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A educação na antiguidade grega: Paideia

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Civilização Micênica (7)

A educação na antiguidade grega:

Paideia

Edilian Arrais

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CONTEXTO HISTÓRICO

A Grécia Antiga era composta de diversas unidades políticas autônomas, constituídas cidades-estados. As diferentes cidades tinham em comum o idioma e a religião e algumas semelhanças nas instituições sociais e políticas. Os gregos se autodenominavam helenos (de Hélade) e aos demais povos de bárbaros.

A civilização micênica: 2000 a.C até XII a.C.

Vivem em regime de comunidade primitiva. A figura do guerreiro tem grande importância. Conquista de Tróia por Aquiles, Ulisses e Agamémnon. No final do século XII a.C. a Grécia é invadida pelos bárbaros e entra em um período obscuro até IX a.C.. A invasão causa a fuga de alguns moradores para Ásia Menor, onde funda colônias que tornam-se prósperas por causa do comércio.

Tempos homéricos: XII até VIII a.C.

Chamados homéricos devido à figura de Homero e as obras Ilíada e Odisséia, comumente atribuída à sua autoria. Predomínio da concepção mítica do mundo. Assim chamado porque naquela época teria vivido Homero (talvez IX a VIII a.C.). Mitos gregos recebiam forma poética e eram transmitidos oralmente em praça pública pelosa aedos e rapsodos1, dentre eles Homero – provável autor das epopéias

Ilíada e Odisséia. Não se pode afirmar que Homero existiu com certeza.

Período arcaico: séculos VIII a VI a.C.

Grandes transformações nas relações sociais e políticas. Importantes novidades, dentre elas a escrita – ressurge nessa fase, permite maior abstração, desperta o confronto de ideias e estimula o espirito crítico, logo está desconectada da religião (dessacralização). Surge também à utilização da moeda (revoluciona, superando o sistema de troca), formação das cidades-estados (poleis2), o aparecimento dos primeiros filósofos. É um momento de uma nova visão

de mundo e do indivíduo.

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Poetas-aedo e Poetas-rapsodo — o primeiro era acompanhado de um instrumento musical chamado de forminx; o segundo declamava poemas em pé, sem o auxílio de instrumentos. Nessa ordem, o mito como poesia passava da musa para o poeta aedo e, mais tarde, para o rapsodo. Eram homens considerados “escolhidos pelos deuses”, cujo pensamento não tinha compromisso com a lógica ou razão, mas suas palavras tinham a força da verdade absoluta (dogmas), pois as coisas que eles diziam, os mythos, eram sagradas, incontestáveis, inquestionáveis

2 A pólis (πολις) - plural: poleis (πολεις) - era o modelo das antigas cidades gregas, desde o período arcaico até o período clássico,

vindo a perder importância durante o domínio romano. Devido às suas características, o termo pode ser usado como sinônimo de cidade. As poleis, definindo um modo de vida urbano que seria a base da civilização ocidental, mostraram-se um elemento fundamental na constituição da cultura grega, a ponto de se dizer que o homem é um "animal político". Nessa comunidade organizada, formada pelos cidadãos (no grego “politikos” ), isto é, pelos homens nascidos no solo da Cidade, livres e "iguais" (vale lembrar que nenhum individuo da pólis é exatamente "igual" ao outro, por que eles tem diferentes aspirações tanto para si

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Várias lutas denunciavam a crise social e política que resultou do conflito entre a aristocracia rural e os comerciantes em ascensão. As leis escritas favoreceram o acesso dos ricos comerciantes ao poder e no final do séc. VI a.C. as reformas de Clístenes deram condições para o nascimento, no séc. seguinte, de uma nova ordem política: a Democracia. A pólis se constituiu com a autonomia da palavra, não mais a palavra mágica dos mitos, mas a palavra humana do conflito, da argumentação. Finalmente surgiu o filósofo. Estes pensadores, entre eles Tales e Pitágoras, também eram responsáveis por uma “física” nascente e pela formalização da matemática e da geometria.

Período clássico: séculos V e IV a.C.

Apogeu da civilização grega: manifestação intensa das artes, literatura e filosofia que veio a delinear o que viria a ser herança cultural do mundo ocidental. O auge da democracia é representado por Péricles (séc. V A.C.), estratego (comandante militar) de Atenas. Tratava-se de uma democracia escravista, onde apenas homens livres eram cidadãos, sendo apenas 10% que tinham o poder de decidir por todos (o restante era escravo, mulheres e estrangeiros).

Período helenístico: séculos III e II a.C.

Registra a decadência política. Desavenças entre Esparta e Atenas culminaram em guerra, saindo derrotada Atenas. Daí aproveitou-se o rei Felipe da Macedônia para conquistar cidades gregas. Mais tarde seu filho Alexandre expandiu suas conquistas pela Ásia e África, formando um império. Mas mesmo tendo a Grécia sido dominada, sua civilização não foi destruída. Após a morte precoce de Alexandre o Grande, em 323 a.C., o império se fragmentou, e por voltados séc. II e I a.C. os romanos não só se apropriaram do território, mas assimilaram as expressões culturais gregas. Essa fusão deu origem ao que se chama cultura helenística.

