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Copyright 2013 Valerie Bowman Copyright 2018 Editora Bezz

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Copyright 2013 © Valerie Bowman Copyright 2018 © Editora Bezz

Título original: Secrets of a Runaway Bride Revisão final: Vânia Nunes

Tradução: Elizabeth Cristina Gomes Diagramação: Denis Lenzi

Capa Original: Danielle Fiorella Ilustração: Chris Cocozza

Capa Adaptada: Denis Lenzi

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, transmitida ou distribuída de qualquer forma ou por qualquer

meio sem o consentimento prévio por escrito do autor, exceto no caso de breves citações embutidas em críticas e outros usos não comerciais permitidos pela lei de direitos autorais. Favor respeitar o trabalho árduo deste

autor e não encorajar ou participar de pirataria de materiais protegidos por direitos autorais.

A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei n°. 9.6

(5)

/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, empresas, lugares, eventos e incidentes são produtos da imaginação do autor ou foram usados de maneira

puramente fictícia.

Esta obra segue as regras da Nova Ortografia da Língua Portuguesa.

Bowman, Valerie.

Segredos de uma Noiva em Fuga, Valerie Bowman. 1ª edição. Editora Bezz, São Paulo, 2018.

ISBN - 9788554288244

1.Romance estrangeiro. 2. Ficção. I. Gomes, Elizabeth C. II. Título

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Índice

Elogios a Valerie Bowman CAPÍTULO 1

CAPÍTULO 2 CAPÍTULO 3 CAPÍTULO 4 CAPÍTULO 5 CAPÍTULO 6 CAPÍTULO 7 CAPÍTULO 8 CAPÍTULO 9 CAPÍTULO 11 CAPÍTULO 12 CAPÍTULO 13 CAPÍTULO 14 CAPÍTULO 15 CAPÍTULO 16 CAPÍTULO 17 CAPÍTULO 18 CAPÍTULO 19 CAPÍTULO 20 CAPÍTULO 21 CAPÍTULO 22 CAPÍTULO 23 CAPÍTULO 24 CAPÍTULO 25 CAPÍTULO 26 CAPÍTULO 27 CAPÍTULO 28 CAPÍTULO 29 CAPÍTULO 30 CAPÍTULO 31 CAPÍTULO 32 CAPÍTULO 33

(7)

CAPÍTULO 34 CAPÍTULO 35 CAPÍTULO 36 CAPÍTULO 37 CAPÍTULO 38 CAPÍTULO 39 CAPÍTULO 40 CAPÍTULO 41 CAPÍTULO 42 CAPÍTULO 43 CAPÍTULO 44 CAPÍTULO 45 CAPÍTULO 46 CAPÍTULO 47 CAPÍTULO 48 CAPÍTULO 49 CAPÍTULO 51 CAPÍTULO 52 SOBRE A AUTORA

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Elogios a Valerie Bowman e a Segredos de uma Noiva em Fuga

“Uma leitura sensual, peculiar e completamente divertida. Segredos de uma Noiva em Fuga é tudo o que um romance deve ser. Reserve algumas horas

para este livro... assim que começar a lê-lo, não irá parar!”

— Sarah MacLean, autora best-seller do New York Times

***

“Valerie Bowman escreve histórias fabulosas e sensuais — com certeza é uma autora de romances de época que merece destaque!”

— Kieran Kramer, autora best-seller do USA Today

***

“Com seu diálogo brilhante, personagens intensos e estilo de escrita seguro, Valerie Bowman se estabeleceu instantaneamente como uma escritora de romances com grande apelo. Esta história envolvente e docemente romântica

é simplesmente deliciosa demais para se perder.”

— Lisa Kleypas, autora best-seller do New York Times

***

“Inteligente, divertido e fantástico!”

— Suzanne Enoch, autora best-seller do New York Times

(9)

Para Marcus, por ser o único.

Com todo o meu amor.

(10)

CAPÍTULO 1

Londres, final de setembro de 1816

Annie Andrews estava na metade da lateral da casa de Arthur Eggleston, na cidade — escalando plantas trepadeiras muito convenientes e resistentes — quando o som delator dos cascos de um cavalo a deteve. Ela apertou os olhos com força. Oh, isso não era nada bom.

Apesar do fato de estar no beco na parte de trás da casa e tudo estar escuro feito breu, ela acabara de ser descoberta. Ela sabia disso.

Por favor, que seja apenas um criado!

Entretanto, mesmo enquanto assim o desejava, ela sabia que isso não seria possível. Um criado a cavalo no beco? Não.

E as chances de ser Tia Clarissa também eram decididamente baixas.

Annie havia se assegurado de que a senhora estivesse inebriada e adormecida antes mesmo da tentativa de pequena fuga desta noite. Além disso, Tia Clarissa tinha pavor de cavalos.

Annie mordeu o lábio. Lentamente virou a cabeça.

Ela engoliu em seco.

Era pior que um empregado. Muito pior.

— Está perdida?

A voz masculina arrogante atravessou o ar fresco da noite.

Jordan Holloway, o Conde de Ashbourne, passou a perna por cima da sela e desceu do cavalo.

Diabos! Absolutamente não havia nenhuma forma plausível de

explicar isso. Annie ergueu o queixo em uma tentativa de manter sua

dignidade. Tanto quanto se poderia ao estar precariamente agarrada a uma

planta trepadeira.

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A lua espiava por trás das nuvens, lançando um pouco de seu brilho na cena enquanto Lorde Ashbourne subia os degraus e aproximava-se dela, seus braços cruzados sobre o peito. Recostou-se contra a balaustrada de pedra, cruzou as pernas de forma despretensiosa, os pés calçados com botas, e observou-a com um olhar zombeteiro em seu belo rosto — demasiado belo se a perguntassem. O homem certamente possuía um metro e oitenta e oito de altura, tendo ombros largos, quadris estreitos, nariz reto, traços escuros nas sobrancelhas, cabelos escuros e desgrenhados, e os mais incomuns olhos cinzentos.

— Se não é a noiva fujona! — Ele sorriu — O que você está aprontando agora, Srtª Andrews?

Annie rangeu os dentes. Ela odiava quando Lorde Ashbourne a chamava por aquele ridículo nome. A noiva fujona. Hmpf. Como melhor amigo de seu novo cunhado, Lorde Ashbourne recentemente se envolvera em sua busca após um infeliz incidente no qual fugira com Arthur para Gretna Green, na primavera passada. Mas isso foi há meses e as coisas eram diferentes agora. Hãn... Apesar das atuais circunstâncias. E é tão típico de Lorde Ashbourne zombar dela enquanto ela está em uma posição que não permite chutá-lo ou, pelo menos, lançar-lhe um olhar condenatório. É extremamente difícil praguejar enquanto se está empoleirada em uma planta.

Com as palmas das mãos suadas, Annie apertou ainda mais a planta trepadeira e reuniu toda a indignação possível.

— Isso não é da sua conta.

Mal acabara de proferir as palavras, ela percebera o quão ridículas eram.

— Como você sabia que eu estava aqui?

— Digamos que tenha sido um palpite. Mas, antes de ajudá-la a sair dessa situação... ridícula — ele fez uma pausa —, insisto que você me diga o exato motivo de estar fazendo isso.

Com um sopro, Annie afastou de sua boca uma folha errante.

— Eu não preciso de sua ajuda, Lorde Ashbourne. Sou plenamente

capaz de...

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Ela olhou para baixo. Era uma queda de pelo menos um metro e meio até o alpendre abaixo. Bastaria saltar. Ela soltou-se da planta trepadeira, mas descobriu, para seu espanto, que a bainha de seu vestido ficou presa nos arbustos.

Lorde Ashbourne meneou a cabeça.

— Falando sério, Srtª Andrews, por quê?

Ela deu um suspiro, ainda tentando manter o mínimo de dignidade.

Oh, muito bem. Alguma explicação deveria ser dada.

— Não é tão ruim quanto parece. Eu apenas queria chamar a atenção de Arthur. Pretendia jogar uma pedra na janela dele e...

— Um bilhete em sua porta não seria suficiente?

Lorde Ashbourne zombara sem titubear.

Annie cerrou os dentes. Por que, ah, por que ela sempre estava nas piores condições quando Lorde Ashbourne aparecia? Era um fenômeno, na verdade.

— E Tia Clarissa? — Lorde Ashbourne continuou — Ela está dormindo, não é mesmo? Após tomar uma boa dose de vinho do Porto?

