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Alvenaria racionalizada

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Academic year: 2021

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Figura 1 – Exemplo de alvenaria de vedação tradicional

Alvenaria racionalizada

A alvenaria de vedação pode ser definida como a alvenaria que não é dimensionada para resistir a ações além de seu próprio peso. O subsistema vedação vertical é responsável pela proteção do edifício de agentes

indesejáveis (chuva, vento etc.) e também pela compartimentação dos ambientes

internos. A maioria das edificações executadas pelo processo construtivo convencional

(estrutura reticulada de concreto armado moldada no local) utiliza para o fechamento dos vãos paredes de alvenaria.

A alvenaria de vedação tradicional, que é usual nas edificações, apresenta as seguintes características:

Como não se utiliza projeto de alvenaria, as soluções construtivas são improvisadas durante a execução dos serviços

• A mão-de-obra pouco qualificada executa os serviços com facilidade, mas nem sempre com a qualidade desejada

• O retrabalho: os tijolos ou blocos são assentados, as paredes são

seccionadas para a passagem de instalações e embutimento de caixas e, em seguida, são feitos remendos com a utilização de argamassa para o

preenchimento dos vazios

• O desperdício de materiais: a quebra de tijolos no transporte e na execução, a utilização de marretas para abrir os rasgos nas paredes e a freqüência de retirada de caçambas de entulho da obra evidenciam isso • Falta de controle na execução: eventuais problemas na execução são detectados somente por ocasião da conferência de prumo do revestimento externo, gerando elevados consumos de argamassa e aumento das ações permanentes atuantes na estrutura.

A figura 1 apresenta exemplo de alvenaria de vedação tradicional, com a utilização de tijolos de má qualidade e rasgos nas paredes para o embutimento das instalações.

Com a tendência de utilização de estruturas cada vez mais esbeltas, têm surgido algumas patologias nas alvenarias, principalmente causadas por:

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Figura 2 –Alvenaria de vedação racionalizada

Figura 3 – Transporte dos blocos paletizados em obra

• Utilização de balanços com vãos grandes e seções transversais reduzidas

• Falta ou inadequação de vergas e contravergas nas regiões dos vãos

• Qualidade deficiente dos materiais utilizados (tijolos, blocos e argamassas) e da execução

• Problemas da ligação da estrutura com a alvenaria (ligação pilar/parede e encunhamento).

A racionalização construtiva pode ser

entendida como a aplicação mais eficiente dos recursos em todas as atividades desenvolvidas para a construção do edifício. Algumas das diretrizes de produção desenvolvidas

inicialmente para a alvenaria estrutural são estendidas à alvenaria de vedação.

Quando se pretende implantar conceitos de racionalização da construção, deve-se iniciar pela estrutura da edificação. Em seguida, deve-se priorizar a alvenaria de vedação. Isso porque o subsistema de vedação vertical interfere com os demais subsistemas da edificação: revestimento, impermeabilização, esquadrias, instalações elétricas e de comunicação, instalações hidrossanitárias etc. Todos esses serviços somados representam uma parcela considerável do custo de uma obra.

Em contraponto à alvenaria tradicional, a alvenaria dita racionalizada (figura 2) apresenta as seguintes características:

• Utilização de blocos de melhor qualidade, preferencialmente com furos na vertical para facilitar a passagem de instalações

• Planejamento prévio • Projeto da produção

• Treinamento da mão-de-obra

• Utilização de família de blocos com blocos compensadores para evitar a quebra de blocos na execução

• Redução drástica do desperdício de materiais

• Melhoria nas condições de limpeza e organização do canteiro de obras. Inicialmente, a produtividade da mão-de-obra diminui em função da mudança de paradigma e da consulta ao projeto de alvenaria, além do embutimento dos eletrodutos e caixilhos durante a elevação das paredes. Em contrapartida, após o término a parede está pronta, sem necessidade de retrabalho.Com o passar do tempo e o treinamento dos operários a mão-de-obra se adapta ao novo processo.

