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A inteligência de estado e a representação da ABIN no exterior no combate ao crime organizado transnacional

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA MAX JOSÉ MARIANO

A INTELIGÊNCIA DE ESTADO E A REPRESENTAÇÃO DA ABIN NO EXTERIOR NO COMBATE AO CRIME ORGANIZADO TRANSNACIONAL

Florianópolis 2017

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MAX JOSÉ MARIANO

A INTELIGÊNCIA DE ESTADO E A REPRESENTAÇÃO DA ABIN NO EXTERIOR NO COMBATE AO CRIME ORGANIZADO TRANSNACIONAL

Monografia apresentada ao Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Inteligência em Segurança, da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito à obtenção do título de Especialista em Inteligência em Segurança.

Orientação: Prof. Camel André de Godoy Farah, Dr.

Florianópolis 2017

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MAX JOSÉ MARIANO

A INTELIGÊNCIA DE ESTADO E A REPRESENTAÇÃO DA ABIN NO EXTERIOR NO COMBATE AO CRIME ORGANIZADO TRANSNACIONAL

Esta Monografia foi julgada adequada à obtenção do título de Especialista em Inteligência em Segurança e aprovado em sua forma final pelo Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Inteligência em Segurança, da Universidade do Sul de Santa Catarina.

Florianópolis, 22 de agosto de 2017.

_____________________________________________________ Professor orientador: Camel André de Godoy Farah, Dr.

Universidade do Sul de Santa Catarina

_____________________________________________________ Prof. Giovani de Paula, Dr.

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Este trabalho é dedicado ao Vilson João Mariano, meu pai e à Yamila Chamorro Tato, mulher que tanto amo.

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AGRADECIMENTOS

Ao Grande Criador do Universo, que está acima de todas as coisas deste mundo. Ao meu orientador, professor Dr. Camel André de Godoy Farah, pelas orientações. Aos meus pais, pelos ensinamentos, estrutura, pela dedicação em ofertar sempre o melhor. A mãe da minha noiva, Ana Chamorro Castilho pela energia, ensinamentos e força para alcançar os meus objetivos.

A todos aqueles que de alguma forma contribuíram para a elaboração deste trabalho, meus sinceros agradecimentos.

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RESUMO

O presente estudo tem por objetivo expor as possibilidades que a Inteligência de Estado brasileira e o aumento do número de escritórios de representação da Agência Brasileira de Inteligência podem contribuir para o combate ao crime organizado transnacional. Essa pesquisa está estruturada em seis capítulos e inicia-se com a apresentação do contexto atual da ABIN, a qual instala novas aditâncias para o combate ao crime organizado transnacional. Dentro desse pensamento, a pesquisa busca compreender o conceito de crime organizado transnacional, as origens e as suas características. Contudo, a complexidade do tema faz perceber que a criminalidade organizada transnacional é um fenômeno recente e que em pleno século XXI percebe-se que as características conhecidas do crime organizado estão mais complexas e difusas mantendo fortes tendências a prosperar pelos próximos anos.

Essa tendência criminosa, que rompe as fronteiras das nações, nasceu com a globalização permitindo o aparecimento do fenômeno de convergência do crime organizado. Esse fenômeno, no contexto mundial, ressalta a necessidade do Brasil ter que potencializar ainda mais a sua atividade de Inteligência extrapolando nossas fronteiras e estabelecendo a cooperação internacional. Nesse sentido, o estudo revela a importância da cooperação entre os países para combater a criminalidade organizada transnacional, apresenta os princípios e os mecanismos dessa cooperação, bem como salienta a importância de se investir em Inteligência de segurança e principalmente o investimento na atuação dos adidos de Inteligência no exterior, no uso de recursos tecnológicos e em projetos de pesquisa e desenvolvimento.

Por fim, constata-se que o Brasil necessita de um investimento e aperfeiçoamentos na Inteligência de segurança, tais como implementar mecanismos de cooperação internacional, criar um sistema de banco de dados de Inteligência nacional e solidificar uma cultura de Inteligência de segurança brasileira. Tudo isso será facilitado e possível de ser realizado com a cooperação internacional de Inteligência de segurança e contribuição dos escritórios de representação da ABIN no exterior.

Palavras-chave: Crime Organizado Transnacional. Atividade de Inteligência. Inteligência de Estado. ABIN. Adidos de Inteligência. Cooperação Internacional de Inteligência.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Decapitação em massa dos detentos do PCC no presídio de Manaus. ... 16

Figura 2 – Queima ônibus em São Paulo (foto esquerda) e em Florianópolis (foto direita). ... 16

Figura 3 – Decapitação no Paraná (foto esq.) e do jornalista britânico pelo EI (foto dir.)... 17

Figura 4 – A criação dos órgãos de Inteligência de Estado no Brasil ... 21

Figura 5 – Fase Embrionária ... 22

Figura 6 – Fase da Bipolaridade ... 22

Figura 7 – Fase de Transição ... 23

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO... 9

2 CRIME ORGANIZADO TRANSNACIONAL ... 11

2.1 DEFINIÇÃO ... 12

2.2 CARACTERÍSTICAS ... 13

2.3 O FENÔMENO DE CONVERGÊNCIA ... 14

2.4 ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA NA PROTEÇÃO DO ESTADO ... 17

3 ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA DE ESTADO ... 20

3.1 BREVE HISTÓRIA NO BRASIL ... 20

3.1.1 A Agência Brasileira de Inteligência – ABIN ... 24

4 INTELIGÊNCIA DE ESTADO NO COMBATE AO CRIME ORGANIZADO TRANSNACIONAL ... 25

4.1 PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO DAS AÇÕES DE SEGURANÇA PÚBLICA ... 25

4.2 ANÁLISE PROSPECTIVA DO CRIME ORGANIZADO E PLANOS DE PREVENÇÃO ... 26

4.3 APERFEIÇOAMENTO PROFISSIONAL DA ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA DE SEGURANÇA ... 28

5 COOPERAÇÃO INTERNACIONAL DE INTELIGÊNCIA DE SEGURANÇA... 30

5.1 ADIDOS DE INTELIGÊNCIA NO COMBATE AO CRIME ORGANIZADO TRANSNACIONAL ... 36

5.1.1 Implementar Mecanismos de Cooperação de Inteligência de Segurança ... 39

5.1.2 Criar um Sistema de Banco de Dados de Inteligência Nacional. ... 40

5.1.3 Solidificação de uma Cultura em Inteligência de Segurança. ... 43

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1 INTRODUÇÃO

Atualmente, a ABIN (Agência Brasileira de Inteligência) aumenta a sua atuação no exterior com a instalação de escritórios de representação nas capitais de cada nação, dentre os principais objetivos está o combate ao crime organizado favorecendo o intercâmbio de informações com os serviços de Inteligência locais e assessorando embaixadores brasileiros.

A nova expressão crime organizado transnacional, que durante muito tempo foi utilizada como sinônimo de crime organizado, não se trata de um fenômeno totalmente novo, tem a sua origem no debate crítico do crime organizado, porém a faceta transnacional, traz consigo uma significância de algo que se realiza através das nações. Essas atividades denotam o movimento físico de populações humanas, de informações, ideias e dinheiro e tem como marco de início a globalização mundial com o fim da guerra fria.

A globalização e a velocidade nas comunicações e transporte trouxeram riscos a existência do Estado Soberano e de Ente Federativo, o crime organizado passa a ter caráter transnacional, ganha estabilidade, disciplina, planejamento e flexibilidade nos métodos de atuação, tendo como principais estratégias de atuação a penetração em múltiplos órgãos de governo corrompendo, chantageando e aplicando terrorismo, aumentando o medo e a insegurança entre os cidadãos.