Annie mordeu o lábio.

— Xerez.

Como amiga, Tia Clarissa era muito divertida. Porém, não era uma dama de companhia adequada. A mulher nutria imoderado apreço a destilados, em uma variedade de formas.

— Como eu suspeitava. Bem, não há outra escolha.

Lorde Ashbourne descruzou as pernas e deu um passo em direção a ela, levantando os braços para arrancá-la da planta trepadeira como uma pequena e tola uva.

Mal o fizera, a porta dos fundos se abriu. Um raio de luz de vela

espalhou-se pelo alpendre. Os olhos de Annie se arregalaram. Puro terror

comprimia seu peito.

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Ela respirou fundo. Quem a descobrira? Que não seja...

Lorde Ashbourne não esperou. Rapidamente a agarrou pela cintura e a puxou. Ela soltou um pequeno grito antes de cair em seus braços e deslizar pela sua frente, seu corpo contra o dele.

E assim Annie ficou completamente enredada nos braços de Lorde Ashbourne, quando Arthur Eggleston, o homem que Annie amava, o homem com quem Annie pretendia se casar, subitamente adentrara o alpendre dos fundos.

O primeiro instinto de Jordan foi repousar a forma delicada de Srtaª Andrews no alpendre e romper o contato.

Ela era uma encrenqueira de dezenove anos propensa a colocar sua reputação em risco. A pequena caprichosa tinha sido nada além de um problema desde que sua irmã, Lily, e seu melhor amigo, Devon, foram ao continente em sua viagem de lua de mel. Ambos imploraram a Jordan que ficasse de olho na jovem. Parecia que a Srtª Andrews precisaria de mais de uma dama de companhia, especialmente agora que sua parente mais próxima e única companhia apropriada, a tia excêntrica de Devon, Clarissa, nutria demasiada afeição às garrafas.

Jordan passara a última semana seguindo os passos de Srtª Andrews e garantindo que ela não fizesse papel de tola em sua obstinada busca por aquele paspalho, Arthur Eggleston. Mas parecia que quanto mais perto Jordan a observava, mais escandalosas suas travessuras se tornavam, culminando particularmente na pequena e notória loucura desta noite.

Ela tinha cerca de um metro e sessenta, grande volume de cachos

castanhos e revoltos, nariz impertinente, cálidos olhos escuros e propensão

para problemas. “Impulsiva” foi a palavra que prontamente veio à mente. E

enquanto Jordan contava mentalmente os dias até que Lily e Devon

voltassem para que tomassem conta da garota por conta própria, ele teve que

admitir uma espécie de relutante admiração por Annie. As coisas nunca

ficavam maçantes quando a Srtª Andrews estava envolvida. Isso ele não

podia negar.

(14)

Naquele momento, seu corpo ágil pressionado contra o dele o fazia sentir coisas que não deveria. Ele precisava tirá-la de seus braços.

Imediatamente.

Eggleston limpou a garganta e a sanidade voltou à mente de Jordan com sede de vingança. Rapidamente, ele soltou os braços de Srtª Andrews de seu pescoço e a fez deslizar pelo seu corpo até que estivesse em pé no alpendre, próxima a ele, um olhar de desapontamento em seu belo rosto.

Braços cruzados sobre o peito, Eggleston lançou um olhar a ambos, uma expressão levemente perturbada no rosto.

— Srtª Andrews, Lorde Ashbourne. O que significa isso?

Annie se afastou rapidamente de Jordan, sua respiração estava ofegante. Colocou os braços para trás e não olhou nos olhos dele.

— Arthur. Estávamos apenas...

Annie mordeu o lábio. Esse era seu gesto denunciador. Jordan havia jogado cartas o suficiente para aprender a analisar o comportamento de uma pessoa. E a última semana na companhia de Srtª Andrews o ensinou que, quando aprontava, ela mordiscava os rosados lábios com seus perfeitos e alvos dentes. Era um tanto adorável, na verdade. E extremamente conveniente para ele.

Ela olhou para longe. Outro gesto denunciador.

— Digo... Eu vim para...

Ela parou, obviamente faltavam-lhe palavras.

— Anne — disse Eggleston, dando-lhe um olhar severo. — Para seu próprio bem e em nome de sua reputação, fingirei que não vi isso.

Jordan lutou contra o desejo de revirar os olhos. Em primeiro lugar, esse era o mesmo homem que quase destruiu a reputação de Annie na última primavera. Sua preocupação era um pouco tardia demais para o gosto de Jordan. Em segundo lugar, se Annie fosse noiva de Jordan e ele a visse nos braços de outro rapaz, ele agrediria o homem no exato momento.

Obviamente, esse idiota não é ciumento o suficiente para dar um soco nele. É

melhor deixar isso a critério da curiosidade de Arthur Eggleston.

(15)

Para o próprio bem de Eggleston, é claro.

Annie engoliu em seco.

— Sim, Arthur. Você tem razão. Isso não irá acontecer novamente.

— Fico feliz em ouvir isso. Posso acompanhá-la até em casa? — Eggleston perguntou a Annie, dando uma olhada em Jordan.

— Não é necessário. Eu estava prestes a acompanhá-la, Eggleston — Jordan respondeu com um sorriso.

Annie assentiu.

— Sim, eu vou ficar bem.

— Tudo bem — Eggleston continuou, olhando para ambos com desdém. — Então, a visitarei amanhã, Anne, para o nosso costumeiro passeio à tarde no parque.

Annie mordeu o lábio.

— Sim. Apreciarei muito isso.

— Boa noite.

Arthur deu meia-volta, retornou à casa e fechou a porta em um retumbante estampido.

A lufada de ar da porta desgrenhou os cachos de Annie. Ela colocou as mãos nos quadris e olhou para a porta, ignorando completamente Jordan.

— Ele não parecia nem um pouco ciumento, não é mesmo? Da

próxima vez, vou ter que te beijar.

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CAPÍTULO 2

Lorde Ashbourne quase arrastou Annie pela rua até o alpendre nos fundos da própria casa dela. Ele retomaria sua montaria mais tarde.

Felizmente, a casa de Colton não ficava longe. Ele abriu a porta de trás com um empurrão, puxou-a para a escura cozinha e a rodopiou para longe dele.

Annie envolveu a cintura com os próprios braços. Agora que estava sozinha com Lorde Ashbourne novamente, desejava afundar-se no chão.

Aquele comentário sobre o beijo simplesmente escapara de sua boca. Como muitas vezes acontecia. Mas ela não quis dizer isso... de verdade. Embora fazer ciúmes em Arthur fosse uma ideia que merecia ser explorada. Com hesitação, ela olhou para Lorde Ashbourne.

Ela sempre fazia papel de idiota na presença do conde. Sempre. E para piorar a situação, ele parecia estar muito mais presente nos últimos dias.

— Que diabos você pensa que está fazendo? — Lorde Ashbourne perguntou, limpando a poeira das mangas de seu sobretudo cor azul-meia- noite. — Você tem ideia do que esse incidente poderia ter feito à sua reputação?

Annie endireitou os ombros e levantou o queixo. Duas ações que muitas vezes parecia compelida a fazer na presença de Lorde Ashbourne.

— Não que eu espere que você acredite em mim, mas eu realmente não tinha intenção de escalar para dentro da janela de Arthur.

Lorde Ashbourne lançou-lhe um olhar duvidoso.

— Fico feliz em ouvir isso.

— Isso seria muito escandaloso — ela continuou. — E apesar da insistência de minha irmã, eu cuido da minha reputação.

Lorde Ashbourne estreitou os olhos em direção a ela.

— Deixe-me ver se entendi direito. Você acredita que escalar a lateral

de uma casa no meio da noite consiste em cuidar da sua reputação?

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Ela jogou as mãos para o alto.

— Eu não esperava ser pega, obviamente.

— Entendo. Mas isso dificilmente explica o motivo de você escalar os arbustos, em primeiro lugar.

Annie cruzou as mãos serenamente.

— Como você sabe, Arthur e eu estamos cortejando e...

Lorde Ashbourne levantou a mão para interrompê-la.

— Cortejando? É assim que você chama? O que eu sei é que você tem feito papel de tola, perseguindo Eggleston enquanto ele notadamente demonstra pouco interesse.

Annie engoliu em seco. Essa doeu. Mas ela não pretendia permitir que o arrogante Lorde Ashbourne percebesse isso.