EDUCAÇÃO NA ANTIGUIDADE GREGA

A educação grega estava centrada na formação integral – corpo e espírito -, embora, algumas vezes a ênfase recaísse sobre um ou outro: corpo - preparo militar ou esportivo e espírito - debate intelectual, conforme a época e o lugar.

Antes da escrita a educação era ministrada pela própria família, conforme tradição religiosa. Em vindo a aristocracia dos senhores de terras, os jovens de elite eram confiados a preceptores.

Com as poleis surgem também as primeiras escolas, principalmente no período clássico, quando a instituição escolar já se encontrava estabelecida. Mesmo que de certa forma essa ampliação do acesso à escola representasse uma democratização da cultura, ela ainda não era para acesso a todos, e sim à elite, filhos dos nobres e comerciantes enriquecidos.

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A paideia

A ênfase dada à formação integral deu origem ao conceito de complexa definição, a Paidéia. Paidéia: nas suas origens e na sua acepção comum, indica o tipo de formação da criança (pais, paidós), mais idôneo ao fazê-lo crescer e tornar-se homem, assume pouco a pouco com os filósofos o significado de formação, de perfeição espiritual, ou seja, de formação do homem no seu mais alto valor.

Os tipos de educação no mundo grego

As origens: Homero, “educador da Grécia”.

Na época aristocrática guerreira, a educação visava, sobretudo à formação militar do nobre. A criança nobre permanecia em casa até os 7 anos, quando era enviada aos palácios de outros nobres a fim de aprender, como escudeiro, o ideal cavalheiresco. Também contratavam preceptores para formação integral baseada no afeto e no exemplo.

Dois modelos de educação: Esparta e Atenas

Como as póleis eram autônomas politicamente, também o modo de educar variou entre elas. Dentre elas destacamos dois modelos radicalmente diferentes: o de Esparta, cidade militarizada, e o de Atenas, iniciadora do ideal democrático. Um era baseado no conformismo e no estatismo e o outro na concepção da Paidéia, de formação humana livre e nutrida de experiências diversas, sociais, mas também culturais e antropológicas.

Período helenístico

O fim do século IV a.C. iniciou-se a decadência das cidades-estados até a perda total da autonomia. A cultura helênica fundiu-se às civilizações que a dominaram, dando origem ao helenismo. No período helenístico, a antiga Paidéia torna-se enciclopédia – educação geral – e consiste nos conhecimentos exigidos para formação da pessoa culta. Diminuiu-se o tempo dedicado ao exercício físico conforme aumentava estudos teóricos. No ensino elementar era orientado pelo gramático, e no secundário ampliou-se a função do reitor. Surgiram as ampliou-sete artes liberais: três disciplinas humanísticas (gramática, retórica e dialética) e quatro científicas (aritmética, música, geometria e astronomia). Acrescenta-se a filosofia e a teologia na era Cristã. Da junção da Academia e do Liceu surgiu a Universidade de Atenas.

Os sofistas

Os novos mestres eram os sofistas, sábios itinerantes de todas as partes do mundo grego que se concentram em Atenas (Protágoras, Górgias, Híppias alguns dos principais representantes).

Sofista vem da palavra grega sophos, que significa professor da sabedoria. Mais tarde veio tomar o sentido de quem usa de raciocínio capcioso para engar. Os sofistas centram-se na questão Moral e na Política – se ocupam da elaboração teórica e da legitimação dos ideais democráticos da classe em ascensão.

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São responsáveis também pela primeira organização curricular sistematizada – construção de um Programa de estudo que vai da retórica à dialética, passando pela gramática, a aritmética, a geometria, a música e a astronomia – As sete artes liberais, retomadas na Idade Média no Trivium e quadrivium.

Das obras dos sofistas só nos restaram fragmentos, além dos comentários tendenciosos dos filósofos do seu tempo.

Sócrates (c. 469-399 a.C)

Muitos confundiram Sócrates com os sofistas. Passava horas discutindo em locais públicos de Atenas, através de um conjunto de perguntas que derruba a argumentação do cidadão, mostrando a fragilidade da sabedoria: método socrático.

Fases do método socrático: Ironia (perguntar, fingindo ignorar), Maiêutica (dar à luz a novas ideias), “Conhece-te a si mesmo” – conhecer a essência das coisas permite que a humanidade viva de forma ética, a maldade vem da ignorância. O reconhecimento da ignorância é o ponto de partida para a sabedoria – Só sei que nada sei.

Influência na educação: conhecimento tem como função tornar possível a vida moral; aquisição do conhecimento pelo diálogo; educação deve ser ativa e não dogmática, levar a pensar a partir de elementos do cotidiano, levando a questionar a realidade.