Devido a essas novas facetas que o crime organizado vem tomando, desconhece-se como atuará a Inteligência de Estado Brasileira na neutralização do crime organizado e como será assegurado os direitos e garantias dos indivíduos conforme prevê a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Dessa forma, surge o seguinte problema, quais as possibilidades que a Inteligência de Estado brasileira e o aumento do número de escritórios de representação da ABIN podem contribuir para o combate ao crime organizado transnacional.

Obter uma solução ao problema é o principal objetivo da pesquisa. Além disso, a pesquisa caracterizada como aplicada tem como objetivos apresentar os conceitos e as características do crime organizado transnacional, a estrutura de Inteligência de Estado brasileira, o reconhecimento da capacidade de Inteligência de Estado no combate ao crime organizado transnacional e por fim, prospectar as contribuições que a Inteligência de Estado e os escritórios de representações da ABIN podem trazer para o combate ao crime organizado transnacional.

Essas possibilidades foram estudadas por meio de informações analisadas e correlacionadas a partir de uma pesquisa teórica. Para isso, foi necessária à coleta de dados e

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informações obtidas por meio da leitura de textos, nos quais serviram de suporte ao desenvolvimento do tema proposto no presente trabalho. A pesquisa bibliográfica foi desenvolvida nas áreas de conhecimento de Inteligência de Estado e crime organizado, pelo levantamento e análise de especialistas na área, estudos relacionados ao tema e regulamentação existente no Brasil.

Dentre as possibilidades de trabalho do tema da pesquisa buscou-se um nível de aprofundamento explicativo analisando e correlacionando aspectos que envolvam o crime organizado transnacional e a atuação da ABIN. Assim, priorizou-se a qualidade das informações obtidas para a compreensão do crime organizado transnacional e sua neutralização, ou seja, o número de participantes ou amostras não foi aqui definido, pois a pesquisa é qualitativa e não quantitativa.

Portanto, o levantamento de dados acerca das motivações do crime organizado transnacional e da Inteligência de Estado, mais especificamente da ABIN, a compreensão de determinados comportamentos, as expectativas da população perante a neutralização do crime organizado são itens de extrema relevância e que não podem de maneira alguma serem deixados de lado, nessa análise. Esse estudo servirá de apoio para a comunidade de Inteligência e no geral para toda sociedade, pois se preocupará em analisar e interpretar aspectos com mais profundidade, onde descreverá a complexidade do crime organizado, fornecendo desta forma, uma análise mais detalhada sobre ações, hábitos, tendências de comportamentos e tendências de ações, no qual os sujeitos analisados de um lado serão os criminosos e de outro a Agência Brasileira de Inteligência.

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2 CRIME ORGANIZADO TRANSNACIONAL

Na história da humanidade, há uma divergência quanto a origem do crime organizado, visto que há especialistas que consideram seu início em momentos diferentes da história. Entretanto, pode-se dizer que o inicio do crime organizado surge diante da complexidade de alguns crimes e para que esses crimes tivessem sucesso tiveram como consequência a reunião de criminosos profissionais com cidadãos sem escrúpulos, ávidos por ganhos rápidos e fáceis. A partir do momento que o homem começou a se reunir com outros, objetivando o ajuntamento de esforços para a consecução de seus fins almejados de caráter ilícito, nasce o crime organizado. Há por parte de alguns estudiosos um consenso e aceitabilidade que a mais antiga organização criminosa de que se tem notícia se deu através das chamadas organizações mafiosas, ou máfias.

Segundo Mendroni (2016):

Não se sabe a origem exata da palavra máfia. Raras são as obras que arriscam identifica-la. Segundo John Dickie, houve um tempo em que o adjetivo mafioso, no dialeto de Palermo, significava “belo”, “audaz”, “ousado”, “corajoso”, “atrevido”, “seguro de si”. A palavra mafioso, conta o autor, começou a assumir conotação criminológica a partir da apresentação de uma peça teatral, em 1863, escrita em dialeto siciliano, chamada I mafiusidilaVicaria (Vicaria era uma cadeia de Palermo) (...). Foi daí, segundo o autor, que se começou a utilizar o termo máfia, que se difundiu na medida em que se a palavra mafioso correspondia a se comportar conforme os personagens da peça, que, em decorrência de inesperado sucesso, acabou amplamente difundida.

Refere ainda o mesmo autor que, ao que se tenha informação, a organização “mafiosa” propriamente dita teria surgido da união de cidadãos de Palermo, contrabandistas, ladrões, agricultores, advogados que se especializaram na “indústria da violência”, com a finalidade de acumular poder e riqueza. Estes homens teriam transferido os seus métodos aos seus familiares, e se tornaria “máfia” quando o Estado italiano tentou reprimi-los. Então, por volta de 1875, a máfia já tinha a sua estrutura celular, o seu nome, os seus rituais, e um Estado não confiável como seu concorrente. (MENDRONI, 2016).

Com a globalização da economia, o desenvolvimento das telecomunicações e o sistema financeiro internacional essas atividades criminosas entraram numa fase de mudanças com ações mais organizadas e fortalecidas.

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Esse fortalecimento culminou com o caráter transnacional e ramificado que as atividades criminosas têm se manifestado com o narcotráfico, extorsão, corrupção, prostituição, tráfico de pessoas, tráfico de órgãos, tráfico de armas, lavagem de dinheiro, tornando ainda mais complexo à neutralização das referidas atividades ilícitas. Além desse caráter empresarial que as organizações criminosas têm adquirido, houve também a formação de conglomerados transnacionais promotores de delitos, no qual essas organizações têm cooperado entre si.

Nesse sentido Mendroni (2016) afirma que:

A partir da década de 1980, e mais incisivamente desde o início do século XXI, as organizações criminosas têm experimentado um novo modelo, em contraste com o formato original. Decorreu, basicamente, em face da incontida aceleração da globalização e da fácil circulação de pessoas no globo terrestre, dada a aproximação dos continentes gerada pela facilidade de locomoção. (MENDRONI, 2016).

O crime rompeu suas fronteiras, organizou-se, os criminosos cooperam entre si, dessa forma, é necessário e de extrema importância um entendimento maior e detalhado acerca das definições do crime organizado e suas características.

2.1 DEFINIÇÃO

A lei 12.850/13, no artigo 1°, § 1°, define organização criminosa como sendo a associação ou reunião de sócios compondo um grupo societário de quatro ou mais indivíduos com o mero objetivo comum da prática de crimes com penas máximas superiores a quatro anos ou que sejam de caráter transnacional, de forma organizada com divisão de tarefas, ainda que informalmente, para obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza. Esses indivíduos deverão responder por crime de integração em organização criminosa, mesmo que os atos criminosos não tenham sido executados.

A Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional com o objetivo de promover a cooperação para prevenir e combater de forma eficaz a criminalidade organizada transnacional estabeleceu o conceito para grupo criminoso organizado como sendo grupo estruturado de três ou mais pessoas, existente há algum tempo e atuando concertadamente com o propósito de cometer uma ou mais infrações graves ou

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enunciadas na presente convenção, com a intenção de obter, direta ou indiretamente, um benefício econômico ou outro bem material.

O crime organizado transnacional considera todas as características do crime organizado, porém o aspecto transnacional significa literalmente algo que se realiza através das nações, ou seja, é o termo destinado a identificar as atividades que se desenvolvem através das fronteiras dos Estados. O termo em questão é utilizado por muitos pesquisadores para explicar o impacto da globalização na criminalidade. Nem todas as atividades do crime organizado transnacional são cometidas por organizações criminosas e nem tampouco, os criminosos organizados dedicam-se à pratica do crime transnacional.

