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PARANISMO E PENSAMENTO DOS EDUCADORES DO SÉCULO XX

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Academic year: 2021

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Márcia Medeiros Machado / PUC-PR creattyve@terra.com.br

Resumo

O Movimento Paranista, na década de 1920, pode ser considerado como o marco da ideologia regionalista no estado do Paraná e teve como maior paradoxo o fato de recorrer a um comportamento considerado, por muitos, como conservador e em plena inquietude dos tempos ditos modernos. Visto que em São Paulo, como reflexos da evolução da arte ocidental, ocorria na época um dos mais revolucionários momentos da arte no Brasil. Desta forma, considerando-se este contexto, a pesquisa aborda a influência do movimento paranista na formação dos professores normalistas deste período, sobre o qual se pretende desvendar de que forma e em que momentos, o Movimento Paranista refletiu seus ideais nos conteúdos didático-pedagógicos. Como objetivos específicos têm-se: Compreender o significado e as características do paranismo; identificar intelectuais paranistas que atuavam na área educacional; resgatar documentos ,que confirmem a influência paranista nos conteúdos escolares dos cursos de formação de professores; pesquisar as produções teóricas e artísticas de professores e alunos do período enquanto fontes que subsidiem a pesquisa. A metodologia adotada inclui: Pesquisa bibliográfica para o estágio da arte, referente ao tema abordado; Análise de documentos sobre a História do Paraná e sobre a História da Educação paranaense; História Oral (relatos de professores e normalistas); análise dos dados à luz do referencial teórico e a elaboração do respectivo trabalho dissertativo.

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Introdução

O tema que aborda as influências do paranismo na educação paranaense, especificamente, na formação do professor, insere-se na linha de pesquisa História e Políticas da Educação do Mestrado1 em Educação da Pontifícia Universidade Católica do Paraná..

A educação e a cultura regional convergem, então, para a pesquisa sobre a influência do movimento paranista na formação dos professores, na qual se pretende desvendar, de que forma e em que momentos, o Movimento Paranista refletiu seus ideais nos conteúdos didático-pedagógicos. O Movimento Paranista, na década de 1920, pode ser considerado como o marco da ideologia regionalista no estado do Paraná e teve como maior paradoxo o fato de recorrer a um comportamento considerado, por muitos, como conservador e em plena inquietude dos tempos ditos modernos. Visto que em São Paulo, como reflexos da evolução da arte ocidental, ocorria na época um dos mais revolucionários momentos da arte no Brasil. É lançado, então, a seguinte questão: Como esta tentativa de implantar identidade e ideologia2 consideradas tipicamente paranistas, advindas de uma elite cultural, repercutiu no meio político e acadêmico, em especial na formação do professor normalista, na 1ª metade do século XX?

Como objetivo principal, procura-se analisar eventuais influências do movimento paranista na formação de professores da Escola Normal do Paraná. Como objetivos específicos têm-se: Compreender o significado e as características do Paranismo; identificar intelectuais paranistas, da época, que atuavam na área educacional, principalmente, na Escola Normal - a presença de Romário Martins no cenário educativo do Paraná, será de grande importância para que se possa compreender como se deu a relação entre simbolismos e paranismo, pois, esta investigação dependerá da identificação de alguns dos professores considerados adeptos a estes movimentos; resgatar documentos como currículos escolares ou anotações que confirmem a influência paranista nos conteúdos escolares dos cursos de formação de professores; pesquisar as produções teóricas e artísticas de professores (como Lange de Morretes e João Turim) e alunos do período enquanto fontes que subsidiem a pesquisa. A metodologia adotada inclui: Pesquisa bibliográfica para o estágio da arte, referente ao tema abordado; Análise de documentos sobre a História do Paraná e

1 Sob a orientação da Profª. Maria Elisabeth Blanck Miguel.

2 O termo ideologia é aqui empregado como um conjunto de idéias que traduzem uma determinada forma de ver o mundo e justificam determinadas relações sociais e determinados valores. Neste caso, as relações que acontecem no contexto regional, inter-relacionando-se com o universal. Os símbolos da região que são valorizados são meios pelos quais se procura expressar a identidade regional. Este breve ensaio tenta explicar o sentido de ideologia regional, conceito este que será mais aprofundado durante a escrita da respectiva dissertação.

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sobre a História da Educação paranaense; História Oral (relatos de professores e normalistas); análise dos dados à luz do referencial teórico e a elaboração deste trabalho dissertativo.

