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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

1.0106.14.005335-1/001

Número do Númeração

0053351-Des.(a) José de Carvalho Barbosa Relator:

Des.(a) José de Carvalho Barbosa Relator do Acordão:

07/05/2020 Data do Julgamento:

15/05/2020 Data da Publicação:

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO - ACIDENTE DE T R Â N S I T O C O N C E S S I O N Á R I A D E S E R V I Ç O P Ú B L I C O -RESPONSABILIDADE OBJETIVA - CULPA EXCLUSIVA DA VÍTIMA - NÃO DEMONSTRAÇÃO - DANOS MORAIS CONFIGURADOS - LUCROS CESSANTES - COMPROVAÇÃO - LIDE SECUNDÁRIA - DIREITO DE REGRESSO DO DENUNCIANTE - SEGURADORA DENUNCIADA - DEVER DE REEMBOLSO NOS LIMITES DO CONTRATO. É cediço que, em se tratando de empresa concessionária de serviço público, incide a regra da responsabilidade objetiva quanto aos danos causados a usuários do serviço, consoante o disposto no artigo 37, § 6º, da Constituição Federal, sendo elidida tal responsabilidade somente se comprovado que o evento danoso ocorreu por culpa exclusiva da vítima ou por caso fortuito ou força maior. Os ferimentos sofridos pelo autor em decorrência do acidente narrado nos autos, associados à angústia, temor, aflição e sentimentos similares causados pelo referido acidente, suplantam os meros aborrecimentos, configurando dano moral passível de reparação. A reparação do dano moral deve ser fixada segundo o prudente arbítrio do julgador, sempre com moderação, observando-se as peculiaridades do caso concreto e os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, de modo que o valor não seja tão elevado que se constitua em fonte de enriquecimento sem causa, tampouco insignificante a ponto de não atender ao seu caráter punitivo. Sendo demonstrado nos autos que o autor, em virtude do acidente narrado nos autos, ficou afastado da sua função de vendedor externo, assim não tendo recebido qualquer valor a título de comissão, deve ser acolhido o seu pedido de condenação da ré ao pagamento de lucros cessantes. A seguradora denunciada da lide tem o dever de reembolsar as coberturas expressamente contratadas e até o limite das importâncias seguradas

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constantes da apólice.

APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0106.14.0053351/001 COMARCA DE CAMBUÍ -APELANTE(S): LUIZ FERNANDO DE OLIVEIRA - APELADO(A)(S): AIG SEGUROS BRASIL S/A, AUTOPISTA FERNAO DIAS S.A.

A C Ó R D Ã O

Vistos etc., acorda, em Turma, a 13ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos, em DAR PROVIMENTO À APELAÇÃO.

DES. JOSÉ DE CARVALHO BARBOSA RELATOR.

DES. JOSÉ DE CARVALHO BARBOSA (RELATOR)

V O T O

Trata-se de recurso de apelação interposto por LUIZ FERNANDO DE OLIVEIRA nos autos da Ação de Indenização movida em face de AUTOPISTA FERNÃO DIAS S.A., esta que promoveu a denunciação da lide à seguradora AIG SEGUROS BRASIL S.A., perante o Juízo da 2ª Vara Cível, Criminal e de Execuções Criminais da Comarca de Cambuí, tendo em vista a sentença de folhas 750/757, integrada pelas decisões de folhas 806 e 820, que julgou improcedente a lide principal e prejudicada a lide secundária. Em suas razões recursais de folhas 762/768 defende o autor/apelante a reforma da decisão sustentando que, sendo a ré

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concessionária de serviço público, a sua responsabilidade é objetiva, e só pode ser afastada na hipótese de ser comprovada a culpa exclusiva da vítima, o que não é o caso dos autos.

Pede o provimento do recurso para que o pedido inicial seja julgado procedente.

Sem preparo, que é dispensado no caso dos autos, por litigar o autor sob o pálio da gratuidade judiciária.

Contrarrazões da seguradora denunciada e da ré a folhas 829/837 e 845/860, respectivamente.

