uma base regulável. A base regulável é deixada normalmente no mesmo nível da superfície da bancada de trabalho, sendo usada como a

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efetiva base de sustentação do extintor dentro da cabine. Em caso de extintores portáteis grandes ou fora dos padrões (situação muito esporádica), a base é diminuída ou até mesmo retirada (neste caso o extintor é apoiado diretamente na base inferior fixa da cabine). A frente da cabine de proteção possui uma porta em quase toda sua dimensão para que se possa colocar e retirar o extintor a ser pressurizado. Esta porta possui um dispositivo para fechamento impedindo a abertura acidental da mesma.

A cabine de proteção possui adicionalmente nas laterais esquerda e direita (como padrão neste trabalho os lados esquerdo e direito serão considerados em relação a um operador posicionado de frente para a cabine) uma fenda ou abertura vertical nas grades em toda sua lateral acima do nível da superfície bancada com 8,5 cm de largura (na lateral esquerda a fenda se situa no seu centro, e na lateral direita a fenda se situa no seu canto mais próximo da porta da cabine). No lado esquerdo da cabine esta fenda serve para encaixar a mangueira de pressurização com a válvula do extintor por meio de um conector, e no lado direito a fenda serve para poder introduzir a mão do operador dentro da cabine de proteção para que este aperte a válvula durante a operação de pressurização (se a válvula do extintor não estiver pressionada não é possível pressurizar o recipiente).

Legenda: 1) Bancada de trabalho 2) Cilindro de nitrogênio 3) Regulador de alta pressão 4) Linha fixa de pressurização 5) Regulador para calibração da rede

6) Registro de pressurização 7) Mangueira de pressurização 8) Conector

9) Cabine de proteção

10) Base fixa da cabine de proteção 11) Base regulável da cabine de proteção

___________ FIGURA 2. Posto de trabalho de pressurização de recipientes portáteis. 3.3 Os extintores

Os extintores alvos desta atividade são os extintores tipo PQS e AP portáteis e de pressurização direta, excluindo-se os extintores veiculares de até 2 kg (inclusive) de carga

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nominal. O gás expelente utilizado na pressurização é o N2. A pressurização de recipientes é realizada em extintores já carregados com o agente extintor, e nos quais a válvula e todos seus constituintes internos já foram devidamente colocados e afixados. Neste ponto os extintores não devem estar com suas mangueiras.

Os recipientes destes extintores podem possuir uma grande gama de formatos. Os extintores PQS ABC possuem geralmente o mesmo formato dos extintores PQS BC, mas são carregados com quantidades um pouco diferente de carga devido a diferença entre a densidade do pó ABC e do pó BC. Entretanto, devido os extintores ABC manutenidos na empresa em questão serem percentualmente muito poucos, e por possuirem muitas similaridades com os extintorers BC, estes não serão considerados. Assim, grosso modo, os extintores a serem pressurizados serão divididos em 5 tamanhos ou modelos básicos, ressalvando-se que exceções das mais diversas podem eventualmente ocorrer. São estes P4, P6, P8, P12 e AP10. Sendo que P4, P6, P8 e P12 são extintores tipo PQS contendo respectivamente uma carga nominal de agente extintor BC de 4 kg, 6 kg, 8 kg e 12 kg. O AP10 é o extintor tipo AP com 10 litros de água. Na Tabela 2 é apresentada uma relação com as dimensões típicas destes extintores, e também da porcentagem relativa mensal de cada um (valores obtidos através de medições realizadas nos extintores disponíveis no local). A massa total de cada extintor no processo de pressurização pode ser obtida adicionando-se à carga nominal do mesmo a massa do seu recipiente e constituintes (excluindo-se a mangueira). Este valor também varia muito para cada modelo de extintor, mas, de um modo geral se irá considerar um acréscimo de 2,5 kg para os extintores P4, de 3 kg para os P6, de 3,5 kg para o P8 e de 4,5 kg para o P12 e AP10.