Planejamento e concepção

Muitos fatores interferem na qualidade final da parede acabada, tais como: a regularidade geométrica da estrutura, a escolha dos blocos de vedação, as argamassas utilizadas para assentamento dos blocos e revestimento, além da mão-de-obra para a execução dos serviços.

O mercado disponibiliza vários tipos de blocos e os mais utilizados são os de concreto, cerâmicos e de concreto celular. Algumas construtoras adquirem os blocos de vedação pelo menor preço, sem levar em conta aspectos

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importantes:

• Dimensões, desvios de forma e peso de cada bloco, que influenciam na produtividade

• Regularidade geométrica, que conduz a um assentamento mais uniforme com economia de argamassa de assentamento e revestimento

• Condições de fornecimento: a paletização facilita o transporte até a obra e a movimentação interna no canteiro, diminuindo as quebras

• Absorção de água e aderência • Resistência mecânica

• Movimentações higroscópicas e térmicas

• Peso próprio das paredes: os blocos mais leves conduzirão a elementos estruturais com menores dimensões, em contrapartida a estrutura como um todo será menos rígida

• Desempenho termoacústico

No País inteiro, a maioria dos blocos cerâmicos comercializados não atende às especificações técnicas exigidas. A NBR 15270-1: 2005, dentre outros

requisitos, especifica uma resistência mínima à compressão de 3,0 MPa para blocos cerâmicos de vedação com furos na vertical. Em grandes centros alguns fornecedores possuem certificação da qualidade comprovada. Dependendo do local da obra, a distância de transporte e o custo do frete tornam-se fatores preponderantes na escolha dos blocos.

Tabela 1 - EXEMPLOS DE FAMÍLIAS DE BLOCOS CERÂMICOS COM FUROS NA VERTICAL

Tipos de blocos Dimensões

Fornecedor 1 Fornecedor 2 Bloco inteiro 11,5 x 19 x 39 9 x 19 x 39 Bloco 3/4 9 x 19 x 29 Meio-bloco 11,5 x 19 x 19 9 x 19 x 19 Bloco 1/4 11,5 x 19 x 09 9 x 19 x 09 Canaleta 11,5 x 19 x 39 9 x 19 x 39 Blocos compensadores 11,5 x 19 x 14 9 x 19 x 04 11,5 x 19 x 04 9 x 19 x 02 Bloco de instalações 9 x 19 x 29

A tabela 1 apresenta dois exemplos de família de blocos cerâmicos com furos na vertical de diferentes fornecedores.

A figura 4 apresenta a família de blocos do fornecedor 1 indicado na tabela 1. Compatibilização de projetos

Antes de se pensar no projeto da alvenaria deve-se atentar para a

coordenação de todos os projetos necessários para a execução da obra.As interferências dos projetos arquitetônico, estrutural e de instalações devem ser cuidadosamente analisadas e resolvidas na fase de anteprojeto.

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Figura 4 – Família de blocos do

fornecedor 1

Figura 5 – Exemplo de planta de numeração de paredes

A modulação do projeto arquitetônico e estrutural, apesar de ser opção interessante, não é imprescindível para a utilização da alvenaria racionalizada. Como mostrado na tabela 1, o mercado disponibiliza famílias de componentes com blocos compensadores, que permitem a elaboração do projeto de

alvenaria independentemente da modulação do projeto arquitetônico.

As principais informações a serem obtidas do projeto arquitetônico são:

• Dimensões internas dos cômodos e paredes acabadas (largura, altura e comprimento)

• Localização e dimensões de aberturas (portas e janelas) • Tipos de revestimento externo e interno

• Detalhes construtivos de fixação de contramarcos das janelas e marcos das portas

• Previsão de juntas de controle

• Detalhes arquitetônicos como sacadas, beirais e platibandas.

As informações importantes do projeto estrutural são as dimensões dos elementos estruturais (lajes, vigas e pilares), as distâncias de facea- face dos pilares que definem os vãos de paredes utilizados na sua paginação e a altura do pé-direito estrutural. É importante também verificar se na concepção estrutural a alvenaria funciona como travamento da estrutura.