Para fins deste artigo, procurou-se sintetizar o material produzido na seguinte seqüência: Paranismo e algumas questões conceituais: Os movimentos culturais na década de 20 e seus representantes; Alguns educadores paranistas; A busca do conteúdo paranista na Escola Normal e Considerações parciais.

1) O paranismo e algumas questões conceituais:

O termo paranista, foi usado pela primeira vez por Domingos Nascimento, em 1906, significando “natural do Paraná, esforçado pelo seu progresso, prestígio e integridade” 3. Outros historiadores atribuem o feito ao escritor Romário Martins. Porém, foi ele próprio que, num depoimento4, esclareceu esta dúvida, afirmando as origens anteriores do vocábulo, esclarecendo que, Domingos Nascimento em uma viagem ao norte do Estado notou que ninguém chamava o “natural do estado do Paraná” de paranaense, mas de paranista. O motivo era um simples e espontâneo trocadilho com o termo paulista, uma vez que a maioria das terras daquela região era constituída de imigrantes advindos de São Paulo. Domingos, então, percebendo força de expressão exercida pelo sufixo “ista”, adotou de vez o termo paranista, dando a ele o valor de devoção, ou seja, “paranaense devotado” e iniciou a divulgação, publicando sua teoria em artigo de jornal. A partir de então, outros escritores e jornalistas aderiram ao termo, engajados ou não no que mais tarde passou a ser um Movimento. Paranista passou, então, a ter o significado de não necessariamente “o nascido no Paraná”, mas, segundo Martins, “todo aquele que tem pelo Paraná uma afeição sincera”.

Já segundo Trindade, em um artigo sub-intitulado de “A construção de uma identidade regional”, coloca-se em questão dois termos: o paranismo, já abordado anteriormente e paranidade. A historiadora reporta-se ao primeiro como referente a um determinado movimento, contínuo, porém, mais delimitado. E paranidade, seria utilizado para designar um contexto mais amplo, de temporalidade permanente que “constrói-se, desconstrói-se, reconstrói-se em função do momento histórico que ele acompanha” (TRINDADE, 1997, p. 65). E suas dimensões abrangeriam tanto o caráter cultural, quanto o político e o social. Entretanto, é importante, enfatizar que o foco

3 Apud Roderjan, 1975.

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desta pesquisa é o paranismo, embora, haverá indícios de paranidade quando da abordagem sobre o movimento simbolista e, mais especificamente, quando sobre o civismo na educação paranaense.

A fim de se compreender melhor o perfil dos professores que lecionaram na escola normal, que influências sofreram e, dentre eles, quais poderiam ser denominados paranistas, surge a necessidade de uma contextualização histórica sobre os movimentos que antecederam o paranismo, considerando que o início do século XX, em Curitiba, foi marcado pela oposição entre os pensamentos católico e laico.

2) Os movimentos culturais da década de 20 e seus representantes: Simbolismo e educação no Paraná

Movimento, essencialmente anticlerical, teve como maior líder no Paraná, Dario Vellozo que, em 1890, já deixava evidente sua postura radical a favor de um ensino laico. Isto pode ser exemplificado com um trecho escrito em seu periódico Electra:

... no ciclo luminoso do liberalismo, contra os raciocínios rasteiros, (...) jesuitismo dissolvente, clericalismo rasteiro, contra todos os inimigos da Razão, da Ciência, do Progresso, da justiça, da Caridade, da Liberdade, da Família, da Pátria e da Humanidade5 (Pereira,1998 , p. 28)

Além deste periódico, segundo o autor, circulava no Estado a revista simbolista chamada Cenáculo, a qual, além de Vellozo, contava com a coordenação de outros intelectuais como Romário Martins, Silveira Neto, Júlio Perneta e Antônio Braga e tinha como colaboradores Domingos Nascimento, Emiliano Perneta, e Victor do Amaral, todos republicanos assumidos e em busca de uma identidade regional paranaense.

Em relação ao ensino, sabe-se que, de acordo com Miguel (1997, p. 18), o movimento simbolista no Paraná chegou a influenciar as idéias da Escola de Professores de Curitiba6 em 1938, na qual Vellozo foi professor. Seu objetivo principal era lutar “contra a influência da Igreja Católica na formação das consciências paranaenses e, em especial, curitibanas” (Id.)

Na busca de uma linha que definisse com que tipo de pensamento se desejava formar os professores curitibanos, encontrava-se Vellozo, com seu neo-pitagorismo simbolista e anticlerical.

