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QUE ME EXPÕEM A CARNE LÂMINAS

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Academic year: 2022

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(1)

JOÃO FELINTO NETO

LÂMINAS

QUE ME EXPÕEM A CARNE

(2)

VirtualBooks Editora

© Copyright 2019, João Felinto Neto

1ª edição 1ª impressão

Todos os direitos reservados, protegidos pela Lei 9.610/98. Nenhuma parte desta edição pode ser utilizada ou reproduzida, em qualquer meio ou forma, nem apropriada e estocada sem a expressa autorização do autor.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

NETO, João Felinto

LÂMINAS QUE ME EXPÕEM A CARNE. João Felinto Neto. Pará de Minas, MG: VirtualBooks Editora, Publicação 2019. 14x20 cm. 60p.

ISBN xxxx

Poesia brasileira. Brasil. Título.

CDD- B869.1 _______________

Livro editado pela

VIRTUALBOOKS EDITORA E LIVRARIA LTDA.

Rua Porciúncula,118 - São Francisco Pará de Minas - MG - CEP 35661-177 -

Tel.: (37) 32316653 - e-mail: capasvb@gmail.com http://www.virtualbooks.com.br

LÂMINAS

(3)

Corto meus tecidos cerzidos na evolução do corpo, Talho em meu rosto o esboço do não dito,

Afio o fio da lâmina que é a minha língua

Que mingua onde havia ainda na garganta um grito Em palavras que desfiguram o velho eu moço.

Lâminas que expõem a minha carne E desagradam quando sangro em parte, Quando arde em palavras que não ouço.

Não contenho minha mão, o osso exposto, Escrevo não, não e não, e não de novo.

Letras que pingam em rubras gotas de sangue Grifam meu nome em meio a tantos sobrenomes, Contam de mim, cortam no fim, a cada um e todos.

Palavras são lâminas que nos machucam aos outros, Expõem a carne, intimidade que na realidade dói.

Silencio a voz, sós, nós, ninguém quem somos, Quem nos ferimos quando deblateramos.

Palavras lâminas, gume em tinta preta.

Páginas brancas folheadas, esfoladas vivas, Expõem feridas escritas, bisturi caneta.

Lâminas que me expõem a carne,

Cortam meus tecidos cerzidos na evolução do corpo.

Letras que ardem em rubras gotas, o meu nome.

Palavras lâminas feridas, escritas em mim.

Escrevo sim, sim e sim, e sim de novo.

NAS RUAS

(4)

Entre mato seco e cidade grande, O nosso amor de longe

Que sentiu sede e fome, Nas ruas se perdeu.

Jamais houve um adeus.

Nenhum de nós se esconde.

Ninguém mudou de nome.

Nenhum dos dois morreu.

ASSALTO

Eles estão nos matando na porta de casa.

Ao pisarmos a calçada, Somos alvos da descarga De uma arma no ouvido.

Somos números esquecidos Por um desgoverno omisso De um sistema fracassado.

Não somos feitos de aço Para nos livrar de uma bala Antes mesmo da palavra Assalto.

NO CAMINHO DO TEMPO No caminho do tempo, Eu não me acompanho;

O meu corpo está vendo E a alma negando.

Até quando, até quando Vou sentir tais apelos?

Minha alma tem fome.

O meu corpo tem medo.

(5)

JARDIM DE SOLIDÃO Aos poucos deixei me levar Pelo lamentar desses outros:

Os tolos, os loucos, os moucos Que teimam em não escutar.

Tentei evitar não chorar, Mas como escapar, foi em vão.

E todo esforço era um grão Diante da imensa estação Da cultivação de se amar.

Posto em lágrimas regar O cultivo de uma paixão Num jardim de solidão, Vi o meu amor murchar.

CONFLITOS

Corri em busca do abraço esquecido

Entre tantos desafetos e promessas de amanhã.

O beijo em minha face tinha um cheiro de maçã Que me atraiu e que traiu os meus princípios.

Meus deuses pervertidos e pagãos, Deram-se as mãos e taparam os ouvidos, Tornaram-se convertidos pela minha boa ação, Num deus cristão

Que usa da condenação para ser eterno e enaltecido.

Meus olhos choram rios de emoção e solidão Enquanto os meus atos sãos

Jamais serão desmerecidos.

No inferno desse mito, ouço gritos de aflição

Na eterna comoção dos meus conflitos.

(6)

CANTO AO AMOR

Canto ao amor sem distinção moral, Que não tem bem, nem mal, Não é em si, igual

E não difere em cor.

Canto ao amor sem pudor, Andrógeno, hermafrodita, Homo, hétero, machista, Frigido, sádico, masoquista, Com ternura e com ardor.

Canto ao amor dietético, Obeso, atlético, cadavérico, Psicodélico, sexo numérico, Sem dar, sem por.

Canto o tanto que é o amor.

Em seu louvor, em pranto, Eu canto tanto quanto amo, Amor.

O MEU LUGAR Meu lugar é aqui

Ao lado de minha solidão, Onde há uma multidão De fantasmas que dão asas A minha imaginação.

Se é esse o lugar ou não Para a simples distração De minha alma,

Não há nada que não saiba a razão.

(7)

VIDA TÉRMICA

Espero o mundo que me acorda de porta aberta, E é pelo vidro da janela que o sol me aborda.

Ofuscado pelo brilho do telhado do prédio ao lado, Pelas novas células fotovoltaicas,

Vejo a vida que era abstrata brotar concreta

E a antiga abóbada ganhar a forma de linhas retas.

Procuro o verde que foi por terra, por água abaixo.

Um negro asfalto, mais nada acho, nem mesmo terra.

Não há carroças, não há cavalos, nenhuma estrada.

Não há contato com o chão calçado, meu pé calçado, Mundo isolado por vidro e plástico em vida térmica.

ENTRE COSTURAS

Tenho vontade de tramar ternura Em colares de amores ressentidos, Adornar vestidos com babados de doçura, Descoser as linhas que sustem a angústia E entre costuras de sonhos bons,

Desatar laços de esperança e otimismo.

Em camisas abertas ao desespero, Pregar botões de alegria e dinamismo.

Coser com ponto miúdo os bons amigos E alinhavar os fúteis cós dos desmazelos.

E entre costuras de sonhos bons,

Cortar tecidos macios e coloridos.

(8)

HÁ LUZ ACESA

Tenho a boca amordaçada por tristeza, Uma venda em meus olhos por chorar, Ando a cambalear por entre mesas Com a mão da incerteza a me empurrar.

Onde devo me sentar? Em que cadeira?

As pessoas são as mesmas, o mesmo olhar.

Sou o único a notar que há luz acesa

Oculta em cada cabeça que teima em se apagar.

NO FIM SOMOS HERÓIS Não acredito em heróis, Apesar de todos nós Sermos os heróis no fim.

Nesse campo de batalha, Onde cada um amarga Seu gole de conicina, A derrota nos ensina

Que a miséria é muito ingrata E que a riqueza nunca basta Para quem está por cima.