É o relatório.

Conheço do recurso.

Extrai-se dos autos que o autor ajuizou a presente ação alegando que no dia 26/05/2014, por volta das 23:00 horas, estava voltando de Van da Faculdade para a cidade de Cambuí, pela Rodovia Fernão Dias (BR 381), quando o motorista da van se deparou com uma enorme pedra no meio da pista e não conseguiu se desviar, vindo a perder o controle do veículo "acabando por atravessar a pista e vindo a colidir frontalmente com um caminhão que se encontrava estacionado no pátio de um posto de gasolina". Relata que em razão do acidente ficou internado por três dias, teve uma trinca no braço, que ficou imobilizado por 20 dias, e precisou ficar afastado do seu trabalho por 10 dias.

Ainda relata que trabalha como vendedor externo e que, devido à lesão no seu braço, deixou de exercer sua função durante 30 dias, e, por isso, perdeu comissão durante esse período.

Pede a condenação da ré ao pagamento de danos morais e materiais, estes últimos na modalidade de lucros cessantes.

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A ré apresentou contestação a folhas 130/179 alegando que em casos como o dos autos, em que a alegada responsabilidade é originária de comportamento omissivo, a doutrina e a jurisprudência têm entendido que a "responsabilidade civil pauta-se na teoria subjetiva, prevista no art. 186 c/c art. 927 do CC vigente".

Diz que fiscalizou o local onde ocorreu o acidente às 22:36h, ou seja, apenas 20 minutos antes do acidente narrado nos autos, assim afirmando que cumpriu com seus deveres de fiscalização da via.

Relata que poucos minutos antes de tal acidente ocorreu outro sinistro no mesmo local, tendo sido notificada às 22:58h sobre a presença da pedra "sobre o leito carroçável da via", porém, não teve tempo hábil para tomar qualquer providência antes do acidente ocorrido com o veículo no qual o autor se encontrava, que aconteceu por volta das 23:00h, tendo chegado ao local 12 minutos depois daquela notificação.

Sustenta que houve culpa exclusiva do motorista da van na qual o autor se encontrava, uma vez que ele declarou ter visto o objeto antes da colisão e achou que era uma caixa de papelão, porém, não se desviou.

Promoveu a denunciação da lide à AIG Seguros Brasil S.A., alegando ter com ela contrato de seguro, conforme apólice nº 087372013010351000348, vigente na data do sinistro.

Deferida a denunciação da lide, a seguradora denunciada foi citada e apresentou sua contestação com documentos a folhas 467/570.

Houve por bem o d. magistrado "a quo" julgar improcedente o pedido inicial, sob o fundamento de que houve culpa exclusiva de terceiro, "que de forma criminosa colocou a pedra na faixa de rolamento da Rodovia, gerando o acidente em questão".

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É que, em se tratando de empresa concessionária de serviço público, incide a regra da responsabilidade objetiva quanto aos danos causados a terceiros, consoante o disposto no artigo 37, § 6º, da Constituição Federal, "verbis":

"(...)

§ 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.

(...)

Nesse sentido:

"CIVIL. AGRAVO INTERNO NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO A G R A V O E M R E C U R S O E S P E C I A L . A T R O P E L A M E N T O . CONCESSIONÁRIA DE SERVIÇO PÚBLICO (TRANSPORTE COLETIVO). RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA. CULPA EXCLUSIVA DA VÍTIMA CONFIGURADA. REEXAME. SÚMULA 7 DO STJ. 1. A responsabilidade civil das pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de serviço público é objetiva relativamente a terceiros usuários e não-usuários do serviço, segundo decorre do art. 37, § 6º, da Constituição Federal. 2. Essa responsabilidade objetiva baseia-se na teoria do risco administrativo, em relação a qual basta a prova da ação, do dano e de um nexo de causa e efeito entre ambos, sendo, porém, possível excluir a responsabilidade em caso de culpa exclusiva da vítima, de terceiro ou ainda em caso fortuito ou força maior. 3. O reexame das circunstâncias fático-probatórias que levaram as instâncias ordinárias a concluir pela existência de culpa exclusiva da vítima encontra óbice na Súmula 7 do STJ. 4. Agravo interno a que se nega provimento." (AgInt nos EDcl no AREsp 1115349/SP, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA TURMA, julgado em 07/12/2017, DJe 14/12/2017)

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Registre-se que, ao contrário do que alega a ré, a responsabilidade objetiva abrange, também, as condutas omissivas.