Desta forma, a fim de traçar-se um paralelo entre os movimentos simbolista e paranista, destaca-se dos já citados, o historiador Romário Martins que teve participação efetiva em ambos os

5 Periódico Electra, 1890.

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movimentos. Enquanto Vellozo, também historiador e professor do Estado7, fundava o seu Instituto Neo-pitagórico, o chamado Templo das Musas, Romário Martins, também professor, dedicava uma longa carreira ao Jornal A República8, como simbolista militante. E assim, como o pensamento positivista transitou entre os períodos da Primeira9 para a Segunda10 República, Martins, já em plena modernidade paranaense, continuou a reforçar a idéia de construção da identidade regional. Segundo Pereira (1998, p. 53) esta luta pela construção de uma identidade repercutiu-se, simultaneamente, em vários estados com: o gauchismo no RG, a mineiridade em MG, o bandeirantismo em SP e com muita exaltação, o paranismo no PR , tendo Martins como seu precursor e maior representante.

É possível, desta forma, deduzir que o paranismo teve, de alguma forma, vínculo com o simbolismo , pois, sendo este fruto do liberalismo, assim também poderia sê-lo, o paranismo. Liberal, sim, no sentido de livre de qualquer dogma religioso e não tão conservador, como se imaginava anteriormente. Então, o movimento paranista deixa de ter o rótulo de “conservador”? Não necessariamente. O “ser”, nestas circunstâncias, passa ter uma conotação relativa, pois, pode não sê-lo enquanto resultante do movimento liberalista; por outro lado, pode sê-lo enquanto raiz, resistente às inovadoras idéias modernistas.

Compreende-se, entretanto, que o aspecto simbolista do paranismo torna-se explícito quando se evoca, a todo o momento, os símbolos regionalistas do Estado. Sejam eles enquanto discurso, sejam eles enquanto representação plástica. Além disto, a questão do civismo como resgate dos símbolos regionalistas é mais uma das possibilidades neste estudo.

Movimento Paranista :

O paranismo, segundo o Profº David Carneiro, passou a ser um “sentimento de justiça causado pelo abandono e desprestígio sofrido pelo Paraná, desde os tempos da Guerra do Paraguai, até o caso do Contestado” (RODERJAN, 1975). Na verdade, este foi um dos grandes motivos de repercussão deste Movimento que teve sua força acentuada quando somada aos reflexos do modernismo.

7 Ginásio Paranaense. 8

Segundo Pereira (1998, p.71), Romário Martins exerceu no jornal as seguintes funções: tipógrafo, auxiliar de redação (1886) e, depois, editor chefe (1930).

9 1889 a 1929 101929 a 1937

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O paranismo, de algum modo, parece ter seus reflexos na educação, principalmente, nas áreas de literatura, história, artes e desenho. Mas, o mais instigante foi verificar que este movimento não teve o mesmo objetivo para todos os seus adeptos e, em conseqüência, pode ter resultado em diferentes formas de manifestação no ensino local, identificando-se, portanto, até o momento, um paranismo positivista (aspecto político), um simbolista (enquanto representação gráfica de ícones) e um romântico (a representação artística).

3) Alguns educadores paranistas:

A cultura curitibana da década de 1930 teve representantes que, embora não explicitassem discursos tão ufanistas, como os de Romário Martins, foram considerados paranistas e para artistas como João Turim e Lange de Morretes, nada mais natural que agregar símbolos regionais ao seu fazer artístico. Quanto à ligação do paranismo a pratica pedagógica, verificam-se, a seguir, diferentes modos de ensino, tendo como início o ensino da história, com Romário Martins, o precursor do movimento paranista, depois o ensino informal de artes plásticas, com Turim em seu ateliê e, enfim, Lange de Morretes e seus estudos sobre o pinhão estilizado, possivelmente aplicado ao ensino de desenho.

Romário Martins e o ensino de história: um paranismo positivista:

Alfredo Romário Martins, curitibano, nascido em 1874, aos 10 anos ficou órfão de pai. Segundo Carollo11, a falta do pai dificultou a complementaridade de seus estudos em faculdades no Rio ou em São Paulo. Por isso, cresceu com uma grande mágoa do sistema, chegando a declarar em uma de suas obras12: “As circunstâncias da vida me tiraram da escola e me atiraram numa oficina, onde aprendi o ofício de tipógrafo (...) A escola é uma oficina. Aí se constroem a Família, a Sociedade e a Pátria.” (MARTINS apud CAROLLO, 1952, p. XVIII).

