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Teologia. Antropologia e. Hamartiologia. Prof. Alexandre de Paula Amorim. Indaial a Edição

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Academic year: 2022

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(1)

Indaial – 2021

H amartiologia

Prof. Alexandre de Paula Amorim

t eologia

S iStemática ii:

c riStologia ,

a ntropologia e

(2)

Copyright © UNIASSELVI 2021

Elaboração:

Prof. Alexandre de Paula Amorim

Revisão, Diagramação e Produção:

Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial.

Impresso por:

A524t

Amorim, Alexandre de Paula

Teologia sistemática II: cristologia, antropologia e hamartiologia.

/ Alexandre de Paula Amorim – Indaial: UNIASSELVI, 2021.

180 p.; il.

ISBN 978-65-5663-885-0 ISBN Digital 978-65-5663-886-7

1. Teologia dogmática. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci.

CDD 230

(3)

Olá, acadêmico! Seja bem-vindo ao Livro Didático Teologia Sistemática II:

Cristologia, Antropologia e Hamartiologia. Uma Teologia Sistemática, por definição, é uma exposição da doutrina cristã, por isso, de forma econômica, apresentaremos apenas um panorama, ressaltando os temas clássicos mais importantes.

Na Unidade 1, entenderemos os aspectos sobrenaturais do nascimento de Cristo e identificaremos os apontamentos teológicos sobre a humanidade de Cristo, sobre a divindade de Cristo, bem como os aspectos das duas naturezas de Cristo, habitando individualmente uma única pessoa. Também serão abordadas as doutrinas da impecabilidade e pecabilidade de Cristo, os aspectos dos ofícios de Jesus e de sua obra redentora. Outros temas que serão discutidos estão relacionados com os aspectos de sua ressurreição, ascensão e da segunda vinda de Jesus.

Na Unidade 2, veremos que o Deus que criou o ser humano e lhe deu a capacidade de crer e pensar, pode nos ensinar, pela Sua Palavra, como usar a razão para o nosso bem, para o progresso da humanidade e para a glória Dele. Veremos também aspectos da criação da humanidade e poderemos identificar os apontamentos teológicos sobre a imagem de Deus no ser humano, entendendo os aspectos material e imaterial do homem, ainda abordaremos os aspectos da essência da natureza humana.

Na Unidade 3, conheceremos o que é o pecado e qual a sua origem, e compreenderemos a respeito da natureza pecaminosa no homem, verificando como o ser humano recebeu a herança pecaminosa do casal primitivo (Adão e Eva) e assim identificar as consequências do pecado, percebendo o poder que o pecado exerce sobre a raça humana e como o ser humano é justificado por Cristo para que a marca que o pecado exerce não o condene eternamente.

Bons estudos!

Prof. Alexandre de Paula Amorim

APRESENTAÇÃO

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Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, a UNIASSELVI disponibiliza materiais que possuem o código QR Code, um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos.

GIO

QR CODE

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Os UNIs eram blocos com informações adicionais – muitas vezes essenciais para o seu entendimento acadêmico como um todo. Agora, você conhecerá a GIO, que ajudará você a entender melhor o que são essas informações adicionais e o porquê você poderá se beneficiar ao fazer a leitura dessas informações durante o estudo do livro. Ela trará informações adicionais e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto estudado em questão.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material-base da disciplina. A partir de 2021, além de nossos livros estarem com um novo visual – com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura –, prepare-se para uma jornada também digital, em que você pode acompanhar os recursos adicionais disponibilizados através dos QR Codes ao longo deste livro. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com uma nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página – o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de ações sobre o meio ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Portanto, acadêmico, agora você tem a possibilidade de estudar com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.

Junto à chegada da GIO, preparamos também um novo layout. Diante disso, você verá frequentemente o novo visual adquirido. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar os seus estudos com um material atualizado e de qualidade.

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ENADE

LEMBRETE

Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento.

Com o objetivo de enriquecer seu conheci- mento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo

da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementa- res, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento.

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Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!

Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é uma dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confi ra, acessando o QR Code a seguir. Boa leitura!

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SUMÁRIO

UNIDADE 1 - CRISTOLOGIA – DOUTRINA BÍBLICA DE CRISTO ... 1

TÓPICO 1 - A HUMANIDADE E A DIVINDADE DE CRISTO: UMA PESSOA, DUAS NATUREZAS ...3

1 INTRODUÇÃO ...3

2 O NASCIMENTO DE CRISTO ...4

2.1 O NASCIMENTO VIRGINAL DE CRISTO ... 4

2.1.1 Salvação ... 6

2.1.2 Duas naturezas ... 6

2.1.3 Impecabilidade ...7

3 A UNIDADE DA PESSOA DE CRISTO ...8

3.1 UNIÃO HIPOSTÁTICA ...8

3.1.1 Por que era necessário que Cristo fosse plenamente Deus? ... 9

3.1.2 Por que era necessário que Cristo fosse plenamente homem? ... 9

3.2 IMPECABILIDADE DE CRISTO ... 11

3.2.1 O testemunho acerca da impecabilidade de Cristo ... 11

3.2.2 O debate acerca de impecabilidade e pecabilidade de Cristo ...12

3.2.3 O caráter das tentações de Cristo...12

3.2.4 Os problemas inerentes ao conceito da pecabilidade de Cristo ... 13

3.3 INTRODUÇÃO AO CONCEITO DE KENOSIS ... 14

3.3.1 O significado do conceito da kenosis ... 14

3.3.2 Teorias falsas sobre o conceito da kenosis ...17

RESUMO DO TÓPICO 1 ...18

AUTOATIVIDADE ... 19

TÓPICO 2 - JESUS, SEUS OFÍCIOS E SUA OBRA ... 21

1 INTRODUÇÃO ... 21

2 O QUE SÃO OS OFÍCIOS DE CRISTO ... 21

2.1 PROFETA ...23

2.2 SACERDOTE ...24

2.3 REI ...24

3 O QUE É A OBRA DE CRISTO ... 25

3.1 PROPICIAÇÃO ...26

3.2 EXPIAÇÃO PURIFICADORA ...26

3.3 REDENÇÃO ...26

3.4 RECONCILIAÇÃO ... 27

3.5 VITÓRIA CÓSMICA... 27

3.6 A EXTENSÃO DA EXPIAÇÃO ... 27

3.6.1 Teorias e modelos sobre a expiação ...28

RESUMO DO TÓPICO 2 ... 29

AUTOATIVIDADE ... 31

TÓPICO 3 - JESUS: RESSURREIÇÃO, ASCENSÃO E SEGUNDA VINDA ... 33

1 INTRODUÇÃO ... 33

2 A IMPORTÂNCIA DA RESSURREIÇÃO DE JESUS ... 35

2.1 EVIDÊNCIAS DA RESSURREIÇÃO DE JESUS ... 37

3 A ASCENSÃO DE JESUS: EVIDÊNCIAS E IMPORTÂNCIA... 40

(8)

4.1 O PROPÓSITO E OS RESULTADOS DECORRENTES DA SEGUNDA VINDA DE JESUS ...43

4.1.1 O futuro da igreja ...43

4.1.2 O futuro de Israel ...43

4.1.3 O futuro das nações ...44

4.1.4 O futuro da Terra ...44

4.2 DOIS ASPECTOS DA SEGUNDA VINDA DE JESUS ...44

4.2.1 A vinda de Cristo para a Igreja ...46

4.2.2 A vinda de Cristo com a Igreja...46

LEITURA COMPLEMENTAR ...47

RESUMO DO TÓPICO 3 ... 56

AUTOATIVIDADE ... 58

REFERÊNCIAS ... 61

UNIDADE 2 — ANTROPOLOGIA – DOUTRINA BÍBLICA DO HOMEM ... 65

TÓPICO 1 — A CRIAÇÃO DO HOMEM E SEU OBJETIVO E A “IMAGO DEI” REVELADA NA HUMANIDADE ...67

1 INTRODUÇÃO ...67

2 A CRIAÇÃO DO HOMEM ... 68

2.1 OBJETIVO DA CRIAÇÃO DO HOMEM ...68

3 A “IMAGO DEI” REVELADA NA HUMANIDADE ...70

3.1 O SER HUMANO ...71

3.2 FEITOS À IMAGEM E SEMELHANÇA DE DEUS ... 72

3.3 IMAGEM E SEMELHANÇA MANCHADAS ... 73

3.4 IMAGEM E SEMELHANÇA RESTAURADAS ... 73

3.5 POR QUE DEUS CRIOU O SER HUMANO COMO “MACHO E FÊMEA”? ... 75

3.5.1 Relações interpessoais harmoniosas ... 76

3.5.2 Igualdade em termos de pessoalidade ... 76

3.6 A QUESTÃO DA AUTORIDADE E DOS PAPÉIS DIFERENTES PARA HOMENS E MULHERES ....78

RESUMO DO TÓPICO 1 ... 82

AUTOATIVIDADE ... 84

TÓPICO 2 - O SER MATERIAL E IMATERIAL ...87

1 INTRODUÇÃO ...87

2 A ESSÊNCIA DA NATUREZA HUMANA, AS CONCEPÇÕES DICOTÔMICAS E TRICOTÔMICAS E UMA BREVE DEFESA DA DOUTRINA DA DICOTOMIA ...87