2.2 CARACTERÍSTICAS

As características do crime organizado servem de base para a compreensão do crime organizado transnacional, pois o tema apresenta divergências na sua conceituação e caracterização por alguns especialistas. Dessa forma, considerando que organização criminosa transnacional pode ser concebida como um organismo ou empresa, cujo objetivo seja a prática de crimes de qualquer natureza que se desenvolvem através das fronteiras dos Estados, logicamente elas irão assumir características próprias e peculiares, conforme condições políticas, policiais, econômicas, sociais e de acordo com o meio que estão inseridas atuando de forma planejada, ativa e operacional, com o objetivo de obter maiores fontes de renda e poder. Porém, nesse complexo contexto, apesar de algumas divergências conceituais, há algumas características padronizadas pertencentes a esses grupos criminosos, não necessariamente presentes em todos, contudo são características gerais que distinguem essas organizações.

Sendo assim, algumas das definições apresentadas foram formuladas a partir do estudo do crime organizado, sabendo que o fenômeno transnacional torna o conceito e as características do crime organizado mais complexo do que já os são. Nesse sentido, os estudiosos do tema ao definir, caracterizar e relacionar as especificações dos elementos essenciais das organizações criminosas salientam que é de extrema importância tomar conhecimento que elas evoluem em velocidades superiores às entidades que possam combatê-las. Ao crime organizado podem-se identificar as seguintes características principais:

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• Hierarquia com eixo de comando de estrutura vertical, no qual o topo fica o chefe e abaixo demais subordinados.

• Restrição no ingresso de seus membros, apenas pessoas de absoluta confiança podem integrar uma organização criminosa.

• Formação de normas próprias, padrões de comportamentos e regras distintas das adotadas pela sociedade;

• A proteção e regulamentação da organização criminosa são feitas pelo uso da força e da corrupção.

• Aperfeiçoamento de suas atividades com especialização e divisão de tarefas entre os membros do grupo.

• Domínio territorial objetivando o monopólio das atividades ilícitas.

• Comando por meio de normas e regras como qualquer outra organização legitimamente constituída.

Diante das características tradicionais do crime organizado, essas organizações criminosas têm experimentado ainda um novo modelo do século XXI contrastando com o modelo tradicional apresentado, não totalmente disseminado, porém com fortes tendências a prosperar pelos próximos anos.

O referido modelo forma grupos criminosos com menos integrantes, especialistas em determinadas áreas, voltados a praticar apenas de uma atividade criminosa por um período de curto tempo, esse grupo pratica o delito e após a obtenção do lucro pretendido, dissolvem-se e vão formar outros pequenos grupos com outros criminosos, com o mesmo formato, em outro local. Essa tendência criminosa se dá devido à aceleração da globalização, livre circulação de pessoas pelo mundo e facilidades nas transações financeiras invertendo por completo as características tradicionais das organizações criminosas, além de que agindo dessa forma dificultam a persecução penal das autoridades locais.

2.3 O FENÔMENO DE CONVERGÊNCIA

A globalização permitiu a expansão do crime organizado tornando-se transnacional, com esse caráter sem fronteiras nasceu o fenômeno da convergência de atuação do crime e é partir desse nascimento que o comportamento do crime tomou novos rumos e formas.

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O fenômeno da convergência compreende comportamentos em comum do crime organizado observado por todos diariamente em fontes abertas e que já não estão mais ligados a somente um determinado grupo étnico ou regiões do globo.

Em séculos anteriores, a caracterização de grupos criminosos era feita de forma mais fácil, sabia-se que tais ações eram características de tal máfia, podia-se definir com características macro claramente as ações de cada máfia, o trabalho da atividade de Inteligência era menos complicado sabendo que as máfias chinesas, japonesas, russas, italianas e francesas distinguiam entre si no modo de atuação.

No mundo globalizado, os comportamentos dos criminosos estão amoldados às próprias necessidades e facilidades que encontram no âmbito territorial em que atuam, como não bastasse, estão atualizados e se aperfeiçoando a cada instante de tempo. Ainda é possível determinar tais diferenças entre organizações criminosas, porém esse trabalho é minucioso, pois as diferenças de hoje estão nas características micro, nos pequenos detalhes de uma comunicação, vestimenta ou linguagem.

O crime organizado tem diversas modalidades e cada vez mais em escala transnacional, há uma miríade de organizações especializadas, com profissionais especializados em áreas de operações distintas e vínculos domésticos internacionais. Às vezes, um determinado Estado está preocupado com as organizações criminosas da sua região e não possuem uma percepção estadual ou até nacional de atuação daquela organização. Atualmente, no mundo, há acontecimentos que ocorrem em São Paulo e vão ter efeitos em Manaus como é o caso da decapitação em massa no presídio de Manaus (figura 1), no qual os detentos da Família do Norte decapitaram os detentos do Primeiro Comando da Capital (PCC), ou métodos de intimidação que são usados em São Paulo e aplicados também em Florianópolis (figura 2) ou ainda métodos que atravessam as fronteiras de uma país como é o caso das decapitações realizadas pelo grupo fundamentalista Estado Islâmico (EI) que controla parte do território da Síria e do Iraque e as decapitações realizadas pelos detentos no Paraná, ambos com o objetivo de intimidação e demonstração de poder contra seus rivais (figura 3).

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Figura 1 - Decapitação em massa dos detentos do PCC no presídio de Manaus.

Fonte: O Globo, 2017.

Figura 2 – Queima ônibus em São Paulo (foto esquerda) e em Florianópolis (foto direita).

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Figura 3 – Decapitação no Paraná (foto esq.) e do jornalista britânico pelo EI (foto dir.).

Fonte: Correio do Estado, 2014; Terra, 2014.

Em vista disso, percebe-se que essas relações entre as organizações criminosas atuam no âmbito mundial e demonstram de forma simbólica uma convergência de ações do crime organizado. Entretanto, essas ações analisadas sob o campo da psicologia, sociologia e criminologia levam a um estudo muito mais abrangente e aprofundado dessa convergência de ações criminosas.

2.4 ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA NA PROTEÇÃO DO ESTADO

O crime rompeu suas fronteiras e para combatê-lo não exige somente ação policial. O combate à criminalidade requer um trabalho de Inteligência e isso só será possível quando os órgãos responsáveis tiverem objetivos claros de inserção internacional e estiverem aptos a conhecer com profundidade as organizações e métodos criminosos.

Segundo Gonçalves (2011) (2003):

Em um ambiente doméstico e internacional caracterizado pela insegurança, e onde a informação adquire maior importância a cada dia, a atividade de Inteligência se mostra essencial para assessorar o processo decisório das mais altas esferas públicas e privadas. Conhecimento é poder, e sem o conhecimento o homem não passa de uma folha lançada ao vento, sem qualquer controle sobre seu destino. (GONÇALVES, 2011).

Diante do grau de complexidade e diversificação do crime organizado, a atividade de Inteligência adquire grande importância não só para a repressão, mas, sobretudo,

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no que concerne à prevenção contra o desenvolvimento do crime organizado. A atividade de Inteligência é útil para o planejamento de estratégias de ação das autoridades no contexto da segurança pública. E as ações de Inteligência devem reunir Inteligência governamental e policial, em escala federal e estadual. (GONÇALVES, 2003).

A Inteligência é de extrema importância para o combate ao crime organizado, por meio dela é possível planejar ações na prevenção e no combate às organizações criminosas.

Segundo Laitartt, Limana e Farah (2015):

A partir da capacidade de produção de conhecimento sobre esses temas complexos é que a atividade de Inteligência se habita como grande diferencial, formando um conhecimento extremamente confiável. Isso ocorre porque a Inteligência de segurança utiliza métodos específicos e técnicas apuradas para coleta e busca de conhecimento e informações para posterior análise e processamento. (LAITARTT; LIMANA; FARAH, 2015).

Cabe salientar que os criminosos lidam com Inteligência de forma compartilhada e desenfreada contra o Estado. À vista disso, o caminho mais certo para se combater o crime organizado é a atividade de Inteligência se segurança, pois é por meio dessa atividade que se permite coletar e processar informações para uma análise estratégica sobre o tema, bem como fazer o mapeamento das atividades das organizações criminosas e das características dos diversos grupos que atuam nos variados setores.

