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ECLI:PT:TRC:2007: TAAGD.C1.DA

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ECLI:PT:TRC:2007:61.05.6TAAGD.C1.DA

http://jurisprudencia.csm.org.pt/ecli/ECLI:PT:TRC:2007:61.05.6TAAGD.C1.DA

Relator Nº do Documento

Azevedo Mendes

Apenso Data do Acordão

24/05/2007

Data de decisão sumária Votação

unanimidade

Tribunal de recurso Processo de recurso

Tribunal Do Trabalho De águeda

Data Recurso

Referência de processo de recurso Nivel de acesso

Público

Meio Processual Decisão

Apelação revogada

Indicações eventuais Área Temática

Referencias Internacionais Jurisprudência Nacional Legislação Comunitária Legislação Estrangeira Descritores

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Sumário:

I – Ao contrário do que sucedia na anterior lei (artº 54º do DL nº 360/71, de 21/08), actualmente não vigora qualquer presunção de culpa do empregador.

II – Quem invocar os fundamentos previstos no artº 18º, nº 1, da Lei nº 100/97, de 13/09, como facto constitutivo de direitos ou como facto impeditivo, terá o ónus da prova dos factos respectivos. III – Assim, alegando a seguradora que o acidente ocorreu por falta de condições de segurança, terá ela de provar a violação dessas regras, a culpa, e o nexo de causalidade entre o acidente e a dita violação.

IV – Tendo-se verificado a transferência da responsabilidade para a seguradora, apurando-se a existência do acidente de trabalho, não havendo lugar à sua descaracterização nem à

responsabilidade da entidade empregadora, a seguradora responderá pelas prestações devidas ao sinistrado.

Decisão Integral:

Acordam no Tribunal da Relação de Coimbra:

I. Em processo emergente de acidente de trabalho, o autor intentou contra a ré seguradora acção pedindo que esta seja condenada a pagar-lhe indemnização por ITA, no valor de € 1.334,61, capital de remição correspondente à pensão anual e vitalícia de € 659,83 euros, ao reembolso de 10,00 euros que despendeu com transportes para o tribunal, bem como juros de mora.

Alegou para tanto, em síntese, que é trabalhador da firma RECER, auferindo, como forneiro, a remuneração anual de € 9.151,58 e, em 6/9/2004, sofreu um acidente de trabalho quando procurava desencravar uma máquina de ventosas, do qual lhe resultaram lesões corporais

determinantes de incapacidade temporária absoluta e de uma IPP de 10,3% após a alta (ocorrida a 6/2/2005).

*

Citada, a ré contestou, dizendo, em síntese, que o acidente ocorreu em virtude da violação das regras de segurança, culpa da sociedade empregadora do autor. Além disso, ficou a dever-se a negligência grosseira do sinistrado e, por isso, ocorre descaracterização do acidente.

Concluiu, defendendo que a acção deve ser julgada, contra si, improcedente ou a sua

responsabilidade ser considerada como meramente subsidiária.*Perante a posição assumida pela ré seguradora, foi ordenado o chamamento da sociedade C..., a qual contestou, pugnando que da sua parte nenhuma responsabilidade houve na ocorrência do sinistro.

Concluiu, pedindo a sua absolvição dos pedidos. *

Prosseguindo o processo os seus regulares termos veio a final a ser proferida sentença que julgou a acção procedente, condenando:

- a ré patronal (RECER), como principal responsável, a pagar ao autor: a) o capital de remição da pensão anual e vitalícia agravada no valor de 942,61 euros, nos termos conjugados dos artigos 18° nº 1 alínea b) e 17° nº 1 alínea d) da Lei 100/97; b) uma indemnização pela I.T.A. de 6/9/2004 a 16/2/2005, no montante de 4.143,63 euros (parte da qual foi já adiantada pela seguradora); c) a quantia de 10,00 euros, a título de reembolso por despesas de transporte; c) quantia de 10,00 euros, a título de reembolso por despesas de transporte; c) juros moratórios sobre as quantias

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fixadas sob a) e b), à taxa legal, desde o seu vencimento.