3 TEORIAS DA TRANSMISSÃO DA ALMA ... 92

3.1 PREEXISTÊNCIA DA ALMA (PREEXISTENCIALISMO) ...92

3.2 CRIACIONISMO ...94

3.3 TRADUCIONISMO ...96

3.4 CONCLUSÃO SOBRE AS TEORIAS DA TRANSMISSÃO DA ALMA ...98

RESUMO DO TÓPICO 2 ...99

AUTOATIVIDADE ...100

TÓPICO 3 - A CONSCIÊNCIA DO HOMEM ...103

1 INTRODUÇÃO ...103

2 A VISÃO BÍBLICA DA CONSCIÊNCIA HUMANA ... 104

LEITURA COMPLEMENTAR ...111

RESUMO DO TÓPICO 3 ... 116

AUTOATIVIDADE ...117

REFERÊNCIAS ... 119

(9)

UNIDADE 3 — HAMARTIOLOGIA – DOUTRINA BÍBLICA DO PECADO ...123

TÓPICO 1 — A REALIDADE DO PECADO DESDE O COMEÇO...125

1 INTRODUÇÃO ...125

2 O QUE É O PECADO E QUAL A SUA ORIGEM? ... 127

3 NATUREZA PECAMINOSA ...132

RESUMO DO TÓPICO 1 ...135

AUTOATIVIDADE ... 137

TÓPICO 2 - A QUEDA DO HOMEM ...139

1 INTRODUÇÃO ...139

2 ADÃO, O REPRESENTANTE FEDERAL DA HUMANIDADE ... 140

3 O PECADO ORIGINAL ... 140

4 EFEITOS NOÉTICOS DO PECADO ... 147

5 DEPRAVAÇÃO TOTAL ...149

5.1 BASE BÍBLICA PARA O CONCEITO DE DEPRAVAÇÃO TOTAL ...150

RESUMO DO TÓPICO 2 ...153

AUTOATIVIDADE ...155

TÓPICO 3 - HERANÇA ADÂMICA DO PECADO E A JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ ... 157

1 INTRODUÇÃO ... 157

2 IMPUTABILIDADE DO PECADO ...159

3 O PODER DO PECADO E SUAS CONSEQUÊNCIAS... 161

4 A REMISSÃO DOS PECADOS ...163

5 A IMPUTAÇÃO DA JUSTIÇA DE CRISTO ...164

6 A JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ ...165

LEITURA COMPLEMENTAR ...169

RESUMO DO TÓPICO 3 ... 175

AUTOATIVIDADE ... 177

REFERÊNCIAS ... 179

(10)

UNIDADE 1 -

CRISTOLOGIA – DOUTRINA BÍBLICA DE CRISTO

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

PLANO DE ESTUDOS

A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• entender sobre os aspectos sobrenaturais do nascimento de Cristo;

• identifi car apontamentos teológicos sobre a humanidade de Cristo;

• identifi car apontamentos teológicos sobre a divindade de Cristo;

• entender os aspectos das duas naturezas de Cristo, habitando individualmente uma única pessoa;

• entender as doutrinas da impecabilidade e pecabilidade de Cristo;

• entender os aspectos dos ofícios de Jesus e sua obra redentora;

• entender os aspectos de sua ressurreição, ascensão e segunda vinda.

Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará autoati- vidades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – A HUMANIDADE E A DIVINDADE DE CRISTO: UMA PESSOA, DUAS NATUREZAS TÓPICO 2 – JESUS, SEUS OFÍCIOS E SUA OBRA

TÓPICO 3 – JESUS: RESSURREIÇÃO, ASCENSÃO E SEGUNDA VINDA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.

CHAMADA

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CONFIRA A TRILHA DA

UNIDADE 1!

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HUMANIDADE E A DIVINDADE DE CRISTO:

UMA PESSOA, DUAS NATUREZAS

1 INTRODUÇÃO

Um dos assuntos mais debatidos, em termos de cristologia, é a questão das duas naturezas de Cristo, ou seja, sua humanidade completa e complexa, com toda sua materialidade e imaterialidade, e sua divindade completa e imbuída em todos os aspectos atributivos.

Este (Jesus) é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação; pois, nele, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio dele e para ele. Ele é antes de todas as coisas. Nele, tudo subsiste. Ele é a cabeça do corpo, da igreja. Ele é o princípio, o primogênito de entre os mortos, para em todas as coisas ter a primazia, porque aprouve a Deus que, nele, residisse toda a plenitude e que, havendo feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele, reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, quer sobre a terra, quer nos céus. E a vós outros também que, outrora, éreis estranhos e inimigos no entendimento pelas vossas obras malignas, agora, porém, vos reconciliou no corpo da sua carne, mediante a sua morte, para apresentar-vos perante ele santos, inculpáveis e irrepreensíveis (BÍBLIA SAGRADA, Cl 1.15-22).

A historiografia cristã contém diversos momentos em que a divindade e humanidade de Cristo foram questionadas. Existem, ainda hoje, pessoas que negam categoricamente a visão bíblica cristã da união das duas naturezas em uma única Pessoa.

Controvérsias acerca da figura de Cristo se estenderam pelos séculos e, à medida que as controvérsias cresciam e eram vivenciadas pelos cristãos, também aumentava o interesse pelo estudo teológico para elucidar tais controvérsias. Nesse ambiente opulento de debates e argumentos, surgem os primeiros concílios e seus credos da fé cristã, tentando pavimentar, com solidez teológica, as estradas dos cristãos comuns.

Então, em uma busca acadêmica, e sustentados pela sabedoria dada por Deus, os primeiros teólogos, vezes em períodos mais reversos, vezes em períodos mais amistosos, administraram uma “dieta” teológica que nutriu, ao longo dos tempos, a fé dos crentes, ajudando, assim, em uma compreensão mais linear do “esqueleto teológico”

comum que sustenta a fé evangélica.

TÓPICO 1 - A

UNIDADE 1

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Concílio: é uma reunião de autoridades eclesiásticas com o objetivo de discutir e deliberar sobre questões pastorais, de doutrina, fé e costumes. Os concílios podem ser ecumênicos, plenários, nacionais, provinciais ou diocesanos, consoante o âmbito que abarquem.

Credo: conhecido também como confissão, símbolo ou declaração de fé, é uma asseveração das crenças compartilhadas da comunidade religiosa ou secular, na forma de uma fórmula fixa que resume os seus princípios fundamentais.

NOTA

2 O NASCIMENTO DE CRISTO

O nascimento de Cristo constitui, para os cristãos, o acontecimento mais importante na história e que mudou, para sempre, a formatação do mundo em termos cronológicos, sociais, culturais e religiosos. O tempo passou a ser contado em antes e depois de Cristo. A sociedade obteve um vislumbre maior de unidade e equanimidade. A cultura se reestabeleceu na beleza e na majestosidade e a religião dirimiu os panteões e sustentou o monoteísmo.

O natalício de Jesus é um sinônimo de esperança – o foi no passado e ainda o é – de nova vida, de novos tempos, de eternidade. Esperança de descanso da fatiga imposta pelo tempo.