Após alguns anos dedicados ao jornal13 , à poesia e à literatura, concluiu seu primeiro trabalho na área da historiografia paranaense: Combate de Cormorant – 1898. E em seguida escreveu a monografia adotada pelas escolas públicas, a obra: História do Paraná. Em 1900, idealizou e fundou o Instituto Histórico, Geográfico e Etnográfico Paranaense.

11 Introdução da reedição do livro Terra e gente do Paraná de Romário Martins. 12 O nome da obra é : Eu penso que...

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Em 1927, Romário Martins criou um espaço no qual se centralizavam todos os intelectuais vinculados ao paranismo: fez surgir o, então, Centro Paranista. Erguendo-se, então, com maior convicção, este movimento preocupado com o desenvolvimento do Estado e com os rumos “do progresso e da civilização”, foi fundamentado no sentimento. Ao Centro Paranista, não importava por quais meios os homens demonstravam o amor por sua terra – lavrando, construindo, pintando, redigindo, esculpindo – todos estavam enlaçados em um “novo espírito”. A ideologia: um Paraná maior e melhor, pelo trabalho, pela ordem, pelo progresso, pela cultura, pela civilização. Este ideal tornou-se público a partir de um manifesto divulgado no Centro, pelo próprio Romário Martins: o Manifesto Paranista.

Em 1932, surge a “União Paranista”, melhor fundamentada e esquematizada, a qual era responsável pela organização e obrigação de um Decálogo, no qual se encontravam as “condições de progresso” (liberdade e ordem, asseguradas a todas as manifestações honestas do pensamento e ação).

João Turim: o ensino de artes e um paranismo romântico:

Turim pode ser considerado a incorporação da arte paranista. Foi um dos artistas de sua época, adepto ao movimento, quem mais produziu obras com a temática em questão. Por ser muito reservado e preferir não lecionar em escolas, costumava causar estranheza em alguns jovens artistas.

Sabe-se também, que o atelier de Turim era muito freqüentado pelos alunos da Escola de Belas Artes do Paraná. Geralmente, mostrava-se muito preocupado com a juventude: particularmente costumava ler, mas orientava os jovens à leitura e ao estudo. Não gostava de imaginar seus “pupilos” mal orientados, numa geração que tendia para a tal “arte moderna”, tão temida pelos paranistas. Turim a chamava de “Perigo da Mocidade” e, ainda dizia: “O Movimento Modernista tem muito de passageiro”. E que só sobraria, quem fosse “realmente artista”. Mas neste caso, venceu o modernismo.

Lange de Morretes: ensino do desenho técnico e o paranismo simbolista:

Lange era muito amigo de João Turim e, juntamente com João Ghelfi, formava um grupo íntimo de paranistas. Em uma das reuniões, na casa de Ghelfi, aconteceu uma verdadeira

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“semeadura” de idéias. Nesta época todos já haviam regressado de seus estudos na Europa, e enquanto conversavam, Ghelfi , esboçava um desenho na parede com carvão: era o tronco de um pinheiro, representando o fuste de uma coluna e sobre ele, a composição de um grupo de pinhas, formando o capitel. Eis que Ghelfi cria uma das fontes de inspiração para o que seria o estilo paranista.

Lange, ligado às artes gráficas, com tendência para o aspecto ilustrativo, estilizou a forma do pinhão, para sempre. No início, os trabalhos eram praticamente empíricos. Mas, cada vez mais apaixonado pelo símbolo do pinheiro, passou a estudá-lo cientificamente14: seus vários tipos, resistência, cor, as proporções do pinhão, o pinho, o tronco, a camura15 e a simetria de todos estes elementos. Criando a fórmula para a forma plana e ornamentando com a camura, obteve a seqüência que fornecia os elementos para serem utilizados nos mais diferentes ramos da arte aplicada. E deixou bem claro que, esta fórmula pertencia ao domínio público, a pequenos profissionais ou a quem dela quisesse fazer uso, sem nunca poder sem patenteada. (MORRETES, 1944) 16

Porém, por divergências políticas17, demite-se do cargo vitalício que mantinha na Escola Normal e no Ginásio Paranaense, vai para São Paulo dedicar-se à pesquisas em outra área18 e só retorna após a morte de Manoel Ribas,em 1945, durante a intervenção de Clotário de Macedo Portugal, assumindo funções no Museu Paranaense. 19

4) A busca do conteúdo paranista na escola normal:

Consta como um dos objetivos específicos deste trabalho a identificação de paranistas dentre os docentes advindos da Escola Normal, bem como dos professores que lecionaram para os mesmos.

