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PODER JUDICIÁRIO SÃO PAULO

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PODER JUDICIÁRIO

SÃO PAULO

SEGUNDO TRIBUNAL DE ALÇADA CIVIL Décima Câmara

APELAÇÃO SEM REVISÃO Nº 572.100-0/0 – SÃO JOSÉ DOS CAMPOS Apelantes: Juízo de Direito ex officio

Instituto Nacional do Seguro Social Apelado : Luiz Carlos Portes dos Santos

REEXAME NECESSÁRIO. Lei nº 9.469, de 1997, artigo 10. Equiparação da entidade autárquica à Fazenda Pública. Entendimento que beneficia o hipossuficiente, por evitar interposição de recurso constitucional que exigiria maior tempo para entrega da prestação jurisdicional. Conhecimento.

ACIDENTE DO TRABALHO. VIA ADMINISTRATIVA. DESNECESSIDADE DE COMUNICAÇÃO DO ACIDENTE. A prévia comunicação do acidente ao INSS é obrigação exclusiva da empregadora e sua falta não pode prejudicar o acidentado.

ACIDENTE DO TRABALHO. HÉRNIA DISCAL. LAMINECTOMIA. Técnica cirúrgica para correção de hérnia de disco, compreendida na ressecção de pequena porção da lâmina vertebral, a fim de permitir o acesso direto à hérnia e corrigi-la. Seqüelas incapacitantes.

BENEFÍCIO ACIDENTÁRIO. Segurado que teve desenvolvida a hérnia de disco de etiologia ocupacional e, que, submetido a essa cirurgia ficou com sinais e sintomas da síndrome post-laminectomia e com limitação acentuada dos movimentos do segmento lombar da coluna vertebral, faz jus ao benefício acidentário.

Voto nº 3.951

Visto.

LUIZ CARLOS PORTES ingressou com Ação de Prestações por Acidente do Trabalho contra o INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS, qualificação e caracteres das partes nos autos, alegando ser portador de “... fortes dores nas costas, passando por um

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trabalho realizado nas várias empresas em que foi contratado.

Encartado o laudo firmado pelo Perito Judicial, inviabilizada a conciliação em audiência e, vencida a instrução, houve entrega da prestação jurisdicional sendo julgada improcedente a pretensão e condenado o INSS ao pagamento do auxílio-acidente de 50% a partir da citação, abono anual, reembolso das despesas comprovadas, juros de mora computados mês a mês a partir da citação, custas processuais, honorários de perito e de advogado, estes estabelecidos em 15% sobre as parcelas vencidas até a data da sentença, com atualização das parcelas em atraso nos termos do art. 41 e seus parágrafos, da Lei nº 8.213, de 1991.

Recorreu o INSS. Argüiu preliminar de carência da ação por não ter sido instalado o “... conflito de interesses (...) não há razão em se condenar a autarquia-seguradora ao pagamento de encargos processuais, sem que antes lhe tenha sido dada a oportunidade de através de sua competência

administrativa decidir sobre a concessão, ou não, dos benefícios ...” (folhas 129/130).

No mérito sustenta que “... não há nenhuma informação relativa a ocorrência de acidente-típico ao qual pudesse estar ligado o fator desencadeante da hérnia de disco (...) não restou demonstrado que o obreiro

despendia esforço físico exagerado ...” (folha 132).

O Recorrido deixou transcorrer “in albis” o prazo para a contrariedade (folha 135v).

A PROMOTORIA DE JUSTIÇA manifestou-se pelo não provimento. A PROCURADORIA DE JUSTIÇA entendeu desnecessário o recurso oficial e opinou pela não acolhida do apelo.

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Tem aplicação às ações acidentárias a ordem de reexame necessário da sentença proferida contra o INSS. A matéria foi tratada pela Medida Provisória nº 1.561, de 1997, e na subseqüente Lei nº 9.469, de 1997, que, no art. 10 manda aplicar às Autarquias o disposto no artigo 475, caput, inc. II, do Cód. de Proc. Civil.

Inqüestionável a natureza autárquica do ente previdenciário, em que pese sua atuação como segurador de empresas privadas. Daí sua equiparação à Fazenda Pública para os fins de reexame obrigatório das decisões de primeiro grau que lhe sejam desfavoráveis.

A mesma Lei nº 9.469/97, em seu artigo 1º, prevê a possibilidade de acordos ou desistências de recursos voluntários por parte das autarquias. Em igual sentido dispõe a Lei nº 8.213, de 1991, no art. 131, conforme redação dada pela Lei nº 9.528, de 1997.

