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Sumário. Texto Integral. Supremo Tribunal de Justiça Processo nº

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Supremo Tribunal de Justiça Processo nº 087303

Relator: MARTINS DA COSTA Sessão: 26 Setembro 1995 Número: SJ199509260873031 Votação: UNANIMIDADE Meio Processual: REVISTA.

Decisão: CONCEDIDA A REVISTA.

EXECUÇÃO PENHOR MERCANTIL IMPOSTO

CONTRIBUIÇÃO PARA A SEGURANÇA SOCIAL

GRADUAÇÃO DE CRÉDITOS

Sumário

I - No caso de concurso de créditos do Estado por impostos, de créditos por contribuições devidas à Segurança Social e de créditos pignoratícios, a sua graduação deve ser feita por essa ordem (artigos 749 n. 1 alínea a) e 666 do C.CIV e

10 do Decreto-Lei 103/80, de 9 de Maio.

II - O n. 2 do citado artigo 10 não deve ser objecto de interpretação restritiva, no sentido de se aplicar apenas ao concurso entre aqueles dois últimos

créditos.

Texto Integral

Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça:

I - Declarada a falência de A, foram reclamados diversos créditos.

Por sentença de 9 de Dezembro de 1992, procedeu-se ao reconhecimento e verificação dos créditos e à sua graduação, tendo esta, no que respeita aos bens móveis, sido feita do seguinte modo:

1 - os créditos do Estado;

2 - os créditos do Centro Regional de Segurança Social (C.R.S.S.);

3 - os créditos pignoratícios (da Caixa Geral de Depósitos);

4 - os créditos comuns, em rateio.

Em recurso de apelação interposto pela C.G.D., limitado a essa parte da

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sentença, o acórdão da Relação, de folhas

318 e seguintes, alterou aquela graduação e fixou-a assim:

1 - os créditos pignoratícios da Caixa;

2 - os créditos do Estado;

3 - os créditos de C.R.S.S.;

4 - os créditos comuns, em rateio.

Nos presentes recursos de revista interpostos pelo Estado e pelo C.R.S.S., estes pretendem a revogação do acórdão recorrido e a sua substituição pela sentença da

1. instância com base, em resumo, nas seguintes conclusões:

- as regras dos artigos 10 do Decreto-Lei 103/80 e 747 n. 1 alínea a) do Código Civil prevalecem sobre as do artigo 749 do mesmo Código;

- nada justifica a interpretação restritiva do n. 2 daquele artigo 10;

- foi violado o disposto nos artigos citados bem como nos artigos 7, 9 e 666 do C.CIV.

A recorrida C.G.D., por sua vez, sustenta a improcedência do recurso, com o fundamento de o citado artigo 10 n. 2 dever ser interpretado no sentido de dispor apenas para o caso de concurso entre o crédito do C.R.S.S. e o crédito garantido por penhor, em aplicação do "postulado da coerência intrínseca do ordenamento" e do "pensamento unitário" das normas jurídicas.

II - Situação de facto:

No acórdão da Relação, não se fez a descrição da matéria de facto, decerto por se considerar que sobre ela não havia divergências susceptíveis de influenciarem o sentido da decisão.

De qualquer modo, e com base na sentença da 1. instância, importa salientar os seguintes pontos:

- a falência de A foi declarada por sentença de 22 de Fevereiro de 1991, já transitada em julgado;

- foram constituídos pelo falido, a favor da C.G.D., penhores mercantis em 21 de Março de 1985, 24 de Maio de 1985 e 29 de Julho de 1986, sobre os bens móveis das verbas ns. 1 a 8, 9 a 11 e 12 a 37, respectivamente;

- os créditos do Estado respeitam a diversos impostos;

- e os créditos do C.R.S.S. correspondem a contribuições devidas à segurança social.

III - Quanto ao mérito dos recursos:

Os dois recursos devem ser apreciados em conjunto, por serem idênticas as questões neles suscitadas e as posições assumidas pelos recorrentes.

Não é aqui aplicável o novo regime da falência, aprovado pelo Decreto-Lei 132/93, de 23 de Abril, dado tratar-se de acção pendente na data da entrada em vigor desse diploma (seu artigo 8 n. 3).

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Os créditos da Caixa estão garantidos por penhor, o que lhes confere o direito à sua satisfação "com preferência sobre os demais credores", pelo valor das coisas empenhadas (artigo 666 n. 1 do C.CIV.).

Os créditos do Estado gozam de privilégio mobiliário geral, que lhes atribui a faculdade "de serem pagos com preferência a outros" e com prioridade sobre os demais da mesma natureza, salvo os privilégios por despesas de justiça (artigos 733, 736 e 745 e seguintes do citado Código).

No concurso entre esses dois tipos de créditos, e no domínio do C.CIV., tem preferência o crédito pignoratício, por gozar de direito real de garantia oponível ao exequente (artigos 749 e 822 do mesmo Código).