Nesse sentido é o entendimento do e. STF:

" E m e n t a : A G R A V O I N T E R N O . R E C U R S O E X T R A O R D I N Á R I O . RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO POR CONDUTA OMISSIVA. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. EXAME DE MATÉRIA JURÍDICA. D E S N E C E S S I D A D E D O R E E X A M E D E F A T O S E P R O V A S . INAPLICABILIDADE DA SÚMULA 279/STF. 1. Nos termos da jurisprudência deste Supremo Tribunal, a responsabilidade civil - ou extracontratual - pelas condutas estatais omissivas e comissivas é objetiva, com base na teoria do risco administrativo. Precedentes. 2. Agravo interno a que se nega provimento.

(RE 499432 AgR, Relator: Min. ALEXANDRE DE MORAES, Primeira Turma, julgado em 21/08/2017, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-197 DIVULG 31-08-2017 PUBLIC 01-09-31-08-2017)

EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO POR MORTE DE DETENTO. ARTIGOS 5º, XLIX, E 37, § 6º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. 1. A responsabilidade civil estatal, segundo a Constituição Federal de 1988, em seu artigo 37, § 6º, subsume-se à teoria do risco administrativo, tanto para as condutas estatais comissivas quanto para as omissivas, posto rejeitada a teoria do risco integral. 2. A omissão do Estado reclama nexo de causalidade em relação ao dano sofrido pela vítima nos casos em que o Poder Público ostenta o dever legal e a efetiva possibilidade de agir para impedir o resultado danoso. (...) 10. Recurso extraordinário DESPROVIDO. (RE 841526, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Tribunal Pleno, julgado em 30/03/2016, ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-159 DIVULG 29-07-2016 PUBLIC 01-08-2016)

EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. CONSTITUCIONAL. PROFESSORA. TIRO DE ARMA DE FOGO

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DESFERIDO POR ALUNO. OFENSA À INTEGRIDADE FÍSICA EM LOCAL DE TRABALHO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. ABRANGÊNCIA DE ATOS OMISSIVOS. PRECEDENTES. AGRAVO REGIMENTAL AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO.

(ARE 663647 AgR, Relatora: Min. CÁRMEN LÚCIA, Primeira Turma, julgado em 14/02/2012, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-046 DIVULG 05-03-2012 PUBLIC 06-03-2012)

Essa responsabilidade é elidida se comprovado que o evento danoso ocorreu por culpa exclusiva da vítima ou por caso fortuito ou força maior, o que, porém, não é o caso dos autos.

Restou devidamente comprovado que o acidente ocorreu porque a pista de rolamento da rodovia administrada pela ré se encontrava obstruída por uma pedra de grande porte, tendo o motorista da van na qual se encontrava o autor, ao passar por cima de tal pedra, perdido o controle do veículo, que atravessou a pista e bateu de frente com uma carreta que estava parada. Também restou comprovado que o autor, em razão desse acidente, ficou internado no Hospital São Lucas (folhas 52/73) e sofreu "fratura do processo estiloide da ulna" e "fratura incompleta na extremidade distal do rádio" (folhas 77).

Restando demonstrados, portanto, o dano e o nexo causal, tem-se que deve ser reconhecida a responsabilidade da ré, sendo irrelevante a sua alegação no sentido de que havia vistoriado o local pouco tempo antes do acidente, uma vez que tal medida não se mostrou efetiva o bastante para evitá-lo.