2.1 O NASCIMENTO VIRGINAL DE CRISTO

Orr (1915), em seu artigo “The Virgin Brith of Christ” (em português: O nascimento virginal de Cristo), sentencia que:

É plenamente reconhecido que os últimos [...] anos têm sido marcados por determinada rejeição a respeito da verdade do nascimento virginal de Cristo […]. O resultado disso é que em todos os lugares o nascimento virginal é abertamente tratado como fábula, e a crença nessa doutrina é ridicularizada como indigna da inteligência do século XX (ORR, 1915, p. 268).

Isso não se encapsulou, ficando restrito ao século passado, muito pelo contrário; o apontamento “fabuloso” se intensificou, a ponto de cristãos professos de denominações tradicionais e de ratificada teologia adentrarem por esse caminho. No entanto, o grande problema em se rejeitar essa doutrina é o fato de ela ser a base para outras doutrinas importantes na confecção teológica de cunho salvífico.

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Berti (2017) afirma que teólogos reconhecem as dificuldades da doutrina do nascimento virginal, embasados em arcabouços céticos que apontam a improbabilidade de um nascimento nesses moldes, perguntando-se como uma doutrina tão fundamental para o cristianismo apresenta tão poucas evidências disso nas Escrituras. Ainda afirmam que o nascimento virginal de Jesus nada mais é que uma reedição de antigos mitos e questionam acerca de como os relatos bíblicos se divergem e, em divergindo, como pode haver neles veracidade.

Os apontamentos céticos citados são pertinentes, mas o que precisamos lembrar é que, da mesma forma que surgem questões de difíceis resoluções, surgem também respostas satisfatórias que moldam e amparam a doutrina.

Em termos de exemplificação na crença de um nascimento virginal, atenta-se que, além dos textos conhecidos do Novo Testamento, que estão no primeiro capítulo de Mateus e Lucas, há autores cristãos modernos, como Macdowel (1996) que, em seu livro Evidências que exigem um veredicto, afirma que:

A Igreja Apostólica nunca teve dúvida sobre esta questão. Diz ainda, que os primeiros líderes da Igreja cristã, conhecidos como Patriarcas Cristãos ou Pais da Igreja, corroboraram os ensinos apostólicos e cita exemplos: “Em 110 A.D. Inácio escreve: “Pois nosso Deus Jesus Cristo […] foi concebido no ventre de Maria [...] pelo Espírito Santo. Pois a virgindade de Maria e Aquele que dela nasceu […] são os mistérios mais comentados em todo o mundo […]”. Este Inácio, é tradicionalmente aceito, como um dos discípulos e talvez o mais próximo, do apóstolo João. Aristides, em 125 A.D., fala do nascimento virginal de Jesus:

“Ele é o próprio Filho do Deus excelso que se manifestou pelo Espírito Santo, desceu dos céus e, nascido de uma virgem hebreia, se encarnou a partir da virgem […]”. Em 150 A.D. Justino oferece uma gama de provas a favor da ideia do nascimento miraculoso do Cristo:

“Nosso mestre Jesus Cristo, que é o primogênito de Deus Pai, não nasceu como resultado de relações sexuais […] O poder de Deus, descendo sobre a virgem, cobriu-a com sua sombra e fez com que, embora ainda virgem, concebesse […]”. Tertuliano, um advogado convertido, talvez o primeiro cristão de maior influência no segundo século da era cristã, nos informa que, em seus dias (200 A.D.) “existia não apenas um credo cristão estabelecido, sobre o qual todas as igrejas concordavam […]” em seus escritos é citado esse credo quatro vezes, o qual inclui as palavras – ex virgine Maria – que significa “da Virgem Maria”, claramente aludindo a Cristo como nascido de uma mulher virgem (MACDOWEL, 1996, p. 116).

Sobre as “sombras” dos mitos, o historiador e erudito Brown (1973 apud MARTINEZ, 2017, s.p.) comenta que:

Paralelos não judaicos têm sido encontrados nas religiões mundiais (O nascimento de Buda, de Krishna e do filho de Zoroastro), na mitologia greco-romana, nos nascimentos dos faraós (com o deus Amon-Rá agindo através do seu pai) e nos nascimentos sensacionais dos imperadores e filósofos (Augusto, Platão etc.). Mas esses ‘paralelos’

sempre envolvem um tipo de hieros gamos em que um macho divino, em forma humana ou outra, insemina uma mulher, seja

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através do ato sexual normal, seja por meio de uma forma substituta de penetração. Eles não são realmente semelhantes à concepção virginal não sexual que está no âmago das narrativas da infância de Jesus, concepção esta, em que nenhum elemento ou deidade macho insemina Maria […]. Portanto, nenhuma busca por paralelos nos tem dado explicação verdadeiramente satisfatória de como os primitivos cristãos chegaram à ideia de uma concepção virginal – a menos, é claro, que ela realmente tenha acontecido historicamente.

Entendendo que o nascimento virginal aconteceu e se estabelece, ainda na atualidade, como ponto fundamental para os desdobramentos doutrinários que sustentam a fé cristã, teremos como base os escritos de Grudem (1999), apontando a sua importância em, ao menos, três áreas distintas, como será visto a seguir.

2.1.1 Salvação

O nascimento virginal de Cristo demonstra que a salvação deve vir do Senhor, exatamente como Deus havia prometido em Gênesis (BÍBLIA SAGRADA, Gn 3.15), em que a “semente” da mulher (Jesus) acabaria por destruir a serpente (Diabo). O nascimento virginal de Cristo inequivocamente lembra que a salvação jamais virá por meio de esforços humanos, mas por obra do próprio Deus. Desse modo, a salvação se deve à obra sobrenatural de Deus e isso é evidenciado no início da vida de Jesus, quando, segundo o apostolo Paulo, em sua epístola ao Gálatas, diz que: “[...] Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido debaixo da lei, a fim de redimir os que estavam sob a lei, para que recebêssemos a adoção de filhos” (BÍBLIA SAGRADA, Gl 4.4-5).

2.1.2 Duas naturezas

O nascimento virginal de Cristo trouxe a possibilidade de a união da plena divindade e da plena humanidade se realizar em uma única pessoa. Essa foi a metodologia empregada por Deus para enviar ou trazer seu Filho ao mundo como um ser humano (BÍBLIA SAGRADA, Jo 3.16; Gl 4, 4). Ao pensar em outras formas possíveis de Cristo ter vindo ao mundo, nenhuma uniria com tamanha perceptibilidade à humanidade e à divindade em uma única pessoa. Deus poderia criar Jesus como um ser humano completo e enviá-lo do céu à terra sem a interferência de nenhum progenitor humano?

Sim, poderia, mas, nesse caso, seria dificílimo que Jesus fosse visto como plenamente humano, assim como são os homens, e ele não descenderia fisicamente da raça humana iniciada em Adão.

Em contrapartida, provavelmente, seria possível, para Deus, gerar Jesus e fazê- lo adentrar ao mundo usando genitores humanos e, miraculosamente, unir a natureza divina a sua natureza humana em certo momento da vida de Cristo. Entretanto, então, haveria dificuldade para se compreender como Ele seria plenamente Deus, uma vez

(16)

observam essas possibilidades mais acuradamente, é possível entender melhor como Deus ordenou uma combinação de extensão humana e divina no nascimento de Cristo, de modo que sua plena humanidade se evidencia pelo seu nascimento humano e comum, por meio de uma mulher, e sua plena divindade é evidenciada por uma obra espiritual, mediada pelo Espírito Santo, em Sua concepção, no ventre de Maria.

2.1.3 Impecabilidade

O nascimento virginal também possibilita a verdadeira humanidade de Cristo sem a herança pecaminosa adâmica (de Adão). Segundo apontamentos teológicos mais ortodoxos, os seres humanos, em sua totalidade, herdaram a culpa legal e uma natureza moral corrompida do primeiro homem, Adão. Para essa situação, por vezes, nomeia-se de Pecado Herdado ou Pecado Original. Assim, o fato de Jesus não ter apresentado um pai humano significa que a linha de descendência de Adão é parcialmente interrompida, ou seja, pode-se dizer que Jesus não descendeu de Adão exatamente como todos os seres humanos. Diante disso, compreende-se por que a “culpa legal” e a “corrupção moral”, que pertencem a todos os outros seres humanos, não pertencem a Cristo.