Mas nem por isso se há dizer incompatível o preceito com a revisão procedida através do chamado recurso de ofício. Basta lembrar que, em processos em que seja parte a Fazenda também se poderia aventar a hipótese de transigência ou desistência de recurso, procedimento excepcional que, todavia, não afasta a norma genérica do artigo 475, inc. II, do Cód. de Proc. Civil.

Não constitui novidade essa previsão de reexame obrigatório no campo da legislação infortunística. Existiu norma expressa, a respeito, na Lei nº 5.316, de 1967, em seu artigo 15, § 5º. Com a superveniência de outros diplomas, até a (vigente) Lei nº 8.213, de 1991, desapareceu aquela determinação, mas a questão restou em aberto, sem previsão em sentido contrário. Por isso é que não se há dizer incompatível o sistema de lei vigente com a norma especial agora reintroduzida pela Lei nº 9.469, de 1997.

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Há entendimentos respeitáveis em sentido contrário. Enquanto a jurisprudência não se posicionar afigura-se, permissa vênia,

de melhor política econômica para o Segurado o conhecimento e a apreciação do recurso de ofício, evitando-se a interposição de recursos constitucionais1 que, sem dúvida, demandariam tempo bem maior para

possível execução da decisão que lhe for favorável.

A preliminar argüida pelo INSS não procede. O benefício acidentário tem caráter alimentar e, como tal, necessário para a satisfação das necessidades do segurado.

Louvável o propósito de cada norma em proteger amplamente o segurado, concedendo-lhe oportunidade para reivindicar diretamente seus direitos infortunísticos, o que autoriza dizer que não estavam erradas as legislações.

O nosso povo é humilde, trabalhador e o segurado sempre foi carecedor de uma educação regular da lei de acidentes do trabalho, tanto que em determinados centros os Sindicatos de classe chamam para si, através dos Departamentos Jurídicos, a responsabilidade da representação do segurado filiado, suprindo-lhe a deficiência técnica.

Verifica-se que o fenômeno entre o capital e o trabalho foi o fator orientador adotado pelo legislador anterior2, pela tendência

preocupadora em proteger aquele tido como em posição mais desfavorável. Isto já ocorria nas Leis anteriores em relação à infortunística.

A Súmula nº 89, do Superior Tribunal de Justiça afasta qualquer dúvida:

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“A ação acidentária prescinde do exaurimento da via administrativa”.

Esse entendimento prevaleceu com o Decreto nº 2.172, de 1997. A Emenda Constitucional nº 1, de 1969, dispunha:

“Art. 4º. A lei não poderá excluir da apreciação do Poder Judiciário qualquer lesão de direito individual. O ingresso em juízo poderá ser condicionado a que se exauram previamente as vias administrativas, desde que não exigida garantia de instância, nem ultrapassado o prazo de cento e oitenta dias para a decisão sobre o pedido”3.

A Constituição Federal de 1988, repetiu, em termos, esse entendimento. Diz, no art. 5º:

“XXXV- A lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”.

“LV- Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”.

“LXXIV- O Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos”.

Afigura-se tecnicamente correta a norma, porque, feita a comunicação do evento, não poderá o segurado aguardar indefinidamente uma solução administrativa, fato que poderá ser mais comum nos casos de doenças profissionais ou do trabalho do que dos acidentes típicos.

Em razão do princípio do livre acesso ao Judiciário, encartado no artigo 5º, inciso XXXV, da Constituição Federal, não se

nº 8.950, de 1994 – Recursos Especial e Extraordinário.

2- Lei nº 6.367, de 1976, art. 13.

3- Essa redação foi dada pela Emenda Constitucional nº 7/77. A original estava assim posta: “§ 4º. A

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pode exigir o esgotamento da via administrativa para a postulação do direito à prestação acidentária. Nesse sentido aponta a Súmula nº 89 do Superior Tribunal de Justiça4.

Anote-se, em reforço ao entendimento, que a Súmula nº 89 do Superior Tribunal de Justiça, afastando a exigência de exaurimento da via administrativa, deixou sinalizado ser dispensável prévio reclamo junto ao órgão segurador.

Em procedimento onde a questão possa ser levantada, a solução racional será afastá-la por revelar-se presente o interesse de agir do segurado.

No mérito o recurso tem caráter protelatório diante da segurança e da evidência da prova pericial.

O “Estudo Tomográfico Computadorizado da Coluna

Lombo-Sacra” concluiu ser o Apelado portador de “Hérnia Discal Extrusa Postero

lateral a Esquerda em L5-S1 ...” (folha 86).