No projeto elétrico e de comunicações as seguintes informações são importantes: • Passagem de eletrodutos: os eletrodutos verticais passam por dentro dos furos dos blocos, sem necessidade de cortes dos mesmos

• Utilização de shafts verticais nas prumadas das áreas comuns

• Pontos de luz, tomadas e interruptores

• Posição de quadros medidores: podem ser

utilizados gabaritos de madeira durante a elevação das

paredes.

As principais informações coletadas do projeto de instalações hidrossanitárias são:

• Utilização ou não de shafts verticais para as tubulações de água e esgoto

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Figura 6 – Exemplo de elevação ou paginação de parede

• Localização de ramais hidráulicos • Instalação de peças sanitárias.

Devem ser analisados também os projetos de instalação de gás, proteção contra incêndio e impermeabilização.

Projeto de alvenaria

A elaboração do projeto de alvenaria de vedação é fundamental para a racionalização dessa. Esse projeto tem como objetivo principal

promover a organização da execução pela prévia tomada de decisões. Para a sua elaboração é necessária a compatibilização dos demais projetos da edificação, ou seja, arquitetônico, estrutural e de instalações.

Para que a execução ocorra de forma adequada deve-se proceder à qualificação da mão-de-obra executante. Assim, podem ser evitados

problemas como retrabalhos, desperdício de materiais e mão-deobra, além de futuras manifestações patológicas.

Como se trata de um projeto executivo, o projeto de alvenaria deve conter os seguintes desenhos e especificações:

• Planta de numeração das paredes (figura 5) • Planta de primeira e segunda fiadas

• Locação da primeira fiada

• Paginação ou elevação de cada parede

• Definição quanto ao uso de vergas e contravergas

• Especificação dos componentes da alvenaria: blocos e dosagem da argamassa de assentamento

• Características das juntas entre blocos e na ligação estrutura/alvenaria • Detalhamento das ligações alvenaria- estrutura.

A elevação de cada parede deve contemplar os tipos de blocos, a quantidade de cada um, as dimensões das aberturas, a posição de vergas e contravergas, o posicionamento de eletrodutos e caixas de luz, telefone, antena, internet e outros, além dos detalhes de ligação entre paredes e entre as paredes e a estrutura, como exemplificado na figura 6.

Todas as paredes de um projeto de alvenaria devem ser detalhadas separadamente. A sobreposição de projetos em versão digital pode ser utilizada e, assim, todos os componentes da parede podem ser identificados com maior facilidade.

O projeto de alvenaria deve possuir todas as informações para a execução das paredes com a incorporação de componentes como as instalações. Assim,

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Figura 7 – Exemplo de utilização de telas metálicas na ligação parede–pilar

não deve existir a necessidade da consulta simultânea de vários documentos, o que pode induzir a erros.

Ligação estrutura–alvenaria

A interface alvenaria-estrutura deve receber especial atenção no momento da elaboração do projeto. A diferença de natureza dos materiais leva a comportamentos

diferenciados durante a vida útil da edificação. Além disso, as estruturas têm se tornado cada vez mais esbeltas, existindo então maior possibilidade de deformações, o que pode tornar as ligações alvenaria/estrutura mais suscetíveis a problemas.

O uso das telas metálicas eletrossoldadas como componentes da ligação entre parede e pilar foi proposto com o objetivo de reduzir o tempo de instalação do dispositivo, o que acarreta um aumento da produtividade na execução das alvenarias. É uma forma bastante eficiente, sendo que o seu uso tem se tornado bastante freqüente.

As telas metálicas eletrossoldadas disponíveis no mercado possuem malha de 15 x 15 mm e fio de 1,65 mm. As telas são fixadas aos pilares por meio de pinos de aço com arruelas utilizando finca-pinos acionado à pólvora (figura 7). No momento da elevação das alvenarias essas telas são inseridas nas juntas horizontais de argamassa.