OS PASSOS

Os passos se perdem na estrada A procura do rumo que deviam seguir.

Aonde devemos ir?

Perguntam-se os pés descalços.

Vão à sombra mais próxima e resolvem esperar.

Nem mesmo pensam em voltar, Não por causa do cansaço Ou por medo da distância.

No regresso à infância,

Cada passo de lembrança

Faz o hoje se apagar.

(9)

NOTAS AO TEMPO Quem é essa criança

Que desdobra as notas ao tempo?

Quem é esse talento, essa súplica,

Tão suave amargura que acorda o silêncio?

Essas notas ao vento São ventura

À mais doce ternura De um lamento.

Lamento menino sedento, Por todo esse sofrimento.

QUARTETO FANTÁSTICO Em nossa caverna moderna, As quatro paredes de pedra Sustém o telhado de barro.

Nós somos um quadro pintado Com restos de uma aquarela, As sobras que a vida reserva Aos filhos negados na terra Que vivem do lixo, na merda E têm por destino, o acaso.

Nós somos em quatro.

Quem dera,

Nós fôssemos heróis na América.

Que tal, o quarteto fantástico:

O homem elástico exausto, Se estica a procura de vela Para ver se ainda enxerga A mulher invisível de magrela.

Um filho é o homem de pedra,

Só pele e osso, para ela, é muito pesado.

O tocha humana, coitado, Uma febre tão alta que pela.

O drama que vira comédia,

Espera não ser engraçado.

(10)

POR SUFOCAR-ME

Um pormenor, na certa um vão de sê-lo,

Algo tão insignificante quanto calar-se em meu silêncio.

Um nome imenso que não diz nada.

Uma palavra só, talvez.

É minha vez de vos pedir perdão.

Quem sabe dão ou talvez não, quem sabe...

Coube-me à tarde, ficar em casa só.

E esse nó em minha garganta, Acabou por sufocar-me.

CEDO É tão cedo.

Parece que o sol está com medo Do que possa acontecer,

Por isso demora amanhecer.

E aqui eu permaneço Esperando pelo mesmo, Por não ter o que fazer.

AMANHECENDO As aves cantam lá fora, O que escrevo cá dentro Nas letras do meu silêncio, O amanhecer, a aurora.

A melodia canora

Continua a tanto tempo

Que até o sol se consola

Por estar amanhecendo.

(11)

ENTRE PREÇO E APREÇO Estou assim, sem saber de mim Como não sei de ninguém.

Eu me interesso por quem?

Esse é o meu apelo:

Sair da sombra do medo E me lembrar de alguém Que me tenha algum apreço.

Preço todo mundo tem.

SINGULARIDADE Dentro da vida, há vida.

Há vida dentro de mim Num microscópico fim, O dos eternos parasitas.

No mundo que é minha barriga, Há um acolhedor jardim

Com seres que buscam a mim Como exótica comida.

Nessa cadeia evolutiva,

Estou no topo, mas é tão pouco Que acabo por ser só mais outro.

Porém, meu corpo

É um universo além de mim.

Vejamos o que tem enfim, Por trás das rugas do meu rosto, Além de orgulho e de desgosto Por ser complexo assim.

Nas dobras, curvas, cavidades, Mil seres unicelulares

Povoam em colonização

Minhas entranhas com tamanha devoção, Que sou um deus sem compaixão

À sua singularidade.

(12)

À MINHA VOLTA

O mundo ao meu redor, tenta falar-me Com sons que vêm de árvores e animais.

A água que nas pedras se desfaz, Em respingos frios me toca.

E o que pede em troca? Nada mais Que minha atenção para essa paz Que se dissipa à minha volta Por minha culpa, oculta na resposta De que não foram intencionais.

ENTRE TREVAS E LUZ

Entre trevas e luz, não vejo cruz nem velas.

Talvez por elas não me fazerem jus.

Minha ferida tem pus, por ser matéria.

Minha cova na terra, prova quem fui.

Se um dia supus quem supusera, Exceção a uma regra que o seduz, Foi por que não me dispus a sua meta Por ser cega entre as trevas e a luz.

REALISTA

Tenho o semblante triste Por um mundo que insiste Com um ser que não existe Por ser simples fantasia.

E tão tola alegoria Só faz jus a idolatria Ao sobrenatural.

Sou apenas realista, Não um bobo e sonhador.

Sinto dor, creio no amor,

Faço o bem, também o mal,

Mas dizer que há um além,

Vai além do racional.

(13)

VÃ ESPERA

Ela me levava à missa e me punha devoto A sacrifícios e rezas.

Mantinha cega

A minha visão do impossível.

Fazia-me ficar de joelhos

Diante de ícones gastos pelo tempo.

Matava meus sentimentos E me deixava sem respostas.

Tentava de todas as formas Controlar meus pensamentos.

Até que descobri em seu silêncio Que a fé religiosa

Não passava de uma vã espera, Uma mulher que se escondia bela Por sempre estar de costas.

ACORDAMOS

De olhos puídos sob a aurora Nos dias de nosso convalescer,

Buscamos nos sonhos a primazia de sermos livres.

E não estávamos sós.

E éramos nós,

Falsos heróis sem cicatrizes.

Dividimos a cama sob lençóis vazios E de pé ante nosso leito febril, Desejamos mortificar a nossa dor.

Temíamos a dúvida pela certeza De que ficara na mesa,

Uma única xicara de chá.

Então choramos quando sonhamos Que não éramos reais.

E libertos de nós mesmos, acordamos.

(14)

INSATISFAÇÃO

Não quero arriscar nas minhas mãos, A minha complicada vida.

Por isso busco por companhia Diante da sombria solidão.

Eu ouço que o mundo dia a dia, Está caindo em depressão.

E o mais dócil cidadão, Sobre o divã se suicida.

O assassino é também vitima De sua insatisfação.

UM CALENDÁRIO ATRÁS DA PORTA

Que dia é hoje? Eu me pergunto sem resposta.

De que me importa

Se é ilusão medirmos nosso próprio tempo.

A vida é mais um calendário atrás da porta Que dorme e acorda

Num volátil passatempo.

Ouço cá dentro

Passos na escada, a toda hora, Que se desfazem em meu silêncio.

Baixo a cabeça e observo sobre a mesa, A vela acesa que na penumbra bruxuleia;

Na solidão, o pensamento.

O que eu tenho Que tanto me desgosta A multidão que há lá fora?

Talvez a sua inepta história

Com seu reverenciado fingimento.

(15)

SEDATIVO

Enquanto lábios besuntavam sua boca, Braços sem roupa a despiam sem pudor.

Ouvia amor, entre gritos de uma louca E uma voz rouca perguntando com rancor:

- Aonde estou? Qual de nós duas é a outra?

Uma língua solta a lambia com ardor E olhos sem cor dissecavam sua coxa.

E então banhada em suor, se acordou.

SEM LEME E VELA

O que fica em nós ao passar o tempo, senão lembranças De pessoas estranhas aos dias de hoje?