— Não espero que você entenda, Lorde Ashbourne, mas Arthur e eu estamos apaixonados.

— Perdoe-me por isso, Srtª Andrews, mas ouso dizer que se o Sr.

Eggleston retribuísse a afeição, você não precisaria escalar a lateral de sua casa para atrair sua atenção. Você não é Romeu. E se alguém tivesse que fazer coisas insanas como escalar a parede de uma casa, esse alguém seria ele, e não você. Se alguém que não Eggleston tivesse visto isso, você seria uma pária agora.

Annie retraiu-se. Por que Lorde Ashbourne tinha que apresentar argumentos tão bons?

— Admito, foi uma péssima ação. Eu deveria ter pensado mais sobre isso antes de...

Ela olhou para as pontas dos sapatos, convencida de que seu rosto apresentava um constrangedor tom de rosa.

— É que Arthur não tem agido da maneira que eu esperava e...

Oh, essa explicação era irremediavelmente inadequada. Ela

simplesmente deveria parar de falar.

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Lorde Ashbourne repousou uma das mãos sobre o balcão da cozinha e se aproximou dela como se estivesse falando com um idiota.

— Você não vê nada de errado nisso? Se Eggleston te ama, por que você precisaria fazer papel de tola para ele?

A parte do “tola” doeu também. Annie cerrou os dentes.

Na primavera passada, Arthur estava ansioso para se casar com ela.

Sim, era verdade que o fato de ela não ter dote veio a conhecimento público e suas afeições se esfriaram temporariamente. Mas isso foi por causa dos receios do pai dele, e não de Arthur. Eles se encontraram novamente e fugiram para Gretna Green, porém, sem sucesso.

Agora, meses depois, ela recebera um dote indecentemente grande, graças ao seu novo cunhado, mas Arthur parecia não estar com pressa. Ele a acompanhava em um passeio pelo parque todas as tardes e a visitava, mas não demonstrava interesse em pedir sua mão formalmente. Annie estava convencida de que era uma combinação do medo de Arthur em relação a Lorde Colton, que obviamente não o aceitava, e do seu desejo de agradar o próprio pai, que obviamente não a aceitava. E não ajudou em nada o fato de que Arthur passava uma excessiva quantidade de tempo acompanhando sua irmã solteirona aos eventos da sociedade. Ela suspirou.

O problema era que Arthur tendia a ouvir quem estivesse próximo a ele no momento, e sempre que Annie o convencia de que deveriam se casar, ele voltava para casa e falava com seu pai, e seu pai o convencia a manter as opções em aberto. Afinal de contas, Arthur tinha apenas vinte e dois anos de idade e não precisava se casar tão rápido. Era tudo o que Annie podia fazer para dissuadir Arthur de dar ouvidos a seu pai.

Mas apesar de tudo isso, Arthur a amava. Ela sabia disso. Ele disse a ela. Ele foi o único homem a oferecer tanta atenção a ela, a dizer que ela era linda, que sempre pensava nela como algo mais do que apenas uma boa amiga. E ela não pretendia abrir mão dele.

Além disso, Lorde Ashbourne não poderia entender. Ele poderia

conseguir qualquer mulher no país — bem, qualquer mulher, menos ela —

em um estalar de seus belos dedos. Nada sabia sobre os rigores no mercado

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de casamento ou seu relacionamento com Arthur.

Bem. Isso não era toda a verdade. Além do infeliz incidente desta noite, Lorde Ashbourne sabia de uma coisa sobre seu relacionamento com Sr.

Eggleston. A única coisa que ela desesperadamente desejava que ele não soubesse. Que ela havia fugido com ele. Outro suspiro. Mais uma vez, uma idiota na presença de Lorde Ashbourne. Sem. Falha.

Annie apertou as mãos.

— Sinto muito por qualquer inconveniente que tenha causado a você, Lorde Ashbourne, mas você deveria saber melhor do que ninguém que, de fato, o Sr. Eggleston está interessado.

Ele estendeu a mão e apanhou uma folha do cabelo dela. — Se estiver se referindo à sua viagem não aconselhada a Gretna Green na primavera passada, sim, eu me lembro.

Annie encolheu-se. Oh, agora ela tinha certeza que seu rosto apresentava um luminoso tom de rosa. Tão rosa quanto o acabamento de seu chapéu favorito.

Lorde Ashbourne colocou o chapéu com firmeza sobre a cabeça.

— Partirei agora. Nenhum dano foi feito, felizmente, mas se algo assim acontecer novamente, serei forçado a informar Tia Clarissa.

Annie escondeu o sorriso. Tia Clarissa mal conseguia calçar seus sapatos nos pés corretos, muito menos coibir Annie a fazer exatamente o que ela quisesse.

Lorde Ashbourne abriu a porta dos fundos e falou por cima do ombro:

— Srtª Andrews, por favor. Cuide da sua reputação. Se não pelo seu próprio bem, pelo bem de sua irmã.

— Considerarei tudo o que me disse, senhor — Annie respondeu.

Não, ela não o faria. Mas assentiu enquanto o observava ir embora.

Então, ela fechou a porta atrás dele, trancou-a e pressionou as costas contra

ela. Ela soltou um longo suspiro. Assim como Lily, Lorde Ashbourne não

entendia. Não é que Annie não cuidasse de sua reputação. Ela simplesmente

preferia seguir seu coração ao invés de coisas bobas como regras e restrições

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da sociedade.

Ela espiou pela janela para ver Lorde Ashbourne saltando por cima de sua montaria. Ela estreitou os olhos e levou um dedo à bochecha. Talvez não fosse coincidência o fato de Lorde Ashbourne encontrar-se onde quer que ela estivesse ultimamente. Ela apenas precisaria ter mais cuidado para não ser tão tola em sua companhia. O homem era... imponente. Com as pontas dos dedos, tocou o local na cintura onde suas fortes mãos haviam permanecido minutos antes. Um arrepio percorreu-a.

Lorde Ashbourne era um famoso libertino, um descarado atraente, um solteirão convicto, e o melhor e mais antigo amigo de seu cunhado. Vivia de modo desregrado e fazia o que bem queria. Ele era bonito, charmoso e completamente o oposto do que Annie procurava em um companheiro.

Mas, oh céus, ser pressionada contra ele ao ser retirada daquelas

plantas havia sido... delicioso.

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CAPÍTULO 3

— Arthur! Pare a carruagem!

A bela cabeça loira de Arthur girou. De modo prestativo, ele puxou as rédeas, apoiou os pés calçados com botas contra o piso de madeira, e gritou:

— Ôa!

A carruagem sacudiu bruscamente, solavancando o caminho de cascalho do Hyde Park, e parou fazendo um som abafado.

— Por que paramos? — ele perguntou, respirando pesadamente.

Com uma das mãos sobre o chapéu, Annie gesticulou freneticamente com a outra na direção dos arbustos pelos quais acabaram de passar em seu passeio vespertino pelo parque.

— Eu vi uma raposa.

— Uma raposa? — os olhos de Arthur estavam arregalados. Ele meneou a cabeça — Não creio que uma raposa seja motivo para...

— Shhh — Annie pressionou um dedo contra os lábios. — Não podemos assustar a pobre criatura.

Sentando-se com uma postura ereta, ela colocou as apertadas luvas de pelica. Felizmente, Arthur não mencionou o episódio da noite anterior envolvendo Lorde Ashbourne. Ele parecia bastante satisfeito em fingir que nada acontecera, e isso a deixava imensamente grata. Ela passou a maior parte do passeio tentando fazer com que Arthur a beijasse. Tendo falhado miseravelmente, havia deixado sua atenção vaguear quando avistara um vislumbre de uma radiante pelagem vermelha por trás dos arbustos ao passarem apressadamente por eles.

Esticando o pescoço, Annie manteve os olhos fixos na raposinha que vira agachada nas sebes à distância. Um punhado de frutos miúdos marcava a localização do pequeno animal.

Annie começou a descer a lateral da carruagem.

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Arthur colocou a mão sobre o ombro dela para impedi-la.

— Ei, escute. Você realmente acha que deveria...

Annie desvencilhou-se de sua mão e saltou para o chão.

— Ele pode estar ferido, Arthur. Preciso vê-lo.

Com ar de decepção, Arthur calou-se e observou Annie caminhar na ponta dos pés sobre a grama em direção à sebe. Ele emitiu um som de reprovação em direção aos cavalos que, estando alertas pelo cheiro da raposa, contraíram as orelhas e alargaram as narinas.