- a ré seguradora, a título meramente subsidiário (artigo 37° nº 2 da Lei 100/97) a pagar ao autor: a) o capital de remição da pensão anual e vitalícia no valor de 659,83 euros, nos termos

conjugados dos artigos 37° nº 2 e 17° nº 1 alínea d) da Lei 100/97; b)uma indemnização pela I.TA de 6/9/2004 a 16/2/2005, no montante de 2.900,54 euros (parte da qual foi já adiantada); c) quantia de 10,00 euros, a título de reembolso por despesas de transporte; c) juros moratórios sobre as quantias fixadas sob a) e b), à taxa legal, desde o seu vencimento.*Inconformada, a ré Recer interpôs a presente apelação e, nas correspondentes alegações, apresentou as seguintes conclusões:

(………)

Foram apresentadas contra-alegações, quer por parte do autor, quer por parte da ré seguradora, pugnado pela manutenção do julgado. *

II- OS FACTOS:

Do despacho que decidiu a matéria de facto, e do qual não houve reclamações, é a seguinte a factualidade que vem dada como provada:(……….)

*III. Direito

As conclusões da alegação do recorrente delimitam o objecto do recurso (arts. 684° nº 3 e 690° nº 1 do C. P. Civil), não podendo o tribunal conhecer de questões nelas não compreendidas, salvo tratando-se de questões de conhecimento oficioso.

Decorre do exposto que a questão que importa dilucidar e resolver, no âmbito das conclusões do recurso, se pode equacionar basicamente da seguinte forma: se a ré patronal violou condições de segurança e se o acidente resultou dessa violação culposa.

No caso de resposta negativa a esta questão, se se entender que a apelação procede e nada obsta à apreciação da responsabilidade principal da ré seguradora (condenada a título subsidiário), dela conhecer, então, se estiverem disponíveis os elementos necessários, nos termos do disposto no artigo 715 nº 2 do C. P. Civil.

O recurso é meramente de direito, já que não houve recurso da matéria de facto.

Aqui chegados, vejamos então, como é objecto do recurso, se o acidente se pode considerar consequência de falta de observância das disposições legais sobre segurança, higiene e saúde no local de trabalho.

Nenhuma das partes, no recurso, coloca em causa a conclusão da 1ª instância de que o acidente não ocorreu por negligência grosseira do sinistrado e, assim, não devia ser descaracterizado, conclusão com a qual também concordamos.

Como se disse, a ré seguradora sustenta não aceitar responsabilidade principal na reparação do acidente dos autos, porque, apesar do contrato de seguro em vigor com a ré patronal, o mesmo ocorreu por falta de condições de segurança e, assim, a responsabilidade pela reparação seria, na sua opinião, em primeira linha daquela.

A questão colocada é relevante em termos de defesa da ré seguradora, mas também em termos do valor das prestações a fixar, já que, concluindo-se, como concluiu a 1ª instância, pela

responsabilidade da entidade patronal na ocorrência do acidente, estas serão agravadas nos termos do artigo 18º nº 1 da Lei nº 100/97, de 13 de Setembro.

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Ao contrário do que sucedia na lei anterior (54º do Dec.Lei nº 360/71 de 21/08), não vigora hoje qualquer presunção de culpa do empregador. Quem invocar os fundamentos previsto naquele artº 18º nº1, como facto constitutivo de direitos, ou como facto impeditivo – como é aqui o caso da ré seguradora – terá o ónus da prova dos factos respectivos (342 nº 1 e 2 do Código Civil).

Assim, a ré seguradora teria de provar: a violação das regras de segurança; a culpa; o nexo de causalidade entre o acidente e a dita violação (já que aqui importaria determinar se o acidente ocorreu por causa dessa específica violação).