Umas foram dissabores, outras falsas esperanças;

Algumas delas, simples ânsias;

Raras, os verdadeiros amores.

Somos meros condutores de uma nau sem leme e vela, Enfrentando a procela desse mar de ilusão

Onde nosso coração em vão se entrega, Nos afoga, mesmo em terra,

Numa épica narração.

O que temos de antemão em vão se espera, Já que o tempo nos reserva um tesouro desbotado.

São as páginas do passado tão amarelas Quanto as chamas dessas velas

Que vislumbram os finados.

(16)

APEGADO

Saio só, procurando caminhos Que não tenham espinhos Que me façam parar.

Meu olhar a vagar adiante, Se distrai um instante Em introspecção,

Vê minha condição de sonhar Se ocultar da razão.

Minha mão afugenta o tempo Num sutil movimento

De quem dá um adeus Aos seus

Da janela do lar.

Sinto o vento a soprar sentimentos Que invadem em silêncios, Em saudades,

Minha convicção de seguir.

E me deixam aqui a pensar Que é difícil partir

Sem querer retornar.

Faço a volta em meu calcanhar E não saio do mesmo lugar Do qual tento sair.

ACORDO MAIS SÓ

Eu me encontro só, apesar das companhias.

Solidão devida a um dia só.

Hoje, tenho dó do que me doía, Minha alegria em poeira e pó.

Sonho com o nó que me prende à vida E a tenho mantida por fino cipó.

Caio pedra mó dentro d’água fria.

Na cama vazia, acordo mais só.

(17)

SOMBRIO OLHAR Em teu sombrio olhar,

Eu tento vislumbrar tua alma em chamas Enquanto me acompanhas

Sem um pestanejar.

O que teus olhos querem me falar Com expressão tão casta,

Já que não me afasta Por se sentires vulgar?

E nessa estranha dança do olhar, Ficamos a falar sem ter palavras.

O mundo a nossa volta nos separa;

Mas nossas faltas, tendem a nos juntar.

PELA ROTA

Meus olhos pedem guia Que siga vias tortas

E em curvas que dispersas pela rota, Refaça em linhas retas,

Minha vida.

Enquanto a descida me sufoca, Me reconforta o retardo da subida.

ENTRE ACORDES

Entre acordes afinados pelo tempo, Dedilho silêncio e solidão

Em uma melodia de ressentimentos.

As vozes que me vem ao pensamento São notas de um mundo musicado Que chora pelos erros do passado E ri dos imolados sentimentos.

E toco de ouvido os sofrimentos Nas cordas que me enlaçam o coração.

Os versos do refrão são conduzidos

Ao ritmo condoído da paixão.

(18)

CORAÇÃO DE PALHA

Aconchegado num jardim, em sua verdura, Era tratado com doçura e pudor.

E foi crescendo conhecendo o dissabor Que o arrastava ao sabor da aventura.

Foi se tornando ressequido e sem brandura, Uma figura que a vida dissecava.

Enquanto corpo, perdia a própria alma, Vira fantasma e na solidão se oculta.

Até que um dia, a paixão e a loucura Vieram queimar no âmago da criatura, Seu odioso e seco coração de palha.

Vil espantalho que na dor se agasalha.

Em meio a chamas de paixão, a si procura E abre os braços a espera de ternura.

JÁ NÃO HÁ SALVA VIDAS

Uma boca sorridente à margem clara dentifrícia.

Pela praia, areia e gente que se sente quase em casa, Há barracas, mãos vazias, filhos soltos.

O que importa é sob sol queimado, bebida gelada, Roupas de banho num colorido que se banham Em corpos esbeltos, atléticos de indefinidos.

Jovens envelhecem mais que as mães nos sutiãs do pais.

A terra quente come a onda que vai e vem Enquanto a espuma do bigode sopra fumaça, O pulmão na mão e o céu que voa em nuvens.

O único protetor é o solar

E se alguém se afogar,

Já não há mais salva vidas.

(19)

INVÓLUCRO DE PEDRAS Uma lâmina de enxada a carpir Entre covas abertas

O imenso cercado da terra

Semeado com sementes genéticas Pela mão do porvir.

Plantam bocas que calam para ouvir, Colhem passos que seguem as pernas, Envenenam cabeças modernas

Com os mitos de antigas cavernas.

Num invólucro maciço de pedras, Sou a hera tentando sair.

ESPANTO

Eles passeiam dentro de um mundo de sonhos De não humanos moldados em papel e plástico, Heróis e feras e eternos vilões medonhos Que se articulam e permanecem estáticos.

Bonecas falam, incríveis seres fantásticos.

Tudo encaixado, parece mágico e estranho.

Eles se encantam, se espantam e se entusiasmam Enquanto pasmo ao lembrar-me de antanho.

HOMEM ADEQUADO

Não quero mendigar palavras de compreensão Por mera impressão de que sou aceito

Entre todos os deveres e direitos que me são legados.

O meu rastro apagado pelo chão que veio, Foi desfeito pelas marcas de novos sapatos.

Mas descalço, eu cheguei primeiro,

Sob o olhar cheio de anseio pra me ver eleito Como um bom sujeito.

Eu vejo no espelho, um homem adequado.

(20)

INCONTROLÁVEL PÊNDULO

Essa necessidade de predizer meu tempo É invento de um atento homem do passado Onde cada dia é dado pelo movimento Desse incontrolável pêndulo

Que mede meus atos.

Altos, baixos, rápidos e lentos

São os únicos intentos ou ficar parado.

Não me sinto condenado a viver por dentro, Mas finjo sofrimento ao me ver deixado.

À SOMBRA DAS CEREJEIRAS À sombra das cerejeiras Arroxeadas, vermelhas Que então caiam por terra, Meu corpo tal como elas, Se macerava também.

Não assombrava ninguém A minha cova na areia, Pois muito antes na aldeia, Minha alma queimou-se em vela, Não foi além do amém.

FENDA NO TEMPO Sou uma fenda no tempo, Uma passagem para o passado Através do que me lembro E o que terei revelado.

Sem despojos conquistados, Não sou lenda.

De uma guerra, fui contenda

Numa tenda de chão gasto.

(21)

PERDOA-ME Perdoa-me

Por cavalgar entre sendas Sobre mulheres horrendas Depois voltar a você.

Em lágrimas, ver o prazer Se diluir em espera Qual o orvalho na relva Vendo o sol amanhecer.

Seca comigo, o já ter Por possuído e não ser O que me encerra.

Amor que à dor se entrega E sombra que se revela Em nódoa ao se desfazer.

A SOMBRA QUE VAGUEIA

Não águo com lágrimas o sofrimento alheio, Pois não cultivo culpas,

Nem me imponho desculpas Por meus próprios defeitos.

Não escavo a vida procurando motivos Que justifiquem meus dias.

Se reconhecem alegrias, Já padeceram tristezas.

Ante o céu salpicado de estrelas, Não procuro sinais específicos.

Bastam-me os sentidos,

Nos quais dispo as minhas suspeitas.