Também não se há de falar em responsabilidade exclusiva do motorista da van, uma vez que não restou comprovado que ele, motorista, poderia ter se desviado, cumprindo ressaltar que nenhum motorista espera encontrar, em uma grande rodovia, uma pedra da extensão daquela que causou o acidente discutido (foto de folhas 38), ainda devendo ser ressaltado que o acidente ocorreu à noite.

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De rigor, portanto, que seja reconhecida a responsabilidade da ré de reparar os danos sofridos pelo autor em razão do acidente narrado nos autos.

Assim já decidiu esta Corte em julgamento de caso envolvendo o mesmo acidente narrado neste processo:

" E M E N T A : A P E L A Ç Ã O C Í V E L A C I D E N T E D E T R Â N S I T O -RESPONSABILIDADE OBJETIVA - CONCESSIONÁRIA DE SERVIÇO PÚBLICO - PEDRA NA PISTA.

A pessoa jurídica prestadora de serviços públicos, para afastar a sua responsabilidade, incumbe provar a ausência de nexo de causalidade entre os serviços prestados e o dano causado ao terceiro, ou seja, fato exclusivo da vítima, caso fortuito, força maior e fato exclusivo de terceiro. Tem a parte direito a lucros cessantes consistentes na diferença de remuneração em decorrência de afastamento do trabalho. A fixação do valor da indenização por dano moral deve atender às circunstâncias do caso concreto, não devendo ser fixado em quantia irrisória, assim como em valor elevado a ponto de propiciar enriquecimento sem causa. (TJMG - Apelação Cível nº 1.0106.15.001771-8/002, Relator: Des. Marco Aurelio Ferenzini, 14ª Câmara Cível, julgamento em 17/08/2017, publicação da súmula em 25/08/2017)"

Desse modo, resta analisar se, por decorrência do acidente, o autor sofreu os reclamados danos de natureza moral e material.

A propósito da configuração do dano moral, cumpre observar que, segundo Sérgio Cavalieri Filho, o "dano moral, à luz da Constituição vigente, nada mais é do que agressão à dignidade humana" e explica:

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"(...) só deve ser reputado como dano moral a dor, vexame, sofrimento ou humilhação que, fugindo à normalidade, interfira intensamente no comportamento psicológico do indivíduo, causando-lhe aflições, angústia e desequilíbrio em seu bem-estar. Mero aborrecimento, dissabor, mágoa, irritação ou sensibilidade exacerbada estão fora da órbita do dano moral, porquanto, além de fazerem parte da normalidade do nosso dia a dia, no trabalho, no trânsito, entre os amigos e até no ambiente familiar, tais situações não são intensas e duradouras, a ponto de romper o equilíbrio psicológico do indivíduo. Se assim não se entender, acabaremos por banalizar o dano moral, ensejando ações judiciais em busca de indenizações pelos mais triviais aborrecimentos. (...) (in Programa de Responsabilidade Civil - 10. ed. - São Paulo: Atlas, 2012, p. 93)."

Segundo Sérgio Cavalieri Filho o "dano moral, à luz da Constituição vigente, nada mais é do que agressão à dignidade humana" e explica: "(...) só deve ser reputado como dano moral a dor, vexame, sofrimento ou humilhação que, fugindo à normalidade, interfira intensamente no comportamento psicológico do indivíduo, causando-lhe aflições, angústia e desequilíbrio em seu bem-estar".

De fato, para que haja a compensação da dor moral o ato considerado como ilícito deve ser capaz de ocasionar um sofrimento físico ou espiritual, impingindo tristezas, preocupações, angústias ou humilhações, afetando o psicológico do ofendido de forma a suplantar os meros aborrecimentos que fazem parte da normalidade do nosso dia a dia, no trabalho, no trânsito, entre os amigos e até no ambiente familiar, servindo a indenização como forma de compensar a lesão sofrida.

No caso dos autos, tenho que as lesões sofridas pelo autor em decorrência do acidente narrado nos autos - fratura do processo estiloide da ulna e fratura incompleta na extremidade distal do rádio -, associadas à angústia, temor, aflição e sentimentos similares causados pelo referido acidente, que, diga-se, foi grave, conforme

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fotos juntadas aos autos, suplanta os meros aborrecimentos, configurando o reclamado dano moral passível de reparação.