Ora, da matéria de facto pertinente, a este propósito, provou-se que o autor procurava desencravar a máquina que se encravara, na qual era trabalhador experimentado, quando ela começou a

trabalhar sem que o autor o esperasse. Antes, quando se dirigiu à máquina para a desencravar, estando aquela ligada, colocou-se entre o caixote e a máquina, sendo certo que para proceder ao desencravamento, tornava-se mais fácil ao operador entrar na área de funcionamento das partes móveis da máquina, para verificar as ligações eléctricas e sensores posicionados desse lado. E foi quando se encontrava a tentar desencravar a máquina que o mecanismo foi accionado de imediato, tendo sido atirado para o interior do caixote.

Mais se provou que foi o procedimento seguido que permitiu que se desencadeasse o sinistro (ponto 17 dos factos provados). E que o autor, operando diariamente com um equipamento semelhante, conhecia os perigos inerentes ao seu funcionamento, pertencendo a máquina em causa ao sector pelo qual o mesmo era responsável. Competia-lhe sempre que se verificava uma situação de encravamento, fora do período normal de trabalho, proceder à operação de

desencravamento, como procedimento regular.

Ainda se provou que a operação de desencravamento não necessitava de ser realizada por duas pessoas, bastando que o operador, em qualquer situação de desbloqueio, accionasse o modo de emergência para assegurar a paragem da máquina. Para tanto, existia um botão de emergência -em forma de cogumelo - que impede que a máquina comece a laborar s-em que este seja

novamente activado, garantindo que a máquina não se desloque na sequência do desbloqueio sem ser dada ordem de marcha no próprio quadro. Esse botão de emergência encontrava-se em boas condições de funcionamento. E provou-se que era este o procedimento de segurança que deveria ter sido adoptado pelo trabalhador e que era do seu inteiro conhecimento, lidando com a máquina acerca de 12 anos.

Na fundamentação da sentença da 1ª instância escreveu-se:

“Sabe-se que o desligamento da máquina em causa ou a sua colocação em modo de segurança (com o accionamento do botão de emergência) teria evitado o acidente, por, com tais cautelas, o movimento automático interrompido se não reiniciar sem um acto voluntário do operador.

Tais peculiaridades de funcionamento eram do conhecimento do autor, que recebeu a necessária formação quando se iniciou a trabalhar com aquele tipo de máquinas e que agiu, assim, com negligência (tanto quanto se apura, inconsciente).”

Concluiu-se ali, assim, que o acidente foi provocado pelo autor que não seguiu os procedimentos de segurança, com os quais teria evitado o sinistro. Conclusão ajustada ao que resulta da matéria de facto estabelecida.

Mas, depois, afirmou-se que a sua responsabilidade não foi exclusiva, dado que também teria sido causado por falta de observação das regras de segurança por parte da ré empregadora.

É neste ponto que a fundamentação suscita perplexidade e que, por isso, merece melhor análise. A sentença focou o nº 1 do artigo 18° do DL nº 82/99, de 16 de Março, relativo às prescrições mínimas de segurança para a utilização pelos trabalhadores de equipamentos de trabalho. Refere

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aquela norma que “os elementos móveis de um equipamento de trabalho que possam causar acidentes por contacto mecânico devem dispor de protectores que impeçam o acesso às zonas perigosas ou de dispositivos que interrompam o movimento dos elementos móveis antes do acesso a essas zonas”.

E depois concluiu que no, caso concreto, não existiam protecções contra o acesso à zona perigosa. Ora, lendo e relendo a matéria de facto assente, não encontramos suporte factual para extrair essa conclusão. Falamos evidentemente de protecções e não de um sistema que impeça o bloqueio absoluto de acesso (caso em que o sinistrado nunca poderia ter acedido ao local do sinistro, mesmo que o quisesse para efeitos de proceder à operação de desencravamento).