Brito (2007) ainda sugere:

Acrescente-se também a análise prospectiva, com o objetivo de identificar as tendências de ação do crime organizado e suas tipologias. Por meio dessas variáveis, é possível traçar linhas mestras de ação na prevenção e no combate às organizações criminosas, em escala nacional, além de criar instrumentos para cooperação com outros entes da comunidade internacional. (BRITO, 2007).

Portanto, considerando que a ABIN é o órgão responsável pela Inteligência de Estado, caberia ao órgão reunir e processar dados e informações e transformá-la em análise estratégica para a prevenção e planejamento de ações nacionais e internacionais no combate ao crime organizado. Cabe ainda ressaltar que o crime organizado não se restringe somente ao território nacional evidenciando a necessidade de potencializar essa atividade de Inteligência

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extrapolando nossas fronteiras e estabelecendo a cooperação internacional na área de Inteligência de segurança.

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3 ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA DE ESTADO

Ao longo da história, a atividade de Inteligência se fazia essencial para manter os interesses das autoridades constituídas. Nas sociedades anteriores ao conhecimento da escrita, o conhecimento de Inteligência foi considerado sinônimo de poder e controle social, sobrevivência e segurança.

Existe uma origem mitológica da Inteligência segundo a qual Argus, que suplantou a hegemonia de Micenas, por volta do século XII A.C, protegeu de diversas maneiras suas mensagens enquanto vivo e criou uma rede eficaz de espiões, tornou-se o pai da Inteligência. Após seu falecimento, tornou-se um semideus, e há diversas versões para sua “pós-morte”. Alguns vocábulos vindos de Argus são comuns à Inteligência: arguto, argúcia, argumento, arguir, etc. (REVISTA BRASILEIRA DE INTELIGÊNCIA, 2005).

Espiões são utilizados desde o primeiro Império Universal (medos e persas), promovido por Ciro, o grande rei, no qual seu corpo de espiões eram os olhos e ouvidos do rei, espionavam os sátrapas, vice-reis das unidades administrativas.

Os romanos institucionalizaram a atividade de Inteligência e espionagem somente no período do império, porém já faziam uso de espiões na Roma Antiga, período antes do século II, no qual era comum pessoas ouvirem segredos por detrás das cortinas, terem compartimentos secretos para espionarem seus hóspedes e no exterior, para resolver problemas, pequenas missões que agiam em nome do governo (embaixadas permanentes) emprestavam o serviço de espionagem.

É possível citar diversos registros históricos da atividade de Inteligência como na Bíblia, no Livro dos Números e de Josué, no livro “Arte da Guerra” de Sun Tzu, nos registros históricos com César, imperador romano; Maomé, em 624; Alexandre, O Grande, todos utilizavam a atividade de Inteligência para identificar oportunidades e evitar ameaças.

No mundo contemporâneo, as novas tecnologias surgem com os novos conhecimentos e a atividade de Inteligência toma novos rumos.

3.1 BREVE HISTÓRIA NO BRASIL

No Brasil, a Inteligência de Estado caracterizada pela identificação de fatos e situações que representam ameaças ou oportunidades aos interesses nacionais, colaborando com o

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processamento de dados e análise de informações aos decisores governamentais na tomada de decisão, desenvolveu-se durante o regime republicano e divide-se em quatro fases, conforme figura 4: Fase Embrionária que compreende entre os anos de 1927 a 1964, Fase da Bipolaridade entre os anos de 1964 a 1990, Fase de Transição entre os anos de 1990 a 1999 e Fase Contemporânea de 1999 até os dias atuais.

Figura 4 – A criação dos órgãos de Inteligência de Estado no Brasil

Fonte: Brasil, 2017.

Na Fase Embrionária, período que compreende de 1927 com a governança do presidente Washington Luís a 1964 com o presidente João Goulart, a atividade de Inteligência correspondeu à construção das primeiras estruturas governamentais voltadas para a análise de dados e para a produção de conhecimentos, esteve inserida de forma complementar em conselhos de governo de 1927 até 1946 com o governo de Eurico Gaspar Dutra no Serviço Federal de Informações e Contrainformações.

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Figura 5 – Fase Embrionária

Fonte: Brasil, 2017.

Na Fase da Bipolaridade, período que compreende de 1964 com o governo de Castello Branco a 1990 com o governo de José Sarney, a atividade de Inteligência com caraterísticas ideológicas esteve atrelada, de forma direta, ao contexto da Guerra Fria. Abrangeu desde a reestruturação do Sfici até a extinção do Serviço Nacional de Informações (SNI).

Figura 6 – Fase da Bipolaridade

Fonte: Brasil, 2017.

A Fase de transição, teve seu período de 1990 com o governo de Fernando Collor de Melo à 1999 com o governo de Fernando Henrique Cardoso, a atividade de Inteligência passou por processo de reavaliação e autocrítica para se adequar a novos contextos governamentais de atuação. A Inteligência tornou-se vinculada a Secretarias da presidência da República, primeiro como Departamento de Inteligência (DI) e posteriormente como Subsecretaria de Inteligência (SSI).

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Figura 7 – Fase de Transição

Fonte: Brasil, 2017.

Por fim, a Fase Contemporânea compreende de 1999 com a criação da Agência Brasileira de Inteligência e pela expansão do Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN) no governo de Fernando Henrique Cardoso até os dias atuais. A Agência Brasileira de Inteligência sempre esteve vinculada ao Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI/PR), porém em 2015 a presidente Dilma Rousseff extinguiu o GSI e inseriu a Agência à estrutura da Secretaria de Governo. Com o atual presidente Michel Temer, o GSI foi recriado e a ABIN voltou a estar vinculada a esse gabinete.

Figura 8 – Fase Contemporânea

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3.1.1 A Agência Brasileira de Inteligência – ABIN

O Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN) foi instituído pela Lei nº. 9.883/99, que também criou a ABIN como seu órgão central e atribuiu a essa Agência a missão de planejar, executar, coordenar, supervisionar e controlar as atividades de Inteligência e contra Inteligência do País, de modo a assessorar o Presidente da República com informações de caráter estratégico.

Segundo a Lei 9.883/99, Inteligência é a atividade de obtenção e análise de dados e informações e de produção e difusão de conhecimentos, dentro e fora do território nacional, relativos a fatos e situações de imediata ou potencial influência sobre o processo decisório, a salvaguarda e a segurança da sociedade e do Estado. Conceitua também que contra Inteligência é a atividade que objetiva prevenir, detectar, obstruir e neutralizar a Inteligência adversa e ações de qualquer natureza que constituam ameaça à salvaguarda de dados, informações e conhecimentos de interesse da segurança da sociedade e do Estado, bem como das áreas e dos meios que os retenham ou em que transitem.

Dessa forma, a ABIN atua na identificação de ameaças, como as relacionadas ao crime organizado e à segurança pública, na neutralização da espionagem estrangeira e ainda na constante vigilância contra a presença, no Brasil, de pessoas ou grupos que tenham qualquer vínculo com o terrorismo internacional. Ademais, é o órgão central do Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN) e foi criada com a finalidade de ser um órgão de Inteligência perfeitamente adequado ao regime democrático, atuando, sem quaisquer motivações político-partidárias com irrestrita observância dos direitos e garantias individuais, fidelidade às instituições e aos princípios éticos que regem os interesses e à segurança do Estado.

Considerando que o crime organizado não reconhece fronteiras, o conhecimento de Inteligência precisa ser também transfronteiriço. Diante de tal afirmativa, as agências de Inteligência de segurança de todos os países precisam atuar de forma integrada e sistêmica com o objetivo de estabelecer mecanismos de cooperação internacional. Teremos, somente, sucesso na produção do conhecimento estratégico, quando as informações puderem transitar entre as diversas agências de Inteligência de segurança dos países, em um sistema integrado, com o objetivo único da descapitalização da organização criminosa.