Se eu olhasse as pegadas na areia, Saberia o percurso seguido.

No entanto, me dou por perdido.

Talvez, todos já tenham esquecido

Essa sombra que há muito vagueia.

(22)

O PRESENTE

Hoje é seu aniversário.

No entanto, farei o contrário, Quero me dar um presente Que para mim é muito caro.

Não se compra, se conquista;

Não é carro, nem mobília, Nem a roupa mais bonita, Nem o mais belo sapato.

Mas é algo de tão raro Pelo que significa

Que está sempre muito à vista, Mesmo não sendo notado.

O presente de que falo É você mesma querida:

No amor que tem me dado, Na devoção e cuidado Dedicado à sua família, Na independência mantida, Na liberdade exercida, No extenuante trabalho Pelos ombros, suportado Com tamanha galhardia E nas decisões comedidas Que me deixam fascinado.

Que presente adorável, Empacotado e adornado, Abriu-se e desfez o laço Para manter nossas vidas.

CEGA FINGIDA No país do delito, Sinto um grito aflito Preso à minha garganta.

E sem fé e esperança

Não espero justiça

Dessa cega fingida

Com a mão na balança.

(23)

VASTO ESPAÇO VAGO Reinvento o meu passado Passo a passo

Enquanto vivo ao acaso, O meu presente,

Certo que à minha frente Há um vasto espaço vago Pelo tempo abstrato,

Onde paira meu futuro inexistente.

CRIAÇÃO DE UM CORAÇÃO

Se eu pudesse dar som ao amor que lhe tenho, Seria doce e sereno, uma suave canção.

Essa eterna expressão sonorizada ao vento, Revelaria com o tempo, a minha adoração.

Tal ato de devoção sem dor e sem sofrimento Num rito em ritmo intenso, em oração de pagão, Não pediria perdão por ter tamanho imenso, Por ser arrebatamento, fruto de um pensamento E criação de um coração.

TOM DE PÓS

Aprisionados em seu mundo de solidão e embriaguez, Cada um por sua vez decora seu mundo de fundo Num fio de voz, um outro assunto;

Num tanto quanto, um talvez.

Focados em sua própria lucidez ficaram loucos.

E quase todos, exceto os poucos Que se entregaram a insensatez, Permaneceram como os outros, A espera de chegar sua vez.

Revelo a mim e a vocês

Um negativo a todos nós,

Usando um leve tom de pós

Para disfarçar a palidez.

(24)

CANÇÃO DE MUNDO MUDO Se todos me deixassem só, Ninguém me roubaria o silêncio;

Eu poderia me despir do tempo E pendurá-lo no relógio

Onde o tiquetaquear seria o ritmo do meu ócio.

Com as mãos sobrepostas sob a cabeça Numa eterna cadeira de balanço, Desataria os nós do meu pensamento Num infinito novelo de fios de vozes.

Vozes e gritos de introspecção Engolidos pela sonolência Numa canção de mundo mudo, Aonde tudo permaneceria em silêncio

E talvez assim, eu me sentisse finalmente acompanhado.

CAVALEIRA DE MANTO E FOICE Oh! Morte, espectro de muitas faces.

Andavas à noite a assombrar-me ainda menino

Nos olhos tristes de minha mãe que pranteava minha avó.

Foste cavaleira de manto e foice, Um anjo expulso por um deus repulso, Ambos um só.

Viraste nó em minha garganta.

Uma bela dama que se encanta em dor e medo na solidão.

Tão desejada na desesperança,

Tem aparência indefinida de agonia e amargura.

Se desfigura num mero esboço de mente adulta Que sente culpa e pede perdão.

Estendo-lhe a minha encarquilhada mão

Num gesto inverso para um regresso à sepultura, Vendo em teus olhos toda a ternura

Que se oculta em compreensão.

E no desvão do meu tardo fim,

Eu direi sim, acenando um não.

(25)

ÁRVORE DE SONHOS

A caminho de casa, ouço o bater de asas, Vejo seres humanos simplesmente pousando Numa árvore encantada, carregada de sonhos.

Subo o enorme tronco a procura do meu;

Mas alguém o comeu antes de alcançá-lo.

Ao se quebrar o galho, vejo enquanto caio Que no chão me espalho entre flores coloridas E exalo um cheiro de vida transformado num mago Que esqueceu o passado e a magia.

ENTRE LUZ E ESCURIDÃO Estou sempre a caminho de casa E nunca consigo chegar...

Em meio à multidão, percebo a solidão e o silêncio Das vozes que se perdem entre tempo e dimensão.

Fecho os olhos e grito em vão:

Por que ainda me sinto tão só?

Em resposta, digo não ao silêncio e à solidão.

Estou no vão da porta, De pé, olhando a torta Ruela na qual segui descalço, Calçando os mesmos passos Que me deixou a multidão.

O vento lentamente varre o chão, Apagando o meu rastro

Enquanto vou sumindo no espaço

Entre luz e escuridão.

(26)

APESAR DOS LIMITES Eu não posso fazê-la sorrir Quando se sentir triste.

Ser esposo e pai de suas filhas, Posto que este já existe.

E também tem a minha família, Sou marido e pai.

Não se pode voltar-se atrás Sem deixar cicatrizes.

Mas a vida, ainda permite Que se ame apesar dos limites, Da distância e dos ais.

ELA, A AVE

Eis que a ave observa o silêncio que há lá fora.

Abro a porta da gaiola e permaneço à espera.

Aos poucos se supera e num voo vai embora.

Mas, se volta sem demora pela porta ainda aberta.

Não desperta a liberdade de outrora, Prisioneira do agora,

Se despoja de quem era.

O BERÇO

Ainda reconheço entre novos endereços,

O berço de minhas venturas, desventuras e tropeços.

Pelas novas calçadas, com passadas de antanho, Entre as ruas de agora, com o outrora eu sonho.

Seu nome oculta a cítrica fruta de verde a dourada, Do limão na mão, da mão à cachaça.

Desfaço os laços dos beijos e abraços Deixados à margem do tempo, Levados ao vento, lavados a lágrimas.

Amores, rumores, memórias

De uma história a muito passada.

(27)

PERDOEM-ME

Perdoem-me os que estão seguindo Tão desvairado caminho,

Pois não posso ser um de seus pares, Tenho asco a deuses e altares.

Que não temam ser tarde demais, Posto eu jamais voltar atrás, Em não crer em pastores e padres.

Esse ser que tem a fala mansa, Não alcança os meus moucos ouvidos.

Pelos gritos de dor dos aflitos, Não consigo entrar nessa dança.

DE CANETA NA MÃO De caneta na mão, Anuncio a razão

Pela qual eu me ponho a escrever.

Eu diria talvez que o porquê, Seja mera questão

De saber de antemão Que ninguém irá ler.

E se ler, não dará atenção.

Pois se tudo que digo é em vão, Com o tempo então,

Serei uma ilusão por não ser.