Em seguida, na sentença reconheceu-se que a norma em causa não exige a concomitância dos dois dispositivos ali previstos, mas apenas um deles, pelo que a verificação da existência de um dispositivo de interrupção do movimento dos elementos móveis, antes do acesso a essa zona, poderia afastar o “juízo de censurabilidade, por violação culposa de regras de segurança”.

Todavia, ainda de seguida, afirmou-se que, “visando a lei um nível de protecção verdadeiramente eficaz, só poderá ter querido dizer ao referir-se a “...dispositivos que interrompam o movimento...” a uma interrupção automática ou que se imponha ao operador e não àquela que (como a que vimos existir na máquina em questão) depende da sua vontade ou da sua atenção e cuidado”. E, como não existia esse dispositivo “automático” mais exigente, concluiu-se pela responsabilidade da ré empregadora que o deveria ter assegurado.

Ora, esta interpretação é francamente excessiva, a nosso ver, muito para além da letra da lei. Nada nos permite ler na norma em causa que os dispositivos que interrompam o movimento dos

elementos móveis devam ter aquela natureza “automática”, no sentido de actuarem

independentemente de manipulação que dependa da vontade humana. Recorda-se que o decreto-lei tem o cuidado de se referenciar como visando “prescrições mínimas de segurança”, não o de eliminar todos os perigos relacionados com os equipamentos mecânicos, sonho esse com o qual o legislador não pode realística e razoavelmente contar.

Aquele grau de exigência tecnológico não é o que se pode retirar da norma. Se o fosse, estaria afastado o primeiro dos dispositivos previstos em alternativa ao do de interrupção do movimento dos elementos móveis, ou seja o que disponha protectores que impeçam o acesso às zonas perigosas. É que, coerentemente com tal nível de exigência, um tal dispositivo de interrupção “automática”, independente da vontade humana, seria muito mais seguro e deveria ser opção exclusiva de segurança.

Por tudo isto que referimos, não podemos acompanhar a 1ª instância quando concluiu que o sinistro foi provocado – ainda que não em exclusivo – pela ré empregadora. Não só não

encontramos violação da sua parte de regras de segurança, como por isso mesmo não podemos encontrar nexo de causalidade entre acção ou omissão da sua responsabilidade e o sinistro. Deveria, pois, aquela ser absolvida do pedido, respondendo apenas a seguradora.

Pelo que o recurso terá de proceder.

Procedendo o recurso, importa averiguar da responsabilidade principal e exclusiva da ré

seguradora quanto à reparação do sinistro, fazendo-o em substituição, como é timbre do nosso sistema de recursos.

Esta Relação poderá fazê-lo, conhecendo do mérito da causa quanto à mesma ré, uma vez que o processo reúne já todos os elementos de facto necessários, na medida em que os mesmos foram alegados circunstanciadamente, com adequada audiência do contraditório, e a respectiva

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factualidade sujeita a produção de prova com a subsequente decisão de facto (artigo 715 nº 2 do C. P. Civil).

Ora, tendo-se verificado a transferência da responsabilidade para aquela ré, por contrato de seguro, apurando-se a existência do acidente de trabalho, não havendo lugar à sua

descaracterização, nem à responsabilidade da ré empregadora nos termos do artigo 18º nº 1 da Lei 100/97, a ré seguradora não responderá já subsidiariamente (artigo 37º da Lei 100/97), mas

exclusivamente pelas prestações em que foi condenada na 1ª instância. É o que importa decidir, em substituição.

*IV- DECISÃO

Em conformidade com o exposto, delibera-se conceder provimento à apelação e, em consequência, revoga-se a sentença da 1ª instância, substituindo-a pela seguinte decisão:

a)absolve-se a demandada C... dos pedidos;

b)condena-se a ré seguradora a pagar ao autor as prestações em que foi condenada na 1ª instância, mas agora a título principal e exclusivo e não meramente subsidiário.

Custas em ambas as instâncias pela ré seguradora.

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