TABELA 2. Dimensões e cargas nominais típicas em função do modelo de extintor. valores aproximados

Modelo Carga Nominal Quantidade relativa (%)

Altura Base Sustentação da

Válvula (cm) Peso Bruto (kg)

P4 4 kg 10 40 6,5 P6 6 kg 60 50 9 P8 8 kg 5 45 11,5 P12 12 kg 5 60 16,5 AP10 10 litros 20 60 14,5 Média 51,3 ± 4,4 10,4 ± 2,4

(altura e peso bruto podem variar em até 10%, ou mais, dependendo do fabricante ou modelo de extintor). 3.4 Trabalho prescrito versus real

Apesar da existência da cabine de proteção e da obrigatoriedade do seu uso durante o processo de pressurização, a empresa constatou que a mesma não vem sendo efetivamente utilizada, ou seja, mais um exemplo onde o trabalho prescrito diverge do real (GUÉRIN et al., 2001). Para se compreender os motivos desta divergência operacional, foi realizada uma entrevista com os operadores para a identificação dos motivos da não utilização da cabine de proteção durante a pressurização. O resultado da entrevista não foi conclusivo. Assim, sem ainda entender as verdadeiras razões para a não utilização da cabine, foi solicitado aos operadores a realização da atividade de pressurização em alguns extintores, fazendo tanto segundo o procedimento prescrito (utilizando obrigatoriamente a cabine de proteção) quanto também fazendo livremente (sem a cabine de proteção). As imagens de ambos roteiros operacionais foram registradas em vídeo e analisadas (Figura 3).

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(a) (b) (c) (d)

FIGURA 3. Imagens da atividade de pressurização. Em (a) não utilizando a cabine de proteção, em (b) utilizando a cabine, em (c) e (d) detalhes da tarefa se utilizando a cabine.

4. Recomendações iniciais

Agora com a tarefa prescrita e a atividade real devidamente analisada, ficou claro algumas diferenças entre ambas. Inicialmente, a atividade fora da cabine de proteção é mais prática. Quando a cabine de proteção é usada, devido ao seu design, é necessário se ajustar o extintor dentro da mesma para que o conector da pressurização possa ser colocado. Esta ação não é necessária quando da realização da pressurização fora da cabine de proteção. Entretanto, o principal motivo da não utilização da cabine de proteção é devido à fenda lateral direita na qual a mão do operador é introduzida na cabine para se apertar a válvula do extintor durante a pressurização. Esta fenda pela qual a mão é introduzida é realmente muito pequena (8,5 cm), sendo que as laterais do braço direito dos operadores encostam forçosamente e são pressionadas contra a cabine (compressão mecânica de tecido mole em partes duras da cabine). Adicionalmente, a mão direita fica pronada e com deslocamento ulnar enquanto faz força estática pressionando a válvula do extintor.

Assim, foi possível verificar que este design não é antropometricamente adequado, sendo esta tarefa penosa se for realizada rotineiramente. Este parece ser o real motivo da não utilização da cabine na prática, ou seja, é o motivo pelo qual os operadores preferem não utilizá-la. Na Figura 3c e 3d são apresentadas imagens corroborando estas observações. Estando ambos os processos melhor compreendidos, por meio de um processo de design participativo (MORAES e SANTA ROSA, 2012), as questões observadas foram francamente discutidas em conjunto com os operadores. Não foram postuladas alterações no processo que demandassem automação ou maiores investimentos. Como resultados foram realizadas consensualmente as seguintes recomendações à empresa:

- para se melhorar a praticidade da realização da pressurização, a porta da cabine de proteção deverá ser afixada na lateral esquerda da cabine que fica à direita da fenda. A nova porta da cabine ficaria então em forma de “L”, sendo que o dispositivo para fechamento ficaria na própria lateral esquerda.

- para resolver a questão da abertura da fenda do lado direito da cabine de proteção (ponto crítico), a solução sugerida foi o de simplesmente se aumentar a largura da fenda.

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Na Figura 4 se apresenta uma representação da situação anterior e do proposto. Estas recomendações foram acatadas e imediatamente implantadas pela empresa. Na Figura 5 se tem imagens da nova cabine de proteção.

FRENTE COM LATERAL ESQUERDA LATERAL DIREITA

ANTES PROPOSTO ANTES PROPOSTO

(a) (b)

FIGURA 4. Representações esquemáticas da cabine, como encontrado e com as alterações propostas.