Em face dessas poucas asseverações, tanto a história quanto a Bíblia e também a teologia moderna ensinam claramente e sem ambiguidades o nascimento virginal de Cristo. Os apóstolos, os Pais da Igreja e a igreja primitiva aceitaram e ensinaram essa doutrina, assim como uma infinidade de teólogos modernos aceitam e permanecem ensinando a doutrina do nascimento virginal de Cristo. Suas instruções ecoam e:

apontam para o Cristo nascido de uma mulher, também para sua humanidade e sua manifestação como o novo ou segundo Adão. O fato de Jesus ter nascido sem uma paternidade humana corrobora sua natureza divina como o Filho de Deus. Em contra perspectiva, a negação do nascimento virginal geralmente está ligada à negação dos elementos sobrenaturais ou miraculosos das Escrituras (SPROUL, 2019, p. 48).

Hieros gamos: é um termo atribuído ao ritual sexual que representava um casamento entre um deus e uma deusa, ou entre um(a) deus(a) e um(a) humano(a), resultando no nascimento de um semideus, tendo um significado simbólico ou mitológico.

Ortodoxia: interpretação, doutrina ou sistema teológico implantado como único e verdadeiro pela Igreja.

NOTA

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3 A UNIDADE DA PESSOA DE CRISTO

Em paralelo ao nascimento virginal, mostra-se a plenitude da divindade e da humanidade de Cristo. Em se tratando da doutrina das duas naturezas de Cristo, a cristologia bíblica dá conta de que, na encarnação, essas naturezas, a divina e a humana, permanecem distintas e são unidas por completo em uma única pessoa.

Algumas passagens bíblicas da Escritura que evidenciam a glória divina e a humildade humana de Jesus em conjunto são:

• “Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz” (BÍBLIA SAGRADA, Is 9.6).

• “é que hoje vos nasceu, na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor” (BÍBLIA SAGRADA, Lc 2.11).

• “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai” (BÍBLIA SAGRADA, Jo 1.14).

• “com respeito a seu Filho, o qual, segundo a carne, veio da descendência de Davi e foi designado Filho de Deus com poder, segundo o espírito de santidade pela ressurreição dos mortos, a saber, Jesus Cristo, nosso Senhor” (BÍBLIA SAGRADA, Rm 1.3-4).

• “sabedoria essa que nenhum dos poderosos deste século conheceu; porque, se a tivessem conhecido, jamais teriam crucificado o Senhor da glória” (BÍBLIA SAGRADA, 1Co 2.8).

• “vindo, porém, a plenitude do tempo,  Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos” (BÍBLIA SAGRADA, Gl 4.4-5).

Esses versículos apresentam o profundo mistério do eterno e infinito Filho de Deus adentrando no tempo e no espaço e assumindo a natureza humana. Não existe pensamento mais grandioso no qual possamos ponderar do que esse. A crença de que Jesus é uma pessoa com duas naturezas, humana e divina, tem um grande significado para a possibilidade de pessoas pecadoras entrarem em um relacionamento com Deus.

Cristo deve ser, ao mesmo tempo, Deus e homem, para que possa ser o mediador entre Deus e o homem, fazer expiação pelo pecado, e ser um Sumo Sacerdote empático (PIMENTEL, 2012).

3.1 UNIÃO HIPOSTÁTICA

Sobre a doutrina das duas naturezas de Cristo, uma das doutrinas cristãs que mais produziu debates nos primeiros séculos, Cheung (2003), em sua Teologia Sistemática, indica que:

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o cristianismo afirma que Cristo possui duas naturezas, que Ele é tanto divino quanto humano. Ele existe com Deus o Pai na eternidade como segunda pessoa da Trindade, mas tomou a natureza humana na encarnação. O que resulta disso não compromete ou confunde a natureza divina com a humana, de modo que Cristo é totalmente Deus e totalmente homem e permanecerá nesta condição eternamente.

Às duas naturezas de Cristo subsistindo em uma única pessoa se dá o nome de União Hipostática (CHEUNG, 2003, p. 118).

A Confissão de fé de Westminster (1643-1646) corrobora isso, bem como a visão bíblica da unidade, afirmando que:

as duas naturezas, inteiras, perfeitas e distintas – a divindade e a humanidade – foram inseparavelmente unidas em uma só Pessoa, sem conversão, composição ou confusão; essa Pessoa é verdadeiro Deus e verdadeiro homem, porém, um só Cristo, o único Mediador entre Deus e o homem (ASSEMBLEIA DE WESTMINSTER, 1943-1946, p. 8).

Na encarnação, como ensinado em A Confissão de Fé de Westminster, “o eterno Filho de Deus tomou sobre si uma verdadeira natureza humana. Desde então, Jesus Cristo é, e sempre será, uma Pessoa (isto é, um Deus-homem), com duas naturezas autoconscientes: uma divina e uma humana” (CRAMPTON, 2000 apud ARAÚJO NETO, 2005).

3.1.1 Por que era necessário que Cristo fosse plenamente Deus?

Porque só alguém que fosse Deus infinito poderia arcar com toda a pena de todos os pecados de todos os que cressem nEle – qualquer criatura finita não seria capaz de arcar com tal pena; a salvação vem do Senhor (BÍBLIA SAGRADA, Jo 2.9) e toda a mensagem das Escrituras é moldada para mostrar que nenhum ser humano ou nenhuma criatura jamais conseguiria salvar o homem – “só Deus mesmo poderia; e só alguém que fosse verdadeira e plenamente Deus poderia ser o mediador entre Deus e o homem (BÍBLIA SAGRADA, 1Tm 2.5), tanto para nos levar de volta a Deus como também para revelar Deus de maneira mais completa a nós (BÍBLIA SAGRADA, Jo 14.9)”

(GRUDEN, 1999, p. 456-457).

3.1.2 Por que era necessário que Cristo fosse plenamente homem?

Para possibilitar uma obediência representativa, uma vez que Jesus representou a humanidade e, em obediência, tomou o lugar dela naquilo em que Adão falha e desobedece. Enxerga-se isso no paralelismo entre a tentação de Jesus (BÍBLIA

(19)

SAGRADA, Lc 4.1-13) e a prova de Adão e Eva no jardim do Éden (BÍBLIA SAGRADA, Gn 2.15-3.7), o que também é verificado claramente na discussão proposta pelo apóstolo Paulo, ao apontar os paralelos entre Adão e Cristo, nas questões da desobediência de Adão e obediência de Cristo (BÍBLIA SAGRADA, Rm 5.18-19).

Para ser um sacrifício substitutivo, pois, se Jesus não tivesse encarnado e nascido como um homem, de maneira alguma poderia ter morrido no lugar dos homens, substituindo-os na cruz e, assim, pagando a penalidade, pela culpa, que aos homens cabia. Na carta aos Hebreus, vemos que:

Pois ele, evidentemente, não socorre anjos, mas socorre a descendência de Abraão. Por isso mesmo, convinha que, em todas as coisas, se tornasse semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote nas coisas referentes a Deus e para fazer propiciação pelos pecados do povo (paralelos entre Adão e Cristo, nas questões da desobediência de Adão e obediência de Cristo (BÍBLIA SAGRADA, Hb 2.14;16-17).

Para ser o único mediador entre Deus e os homens. Os homens estavam separados de Deus por causa do pecado, havia, então, a necessidade de que alguém se colocasse entre Deus e os homens e, assim, os direcionasse de volta a Ele. Como humanos caídos, à igualdade de Adão, os homens precisavam, e precisam, de um mediador que os representassem, e os representem, diante de Deus e que pudesse representar a Deus para Eles. Só houve e, permanece havendo, uma pessoa que preenche esses requisitos representativos: “Porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem” (BÍBLIA SAGRADA, 1Tm 2.5).