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4 INTELIGÊNCIA DE ESTADO NO COMBATE AO CRIME ORGANIZADO TRANSNACIONAL

O papel da atividade de Inteligência no combate ao crime organizado transnacional é de extrema importância visto o contexto de desenvolvimento dessas organizações e dos prejuízos causados aos países que são afetados por seus resultados. Essa atividade no combate ao crime organizado assume diversas facetas, como o planejamento estratégico das ações de segurança pública, a análise prospectiva do crime organizado e o aperfeiçoamento profissional em aspectos teóricos e práticos da atividade de Inteligência de segurança.

4.1 PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO DAS AÇÕES DE SEGURANÇA PÚBLICA

O planejamento estratégico das ações de segurança pública permite a aquisição do conhecimento acerca das organizações criminosas. A produção desse conhecimento de Inteligência é indispensável para à gestão e decisão de ações de respostas efetivas às ameaças criminosas. Essas ações iniciam-se com o levantamento de dados e informações para a produção de conhecimento de caráter nacional e transnacional, cujo principal objetivo é detectar as ameaças e os impactos de eventuais ações criminosas sobre a sociedade e o Estado. Dessa forma, será possível mapear e relacionar as conexões de atividades das organizações criminosas e das características dos diversos grupos, tais como rotas de tráfico, dados de consumo de drogas em várias regiões do país e novas tipologias.

O conhecimento do crime organizado transnacional é essencial para o analista de Inteligência, pois ele deverá reunir dados e informações, processá-los em conhecimento e torná-lo disponível ao tomador de decisão, que imediatamente aplicará a melhor resposta a determinado evento criminoso. Em outras palavras, o objetivo principal da Inteligência é antecipar a ação de um grupo criminoso ou que pratique atos criminosos evitando tragédias, traumas, efeitos psicológicos danosos, significativos gastos com ações de recuperação, indenização e reconstrução, tanto para as vítimas quanto para a sociedade na qual ele foi inserido.

Combater o crime organizado transnacional necessita de informações adequadas sobre possíveis grupos que possam vir a prejudicar a sociedade e os Estados. Sabe-se que todo grupo ou organização criminosa possui características específicas que permitem

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ao analista identificá-lo e diferenciá-lo de outros grupos, também é sabido que o fenômeno de convergência do crime organizado possibilita ao profissional de Inteligência dispor de recursos que o auxiliarão a prever as ações dos criminosos. Portanto, o analista deve dispor de um banco de dados contendo informações sobre grupos, organizações e indivíduos que já participaram ou participam de organizações criminosas, o que auxiliará na antecipação de futuras ações. Deve, ainda, conhecer as organizações que atuam dentro e fora do seu território e que possam cometer atos criminosos, produzir e alimentar um banco de dados sobre grupos nacionais e transnacionais.

A aquisição de dados e informações para alimentação de um banco de dados sobre grupos criminosos nacionais será possível e eficaz quando houver o efetivo compartilhamento de dados e informações entre os órgãos de Inteligência de segurança, abrindo assim, as fronteiras internas da segurança pública. No ambiente internacional o compartilhamento dessas informações é ainda mais necessário e desafiador, justificando a necessidade dos adidos de Inteligência nos países críticos sob o ponto de vista da criminalidade. O analista de Inteligência precisa ter consciência de que seu país pode ser alvo ou palco de determinadas organizações criminosas, devendo conhecer cada uma delas para o auxílio estratégico nas tomadas de decisões.

4.2 ANÁLISE PROSPECTIVA DO CRIME ORGANIZADO E PLANOS DE PREVENÇÃO

Levantar e monitorar dados acerca de pessoas e organizações suspeitas de crime organizado com base na identificação de tendências de ações criminosas e tipologias formarão bancos de dados suficientes para elaborar planos de prevenção. Esses planos com medidas de proteção envolvem tanto a análise de riscos quanto a análise de fraquezas e vulnerabilidades evitando o principal objetivo dessas organizações, obter lucros ilícitos a qualquer custo com ou sem exploração do Estado.

Os planos de prevenção são ferramentas essenciais ao Estado para maior efetividade de suas ações, pois reduzem a probabilidade da ocorrência de um evento indesejável e tornam possíveis as buscas de soluções mais eficazes e eficientes evitando grandes perdas onerosas ao Estado. Os órgãos de segurança pública deveriam recorrer ao plano de prevenção ao crime organizado analisando o risco para se buscar soluções inteligentes, efetivas e menos custosas garantindo níveis aceitáveis de segurança ao Estado e

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mitigando a atuação criminosa, sob risco de jogar dinheiro fora em ações inúteis e desnecessárias.

Para se avaliar o risco a que se está sujeito é fundamental que primeiramente sejam identificados os ativos (bens, valores, inclusive a vida) que necessitam de proteção. Em seguida, devem-se conhecer quais os perigos a que esses ativos estão sujeitos, dessa forma convém que se faça um levantamento sobre pessoas ou organizações no banco de dados existente, que porventura tenham interesse em gerar lucro de forma ilícita. É importante que se tenha clareza sobre as fraquezas e as vulnerabilidades procurando obter um diagnóstico acurado da situação, pois assim, haverá mais recursos para o estabelecimento de mecanismos de proteção.

Determinados esses elementos, passa-se então para a definição do risco, com a confecção de uma matriz com análise qualitativa e quantitativa possibilitando determinar qual a probabilidade do risco de um evento indesejável ocorrer, inclusive com avaliação financeira de cada evento. Essa análise, também existente em programas computacionais, permite saber quais medidas devem ser tomadas para a mitigação desse risco de forma custo-efetivo.

Em vista disso, a prevenção contra o crime organizado transnacional e a atuação do Estado na garantia da paz social e na persecução e punição de criminosos são de grande relevância para que pessoas se sintam mais seguras. Sabe-se que ao longo da história, o crime sempre esteve presente pelo fato de sempre haver indivíduos que não se integram a sociedade e por esse motivo é difícil a extinção do crime. O mesmo raciocínio se aplica ao crime organizado transnacional, ele vai sempre existir, porém, é preciso mantê-lo a níveis aceitáveis e que não perturbem a regularidade da vida social dos povos. É necessário então, promover uma cultura entre os órgãos de segurança pública com o objetivo comum na elaboração de planos de prevenção ao crime organizado com técnicas de análise de ameaças, ativos e vulnerabilidades. Assim, se estabelecerá uma relação equilibrada na proteção de alvos dos criminosos gastando poucos recursos na segurança de estruturas não essenciais e despendendo demasiados recursos nas essenciais.

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4.3 APERFEIÇOAMENTO PROFISSIONAL DA ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA DE SEGURANÇA

No cenário internacional, verifica-se um vasto conhecimento adquirido ao longo do tempo em estudos de Inteligência de segurança. Em contrapartida, no Brasil, as pesquisas e publicações sobre o tema de Inteligência de segurança continua incipiente, a necessidade de participação do país em pesquisas nesse campo é tão grande que certamente sobram possibilidades de desenvolvimento de pesquisas sobre sua cultura de Inteligência. Nesse contexto, a Escola de Inteligência (ESINT), como integrante do Sistema de Escolas do Governo, passa por uma fase promissora no que tange à perspectiva de avanço dos Estudos de Inteligência no país.

Segundo a Lei nº 9.883/99, que instituiu o Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN) e criou a ABIN, uma das várias competências da ABIN é a promoção e o desenvolvimento de recursos humanos realizando estudos, linhas de atuação, realização e disseminação de pesquisas para o exercício e aprimoramento da atividade de Inteligência. Essa competência está sob responsabilidade da ESINT, que proporciona a formação, capacitação e aperfeiçoamento dos profissionais de Inteligência da ABIN e pela qualificação e aprimoramento em Inteligência de servidores de órgãos pertencentes ao SISBIN.