FIGURA 5. Imagens da cabine modificada. A esquerda uma visão da porta em forma de “L”, no centro uma visão da nova abertura da lateral direita, e a esquerda o operador utilizando a nova cabine numa pressurização. 5 Avaliação da atividade modificada

5.1 Descrição

Na Tabela 3 são descritas as principais ações da tarefa na nova cabine. Apesar das várias ações a tarefa é dividida em 3 fases críticas: pegar o extintor no chão e o colocar na cabine; a pressurização em si; e retirar o extintor da cabine e o colocar no chão. O novo ciclo médio de trabalho (tempo para pressurização de 1 recipiente de extintor) é de cerca de 50 segundos (redução de aproximadamente 8% no tempo do ciclo com a nova cabine).

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TABELA 3. Descrição das principais ações da tarefa na nova cabine. - pegar o extintor pela válvula com a mão direita;

Fase 1 - suspender com a mão direita e colocar o extintor dentro da cabine de proteção sobre a base na altura desejada com o indicador de pressão virado para frente (utilizar a mão esquerda para auxiliar); - afixar manualmente o conector girando-o com a mão esquerda no sentido horário no orifício da válvula do extintor (checar se está firme) enquanto a mão direita dá sustentação ao extintor; - fechar a porta da cabine de proteção;

- introduzir a mão direita pela fenda lateral direita e dar sustentação ao extintor enquanto com a mão esquerda o conector é conectado com a mangueira de pressurização;

- manter a mão direita na fenda da lateral direita da cabine de proteção e pressionar a válvula do extintor. Logo em seguida, mantendo a válvula do extintor pressionada, abrir com a mão esquerda o registro da pressurização;

- mantendo a válvula do extintor pressionada com a mão direita, e com a mão esquerda controlando o registro de pressurização, observar atentamente o indicador de pressão até o ponteiro deste se estabilizar na pressão apropriada. Considerando que a pressurização ocorreu com sucesso, soltar a válvula do extintor com a mão direita e fechar completamente com a mão esquerda o registro; - retirar ambas as mão do conjunto e abrir a porta da cabine de proteção;

- desconectar a mangueira de pressurização do conector;

- retirar com a mão esquerda manualmente o conector do extintor girando-o no sentido anti-horário enquanto que com a mão direta dar firmeza ao extintor;

- colocar com a mão esquerda o conector sobre a bancada de trabalho; Fase 2

- colocar a trava na válvula do extintor com a mão direita e dar sustentação ao conjunto com a mão esquerda segurando pela válvula;

- retirar o extintor da cabine de proteção com a mão direita, inclinando o extintor para fora e utilizar a mão esquerda na lateral inferior para dar sustentação e impedir uma eventual queda do extintor; Fase 3

- colocar com a mão direita o extintor no chão ao lado esquerdo da cabine. 5.2 Avaliação antropométrica

A altura da bancada de trabalho (90,5 cm), assim como a zona de trabalho (35 cm) está satisfatória para a atividade laboral realizada em pé (PANERO e ZELNIK, 1998). A nova fenda da lateral direita da cabine (14,5 cm) é bem maior que o diâmetro dos antebraços (Figura 6), permitindo que a mão seja introduzida sem maiores dificuldades. Adicionalmente, a existência da regulagem na base móvel da cabine permite que a mesma possa se adaptar aos mais diversos modelos de extintor, fazendo com que o operador a coloque onde considerar mais apropriado ou confortável, tornando a estação de trabalho antropometricamente apropriada para a realização da atividade para os atuais operadores. Adicionalmente, a força estática realizada pelo operador pressionando a válvula durante a pressurização não é considerada prejudicial pela sua baixa duração (menos de 12 s para cada pressurização) e seu reduzido valor (cerca de 6 kg máximos1).

FIGURA 6. Dimensões (cm) do membro superior de um homem adulto (percentis 97,5; 50 e 2,5). Destacado em vermelho o diâmetro do antebraço. Fonte: adaptado de Pequini (2008, p. 42).

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5.3 Questionário Nórdico e checklist de Couto para os membros superiores

Foram também aplicados o questionário nórdico (IIDA, 2010, p. 173) e o checklist de Couto simplificado para os membros superiores2. Ambos não apresentaram nenhum indicativo evidente de dor ou dano na atividade (o Questionário Nórdico apresentou o “não” como resposta para todos os quesitos; e o checklist de Couto pontuou o total de apenas 6 pontos).