BALANÇA

Se eu for buscar certezas Onde a dúvida me alcança, Viverei só de lembranças E de renovadas queixas.

Veja o que a vida me deixa:

Incertezas e esperanças.

Ambas, pratos de uma balança

Que equilibra a si mesma.

(28)

A METADE DE NÓS DOIS Estou pensando em mim, Quando éramos nós dois.

Fomos antes e depois, Ambos, começo e fim.

Você fez parte de mim.

E quando você se foi, Continuei sendo assim, A metade de nós dois.

AS DUAS FLORES

Dentro do mesmo jardim, Eu poderia regar

Duas flores para mim.

Uma seria o meu fim.

A outra, o meu iniciar.

A DOR

Será que a dor necessita De uma ferida aberta, De uma cicatriz na testa, Recordação de uma queda A muito tempo sofrida?

A dor em si reprimida Ao corpo não alivia, Por não superar o trauma.

E ficar a esperá-la,

Como justa e merecida,

É como trocar a vida

Pela morte antecipada.

(29)

SONETO AO VENTO

Vou ao tempo, assim, prosaico e mudo.

Ouvindo o dissonante mundo oculto Em sua torpe devoção ao culto Que cospe insulto na minha razão.

Com sua falsa emoção no luto, O mundo chora lágrimas de espúrio Enquanto enxugo minha comoção.

Soa em dor o tom de uma canção Que diz em vão que eu nasci adulto, Um mero fruto da imaginação.

Doce perdão daria àqueles a quem culpo.

Disperso em sombra, eu me torno vulto De um ser que busca indulto

E renega a redenção.

SAIMENTO

Tal qual pedras da calçada Em vã espera,

Eu aguardo o saimento.

Observo em silêncio, As flores ali deixadas.

Minha alma é velada Em meio a cruzes e velas.

Ouço orações dispersas Em sussurros sem palavras.

Sob árvores desfolhadas Pelo intempestivo vento, Acompanho o sofrimento De quem cala.

Lembro a dor que tinham as lágrimas De tristeza e desalento.

Caio no esquecimento,

Pois o tempo me apaga.

(30)

ENTRE PÁTRIA E CIDADÃO

Que minhas mãos lhes sirvam de bandeja Todo o pão que baste em minha mesa E cada grão que falte em sua casa.

Que os meus olhos vejam o que se passa Por trás da porta que à sua dor se fecha.

Que minhas posses abrandam suas queixas Por serem feitas daquilo que lhe falta.

Que minha ação enxugue suas lágrimas Pela vergonha desperta em seu perdão.

Sou sua pátria. Você meu cidadão.

SENDO ÁRVORE

Se eu fosse uma árvore, Presa no mesmo lugar, Estaria a esperar

Pelo vento, pela chuva, pelo tempo a passar.

Amaria cada folha que caísse ao meu redor.

Não me sentiria só

Na floresta, no jardim ou no pomar.

Tenho frutos para provar.

Tenho galhos para pousar.

Tenho flores para cheirar.

E um dia, quando meu caule secar, Serei achas para queimar numa fogueira Que acesa ao luar, vai me deixar

Pela noite, aquecê-la.

(31)

ENTRE SILÊNCIO E RECORDAÇÃO É noite fria, a casa está vazia, Entre silêncio e recordação, O coração evoca companhia, O corpo em comoção espia, Uma sombra surge da escuridão.

Quanta dor nos traz a solidão Que uma aparição nos alivia, Que uma frágil ilusão nos alicia Perante a lucidez e a razão.

Acendo a vela e descubro em vão, Que tudo não passou de fantasia.

SOBEJO

No meu copo sobre a mesa, Há sobejo de resignação.

A minha boca cospe solidão (Um triste não, dito por desfeita) Enquanto em vão pragueja.

Por despeito do meu coração, O meu corpo queda-se na sarjeta.

Se o mundo não aceita

A minha triste condição,

Que de mim se esqueça.

(32)

AINDA ESPERAM O MEU REGRESSO NA ESTAÇÃO Há quantos pés do avião até o chão

Enquanto eu fico a ver navios?

Há quantos nós se estamos sós Sem direção?

Há tanta mão para me ferir, para me pedir, Para me suprir de faca e pão.

Ainda esperam meu regresso na estação...

Quantas braçadas vão medir minha afeição Enquanto em vão tento sorrir?

Quantos os passos que ainda tenho que seguir Para alcançar seu coração?

Nessa viagem onde tendo a colidir Com a minha própria opinião,

Ainda esperam meu regresso na estação...

DISSIPARAM-SE NO TEMPO Conheci uns moleques rebeldes Que espalhavam alegria e encanto, Que pensavam no agora e pronto.

Não havia outrora nem breve.

E sentiam na pele o espanto

Que era a vida, a qual tão entregues, Não notavam ser sonho

Serem eternos imberbes.

Vencedores dos próprios revezes, Entre risos, segredavam triunfos.

Eram únicos naquele momento.

Esses meninos dissiparam-se no tempo.

(33)

TALVEZ HAJA UM MOTIVO

Tenho a mesma fadiga dos convalescidos Na ilusão que os sonhos me foram roubados.

O que faço acordado,

De olhos fechados com as mãos nos ouvidos?

Talvez haja um motivo

Para eu ter esquecido que fui golpeado.

Um clarão, uma mão, um zumbido...

Um pedido, um grito, um disparo...

O MESMO QUE NÃO TER PALAVRAS E os amigos vão...

Em vão...

Além de minha compreensão.

Numa passiva solidão, Deponho flores no caixão

Enquanto enxugo minhas lágrimas.

Ao escutar uma oração, Tenho a certeza da ilusão.

O mesmo que não ter palavras...

(34)

HUMANUS

Se nossa alma está oculta Em nossa culpa, fica exposta.

Sem ter respostas às nossas dúvidas, Continuamos a mesma incógnita.

Não faz sentido tanta vergonha Para cobrirmos os nossos corpos.

Talvez remorsos, desesperanças, Tristes lembranças aos nossos olhos.

Entre vaginas, pênis e ânus, Somos o que nos sentimos ser.

Não há querer contra o que lutamos.

Sem perceber, somos nós, humanos.

ALÉM DA JANELA

Estou sob o mesmo céu da inquietude De minha juventude em noites de outrora.

E vejo lá fora, além da janela, O jovem que era o senhor de agora.

Não bato a porta, ninguém me espera.

Nada se revela, nunca chega a hora.

E quem sou agora? Afinal, quem era?

Em sombra dispersa-se, a minha resposta.

Uma lembrança alcança a minha memória...

Se sou quem me olha, quem de mim se oculta?

(35)

VALIDADE E VENCIMENTO

Do espelho, me observo em silêncio E me aponto os sinais de minha idade.

Passo a mão na testa, arrasto o pensamento Que me leva ao tempo de uma mocidade.

Não é bem um sentimento de saudade, Talvez seja validade e vencimento.

Não preciso me entregar ao fingimento De que tenho toda uma eternidade.

Ao dar mais um passo para a maturidade, Me afasto do vigor e do intento.