Segundo Martins (2015):

As ações de ensino e pesquisa desenvolvidas na Esint têm o foco na formação de recursos humanos e na ampliação de conhecimentos estratégicos em Inteligência. As pesquisas, estudos e reflexões teórico-doutrinárias em Inteligência e temas afins retroalimentam as atividades de ensino, levando à incorporação de novas práticas, tecnologias, abordagens metodológicas e alterações doutrinárias. (MARTINS, 2015).

No Brasil, essas ações de ensino e pesquisa já são desenvolvidas na ESINT e mantêm seu foco na formação de recursos humanos e na ampliação de conhecimentos estratégicos em Inteligência, porém observa-se uma evolução lenta e complexa com poucos autores brasileiros desenvolvendo trabalhos evidenciados em publicações feitas nas principais revistas acadêmicas internacionais. Por outro lado, no cenário internacional, há uma tradição consolidada, construída ao longo de décadas uma literatura cumulativa e aperfeiçoada em pesquisas, estudos e reflexões teórico-doutrinárias em Inteligência e temas afins. Essa

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literatura retroalimenta as atividades de ensino, levando à incorporação de novas práticas, tecnologias, abordagens metodológicas e alterações doutrinárias, aproximando acadêmicos aos profissionais da área e buscando retirar os “véus do secretismo”.

A cooperação internacional de Inteligência de segurança no quesito de aperfeiçoamento profissional permite o contato direto a um vasto conhecimento de Inteligência de segurança por meio do entrosamento entre os profissionais. Essa cooperação juntamente com a participação da ESINT poderá trazer um avanço nos estudos de Inteligência no país tanto no âmbito nacional quanto no âmbito internacional.

Nesse contexto, Martins (2015) ressalta ações realizadas em outros países como exemplo de aperfeiçoamento profissional da atividade de Inteligência de segurança:

Na Espanha e no Reino Unido, assim como em outros países europeus, observa-se um empenho explícito em se construir uma “cultura de Inteligência” que reflita a abertura pós-reformas e busque desenvolver não apenas aumento da conscientização da importância de uma “Inteligência democrática”, como também maior prontidão por parte de acadêmicos e outros profissionais no sentido de emprestarem sua expertise à comunidade de Inteligência.

Os especialistas se encontram e apresentam seus trabalhos em conferências promovidas por organizações tais como a Seção de Estudos de Inteligência da Associação de Estudos Internacionais (ISA), a Associação Internacional para a Educação em Inteligência (IAFIE) (ambas sediadas nos EUA), o Grupo de Estudos Britânico sobre Inteligência e Segurança (SISG), a Associação Canadense de Estudos de Segurança e Inteligência (CASIS) e o Instituto Australiano de Oficiais de Inteligência Profissionais (AIPIO). Muitos estudos são publicados em renomadas revistas acadêmicas: Intelligence and National Security, International Journal of Intelligence and CounterIntelligence, e Studies in Intelligence (esta, da CIA), entre outras. (MARTINS, 2015).

Portanto, no médio prazo, com a cooperação internacional e a atuação da ESINT, o Brasil poderá contribuir com um conjunto de experiências compartilhadas com os países cooperados e poderá também contribuir no desenvolvimento de pesquisas publicadas em revistas acadêmicas estrangeiras, bem como contribuir de forma ativa na disseminação internacional do conhecimento de Inteligência.

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5 COOPERAÇÃO INTERNACIONAL DE INTELIGÊNCIA DE SEGURANÇA

A ação conjunta, de no mínimo dois sujeitos de países diferentes, caracteriza-se como cooperação internacional. Para os serviços de Inteligência de segurança, esse conceito se estende as ações conjuntas de interesse recíproco tanto em medidas operacionais concretas como em intercâmbios de informações de Inteligência de interesse mútuo. Essa ação entre os serviços de Inteligência é tão essencial para o combate aos modernos desafios que é no mínimo imprudente subestimar a sua importância, visto que é uma ferramenta de fortalecimento do Estado. Esse fortalecimento se refere tanto para o território nacional quanto para o internacional, pois de posse do conhecimento ou informações adequadamente produzidas pelo serviço de Inteligência, é possível ter condições de minimizar incertezas e tomar decisões estratégicas para a nação.

Segundo Brito (2007):

O intercâmbio de dados e conhecimentos entre os serviços de Inteligência é essencial para o combate às atividades de organizações criminosas transnacionais. No caso específico do Brasil, é fundamental que sejam mantidos contatos diretos e constantes entre os órgãos de Inteligência do País e seus congêneres do Hemisfério, dos países africanos e das nações europeias e asiáticas. Vale lembrar que pelo Brasil passam rotas importantes das atividades do crime organizado. A droga produzida nos países andinos e destinada ao mercado consumidor europeu e estadunidense, por exemplo, passa em larga escala pelo território brasileiro. Além disso, o Brasil costuma ser utilizado por organizações criminosas vinculadas à prostituição, ao tráfico de escravas brancas e, ainda, é alvo do tráfico de animais e plantas e da biopirataria. Portanto, para a produção de conhecimentos de Inteligência eficazes, faz-se necessário o intercâmbio de dados entre os órgãos de Inteligência sobre rotas, pessoas envolvidas em atividades criminosas e tipologias desenvolvidas pelo crime organizado. (BRITO, 2007).

Essa cooperação é essencial para o combate às atividades de organizações criminosas transnacionais, pois além de servir de instrumento para a realização de intercâmbio de informações entre os serviços de Inteligência, também realiza iniciativas relacionadas às atividades conjuntas em encontros periódicos de cúpulas dos serviços de Inteligência dos países, bem como o envio de servidores para treinamento no exterior. Nos encontros periódicos de cúpulas geram as trocas de conhecimentos de temas de segurança e determinações de linhas de ações conjuntas para a neutralização do crime organizado

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transnacional, já no envio de servidores dos órgãos de Inteligência para treinamento junto aos centros de formação de outros países gera além do aprimoramento dos quadros no que concerne a técnicas e métodos diversificados, o contato com colegas estrangeiros, garantindo a consolidação das comunidades de Inteligência hemisférica e internacional.

Sobre o tema Laitartt, Limana e Farah (2015) afirmam que a cooperação pode ser realizada de diversas formas:

• Reuniões bilaterais

Consiste na reunião entre especialistas de Inteligência de dois países, representando as suas respectivas instituições, para tratar de assuntos de Inteligência. Como exemplo, cita-se as reuniões realizadas entre órgãos policias do Brasil e de outros países para acordos de compartilhamento de informações para a Copa do Mundo FIFA 2014.

• Encontros multilaterais

Semelhante às reuniões bilaterais, entretanto reunindo mais de um país. Podem acontecer em fóruns constituídos, como o Grupo Egmont ou as reuniões do NSG (em inglês, Grupo de Países Supridores) da Agência Internacional de Energia Atômica.

• Capacitação de recursos humanos

Formação de pessoal em áreas de atuação de inteligência, em particular operações e análise. Como exemplo, cita-se o intercâmbio de formação de pessoal que ocorre na área militar.

• Intercâmbio de especialistas em Inteligência

Alocar especialistas de Inteligência em outro país, assim como receber, visando o intercâmbio de informações e de conhecimento na área. Um exemplo são os adidos militares (das três Forças), os adidos policiais (Polícia Federal) e os adidos de Inteligência (ABIN).

• Acordos de cooperação

Acordos celebrados entre países para compartilhamento de informações e atividade de Inteligência. Como exemplo, cita-se o Acordo nº 24/02 – de Cooperação em Operações Combinadas de Inteligência Policial sobre Terrorismo e Delitos Conexos entre os Estados Partes do MERCOSUL, República da Bolívia e República do Chile. • Compartilhamento de informações entre agências

Compartilhamento por meio de bancos de dados estruturados relativos à atividade de Inteligência, por meio de instituições internacionais, como a INTERPOL. (LAITARTT; LIMANA; FARAH, 2015).