Para cumprir a função de administrador sobre as coisas criadas. Jesus deveria envergar plenamente a humanidade, para cumprir o propósito original de Deus em relação ao homem, que se constitui em dominador sobre a criação. Deus colocou o ser humano sobre a terra, segundo apontamentos no livro de Gênesis, para subjugá-la e dominá-la como seu representante. No entanto, o homem não cumpriu esse propósito cabalmente, pois cedeu ao pecado. Em Hebreus, vemos que Deus pretendia que tudo fosse sujeitado ao homem, mas reconhece: “[...] Agora, porém, ainda não vemos todas as coisas a ele sujeitas” (BÍBLIA SAGRADA, Hb 2.8b). Então, quando Jesus vem como homem, Ele é capaz de efetuar essa obediência a Deus e, assim, ter o direito de dominar a criação como o homem deveria ter feito, cumprindo, Jesus, o propósito original de Deus ao colocar o homem sobre a terra, o que é reconhecido em Hebreus quando diz que agora

“vemos [...] Jesus” em posição de autoridade sobre o universo, “coroado de glória e de honra” (BÍBLIA SAGRADA, Hb 2.9), o que também pode ser visto no versículo 7.

Para ser exemplo e padrão de vida. O apóstolo João diz: “[...] aquele que diz que permanece nEle, esse deve também andar assim como ele andou” (BÍBLIA SAGRADA, 1Jo 2.6), e traz à lembrança de todos que, “quando Ele se manifestar, seremos semelhantes a Ele” e que essa esperança futura de conformidade com o caráter de Cristo confere aos homens, mesmo agora, pureza moral cada vez maior à vida (BÍBLIA SAGRADA, 1Jo 3.2-

(20)

3). O apóstolo Paulo indica que os homens continuamente estão sendo “transformados [...] na sua própria imagem” (2Co 3.18), avançando, assim, ao alvo para o qual Deus salva os homens: que é ser “conformados à imagem de seu Filho” (BÍBLIA SAGRADA, Rm 8.29).

O apóstolo Pedro informa que, especialmente no sofrimento, é necessário considerar o exemplo de Cristo: “pois que também Cristo sofreu em vosso lugar, deixando-vos exemplo para seguirdes os seus passos” (BÍBLIA SAGRADA, 1Pe 2.21).

Para ser o padrão da redenção corpórea. O apóstolo Paulo ensina que, quando Jesus ressuscitou dos mortos, ressuscitou num novo corpo “na incorrupção [...] ressuscita em glória [...] ressuscita em poder [...] ressuscita em um corpo espiritual”

(BÍBLIA SAGRADA, 1Co 15.42-44). Esse novo corpo ressurreto que Jesus possuía, quando ressurgiu dos mortos, é o padrão que se dará também para os homens quando forem ressuscitados dos mortos, porque Cristo representa “as primícias” (BÍBLIA SAGRADA, 1Co 15.23), ou seja, uma alusão ao trabalho agrícola que alude à primeira amostra da colheita.

Para compadecer-se como sumo sacerdote. O autor de Hebreus instrui que

“naquilo que ele mesmo sofreu, tendo sido tentado, é poderoso para socorrer os que são tentados” (BÍBLIA SAGRADA, Hb 2.18) – sugerimos conferir também Hebreus (BÍBLIA SAGRADA, Hb 4.15-16). Se Jesus não existisse na condição de homem, não seria capaz de conhecer, por experiência, aquilo que os homens sofrem em suas tentações e lutas nessa vida terrena. Todavia, porque viveu como homem, ele é capaz de se compadecer mais plenamente dos seres humanos em suas experiências.

3.2 IMPECABILIDADE DE CRISTO

“Impecabilidade significa que Jesus jamais fez qualquer coisa que desagradasse a Deus, que violasse a lei ou que tenha deixado de demonstrar a glória de Deus em sua vida (BÍBLIA SAGRADA, Jo 8.29)” (RYRIE, 2004).

 3.2.1 O testemunho acerca da impecabilidade de Cristo

As Escrituras testemunham sobre a vida sem pecado de Jesus, que foi chamado santo desde seu nascimento (BÍBLIA SAGRADA, Lc 1.35). Em determinado momento, Jesus desafiou seus inimigos a provarem que Ele tinha pecado (BÍBLIA SAGRADA, Jo 8.46). Nada nas expressões de fala de Jesus pode lhe acusar justamente (BÍBLIA SAGRADA, Mt 22.15). Ele guardava os mandamentos (BÍBLIA SAGRADA, Jo 15.10).

Nos momentos antecedentes à crucificação, Ele foi declarado inocente onze vezes (BÍBLIA SAGRADA, Mt 27.4;19;24;54; Lc 23.14;15;22;41; Jo 18.38; 19.4-6). Paulo atestou a impecabilidade de Jesus Cristo (BÍBLIA SAGRADA, 2Co 5.21), assim como os apóstolos Pedro (BÍBLIA SAGRADA, 1Pe 1.19; 2.22), João (BÍBLIA SAGRADA, 1Jo 3.5), bem como o autor de Hebreus (BÍBLIA SAGRADA, Hb 4.15; 7.26-27).

(21)

 3.2.2 O debate acerca de impecabilidade e pecabilidade de Cristo

Há uma série de discussões teológicas, antigas e modernas, sobre a possibilidade ou não de Jesus cometer pecados em seu ministério terreno. O conceito de que Jesus não podia pecar se chama “impecabilidade” (non posse peccare – “não poder pecar”) e o conceito de que ele podia pecar, mas não o fez, é denominado “pecabilidade”

(posse non peccare – “poder não pecar”).

Na rejeição da ideia da pecabilidade e defesa da impecabilidade, estão os que argumentam que a impecabilidade não anula o ato da tentação, assim como a impossibilidade de um lutador profissional de MMA pesando 100 quilos ser vencido por uma criança de oito anos pesando 25 quilos não invalida os golpes do minúsculo infante.

Segundo esse ponto de vista, a impecabilidade não depende da “ausência de tentação”, mas da “ausência de vontade de pecar”. William Shedd é um dos seus defensores.

Na defesa da pecabilidade e rejeição da impecabilidade de Cristo, estão os que o fazem baseados na afirmação de que, “se ele foi tentado, é porque poderia pecar”

e, “se isso não fosse possível, não poderia ser dito que a tentação foi real”; entre os defensores desse ponto de vista está o teólogo Charles Hodge.

William Shedd: foi o maior sistematizador, depois de Charles Hodge, da teologia calvinista americana entre a Guerra Civil e a Primeira Guerra Mundial.

Charles Hodge: foi professor, exegeta, escritor, pregador e pastor Presbiteriano norte-americano e um dos maiores expoentes e defensores do calvinismo histórico nos Estados Unidos durante o século XIX.

NOTA

3.2.3 O caráter das tentações de Cristo

A Bíblia afirma que Cristo foi tentado da mesma forma que qualquer ser humano (BÍBLIA SAGRADA, Hb 4.15). A dificuldade de algumas linhas teológicas aceitarem essa afirmação se dá pelo fato de Tiago, o líder da igreja em Jerusalém, irmão de Jesus e escritor bíblico, afirmar que Deus não pode ser tentado (BÍBLIA SAGRADA, Tg 1.13).

Aparentemente, diante disso, seria preciso resolver a questão de que ou Cristo não é Deus ou não foi tentado.

(22)

Segundo Tronco (2009, s.p.), “é certo que nenhum teólogo conservador está disposto a atacar a divindade de Cristo, então a discussão é sobre se Cristo foi ou não tentado e se ele podia ou não ceder à tentação”.

As tentações, de fato, ocorreram e foram apropriadas ao Deus-homem, visto que um homem qualquer não é tentado a transformar uma pedra em pão, por exemplo.

Mesmo assim, Jesus foi tentado à semelhança dos homens comuns, então, o que se discute é a eficácia dessas tentações, visto que, se elas não pudessem influenciar Cristo a pecar, seriam ineficazes em suas implicações. Contudo, diante das explicações sobre pecabilidade e impecabilidade, pode-se perceber que a questão da eficácia não se realiza em “cair” ou “não cair” nas tentações, mas em sentir o peso ou a força dessas tentações, mesmo que Ele não tivesse vontade de pecar.