Para a execução de amarração entre paredes, as telas permitem execução prévia de uma das paredes, sendo a elevação da outra parede concorrente feita em uma segunda fase.

Exceto nos casos em que se deseja o trabalho conjunto alvenaria-estrutura, as ligações das paredes com as vigas e lajes não devem ser rígidas.

Uma maneira de tornar essas ligações deformáveis é a utilização de tijolos de barro cozido assentados com argamassa fraca de cimento.

Sempre que possível esses devem ser assentados em posição normal com a utilização de argamassa flexível.

Neste caso esses tijolos contribuem para a não existência de uma camada de argamassa de espessura muito elevada, além de aumentar a capacidade de absorver deformações. A espessura adequada para essa junta de fechamento superior, denominada junta horizontal de fixação é por volta de 2 a 3 cm. No caso dos blocos para alvenaria de vedação possuírem furos na vertical, a última fiada pode ser executada com a utilização de blocos menores

(compensadores ou meioblocos) assentados deitados, ou seja, com os furos na horizontal. Também podem ser utilizados blocos canaleta ou mesmo os tijolos de barro cozido.

Nesse caso deve-se deixar uma folga para o encunhamento flexível com o uso, por exemplo, da argamassa fraca de cimento, ou de outros materiais que apresentem grande capacidade de acomodar deformações como, por exemplo, a espuma de poliuretano.

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O detalhamento desse tipo de interface em um projeto de alvenaria de vedação pode reduzir consideravelmente o índice de patologias presente nas paredes das edificações prontas.

As deformações diferenciadas entre as vedações verticais e as estruturas estão presentes ao longo de toda a vida útil da edificação, e, sendo assim, é necessário que essas sejam compatibilizadas, devendo existir então

planejamento e detalhamento em projeto.

Quando essas interfaces não são bem planejadas se observa o desempenho insatisfatório das alvenarias sob ações para as quais não foram projetadas. Conclusão

Observa-se que apenas a existência do projeto de alvenaria não é suficiente para a implantação da alvenaria racionalizada na obra. É importante investir em motivação e treinamento da mão-de-obra, equipamentos e

conscientização de todos os envolvidos no processo de produção.

É importante enfatizar que a alvenaria racionalizada deve ser considerada de forma integrada, desde a fase de projeto arquitetônico, estrutural e de

instalações, o próprio projeto de alvenaria e até as definições de esquadrias e revestimentos.

Além de melhorar a qualidade das vedações verticais, a racionalização da execução da alvenaria tem efeito indutor na melhoria da qualidade da construção do edifício como um todo, possibilitando novas soluções para os outros subsistemas da edificação.

Veja e-mail dos autores:

Reginaldo Carneiro da Silva recsierra@ufv.br

Márcio de Oliveira Gonçalves marciogoncalvesufv@yahoo.com.br

Rita de Cássia S. S. Alvarenga ritadecassia@ufv.br

LEIA MAIS

NBR 15270-1: Componentes cerâmicos – Parte 1: Blocos cerâmicos para alvenaria de vedação – Terminologia e requisitos. Associação Brasileira de Normas Técnicas. Rio de Janeiro, 2005.

Execução e inspeção de alvenaria racionalizada. A. C. Lordsleem Júnior. Coleção Primeiros Passos da Qualidade no Canteiro de Obras. Editora O Nome da Rosa, São Paulo, 2000.

Qualidade na aquisição de materiais e execução de obras. R. Souza & G. Mekbekian. CTE, Sebrae/SP e SindusCon/SP. Ed. PINI, São Paulo, 1996. Diretrizes para o projeto de alvenarias de vedação. M.M.A. Silva.

Dissertação (Mestrado), Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2003.

Tecnologia, Gerenciamento e Qualidade na Construção. E. Thomaz. Ed. PINI, São Paulo, 2001.

Reginaldo Carneiro da Silva Professor-adjunto da DEC/Universidade Federal de Viçosa Márcio de Oliveira Gonçalves bolsista PIBIC/CNPq

Referências

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