Acusado de corromper as jovens mentes e não acreditar nos deuses da cidade é condenado á morte. Não deixou escritos, o conhecemos principalmente através de Platão, seu principal discípulo.

Platão (428-347 a.C)

Seu verdadeiro nome era Arístocles. Em Atenas Lecionou por 40 anos nas academias de Atenas.

Seu pensamento filosófico pode ser compreendido através do Mito da Caverna, alegoria usada para explicar melhor sua teoria. A análise desse mito pode ser feita sob dois pontos de vista: Análise epistemológica (conhecimento): o homem comum está aprisionado ao mundo dos fenômenos, só conhece a aparência das coisas. O filósofo aquele que se liberta e atingirá o verdadeiro conhecimento, atingindo o mundo das ideias, lugar da essência das coisas e a

Análise política: o filósofo cumpre uma função pedagógica, na medida em que tem como função

influenciar os homens que não conhecem a verdade.

Platão descreve a pedagogia ideal na obra A República. Imagina um lugar utópico (Callipolis – Cidade Bela) criado como modelo de cidade, em que seria abolida a propriedade e a família, onde todas as crianças deveriam ser educadas pelo Estado, de acordo com suas diferenças individuais.

Até os 20 anos a educação é a mesma para todos. A partir daí diferente para as almas de bronze, prata (mais 10 anos) e ouro (iniciados na arte de dialogar). Aos 50 anos o homem pode fazer parte dos magistrados da sociedade.

Ideias pedagógicas avançadas para seu tempo: igualdade para homens e mulheres, acesso à educação por mérito e não por riqueza, valorização da educação intelectual, o Estado assume a educação. Essa utopia representa um modelo aristocrático de poder, em oposição à democracia.

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Isócrates (436-338 a.C.) e a retórica

Contemporâneo de Platão. Discípulo do sofista Górgias e de Sócrates. Fundou uma escola de nível superior. Acusa Platão de formular uma educação elitista e intelectualista. Centra sua atenção na linguagem, desenvolvendo diversas técnicas de ensino do discurso. Muitas vezes Isócrates se opôs também aos sofistas, por considerar que a concepção de eloquência deles estava dissociada da formação moral, cívica e patriótica. O filósofo romano Cícero diz que “Isócrates ensinou a Grécia a falar”.

Aristóteles (384-332 a.C.)

Foi discípulo de Platão. Teria sido preceptor de Alexandre, o Grande. Mais tarde fundou em Atenas a sua própria escola, o Liceu.

Aristóteles crítica o idealismo de Platão e desenvolve uma teoria realista. Para explicar o ser Aristóteles usa dois elementos indissociáveis: a matéria e a forma – todo ser tende a atingir a forma que está em si em potência, levando a uma concepção da educação como um constante devir.

O Estado deve se ocupar da formação do cidadão, que deve ser restrita ao homem livre e desenvolve um método de pensar o Organom ou órgão, instrumento de pensar, que mais tarde recebeu o nome de lógica

formal (análise, síntese, indução, dedução e analogia).

Os pós-socráticos: segunda metade do século IV a.C.

As cidades-estados perdem autonomia. O contato com o pensamento oriental muda o centro das reflexões filosóficas, fazendo fazer surgir um novo tipo de intelectual. A ênfase transita da metafisica ou política para as questões éticas. Representam essa tendência as escolas filosóficas do estoicismo3 e do

epicurismo4. Posteriormente, o ascetismo cristão5 medieval foi tributário do estoicismo.

No longo período que se estende desde os tempos heroicos até o helenismo, o ideal grego de educação sofreu significativamente alterações.

Por pertencer a uma sociedade escravista, os gregos desvalorizavam a formação profissional e o trabalho manual. A Grécia foi o berço das primeiras teorias educacionais. No mundo contemporâneo, renasce o ideal grego da Paideia, da educação integral.

PALAVRAS-CHAVE

Filosofia — Polis / Política — Paideia

3

Para os estóicos, a tarefa essencial da filosofia é a solução do problema da vida; em outras palavras, a filosofia é cultivada exclusivamente em vista da moral, para afirmar a virtude como único e primeiro bem. Uma vida de virtude pode, em consequência, assegurar ao homem a felicidade. Mas a felicidade do homem virtuoso não é o prazer: é a libertação de toda perturbação, a indiferença universal (apatia) e a independência interior (autarquia).

4

O epicurismo é uma doutrina inteiramente dependente de seu criador, o filósofo Epicuro de Samos, nos século IV e III a.C., e sua influência cultural se estende para além daquele, especialmente na corrente utilitarista. Epicuro parte do lugar-comum aristotélico de que o maior bem é o que vale por si próprio e não por causa de outra coisa. E, claro, concorda que a felicidade é o maior bem do homem, sua finalidade.

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