Entretanto, foi concedido aos créditos por contribuições devidas à segurança social "privilégio mobiliário geral, graduando-se logo após os créditos

referidos na alínea a) do n. 1 do artigo 747 do C.CIV.", ou seja, entre outros, aqueles créditos do Estado, e que "prevalece sobre qualquer penhor, ainda que de constituição anterior" (artigo 10 ns. 1 e 2 do Decreto-Lei 103/80, de 9 de Maio, que reproduziu o disposto no artigo 1 ns. 1 e 2 do Decreto-Lei

512/76, de 3 de Julho).

Com essas novas disposições, surgiu o problema de graduação na hipótese de concurso dos três aludidos créditos, o qual tem sido resolvido, em diversas decisões, em sentido idêntico ao do acórdão recorrido, por interpretação restritiva do n. 2 do citado artigo 10, que se limitaria ao concurso entre os créditos pignoratícios e os da segurança social, com o fundamento da unidade intrínseca do ordenamento jurídico, que impõe a prevalência do regime geral definido no citado artigo 749 sobre o regime especial daqueles diplomas, e pelos resultados inaceitáveis e incertezas a que conduziria outra interpretação (assim, entre outros, o acórdão da Relação de Coimbra de 27 de Março de 1990, na Col. XV, 2., p. 96, e o acórdão deste tribunal de 28 de Novembro de 1990, no Bol. 401, p. 585).

A questão reveste alguma complexidade, susceptível de dúvidas, dada a contradição, pelo menos aparente, entre as normas legais em causa, e a circunstância de a graduação relativa dos créditos pignoratícios e do Estado ficar dependente apenas da intromissão de um terceiro crédito, o da

segurança social, mas entende-se que a solução mais rigorosa é outra, ou seja, a adoptada na sentença da 1. instância.

Desde logo, o resultado negativo que advém para o crédito pignoratício, por aplicação directa do citado artigo 10 (a sua graduação em último lugar e depois do crédito do Estado), verificar-se-ia, naquela primeira solução, para o crédito do C.R.S.S. (seria graduado depois daquele, apesar de sobre ele ter preferência no concurso entre ambos).

A decisão deve pois abstrair desse resultado, na medida em que não pode ter

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em conta o efeito benéfico ou prejudicial para um ou outro dos credores, devendo basear-se apenas na interpretação da lei.

A letra do citado artigo 10 abrange, directamente, a hipótese de concorrência dos três créditos em causa: depois de determinar que os créditos da

segurança social se graduam "logo após" os do Estado (n. 1), manda graduá- los também "sobre" ou antes dos créditos pignoratícios (n. 2); e não pode dizer-se que o legislador não terá previsto essa hipótese, uma vez que ela está subjacente àquela norma, se não mesmo aí claramente expressa.

Concorre no mesmo sentido o espírito da lei, que foi o de "acautelar mais eficazmente os interesses da população beneficiária" do regime da segurança social (relatório do citado Decreto-Lei 512/76).

Acresce tratar-se de um regime especial, que deve prevalecer sobre o regime geral do C.CIV. e que aliás, foi adoptado também quanto aos créditos por apoios financeiros concedidos pelo Gabinete de Gestão do Fundo de Desemprego (artigo 7 do Decreto-Lei 437/78, de 28 de Dezembro).

Nada justificaria assim a interpretação restritiva do citado artigo 10, no sentido da sua aplicação apenas ao caso de concorrência entre os créditos pignoratícios e os da segurança social: a "unidade do sistema jurídico" não pode ser apreciada apenas em função do regime geral do C.CIV.; aquela interpretação está afastada pela vontade manifestada pelo legislador e, além de conduzir a um esvaziamento parcial do conteúdo da norma em causa, não teria "na letra da lei um mínimo de correspondência verbal" (artigo 9 do C.CIV.).

É esta ainda a solução que se afigura ter alguma predominância (cfr. sentença de 4 de Março de 1985, na Col., X, 1., p. 355, acórdão do S.T.A., tribunal pleno, de 11 de Abril de 1984, no Bol. 336, p. 412, e acórdão deste tribunal de 29 de Novembro de 1989, no Bol. 391, p. 618).

Em conclusão:

No caso de concurso de créditos do Estado por impostos, de créditos por contribuições devidas à Segurança Social e de créditos pignoratícios, a sua graduação deve ser feita por essa ordem (artigos 747 n. 1 alínea a) e 666 do C.CIV. e 10 do Decreto-Lei 103/80, de 9 de Maio).

O n. 2 do citado artigo 10 não deve ser objecto de interpretação restritiva, no sentido de se aplicar apenas ao concurso entre aqueles dois últimos créditos.

Pelo exposto:

Concede-se a revista.

Revoga-se o acórdão recorrido, subsistindo a sentença da 1. instância.

Custas dos recursos pela C.G.D.

Lisboa, 26 de Setembro de 1995.

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Martins da Costa.

Pais de Sousa.

Santos Monteiro.

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