Quando chegou perto o suficiente, Annie se abaixou, levantou as saias e rastejou, apoiando as mãos e os joelhos na grama, em direção à raposa. Sua pequena cabeça com bigodes surgiu por trás dos frutos e inclinou-se para o lado em curiosidade.

Annie observou a raposa com cuidado. Ela já havia resgatado tantos animais perdidos que sabia dizer quando algum deles estava doente ou infectado pela raiva. Esse animal parecia perfeitamente saudável. E ele era apenas um filhote. Ela franziu a testa. Um filhote que não parecia estar com medo de um humano. Algo raro.

Então, um raio de sol reluziu sobre uma peça de metal e a raposa coxeou, arrastando uma pequena armadilha que estava presa à sua miúda pata. Annie respirou fundo e virou a cabeça em direção à carruagem.

— Oh, Arthur, era o que eu suspeitava. Ele está ferido.

Voltando os olhos para o minúsculo animal, ela lentamente retirou a luva, pôs a mão em concha e a ofereceu para a raposa em demonstração de que não faria mal algum a ele.

— Pobre animalzinho. Deixe-me ajudá-lo, querido.

Ela olhou a armadilha com cautela. Estava um pouco enferrujada.

Talvez forçar os dentes do mecanismo fosse o suficiente para abri-lo. Ela se abaixou, as mãos apoiadas na terra macia, para dar uma boa olhada na engenhoca.

Por outro lado, tentar abri-la com força poderia ferir ainda mais a pata

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da raposa. Ela estalou os dedos.

— Um grampo de cabelo, é lógico!

Ela arrancou um grampo da parte de trás de seu penteado, pouco se importando com o cacho escuro e indisciplinado que se soltara, e cuidadosamente o inseriu na dobradiça na parte lateral da armadilha. Com a fronte franzida, pôs a língua para fora, concentrada em seu trabalho.

Ela empurrou o grampo na dobradiça o máximo que pôde e, então, lentamente, o girou de um lado para o outro.

O suor escorria por sua testa. A raposa lançou-lhe um olhar doloroso, piscando seus pequenos olhos cor de xerez.

— Não se preocupe, querido. Eu vou conseguir. Eu vou...

A dobradiça se abriu com um clique. A raposa saltou para trás e, em seguida, ficou imóvel, olhando para ela. Suas orelhas se empertigaram e seus bigodes se contraíram. Ele lambeu a pata.

Annie se aproximou. A raposa olhou para ela.

Ela se aproximou um pouco mais. Os olhos da raposa se moveram de um lado para o outro.

Ela estendeu uma das mãos. Lentamente. Lentamente.

A raposa a cheirou.

Finalmente, Annie se aproximou o suficiente para pegar a pequena raposa em seus braços, com cuidado para não tocar em sua pata ferida. A princípio, o animal tentou escapar, mas ela o acariciou com carinho e o chamou com voz suave. Por fim, ele se acomodou em seus braços, permitindo que ela o abraçasse.

Ela levantou-se e retornou para a carruagem.

— Consegui pegá-lo — disse alegremente para Arthur. — Mas a pata

do coitadinho ficou presa em uma armadilha. Quem seria capaz de fazer uma

coisa dessas? E em um parque público, onde as crianças podem tropeçar e se

machucar também.

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— Realmente, quem seria capaz? — Arthur meneou a cabeça, um olhar inescrutável em seu rosto.

Ela voltou para a carruagem com a raposa em seus braços.

Arthur descera da carruagem e estava pronto para ajudá-la a subir.

— Você não pretende ficar com essa coisa, não é mesmo?

Annie piscou surpresa.

— Eu pretendo levá-lo para casa e cuidar de sua pata. Tenho uma receita de cataplasma para tais ocasiões. Isso e uma atadura vão ajudá-lo a se recuperar muito mais rapidamente.

Arthur franziu a testa.

— Você realmente acha isso sensato?

— O que quer dizer?

Arthur colocou a mão sobre o quadril.

— Certamente levar um animal selvagem para casa contraria as regras do decoro.

Annie olhou para a raposa.

— Mas ele.. — cuidadosamente, virou o animal e olhou para baixo — sim, ele precisa de ajuda.

Arthur deu-lhe um olhar duvidoso. Ele ajudou Annie a se sentar, a raposa aninhada em seus braços.

— Não sei se recomendaria isso. Sem mencionar que uma raposa dessas deveria estar fugindo de uma matilha, e não recebendo cuidados em uma casa em Londres.

Annie ficou boquiaberta.

— Sendo caçado? Você não pode estar falando sério, Arthur. Por favor, me diga que não aprova esse esporte horrível.

Arthur acomodou-se no assento ao lado dela e desviou o olhar em

desconforto.

(25)

— Muito bem. Leve-o para casa, se assim o quiser.

Annie endireitou os ombros e assentiu.

— Obrigada. Isso é exatamente o que pretendo fazer.

Ela abraçou o filhote, tentando enxergar melhor sua pata ferida.

Arthur riu.

— Agora que você precisa tomar conta da raposa, pelo menos não estará tão determinada a me pedir uma chance de tomar as rédeas.

Novamente, emitiu um som de crítica em direção aos cavalos e dirigiu- se para a entrada do parque, enquanto Annie ponderava sobre o rumo dos acontecimentos daquela tarde. Era verdade. Após o fracasso da tentativa de ser beijada, Annie voltara sua atenção a convencer Arthur a permitir que ela guiasse o faetonte de seu pai. Ele disse não. Novamente. Annie suspirou.

Arthur tinha a impressão errada de que ela não sabia guiar uma carruagem. O fato era que seus cavalariços passaram horas ensinando-a na casa de campo, quando era mais nova. Seus pais sempre estiveram muito mais preocupados com Lily e sua educação, sua beleza, suas futuras perspectivas. Eles deixaram que sua filha mais nova se tornasse um completo moleque. E é exatamente isso o que ela fez. Todo garoto que ela já conheceu a tratou como uma amiga rebelde. É por isso que ela amava tanto Arthur. Ele fora o primeiro homem a elogiar sua beleza. O primeiro homem a tratá-la como uma garota. Mas isso significava que Arthur também não percebia do que ela era capaz. Se ela tivesse a chance de conduzir a carruagem, os passeios vespertinos não seriam um completo desperdício. Embora hoje, pelo menos, ela tenha salvado uma raposa.

— Já que você tocou no assunto, Arthur, me permite guiar a carruagem no passeio de amanhã? Eu realmente sou...

Ele estufou o peito.

— Já discutimos isso, Anne. Nem todo mundo consegue dar conta de uma parelha como essa.

Annie deu um sorriso desanimado e olhou para o outro lado. Arthur

estava totalmente certo; não era algo que qualquer um pudesse dar conta.

(26)

Arthur não estava fazendo um trabalho particularmente bom no momento.

Ela retraiu-se. Na verdade, a posição de suas mãos nas rédeas estava totalmente errada. Mas não seria educado da parte dela tecer um comentário a esse respeito. Como segundo filho de um barão, Arthur era alto, loiro e tinha olhos azuis como os de um anjo. Conduzir uma carruagem não era seu ponto forte, mas isso não era culpa dele.

— Além disso — Arthur acrescentou —, odiaria ver você se machucar.

Annie sorriu ao ouvir isso. Não havia motivo para discutir com ele, ainda mais quando acabara de dizer doces palavras.

— Sem dúvida você está certo, Arthur. Tem sido uma tarde adorável.

— Annie olhou para cima e o sorriso desapareceu de seu rosto.

— Oh, céus. Ele de novo não.

Arthur levantou a cabeça.

– Quem de novo?

Annie franziu o nariz e meneou a cabeça, seus cachos resvalando suas bochechas.

— Lorde Ashbourne.

Fazendo um sinal com a cabeça, indicou o cavaleiro solitário que se aproximava.

— Ele está vindo para cá.

Mas que porcaria! Ela queria desaparecer. Depois do incidente da noite anterior, ela não desejava ver Lorde Ashbourne... nunca mais. Mas assim como havia sido nas últimas três tardes, lá estava Lorde Ashbourne no parque, cruzando seu caminho.

— Amanhã devemos tomar um caminho diferente — ela resmungou.

Arthur lançou-lhe um olhar cético.

— Qual é o seu problema com o Conde de Ashbourne? Perdoe minha

indelicadeza, mas você não parecia muito interessada em se esquivar dele

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ontem à noite.

