g
in
a
1
O Inconsciente Numinoso
Texto de Rolando Toro Araneda Fonte: http://www.biodanzabologna.it/blog/archives/319 Tradução Myrthes Gonzalez Chamei de “inconsciente numinoso” a parte mais profunda do inconsciente humano. Consiste em um conjunto de potenciais extraordinários, diferenciados e refinados, que se constituem a poderosa excelência da substância humana.
Estes potenciais são, por outra parte, os mais reprimidos entre todos aqueles que caracterizam as manifestações humanas. Eles juntos constituem o que chamarei de “homem eterno”. A pergunta fundamental da filosofia e da antropologia é: O que é o humano?
P á g in a
2
Todavia, um homem com sucesso social, um acadêmico eminente, um economista famoso, podem ser miseráveis do ponto de vista humano.
Tenho interesse em responder a pergunta existencial: O que é o ser humano? É necessário responder urgentemente esta pergunta, pois a resposta nos conduz à única possibilidade de profilaxia social.
A energia numinosa não é cultivada atualmente nem nas escolas elementares, nem nas universidades; o cultivo do humano é a grande ausência dos programas escolares.
As crianças saem da escola conhecendo as guerras, as invasões, os heróis nacionais e as vitorias bélicas da pátria, mas nunca ouviram uma partitura de Bach, nem viram um quadro de Leonardo, não conhecem a historia da descoberta da penicilina, da anestesia ou da vacina contra poliomielite. Nos institutos de educação não se ensina a grandeza do homem, se ensina nossa parte miserável.
A energia numinosa pode ser encontrada em algumas poesias de Rilke, de Saint Jonh Perse ou de Rumi.
O numinoso se relaciona com a graça, com a criatividade, com o eterno... O numinoso gera o amor, a poesia, a percepção do maravilhoso e a coragem de viver.
Esta energia originária consta no humano, em sua gênese, a partir de sua gestação. O homem eterno reside na parte mais profunda de nossa identidade: é a condição humana primordial. Em minha opinião, não são importantes as múltiplas formas do caráter em um ser humano. Uma pessoa pode ser banal, melancólica, alegre, inexpressiva, criativa. O que mais importa é o nível de humanidade que conseguiu desenvolver. No psicopata, o principio de humanidade esta diminuído ao máximo. A sua condição é profundamente destrutiva.
A noção de maravilha é estranha a muitas pessoas, apesar de o maravilhoso estar em torno a nós todos.
O maravilhoso é uma
modalidade de percepção que vem da alegria inocente e da pureza interior, é também uma forma da natureza, um mistério da vida.
O inconsciente numinoso nos dá
acesso ao sentimento de
intimidade, de amor sem limites e à criação como revelação da beleza e do mistério.
A energia numinosa se
manifesta, muitas vezes, com uma força extraordinária, em
g
in
a
3
naqueles que são capazes de reciclar a energia cósmica e se conectam vitalmente a fonte originaria.
Como disse, os conteúdos do inconsciente numinosos são os potenciais do “homem eterno”. O inconsciente numinoso se manifesta através de intensas vivencias de percepção musical e visual, assim como no amor epifânico e na maternidade.
A seguir, farei uma breve reflexão sobre alguns potencias do inconsciente numinoso.
O Amor
Normalmente sentimos que somos donos de nossos atos, porém quando amamos a vida toma conta de nós e nossa auto-exigência se transforma em impulso de viver junto ao outro e pelo
outro.
O aprendizado máximo é o de amar sem medo. É necessário dar amor em sua dimensão infinita e não na dimensão minimalista ligada às relações próximas. O espaço do amor é vivido com os outros. Não temos que defender “nosso próprio espaço”. É necessário primeiro amar o outro, e isto tem como consequencia amar a si mesmo.
O amor não é um jogo, é uma forma de integração com o infinito.
Existe o amor epifânico, no qual se unem o sagrado de uma pessoa com o sagrado da outra. O amor epifânico é a essência da
humanidade e constitui a estética
antropológica.
O amor indiferenciado é a ternura: condição essencial da convivência. A vida propõe o amor todos os dias.
Este amor representa o atrator do caos existencial. Conecta-nos com o risco e com a desolação.
Muitas vezes temos medo da manifestação desta força cósmica em nossa vida, mas vivê-la conduz ao ápice da grandeza e à felicidade absoluta.
A iluminação
Gustav Jung descreveu a alma humana como em eterno renascimento, vivendo entre a luz e a sombra. A luz é a parte resplandecente de nossa alma, a zona da qual se geram o amor, a alegria de viver, a percepção da graça suprema. A luz é ativa, quente e próxima ao milagre. A sombra é o lugar de nosso terror: da culpa, da violência e da angústia.
P á g in a
4
Com nossa luz podemos perceber o outro, conectar com sua essência e consagra-lo como irmão cósmico.
Nossa luz nos permite descobrir a luz que existe nos outros.
A Coragem
Quando falo de coragem, não me refiro à característica dos soldados que são programados para matar e morrer. Isto não é coragem, é sim, uma ingenuidade fatal.
Coragem é capacidade de desafiar a própria sombra. Entrar no misterioso âmbito de nossas dores e de nossas frustrações, investigar na penumbra para acender a luz. Para prosperarmos no projeto sagrado, devemos entrar na grande obra, na arca da salvação que é o amor.
“Quem não desce na profundidade da sombra não merece o elogio” Rainer Maria Rilke. A coragem é a nossa possibilidade de
incendiar de amor – este estranho atrator – nas tenebrosas regiões do caos.
Coragem: desafiar os medos, a opressão externa; coragem para enfrentar o sofrimento.
Às vezes é muito tarde para voltar atrás. As decisões frágeis retardam o advento de Deus.
Íntase
O estado de íntase consiste em despertar o Deus interior. Sentir a pureza e a força de nossa própria identidade. O íntase nos permite assumir nossa identidade como seres cósmicos e como depositários do poder do vínculo.
O íntase é a origem da consciência e da lucidez ética. É também a gênese dos sentimentos de felicidade, do acesso à criatividade e da percepção da beleza.
Também a empatia e a ternura indiferenciada têm a sua origem no íntase.
Para finalizar, penso que tudo que dá dignidade ao ser humano vem do inconsciente numinoso.
Homens de todos os povos, em maior ou menor grau, têm a possibilidade de liberar sua energia numinosa.