5.4 Sistema OWAS de avaliação postural

OWAS (Ovako Working Posture Analysing System) é um sistema prático de registro e avaliação postural já consolidado na literatura (IIDA, 2010, p. 170-171) e empregado com grande sucesso em muitas situações (VIRIATO et al., 2012). Neste método a atividade é subdividida em várias partes que são então categorizadas e classificadas (Figura 7). São 4 as possíveis classes posturais. Classe 1 para uma postura normal, que dispensa cuidados, a não ser em casos excepcionais. Classe 2 para uma postura que deve ser verificada durante a próxima revisão rotineira dos métodos de trabalho. Classe 3 para uma postura que deve merecer atenção a curto prazo. Classe 4 para uma postura que deve merecer atenção imediata. Estas classes dependem do efeito combinado de 4 variáveis (dorso, braços, pernas e carga) e/ou do tempo de duração das posturas.

FIGURA 7. Sistema OWAS (identificação das posturas e sua classificação pela combinação das variáveis e de acordo com a duração). Fonte: Iida (2010, p. 170-171).

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Aplicando-se então o sistema OWAS para o efeito combinado das variáveis (Figura 7) se obteve uma classificação das operações individuais que constituem a atividade de pressurização dos recipientes (Tabela 4).

TABELA 4- Registro das posturas pelo OWAS das fases da atividade.

Tronco (braços) MMSS (pernas) MMII Carga Tempo (s) Registro Postural Classifi- cação Fase 1 - pegar o extintor do

chão e o colocar na cabine. 2 1 2 1 ou 2 05 2121 10 ou 2122 10

2 Fase 2 - pressurizar o

extintor. 1 2 2 1 40 1221 80 1

Fase 3 - retirar o extintor da

cabine e o colocar no chão. 2 1 2 1 ou 2 05 2121 10 ou

2122 10 2

Pela Tabela 4, verifica-se que a atividade em si de pressurização (fase 2) é da classe 1, sem riscos para o operador. Entretanto, a retirada (ou colocação) do extintor no chão, foi inicialmente classificada pelo OWAS como 2, devido basicamente a postura do tronco.

O processo no qual os extintores são retirados (ou colocados) no chão antes e após a pressurização pode não ser o ideal devido a possibilidade de flexão da coluna (Figura 8). Entretanto, pelas alturas geralmente elevadas das válvulas, principalmente dos extintores P6, P12 e AP, pela geometria cilíndrica e pega dos extintores, pelo levantamento ser feito com somente uma das mãos, outros processos manuais menos exigentes para a coluna simplesmente não são muito realísticos de serem empregados na prática. Considera-se que esta então é e continuará sendo a realidade operacional da tarefa.

Modelo de Extintor

P4 P6 AP10 ou P12

FIGURA 8. Imagens típicas da posição para o início do levantamento dos extintores. A inclinação do tronco é mais acentuada para o P4, sendo muito sutil para os outros extintores.

Entretanto, como esta tarefa tem pequena duração no ciclo da atividade, como a atividade de pressurização dos extintores em si tem pequena duração na rotina operacional diária da oficina, e como a inclinação para a maioria dos extintores é muito sutil (Figura 8), se classificará esta operação também como da classe 1. Para esta classificação é importante que o carregamento normalmente seja feito sem rotação do tronco.

Assim, pela interpretação dos resultados do método OWAS, considera-se que a atividade de pressurização dos recipientes dos extintores no contexto deste trabalho não é considerada crítica ou merecedora de atenções especiais imediatas.

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6. Considerações Finais

Inicialmente a atividade real não estava atendendo ao preconizado. Assim, o trabalho prescrito e o real foram devidamente avaliados, e como consequência modificações no processo e no design da cabine de proteção foram sugeridas e devidamente implantadas pela empresa. Após as modificações, se verificou que o dispositivo de proteção ao operador está sendo plenamente utilizado, e que baseado na análise antropométrica da estação de trabalho, do Questionário Nórdico, do checklist de Couto simplificado para os membros superiores, e do sistema OWAS de avaliação postural, a atual tarefa de pressurização de recipientes de extintores portáteis AP e PQS não aparenta trazer significativos riscos ergonômicos à saúde dos atuais operadores, bastando à empresa a manutenção da vigilância do processo e do comprometimento dos envolvidos quanto à manutenção da postura e metodologia adequada. Referências

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Referências

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