ESSE MUNDO DE VOCÊS Apesar do que não sei E do pouco que acredito Nessa vida sem sentido, A espera de um talvez, Sem saber se é a minha vez, Muito menos qual motivo, Eu ainda tenho vivo, Meu quinhão de lucidez.

Vivo numa avidez

De saber porque eu vivo, Um caminho instintivo Que a razão jamais desfez.

Olho o mundo que se fez

Em meu individualismo,

Vejo o quanto não preciso

Desse mundo de vocês.

(36)

POR UM RESQUÍCIO DE RAZÃO

Que os amigos reconheçam meu sorriso E os inimigos me respeitem a opinião.

Prefiro um não,

Se discordam do que digo.

Que um sim, fingido, Por motivo de afeição.

Rejeito a mão

Que me estende, o submisso.

Em vão, suplico Por um resquício De razão.

COVA ABERTA

Já não carrega às costas, Essa versão alegórica De ser uma cria de deus.

E dia e noite espera O sol e a lua que a terra Aos poucos lhe escondeu.

As mãos se vão num adeus De quem já era.

Na tênue chama da vela, Deseja a paz e a trégua Que a morte lhe prometeu.

Morreu! Morreu!

Bradou a cova aberta.

(37)

RECORDAR É MORRER Tenho os dias contados Pelos dedos do acaso, Nada posso fazer.

Relegado ao querer, Não consigo sofrer Por meu passado.

Com os olhos voltados Para o alvorecer, Tendo a me esquecer.

Pois no meu entender, Recordar é morrer Com seus finados.

UMA SENHORA

Olha pela janela, o céu lá fora.

Àquela hora, ele andava pela rua.

Olha a mesma lua e ela chora

Em seu quarto, já descalça e seminua.

Sua sombra na calçada continua

Enquanto a dela, meio oculta, vai e volta.

A cabeça se sujeita, assume a culpa E a mão exulta em bater à porta.

Seu sorriso expressivo em resposta Diz que gosta, sem revolta, o desculpa.

E as lágrimas de ternura os transborda.

Assim que ela acorda, o vê numa moldura.

Sua imagem se mistura ao que é agora,

Uma senhora que nele se afigura.

(38)

FILHO DA DISPUTA Sua arma na cintura, Não lhe acusa de ter culpa.

Porém, julga cada bala Que deflagra

Sua pálida mão oculta.

Triste filho da disputa, Que se assusta quando mata.

Tendo a roupa ensanguentada Pela súplica,

Não se despe com astúcia, E vira caça.

Nessa vida engatilhada, Pede ajuda.

E se jura inocência, Não significa nada.

NATAL

Não consigo dormir essa noite.

Só me resta esperar pelo dia.

Celebramos numa festa, a alegria, A harmonia de um dia encantado.

Já na porta, um esmolambado, Esperava a esmola.

E lá fora,

Um vadio esguio, Efetuava um assalto.

Ao bêbado na rua, estirado, Nós demos às costas.

Eu ainda espero respostas.

Mas todos mantêm-se calados.

(39)

O QUE SEREMOS NÓS Entre traças,

Minha letra se desgasta, Dentre páginas esquecidas.

Minha voz enfim, se cala Na garganta emudecida.

Pelo tempo, envelhecida A minha face, se apaga Numa imagem desbotada.

Minha alma se acaba com a vida.

E de mim não resta nada.

DE JANELA ABERTA

Pela Janela, olho o meu tempo, Acreditando que sou eu no agora.

Como posso me perceber lá fora, Se não me reconheço aqui dentro?

Invento falas em meio ao silêncio, Ao reduzir-me a fugazes palavras Que são caladas, talvez apagadas, Em vão, borradas por ressentimento.

O meu alento é me sentir rebento Dessa figura que me é insólita E continua muda enquanto chora, Posto ser fronte do meu fingimento.

O vento sopra que sou o que penso.

Fecho a janela e um sorriso aflora.

(40)

MAS, SEI VIVER VOCÊ Amo você.

Tão fácil dizer, tão difícil de sentir E de saber reconhecer.

Desde o amanhecer até o dormir.

Mesmo sem saber porquê Entre lágrimas, sorrir.

E quero crer que amar é ter sem possuir.

É mais se dar, do que pedir.

E não caber em si,

Por tanto o outro lhe ocupar.

Talvez, eu não saiba te amar.

Mas, sei viver você.

E nessa hora me perder Para te encontrar.

ESTÁ ESCURO

Sei que não existo mais em nós,

Pois tenho a boca amordaçada por lençóis E os ouvidos tamponados com algodão.

Sequer respiro, então Atento ao lúgubre silêncio,

Chego a ouvir meus pensamentos.

Não me fio nos olhos, Está escuro.

Na solidão, tateio paredes À procura de uma saída, A casa parece vazia.

Sinto o cheiro de flores.

E recordo sua mão me dar adeus Enquanto amarra meus pulsos A uma vela que se consome.

Sob a tênue chama,

Apagamos meu nome

E garatujamos o seu.

(41)

JUSTAMENTE VOCÊ Busquei a vida em você.

Sua vontade de viver foi meu sustento.

Cabeça erguida a tempo de ainda ver O sol nascer no horizonte.

Voltei o rosto um instante, Sem perceber

Que seu encanto era tanto, Que ofuscou num quebranto, O meu querer.

E qual não foi meu espanto Ao me fazer conhecer Que justamente você É quem não amo.

O ASNO

Desisto de tentar entender Por que a humanidade crê Que é capaz de conceber O seu princípio e o seu fim.

É tão difícil para mim Compreender

Essa visão de que um ser Plantou o homem num jardim Para crescer, multiplicar.

Talvez, quem sabe, seja assim:

Deus seja um asno a pastar

O homem, suculento capim.

(42)

ESQUEÇO A PORTA ABERTA A chuva pela janela,

Sobre o telhado vizinho, Acompanha o caminho Que a calha dá a ela.

Desce a calçada e a rua Onde a bela seminua, Continua à espera.

Chove chuva, Molha ela,

Que daqui a pouco eu saio.

Em seus braços também caio E esqueço a porta aberta.

A ESPERA DE SI MESMO

Ele espera na esperança de sentir-se bela, A volta do príncipe encantado.

No espelho, tem o seu retrato.

E se vê donzela.

Ela tem no sinto, uma fivela E conserva o cabelo cortado.

Grandes lábios dentro da cueca, O mantém castrado.

Ele ou ela

A espera de si mesmo.

(43)

À MERCÊ DOS PENSAMENTOS

Saio à procura do tempo que me dei perdido;

Encontro amigos, amores e palavras não ditas.

Ouço comovidas confissões e dúvidas, Troco por desculpas, consolo e silêncio.

Cabe a mim colher lembranças

Em meio ao medo dos segredos revelados E ser deixado à mercê dos pensamentos.

Não lamento ter vivido meu passado Mendigando bons momentos.

Pois um grão de prazer desperdiçado É um punhado de tristeza e sofrimento.