O laudo pericial foi incisivo:

“... No caso atual, o autor foi submetido a tratamento cirúrgico para hérnia de disco em 10/97 e ficou com sinais e sintomas da Síndrome Post-Laminectomia, conforme dados do exame físico especial (Sinais de Lasegue e Bragard positivos a direita e limitação acentuada aos movimentos do segmento lombar da coluna vertebral) e da tomografia computadorizada recente. Tais alterações são irreversíveis e de tratamento puramente sintomático (analgésicos, fisioterapia, etc.).

Desde 1976, até o presente, o autor realiza as atividades de mecânico ajustador. Trata-se de profissão altamente traumatizante da coluna vertebral, principalmente do segmento lombar (que é o mais

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móvel), gerando micro/macrotraumas sobre o disco intervertebral, sendo por isso o principal agente na eclosão e na progressão da patologia herniária discal.

Em conclusão, o autor desenvolveu hérnia de disco de etiologia ocupacional e após o tratamento cirúrgico, ficou com seqüelas denominadas de Síndrome Post-Laminectomia.

Está incapaz parcial e definitivamente para as funções de mecânico, sendo necessário seu encaminhamento para a reabilitação profissional, para que possa vir a desempenhar outra atividade de menor complexidade ...” (folhas 83/84).

A hérnia discal lombar tem característica própria. Um traumatismo agudo ou crônico dá origem à ruptura do anel e a conseqüente expulsão do núcleo pulposo de sua posição central, deslocando-se, em geral de forma lateral, onde comprime as raízes nervosas, surgindo a patologia dolorosa chamada "hérnia discal", ou "hérnia

de disco" que, conforme a localização pode ser cervical, dorsal ou lombar.

Mais da metade dos casos de hérnia discal lombar é conseqüência de um traumatismo agudo ou crônico da coluna lombar.

“Entende-se por hérnia discal a protrusão do núcleo pulposo, através de lesão do anel fibroso que o circunda.

Essa ruptura pode se dar sob ação de trauma único, como um esforço considerável, por exemplo, ou, por ação de traumas continuados, ainda que não intensos, incidentes em disco que se apresente com processo degenerativo, em razão de desidratação e conseqüente espoliação bioquímica.

O núcleo pulposo assim protruído, dependendo de sua localização, poderá comprimir raízes nervosas. Em geral, as protrusões são posteriores e, assim, as compressões podem ser causa de ciáticas e outros sintomas como a cervicobraquialgia se o comprometimento é a nível cervical, baixo.

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considerar as possibilidades causais entre as quais pode se encontrar: a)- Uma ação traumática propriamente dita.

b)- Um ato laborativo de aspecto especial que se denomina

esforço.

c)- Uma ação habitual, freqüentemente repetida, diretamente ligada ao trabalho.

d)- Uma atividade profissional especial (...) PROTRUSÃO DISCAL

Essa patologia é originária da expansão do anel fibroso discal além dos limites ósseos do carpo vertebral, o que pode chegar a comprimir elementos de raízes motoras ou sensitivas que emanam da medula, causando sintomas semelhantes a hérnia discal.

Nesses casos não é o núcleo pulposo, mas o próprio anel discal o elemento compressivo. Não é ainda hérnia discal, mas um estado do disco que precede a eclosão herniária.

Essa expansão discal ocorre em razão de um achatamento do disco, devido a carga suportada pela coluna sobre os discos em processo degenerativo. A obesidade e a faixa etária são condições predisponentes, sendo os esforços físicos e posições antiergonômicas do segmento vertebral, como hábito laboral continuado, causas desencadeantes 5”.

Constatada pela perícia a moléstia e evidenciada sua ligação com as exigências do trabalho desempenhado pelo obreiro, cabível é a prestação acidentária.

“Admissível a concessão de benefício conferido ao obreiro em face de ser portador de hérnia de disco adquirida na vigência do pacto laboratício 6”.

5 - Irineu Antonio Pedrotti, “Doenças Profissionais ou do Trabalho”, Ed. Leud, 1998, págs 82 e 83.

6 - 2º TACivSP - Ap. s/ Rev. 503.361 - 1ª Câm. - Rel. Juiz MAGNO ARAÚJO - J. 15.12.97. No mesmo sentido: Ap. s/ Rev. 524.725 - 12ª Câm. - Rel. Juiz RIBEIRO DA SILVA - J. 20.8.98; Ap. s/ Rev.

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Em face ao exposto, rejeita-se a preliminar e nega-se provimento ao recurso.

IRINEU PEDROTTI Relator

526.715 - 3ª Câm. - Rel. Juiz ACLIBES BURGARELLI - J. 20.10.98; Ap. s/ Rev. 552.092-00/9 - 12ª Câm. - Rel. Juiz CAMPOS PETRONI - J. 5.8.99.

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