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A cooperação em Inteligência atuante no emprego de instrumentos que viabilizem o compartilhamento de dados e informações correntes; na preparação de pessoal para o exercício da atividade; na visita a instalações de Inteligência estrangeiras e no conhecimento de táticas, técnicas e procedimentos da atividade de Inteligência em outros países formalizam ações conjuntas e coordenadas dos serviços de Inteligência com o objetivo de impedir a ação de membros de estruturas criminosas que planejam e realizam crimes contra a civilização, a vida e a saúde dos cidadãos no planeta.

Nesse contexto, a integração poderá trazer benefícios na atividade de inteligência nacional conforme afirma Ribeiro (2006):

– fortalecimento do ciclo de inteligência regional contra as ameaças latentes e a integração das informações estratégicas comuns aos Presidentes das Repúblicas; – intercâmbio de analistas e profissionais de inteligência para o conhecimento das culturas e práticas para a condução de um processo de inteligência regional;

– estabelecimento de uma escola integrada de inteligência, que visa atender as necessidades do complexo exterior e da política internacional de cada estado; – integração dos sistemas de inteligência nacional de cada estado, em combate às ameaças junto à segurança internacional;

– estabelecimento de um controle integrado da atividade, juntamente ligada ao processo de defesa da região, de forma institucionalizada;

– criação de um banco de informações, que congrega todas as fontes e potencialidades de inteligência para a estruturação de políticas de segurança e defesa regional;

– fortalecimento da inteligência militar e geração de conhecimento para o complexo de defesa da América do Sul, além do fortalecimento da integração e cooperação das Forças Armadas da região;

– dotação de uma força conjunta de inteligência integrada ao sistema internacional de polícia, que possa estabelecer um banco de informações completo e em tempo real do crime organizado internacional;

– gerar uma estrutura de informações estratégicas que possa estabelecer parâmetros para o desenvolvimento de estratégias nacionais e conjuntas, onde cada governo possa aproveitar suas potencialidades através de um sistema de fortalecimento do Mercosul, através de Inteligência Econômica, Inteligência Financeira e Inteligência Estratégica. (RIBEIRO, 2006).

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Entretanto, a eficácia e os resultados da cooperação dos serviços de Inteligência dependerão primordialmente, da observância de princípios em suas relações, entre eles sugere-se os seguintes princípios:

• Princípio da cooperação entre os povos para o progresso da humanidade e princípio da igualdade entre os Estados: esses princípios expressos na Constituição Federativa do Brasil de 1988 (CF/88) podem ser aplicados na cooperação internacional, pois os países cooperados deverão ter vantagens mútuas e de forma confiável para o bom desempenho da cooperação;

• Princípio da independência nacional e princípios da Autodeterminação dos povos: princípios também expressos na CF/88 e podem ser interpretados como a igualdade de direitos na cooperação internacional, sendo que nenhum dos países da cooperação poderá impor as suas normas ao outro país e também não exigir ações dos países que fazem parte da cooperação que vá violar sua legislação interna. Dessa forma, cada serviço de Inteligência se constitui em órgão estatal de seu país, com todos os regulamentos daí decorrentes, os quais excluem qualquer ingerência externa em sua atividade funcional;

• Princípio da segurança: o princípio da segurança está entre os princípios norteadores da atividade de Inteligência, cujo texto explana acerca da produção e disseminação do conhecimento, no qual o planejamento, a produção e a difusão de Inteligência devem ocorrer sob a égide do sigilo, de modo a limitar o acesso a Inteligência às pessoas específicas e habilitadas a obter esse conhecimento não divulgando de maneira alguma o seu conteúdo. Na cooperação internacional a observância desse princípio é essencial para a boa relação entre os países;

• Princípio da imparcialidade: também expresso nos princípios norteadores da atividade de Inteligência, sugere que o produto Inteligência deve conter conhecimentos essenciais e ser isenta de posição pessoal, política do analista e de outras influências que possam prejudicar sua exatidão. Assim, o conhecimento produzido, isento de ideologias, torna-se ferramenta fundamental para a eficácia da cooperação.

Com base nesses princípios das relações internacionais, da atividade de Inteligência e entre outros princípios, alguns mecanismos de cooperação internacional de Inteligência de segurança são estabelecidos a partir do processo básico de integração dos Estados objetivando a construção de uma temática comum. Essa temática comum entre os Estados vem sendo concretizada no âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU) visando a cooperação internacional para resolver problemas mundiais.

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A ONU sentiu-se obrigada a exercer o seu papel de integração entre as nações devido a crescente globalização da criminalidade transnacional e à falta de competência das agências nacionais em estabelecer mecanismos de cooperação e integração eficientes, como exemplo a promulgação da Convenção das Nações Unidas contra o crime organizado transnacional. No entanto, é visível a evolução das instituições em busca de cooperação internacional, em especial na área de Inteligência, pois sabe-se que em um mundo globalizado as agências de Inteligência não serão efetivas se atuarem isoladamente sob o risco de sofrerem nefastas consequências.

Assim, a cooperação internacional de Inteligência vem cada vez mais sendo discutida e estudada em busca de alternativas de implementação por meio das convenções, tratados e acordos internacionais, como a Convenção Internacional para Repressão ao Financiamento ao Terrorismo; a Convenção Contra o Tráfico Ilícito de Entorpecentes; a Convenção para Repressão à Criminalidade Transnacional e a Convenção das Nações Unidas Contra a Corrupção. Com esses mecanismos de cooperação houve uma evolução e adaptação nas trocas de dados e informações revelando a necessidade do estabelecimento de oficiais de ligação, previsão de treinamento, capacitação conjunta e celeridade nas trocas de informações. Dessa forma, rompem-se paradigmas clássicos de cooperação nos quais, para que se concretizasse o intercâmbio de informações, era necessário um longo e moroso caminho diplomático. Hoje dispomos dessas formas mais simplificadas de cooperação internacional de Inteligência de segurança.

Um mecanismo muito relevante para a atividade de Inteligência, nesse contexto, é a Convenção para Repressão à Criminalidade Transnacional, conhecida como Convenção de Palermo, promulgada pelo Decreto n° 5.015/2004, busca facilitar a cooperação internacional para o enfrentamento ao crime organizado transnacional que considera os seguintes principais itens:

• Estabelecimento de servidores em outros países (oficiais de ligação), sem que isso requeira todo o trâmite diplomático que representações dessa natureza exigem;

• Importância da troca de informações, estabelecimento de mecanismos para identificação de pessoas e atividades, e monitoramento de fluxos financeiros relacionados às organizações criminosas;

• Possibilidade, entre os Estados, de celebrarem acordos ou protocolos bilaterais ou multilaterais que, em razão dos mesmos, possam estabelecer órgãos mistos de investigação e Inteligência possibilitando a união de esforços das agências encarregadas de

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aplicação da lei e seus serviços de Inteligência de vários Estados soberanos, em prol de um objetivo comum.

• Necessidade de se aprimorar as técnicas de vigilância empregadas por todos os países signatários, pois as partes envolvidas se utilizarão das técnicas existentes em seus países, mais outras formas de vigilância.

É importante esclarecer que para ocorrer o compartilhamento de informações entre países, é imprescindível a existência de mecanismos que garantam a manutenção do sigilo por parte do país que vai receber a informação e sejam estabelecidos critérios para o compartilhamento dessa informação internamente entre as instituições do referido país. Essa cooperação, no campo da preparação de pessoal, pressupõe um elevado nível de confiança entre os parceiros, uma vez que ficam desvendados, parcialmente, o quadro de pessoal dos serviços de Inteligência e as maneiras e métodos de sua formação profissional. Para isso, é necessária uma cultura sólida de Inteligência, treinar e criar alternativas inovadoras, visando ao aperfeiçoamento e amadurecimento da capacidade de produção/proteção do conhecimento de Inteligência de segurança.