Diante disso, é que Jesus se compadece dos homens, pois Ele pode sentir o peso ou a força das tentações, mesmo não tendo nenhuma possibilidade de pecar, pois, segundo as Escrituras, Ele é Deus e Deus não tem a possibilidade de pecar, e o pecado não procede de Deus; o apóstolo João, em sua primeira epístola afirma: “porque tudo que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não procede do Pai, mas procede do mundo” (BÍBLIA SAGRADA, 1Jo 2.16).

A seguir, será possível observar as implicações que ocorreriam dada a possibilidade de pecado em Jesus.

3.2.4 Os problemas inerentes ao conceito da pecabilidade de Cristo

Variadas implicações indesejáveis se originam da defesa da pecabilidade de Cristo:

• A imutabilidade – se Cristo pudesse pecar, sua divindade estaria em risco antes mesmo do pecado existir, pois Ele não seria “imutável” (BÍBLIA SAGRADA, Is 9.6; Ml 3.6; 2Tm 2.13; Hb 13.8).

• A soberania – se Cristo pudesse pecar, Ele nem seria Deus, pois nEle habitaria o mal, nem o Pai seria o Deus soberano, pois seria evidenciado que Ele não tem poder para controlar a história nem para manter seus planos (BÍBLIA SAGRADA, At 4.27-28).

• As profecias  – caso Jesus cometesse algum pecado, ficaria evidenciada a inexistência da onisciência e da presciência de Deus; assim, todas as profecias sobre a obra de Cristo e a redenção dos homens seriam ineficazes. No caso, se Cristo pudesse pecar e não o fez, as profecias sobre sua obra e redenção dos homens não passariam de mero otimismo (BÍBLIA SAGRADA, Mq 5.2; Is. 53.6-9) e todos os textos que falam de determinações prévias de Deus sobre os redimidos teriam perdido por completo seu sentido (BÍBLIA SAGRADA, Mt 25.34; Ef 1.4). Diante disso, sem a plena convicção de que tais prenúncios realmente aconteceriam, Deus estaria enquadrado entre os mentirosos (BÍBLIA SAGRADA, Tt 1.2; Hb 6.18).

(23)

• A confiabilidade da redenção –  se Jesus pudesse pecar, nenhum ser humano pode ter uma justa confiança na redenção divina e ela esteve em risco de falhar. Isso se distancia da clara esperança nas promessas de Deus (BÍBLIA SAGRADA, Gn 12.3).

3.3 INTRODUÇÃO AO CONCEITO DE KENOSIS

A palavra kenosis tem por significância o conceito de “autoesvaziamento”

e está contida em Filipenses (BÍBLIA SAGRADA, Fp 2.7). No origjnal em grego, “ἀλλὰ ἑαυτὸν ἐκένωσεν μορφὴν δούλου λαβών, ἐν ὁμοιώματι ἀνθρώπων γενόμενος· καὶ σχήματι εὑρεθεὶς ὡς ἄνθρωπος” (NESTLE et al., 2001), que, em português, significa “Antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana” (BÍBLIA SAGRADA, Fp 2.7) – a questão central aqui é a seguinte: “Ele se esvaziou do quê?”.

O Sínodo de Antioquia (341 A.D.) afirmou que Cristo se esvaziou de “ser igual a Deus”, mas continuou defendendo, em seu escopo, a divindade absoluta de Cristo. Já a Reforma Protestante discutiu se Cristo teria se esvaziado de seus atributos, como onipotência, onipresença e onisciência sem, porém, afetar sua completa divindade e a Teologia do século XVIII, ou Teologia Liberal, afirma, por meio de alguns de seus estudiosos, que Cristo se tornou menos ou menor que Deus.

Sínodo: assembleia periódica de bispos de todo o mundo que, presidida pelo papa, se reúne para tratar de assuntos ou problemas concernentes à Igreja Universal.

Protestantismo: foi um movimento religioso que se voltou contra ações e regras da Igreja Católica. O principal agente da Reforma foi o monge alemão Martinho Lutero (1483-1546).

Teologia liberal: é um movimento teológico que surgiu da reação ao racionalismo iluminista e da valorização da experiência e da essência pelo romantismo dos séculos XVIII e XIX, principalmente entre igrejas protestantes europeias e seu correspondente no catolicismo, o modernismo teológico.

NOTA

3.3.1 O significado do conceito da kenosis

A passagem central da kenosis é:

(24)

Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, 6 pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; 7 antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, 8 a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz. 9 Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome, 10 para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, 11 e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai (BÍBLIA SAGRADA, Fp 2.5-11).

A natureza original de Cristo: Filipenses apresenta Cristo antes da encarnação (BÍBLIA SAGRADA, Fp 6.2), existindo em “forma de Deus”. A palavra usada na sua forma original grega μορφή  (morphé) significa “natureza”, “forma visível” (SWANSON, 1997),  “forma” (STRONG, 1996, p. 1519),  “forma pela qual uma pessoa ou uma coisa atingem a visão”, “a aparência externa” (THAYER, 2000, p. 419), “a natureza ou o caráter de algo, com ênfase na forma interna e externa” (LOUW; NIDA, 2000, p. 732).  Em outras palavras, é a “substância de um ser ou de algo” (LOUW; NIDA, 2000, p. 732). A mesma palavra aparece em  Marcos: “Depois Jesus apareceu noutra forma (μορφή – morphé) a dois deles, estando eles a caminho do campo” (BÍBLIA SAGRADA, Mc 16.12). Nesse caso, a μορφή (morphé) aponta para uma forma diferente da qual Jesus era habitualmente reconhecido. Todavia, no fato de Deus não possuir uma forma corpórea, a palavra μορφή (morphé), nesse caso, revela que Jesus é da mesma substância ou natureza de Deus, concluindo que Jesus não existia na pré-encarnação (antes de seu nascimento em forma de homem) como um ser que não fosse “exatamente Deus”, ou seja, natural e substancialmente da mesma forma, μορφή (morphé), de Deus.

O autoesvaziamento de Cristo foi uma situação que o próprio Cristo impôs a si mesmo; envolve todas as coisas e situações que Ele fez e passou para morrer na cruz, incluindo assumir a forma de servo. Ao fazer isso, Jesus foi encontrado em figura humana. A palavra original grega para “figura” é σχήμα (skema). Isso indica que Ele tinha, além da aparência de um homem, uma vida como a de um homem, assim, sendo completamente Deus em toda a sua integridade, Jesus passou a ser em tudo como um homem, também em sua integridade, com exceção apenas do pecado. Sobre os conceitos de μορφή e σχήμα, para Lightfoot (1898, p. 132-133):

Sendo assim, que sentido nós devemos associar à “forma de Deus”, na qual nosso Senhor preexistia? Nas Homilias de Clemente, o apóstolo Pedro é representado como insistindo em passagens antropomórficas nas  Escrituras e sustentando, assim, que Deus tem uma “forma” concreta (μορφή – morphé). Diante da objeção do seu oponente de que, se Deus tem uma “forma” (μορφή – morphé), deve ter também uma “figura”, uma aparência (σχήμα – skema), o apóstolo é forçado a responder aceitando a inferência: “Deus tem uma σχήμα (skema); Tem os olhos e as mãos e os pés como um homem; não obstante, não tem nenhuma necessidade de usá-los”

(Clemente. Hom. xvii. 3,7,8). Não era essa a concepção do apóstolo Paulo com respeito a Deus. Ele não poderia falar nesse sentido sobre μορφή (morphé) nem poderia falar nesse sentido sobre a σχήμα

(25)

(skema), daquele que é o “Rei dos reis e o Senhor dos senhores, o único que possui imortalidade, que habita em luz inacessível, a quem homem algum jamais viu, nem é capaz de ver (BÍBLIA SAGRADA, 1Tm 6.15-16)”.

Permanece então que μορφή (morphé) deve aplicar-se aos atributos da divindade. Ou seja, é usado substancialmente no mesmo sentido que carrega na filosofia grega. Sugere a mesma ideia que é expressa de outra maneira em João por ὁ λόγος τoῦ θεοῦ (o (ro) logos tou teou – “o Verbo de Deus”), em escritores cristãos das épocas seguintes por υἱός θεοῦ ὢν θεός (uios (ruios) Teou on Teos – “o Filho de Deus que é Deus”) e no  Credo Niceno por θεός ἐκ θεοῦ (teos ek teos –

“Deus de Deus”). Ao aceitar essa conclusão não é necessário supor que o apóstolo Paulo derivou conscientemente seu uso do termo de alguma nomenclatura filosófica. Havia especificidade suficiente, mesmo em seu uso popular, para sugerir esse sentido quando isso foi transferido dos objetos dos sentidos às concepções da mente.