Annie apertou os lábios. Sentiu que merecera o último comentário.

— Ontem à noite, fui até sua casa para lhe ver e ele simplesmente...

apareceu. E, agora, aqui está ele. Estou começando a pensar que ele está me seguindo.

— Seguindo você? — Arthur riu. — Anne, com o devido respeito, metade de Londres passeia no parque à tarde. Lorde Ashbourne não seria uma exceção.

— Você não acha que o fato de ele simplesmente ter nos encontrado todos os dias desta semana é mais do que uma mera coincidência?

Arthur meneou a cabeça.

— Ouso dizer que vimos Srtª Abshire e os Coxes todos os dias também.

Annie suspirou. Arthur era muito ingênuo. A Srtª Abshire e os Coxes não a estavam seguindo; Lorde Ashbourne, sim.

— Você não gosta dele? — Arthur perguntou.

Annie ponderou a pergunta por um momento. Ashbourne era um pouco arrogante, um pouco crítico, e ele não tirou os olhos dela desde que Lily e Devon foram viajar. Sem mencionar que, com frequência, ficava completamente envergonhada na ilustre presença do conde. Mas ela não pretendia expor isso para Arthur. Talvez ela gostasse um pouco mais de Lorde Ashbourne se ele deixasse de se referir a ela como “a noiva fujona”, ela pensou com um sorriso.

— Não digo que não gosto dele... exatamente — disse ela, desvencilhando-se da situação.

Ela olhou para seu colo. Puxa vida! Que explicação daria ao conde a respeito da raposa? Que maravilha! Outro motivo para as zombarias de Lorde Charmoso.

— Deve haver algo de bom nele para que Lorde Colton seja seu amigo

— disse Arthur.

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— Se você diz... Aja naturalmente.

Annie pôs um sorriso no rosto enquanto o cavalo preto de Ashbourne parava ao lado deles. Lorde Ashbourne inclinou o chapéu.

— Srtª Andrews. Sr. Eggleston. Boa tarde. — Ele olhou fixamente para Annie — Vejo que sobreviveu à escalada da noite passada.

Oh, é claro que ele mencionaria essa humilhação. Um comentário a respeito da “noiva fujona” viria a seguir, sem dúvida. Ela se preparou.

Estava sendo uma boa tarde — ela respondeu avidamente, acomodando a raposa em seu colo.

Oh, talvez devesse dizer a Lorde Ashbourne que a raposa poderia estar infectada pela raiva. Isso poderia fazê-lo ir embora.

Ashbourne abriu um largo sorriso. Seus perfeitos e alvos dentes ficaram à mostra.

— O que você tem aí? — ele acenou com a cabeça em direção à raposa.

Como de costume, Annie ergueu o queixo e endireitou os ombros.

— Acabamos de encontrar esse pobre filhote nos arbustos. Sua pata estava presa em uma armadilha.

O rosto de Lorde Ashbourne transformou-se em uma carranca.

— Que tipo de idiota arma uma armadilha? Ele precisará de um cataplasma e uma atadura. Me permite ajudá-la a obter esses itens?

Annie olhou-o com cautela. Como Lorde Ashbourne sabia tanto sobre isso? Ele a surpreendera com sua preocupação. Foi atencioso de sua parte oferecer ajuda, mas isso não mudava o fato de que recentemente o homem parecia determinado a frustrar suas ambições. Além de sua aparição na noite passada, ele havia interrompido seus possíveis encontros com Arthur Eggleston durante toda a semana. O mínimo que ele poderia fazer era ser compreensivo sobre sua raposa.

— Não, obrigada, Lorde Ashbourne. Tenho tudo que preciso em

casa... que é justamente para onde Arthur e eu estávamos indo.

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Fez um movimento com a cabeça para Arthur, esperando que ele lesse seus pensamentos e colocasse a carruagem em movimento novamente.

Ele nada fez.

Annie suspirou.

Lorde Ashbourne inclinou a cabeça.

— Estou desapontado por perceber, Srtª Andrews, que não está guiando a carruagem hoje. Meu palpite está errado ou faltou determinação para pedir as rédeas ao Sr. Eggleston?

Agora ele também a espionava?

— De fato, isso é verdade, Lorde Ashbourne. Mas Arthur não estava preparado para isso hoje.

Lorde Ashbourne lançou-lhe um sorriso que sua amiga Frances — uma grande admiradora do conde – diria que a deixaria com as pernas bambas. Com certeza o descarado era muito bonito. Daria a mão à palmatória quanto a isso. Tão bonito quanto inoportuno.

— É uma pena — disse Lorde Ashbourne. — Gostaria muito de testemunhar sua habilidade em guiar uma carruagem.

Annie assentiu.

— Com certeza seria algo impressionante, meu senhor.

Oh, que atrevimento a fizera dizer uma coisa dessa? Tipicamente, ela não gostava de se gabar. Mas havia algo em Lorde Ashbourne que trazia seu lado competitivo à tona.

Lorde Ashbourne ergueu as sobrancelhas. Havia uma expressão de surpresa em seu rosto?

— Acreditarei em sua palavra — ele disse. — Realmente espero que a minha chegada não tenha arruinado o seu dia, Srtª Andrews.

Annie pôs um falso sorriso no rosto.

— De forma alguma, Lorde Ashbourne. Na realidade, aguardo sua

visita todos os dias. Acabei de dizer a Arthur que é de se surpreender que

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ainda não o tivéssemos encontrado até agora.

Seus olhos se encontraram. Nenhum dos sorrisos falseou.

Eggleston limpou a garganta e se mexeu no assento.

— Sim. Bem. Quais os planos para hoje, Ashbourne?

Lorde Ashbourne inclinou a cabeça em direção a Annie.

— Na verdade, vim lhe perguntar se faria a gentileza de me acompanhar ao baile dos Lindworths esta noite, Srtª Andrews.

Annie calou-se. Apesar do fato de a temporada de Londres ter terminado há meses, os Lindworths ofereceriam um baile de outono. Annie havia passado a maior parte dos três últimos dias tentando fazer com que Arthur a convidasse para o grande evento. Tentou e falhou.

— Isto é, a menos que você já tenha sido convidada — continuou Lorde Ashbourne, piscando os olhos para ela de forma inocente. Um homem não deveria ter cílios tão longos e encantadores.

— Bem, eu...

Claro que este momento seria a oportunidade ideal para Arthur convidá-la para o baile. Ela virou a cabeça e olhou para Arthur com expectativa. Esperando. Por um breve momento, considerou cutucá-lo com o cotovelo, mas mudou de ideia. Ela acariciou a raposa.

Arthur virou-se para ela, um vívido sorriso em seu rosto.

— Oh, sim, é claro.

O coração de Annie parou de bater. Oh, finalmente, seria convidada em apenas uma questão de segundos.

Cinco. Quatro. Três. Dois. Um.

— Sim — Arthur repetiu —, você deve ir ao baile com Lorde Ashbourne. Farei companhia à minha irmã e gostaria muito de ver vocês dois no evento.

O coração de Annie afundou em seu peito.

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— Oh, eu...

Ela torceu o nariz e olhou de relance para Lorde Ashbourne. Seu rosto tinha a expressão mais zombeteira. Uma que ela conhecia muito bem. Com mil diabos!

Annie abraçou a raposa e ponderou sobre o assunto. Ela tinha duas escolhas. Poderia recusar o convite de Lorde Ashbourne, uma desfeita que ele merecia, e ficar em casa à noite, recolhida no sofá com sua raposa, imaginando quais moças dançavam com Arthur. Ou poderia aceitar o maldito convite de Ashbourne e participar de um dos eventos mais comentados do ano.

Annie endireitou os ombros novamente. A Annie Andrews de seis meses atrás teria pedido a Arthur que a levasse com ele, teria até mesmo implorado, mas esta Annie — não, Anne — a Srtª Andrews mais velha e madura, estava se esforçando para ter um comportamento um pouco mais digno, não obstante o incidente ao se agarrar às plantas na lateral de sua casa na noite anterior.

Sua mandíbula doía por manter um sorriso forçado. Ela fez um pequeno aceno com a cabeça. Não poderia, simplesmente não poderia permitir que Arthur fosse no baile dos Lindworths sem ela.

— Sim, muito obrigada, Lorde Ashbourne. Adoraria ir ao baile com

você esta noite.