No tocante ao quantum da indenização, cumpre observar a reparação do dano moral significa uma forma de compensação e nunca de reposição valorativa de uma perda, e deve ser fixada segundo o prudente arbítrio do julgador, sempre com moderação, observando-se as peculiaridades do caso concreto e os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, de modo que o valor não seja tão elevado, que se constitua em fonte de enriquecimento sem causa, tampouco insignificante a ponto de não atender ao seu caráter punitivo-pedagógico.

A propósito, confira-se lição do mestre Sérgio Cavalieri Filho:

"Creio que na fixação do "quantum debeatur" da indenização, mormente tratando-se de lucro cessante e dano moral, deve o juiz ter em mente o princípio de que o dano não pode ser fonte de lucro. A indenização, não há dúvida, deve ser suficiente para reparar o dano, o mais completamente possível, e nada mais. Qualquer quantia a maior importará enriquecimento sem causa, ensejador de novo dano. Creio, também, que este é outro ponto onde o princípio da lógica do razoável deve ser a bússola norteadora do julgador. Razoável é aquilo que é sensato, comedido, moderado; que guarda uma certa proporcionalidade. Importa dizer que o juiz, ao valorar o dano moral, deve arbitrar uma quantia que, de acordo com o seu prudente arbítrio, seja compatível com a reprovabilidade da conduta ilícita, a intensidade e duração do sofrimento experimentado pela vítima, a capacidade econômica do causador do dano, as condições sociais do ofendido, e outras c i r c u n s t â n c i a s m a i s q u e s e f i z e r e m p r e s e n t e s . ( P r o g r a m a d e Responsabilidade Civil. São Paulo: Malheiros, 2001. p. 81-82)"

Também nesse sentido a jurisprudência:

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moral. Recomendável que o arbitramento seja feito com moderação e atendendo às peculiaridades do caso concreto. (RSTJ 140/371)

Critérios de quantificação da indenização que devem atender a determinados balizamentos, que obedeçam ao padrão social e cultural do ofendido, à extensão da lesão do seu direito, ao grau de intensidade do sofrimento enfrentado, às condições pessoais do devedor, ao grau de suportabilidade do encargo pelo último, sem descurar do caráter reparatório, sempre com a preponderância do bom senso e da razoabilidade do encargo. (Ajuris 76/608) Na fixação da indenização por danos morais, recomendável que o arbitramento seja feito com moderação, proporcionalmente ao grau de culpa, ao nível socioeconômico dos autores, e, ainda, ao porte da empresa recorrida. (RSTJ 112/216 e STJ-RF 355/201)

A indenização deve ter conteúdo didático, de modo a coibir reincidência do causador do dano sem enriquecer injustamente a vítima. (STJ-3ª T., REsp 831.584-AgRg-EDcl, Min. Gomes de Barros, j. 24.8.06, DJU 11.9.06). (in Código Civil e legislação civil em vigor/Theotonio Negrão, José Roberto F. Gouvêa, Luis Guilherme Aidar Bondioli - 30. ed. - São Paulo: Saraiva, 2011, p. 109)"

In casu, atento aos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, tenho por suficiente, tanto para reparar a dor moral quanto para atender ao caráter punitivo-pedagógico da condenação, a fixação do quantum indenizatório no importe de R$ 15.000,00, valor que reputo condizente com as peculiaridades do caso, ficando estabelecido que sobre tal valor incidirão juros moratórios de 1% ao mês, a partir do evento danoso, conforme Súmula 54 do STJ, e correção monetária a partir da publicação deste acórdão, consoante Súmula 362 do STJ.

Com relação ao pedido de danos materiais, na modalidade de lucros cessantes, entendo que também merece acolhimento.