Ainda que o apóstolo João tenha adotado λόγος (logos – “palavra”) e o próprio apóstolo Paulo tenha adotado εἰκών (eikon – “imagem”) e πρωτότοκος (protótokos – “primogênito”) da linguagem das escolas teológicas existentes, parece muito longe do improvável que a expressão análoga μορφὴ θεοῦ  (morphé teou – “forma de Deus”) tenha sido derivada de uma fonte similar. As especulações dos judaísmos alexandrino e gnóstico formaram um meio pelo qual os termos filosóficos da Grécia antiga foram trazidos ao alcance dos apóstolos de Cristo. Assim na passagem sob a consideração, o μορφή (morphé) é contrastado com o σχῆμα (skema), como aquele que é intrínseco e essencial com aquele que é acidental e para fora. E as três cláusulas implicam respectivamente a natureza divina verdadeira de nosso Senhor (morphé teou – μορφὴ θεοῦ – “forma da Deus”), a natureza humana verdadeira (morphé doulos – μορφὴ δούλου –

“forma de servo”), e o exterior da natureza humana (skemati os antropos – σχήματι ὡς ἄνθρωπος – “figura humana”).

O autoesvaziamento de Cristo é todo o caminho percorrido por Ele, como citado anteriormente, saindo da glória e majestade celeste e findando a jornada em humilhação e vergonha na cruz do Calvário, sobre o Gólgota. E, por todo esse processo, está inclusa a encarnação como o meio de levá-lo à morte substitutiva.

Em nada esse processo afetou a divindade de Jesus nem o uso dos seus atributos divinos. Na verdade, o autoesvaziamento contempla o verdadeiro Deus que morreu em humilhação, na condição de um homem real e completo, para salvar homens completamente perdidos.

“Portanto, na kenosis Cristo se esvaziou e abriu mão de manter sua condição condizente com a divindade, ou seja, viver na glória celestial, e assumiu a humanidade para que pudesse morrer” (TRONCO, 2009, s.p.).

(26)

3.3.2 Teorias falsas sobre o conceito da kenosis

Algumas teorias, tal qual a teoria Kenótica, apontam que Cristo renunciou a alguns ou todos os seus atributos divinos. Essas ideias não são sustentáveis por várias razões: primeiro, Jesus, em carne, afirmou ser igual a Deus (BÍBLIA SAGRADA, Jo 10.30);

segundo, se Jesus passou a ser menos divino, houve, então, uma alteração na pessoa de Deus, conceito que colocaria a própria divindade em xeque, já que “Deus não muda”

(BÍBLIA SAGRADA, Tg 1.17); terceiro, o aspecto substitutivo da morte de Jesus exige que ele seja perfeito homem, ao mesmo tempo que os aspectos propiciatórios (que significam satisfazer as exigências de Deus) e redentor (Aquele que resgata por meio de pagamento) da sua morte exigem que Ele seja perfeito Deus, a fim de sanar um débito das dimensões do próprio Deus.

Outra teoria, chamada de gnosticismo, diz que Cristo apenas parecia ser homem, pois disfarçava sua divindade ou apenas a refletia em forma humana. Cristo não disfarçou ou refletiu sua divindade, Ele apenas assumiu a humanidade. As Escrituras demonstram que a divindade podia ser reconhecida nEle (BÍBLIA SAGRADA, Jo 1.14;

14.9; Hb 1.3).

Teologia Kenótica: surgiu com variados teólogos na Alemanha, entre 1860 e 1880, e na Inglaterra, entre 1890 e 1910, que basicamente interpretaram Filipenses (BÍBLIA SAGRADA, Fp 2.5-7) ensinando que Jesus deixou de ser Deus no seu autoesvaziamento.

Gnosticismo: da palavra grega gnose (“conhecimento”) pregava que o mundo havia sido criado por uma divindade imperfeita e que, por isso, a vida na terra era apenas uma forma maléfica usada para aprisionar o espírito humano e que o bem só seria alcançável em um nível espiritual. Também, por isso, acreditavam que não havia porque nos culparmos pelos males existentes na terra, uma vez que tudo isso era propiciado pela prisão material da qual deveríamos nos libertar e que fora criada pelo deus mal que criara a terra.

NOTA

(27)

Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• O nascimento de Jesus, o Cristo, é de suma importância para o cristianismo, pois foi um acontecimento que dividiu a cronologia em antes e depois dEle e que também trouxe uma maior unidade e equanimidade social, além do estabelecimento de beleza cultural e sustentação do monoteísmo, diante dos panteões politeístas.

• O fato de Cristo ter sido gerado e nascido de forma virginal, ou seja, sem a interferência de um pai humano, constitui-se em ponto de sustentação teológica para as doutrinas das duas naturezas de Cristo, a humana e a divina, bem como para as doutrinas da impecabilidade e salvação, entre outras.

• As duas naturezas de Jesus se constituem em condição pétrea, no sentido em que possibilita a todo homem, pecador, relacionar-se com Deus por intermédio de Cristo, como mediador entre o homem pecador e o Deus Santo.

• O conceito da união hipostática ou união das duas naturezas de Cristo, humana e divina, subsistindo separadas e distintamente em uma única pessoa, demonstra a importância teológica de Jesus ser o verdadeiro Deus e o verdadeiro homem para as divinas pretensões salvíficas.

• Existem conceitos e apontamentos que destacam a possibilidade ou a não possibilidade de pecado por parte de Jesus. Existem teóricos debatendo até os dias de hoje sobre o assunto.

• A “Kenosis” é uma espécie de “autoesvaziamento”, sendo que existe uma pergunta que norteia essa questão: “esvaziamento ou esvaziado do que?”.

Kenosis foi conceituada e que também há formas de responder à questão norteadora do conceito “kenosis” – o “esvaziamento ou esvaziado do quê?” –, demonstrando, assim, que Jesus foi esvaziado, em resumo, de sua glória, e não de seus atributos divinos. Em algumas teorias, no entendimento de uma cristandade mais conservadora, constituem-se em falácias e falsidades acerca da doutrina do autoesvaziamento.

RESUMO DO TÓPICO 1

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1  Em termos de o nascimento virginal sendo visto como fundamental para os desdobramentos doutrinários que sustentam a fé cristã, aponte ao menos três áreas teológicas de suma importância que essa doutrina sustenta e resuma cada uma delas.

2 O conceito da união hipostática ou união das duas naturezas de Cristo, humana e divina, subsistindo separadas e distintamente em uma única pessoa, demonstra a importância teológica de Jesus ser o verdadeiro Deus e o verdadeiro homem para as divinas pretensões salvíficas. Diante disso, responda: o que é a união hipostática?

3 Alguns teóricos confirmam a possibilidade de pecado por parte de Jesus, enquanto outros combatem ferrenhamente a contrariedade a essa afirmação. Em termos de impecabilidade e pecabilidade, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) Na defesa da impecabilidade teólogos argumentam que a impecabilidade anula a tentação.

( ) A impecabilidade não depende da “ausência de tentação”, mas da “ausência de vontade de pecar”.

( ) O argumento acerca da pecabilidade se firma na sentença que se segue: “se ele foi tentado, é porque poderia pecar”.

( ) Os defensores da impecabilidade de Cristo insistem que se Jesus não pudesse pecar, não poderia ser dito que a tentação foi real.

a) ( ) V – V – F – V.

b) ( ) F – V – V – F.

c) ( ) F – V – F – V.

d) ( ) V – F – V – F.

4 Kenosis é o autoesvaziamento “provocado” por Jesus quando renuncia a sua glória, e não a seus atributos divinos. Analise as expressões originais gregas e associe os itens, utilizando o código a seguir:

( ) μορφὴ θεοῦ (morphé teou).

( ) μορφὴ δούλου (morphé doulos).