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CAPÍTULO 4

O cataplasma e a atadura fizeram maravilhas para a pata do filhote de raposa. Embora cuidar do pequeno paciente não tenha deixado muito tempo livre para que Annie se preparasse para o baile dos Lindworths. Não importa.

Não é como se ela tivesse uma beleza estonteante. Annie não era como sua irmã. Os homens não paravam e a olhavam quando ela passava. Ela não tinha um bando de pretendentes em fila na porta esperando para cortejá-la, nem recebia flores frescas, doces e poemas originais com frequência.

Annie simplesmente vestiria qualquer um de seus novos vestidos e se daria por satisfeita com isso. Talvez Arthur não percebesse que seu cabelo estava um emaranhado de cachos frouxamente amarrados e que ela cheirava a cataplasma de pata de raposa.

Ela riu para si mesma com o pensamento e sacudiu a cabeça. Em seguida, cobriu a raposa adormecida com um cobertor. Sua pata enfaixada ficou para fora como um farol branco e luminoso na pilha de cobertores em que estava envolto. O animalzinho cansado havia sido colocado em uma pequena cesta e adormecera quase que imediatamente.

— Aí está você, querido — disse ela docemente. — Logo você voltará a sair em disparada pela floresta.

Ela moveu um dedo de um lado para o outro.

— Na verdade, acho que esse é um nome perfeito para você... Dash.

Mary, sua criada e velha amiga, entrou correndo no quarto, fechando a porta atrás de si contra um coral de latidos.

— Eu juro que Leo e Bandit perambularam pelo lado de fora deste quarto a tarde toda — disse ela, referindo-se aos dois cães de rua que sua irmã Lily havia adotado em circunstâncias bastante diferentes. — Assim que perceberem que há uma raposa aqui, não sei o que poderão fazer.

— Com certeza já sentiram o cheiro dele — respondeu Annie. — Eles

ficarão bem.

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Ela olhou para Dash novamente a fim de verificar se o latido não o acordara.

— Apenas gostaria que ficassem longe daqui para que Dash possa descansar. Em breve o cataplasma surtirá efeito na pata.

Mary meneou a cabeça.

— Srtª Lily terá uma visão e tanto ao retornar. Uma casa com um cão, um guaxinim e uma raposa.

Annie riu. Leo era um terrier marrom de pelos desgrenhados. Bandit era um cachorro, é claro, mas muitas vezes diziam em tom de brincadeira que o pequeno animal preto, cinza e branco parecia exatamente com o interessante animal que os americanos chamavam de guaxinim.

— Lily irá entender. Não podia deixar a pobre criatura no parque, à mercê da sorte e com uma pata machucada.

Mary sorriu e lentamente meneou a cabeça.

— Você sempre foi uma cuidadora, Srtª Annie, desde que era uma garotinha.

Annie suspirou. Mary era uma das únicas pessoas que ela permitia chamá-la de Annie. A todos os outros, deixara bem claro que Anne era seu nome, agora que tinha idade suficiente para sair em público e se casar.

E Mary estava certa. Annie era uma cuidadora. Ela sempre ajudara pequenos animais que precisavam de cuidados. Mas seu verdadeiro sonho, tornar-se esposa e mãe, cuidar de seus próprios filhos, ainda era apenas isso, um sonho, até que Arthur Eggleston peça sua mão em casamento e Lorde Colton o aceite.

Desde que os pais de Annie e Lily morreram, Annie tem morado com a irmã, Lily, que era viúva.

Seu primo, que havia assumido a propriedade e herdado o título de seu

pai, deveria ser seu tutor, porém, ficou mais do que feliz quando Annie se

mudou para a cidade para morar com a irmã. Depois que Lily se casou com

Lorde Colton, ele imediatamente tomou medidas para assumir sua guarda.

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Annie aproveitou o tempo com a irmã. Ela admirava Lily, a adorava.

Mas Annie não era mais uma criança e Lily era uma recém-casada, com um marido, um enteado de cinco anos de idade chamado Justin e uma nova vida para cuidar. Ela não precisava que Annie permanecesse por mais tempo. Lily havia feito mais do que sua obrigação para com sua irmã e, mais do que tudo, Annie queria se casar, ter uma família e deixar que Lily relaxasse e aproveitasse sua nova vida.

Que não se preocupasse mais com sua inoportuna irmã mais nova. O problema era que Lorde Colton e Lily não pareciam particularmente entusiasmados com Arthur. Em parte, Annie sabia, porque eles não o perdoaram por fugir com ela para Gretna Green, mas havia mais do que isso e Annie sabia que essas últimas semanas, enquanto Lily e Devon estavam fora em sua viagem de lua de mel, seriam cruciais para fazer com que Arthur finalmente se comprometesse com ela.

Annie levantou-se e sacudiu as saias. Ela caminhou até o lavatório e lavou as mãos com sabonete e água. Então, olhou para o relógio sobre a lareira.

— Devemos agir rapidamente, Mary. Pegue um vestido de baile. Pode ser qualquer um. Lorde Ashbourne estará aqui a qualquer momento.

Mary ergueu as sobrancelhas.

— Lorde Ashbourne? — ela assobiou. — Isso que é um acontecimento inesperado. Desde quando Lorde Ashbourne te acompanha a algum lugar?

Tia Clarissa sabe disso?

Annie virou-se para Mary.

— Oh, não fique tão curiosa — ela disse com uma risada. — Eu estava passeando no parque hoje e Lorde Ashbourne apareceu, como de costume, e me convidou para ir aos Lindworths. E Tia Clarissa virá conosco, é claro.

Mary correra para o guarda-roupa e estava ocupada percorrendo os vestidos.

— Presumo que o Seu Eggleston não te convidou primeiro.

Annie soltou um longo suspiro.

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— Se ele tivesse, você acha que eu iria com Lorde Ashbourne?

Mary saiu do guarda-roupa com um lindo vestido cor-de-rosa envolto em seu braço.

— Não sei, não. Lorde Ashbourne é um dos solteiros mais cobiçados de Londres — ela ergueu as sobrancelhas.

Com um sorriso, Annie jogou a toalha que estava usando para secar as mãos na direção de Mary. A criada a apanhou com sua mão livre e riu.

— Oh, me ajude com o vestido — disse Annie.

Mary se curvou.

— Como desejar, minha sinhora.

As duas faziam gracejos sobre a refinada dama em que Annie havia se tornado. De fato, sua condição financeira melhorara desde que a irmã se casara com Lorde Colton. Há apenas alguns meses, ela usava os mesmos três vestidos, repetidamente, e não tinha acessórios para adorná-la. A casa de seu cunhado, Devon Morgan, o Marquês de Colton, era luxuosamente mobiliada e perfeita em todos os aspectos. E Annie recebera carta branca para renovar o guarda-roupa. Seu generoso cunhado não poupara despesas.

Mary ajudou Annie a trajar o vestido rosa claro e amarrou a larga faixa branca em suas costas. Sapatos de pelica brancos e novos, luvas combinando e um adorável bonnet com um toque de acabamento em veludo rosa completava o conjunto. Naturalmente, todo o trabalho seria completamente desperdiçado com Jordan Holloway. Oh, o homem poderia muito bem ser seu irmão. Seu irmão mais velho extremamente irritante. Seu irmão mais velho extremamente irritante... cujos rígidos músculos havia sentido um pouco próximo demais na noite passada. Ela sacudiu a cabeça.

— Não acha que ficou quente de repente, Mary?

Mary franziu a testa.

— Não que eu tenha notado, minha sinhora.

— Não importa — Annie gesticulou.

Ela olhou para o vestido e torceu o nariz. Mesmo em roupas tão finas,

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ela ainda era apenas Annie. Seus olhos castanhos eram bonitos, mas sem outros atrativos. Os cachos castanhos escuros eram uma bagunça e apenas recentemente começaram a mostrar sinais de beleza. Ela havia passado toda a vida sendo uma filha caçula sem importância e uma excelente amiga. Não era alguém por quem um homem viraria a cabeça. Nenhum outro homem o faria, exceto Arthur, é claro.

Annie foi até as janelas e olhou para baixo, do seu quarto no segundo andar. A rua estava vazia.

— Lorde Ashbourne ainda não chegou.

Tentando prender um pente cheio de joias no penteado de Annie, Mary acenou com a cabeça em direção ao relógio no topo da lareira no outro lado do quarto.

— Ainda não chegou a hora. Ele não tá atrasado.

Com expectativa, Annie olhou pela janela novamente, desejosa que a carruagem de Lorde Ashbourne surgisse.