DESDOBRAMENTOS Dividi meus ais Em partes iguais De ressentimentos.

Não aceito em troca compaixão e alento.

Não procuro o tempo Que ficou para trás.

É em meu silêncio

Que escuto vozes

Que me pedem mais

Do que eu mesmo tenho,

São desdobramentos

De mim mesmo

Que desejam paz.

(44)

EM UM TEMPO DEFINIDO Não consigo situar-me Em um tempo definido E duvido

Que ainda existo agora.

Tragicômica minha história:

Ser um vivo fictício, Irreal por não ser físico, Ser memória.

CADEADO DE DEDOS Dedo a dedo, nós mesmos Em mãos, aprisionados;

Condenados ao cárcere dos apelos.

Uma chave, um segredo silenciado.

Cadeado de dedos enfiados Em anéis infiéis por desejo.

Em promessas de dedos cruzados, Erros dissimulados,

São aceitos.

PRISIONEIRO EM MIM Sou prisioneiro em mim Nas grades do meu querer.

Se eu fugir é meu fim, Se eu ficar vou sofrer.

Não há muito o que fazer, A não ser deixar assim.

Viver comigo é ruim.

Pior é me esquecer.

(45)

PÉ NA ESTRADA

Em cada mão estendida, Uma amizade é selada.

Cada envelope de carta Leva uma vida envolvida Na relação que se basta Em novidade e notícia.

Uma carona esquecida Em uma margem de estrada, Que lentamente se apaga Na distância percorrida, Segue a sombra da mochila Que carrega na jornada, O adeus da despedida.

Segue a vida comovida Com as desgraças.

QUE EU NÃO ENLOUQUEÇA Espero que a morte me esqueça, Que se compadeça

E me deixe aqui.

Que se satisfaça ao me ver dormir Um terço da vida.

E essa, comovida, Não me envelheça.

Que eu não enlouqueça

Vendo a minha morte

Nos braços da vida,

Chegada e partida

Do meu existir.

(46)

APENAS UM DELES

Se me tomarem por sombra De uma porta entreaberta...

Meus olhos espreitam as velas Do morto sendo velado.

De todos, menos culpado, Pois já não creio na espera Além do corpo enterrado.

Se me tomarem por sábio Que do saber observa...

Do pasto, a mesma erva Que alimenta o gado;

O verme no chão molhado Que se oculta na terra, Na cova do sepultado.

Se me tomarem por cama De um bêbado adormecido...

Na esperança do esquecido De jamais ser encontrado.

Como um braço amputado, Sou o membro invisível Que deseja ser lembrado.

Se me tomarem por único,

Serei apenas um deles.

(47)

MUDANÇA REPENTINA Quando chego é cedo ainda, Você me deixa entrar.

As palavras se desfazem no olhar.

A conversa, na cama termina.

Pouco a pouco, o sol que ilumina, Tende a se ocultar.

Na janela, bate uma chuva fina, Pede para entrar.

De repente, começa a engrossar;

Em trovões, a gritar lá de cima.

A mudança é tão repentina Que o céu pareceu desabar.

Lentamente, vem o estiar Pois a chuva, agora se finda.

Nua, linda, pelo quarto caminha, Abre a porta e me manda que vá.

ENTRE O SER BREVE OU POR DEMAIS COMPRIDA Ainda querem lhe dar um sentido;

Como se houvesse.

Para que motivo, Se de nada serve?

Não a exija.

Por que não lhe deve.

Nem a espere.

Vá em frente, siga.

Carrega a vida?

Ela que o leve.

Entre o ser breve

Ou por demais comprida, Um dia esquece

De que ainda é viva.

(48)

JÁ NÃO DOU OUVIDO ÀS MESMAS PALAVRAS Não reconheço meu caminho, porém sigo.

Quem serão meus inimigos, desconheço.

Hoje esqueço, o que fora imprescindível.

Se eu ficava acordado, adormeço.

Virou riso, o mais crítico segredo.

Meu fascínio se tornou aborrecido.

Destemido, o que tinha tanto medo.

Eu mudei a opinião que sustentava.

Minha casa tem a paz dos falecidos.

Já não dou ouvido às mesmas palavras.

De uma fé consolidada, ceticismo.

Talvez seja minha idade, o motivo Para acreditar que o nada

É o meu existencialismo.

A OBSERVAR A RUA Sentei-me à porta de casa, A observar a rua.

As pessoas são tão nuas Em suas roupas fechadas.

Entre um chapéu de palha E o sapato que se usa, Caminha uma figura Que se apaga.

Esse homem transparente, continua A procura de uma alma.

Sua aparente calma É sintoma de loucura.

Sua sombra se insinua Nas fissuras da calçada.

Sou eu à porta de casa,

A observar a rua.

(49)

MAR À VISTA Corpo, cama, abrigo.

Ao dormir comigo, Eu acordo outro Que sonha ser pouco Por jamais ser visto Desfazendo em riso, O seu próprio choro.

O seu tempo é outro;

O seu tempo é morto;

O seu tempo é visto Como um cisco No olho.

Cabe a mim ser solto Dessa armadilha Que me engatilha;

Mira

E acerta o outro Que seria o louco Se não fosse a vítima.

Desse mar à vista,

Solitária ilha

Sem ancoradouro.

(50)

UM MORTO EM VÃO

Ao tempo deixado, volto ainda A procura de minha Idoneidade.

Envelheço sob os olhos da idade, Sem saber na verdade,

Quem me ensina.

O que devo aprender?

Quem recrimina?

Numa triste rotina De penar e sofrer, Nunca desvanecer, Dar a volta por cima.

Se estou sujo,

A lama é que me limpa.

Lavo a tinta

Que pinga em minha mão.

Nesse enorme desvão, Dou a volta por cima.

Entra um carro na esquina, Na contramão.

Cai um corpo sem rosto,

Um morto em vão.

(51)

O MENDIGO QUE TOSSE

Se uma tosse percorre meu pescoço A procura de um osso pra roer É a fome que come

O meu nome

Com uma sede que cede Ao querer.

Minha palma espalma um pedido.

Meu olhar tão comprido, Nem me vê.

Não consigo descrer Que sou mendigo.

Mas duvido que seja mais difícil Se acredito que posso

Sem poder.

AEROPORTO

Aviões pousam na pista.

Do saguão de desembarque, Vejo nós em cada parte Da bagagem dividida.

Nosso táxi à espera, não explica Que voltamos de viagem.

Pois partimos de verdade Nossa vida.

Como é bom está de volta! Ou seria?

Eis que a nossa despedida

Veio tarde.

(52)

EU VEJO

Caminhando entre tanta gente cega, Finalmente eu enxergo

Que há um peso que sufoca o meu ego E que cada um enxerga.

Não há trégua nessa guerra De salários,

Onde há brigas e intrigas Por centavos

Onde o próprio condenado Se entrega.

Somos todos prisioneiros nessa terra.