Neste contexto, apesar de todas as dificuldades, houve o aumento do intercâmbio internacional entre os serviços de Inteligência. Essa cooperação certamente já produz efeitos positivos no combate ao crime organizado, a contar o aumento do número de países que possuem adidos da ABIN estabelecendo boas relações e avanço no tema Inteligência de segurança.

Sobre o tema, Ribeiro (2017) destaca:

Assim, um dos grandes movimentos que o GSI e a ABIN realizam é o avanço dos postos de inteligência no exterior. A agência já contava com alguns postos, uns estratégicos, outros nem tanto, mas graças ao planejamento estratégico da agência e uma visão mais oportuna do GSI e da própria direção da ABIN, os postos foram ampliados. Destaco também um fator de suma importância, a integração da ABIN com o Itamaraty. Em um momento histórico, o próprio Itamaraty hoje apoia a atuação de um adido de inteligência nas embaixadas do Brasil no exterior. (RIBEIRO, 2017).

Portanto, considerando que o crime organizado transnacional atua em âmbito mundial, é incabível conceber que os serviços de inteligência não acompanhem essa temática transnacional que o crime organizado assume, pois dessa forma os serviços de inteligência

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mundiais tornam-se incompletos e passíveis de dúvidas quanto a sua existência. No Brasil, observa-se avanços em relação à cooperação internacional com o bom relacionamento entre os países, com destaque ao avanço da área de inteligência que ganha uma excelente oportunidade de atuação no âmbito internacional e com perspectivas mais avantajadas para o combate ao crime organizado transnacional.

5.1 ADIDOS DE INTELIGÊNCIA NO COMBATE AO CRIME ORGANIZADO TRANSNACIONAL

A ABIN nesse ano de 2017 está com representatividade expressiva no exterior com um total de sete aditâncias em países estratégicos como África do Sul, Estados Unidos, França, Paraguai, Argentina, Colômbia e Venezuela, cujo objetivo principal é combater e extinguir o crime organizado transnacional. Segundo a ABIN, a meta é que sejam instaladas, nesse segundo semestre de 2017, mais seis novas aditâncias nos países: Alemanha, China, Índia, Jordânia, México e Rússia. Esse conhecimento produzido no exterior e absorvido pela comunidade de Inteligência brasileira pode ser de grande utilidade na análise de tendências e tipologias criminosas, bem como trazer diversas melhorias para o combate ao crime organizado transnacional.

Os países já possuem uma comum consciência de que o crime organizado atua em toda a esfera global e que é de grande importância a atuação da Inteligência de Estado trabalhando no planejamento estratégico das ações de segurança para obtenção de informações de alto nível nos países amigos. Essas informações de alto nível auxiliam de sobremaneira na produção de conhecimento estratégico, pois não há distorções ou influências políticas nessas informações coletadas pelo Oficial de Inteligência que se encontra no país que está gerando a informação.

O esperado aumento no número de aditâncias da ABIN poderá contribuir de forma positiva visto que a cooperação trará experiências e ensinamentos para a atividade de inteligência brasileira e poderá auxiliar no desenvolvimento de melhores práticas.

Nesse sentido, Ribeiro (2006) afirma que:

Além dos aspectos de defesa, é importante destacar, que a atividade de inteligência poderá fortalecer o desenvolvimento nuclear, o desenvolvimento científico, o desenvolvimento educacional e também o social, através de estruturas de

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intercâmbio de informações que possam favorecer a criação de políticas públicas de melhoria, além do intercâmbio das melhores práticas de cada país que formam a região. (RIBEIRO, 2006).

A partir da instalação das aditâncias da ABIN, cria-se oportunidades para profissionais de Inteligência de segurança no cenário internacional a adquirir experiências no combate ao crime organizado transnacional não atuantes no Brasil, mas que por meio do fenômeno da convergência venham a atuar. Assim, o Brasil estará preparado e atuante nos assuntos relacionados a esse tema.

Ribeiro (2017) acrescenta:

A recepção dos adidos de inteligência do Brasil foi muito boa pelos países parceiros. Um dos grandes fatores estratégicos para a atividade está na cooperação de inteligência, considerando que o mundo vive um processo de transformação nas questões de segurança. E considerando também os recentes atentados, e até mesmo o que está acontecendo na Síria com a guerra química e o bombardeio americano, o mundo passará por importantes mudanças, assim, nossa inteligência tem que estar atuante.

Aplaudo a iniciativa do GSI e da ABIN em relação a Paris. Posto mais do que estratégico para o trabalho de inteligência, principalmente com os últimos acontecimentos de terrorismo e refugiados, e por tudo o que a França coopera com a temática de inteligência econômica, por sinal eles são uma das principais escolas neste quesito. (RIBEIRO, 2017).

No Brasil, há necessidade de investimento maciço e expressivo em Inteligência, principalmente um investimento amplamente empregado na cooperação internacional da Atividade de Inteligência de segurança, no uso de recursos tecnológicos e em projetos de pesquisa e desenvolvimento. Esse investimento irá contribuir para o combate às atividades das organizações criminosas poupando recursos públicos na aplicação de soluções emergenciais como a superlotação de presídios ou a falta de equipamentos e pessoal das polícias ou ainda repatriação de desvios de dinheiro público.

Ribeiro (2016) afirma:

O Brasil precisa sim de um Serviço Secreto bem estruturado. É de suma importância o investimento contínuo na Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), e por seguinte, no próprio Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN).

Importante destacar que quando falamos em investimentos na ABIN, de uma forma geral focamos nas questões referentes a pessoal, gestão do órgão, tecnologia para

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inteligência, tecnologia para contraespionagem, vigilância de fronteiras, integração de outros organismos de inteligência, cooperação internacional, instalação de operadores de inteligência no exterior e formação e qualificação do atual e futuro quadro de oficiais e técnicos de inteligência.(RIBEIRO, 2006).

O importante investimento aplicado na cooperação internacional e no entrosamento dos adidos de Inteligência do Brasil com os profissionais da área de outros países poderá trazer consequências favoráveis para o Brasil, entre elas estão as melhorias quanto à suportes de projetos inovadores de tecnologia e de pesquisa, bem como auxiliará em novas estratégias no combate ao crime organizado transnacional. Por meio da cooperação internacional e com a atuação da ESINT, os profissionais de Inteligência de segurança poderão adquirir experiências no combate ao crime organizado transnacional compartilhando as melhores práticas na Atividade de Inteligência com os demais profissionais atuantes no Brasil, inclusive compartilhando essas experiências com a comunidade acadêmica conforme relata Martins (2015):

Mark Phythian, por exemplo, observa que no Reino Unido, ao longo da última década, as agências de Inteligência e a comunidade acadêmica vêm estreitando os laços, mostrando disposição para conversações e debates. Além disso, acadêmicos foram convidados a escrever histórias oficiais de Inteligência e, para tal, receberam acesso aos arquivos das agências britânicas (JOHNSON; SHELTON, 2013, p. 115). (MARTINS, 2015).

Em síntese, verifica-se que o Brasil necessita de um investimento amplo nas pesquisas, nas trocas de ideias e experiências com os profissionais de outros países e no desenvolvimento de tecnologias, a fim de que o Brasil possa tornar-se atrativo sob o ponto de vista da cooperação internacional e relações exteriores, visto que no cenário internacional, muitos países já possuem uma literatura bem difundida e delimitada. Assim, a cooperação internacional, com destaque aos escritórios de representação da ABIN no exterior, poderá contribuir com aperfeiçoamentos da atividade de Inteligência de segurança brasileira, tais como a implementação de mecanismos de cooperação internacional, a criação de um sistema de banco de dados de Inteligência nacional e investimentos em cultura de Inteligência de segurança brasileira.

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