— Eu devo ser a única moça da história que fica pronta antes de seu acompanhante chegar. Não posso evitar. Simplesmente não tenho muito interesse em me enfeitar e embelezar.

— Deixe que eu me preocupo com isso, minha sinhora — disse Mary, prendendo um colar de pérolas ao redor do pescoço de Annie.

Mary caminhou desajeitadamente em direção ao guarda-roupa,

cantarolando para si mesma, e Annie a observou. Ultimamente, a criada

sempre estava de bom humor. Apesar de ainda lidar com um lamentável

problema de memória, Mary também havia desabrochado para a vida. Agora,

ela era criada em uma enorme casa de um marquês. Ela e Evans, o ex-

mordomo da irmã, residiam na magnífica casa. Eles usavam elegantes

uniformes e ambos estavam bastante orgulhosos de si mesmos. Embora o

mordomo estivesse mais para um estimado supervisor, um assistente do

refinado mordomo do marquês. Mas com a propensão de Evans em cochilar

nos momentos mais inconvenientes, ele estava feliz por não mais ter que

suportar o peso da perfeição. Estava contente em passar seus dias correndo

atrás do mordomo de Devon, Nicholls, concordando com ele em quase tudo,

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e tirando cochilos sempre que possível.

— Espero que Lorde Ashbourne chegue logo — disse Annie.

A voz cantada de Mary flutuou do guarda-roupa.

— Parece que ‘cê tá com pressa hoje.

Com a ponta do dedo, Annie percorreu a manta violeta em cima da cama.

— Não quero deixar Arthur sozinho no baile.

Mary pôs a cabeça para fora do guarda-roupa.

— Não consegue confiá no rapaz? Digo, confiar.

Desde que chegara na casa de Lorde Colton, Mary se esforçava para pronunciar as palavras corretamente. “Não faz sentido — ela dissera muitas vezes — que um marquês tenha uma criada tão simplória em seu lar.” “Lar”, é claro, era pronunciado com muito cuidado.

— Eu confio em Arthur — disse Annie, pegando um fiapo em suas saias. — Não confio nas outras jovens damas.

— ‘Cê não acha que há algo errado nisso? — Mary perguntou. — Não me parece que Seu Eggleston...

Annie lançou à empregada um olhar suplicante.

— Oh, você também não, Mary. Desde que Lily foi viajar, pensei que teria uma folga do discurso diário sobre como devo parar de correr atrás de Arthur. Pensei que você estivesse do meu lado. Além disso, não tenho escolha. Devo agir rapidamente. Assim que Lily e Devon retornarem do continente, levarão todos nós para o interior até o Natal. Com Justin sendo tutelado na Casa dos Colton, devem estar ansiosos para vê-lo. Ficaremos em Surrey por meses. Nem mesmo verei Arthur até lá, a menos que consiga convencê-lo a pedir minha mão antes disso.

É claro que Annie tomou o cuidado de não mencionar a escapulida da

noite passada para Mary. Quanto menos a criada soubesse, e ficasse tentada a

repetir para Lily, melhor. Se ela conseguisse se lembrar disso, seria o fim.

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— Mas ‘cê não pode culpar sua irmã por estar preocupada sobre seu par — respondeu Mary. — Acho que Seu Eggleston deveria ter pedido sua mão há muito tempo.

— Arthur está apenas esperando o momento perfeito — explicou Annie. — Seu pai ficou muito ressentido com ele quando descobriu que fugimos para Gretna. Ele prometeu ao pai que esperaria e pensaria sobre as coisas com sensatez.

— Já se passaram seis meses — Mary comentou.

— E eu não sei? — murmurou Annie.

Ela passara as últimas semanas absolutamente determinada a fazer com que Arthur pedisse sua mão. Ainda mais após o infeliz incidente do dia anterior. Naquela noite, precisaria fazer algo ainda mais ousado para chamar sua atenção.

O barulho de rodas de carruagem despertou Annie de seu devaneio, e ela virou-se para olhar pela janela. Lá estava ela, a grande carruagem com brasão azul-escuro e letras douradas do Conde de Ashbourne. Quatro cavalos pretos emparelhados com precisão puxavam a condução. Sua Senhoria havia chegado.

Annie mordeu o lábio. A carruagem de Lorde Ashbourne era muito mais elegante que a pequena condução emprestada pelo pai de Arthur ao filho. Ela absolutamente se sentiria deslocada em algo de tamanha magnificência. Ora, era tão boa quanto a de Lorde Colton, e ela mal havia se acostumado a andar nela.

Annie verificou seu reflexo no espelho, ajeitou um cacho solto da melhor forma possível, e apertou mais as luvas.

— Boa noite, Mary — disse ela, correndo para fora do quarto.

Acabara de dar alguns passos, quando se lembrou da retícula e voltou ao quarto para apanhá-la da penteadeira.

Mary colocou as mãos nos quadris.

— Não era você a mesma moça que recentemente disse que não se

deve parecer muito ansiosa quando um homem vem visitá-la?

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Annie prendeu a alça da bolsa no pulso.

— Oh, mas ele não é um homem — disse ela, dando um tapinha na bochecha da criada. — Ele é Lorde Ashbourne.

— O solteiro mais cobiçado de Londres — disse Mary cantarolando.

— O solteiro mais insuportável de Londres — Annie cantarolou de volta.

Ela parou por um momento e uma pequena risada escapou de seus lábios.

— Além disso, ele até pode ser solteiro, mas está tão disponível quanto o Príncipe Regente. Lorde Ashbourne disse umas cem vezes que não pretende se casar. Agora fique de olho em Dash e não me espere acordada — Annie jogou um beijo para Mary e saiu correndo do quarto.

Levantando as saias com uma das mãos, Annie agarrou a balaustrada com a outra para não cair. Contudo, forçou-se a respirar fundo e contar até cinco ao passar pelo patamar. Afinal de contas, ela já tinha dezenove anos.

Deveria agir com graça e decoro. Ela era Anne agora, e não Annie, não importando quantas vezes tivesse que corrigir as demais pessoas. Não importando quantas vezes tivesse que lembrá-los de usar seu novo nome. Não importando quantas vezes tivesse que corrigir a si mesma.

A estrondosa voz de Ashbourne cumprimentou o extremamente sério Nicholls. Annie obrigou-se a endireitar os ombros e descer os últimos degraus mais lentamente.

Assim que ela surgiu, Ashbourne ergueu a cabeça para vê-la e um sorriso tomou conta de seu rosto.

— Você estava correndo, não estava? — ele perguntou.

Ela mordeu o lábio para abafar uma risada de espanto.

— O quê? Não!

— Sim, você estava — ele bateu as luvas de couro contra a coxa. —

Dá para perceber. Suas bochechas estão coradas. E você não é conhecida

como a noiva fujona a troco de nada — ele sorriu para ela.

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Annie levou a mão às bochechas. Oh, como queria poder esconder o denunciador tom de rosa que se espalhava em seu rosto sempre que estava ansiosa. Pôs a mão nos cabelos. Apenas recentemente os indomáveis fios de sua juventude foram substituídos por largos e belos cachos escuros que desciam pelos ombros e pelas costas. Antes desgrenhado, seu cabelo havia se tornado invejável. Arthur havia reparado em sua beleza em mais de uma ocasião. É claro que havia prendido o cabelo esta noite. Mas sempre deixava alguns cachos soltos para emoldurar seu rosto.

Suas bochechas poderiam estar levemente rosadas, mas seu cabelo estava perfeitamente no lugar. Lorde Ashbourne estava apenas provocando-a.

Como sempre. Parecia ser seu esporte favorito ultimamente.

— Se eu estava correndo — disse ela, puxando levemente as delicadas pontas das luvas — e não estou dizendo que estava, para sua informação, é somente porque estou ansiosa para chegar ao baile.

Ele lançou-lhe um olhar de zombaria.

— Quer dizer que não é porque você está ansiosa pela minha companhia?

Ela aproximou-se dele com um longo suspiro de resignação.

— Você não pode me culpar. Não fez nada além de causar-me problemas a todo o momento desde que Lily e Devon saíram da cidade.

Oh, talvez ela não devesse ter dito isso, dado os eventos da noite passada. Por que ela sempre dizia e fazia coisas sem pensar primeiro?

Principalmente na presença de Lorde Ashbourne?