A Escola Normal em Curitiba pode ser compreendida a partir da história do Instituto de Educação do Paraná, o qual sofreu, ao longo dos anos, mudanças significativas, devido às Reformas no ensino. Dentre os fatos que merecem relevância, está a mudança progressiva da

14 Temendo o fim dos pinheirais, Lange viajou muito, não só estudando, mas lutando contra o desmatamento. 15 Folha do pinheiro.

16

Revista Ilustração Brasileira. Dezembro/1953. Nº224. p. 99. 17 O interventor na época era Manoel Ribas.

18 Malacologia: Estudo dos moluscos.

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nomenclatura desta Instituição, desde sua fundação em 1876 até 199220. A pesquisa documental ficará, porém restrita ao período de 1936 à 1946, quando a instituição era ainda denominada Escola de Professores.

Quanto à busca do paranismo na Escola Normal, chega-se a alguns dilemas: Sendo os professores da Escola Normal os mesmos do Ginásio21, que disseminaram entre seus alunos as mesmas influências sofridas pelos movimentos em questão22, como identificar dentre estes professores os que, uma vez paranistas, conseguiram transmitir seus pensamentos em uma época estigmatizada pelo conflito de ideais?

Segundo Miguel (2004, p. 20), os professores mais liberais, ditos “livres pensadores” permaneceram no Ginásio Paranaense só até a reforma de 1923, pois tanto o governador23 da época, quanto o diretor da escola24, eram católicos. Para a Escola Normal Secundária, em sua nova sede, inaugurada em 1922, foram, então, contratados novos professores e, possivelmente, retomou-se até a década de 30, um padrão mais conservador no ensino do magistério em Curitiba.

Respeitando-se esta delimitação, quanto ao material já levantado no respectivo ambiente 25, buscou-se investigar, sobretudo, quais dos professores que lecionando de 1930 a 194626, ofereceram em seu conteúdo ministrado, aspectos de influência paranista.

Foram, a princípio, analisados três documentos datados de 1944, 1942 e 1942/1941. Atentou-se para os nomes dos professores, disciplinas lecionadas e seus respectivos conteúdos. Os documentos são os seguintes: “Boletim Anual dos Exames”, “Relatórios de trabalhos da Inspetoria Federal de Ensino Secundário” e Relatório referente à 1ª prova parcial”, apresentados detalhadamente, na seqüência.

Considerando, que nesta época não havia a disciplina História do Paraná para se verificar o conteúdo que possivelmente abordasse questões regionais, as atenções foram focadas nos professores.

20 Quando teve sua nomenclatura precedida de “Professor Erasmo Pilotto”, como Instituto de Educação do Paraná

Professor Erasmo Pilotto.

21 MIGUEL, 1997, P. 25.

22 O simbolista, posteriormente transformado em neo-pitagórico, e o paranista.. 23 Caetano Munhoz da Rocha

24 Lyisímaco Ferreira da Costa. 25

Arquivo Morto do IEPPEP.

26 Data em que a Lei Orgânica unifica todos os cursos de magistério do Brasil e que a Escola Normal Secundária de Curitiba passa a chamar-se Instituto de Educação do Paraná. Esta também é a época em que se concentra a atividade paranista na área artística.

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Desta forma, quanto aos professores selecionados como paranistas em potencial, encontrou-se:

Raul Gomes: Escritor citado em trabalhos acadêmicos de universidades paranaenses. E em textos escritos por ele, pode-se perceber que existe uma exaltação, um tanto excessiva, às coisas do Paraná, no caso, Ponta Grossa.

América da Costa Sabóia: A partir da leitura de um outro trabalho acadêmico, desvendou-se uma escritora que possui obras, que podem ser consideradas regionalistas, como Curitiba de Minha Saudade27 ;

Oswaldo Lopes: Um artista que fez obras como o busto de Hipólyto de Araújo, herói da cidade histórica, genuinamente paranista: Lapa.