Todo aquele que acaso se liberta, Simplesmente é rejeitado

Pelo outro que está acorrentado E a si mesmo finge ou nega Que não passa de um escravo.

PÁGINA RASGADA

Gostaria de acender estrelas Dentro do céu de sua boca E ouvir palavras roucas De lua língua bifurcada.

Minha serpente encantada, Sou o Adão desprevenido.

Seus sibilos, meus gemidos Nos desviam da estrada.

Desse livro descabido,

Nós rasgamos nossa página.

(53)

DE VENTO EM POPA

Sua escolha parece ser boa;

Por que lhe pertence.

A minha por ser diferente, Com certeza é tola.

Você quer o melhor para a gente.

Coitadinho de mim, um demente Que fala à toa.

Do barco, você é a proa, Pois está à frente.

Lembre-se que levo o leme, Por eu ser a popa.

Sua voz comovente ecoa:

É Ele o Messias, me siga.

Aquele com o Rei na barriga?

O Rei que está sem roupa?

E você com a voz muito rouca, Com o dedo em riste me julga, Que eu sou um ateu imoral,

Que há escolha entre o homem sem culpa E o cara do mal.

Eu não acho que uma pessoa Deva seguir a outra

Que não vive a vida real.

(54)

A ILUSÃO DE QUEM SE ACUSA Meu corpo se insinua à sepultura Entre lágrimas e lamúrias Numa culpa sem perdão.

Eu tento alcançar a sua mão, O tempo que ainda resta Não me julga.

Meu ego, me censura, Diz que não.

A minha espera em vão, A pressa, me assusta.

O mundo que se dane, não se iluda, É mera ilusão

De quem se acusa.

COMO QUEM TROCA DE ROUPA A cada peça de roupa,

Eu mudo minha vontade.

Do deus que pede piedade Ao satanás que açoita.

Quando a moeda é pouca, Visto o mendigo que implora.

Com a mão que aceito a esmola, Troco uma peça por outra.

Numa inversão tão louca, Trajo um impecável terno.

Vou do céu ao inferno,

Como quem troca de roupa.

(55)

CORAÇÃO DE PEDRA Come o pão da caridade Da falsa bondade De quem lhe despreza.

E a mesma mão que oferta Nega-lhe o perdão.

Apodreça na prisão, Coração de pedra.

Eis a voz que reverbera Numa oração.

Todo aquele que diz não, Fatalmente nega

Sua absolvição.

Sei que a fé não tem razão, É injusta e cega.

Mas é minha devoção.

Apodreça na prisão, Coração de pedra.

EU, BARCO O vento rumoreja No mar solitário;

Suave me beija Na vela, no casco.

Talvez não se veja, Posto não esteja, Seja o próprio barco.

Vaga que me deixa

Sem rumo, a deriva,

A mercê do mundo,

A boiar na vida.

(56)

NO PAPEL

O meu rosto diz tão pouco, Desse muito que eu sinto, Não me deixa ver que sofro.

No esboço, me defino Como outro que sorrindo Diz que minto sem esforço.

Por desgosto, vou sumindo.

NADA PODEMOS FAZER Qual a grande diferença Entre ceticismo e crença?

A inversão da sentença:

Eu vejo, por isso não creio.

Você crê, por isso não vê.

E nada podemos fazer.

PERMANEÇO AQUI O amor me dá asas.

Mas voar não me basta.

Se o chão não me casta, Permaneço aqui;

A sonhar, a sorrir,

A chorar as desgraças,

A errar e a mentir.

(57)

TEMPO DISSIPADO

O meu tempo dissipado pela rua, Continua a me consumir.

Envelheço sem ruir, Entre prédios e calçadas.

Minhas calças esgarçadas Não me deixam seminu.

Ante o céu ainda azul,

O meus olhos caem em lágrimas, Chuva fina que me encharca de sentir.

Meus remédios não têm tarja pra dormir.

Em silêncio eu espero a madrugada.

Amanheço sem palavras, Vendo o sol me seduzir.

QUE A ESPERANÇA SEJA A ÚLTIMA A MORRER Expulsei os ladrões

Que roubaram milhões E ainda corro perigo.

Pois ficaram os vilões envolvidos, Seduzidos por antigas lições.

Continuo a mercê dos bandidos, Não importa a cor, o partido E nem mesmo suas posições.

Conhecendo vossas intenções, Só fingindo que vos acredito.

A esperança de um povo sofrido Na espera de outras eleições.

O REI SEM CABEÇA O trono pertence ao povo.

O Rei sentado, diz não.

Mantém o cetro na mão Na ilusão de que é dono.

Nesse reino de abandono,

A coroa faz o rei perder a cabeça.

(58)

UMA ESTRADA

Eu vejo um velho escravo Entre a fome e a sede.

Uma teia de aranha é sua rede.

A casa de morada, um chão de barro.

As solas dos sapatos são de areia.

Ao caminhar semeia A flor do mato.

Por acordar tão cedo, O sol lá fora espera.

Seus olhos na janela Espelham a madrugada.

Quem sonhar uma estrada Em meio ao mato seco, Há de vê-lo.

A MORTE ME ESPERA Já não disputo a vida, Pois a morte me espera.

Deixo cair por terra, Minhas intrigas.

Fecho as velhas feridas, Ainda abertas.

Não há portas, nem janelas, Não há saída.

No adeus da despedida, Nada me resta.

O meu corpo se desespera,

O desespero me dissipa.

(59)

A BARCAÇA DE CABRAL Nesse imenso mar de fé, Sou uma ilha solitária Que não crê que a barcaça Venha à tona na maré.

Permanecerei de pé Com o bilhete na garrafa, A espera que a barcaça Venha à tona na maré.

A mentira pode até Mascarar-se de verdade, Porém na realidade, Revelar-se-á quem é.

Se João, Maria ou José Rouba leme, vela e carga, O resgate da barcaça Só depende da maré.

Nesse mar de lama e sal, A barcaça de Cabral Vai de bem e mal me quer.

AO COMEÇO DE NÓS Se eu pudesse te amar Com aquela paixão, Com a mesma ilusão De um devoto no altar.

Se eu pudesse voltar Ao começo de nós.

Não, eu não quero voltar.

Basta o que tenho agora:

Um amor sem dor, sem glória,

Sem o medo de acabar.

(60)

REFLEXO DE PINÓQUIO Cuidado com o que diz, A ponta do nariz pode crescer.

Não seja desvairado ao querer Ser herói por ter uma cicatriz.

A gente é mais feliz Quando não crê No que deseja ouvir.

Melhor não consentir Que pensem por você.

Se não consegue ver, Que possa então, sentir.

ACREDITO TÃO POUCO Acredito tão pouco No suposto retórico De sentido simbólico Em sua proporção.

O tamanho do grão No olhar microscópico, O estrelar telescópico Na mais nua visão.

Não aceito que um não Seja um sim metafórico E um castigo diabólico, Um divino perdão.

No embuste do pão, Bebo o vinho do eufórico.

Na visão do heroico,

Prego a mão do ladrão.

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