Felizmente, o pomposo mordomo apareceu, trazendo o casaco dela ao braço. Annie se virou de costas para permitir que Nicholls o colocasse sobre seus ombros. Mas Lorde Ashbourne deu um passo à frente e o retirou das mãos do homem mais velho.

— Permita-me — disse ele em voz alta.

As fortes mãos do conde fizeram um rápido trabalho, colocando o casaco sobre seus ombros e...

Annie estremeceu. Um pensamento lascivo surgiu em sua mente. Uma

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sensação inesperada, desconhecida e ardente onde a respiração dele havia tocado seu pescoço. Rapidamente, deixou de lado essa emoção desconfortável.

Ele era Lorde Ashbourne. Jordan. Sim, ele era bonito, mas não a fazia virar a cabeça para olhá-lo. Não. Não. Certamente não. Mas que pensamento absurdo. Ora, o homem tinha trinta e um anos de idade. Era velho o suficiente para ser seu... irmão mais velho.

Ela virou-se e olhou Jordan de relance. Precisava dar uma outra olhada. Ele media bem mais que um metro e oitenta de altura, tinha ombros largos, porte atlético, e cabelos curtos e castanhos escuros. Mas os olhos eram seu verdadeiro encanto. De cor prata escuro, eles brilhavam como gelo ou aço, dependendo do humor dele.

Oh. Sim. Ele era impiedosamente bonito. Toda mulher da alta sociedade pensava assim. Mas era preciso mais do que um rosto bonito para angariar a atenção de Annie, e Jordan Holloway não era nada além de um...

incômodo.

Além disso, homens como Jordan Holloway nunca olhavam duas vezes para garotas como Annie Andrews.

Ela limpou a garganta e afastou-se dele. Mas isso não a impediu de tremer um pouco ao seu toque. Com mil diabos!

Ela não deveria ter tais pensamentos sobre Lorde Ashbourne.

— Como está sua raposa? — ele perguntou.

Sim. Conversa fiada. Apenas isso.

— Repousando confortavelmente, obrigada por perguntar — ela respondeu.

— E Tia Clarissa? — perguntou, olhando ao redor.

— Deve chegar a qualquer momento — respondeu Annie e, como que combinado, Tia Clarissa apareceu, adentrando o corredor.

Sua suíte ficava no primeiro andar, pois a pobre mulher tinha

dificuldade em descer as escadas. Suas bochechas estavam rosadas, um sinal

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claro de que já havia tomado xerez aquela noite.

— Estou aqui, queridos. Estou aqui — disse ela, correndo o mais rápido que uma mulher de sua idade e corpulência era capaz.

— Boa noite, Tia Clarissa — disse Jordan, curvando-se.

— Ah, Lorde Ashbourne, quando Anne falou que você nos acompanharia ao baile esta noite eu disse que provavelmente ela havia se enganado. Mas me atrevo a dizer que fico satisfeita por não ter sido esse o caso.

Lorde Ashbourne teve dificuldade em conter o riso.

— É um prazer acompanhar duas belas damas — ele respondeu em seu tom mais cortês, e Annie não pôde deixar de sorrir com a piscadela que ele deu à mulher mais velha.

— Se eu fosse quarenta anos mais jovem e vinte quilos mais magra...

— Tia Clarissa piscou para Lorde Ashbourne e, dessa vez, Annie cobriu a boca com a mão.

Céus, a senhora havia sido absolutamente indecorosa. Annie abriu um largo sorriso por trás da mão. Ela realmente não poderia ter pedido melhor dama de companhia.

Annie abaixou a mão e virou-se para Lorde Ashbourne, ainda com o sorriso em seu rosto.

— Podemos ir?

O sorriso de Lorde Ashbourne se alargou.

— Acho que essa fala é minha.

Jordan acompanhou Annie Andrews e Tia Clarissa pelos degraus e em direção à carruagem, que os esperava.

— Oh, esses cavalos! — exclamou Tia Clarissa. — Eles parecem

absurdamente selvagens.

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— Tudo vai dar certo — Annie respondeu, permitindo que Tia Clarissa agarrasse sua manga enquanto dava um tapinha na mão da mulher para tranquilizá-la.

Jordan observou a maneira rígida como Annie mantinha seus pequenos ombros eretos e a leve saliência de seu pequeno e firme maxilar enquanto fazia o possível para ignorá-lo.

Seu melhor amigo, Devon, havia se apaixonado perdidamente pela irmã dessa jovem, Lily, cinco anos atrás. Devon e Lily se reencontraram da maneira mais inesperada no ano passado. Lily escrevera um panfleto escandaloso intitulado Segredos de uma Noite de Núpcias que fora comprado pelas jovens damas da alta sociedade tão rapidamente quanto havia sido impresso. Quando a noiva de Devon cancelou o casamento após lê-lo, Devon ficou com tamanha raiva que procurou a jovem viúva. Ele a desafiou:

escreveria uma retratação ou se prepararia para ser seduzida e descobrir o quão maravilhosa a noite de núpcias poderia ser.

E sendo como é, Lily nunca teve qualquer intenção de se retratar e os dois iniciaram uma alegre perseguição antes de finalmente admitirem para si mesmos que ainda estavam apaixonados depois de todos esses anos.

Agora, Jordan olhava para Annie. Após ajudar Tia Clarissa, ele ajudou Annie a entrar na carruagem, subiu após ela, e deslizou para o assento em frente a ela. Ela era leve, mas espirituosa. Enquanto sua irmã, Lily, parecia ter sido esculpida em porcelana, Annie tinha uma beleza simples. Porém, ainda mais cativante, Jordan pensou nervosamente. De fato, dada sua reação quando ela estivera em seus braços na noite anterior.

Com seus cabelos e olhos escuros, ela parecia uma cigana. E, de alguma forma, conseguira tornar-se ainda mais bonita nos últimos meses. Ele não tivera a oportunidade de olhá-la tão de perto antes. Mas agora, em sua companhia na carruagem, percebera que seu cabelo, antes de beleza razoável, agora era um nó de seda exuberante e de cor intensa no topo de sua cabeça.

Sua pele era clara e suave, acentuando os traços escuros de suas sobrancelhas e seus longos cílios negros.

Srtª Andrews era muito atraente para qualquer pessoa com interesse

em jovens ingênuas, o que certamente não era o caso de Jordan. Céus! O

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espaço apertado da carruagem estava mexendo com a sua cabeça. Ela era cunhada de Devon. Completamente inapropriada para ele. Devon lhe daria uma surra se soubesse que tivera um só pensamento inadequado sobre Annie, quanto mais os vários que vieram à sua mente nas últimas vinte e quatro horas. Jordan sacudiu a cabeça para esquecer tais ideias inquietantes. Sim. A jovem era bela. E o motivo de insistir em correr atrás daquele idiota do Eggleston era uma incógnita.

Jordan relaxou contra o assento e olhou pela janela. Além da noite anterior, ele já sabia, em primeira mão, em quanta confusão a garota poderia se meter.

Agora, meses após sua malfadada tentativa de se casar em Gretna Green, parecia que ainda estava convencida de que Eggleston era o homem certo para ela. Um absurdo, é claro, mas isso não era problema de Jordan. O debut de jovens damas e os maridos que escolheriam não eram algo com que se preocupasse. Deveria apenas garantir que Srtª Andrews ficasse longe de problemas sob sua vigilância e isso, presumiu, significava que ela permaneceria inocente, solteira e com uma reputação intacta. Algo fácil, ele supôs. Faltavam três semanas para que Devon e Lily voltassem e, então, seus indesejados serviços de acompanhante teriam um fim.

No entanto, Jordan tinha um pressentimento de que a garota não tornaria as próximas semanas fáceis para ele. Ele passou a última semana perseguindo-a no parque enquanto ela tentava convencer Eggleston a convidá-la para o baile desta noite. Tudo havia sido bastante fácil, mas agora, apesar do fato de que a temporada acabara há tempos, ainda aconteceriam mais alguns eventos. E eventos, como o dos Lindworths nesta noite, significavam problemas.

Ao que parece, Annie era tão teimosa e impudente quanto a irmã. Ou ainda mais, se o enfático aviso que Lily dera antes de partir fosse levado a sério. Sim, por mais que não apreciasse a ideia de bancar o acompanhante de uma jovem indisciplinada, estava certo de que tinha tempo disponível o suficiente para ficar de olho em Srtª Andrews. O fim das próximas três semanas pareciam nunca chegar.

— Esclareça seus comentários anteriores — disse Jordan para ela. —

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