( ) σχήματι ὡς ἄνθρωπος (skema os antropos).

I- A natureza divina verdadeira de Jesus.

II- A natureza humana verdadeira de Jesus.

III- O exterior da natureza humana de Jesus.

AUTOATIVIDADE

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Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) I – II – III.

b) ( ) II – I – III.

c) ( ) III – II – I.

d) ( ) II – III – I.

5 Durante os primeiros séculos da igreja cristã, muitas teorias surgiram apontando a pessoa de Cristo apenas como uma figuração do divino, tirando dEle a preeminência de Deus encarnado. Com base nas supostas falsas teorias Kenótica e Gnóstica, associe os itens, utilizando o código a seguir:

I- Teoria Kenótica.

II- Teoria Gnóstica.

( ) Cristo, apenas, parecia ser homem.

( ) Cristo abriu mão de todos os seus atributos divinos.

( ) Cristo disfarçava sua divindade.

( ) Cristo abriu mão de alguns atributos divinos.

( ) Refletia a forma humana.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) II – I – II – I – II.

b) ( ) I – II – II – I – II.

c) ( ) II – II – I – II – I.

d) ( ) II – II – I – I – II.

(30)

JESUS, SEUS OFÍCIOS E SUA OBRA

Embora sendo Filho, aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu e, tendo sido aperfeiçoado, tornou-se o Autor da salvação eterna para todos os que lhe obedecem tendo sido nomeado por Deus sumo sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque (BÍBLIA SAGRADA, Hb 5.8-10).

1 INTRODUÇÃO

Timothy George (1994) ajuda a entender os aspectos dos ofícios e da obra de Cristo, através de uma leitura mais acurada da obra de João Calvino, o reformador de Genebra, e afirma que:

mais importante que conhecer a essência de Cristo é conhecer com que propósito ele foi enviado pelo Pai. Calvino explicou a obra de Cristo em conexão com o seu tríplice ofício de Profeta, Rei e Sacerdote, todos os quais eram ungidos no Antigo Testamento, prefigurando o Messias.

Como Profeta, ele foi ungido pelo Espírito para ser arauto e testemunha da graça de Deus, fazendo-o através do seu ministério de ensino e pregação. Na qualidade de Rei, Cristo atua como o vice regente do Pai no governo do mundo; um dia sua vitória e senhorio se manifestarão plenamente. Em seu ofício sacerdotal, ele foi um Mediador puro e imaculado que aplacou a ira de Deus e fez perfeita satisfação pelos pecados humanos.

Calvino observa que Deus poderia resgatar os seres humanos de outra maneira, mas quis fazê-lo através do seu Filho. Ele dá ênfase não tanto à justiça de Deus, mas à sua ira e amor, ambas ilustradas na obra de Cristo. Não somente a morte de Cristo tem efeito redentor, mas toda a sua vida, ensinos, milagres e sua contínua intercessão nos céus, à destra do Pai. A obra expiatória de Cristo tem também um aspecto subjetivo, pelo qual somos chamados a uma vida de obediência (GEORGE, 1994, p. 219).

2 O QUE SÃO OS OFÍCIOS DE CRISTO

O sacrifício de Cristo na cruz e sua ressurreição, em geral, são vistos como sua obra salvadora. É certo que fossem o foco central da sua missão, mas a obra de Cristo não se resume somente a estes aspectos. O múnus triplex, ou o tríplice ofício de Cristo, observa a natureza multifacetada de sua obra salvífica.

UNIDADE 1 TÓPICO 2 -

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Múnus: a palavra múnus tem origem do latim munus, que significa “dever”,

“ônus”, “função” e “encargo”. É principalmente utilizado dentro do âmbito jurídico, como um conjunto de obrigações de um indivíduo.

Teocracia: um termo de origem grega que significa “governo divino”; trata- se de um governo em que justificativas de natureza religiosa orientam a formação do poder instituído. Na maioria dos casos, o chefe político é visto como um representante direto de alguma divindade ou chega a assumir a condição de divindade encarnada.

NOTA

NOTA

No Israel bíblico, fora por Deus estabelecido três ofícios de cunhos político e religioso. Eram eles: o Profeta, o sacerdote e o Rei. Esses ofícios eram distintos e exercidos cada qual por uma pessoa diferente.

Os profetas traziam revelação divina acerca da Palavra de Deus, por meio do Espírito Santo, mostrando qual a vontade de Deus para o povo. Os sacerdotes funcionavam como uma espécie de mediadores entre o povo e Deus, ofereciam sacrifícios para expiar o pecado do povo e intercediam por eles diante de Deus. Os reis eram legítimos representantes de Deus, legisladores que governavam o povo.

O Antigo Testamento efetua os três ofícios separadamente, mas também previa que haveria alguém no futuro que uniria em si mesmo os três ofícios principais da vida teocrática judaica.

Acredita-se que o cumprimento da previsão profética do Antigo Testamento se dá em Cristo, pois o Antigo Testamento, nas palavras de Moisés, profeta de primazia inestimável para os judeus, adverte que o Senhor levantaria um profeta igual a ele (Moisés) e lhe poria na boca as Suas palavras e ele falaria tudo o que Ele, Deus, o ordenasse que falasse (BÍBLIA SAGRADA, Dt 15.15-18).

O Antigo Testamento também indica o surgimento de um sacerdote diferente de todos os que o antecederam. O profeta Samuel profetiza as palavras de Deus dizendo:

“Então, suscitarei para mim um sacerdote fiel, que procederá segundo o que tenho

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no coração e na mente; edificar-lhe-ei uma casa estável, e andará ele diante do meu ungido para sempre” (BÍBLIA SAGRADA, Sm 2.35).

Além de apontar para expectativa do surgimento de um rei da linhagem do rei Davi, do rei Salomão e dos seus sucessores. O reinado dEle seria eterno (BÍBLIA SAGRADA, Sl 89.28-36).

2.1 PROFETA

Jesus, segundo os escritores do Novo Testamento, é Aquele que viria e seria

“o Profeta”. Ele fora assim reconhecido pela mulher da cidade de Samaria (BÍBLIA SAGRADA, Jo 4,19) e pelo homem que era cego de nascença (BÍBLIA SAGRADA, Jo 9, 1-17). O evangelista Mateus escreve que havia uma impressão muito forte de que Jesus fosse “algum dos profetas” (BÍBLIA SAGRADA, Mt 16.14). Ao citar o livro de Deuteronômio (BÍBLIA SAGRADA, Dt 18.15), Pedro o identifica como Aquele profetizado por Moisés (BÍBLIA SAGRADA, At 3.22-24).

Tal qual os profetas veterotestamentários, Jesus falava ao seu povo acerca das palavras de Deus: “Ouviste o que foi dito [...] Eu, porém vos digo [...]” (BÍBLIA SAGRADA, Mt 5 – no sermão do monte ou da montanha) e seguia, assim, estabelecendo-se como intérprete fundamentado nos escritos do Antigo Testamento e também transmitindo uma nova revelação através da pregação do Evangelho. E a pregação do Evangelho foi o foco principal de seu ministério profético (BÍBLIA SAGRADA, Mt 4.17, 23; Mc 1.15-17; Lc 4.43).

Além de apenas transmitir as palavras de Deus, Jesus, como Profeta, revelava as obras do Criador. Ele diz, conforme escreve João (BÍBLIA SAGRADA, Jo 5.36): “As obras que o Pai me concedeu realizar, são exatamente as que realizo” (paráfrase do autor), ou seja, as obras do Filho revelam as obras do Pai.

Jesus como Profeta não só revelou as palavras e as obras de Deus, como também revelou o próprio Deus. Quando em conversa com um de seus discípulos, Felipe, Jesus afirma que: “[...] Quem vê a mim, vê o Pai [...]” (BÍBLIA SAGRADA, Jo 14.9).

Assim, de fato, Jesus, o Filho encarnado de Deus, é, segundo Hebreus, “[...] a expressão exata do Seu (Deus) Ser [...]” (BÍBLIA SAGRADA, Hb 1.3).

Ele é Profeta, então, revelando a Palavra de Deus, manifestando as obras de Deus, e por ser o próprio Deus, revelando Deus ao Seu povo.

Referências

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