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Como sabido, o ressarcimento pelos lucros cessantes importa em recomposição de um prejuízo efetivamente sofrido, considerando-se um valor que o requerente concretamente teria percebido e objetivamente deixou de ganhar, como consequência direta da atitude de outrem.

Logo, o seu deferimento depende de cabal demonstração nos autos dos danos alegados, nos termos do artigo 373, I, do CPC.

De acordo com Hamid Charaf Bdine Jr., citando Carvalho Santos, in Código Civil Comentado. Coordenador: Ministro Cesar Peluso. Vários autores. 2ª ed. Manole: 2008, pg. 372:

"(...) os lucros cessantes para serem indenizáveis devem ser fundados em bases seguras, de modo a não compreender os lucros imaginários ou fantásticos. Nesse sentido é que se deve entender a expressão legal: razoavelmente deixou de lucrar (...)."

Portanto, os lucros cessantes, hipótese de danos materiais, precisam ser cabalmente demonstrados para fins de reparação, incumbindo àquele que os alega comprová-los de modo inequívoco, pois não são eles presumíveis, devendo a condenação ao seu ressarcimento ser feita na medida exata de sua comprovação.

In casu, verifica-se que o autor comprovou, com o documento de folhas 86, que ficou impossibilitado de executar sua atividade de vendedor externo durante 30 dias, prejudicando a sua remuneração comissionada.

Com relação ao valor da indenização, observa-se dos demonstrativos de pagamentos de folhas 83/84, relativos aos meses de julho a setembro/2014, que o autor, nesses meses, recebeu valores a título de comissão, sendo R$ 320,22 no mês de julho/2014, R$ 231,50 no mês de agosto/2014 e R$ 345,37 no mês de setembro/2014, o que dá uma média de R$ 300,00 mensais, assim fazendo ele jus aos danos materiais pedido nesse valor de R$ 300,00.

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No tocante à lide secundária, verifica-se que a seguradora denunciada, em contestação, aceitou a denunciação, confirmando a celebração de contrato de seguro de Responsabilidade Civil com a denunciante, juntando aos autos cópia da apólice nº 087372013010351000348 e das condições gerais do referido seguro (folhas 506/570).

Assim, tem-se que deve ser julgada procedente a lide secundária.

Com tais considerações, DOU PROVIMENTO À APELAÇÃO para reformar a sentença e julgar procedente o pedido inicial, condenando a ré a pagar ao autor: 1) indenização por danos morais no valor de R$ 15.000,00 (quinze mil reais), corrigido monetariamente a partir da data de publicação desta decisão (Súmula 362 do STJ), pelos índices da tabela da Corregedoria -Geral de Justiça do Estado de Minas Gerais, e acrescido de juros de mora de 1% ao mês a partir do evento danoso (26/05/2014); e 2) indenização por danos materiais, na modalidade de lucros cessantes, no valor de R$ 300,00, corrigido monetariamente desde a data em que o autor deveria receber a sua comissão, e acrescido de juros de mora de 1% ao mês, a partir do evento danoso.

Ante o que aqui restou decidido, inverto os ônus sucumbenciais, pelo que condeno a ré ao pagamento das custas processuais, inclusive recursais, bem como dos honorários advocatícios em favor do advogado do autor, estes que fixo no importe de 20% do valor da condenação, já incluídos os honorários recursais (art. 85, §§ 2º e 11, do CPC).

Ainda, julgo procedente a lide secundária, condenando a seguradora denunciada a reembolsar a denunciante, nos limites do capital segurado, o valor da condenação da lide principal, corrigido monetariamente a partir da data de publicação desta decisão (Súmula 362 do STJ), pelos índices da tabela da Corregedoria-Geral de Justiça do Estado de Minas Gerais, e acrescido de juros de mora de 1% ao mês a partir do evento danoso.

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Deixo de condenar a seguradora denunciada ao pagamento de honorários, pois a mesma seguradora não apresentou resistência à denunciação.

DES. NEWTON TEIXEIRA CARVALHO - De acordo com o Relator. DES. ALBERTO HENRIQUE - De acordo com o Relator.

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