Não se encontrou, portanto, entre estes professores, algum explicitamente paranista. Ao contrário, alguns como Osvaldo Pilotto, estão vinculados à Pedagogia da Escola Nova. Mas como se explicou anteriormente, as escolas deveriam estar repletas de ideologias diferentes, conseqüentes dos diversos movimentos culturais, dos quias participavam seus professores. Anticlericais ou não, possivelmente, em algum momento plantou-se entre os normalistas a semente paranista. Como, quando e de que forma isto se deu, continua a ser o problema principal.

Considerações parciais:

Em uma importante fase da pesquisa surgiu a necessidade de se delimitar um pouco mais o período estudado. Esta preocupação tornou-se, portanto, um desafio quando se verificou que o paranismo originado em meados de 1920, teve reflexos consideráveis bem mais adiante de sua origem e até os dias de hoje.

Quanto aos objetivos, por enquanto, encontra-se a dificuldade de acesso aos documentos inéditos essenciais ao andamento da pesquisa, pois os mais antigos, do início do século passado, não se encontram mais nos arquivos da instituição investigada. No entanto, como já visto, foi possível se identificar alguns dos intelectuais que marcaram o movimento paranista e sua influência, mesmo que indiretamente, na educação. Além disto, pretende-se, futuramente, inserir a este trabalho a história da educação cívica no Paraná, sua simbologia regionalista, seus aspectos positivistas inseridos à instrução e suas vertentes sócio-políticas.

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Enfim, espera-se que, o caminho percorrido, até então, aponte para os resultados esperados. Pois, as investigações sobre este instigante tema continuam sendo fundamentais na contribuição à História da Educação do Paraná.

Referências

MARTINS, Romário. Terra e gente do Paraná. Curitiba: Farol do Saber, 1995.

MESQUIDA, Peri. Hegemonia norte-americana e educação protestante no Brasil (um estudo de caso). Juiz de Fora: EDUFJF: São Bernardo do Campo: Editeo, 1994.

MIGUEL, Maria Elisabeth Blanck. A formação do professor e a organização social do trabalho. Curitiba, UFPR, 1997.

PEREIRA, Luís Fernando Lopes. Paranismo o Paraná inventado. Cultura e Imaginário no Paraná da I República. Curitiba: Aos Quatro Ventos, 1998.

SCHWERTNER, Fernando. O paranismo como busca de uma identidade cultural paranaense. Curitiba: PUC-PR, 1994.

Periódicos:

Revista A Divulgação. Romário Martins.Março de 1948, pp. 90-94

Revista Ilustração Brasileira. Alusiva ao Centenário da Emancipação Política. Lange de Morretes. Dezembro/1953. Nº224. p. 97.

Revista Referência em Planejamento – Arte no Paraná – Adalice Araújo. p.25 Diário da Tarde – 12 de novembro de 1927

Artigos

DA SILVA, Walderez Pohl. Reflexões sobre a influência de Romário Martins na historiografia paranaense. Unicentro (Guarapuava),

RODERJAN, Roselis. O Paranismo. Fundação Cultural de Curitiba. 1975.

TRINDADE, Etelvina Maria de Castro. Paranismo ou paranidade? A construção de uma identidade regional. Revista da SBPH, Curitiba, n13, p.65-74, 1997.

Documentos

Ministério da Educação e Cultura. A Educação no Paraná – Erasmo Pilotto, 1954.

Eletrônicos

NICOLAZZI, FERNADO. Fabricação do sorriso: ortodontia social em Curitiba na virada dos séculos

XIX e XX. Disponível em http://www.klepsidra.net/klepsidra3/cidadesorriso.html. Acesso: 20.02.06.

WIKIPÉDIA – A ENCICLOPÉDIA LIVRE. Positivismo: Disponível em <http://pt.wikipedia.org/wiki/Positivismo >. Acesso: 13.03.06.

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CASA CIVIL .Governantes do Paraná: Disponível em

<http://www.pr.gov.br/casacivil/gov_euripedesgarcez.shtml> Acesso: 20.02.06. COLÉGIO ESTADUAL DO PARANÁ – Memória e história. Disponível em < http://www.pr.gov.br/cep/01_historia_03.shtml> Acesso: 29.04.06.

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO DO PARANÁ PROFESSOR ERASMO PILOTTO. Histórico do IEPPEP. Disponível em < http://www.ieppep.cjb.net/> Acesso: 29.04.06.

KIPPER, HENRIQUE . Spectrum – Subcultura gótica. O Simbolismo. Disponível em <http://spectrumgothic.com.br/gothic/subcultura.htm>

Referências

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